Vox objetiva 50

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genéricos — quem fiscaliza A PRODUÇÃO E A QUALIDADE? Agosto/13 • Edição 50 • Ano V - Distribuição gratuita

Os segredos da confraria nas mãos do BC

cLARA NUNES — A DIVA DO SAMBA faria 70 anos


NESTE ANO, MINAS GERAIS, O ESTADO DO CAFÉ VAI RECEBER O MUNDO DO CAFÉ.

Semana Internacional do

Em setembro, Minas Gerais, o maior estado produtor de café do Brasil, vai promover a Semana Internacional do Café. Confira as principais atrações: Reunião de 50 anos da Organização Internacional do Café (OIC) 8º Espaço Café Brasil • Exposição de equipamentos, produtos e serviços • Rodada de Negócios & Coffee of The Year 2013 • IV Conferência Internacional de Cafés Arábicas Naturais • Pré-seleção do Cup of Excellence • Seminário DNA Café 2013 e muito mais

De 9 a 13 de setembro Expominas - Belo Horizonte – Minas Gerais

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olhar bh

jรกder Rezende

Reflexo do tempo Foto: Jรกder Rezende


Editorial Falta cumprir a lei

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Duas reportagens especiais desta edição de Vox Objetiva mostram claramente a falta de comprometimento das autoridades brasileiras com os serviços prestados à população. Fiscalizar é obrigação do Estado. No entanto, o contribuinte brasileiro é constantemente assaltado por escândalos, comprovando claramente que a máquina pública se especializou apenas em arrecadar os milhões devidos em impostos. E os exemplos não são poucos. A decisão de liquidar o Banco Rural, por exemplo, principal caixa de depósitos e de pagamentos do escândalo do “Mensalão”, veio tarde demais. Agora de portas lacradas, a instituição escapou por décadas de todas as fiscalizações e regras criadas pelo Banco Central para descobrir e controlar o dinheiro ilegal e a sonegação de impostos no país. A liquidação extrajudicial do Banco Rural soou mais como um tipo de vingança política. É mais uma revanche pela descoberta dos documentos que levaram à condenação de 25 réus do que propriamente pela alegada insolvência da instituição. Tem sido assim nos escândalos que envolvem gente famosa eleita pelo voto: sigilo quebrado, vingança implacável. Somente o uso político do Banco Central pode explicar o tamanho dessa omissão no controle do sistema financeiro. Assistimos à mesma surpresa com o descaso de zelar pelo bem público, quando ficou constatado que vários laboratórios responsáveis por fabricar e distribuir fórmulas genéricas estão na mira da Justiça. São suspeitos de enganar os pacientes que vão às farmácias em busca de cura e de preços melhores dos medicamentos. Não bastassem as mazelas de um sistema de saúde que deixa milhares de pacientes sem o atendimento necessário, vem a notícia de que as caixas de genéricos podem conter apenas promessas, não remédios. Tanto na área dos bancos quanto na do serviço à medicina, assistimos à completa falta de controle por parte dos órgãos fiscalizadores. Quando questionados sobre o não cumprimento das funções públicas, ministérios e órgãos responsáveis agem de forma instantânea. Não no intuito de corrigir as falhas, mas no de evitar maior exposição pública e uma condenação por parte da opinião eleitoral. Passadas as manchetes nos jornais e nas tevês, os políticos e servidores públicos descompromissados e mantidos com altos salários voltam ao berço esplêndido dos privilégios, das férias e dos feriados prolongados. É como se nada tivesse acontecido. Leis, nós temos muitas. Falta apenas cumpri-las.

Editor: Paulo Filho | Editor Adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Fotos de capa: Jáder Rezende, Valdemir Rodrigues, Wilson Dias, Sinal.org, Carlos humberto, Elza Fiúza, Antonio Cruz, Wilson Dias, Fabio Pozzebom, PTWikinews | Reportagem : André Martins, Ilson Lima, Jáder Rezende, Paulo Filho | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br | Personagens da capa: Collor de Mello, PC Farias, Azeredo, Mares Guia, Claudio Mourão, João Heraldo LIma, Marcos Valério, José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno 4 | www.voxobjetiva.com.br


TODAS AS PORTAS DA ASSEMBLEIA ESTÃO ABERTAS PARA VOCÊ. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.

Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa. |5


Sumário stock.xchng

Elza Fiúza

Zé do Caix

8

12

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34

SALUTARIS

8

NO PIQUE

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PLACEBO?

Em busca de um estilo de vida mais saudável, belo-horizontinos se rendem às pistas e correm por objetivos diversos Testes de bioequivalência revelam que alguns genéricos não têm a mesma potencialidade dos remédios convencionais

verbo

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LIQUIDADO Envolvido em grandes falcatruas da história recente do Brasil, Banco Rural é fechado

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Ícone da cinematografia brasileira explica o porquê do terror e critica política de incentivo do governo

PODIUM

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CAPA

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José mojica marins

A CONQUISTA DO MUNDO Atleticanos se movimentam para acompanhar o Galo em sua mais ambiciosa façanha

hORIZONTES

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BRIGHTON — EXÓTICA E CHARMOSA Londrinos vão à praia

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xão/divulgação

divulgação

38

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André Martins

jáder Rezende

23

18

38 42

KULTUR

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PARA SEMPRE, GUERREIRA

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

Ícone do samba, Clara Nunes teria completado 70 anos em 2013. Homenagens marcam a data

MONDO CULT

Artigos

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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política • Paulo Filho

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Amigos como irmãos

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A geografia da energia

Condomínio tem como combater a violência

crônica • Joanita Gontijo O que tem na próxima esquina?

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RECEITA

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VINHOS • Danilo Schirmer

De postes, metrô e bancos

crônica • Laura Barreto Das coisas boas da vida!

justiça • Robson Sávio A grande mídia, os escândalos e as eleições

Linguado em crosta de avelã, purê de batata, limão e cogumelos A padronização do sabor do vinho |7


Salutaris

Reprodução

Correndo na frente Grupo especializado em corrida assessora praticantes em busca da eficiência e dos objetivos individuais

André Martins

Exercitando-se para viver melhor, é cada vez maior o número de pessoas que correm pelas ruas em prol da qualidade de vida. Individualmente ou organizados em grupos, os corredores urbanos são prova de que, apesar dos inúmeros sinais em contrário, a sociedade evolui e é capaz de, com muito boa vontade, reorganizar-se e se reorientar pelo lado bom. Por mais que o sedentarismo e o consumismo desenfreados sejam uma tônica, as pessoas que buscam saúde e uma vida melhor estão soltas por aí. É só abrir a porta de casa e sair para a rua que a gente dá de cara com eles, caminhando, correndo, sempre bem-dispostos, interagindo coletivamente e trazendo à cidade uma aura de alto-astral.

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Salutaris

Há dois anos, o arquiteto de software Rodrigo Soares recebeu um “ultimato da vida”. Por causa da pressão arterial, à época extremamente alta, o rapaz foi impossibilitado de receber anestesia para um procedimento ortodôntico. Ao fim do atendimento, a dentista deu-lhe um puxão de orelha. “O que escutei me deixou mal, mas mudou a minha vida. Ela disse que o problema não era eu morrer, mas ter um derrame e ficar na cama dando trabalho para os outros. Isso teve um impacto absurdo”, revela.

começou caminhando e, depois, apertou o passo. Começou a correr as mesmas distâncias em intervalos de tempo cada vez menores.

Não adiantava correr do problema. O fato era que, aos 22 anos, Rodrigo pesava 162 kg. O sobrepeso era resultado de uma combinação do padrão familiar com o apetite desmoderado, como o próprio jovem reconhece.

Atualmente Éder é maratonista e revela que a corrida é mais que um hobby. “Torna-se um vício mesmo. Quando não vou treinar, fico sem lugar. Nesse estágio, você passa a querer

Na mesma época em que foi alertado para o risco que corria, Rodrigo teve a oportunidade de entrar para um grupo de corrida e rumar para a direção inversa à do sedentarismo e da obesidade. Ele e dois colegas de trabalho resolveram perder peso por meio desse eficiente método aeróbico. O plano era treinar três vezes por semana, mas a vontade dos dois maiores incentivadores de Rodrigo não durou mais do que poucos metros. No segundo treino, ele corria sozinho.

Fora da academia, a Lagoa da Pampulha era o lugar preferido para ele se exercitar. Por alguns meses, Éder correu por conta própria até conhecer um grupo que dava orientações técnicas e assessorava os interessados - a maioria amadores. Éder se integrou a esse grupo.

Arquivo pessoal

O empenho foi convertido em resultados. Em um ano e meio, o jovem conseguiu perder praticamente um terço do peso, atrelando a atividade física a uma dieta balanceada. Hoje, comer corretamente não representa mais nenhum sacrifício. Cinquenta quilos mais leve, Rodrigo se sente (e, de fato, é) outro. Sobrecarregado durante muito tempo, o joelho apresentou melhoras, e a resistência física foi potencializada. No trabalho e em casa, os comentários sobre o emagrecimento rápido sempre deram um gás a mais para que a persistência dele se mantivesse aquecida. “Todos comentavam que eu estava emagrecendo rápido demais. No trabalho, duas colegas entraram para a corrida ao ver que era possível perder peso dessa forma”, relata. Há pouco tempo, emagrecer deixou de ser o foco de Rodrigo. Praticante também de musculação e muay thai, o jovem agora quer ganhar massa magra e continuar correndo por tempo indeterminado. “Não pretendo atingir distâncias absurdas. Completar uma meia-maratona já está de bom tamanho”, explica com bom humor. O corretor de seguros Éder Gonçalves, de 42 anos, também tem uma boa e inspiradora história com a corrida. Influenciado pela esposa, médica, há sete anos, ele optou por uma vida mais saudável. Trocou os cigarros, companheiros de 15 anos, por uma academia. Na esteira

Há dois anos correndo, Rodrigo Soares é exemplo de superação e persistência. O peso dele caiu de 162 Kg para 112 Kg

desafios cada vez maiores. Você corre 10 km, depois 10 km abaixo de 50 minutos, dá uma volta na Lagoa da Pampulha, depois corre uma meia-maratona e, por fim, uma maratona inteira”, detalha. Em setembro, Éder disputa mais uma prova no Velho Continente. Depois da capital francesa, o destino é Berlim, na Alemanha. Os resultados expressivos pouco importam. Para quem nunca pensou em percorrer as distâncias que hoje tira de letra, completar as provas já é motivo de grande entusiasmo. “Eu corro por satisfação. As minhas metas são pessoais”, define. |9


Salutaris

Divulgação/Endorfina

O Endorfina está presente em outras quatro cidades mineiras: Contagem, Mariana, Governador Valadares e Montes Claros. Assim que entram no grupo, os alunos são direcionados para os treinos que acontecem três vezes por semana no ponto mais conveniente para o aluno. Em BH, instrutores ficam no aguardo dos alunos, numa determinada faixa horária, no bairro Belvedere, na Praça Nova da Pampulha, na Praça da Liberdade e nas avenidas dos Andradas e José Cândido da Silveira. Alguns alunos recebem instruções e são acompanhados via internet e telefone. É o caso de três corredores que treinavam em Belo Horizonte e residem no Rio de Janeiro. De três em três meses, eles retornam a BH para um treino com a equipe. Hoje o grupo conta com 570 alunos. O público é homogêneo e bem-dividido. São 50,7% de homens e 49,3% de mulheres. A faixa etária preponderante está entre 24 e 40 anos. Esse grupo representa uma fatia de 65,3% do público. Entre professores de educação física, fisioterapeutas e nutricionistas, 27 profissionais monitoram o grupo.

Interesse em alta e nichos de mercado O coordenador do grupo Endorfina em Belo Horizonte, Rodrigo Lacerda, explica que a corrida é um exercício aeróbico eficaz

De acordo com o maratonista, os maus hábitos de vida são incompatíveis com o esporte. Prova disso é que, desde quando começou a correr, Éder nunca mais voltou a fumar. “Eu mudei os meus hábitos. Comecei a me alimentar melhor e a dormir mais cedo. É outro estilo de vida. Mais saudável. Reflete até no trabalho, onde a produtividade aumenta”, expõe.

Endorfina

Em 2007, dois acontecimentos simultâneos revelaram o fortalecimento da corrida na capital mineira, de acordo com Rodrigo Lacerda. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar 30 minutos de atividade aeróbica por dia. Acho que as pessoas perceberam que correr esse tempo era algo que acontecia em provas de corrida. Elas associaram uma coisa à outra, e a prática começou a se difundir ainda mais por aqui”, conclui. Os belo-horizontinos passam a correr mais e a vislumbrar o interesse de marcas esportivas em patrocinar corridas na capital. A hegemonia do único evento de peso que acontecia na cidade até então, a Volta Internacional da Pampulha, foi quebrada.

Rodrigo e Éder miraram alvos diferentes. Os dois, entretanto, deram os primeiros passos orientados para a mudança drástica em seus estilos de vida por meio do grupo Endorfina. Em atividade há quase dez anos, o grupo orienta amadores ou aspirantes a profissionais para a eficiência esportiva objetivando resultados individuais e específicos.

Com o aumento do interesse, surge, nas academias, a demanda por profissionais capacitados para atender àqueles que buscavam correr por prazer ou profissionalismo. Nesse contexto, o Endorfina passa a oferecer esse diferencial, montando e gerenciando grupos de corrida dentro de academias parceiras.

“Assim que o aluno chega, nós realizamos a avaliação. Depois fazemos alguns testes práticos para saber o nível de condicionamento. A partir daí, a gente começa a montar os treinos com o foco naquilo que o aluno colocou como prioridade na avaliação física”, explica o coordenador do grupo em Belo Horizonte e professor de educação física, Rodrigo Lacerda.

Em 2008 nasce uma demanda por parte de grupos empresariais interessados em estimular o quadro de funcionários a praticar atividade física. “Hoje nós atendemos mais de dez empresas de Belo Horizonte, com, no mínimo, dez alunos. A maior empresa atendida tem cerca de 150 alunos ativos. Nós montamos um calendário de atividades dentro da empresa, listamos as principais

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Salutaris

provas e detalhamos como vamos dar suporte para essas provas. Realizamos palestras sobre técnicas de corrida, prevenção de lesões e melhora da performance”, cita Rodrigo. De acordo com o coordenador do Endorfina, o programa corporativo é o carro-chefe da empresa.

Benefícios Independentemente do horário e do posicionamento do sol, o que mais se vê nos pontos mais arborizados e planos da cidade é gente com trajes esportivos leves em marcha leve ou intensa. É bem possível que a corrida e a caminhada sejam as práticas esportivas mais difundidas socialmente. São exercícios que dependem unicamente do esforço de quem se propõe a praticá-los e não geram custos, senão com um bom calçado. O professor de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Anderson Aurélio da Silva, aponta que esse tipo de prática esportiva, assim como os demais exercícios aeróbicos, pode proporcionar mais de 120 benefícios aos praticantes.

O maior deles está associado ao fortalecimento do sistema cardiovascular. “A corrida é um exercício aeróbico que ajuda no controle de várias doenças: diabetes, depressão, as coronariopatias e as doenças vasculares de um modo geral. Então, quem corre e caminha dentro dos níveis de eficiência e de segurança consegue se beneficiar”, assegura. Os ganhos não se restringem apenas ao bem-estar físico. Além do controle de doenças, a corrida proporciona a melhora da qualidade de vida. “De modo geral, as pessoas que praticam relatam maior disposição, menos cansaço e passam a ter um sono mais reparador. Controlar a ansiedade e a depressão também é algo possível”, arremata.

Primeiros passos O educador físico Anderson Aurélio da Silva dá dicas para quem pretende começar a se exercitar. O profissional alerta que é preciso atentar para alguns quesitos:

Acompanhamento médico

Calçado

Ritmo

Hidrate-se

É aconselhável que o indivíduo passe por uma avaliação médica, principalmente se ele tiver uma alteração no corpo ou doença, como diabetes, hipertensão – ou se houver casos de cardíacos na família. Após a avaliação, recomenda-se procurar um educador físico para que ele faça uma prescrição.

Algumas pessoas devem passar por um fisioterapeuta para que seja analisada a pisada delas. Isso vai influir nas características do calçado a ser usado.

Para aqueles que vão se aventurar sozinhos, é importante saber que a evolução da corrida tem que ser constante, lenta e gradual.

A última dica é se hidratar bem e exercitar nos horários em que o sol não esteja muito quente: no início das manhãs, nos fins de tarde ou à noite.

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Genéricos em xeque

Quebra das patentes foi um avanço. Mas e a produção e a fiscalização? Ilson Lima Inserido em uma rede na qual é a parte mais vulnerável do sistema, o cidadão brasileiro comum não sabe, mas pode estar comprando gato por lebre na farmácia mais próxima de sua casa ou nas grandes drogarias existentes no país. Dependendo da sua doença, então, pode estar usando um medicamento que não surte o efeito terapêutico esperado. A polêmica quanto à qualidade dos medicamentos, especialmente os similares e genéricos em relação aos de referência (de marca), é sustentada principalmente pelos profissionais da área de endocrinologia e metabologia e da psiquiatria. Esses profissionais prescrevem para seus pacientes remédios considerados de índice terapêutico estreito (ITE), aqueles em que é necessário o monitoramento dos níveis da substância no sangue e/ou da resposta do tratamento. Sem alarmismo, o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM Minas Gerais), Paulo Augusto Carvalho Miranda, afirma que, mesmo com os avanços na fiscalização

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e no controle de qualidade, o Brasil não tem como garantir a regulação de todas as fases de produção dos medicamentos que estão no mercado. Médico e professor, Miranda diz que a questão da qualidade dos medicamentos, principalmente dos genéricos, no mercado brasileiro envolve inúmeras variáveis, que ainda hoje revelam o despreparo do Estado para garantir uma rede de proteção ao usuário. “Medicamento é coisa muita séria. O paciente coloca sua fé e a saúde nas mãos de um sistema que não lhe dá segurança sobre um produto que é vital para sua qualidade de vida”, argumenta. Há, enfatiza o especialista, várias lacunas no processo: “a fiscalização nos pontos de venda é ineficaz por falta de pessoal capacitado nos órgãos governamentais, o Estado não tem controle de qualidade da gama variada de medicamentos, cujos testes de bioequivalência são feitos por empresas privadas após a liberação pela Anvisa, além dos enormes conflitos de interesse existentes no mercado farmacêutico, que é um dos mais poderosos do mundo”, aponta.


Elza Fiúza/ ABr

Salutaris

O hipotireoidismo ocorre quando a tireoide produz hormônios em quantidade insuficiente. A produção em excesso de hormônios é chamada de hipertireoidismo. O hipertireoidismo acelera todas as funções do corpo, enquanto o hipotireoidismo deixa tudo mais lento. Sem tratamento adequado, as doenças da tireoide, glândula que fica no pescoço, afetam o coração, os ossos, alteram as gorduras no sangue e causam muitos danos. Miranda cita, também, os medicamentos utilizados nos tratamentos psiquiátricos que, como os anteriores, são considerados medicamentos de índice terapêutico estreito (ITE), de alta sensibilidade à variação da quantidade hormonal, no tratamento da tireoide, e da dificuldade de mensurar a ação do remédio no organismo, em tratamentos psiquiátricos, e por isso exigem rigor máximo nos testes de bioequivalência.

Hipotireoidismo Para exemplificar, ele menciona uma situação com a qual convive diariamente como endocrinologista. Nos tratamentos do hipotireoidismo ou hipertireoidismo, doenças que afetam milhões de brasileiros, o medicamento a ser prescrito é vital para os pacientes. “Os médicos dessa área evitam até a troca de medicamentos de marca, por causa da possibilidade do descontrole hormonal. Eles evitam mais ainda a troca de medicamentos de referência para uma marca genérica, que pode conter uma variação maior do nível de TSH”, ressalta. André Martins

Paulo Miranda: “O Brasil não garante a regulação de todas as fases de produção dos medicamentos vendidos no país

No entendimento do endocrinologista, além de maior rigor na fiscalização, é necessária a devida distinção entre os laboratórios que levam a sério a qualidade do medicamento e os que não conseguem sustentar a qualidade contínua de seus produtos. Entre as sugestões para melhorar o sistema, Miranda propõe a criação de centros públicos de pesquisa para a realização dos testes de bioequivalência em várias universidades brasileiras. A análise permitiria o monitoramento regulado da fase de produção até a de comercialização dos medicamentos genéricos, como a dos similares e de referência. Ao apontar a necessidade de isenção nos conflitos de interesses no mercado farmacêutico, o dirigente da SBEM de Minas toca na parte traumática da cadeia produtiva dos medicamentos no Brasil. Em sua opinião, é preciso avançar e criar mecanismos que priorizem o bem público acima de outro interesse. Miranda não fica sozinho nos seus questionamentos. Especialista em doenças da tireoide, a doutora Laura Sterian Ward, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, aponta, em um de seus estudos, o risco no uso de medicamento que contém a levotiroxina, hormônio utilizado para o tratamento do hipotireoidismo. “É um perigo trocar marcas de levotiroxina. Tem se tornado prática comum em nosso país a troca de medicamentos prescritos por similares, por produtos genéricos e até mesmo por produtos manipulados, muitas vezes ignorando-se preceitos básicos de bioequivalência, permutabilidade, estabilidade e características específicas do composto farmacêutico. No caso de drogas de índice terapêutico estreito, como a levotiroxina, esses problemas se gravam e podem colocar em sério risco a eficácia do tratamento e a saúde do paciente.” | 13


Salutaris

O médico do povo

O contraditório

Médico generalista, João Gonçalves de Medeiros aposentou-se recentemente, depois de 30 anos prestando assistência às populações pobres da periferia, como profissional da prefeitura de Belo Horizonte Com sua experiência, ele vai logo dizendo que o cidadão desses locais usa os medicamentos genéricos, em sua maioria esmagadora, “preferencialmente os de marca, que em geral são melhores”, aponta. Medeiros concorda com seus colegas que questionam a fiscalização e o controle de qualidade dos medicamentos colocados no mercado. Ele mesmo aponta algumas dúvidas que têm relacionadas à cadeia produtiva dos medicamentos Paulo Filho

Dr. João Medeiros: “na periferia, todo mundo toma genérico”

existente no Brasil. Para o médico generalista, há pontos que o sistema não consegue convencer quem lida na área, como é o seu caso, mesmo reconhecendo que os laboratórios estrangeiros não vão querer “fazer qualquer porcaria para colocar na praça”. Medeiros enriquece seus argumentos: “temos matéria-prima em abundância, mas falta pesquisa, que é um processo demorado, e custa caro, por isso as multinacionais mantêm historicamente a hegemonia nessa área”, alega. Ele frisa que o Brasil retrocedeu na área de pesquisa. “Até a fábrica em Montes Claros que produzia insulina,uma empresa nacional, foi vendida para um laboratório dinamarquês, que optou por fechá-la”, diz. A deficiência da indústria nacional na área é tanta, garante Medeiros, “que hoje não há no mercado nem cinco medicamentos patenteados”. “A base científica dos medicamentos é toda norte-americana e da Europa”, enfatiza. 14 | www.voxobjetiva.com.br

A superintendente de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde Minas Gerais (SES/MG), Maria Goretti Martins de Melo, afirma que a fiscalização e o controle de qualidade dos medicamentos no estado seguem parâmetros nacionais estabelecidos pela Anvisa. “Os medicamentos, desde a aquisição da matéria-prima pelo fabricante até a distribuição, comercialização e o pós-uso são monitorados pela vigilância sanitária. A indústria farmacêutica é fiscalizada para a checagem do cumprimento dos requisitos de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e, posteriormente, liberamos o alvará de funcionamento ou a renovação do alvará de funcionamento”, garante a superintendente. Segundo ela, cabe à Anvisa, por meio do relatório de inspeção do estado, autorizar o funcionamento da empresa, certificá-la em BPF e registrar seus produtos. “Em Minas, os municípios são responsáveis pela fiscalização da distribuição (comércio atacadista) e dispensação (comércio varejista) nas farmácias e drogarias e ainda existe o Sistema de Notificação de Queixas (Notivisa) para o recebimento de denúncias, desvios de qualidade e reações adversas de medicamentos”, explica. Goretti informa também que, para ser comercializados, os medicamentos genéricos e similares precisam do registro na Anvisa. “Para isso, a empresa apresenta dossiê de fabricação do medicamento, bem como teste de bioequivalência ou biodisponibilidade relativa, respectivamente, em relação ao medicamento de referência (marca). A Anvisa analisa o dossiê, e a vigilância sanitária estadual vai até a empresa e verifica a qualidade do processo produtivo”, ressalta. Se os avanços são reconhecidos na fiscalização e no controle de qualidade dos medicamentos postos no mercado, a superintendente admite as falhas no sistema. “A nossa equipe técnica é pequena. No entanto, considerando que no estado existem 34 indústrias farmacêuticas, as inspeções são realizadas anualmente”, pontua. Ela reconhece também que há problemas principalmente na fiscalização nos pontos de venda, nas farmácias de manipulação — que em sua maioria são realizadas também pelo estado —, e especialmente nas drogarias — que estão subordinadas à fiscalização dos municípios. “Para fiscalizar drogarias, a equipe é bastante reduzida”, informa. Para ela, a área de vigilância sanitária sempre foi e será uma área de administração de conflitos entre o econômico e a


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preservação da saúde da população. “Quando há risco, é obrigação da vigilância sanitária privilegiar os interesses da população”, encerra.

Divulgação

A Indústria Farmacêutica Representante de 48 empresas do ramo, a maioria absoluta composta por laboratórios multinacionais, alguns deles com estruturas montadas no Brasil desde o final do século XIX e início do século XX, a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa — Interfarma —, fundada em 1990, é uma entidade setorial que representa empresas e pesquisadores nacionais ou estrangeiros responsáveis por promover e incentivar o desenvolvimento da indústria de pesquisa científica e tecnológica no Brasil voltada para a produção de insumos farmacêuticos, matérias-primas, medicamentos e produtos para a saúde. Esses laboratórios são responsáveis pela venda, no canal farmácia, de 79% dos medicamentos de referência do mercado e por 38% dos genéricos produzidos por empresas que passaram a ser controladas pelos laboratórios associados. Além disso, as empresas associadas respondem por 47% da produção dos medicamentos isentos de prescrição (MIPs) do mercado brasileiro e por 55% dos medicamentos tarjados (53% do mercado de varejo). Acionada por telefone e e-mail — por intermédio da empresa que lhe presta assessoria de comunicação, em São Paulo, a CDN Comunicação Corporativa —, a Interfarma não se pronunciou sobre o tema da matéria até o fechamento desta edição.

As variáveis da cadeia A discussão se amplia, ao se colocar na mesa as particularidades da sociedade brasileira em seus aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos e, em especial, a fiscalização e o controle da qualidade dos medicamentos pelo Poder Público. Além disso, deve ser considerado o poder de ação da indústria farmacêutica, uma das mais poderosas do mundo, que movimenta anualmente mais de US$ 1 trilhão no planeta. Mais de R$ 33 bilhões são movimentados no Brasil, por ano. Um fenômeno que intriga médicos e outros profissionais de saúde, que faz parte do perfil cultural do brasileiro, é o alto de consumo de medicamentos ou, como denominam os farmacêuticos, há uma hipermedicalização da sociedade. Conforme a IMS Health, empresa de consultoria internacional de marketing farmacêutico, presente em

Novato: “a guerra de vendas é prejudicial à poupulação e contribui para a hipermedicalização

mais de cem países, em breve o Brasil vai ocupar o 4º lugar mundial em consumo de medicamentos, sendo superado apenas por Estados Unidos, China e Japão. Outro fenômeno que explica em parte a hipermedicalização é o elevado número de farmácias e drogarias no território nacional. Dados do Conselho Federal de Farmácia apontam para a existência de mais de 80 mil farmácias/drogarias no país. No Brasil há mais farmácias do que na China, país que tem 1,2 bilhão de habitantes, superando em mais de seis vezes a população brasileira. Minas Gerais tem aproximadamente 8,5 mil desses estabelecimentos, e Belo Horizonte, cerca de 1,6 mil farmácias/drogarias.

Guerra surda Com essa realidade palpável, muita pesquisa de mercado e um volume considerável de propaganda, há uma guerra surda nos bastidores do mercado farmacêutico para atrair a população brasileira ao consumo de todo tipo de drogas e injetar medicamentos na praça. Novato classifica como aberração o fato de haver mais de 35 mil especialidades de medicamentos no mercado, em suas diversas apresentações, entre os de referência (de marca), similares e genéricos. “Esse número é aproximado porque é difícil saber com exatidão a quantidade de medicamentos na praça, já que muitos fabricantes, que são empresas multinacionais, detêm a patente dos remédios e suspende a venda ou não os coloca no mercado quando não há interesse comercial”, explica o dirigente do Sinfarmig. Na opinião dele, “essa aberração gera uma concorrência extremada entre os grandes laboratórios, tendendo para uma guerra de vendas”, pondera. No vale-tudo entre as multinacionais dos remédios para atender a esse mercado farto | 15


Salutaris

e ávido por medicamentos, Novato aponta o forte lobby que é feito por essas empresas em Brasília, no Congresso Nacional e no Poder Executivo. A ação lobista não é ilegal, reconhece o representante da Fenafar. “O grande problema são os subterfúgios utilizados para o convencimento dos seus interesses”, alega, citando uma das formas usadas pelos laboratórios para que seus medicamentos sejam aprovados mais rápido pela Anvisa. A prática dessas empresas, garante o sindicalista farmacêutico, é usar a mídia, principalmente as redes de televisão, em supostas matérias jornalísticas. “Pacientes são entrevistados como se necessitassem urgentemente do medicamento e assim se comove a sociedade e cria-se a situação para pressionar a Anvisa e obter os resultados que querem”, denuncia. Para viabilizar essa estratégia, a primeira iniciativa das indústrias farmacêuticas é realizar o que é chamado de “destarjamento” dos remédios, obtendo a autorização legal para que sejam vendidos livremente no mercado, sem tarjas. Nessa condição de medicamentos de venda livre, os laboratórios levam vantagens em dois aspectos principais. No Brasil, os medicamentos têm seu preço tabelado para preços de venda máxima ao consumidor. No entanto, os chamados medicamentos de venda livre têm tratamento diferenciado: a cada ano, quando há reajuste de preços dos medicamentos, que ocorre geralmente ocorre no mês de março, os medicamentos de venda livre ficam fora da remarcação de preços. Fora da tabela, esses remédios são reajustados sem limitação de preço, diferentemente dos medicamentos tarjados. O governo deixa o mercado regular os preços e apenas informa que, se houver abuso, tomará as medidas cabíveis.

O que mais incomoda aos farmacêuticos e profissionais de saúde, nesse caso, é o fato de que o “destarjamento” dessas drogas não significa que elas não contenham risco ao serem ingeridas indiscriminadamente, já que são comercializadas livremente em qualquer balcão de farmácia e até clandestinamente. Novato ressalta que essas drogas antes continham uma tarja vermelha, cujo significado era o de alertar o consumidor sobre o risco de se automedicar com o produto. “Mesmo vendidos livremente, esses medicamentos podem provocar reações adversas e agravar o quadro do paciente”, adverte. A propaganda maciça desses medicamentos nos meios de comunicação, garantida pela legislação, induz à crença de que a utilização de medicamentos sem tarja é menos arriscada. “O destarjamento é uma maquiagem farmacológica que interessa somente ao bolso do fabricante e do comércio de medicamentos”, frisa Novato, que defende a utilização dos medicamentos genéricos pela população brasileira. A Fenafar informa que as vendas das unidades de medicamentos genéricos e similares — aqueles que têm o nome da marca mas, por não terem sido os primeiros registrados como referência no Ministério da Saúde, e por interesses comerciais, ainda não se submeteram à adequação para medicamento genérico — já superaram em muito a dos medicamentos de referência. “O crescimento do mercado de genéricos no Brasil, em poucos anos, é um marco sem precedentes no mundo”, salienta Novato.

Para entender Bioequivalência - Consiste na demonstração de equivalência farmacêutica entre produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica, contendo idêntica composição qualitativa e quantitativa de princípio(s) ativo(s) e que tenham comparável biodisponibilidade, quando estudados sob o mesmo desenho experimental. Biodisponibilidade - Indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circulação sistêmica (sanguínea) ou na excreção na urina. Tireoide - É uma glândula que fica no pescoço, logo abaixo da saliência conhecida como “pomo-de-adão”. A tireoide produz dois hormônios importantes para o organismo: o T3 e o T4, os quais controlam o funcionamento de diversos órgãos. Esses hormônios interferem diretamente nos processos de crescimento, ciclo menstrual, fertilidade, sono, raciocínio, memória, temperatura do corpo, batimentos cardíacos, eliminação de líquidos, funcionamento intestinal, força muscular e controle do peso corporal. Pesquisa - O custo médio para desenvolver um medicamento gira em torno de US$ 1,3 bilhão. Estima-se que sejam necessários entre dez e 15 anos para desenvolver um medicamento ou uma vacina. 16 | www.voxobjetiva.com.br


Artigo

Psicologia

Amigos como irmãos Por que será que hoje em dia escutamos tanto que as pessoas não confiam em ninguém e que podem contar nos dedos as verdadeiras amizades? O que acontece num tempo que deveria ser de maior interação, mas, pelo contrário, as pessoas se sentem tão sozinhas, mesmo com todo o aparato virtual, relacional, psicológico, etc.? Algumas pesquisas apontam que a amizade auxilia a saúde, o bem-estar, o avanço da carreira e até mesmo prolonga a vida. Saber que se pode contar, em qualquer momento, com alguém que nos reveste de uma proteção psicológica é algo divino. É verdade que ter um amigo verdadeiro e confiar suas intimidades é algo bem complicado. Mas quando se encontra essa pessoa, a vida se torna mais leve, e a presença terapêutica também passa a existir. É que não se trata simplesmente daquele “amigo” com quem se diverte ou trabalha: é alguém que se importa, que se coloca no seu lugar e dá toques sinceros pra você diante de situações adversas. É verdade também que existem mudanças com relação aos laços amistosos. Alguns especialistas afirmam que a amizade passa por grandes transformações. No passado, a amizade e a diversão aconteciam fortemente nos lares e nas festas de família fechadas. Não havia a demanda por fazer grandes amigos fora do ambiente familiar. Atualmente os parentes têm os próprios problemas, certa frieza nas relações e não reforçam tanto esses encontros nem a amizade sincera. A companhia e o afeto dos amigos se tornaram então um refúgio: lugar de bem-estar e prazer. Com isso, a amizade toma grandes proporções na vida, pois precisamos dos relacionamentos; somos seres relacionais. Amigo para ficar junto sem fazer nada ou fazer coisas juntos, divertir, trocar vivências e conforto nos momentos difíceis tornou-se algo de extremo desejo em tempos de aceleração e de forte individualismo. Eles são mesmo importantes, irmãos do coração e funcionam como uma válvula de escape, porque lidar com situações difíceis sozinho é pesado demais. A amizade nos ensina a lidar e a aceitar as diferenças, embora, muitas vezes, esse seja um processo de tremendo esforço. Confiar sem medo de ser traído, expor sem barreiras, abrir sua vida sem resistência, tudo isso apresenta um grande fator terapêutico. Portanto, mesmo que sejam poucas, procure sempre regar suas amizades. Mesmo com algumas divergências, cultive-as, busque harmonizar. A amizade é de um potencial produtivo imensurável, pois ajuda a evitar a depressão, a solidão, a ansiedade e a autodepreciação. Reflita!

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com

“Alguns especialistas

afirmam que a amizade passa por grandes transformações. No passado, a amizade e a diversão aconteciam fortemente nos lares e nas festas de família fechadas. Não havia a demanda por fazer grandes amigos fora do ambiente familiar. Atualmente os parentes têm os próprios problemas, certa frieza nas relações e não reforçam tanto esses encontros NEM a amizade sincera

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Jáder Rezende

Demorou Banco Central decretou liquidação do Banco Rural, instituição que, nas últimas três décadas, esteve envolvida nos maiores escândalos de corrupção política do país Paulo Filho Tomando como referência os últimos 25 anos, os maiores escândalos de falcatruas e corrupção política no país tiveram o envolvimento do Banco Rural. Começando pelo “collorgate”, passando pelo “tucanoduto” mineiro, pelo esquema das emendas dos “anões do orçamento” (com a construtora Tratex), pelas CPIs dos “Precatórios” (Títulos Públicos) e do “Banestado”, até chegar ao “mensalão”, o Rural pontificou em todos. Mas um ponto-final foi colocado na história do banco. No último dia 2 de agosto, o Banco Central (BC) anunciou a liquidação extrajudicial do Banco Rural e de suas coligadas. Um ato assinado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, aponta: “a decisão considera o comprometimento da situação econômico-financeira da instituição, a existência de graves violações às normas legais e estatutárias que disciplinam sua atividade e a ocorrência de sucessivos prejuízos que sujeitam a risco anormal seus credores”. Em nota à imprensa, o BC aponta também a falta de um plano viável 18 | www.voxobjetiva.com.br

para a recuperação da situação do banco como mais um motivo para a liquidação. Foi nomeado como liquidante Osmar Brasil de Almeida, que é quem responde, a partir da data de liquidação, pela instituição. Também de acordo com o comunicado do BC, o ato abrange, por extensão, as demais empresas do Conglomerado Financeiro Rural: o Banco Rural de Investimentos S.A., o Banco Rural Mais S.A., o Banco Simples S.A. e a Rural Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. Ainda no rol das medidas anunciadas pelo BC está a garantia de que serão tomadas todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades, nos termos de suas competências legais de supervisão do sistema financeiro, e que “o resultado das apurações poderá levar à aplicação de medidas punitivas de caráter administrativo e a comunicações às autoridades competentes, observadas as disposições legais aplicáveis”. Ficaram indisponíveis


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os bens dos controladores e dos ex-administradores da instituição.

Reprodução

Por causa do envolvimento do Banco Rural no “mensalão”, com a acusação de realizar empréstimos fictícios ao PT, foram condenados à prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e remessa ilegal de recursos, o ex-vice-diretor do Banco Rural, José Roberto Salgado; a ex-presidente do banco, Kátia Rabello (16 anos e oito meses cada um); e o vice-presidente Vinícius Samarane (oito anos e nove meses). Com a liquidação, o banco fecha suas portas, os funcionários são dispensados e os bens dos donos e gestores ficam indisponíveis. O liquidante vai negociar bens e aplicações para ressarcir os credores. Os clientes e os investidores serão ressarcidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 250 mil para pessoa física e de R$ 20 milhões para os títulos com cobertura especial. Procurada pela reportagem da Vox Objetiva em Belo Horizonte e São Paulo, a direção do Banco Rural não quis se manifestar. Apenas uma nota foi distribuída à imprensa, com os seguintes termos, assinada pelos “acionistas controladores”: ”Os controladores do Banco Rural se viram surpreendidos com a decisão do Banco Central do Brasil de decretar a liquidação extrajudicial da instituição. O Banco Rural tem mais de 50 anos de existência e nesse período jamais causou prejuízo a quem quer que seja”. “Os controladores lamentam a interrupção abrupta em um momento em que se construía, com o conhecimento do próprio Banco Central, uma transição para reforçar o capital da instituição e adequá-lo aos seus planos de crescimento. Os controladores informam ainda que estudarão as medidas cabíveis frente a esse novo contexto.”

MP e PF apertaram investigações e fiscalizaçÕES sobre o banco — histórico de negócios nebulosos Liquidado por causa do “comprometimento da sua situação econômico-financeira” e pela “falta de um plano viável” de recuperação, o Banco Rural apresentava um patrimônio negativo de R$ 300 milhões devido às perdas judiciais.

Kátia Rabello, herdeira e presidente do banco, condenada pelo STF a 16 anos e oito meses de prisão

Segundo o Ministério Público e o BC, os controladores do Rural são suspeitos de tentar salvar a instituição com recursos que mantinham ilegalmente no exterior por meio de sucessivos aportes financeiros. O último, de R$ 65 milhões, foi feito no início de 2012. Ainda no início da década passada, uma off-shore nas Ilhas Cayman simulou empréstimos de US$ 100 milhões para trazer dinheiro para o banco. Segundo as investigações, a suspeita é de que o dinheiro era do próprio Rural. A dona da off-shore chamada Securinvest seria Kátia Rabello. Ela nega. Pesa também contra o Rural a acusação de ajudar a esconder bens de proprietários de empresas falidas. Em envolvimento com a Vasp, o banco e uma empresa do grupo - Rural Agroinvest - foram condenados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por terem ajudado o ex-dono da Vasp, Wagner Canhedo, a esconder patrimônio quando seus bens estavam indisponíveis. Segundo consta, Canhedo simulou um empréstimo e pagou com cabeças de gado. Na falência da Petroforte, a acusação é de que o Rural ajudou a “esconder” uma usina de açúcar dos credores. Kátia Rabello teve seus bens bloqueados pela Justiça por causa dessa suspeita. | 19


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Com características muito marcantes de um banco regional - poucas agências e marketing discreto -, o banco mineiro figurava entre as dez maiores instituições financeiras privadas nacionais. Entre os pontos fortes do conglomerado havia operações no exterior, onde atuava por meio de empresas próprias: Rural International (Miami), Rural International Bank e Rural Securities International (Bahamas), Banco Rural Europa e Serra Dourada (Ilha da Madeira) e IFE (Uruguai). Segundo pesquisa detalhada no livro O Operador, do jornalista Lucas Figueiredo, a Polícia Federal e o Ministério público sempre suspeitaram que o Banco Rural fosse, de fato, uma grande lavanderia de dinheiro e um escoadouro de riquezas nacionais. Segundo denúncia do MP Federal, o banco usaria “laranjas” no Brasil e em seus longos braços no exterior para movimentar dinheiro sujo. Um desses braços era a off-shore Trade Link Bank, com sede nas Ilhas Cayman. O negócio da empresa era “alugar” o próprio nome para terceiros. Paulo César Farias usou a Trade Link para remeter dinheiro para a Suíça. Para a PF e o MP, o Rural e a Trade Link Bank eram uma coisa só. Paulo César Farias, o homem de confiança do ex-presidente Fernando Collor de Mello, chegou ao Rural logo no início do mandato “collorido”. PC precisava de dinheiro para “saldar dívidas”. O contato do ex-tesoureiro de Collor foi feito com Sabino Rabello, pai de Kátia Rabello, fundador e controlador do banco e dono da Tratex - uma empreiteira mineira conhecida pelos grandes escândalos em que se envolvia. A Tratex foi uma das estrelas da CPI dos anões do orçamento e das emendas para as obras superfaturadas. A Tratex deu o dinheiro que PC Farias queria. Mais à frente, o tesoureiro de Collor montou uma rede de movimentação financeira com o Rural que tinha contas-fantasmas e CPFs falsos pela qual transitaram milhões de reais. O fim dessa história, todos os brasileiros sabem: o primeiro (e único) presidente brasileiro cassado por corrupção. Já com o governo do tucano Eduardo Azeredo, a predileção do Rural foi demonstrada antes mesmo da entrada em cena do operador Marcos Valério. Com ótimas ligações com a cúpula do governo, em especial com o vice-governador Walfrido dos Mares Guia e com o secretário da Fazenda, João Heraldo Lima (que depois viria a ser diretor do banco), o banco doou, na campanha da reeleição de Azeredo, R$ 300 mil oficialmente aos tucanos. 20 | www.voxobjetiva.com.br

Com Valério em campo, o tucanoduto começou a funcionar a todo vapor. A predileção do Rural pelo PSDB era escancarada. Um empréstimo de R$ 2 milhões, tomado por Valério e recolhido no banco pelo tesoureiro oficial da campanha, o secretário de Administração do governo Azeredo, Cláudio Mourão, foi o início de uma “parceria” que jogaria mais dinheiro na candidatura tucana. O segundo empréstimo, à DNA Propaganda (leia-se Marcos Valério), para ser injetado na campanha de Azeredo, ocorreu pouco tempo depois e foi de R$ 9

Wilson Dias/ ABr

Antonio Cruz/ ABr

Wilson Dias/ ABr

Reproudução

Collor de Mello, Marcos Valério, Walfrido dos Mares Guia, Delúbio Soares, Roberto Jefferson, Paulo César Farias, Eduardo Azeredo e José Dirceu: alguns dentre os personagens que ajudaram a contar a história do Banco Rural como uma crônica nefasta

milhões. Em um caso raro no mundo financeiro, investigações comprovaram que o empréstimo de R$ 9 milhões não foi pago, e a instituição financeira não se importou com isso. Em 2003, quando a dívida beirava R$ 14 milhões, a agência de publicidade pagou R$ 2 milhões e se comprometeu em quitar o resto em serviços. O Rural, placidamente, aceitou. Na CPI do Banco do Estado do Paraná (Banestado), que investigou o envio de mais de US$ 20 bilhões para fora do país, entre 1997 e 2002, um laudo da Polícia Federal apontou que o Banco Rural controlou quatro contas da agência do Banes-


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tado em Nova York. Por essas contas teriam saído quase US$ 4,5 bilhões do país. Nesse caso, o Rural atuou em parceria com o doleiro Haroldo Bicalho, preso com 61 doleiros pela PF na Operação Farol da Colina, em 2004. O elo entre eles era a RS Empreendimentos e Participações - uma empresa com sede na cidade de Alfredo Vasconcelos (MG) cujos sócios eram o doleiro e a Rural Seguradora. Segundo registros, as assembleias da empresa eram realizadas na sede do Banco Rural.

Fabio Pozzebom/ ABr

A partir daí, além de receber as prováveis e polpudas comissões, Valério trabalhava em mão-dupla: adiantava a resolução dos “problemas financeiros” do PT e de políticos do governo e, no sentido contrário, defendia os interesses do Rural no governo. Além de operar financeiramente, Valério fazia lobby descaradamente para o banco, por assim dizer. E o dinheiro do Rural para o PT jorrou fácil: o primeiro empréstimo, direto para o partido, foi de R$ 3,4 milhões e teve Valério como avalista. O segundo, poucos dias depois, teve a agência SMP&B como intermediária — R$ 19 milhões. Depois desse empréstimo, Marcos Valério organizou um encontro entre o vice-presidente do Rural, José Augusto Dumont, e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Menos de dois meses depois desse encontro, o PT sacou mais R$ 10 milhões no Rural, tendo como “laranja” a Graffiti Participações - mais uma empresa de Valério. Além dos empréstimos, o Rural ajudou de maneira prosaica no esquema de “saldar dívidas” do PT: as agências do Rural, especialmente em Brasília, eram o ponto de repasse de dinheiro para os políticos da base governista.

Reprodução/Congresso

Waldemir Rodrigues Jr./ ABr

de desenvolvida com o ex-secretário da Fazenda do governo Azeredo, João Heraldo Lima, então um dos diretores do banco.

Elza Fiúza/ ABr

SAEM OS TUCANOS, ENTRA A ESTRELA Segundo consta, Marcos Valério teve as portas do PT abertas pelo seu conterrâneo, o ex-deputado federal Virgílio Guimarães. Os dois nasceram em Curvelo. Uma vez dentro, Marcos Valério soube habilmente se aninhar nas cúpulas do partido e do governo e não se fez de rogado em mostrar serviço, juntando o interesse de uns com a disposição de outros. A aproximação patrocinada por Valério entre o Banco Rural e o PT foi demasiadamente fácil. Se por um lado ele tinha acesso a Delúbio Soares, tesoureiro do partido, e ao homem-forte do governo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, por outro, além das boas e antigas relações com a cúpula do Rural, Valério contou com a amiza-

As investigações do “mensalão” apontaram também a participação do Rural nos pagamentos efetuados pelo PT ao publicitário Duda Mendonça no exterior. Antes de cair em uma conta aberta por ele nas Ilhas Cayman, cerca de R$ 10,5 milhões passavam por intermediários, dentre eles, três instituições bancárias ligadas ao Rural: Banco Rural Eur opa , Rur al In ter n ational Bank e Trade Link Bank - a mesma off-shore que atendeu ao tesoureiro de Collor, PC Farias. D o in ício d a d écada de 90 até hoje, o Banco Rural foi citado e investigado em sete Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs): do Paulo César Farias (1992), do Orçamento (1993), dos Precatórios (Títulos Públicos – 1996), do Narcotráfico (1999), do Futebol (2000), do Banestado (2003) e a dos Correios (“mensalão” - 2005). Nas seis primeiras, o banco passou incólume. Agora, com a recente condenação da sua presidente e de dois dos seus diretores pelo envolvimento no mensalão e com a sua liquidação decretada pelo BC, o Banco Rural põe um ponto-final diferente na sua história. | 21


Artigo

Política

De postes, metrô e bancos

Paulo Filho Jornalista e consultor de Comunicação Social paulo.filho@voxobjetiva.com.br

“... no final de 2011, a

presidente veio a Belo Horizonte e anunciou o repasse de mais de R$ 3 bilhões para o Metrô da cidade. De lá para cá, de concreto mesmo, só os “buracos eleitoreiros” do Lacerda, segundo acusou antes da eleição o hoje vice-prefeito Délio Malheiros

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Os postes do Lula começaram a apresentar curtos-circuitos. O mais vistoso despencou nas pesquisas de opinião. O segundo poste, Haddad, sofreu uma “sobrecarga elétrica” logo no início de seu mandato. Zonzo até agora, Haddad perdeu uma grande oportunidade de abrir a caixa-preta do sistema de transporte público na maior cidade do país. O conluio entre políticos (governos) e empresas de transporte sustenta muita gente, partidos e campanhas. E o PT, como vários outros partidos, já ocupou (e negociou com empresas de ônibus) a prefeitura de São Paulo por duas vezes. Então por que mudar “esse jeito” de as coisas funcionarem? Com os problemas dos dois primeiros, o terceiro poste lulista corre o risco de nem “piscar”. Ungido pelo ex-presidente para ser o candidato ao governo de São Paulo, o ministro da Saúde Alexandre Padilha pode ser um grande fiasco eleitoral, nem tanto por sua capacidade, mas pela onda negativa que assola o PT (o partido e suas administrações). Cientes disso, Lula e alguns próceres do partido (João Santana não é do partido, mas é também um prócer) desencadearam a operação “Salve Haddad”. Salvando Haddad, a avaliação sobre o governo Dilma pode melhorar em São Paulo, e o projeto de eleição de Padilha ainda se mantém de pé (também fundamental para a reeleição de Dilma — ter votos em São Paulo). Assim, em menos de 20 dias, a presidente anunciou, in loco, o despejo de dinheiro federal na capital dos bandeirantes: mais de R$ 8 bilhões para a infraestrutura (mobilidade urbana e transporte público à frente) e mais de R$ 1 bilhão para o programa “Mais Educação São Paulo”. Anunciar verba é sempre bom para a popularidade dos políticos. Só para lembrar: no final de 2011, a presidente veio a Belo Horizonte e anunciou o repasse de mais de R$ 3 bilhões para o Metrô da cidade. De lá para cá, de concreto mesmo são só os “buracos eleitoreiros” do Lacerda, conforme acusou o vice-prefeito Délio Malheiros antes da eleição. Já com os tucanos, “os punhos de renda” voltaram a apresentar nodoantes manchas. Circulando há algum tempo na mídia internacional, as investigações sobre a corrupção e o pagamento de propinas pela francesa Alstom aos tucanos de São Paulo transbordaram agora em um lamaçal que remonta ao governo Mário Covas e passa pelos governos Serra e Alckmin. A alemã Siemens, investigada, declarou que teria formado um cartel com multinacionais da França, do Canadá, da Espanha e do Japão para manipular licitações públicas e pagar propinas a autoridades em diferentes administrações do PSDB por mais de uma década. As acusações estão sendo investigadas e remontam a valores da ordem de R$ 24,4 milhões em propinas pagas somente pela Siemens. Com os tucanos mineiros, o susto e a ansiedade vêm com a proximidade do julgamento do “tucanoduto mineiro” e a decretação recente da liquidação do Banco Rural. Como um fio sempre puxa outro, pode ser que as privatizações do Credireal e do Bemge voltem à baila. Em mato que tem coelho é sempre bom apurar o olhar nas tocas.


Divulgação Fernando Priamo

“O despertar da besta” Ícone da cinegrafia brasileira, José Mojica não mede palavras quando o assunto é o cinema nacional e aponta que as leis de incentivo “são uma falsidade” André Martin e Paulo Filho

Ao lado de Oscarito e Mazzaropi, José Mojica Marins compõe a trindade dos “fazem-tudo” (com talento) do cinema brasileiro. Cineasta, autor, ator, roteirista e diretor, Mojica gravou seu nome (e sua produção) no memorial do cinema nacional e é reverenciado mundo afora. Mojica nasceu em 1936, em São Paulo. É filho de artistas circenses de origem espanhola. Aos 3 anos, ele se mudou com a família para os fundos de um cinema na Vila Anastácio. Com o pai trabalhando como gerente, o garoto passava horas assistindo às películas na sala de projeção. Veio daí sua paixão pela “sétima arte”. Também conhecido como “Zé do Caixão”, misto de personagem e alterego, Mojica é reconhecidamente um diretor de cinema de terror. Ao longo de sua carreira, o cineasta passeou pelos mais diversos gêneros — faroeste, drama, aventura e, até mesmo, a rentável, mas condenável, pornochanchada. Mojica é considerado um dos inspiradores do movimento marginal do cinema brasileiro. Hoje é um personagem cult no mundo do cinema. E com reconhecimento internacional. Mojica continua na ativa, com uma extensa agenda de viagens pelo mundo para falar sobre a sua obra e o que ele mais gosta: o cinema. Ao participar da mostra sobre o trabalho do cineasta Alfred Hitchcock, organizada pela Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte, José Mojica Marins conversou com a revista Vox Objetiva. | 23


verbo

Registra a lenda que o interesse do senhor pelo cinema vem quase do berço; que, quando criança, o senhor trocava brinquedos por coisas relacionadas com o cinema. Em vez de bolas e bicicletas, você queria câmeras. O que tem de verdade nisso? O meu pai era toureiro e artista. E minha mãe dançava tango. Eu era filho único. Então já nasci nesse meio, com essa vontade. Lembro de ver meu pai fantasiado na arena, e a minha mãe dançando. Eu morava em um cinema. De 3 para 4 anos de idade, eu subia na cabine e ficava vendo as fitas. O cinema me maravilhava. Na época passavam fitas de doenças venéreas às terças-feiras para as mulheres e às quintas, para os homens. Eu via tudo porque morava nos fundos. Quando via algum terror, o que realmente me impressionava eram cenas de impacto em que a mulher se lançava nos braços do homem. Aí eu pensava: “A coisa é por aí mesmo. É partir para o terror!”. Eu era muito sondado por todas as meninas, porque todo mundo queria entrar no cinema de graça. Todo mundo estava disposto a fazer qualquer coisa para entrar sem pagar pelo bilhete. Isso me trazia uma mordomia muito grande. Quando foi a decisão de que o cinema era mesmo o que você queria para a sua vida? Qual foi o primeiro filme? Foi aos 8 anos de idade, quando, no lugar de uma bicicleta, eu pedi uma câmera de 16 milímetros. E como filho único muito badalado e a força que a minha mãe tinha sobre o meu pai, eles me deram a câmera para filmar. Quando ia para as ruas com a câmera, todo mundo se punha à disposição. Na primeira fita, eu me baseei em coisas que lia muito em quadrinhos. Então eu fiz “A mágica do mágico”. Era um curta sobre um elemento que fazia mágica. Eu gostava muito de Mandrake, essas coisas todas. O cinema brasileiro pode ser considerado um cinema de fases. Na sua opinião, o cinema brasileiro evoluiu ou involuiu? Ele realmente regrediu. Dá pra tirar uma ou outra fita que é muito difícil de acontecer, como “Cidade 24 | www.voxobjetiva.com.br

de Deus”, “Independência ou Morte”, “Guarani”, “Iracema” - filmes que tinham mesmo a ver com o Brasil, traziam grandes mensagens e marcaram época. Nosso cinema passou a regredir mesmo quando partiram para a pornografia, que eu também cheguei a fazer. Fui um dos homens que fizeram o “24 horas de sexo explícito”. O filme ficou um ano em cartaz. Não que eu gostasse de fazer. A gente fazia porque dava dinheiro. E com o dinheiro dava para você fazer o que gostava. Foi assim que fiz fitas diferentes, como “À meia-noite levarei sua alma”, “Esta noite encarnarei no teu cadáver”. Fui o primeiro homem a fazer CinemaScope, em tela grande, no Brasil. Fui o primeiro homem a fazer dez minutos de desenho animado em “Meu destino em tuas mãos”. Nessa época, nem se pensava na Mônica. O Maurício (de Sousa) viria a fazer posteriormente, mas eu tinha feito desenho animado antes de a fita começar. Comecei a fazer terror numa época que parecia ser o fim do cinema nacional: nos anos 60. Já se falava nisso quando o Vera Cruz, o Maristela, o Multifilmes e o Cinédia, no Rio de Janeiro, foram fechados. Comentava-se muito sobre o fim do cinema nacional. Eu devo ter até reportagens guardadas. Naquela época, só se fazia cinema com estúdios. Eu peguei uma câmera e disse: “Não! É o início do cinema independente!”. Eu começaria a fazer um cinema sozinho. Fiz “A sina do aventureiro” – o primeiro filme de CinemaScope – e isso despertou muitos cineastas. Eles viram que não se dependia de estúdio para fazer filmes. Como dizia Glauber (Rocha), era uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. E aí a gente partia para a criatividade. E o que eu mais fazia era coisa criativa. Tinha gente que ficava escrevendo roteiro pra mim; pegava as minhas histórias, né? Mas eu olhava o roteiro apenas uma vez. Ia fazendo aquilo que achava bacana. Eu pensava em um riacho, mas, se em uma viagem visse uma cachoeira, eu achava uma coisa mais forte. E então fazia com a cachoeira, e assim por diante... A sua produção e o seu método de fazer cinema mudaram muito com o período ditatorial, a partir de 64?


verbo

Eu acho que a ditadura me podou muito. Se não me segura como me segurou, a coisa seria outra. “O despertar da besta”, por exemplo, ficou 20 anos preso. Se essa fita sai no ano que tinha que sair, eu hoje era um homem milionário. Eu jogaria tudo na arte, que é a coisa que mais me fascinava e fascina até hoje.

acham o meu cinema diferente, porque eu nunca parti para um cinema de plágio. Não gosto de plagiar. Gosto de fazer aquilo que é da terra; coisa que é nossa mesmo. Falo sobre superstições, centros espíritas, macumba. Eu mexo só com coisas nossas. Fico doido quando me chamam para fazer coisas que nada têm a ver comigo.

Eu ainda lido muito com cinema, televisão e histórias em quadrinhos. Tudo que é comunicação, eu gosto muito e continuo fazendo.

Você já recebeu convites para realizar algo no exterior?

Você ainda vive do cinema? Eu vivo disso. Eu vivo da arte. Faço alguns shows. E isso me ajuda muito. Sempre eu ganho alguma coisa a mais. Meus filmes estão sendo reprisados pelo Brasil. Nos próximos meses, devo passar pelo Acre e em outros estados. Depois vou para o México e os Estados Unidos. No Texas tem um festival fantástico, e eu sou convidado especial. Vão me fazer uma homenagem em outubro. Eles

Já. E me arrependo de não ter aceitado. Eu tenho sete filhos no Brasil. Na época, eu não me senti bem, mas acho que deveria ter enfrentado isso. Eram projetos na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos,... Muitos produtores gostavam de mim, e eu não soube aproveitar. Eu não era comerciante. Saí muito em capas de revista por lá. Fui fazer algumas coisinhas e me arrependo por não ter ficado. Convite não me faltou. Até hoje eu não tenho um pensamento muito comercial. Um dos meus filhos sempre diz que eu não soube usar a cabeça... Mas você estava sendo fiel àquilo em que acreditava. Isso, de certa forma, é algo positivo. Eh... Eu acho que você tem que ir em frente com aquilo em que acredita. Mas tive outras oportunidades: na televisão, por exemplo. Há quase sete anos que tenho um programa de terror no Canal Brasil. No cinema, fiz pornô por dinheiro. Mas, se você reparar, a maioria das minhas fitas tem o horror e a perversão no meio. Assim você achava um meio-termo... Exatamente. A gente precisava do dinheiro. Então, muitas vezes, tive que abaixar a cabeça para os produtores e aceitar fazer o que não era do meu interesse. Você é um símbolo cult ; um personagem do cinema muito reverenciado. Qual a sua avaliação sobre isso? Eu me tornei mito, uma coisa forte, pelo fato de ninguém ter seguido esse caminho. Acho também que as pessoas veem o Brasil através do meu trabalho.

Divulgação

Pelo impacto de causava, o terror sempre seduziu Mojica desde bem novo

E o Zé do Caixão: como surgiu esse “nome de guerra”? | 25


verbo

O Zé do Caixão nasceu de um pesadelo. Nos anos 60, eu tive um pesadelo: vi um personagem de preto me arrastando pelo cemitério, depois querendo me jogar em uma cova. Eu fiquei com isso dentro de mim. Voltando ao seu trabalho e ao cinema, há um período ou uma obra que você goste mais? De todos os filmes meus – as 33 produções em longa-metragem, quatro em média-metragem e uns 20 em curta –, o que mais me marcou e o que eu mais gosto ainda é “O despertar da besta”. Você apontou as dificuldades de fazer um filme no passado. Hoje existem as chamadas leis de incentivo à cultura. O que você pensa em relação a essa política? Eu acho tudo isso uma falsidade. Eu estava até pensando em juntar gente de vários estados - já que eu viajo muito - para tentar mudar algo. Vejo aqueles grupos de cinema independente lutando para fazer alguma coisa. Eu gostaria de juntar esse pessoal todo e chegar a Brasília para pedir um auxílio para a presidente. Eu cheguei a falar com o Lula na época em que ele era presidente. Ele deu uma palavra que acabou não sendo cumprida pela Secretaria de Cultura. Eu queria agora era levar um grupo de cinéfilos e ci-

neastas para pedir um apoio à presidente para esse cinema mais independente. Eu tenho as vozes que podem gritar. Ir lá com duas ou três pessoas não adianta muito não. Seria preciso mais que talento para conseguir algo por meio dessas leis de incentivo. É isso? Você precisa ter talento e ser um jogador legal. O cinema brasileiro teria futuro, caso houvesse espaço para elementos que não são filhinhos de papai; se houvesse gente com condição suficiente para analisar quem tem realmente talento e criatividade e não desse apoio só porque o indivíduo é parente de político, filho de gente grande, de nome e tal. Assim veriam que existe muita gente inteligente e com talento no Brasil. São pessoas que, caso o sistema continue dessa forma, morrerão com isso sem a oportunidade de colocar para fora. Você tem algum projeto em mente? O que está na cabeça do Zé do Caixão para o futuro? Estou pensando em um projeto com o grande jornalista André Barcinski, que me projetou lá fora com o livro “Maldito”. Ele juntou um grupo e quer fazer uma série de seis capítulos para a televisão e para o cinema. A ideia é realizar isso até o final de novembro. Sendo o livro baseado na minha história de vida, esse material teria bastante fantasia e terror.

No início da década de 60, Mojica teve um pesadelo em que uma figura tentava o arrastar para uma cova. Desde então, ele atende pelo apelido de Zé do Caixão

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crônica

Crônica

Das coisas boas da vida! Churros! Churros quentinhos recheados com doce de leite. Você morde, e o doce escorre pelos cantos dos lábios. Ai que delícia! Fala a verdade: sua boca encheu d´água, não foi? Pra mim, churros são uma daquelas coisas que fazem a vida valer a pena. Mas tem mais. Muito mais! Um sorriso gratuito que você dá para um desconhecido e recebe outro em troca, por exemplo, isso é vida! E um abraço, então: melhor ainda! Bom dia, boa tarde, boa noite! Gente educada, de verdade, é ou não é bom?! Ter ataque de risos com os amigos e depois rir sozinha(o), lembrando-se da situação. E sopa quentinha e carinho quando estamos tristes ou doentes? Amizade, gratidão, solidariedade, reconhecimento e fé! Tudo intangível, mas esses sentimentos estão também (em destaque) na lista das “coisas melhores do mundo”. Colocaria também, os bichos, todos eles, e as crianças, é claro! Amam gratuitamente e não fazem distinção. Música, cantar alto quando se está feliz batucando no volante do carro. Ah, quer saber? Cantar de qualquer jeito, mesmo triste, é bom demais. E dançar, então?! Roupa de cama limpa, casa cheirosa, deitar quando estamos cansados, massagem, massagem nos pés! Meu Deus, como é bom! Um copo d´água fresca para matar a sede! E banho: tem coisa melhor do que tomar banho? Sexo! Eita! Sexo com amor então, nem se fala! E pão com manteiga e café com leite, broa de milho, pão de queijo! Tutu de feijão, torresmo, costelinha, frango com quiabo! Minas Gerais, ô trem bão, sô! Praia, calor, um mergulho, caminhar, correr. Sentar e só observar... Viajar! Viajar sem sair do lugar, conhecer gente nova, puxar assunto, ouvir! Assistir a um filme! Ler um bom livro, uma revistinha em quadrinhos e o jornal de domingo. Aprender alguma coisa, ensinar qualquer coisa a alguém. Multiplicar! E receber uma mensagem inesperada, um telefonema, uma visita?! Nada melhor. Ficar em casa sozinha(o), cuidar de si, arrumar o armário. Experimentar uma roupa nova e se sentir bem. Receber um elogio verdadeiro, agradecer e acreditar. Acreditar nas pessoas é bom demais! Brincar! Falar bobagem, contar piadas, histórias, causos! Rir de si mesmo, pensar positivo, desapegar! Deixar pra lá…, esquecer. Deixar ir embora e torcer para que sejam felizes. Superar perdas e reconhecer fraquezas. Como é bom! Fazer planos e não colocar a felicidade nas mãos de ninguém. Preocupar-se mais em “ser” do que em “ter”. Passar na frente de uma vitrine e pensar: “eu não preciso disso para ser feliz”. Isso é libertador! Ver os amigos se dando bem e não sentir inveja! Comemorar com eles! Apaixonar-se. E se desapaixonar (é bom também e, às vezes, necessário!). Ter alguém que se preocupe legitimamente com a gente. Cuidar do outro! Querer o bem de outrem mais do que o próprio bem. Filhos! Irmãos! Família! A lista não tem fim. Então por quê, em vez de ficar aí remoendo problemas e se queixando do que não tem, você não faz a sua listinha também? Ah! Se der, coma churros e ame! Churros são como o amor: só existem no singular nos dicionários e sempre valem a pena!

Laura Barreto Autora do site ociodooficio. com.br laubarreto11@hotmail.com

“Amizade, gratidão,

solidariedade, reconhecimento e fé! Tudo intangível, mas esses sentimentos estão também (em destaque) na lista das “coisas melhores do mundo. Colocaria também, os bichos, todos eles, e as crianças, é claro! Amam gratuitamente e não fazem distinção

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Bruno Cantini ASPRA/Divulgação

De malas prontas Atleticanos correm atrás dos cobiçados pacotes de viagem para o Mundial Interclubes no Marrocos. Marrakech, a cidade vermelha, deve ficar pequena para a massa André Martins Os primeiros dias que sucederam à maior conquista do Clube Atlético Mineiro foram atípicos para a maioria dos torcedores. A realidade parecia embalada em uma benfazeja aura de sonho. Era algo superior à maior felicidade experimentada pela torcida até então. Normal que fosse assim. Era difícil processar, mas o Atlético se sagrara campeão continental 42 anos após a conquista mais expressiva do clube: o Brasileiro de 71.

contra o Tijuana, no último lance da segunda partida das quartas de final? Como explicar a falta de intimidade do goleador argentino Casco com a bola, quando ficou cara a cara com o goleiro atleticano no início do segundo tempo da decisão contra o Newell’s Old Boys? E como explicar a queda de Ferreyra no segundo jogo da final contra o Olimpia, no Mineirão? Foram indícios ou foi a sorte que se vestiu de alvinegro?

As páginas escritas do dia 13 de fevereiro até a madrugada do dia 25 de julho de 2013 estão eternizadas na memória de cada atleticano. É impossível deixar morrer a história de uma campanha tão emocionante, com uma primeira fase quase perfeita e, depois, o andar cambaleante do Galo no segundo e decisivo momento da competição.

Em meio a tantas perguntas, há outras questões. Muitas outras. Se uma defesa, um gol ou um lance é capaz de definir uma partida e estabelecer marcos, quem foi o herói dessa conquista? O fazedor de proezas Victor, goleiro que fez a diferença em todas as partidas? O antes antipatizado por parte da torcida Guilherme, que marcou o segundo gol do Atlético nos momentos finais da partida contra o Newell’s, no Horto? E o goleador da Libertadores Jô, que, depois de estar apagado durante muitas partidas, decidiu reaparecer no último jogo? Há também o maestro e gênio Ronaldinho Gaúcho, com seus passes perfeitos e suas cobranças certeiras. Não seria ele o herói? E, por fim, o que

Olhando para trás, o mais lúcido ou o mais supersticioso torcedor atleticano talvez percebesse uma série de pequenos indícios dados por Deus ou pelo destino. Não há o que questionar: o Galo estava predestinado a ser campeão. Caso contrário, como explicar a defesa do pênalti no jogo 28 | www.voxobjetiva.com.br


podium

dizer do incansável, do grande arquiteto desse time, Alex Stival, o Cuca? São perguntas para as quais existem variadas combinações de respostas. Nas arquibancadas, um show à parte! Uma das torcidas mais fanáticas do Brasil não poupava os pulmões nem a garganta. Com o bordão “eu acredito”, os atleticanos deram mais uma prova de que são, sim, diferentes. Na final, os mais de 60 mil presentes no Mineirão mostraram o abismo que separa o “torcer” do “amar”. Sem ter certeza nenhuma, o torcedor atleticano lotou o estádio no jogo decisivo para acreditar, mais uma vez, e incentivar o time. O resultado foi revertido em cifras: a maior renda do futebol brasileiro em todos os tempos.

COM A CABEÇA PRA LÁ DE MARRAKECH A conquista da Libertadores deu ao Atlético o direito de disputar o Mundial de Clubes, que este ano acontece no Marrocos. A viagem vai acabar saindo mais barata. Mesmo com a disparada do dólar, os atleticanos vão gastar menos da metade do valor que os corintianos investiram para assistir ao Timão ser campeão do mundo no Japão, em 2012. André Martins

As agências de viagem em Minas Gerais já começaram a articular a “invasão atleticana” no Norte da África. A Vox Objetiva fez um orçamento com cinco empresas. O valor médio dos pacotes está em torno de R$ 7 mil. As diferenças de preço são reflexos das muitas possibilidades oferecidas. Muitos atleticanos já se garantiram no Marrocos, quatro meses antes de o Atlético “jogar a vida” no Mundial de Clubes. Wagner Cunha é um deles. O empresário de 61 anos presenciou de perto alguns dos momentos cruciais para a história do Galo. Por isso, não poderia ser diferente. Em 1971, aos 19 anos de idade, ele estava no Maracanã e comemorou a vitória magra do Atlético sobre o Botafogo por 1 a 0 – o suficiente para dar o título de primeiro campeão brasileiro ao Carijó. A euforia de 71 deu lugar ao sofrimento e à decepção em 1977 e 1999, contra São Paulo e Corinthians respectivamente. Naqueles anos, Wagner foi ao campo e voltou para casa cabisbaixo. Quando a decisão contra o Olimpia caminhou para os penais, ele confessa que preferiu não ver, principalmente ao constatar que as cobranças de pênalti seriam feitas no mesmo gol em que São Paulo e Galo decidiram o campeonato de 1977. “Quando eu vi que o juiz caminhou para aquele lado do campo, eu falei comigo: ‘Nossa Senhora! Não vai dar pra assistir não’”. Os olhos dele, e certamente de muitos outros atleticanos, só se abriram depois que Gimenez carimbou o travessão e que a torcida explodiu em gritos de “É campeão!”. Acompanhar o Galo sempre foi comum para Wagner. Mas as maiores loucuras feitas por ele até hoje – as várias viagens de ônibus, uma delas de 48 horas, de ida e volta, a Porto Alegre – não se comparam à do dia 15 de dezembro de 2013. Ele vai atravessar o Atlântico para ver o Galo jogar na aridez do Marrocos. “Eu vou sim. Estou, inclusive, sendo apertado por duas operadoras para fechar o pacote. Estou aguardando um pouco, pois mais pessoas vão comigo. Meu irmão, meu filho talvez vá e alguns amigos de São João del-Rei. Mas que vamos, vamos!”, garante.

Wagner está animado. No Marrocos, ele vai acompanhar mais um momento histórico para o clube do coração

Rodrigo Ferreira, de 33 anos, é outro que já se decidiu. A passagem foi comprada dois dias após a conquista do título, mas se dependesse da confiança dele, a compra teria sido concluída bem antes. | 29


André Martins

não, não vai fazer diferença. Eu acompanho o Atlético desde pequeno. Eu fui a jogos da 2ª divisão e da Libertadores. Já fui de geral e de cadeira cativa. Não faz diferença pra mim. O amor pelo time é incondicional. Eu vou ao Marrocos. Se ganhar, é consequência. Eu vou porque eu sou torcedor do Atlético e faço questão de marcar esse quadrinho. Com vitória, com derrota que seja, eu vou estar lá”.

Rodrigo promete apoiar o Galo, independentemente do que aconteça

Isso só não aconteceu porque, assim como Wagner, ele vai acompanhado de amigos. No dia 10 de dezembro, Rodrigo embarca para Madri, onde pretende alugar um carro e conhecer o Sul da Espanha, antes de viajar para Marrakech. A história de Rodrigo com o Galo é surpreendente. Nascido em berço celeste, aos 4 anos de idade, ele passou a ser levado pelo tio aos jogos do Galo. Foi paixão instantânea. “Quando ia ver o Cruzeiro jogar, lembro que era uma coisa fria. Você olhava e não tinha um calor. Eu tenho isso bem claro: as sensações. E nessa mesma época, o meu tio me levou para ver o Atlético. Eu me lembro daquela galera pulando catraca de ônibus, o estádio lotado, era uma outra onda,... Eu me lembro da torcida gritando o nome do Reinaldo, do coro ‘Rei, rei, rei. Reinaldo é nosso rei’. Isso mexeu comigo de um jeito muito forte. Eu tenho isso na memória. Não dá pra comparar. Isso entrou na minha veia de um jeito medonho. Parece uma coisa instantânea; você está abduzido”, detalha. E entrou mesmo. Rodrigo passou a acompanhar o Galo de perto, sendo fiel à uma única ideologia: sempre, independentemente de títulos ou de vitórias, incentivar o clube. Para ele, o amor pelo Atlético não está condicionado a resultados nem a conquistas. Por esse motivo, ele vai para o Mundial acompanhado da tradicional serenidade. “Essa questão do título do Mundial não é o motivo que está fazendo com que eu vá lá. Ganhando ou 30 | www.voxobjetiva.com.br

Quem também estará na cidade vermelha é Beatriz Souza Lima. A empolgação da advogada, de 34 anos, está estampada no rosto e pode ser percebida em seu sorriso fácil. Nem parece que se passou mais de um mês da conquista da Libertadores. Quem escuta Beatriz falar do Galo logo tem noção do grau de fanatismo dela. “Tem todo um ritual para ver os jogos. Tem que ser sentada no mesmo lugar, vestindo a mesma camisa e com a janela aberta pra escutar o grito da rua. Dá um incentivo a mais na hora da comemoração. São coisas que a gente coloca na cabeça e vai”, brinca. Beatriz faz parte de uma família de atleticanos que não medem esforços para acompanhar o Galo e blindar o time de votos de sorte e de muitas preces. Como num casamento, eles sempre estiveram ao lado do Atlético: na euforia e nos momentos delicados. “Em 2010, o Atlético quase foi rebaixado. Algumas pessoas da minha família fizeram a promessa de que, se o Galo se safasse, eles iriam a pé da sede de Lourdes até o CT do Galo, em Vespasiano. Eu não fiz a promessa, mas participei até a metade do caminho. Os que prometeram cumpriram. Foi num sábado à tarde. Demorou muito porque eles foram parando em todos os bares”, relembra. Se nas dificuldades, ela, o pai, a mãe e os irmãos sempre acompanharam o clube, não seria agora, na maior saga do Clube Atlético Mineiro, que eles deixariam de marcar presença. Todos estão arrumando as malas para torcer como nunca. Será a primeira vez da família no Marrocos - um país belíssimo e exótico. Apesar da cultura desconhecida, Beatriz revela que não está muito interessada em aprender palavras árabes. Ela quer mesmo é dominar algumas expressões em alemão. “É para comemorar contra o Bayern”, confessa sorrindo. A confiança é muito grande, mesmo o campeão europeu sendo o timaço que é. “É um time forte, mas a sensação que eu tenho é que, para o Bayern, esse é só mais um jogo; para o Galo, é o jogo da vida. E o Galo é um time raçudo. Vai ganhar!”, opina.


Artigo

Justiça

A grande mídia, os escândalos e as eleições Propagado pela imprensa brasileira como o maior escândalo de corrupção no Brasil, o chamado “mensalão do PT” mobilizou a grande mídia tupiniquim por meses numa cobertura frenética. Pautado ininterruptamente, esse julgamento inaugurou, inclusive, uma vertente nos posicionamentos sempre conservadores e elitistas do Supremo Tribunal Federal. Para condenar os acusados, o STF adaptou uma tradição do direito alemão: a chamada “teoria do domínio do fato”. Por incrível e mais paradoxal que pareça, a Folha de São Paulo, “o jornalão que virou tabloide” nos dizeres de Alberto Dines, publicou uma entrevista com Claus Roxin, teórico alemão dessa doutrina, implodindo a sua aplicação nas condenações da Ação Penal 470. O Brasil é terra de escândalos sucessivos – o mais recente sempre abafa o anterior. E o país parece ter esquecido o “pai dos mensalões”, que surgiu nestas Alterosas, ou mesmo as inúmeras denúncias que envolveram os processos de privatização no governo FHC. Naquela época, esses atos foram apontados por muitos como um dos maiores assaltos ao patrimônio público brasileiro. Nas gavetas de conspícuos membros de ministérios públicos (de Minas e da União) e nas liminares de doutos e imaculados juízes repousam tranquilos os processos que envolvem esses escândalos. Isso mostra categoricamente como nosso sistema judicial é isento e imparcial. Pensávamos que, depois das denúncias das privatizações e do mensalão mineiro, que envolvem o PSDB, e devido à reprimenda categórica aplicada pelo STF, no caso do mensalão do PT, teríamos um tempo novo em termos de probidade administrativa e cuidado com a coisa pública. Ledo engano! Duas edições da IstoÉ do final de julho trouxeram à tona o mais novo escândalo. Desta vez, a manobra é perpetrada pelas hostes tucanas paulistas. Ao analisar documentos da Siemens, empresa integrante de um cartel que drenou recursos do metrô e de trens de São Paulo, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Ministério Público concluíram que os cofres paulistas foram saqueados em pelo menos R$ 425 milhões. “O esquema montado por empresas da área de transporte sobre trilhos em São Paulo para vencer e lucrar com licitações públicas durante os sucessivos governos do PSDB, nos últimos 20 anos, contou com a participação de autoridades e de servidores públicos e abasteceu um propinoduto milionário que desviou dinheiro das obras para políticos tucanos. Toda a documentação, inclusive um relatório do que foi revelado pelo ex-funcionário da empresa alemã, está em poder do Cade para quem a Siemens – ré confessa por formação de cartel – vem denunciando, desde maio de 2012, as falcatruas no metrô e nos trens paulistas, em troca de imunidade civil e criminal”, traz a matéria da IstoÉ. Não obstante a gravidade das denúncias, os oligopólios midiáticos demoraram a repercutir os graves fatos. Depois da invenção do “caçador de marajás”, estaria a grande mídia brasileira articulando um novo golpe branco para 2014?

robson Sávio Reis de Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

Pensávamos que, depois das denúncias das privatizações e do mensalão mineiro, que envolvem o PSDB, e devido à reprimenda categórica aplicada pelo STF, no caso do mensalão do PT, teríamos um tempo novo em termos de probidade administrativa e cuidado com a coisa pública. Ledo engano!

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receita

Fonte: Rede Gourmet

Linguado em crosta de avelã, purê de batata, limão e cogumelos INGREDIENTES:

MODO DE PREPARO:

Crosta 100 g de manteiga sem sal; 200 g de avelãs moídas; 100 g de farinha de trigo; Alecrim bem picado; sal a gosto; Pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Junte os ingredientes da crosta, abra a mistura com um rolo no formato do linguado e leve ao congelador até ficar firme. Para o purê, cozinhe as batatas com sal e passe-as pela peneira com a manteiga. Leve a massa a uma panela aquecida, acrescente o creme de leite, desligue o fogo e junte as raspas e o suco do limão-siciliano. Ajuste o sal e reserve. Coloque o linguado temperado com o sal, a pimenta-do-reino e o vinho branco em papel-alumínio e leve ao forno com temperatura baixa e deixe por 20 minutos. Descarte o papel-alumínio e coloque sobre o peixe a crosta gelada. Leve de volta ao forno para gratinar. Limpe e fatie os cogumelos, tempere com sal e pimenta-do-reino e doure-os numa frigideira com azeite. Sirva o peixe sobre o purê de limão-siciliano e finalize colocando os cogumelos ao redor.

Purê de limão-siciliano 200 g de batatas cozidas com sal; 20 g de manteiga; 50 ml de creme de leite fresco; suco de um limão-siciliano; raspas do mesmo limão a gosto Há 13 anos servindo exclusividade e bom gosto.

Cogumelos Quatro a seis cogumelos de paris frescos; azeite e sal na hora; Pimenta-do-reino moída na hora Linguado 200 g de linguado; sal a gosto; Pimenta-do-reino moída na hora a gosto; 30 ml de vinho branco

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Artigo

Vinhos

A padronização do sabor do vinho Abrir uma garrafa de vinho e saborear o líquido ali presente é um hábito secular na cultura da humanidade. Muitas histórias, viagens e experiências foram contadas ao redor de uma garrafa de vinho. Momentos inesquecíveis foram eternizados ao longo de várias taças consumidas em grupo ou até mesmo individualmente. Uma das premissas do vinho, se não for a mais importante, é a de conhecer um novo sabor. A expectativa criada ao abrir uma garrafa pode ser comparada ao nascimento de um bebê. Depois de um longo período em espera, ficamos ansiosos para saber como será o momento do “grande encontro”. Durante o período de espera, procuramos ter um cuidado especial para que possamos garantir o sucesso do nosso “bebê”. E, como todo ser vivo, tudo dependerá do DNA e do ambiente em volta, desde a sua concepção, passando pela gestação, até chegar a hora do parto. Assim como em toda a família, alguns ensinamentos são passados de geração a geração, levando para o nosso bebê particularidades únicas. E são essas particularidades que fazem toda a diferença na hora de escolher o rótulo a ser degustado. Ao abrir um exemplar de vinho, criamos uma grande expectativa. Muitas vezes temos uma ideia do que iremos beber, mas a grande verdade é que só teremos certeza quando colocarmos o líquido na boca. Isso se deve ao fato de o vinho ser um ser vivo, com DNA próprio e cuidados especiais ao seu redor. Entretanto, existe uma tendência que preocupa os verdadeiros apreciadores dessa arte secular. Assim como qualquer produto, o vinho é explorado comercialmente no mundo inteiro. A relação comercial entre produtores e consumidores impulsiona uma grande quantia financeira. Muitos produtores, atentos ao lucro que podem obter com esse negócio, deixam de privilegiar a essência do vinho em detrimento da quantidade de exemplares que podem ser comercializados. Eles deixam de produzir um vinho de características peculiares para produzir um vinho padronizado que atenda ao paladar do maior número de pessoas possível. Essa é uma decisão mercadológica em que o cliente dita as regras do jogo. O lado “positivo” dessa tendência é o aumento de adeptos ao mundo do vinho. Em vez de pensarmos em uma “popularização” do vinho, devemos pensar que isso possa ser uma “democratização” dessa bebida. O que não podemos deixar acontecer, que acabaria se tornando algo “negativo”, é a padronização do sabor do vinho. Afinal, perderíamos todo o suspense e a surpresa ao abrir uma garrafa de vinho. E um dos encantos e do charme dessa bebida está justamente em toda essa atmosfera que nos envolve. Um brinde à identidade!

Danilo Schirmer Sommelier daniloschirmer@hotmail.com

“E são essas particula-

ridades que fazem toda a diferença na hora de escolher O rótulo a ser degustado. Ao abrir um exemplar de vinho, criamos uma grande expectativa. Muitas vezes temos uma ideia do que iremos beber, mas a grande verdade é que só teremos certeza quando colocarmos o líquido na boca

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Quando o sol resolve sair Brighton é a praia preferida dos londrinos. O espaço oferece bela arquitetura, boas opções de compras e uma eclética vida noturna Ilana Rehavia, de Brighton

Quando os termômetros resolvem passar da casa dos 20 graus, os londrinos partem em massa, em busca de uma boa praia. Nenhuma delas é mais querida do que Brighton. Para dar uma ideia, em julho devem ter passado cerca de 400 mil pessoas durante a mais recente onda de calor do Reino Unido. E essa “invasão” ocorreu em apenas um final de semana, segundo informam as autoridades da cidade. Os visitantes são da capital britânica e de outras cidades. Brighton é tão amada pelos londrinos que é conhecida como “London-by-the-sea” (Londres ao mar, em tradução livre). A apenas uma hora de trem do Centro de Londres, Brighton é um destino muito conveniente para viagens de última hora. Esse fator é essencial em regiões 34 | www.voxobjetiva.com.br

onde nunca se sabe como o clima vai se comportar. É o caso do imprevisível verão inglês. Mas a cidade litorânea oferece muito mais do que apenas conveniência. Brighton mistura arquitetura vitoriana, lojinhas charmosas e descoladas, uma vida noturna agitadíssima e ótima gastronomia. Quem vem atrás de boa comida, por exemplo, encontra cerca de 400 opções. São mais restaurantes per capita do que de qualquer cidade britânica, exceto Londres. Já para os cervejeiros de plantão, são mais de 300 pubs, vários deles servindo cervejas do tipo ale produzidas na região. “A chave do sucesso de Brighton é a localização. A cidade fica à beira-mar e perto do campo. Outra atração


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é a enorme variedade de lojas, restaurantes e de opções culturais. Uma visita não serve apenas para relaxar na praia”, diz Charlotte Barrow, gerente de marketing do site VisitBrighton.

Royal Pavillion & Museums, Brighton & Hove

PRAIA DIFERENTE Para quem está atrás de mar, porém, é importante explicar as diferenças entre Brighton (uma versão tipicamente inglesa) e o conceito brasileiro de praia. Para começar, Brighton é praia de pedrinhas, não de areia. O lugar venta bastante. Por isso, um dos acessórios essenciais de quem mora na cidade é um quebra-ventos colorido. É um artigo totalmente desconhecido no litoral do Brasil. Por fim, entrar no mar requer certa coragem. A água costuma ser gelada, mesmo nos dias mais quentes. Na hora de curtir o litoral, a melhor opção é seguir o exemplo dos nativos. Segundo Charlotte, o jeito mais tradicionalmente inglês de aproveitar um dia de sol é levar ou alugar uma cadeira de praia. Deitar na canga, como se faz no Brasil, fica desconfortável depois de certo tempo. Ela recomenda também tomar um sorvete de casquinha ou comer algodão-doce enquanto joga pedrinhas na água. “Alguns corajosos nadam no mar, mesmo na água sempre bem fria. Se você quiser nadar, o mar costuma estar mais quente em setembro”, diz ela.

HISTÓRIA Brighton começou sua história como uma modesta vila de pescadores. Antes do século XI, o local era chamado de Brighthelmstone. A vila passou por um período de declínio no início do século 18, por causa da queda na demanda dos consumidores por peixe e devido às tempestades que destruíram várias casas e estabelecimentos comerciais. A cidade começou a se recuperar no meio do século, quando médicos conceituados passaram a recomendar que seus pacientes se banhassem na água do mar da região com fins terapêuticos. Foi um membro da realeza, porém, que selou a fama da cidade como um destino agitado de férias. Em 1783, George IV, que depois se tornou o príncipe regente, passou a visitar a cidade regularmente. Foi ele quem construiu o suntuoso Royal Pavilion, hoje uma das atrações turísticas mais famosas da cidade. A residência era usada para extravagantes festas e banquetes e servia como refúgio para o príncipe e sua amante, Maria Anne Fitzherbert.

Durante muitos anos, o Royal Pavilion foi o refúgio da reazela britânica. Hoje a construção pertence à prefeitura de Brighton

Em 1841, a construção de uma ferrovia ligando Londres a Brighton permitiu que londrinos começassem a visitar a cidade para passar o dia ou um final de semana. Essa facilidade fez aumentar imensamente a popularidade de Brighton.

CIDADE FESTEIRA Desde então, a cidade continua a ter um quê de escândalo e audácia como na época em que o príncipe usava o balneário para suas escapadas ilícitas com a amante. Brighton é um dos destinos favoritos dos britânicos para as festas de despedida de solteiro e de solteira. A cidade costuma ter eventos muito bem planejados, com direito a trajes especiais (adereços em forma de pênis para a noiva estão entre os mais comuns) e muita bebida. Brighton também é conhecida como a capital GLS do Reino Unido. A parada do orgulho gay, realizada na cidade em agosto, é a maior do país. E há vários bares, boates e hotéis destinados especificamente para esse público. | 35


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“Os outros destinos à beira-mar no Reino Unido tendem a atrair um público mais específico, o que costuma criar uma atmosfera quase soporífera (monótona)”, diz Neil Blackmore, gerente de eventos e de mídia social do famoso Brighton Pier. “Enquanto Brighton e as áreas vizinhas, como Hove, também podem oferecer um clima tranquilo, as atrações vão muito além disso. Nos cinco anos em que estou morando aqui, nunca cheguei nem perto de ficar entediado.”

Divulgação

O QUE CONHECER EM BRIGHTON Confira abaixo algumas das atrações imperdíveis da cidade:

Royal Pavilion O Royal Pavilion é outra atração imperdível em Brighton. Construída entre 1787 e 1823 por George IV, a residência serviu como um resort de verão para ele, a amante e a alta sociedade da época. O Pavilion é exótico e extravagante da fachada ao interior, com elementos orientais, uma sala de banquetes deslumbrante e uma enorme cozinha. Depois da morte de George IV, o local caiu em desuso pela família real – a rainha Vitória achava a residência apertada e com pouca privacidade. O Royal Pavilion foi comprado pela cidade de Brighton em 1850 e restaurado com o uso de vários dos móveis e artefatos originais. (www.brighton-hove-rpml.org.uk/royalpavilion)

Brighton Pier O Brighton Pier é um dos passeios mais icônicos da cidade. O píer reúne um misto de atrações contemporâneas e tradicionais, montanhas-russas modernas e carrosséis antigos. Também há jogos, como pescaria e fliperama, e uma série de restaurantes. A refeição mais recomendada no píer é o tradicional fish & chips (peixe com fritas) servido pelo restaurante Palm Court. Inicialmente conhecido como Palace Pier, o Brighton Pier foi aberto em 1899. A construção do empreendimento custou 27 mil libras: valor recorde na época. O estabelecimento abre todos os dias (exceto no dia de Natal) e tem entrada gratuita. (www.brightonpier.co.uk)

The Lanes Conhecido como The Lanes, esse emaranhado de ruazinhas de comércio representa bem o espírito 36 | www.voxobjetiva.com.br

Além do parque Brighton Pier, a cidade oferece diversos locais para compras, refeições e uma efervecente noite embalada por variadas “batidas”

criativo e artístico de Brighton. A área manteve o traçado original de quando era o centro da vida pública no vilarejo de pescadores de Brighthelmstone. Atualmente abriga várias lojas e butiques independentes, vendendo de objetos de arte e decoração inusitados a roupas de bebê divertidas e peças “vintage”. Há também um famoso mercado de pulgas coberto, o Snoopers Paradise, localizado na área de North Laine, mais ao norte das Lanes originais. A North Laine tem um clima ainda mais descolado, com mais 300 lojas a serem exploradas. As Lanes também oferecem boas opções para comer e beber, com vários restaurantes, pubs e cafés. (www.northlaine.co.uk)

Praias – Brighton e Hove Quando a temperatura sobe, a praia é o destino favorito de quem vive em Brighton e de milhares de visitantes vindos de Londres e de outras cidades próximas. Vale deixar algumas dicas para quem vai pela primeira vez. As praias são de pedrinha. Então cadeiras e chinelos são artigos de primeira necessidade (você pode alugar cadeiras em algumas das praias). Isso, fora alguns quiosques no calçadão. Ninguém passa vendendo chá-mate, biscoito de polvilho, água e queijo coalho. Então os nativos levam suas cestas de piquenique abastecidas para passar o dia. O mar é gelado, mas sempre acaba atraindo as crianças e os mais corajosos. Para os nudistas, há um trecho localizado na ponta leste da praia principal. Já famílias e quem busca mais sossego devem visitar a vizinha Hove, com suas charmosas e coloridas cabanas ao longo do calçadão.

Noite Brighton tem uma vida noturna variada para agradar a todos os tipos de festeiros. Para quem quer bagunça, as boates


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que atraem as festas de despedida de solteiro são ideais, como a Oceana e o Bar 76 Club. Mas atenção: prepare-se para jovens muito alcoolizados, certa gritaria e muita paquera. Para música ao vivo, o Concorde 2 e o Komedia são boas pedidas. Quem curte cabaré e shows burlescos pode visitar o Proud Cabare Brighton, e os fãs de jazz devem seguir para o Latest Music Bar. Já as boates que ficam ao longo da beira da praia, nas proximidades do Brighton Pier, costumam tocar um misto de música eletrônica, pop e hip hop. O público GLS também tem várias opções na cidade, como os bares Charles Street e Legends e as boates Revenge e Envy.

Crianças Brighton é um ótimo destino para ser visitado com crianças. Entre as principais atrações que agradam aos pequenos, além do Brighton Pier, está o Sea Life - o mais antigo aquário em operação no mundo. O aquário abriga uma piscina onde é possível tocar em estrelas-do-mar e caranguejos e no novo “jardim de polvos”. (www.visitsealife.com/brighton) Outra boa opção é o Brighton Toy and Model Museum (Museu de Brinquedos e Maquetes de Brighton). O museu ocupa mais de 370 metros quadrados e reúne uma coleção impressionante de brinquedos antigos e trenzinhos que costumam encantar as crianças.

E falando em antigo, o Mechanical Memories Museum (Museu de Memórias Mecânicas) guarda cerca de 50 jogos de fliperama clássicos, que datam de entre o início dos século XX e a década de 60. O mais legal é que todos os jogos funcionam e estão disponíveis para brincar. O museu não abre todos os dias. Então vale checar antes da visita. (www.mechanicalmemoriesmuseum. co.uk)

Festivais Brighton é sede de vários festivais, incluindo o Brighton Festival - o maior festival de artes e entretenimento da Inglaterra, realizado em maio. Durante o festival também acontece o Brighton Fringe, com apresentações de comédia, teatro e cabaré. Também no mês de maio, o Artists Open House abre as portas das casas de artistas locais ao público. É uma ótima oportunidade para comprar obras de arte com preços acessíveis, direto da fonte. Em setembro é a vez do Brighton & Hove Food and Drink Festival (Festival de Comidas e Bebidas de Brighton & Hove) e da Brighton Art Fair, a feira de artes da cidade. O site Visit London tem uma lista completa dos festivais que acontecem ao longo do ano na cidade. (www.visitbrighton. com/culture/festivals)

www.visitbrighton.com

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Reprodução

O canto de Ossanha

Há três décadas, o Brasil dava adeus à sua mais completa expressão do samba, Clara Nunes. Ela teria completado 70 anos no dia 12 de agosto

Jáder Rezende

Mais que qualquer cantora brasileira, Clara Nunes foi a intérprete que elevou o samba a um patamar superior. A Guerreira, como era conhecida, cantou e encantou o Brasil em sua fugaz, mas marcante carreira. A voz única e os sorrisos sempre esbanjados sem nenhuma cerimônia eram marcas da grande intérprete mineira, que se foi nova demais, deixando o samba e a música brasileira com um vazio impreenchível. Se estivesse viva, a cantora estaria celebrando 70 anos. Na cidade natal, Caetanópolis, na Região Central do estado, o Memorial Clara Nunes será inaugurado ainda em 2013. A sambista Fabiana Cozza, grande admiradora de Clara, também prepara uma grande homenagem. O DVD “Canto Sagrado”, a ser lançado em breve, traz releituras de sambas cantados por Clara Nunes e um documentário que desvenda a mulher que se tornou um mito do samba. São esforços para que a voz da cantora continue rompendo a barreira do esquecimento e ecoando cada vez mais altissonante.

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kultur

As celebrações do legado de Clara Nunes ecoam país afora. Figuram nessa extensa agenda o relançamento de sua obra completa com raridades extras e a inauguração de um memorial em Caetanópolis, sua terra natal, vizinha de Sete Lagoas. Dois grandes motivos justificam tanto barulho: considerada ainda hoje a mais completa expressão do samba, ela partiu há 30 anos. Em 12 de agosto, a cantora teria completado 70 anos. “Clara tinha o sagrado em seu canto. Era um ritual sacro na voz e no corpo. O corpo tinha a expressão de sua brasilidade e de sua gente. Assim era a Guerreira, amada por tantos poetas, compositores e pelo seu público”, resume Fabiana Cozza, uma sambista de primeira que vai mantendo a tradição e há um ano segue pelo país com o show “Canto Sagrado – 70 anos de Clara Nunes”. Logo o trabalho será registrado em DVD e acompanhado de um documentário inédito sobre “a Tal Mineira”. Filha de Mané Serrador, violeiro e cantador de folia de reis, Clara Francisca Gonçalves de Araújo ficou órfã ainda criança. Aos 14 anos, começou a trabalhar como tecelã na Companhia de Tecidos Cedro & Cachoeira. Mudou-se para Belo Horizonte dois anos depois, no final da década de 50. Veio a convite dos irmãos para concluir o ensino médio. Estudava à noite e trabalhava de dia na Companhia Renascença Industrial, outra fábrica de tecidos. Nos finais de semana, Clara cantava no coral de uma igreja do bairro Renascença. Sonhando com um público maior que o da igreja, ela passou a cantar boleros em programas de rádio. Clara venceu a fase mineira de “A Voz de Ouro do ABC”, interpretando “Serenata do Adeus”, de Vinícius de Moraes. Em seguida, foi a São Paulo para a grande final, garantindo o terceiro lugar com “Só Adeus”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. A boa classificação no programa líder de audiência garantiu à Clara Nunes, em 1960, um convite para o casting da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte. Na emissora, ela cantou quase diariamente por um ano e meio. Paralelamente, a cantora se apresentava em bares e boates da capital e comandava um programa exclusivo na TV Itacolomi.

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Kultur

Fabiana Coza

cas que remetiam ao candomblé e às tradições afro-brasileiras. O estilo alterado radicalmente figurou na capa do elepê lançado em 1971 e que acompanhou a artista até o fim. Quatro anos depois, o marido Paulo César Pinheiro promoveu uma nova reviravolta. Ele tentava amenizar o rótulo de “sambista cantadora de macumba” que Clara ostentava. Então Pinheiro ampliou o repertório da cantora e consagrou Clara como uma grande diva da música brasileira. A morte de Clara Nunes foi cercada de mistérios, especulações, deixando o país boquiaberto. Oficialmente a causa foi um choque anafilático sofrido durante uma simples cirurgia de varizes, o que a deixou 28 dias agonizando, vindo a óbito em 2 de abril de 1983.

Fabiana Cozza, ao lado da irmã mais velha de Clara, Dindinha (esq.) e de dona Durvalina, que acompanhou Clara Nunes ao longo da vida

Antes de se consagrar como sambista, Clara Nunes flertou com o rock e a bossa-nova e atuou em filmes, como “Na onda do iê-iê-iê” (1966), de Aurélio Teixeira, ao lado Wanderléa, Paulo Sérgio, Rosemary, Wanderlei Cardoso, The Fevers e Renato e Seus Blue Caps. No ano seguinte, lá estava ela de volta às telonas. Foi convidada para atuar no filme “Carnaval Barra Limpa”, de J.B Tanko. O elenco era composto por outros grandes ídolos de Clara: Emilinha Borba, Dircinha Batista, Ângela Maria e Altemar Dutra. A última atuação veio no ano seguinte, no filme “Jovens Pra Frente”, de Alcino Diniz, estrelado por Jair Rodrigues, Rosemary e Oscarito.

RAINHA DO SAMBA Seguindo os conselhos do radialista carioca Ataulpho Alves, Clara Nunes desistiu de seguir no barquinho da bossa-nova e passou a interpretar sambas. A primeira biografia oficial da artista foi “Clara Nunes – Guerreirialista carioca”, lançada em 2007 pela Ediouro. A história vai se transformar em um documentário a ser exibido em outubro, no Canal Brasil. A grande virada na carreira de Clara foi estimulada no início da década de 70 pelo produtor e radialista Adelzon Alves, conforme revela o autor do documentário, Vagner Fernandes. Adelzon tinha um programa que executava somente composições de bons sambistas. A ordem era resgatar o visual e a sonoridade africana, segundo registra Fernandes. Então o mito se transfigurou numa mulher forte, com permanente nos cabelos tingidos de vermelho e um figurino extravagante - roupas bran40 | www.voxobjetiva.com.br

O Memorial Clara Nunes deve ser inaugurado neste ano, em Caetanópolis. O espaço vai reunir um acervo com 6 mil itens, que vão de documentos, roupas a bijuterias, já devidamente restaurado por especialistas da Universidade Federal de São João del-Rei. Em Caetanópolis, as homenagens à Guerreira foram iniciadas com um festival que leva o nome da cantora e ocorre há sete anos. Na segunda edição, a prefeitura local inaugurou o Instituto Cultural Clara Nunes, que funciona no antigo cinema da cidade. Foi o local onde a filha ilustre se apresentou pela primeira vez. O instituto é palco de oficinas de dança, música, pintura e teatro. A terra natal da filha de Ogum com Iansã também abriga o Instituto Clara Nunes, fundado em maio de 2005 por Maria Gonçalves, irmã da cantora. A instituição funciona no mesmo prédio da Creche Clara Nunes, onde também funciona a oficina e a loja Artesanato Ponto de Luz. No local, artesãs locais produzem tapetes cuja venda ajuda a manter a creche. A ideia da creche partiu da própria artista, que teria tido uma filha em Belo Horizonte ainda na adolescência. A criança teria sido entregue para adoção. Depois Clara tentou engravidar, mas sempre se deparou com grandes complicações que a levaram a internações. A existência de uma filha bastarda é negada com veemência por parentes e por quem conviveu com a artista, como o cantor Agnaldo Timóteo. Há cerca de dez anos, uma mulher reivindicou o reconhecimento da maternidade, pleiteando até mesmo a exumação do corpo de Clara Nunes, mas o viúvo da cantora, Paulo César Pinheiro, não consentiu.


Jáder Rezende

kultur

CLARA EM DISCOS E DVD Clara Nunes gravou 16 discos entre 1966 e 1982, a maioria (13) pela EMI-Odeon. Agora a gravadora relança a obra completa, incluindo raridades extraídas de compactos. Outra importante produção deste ano em homenagem a Clara Nunes será o lançamento do DVD “Canto Sagrado”, de Fabiana Cozza. O trabalho vai ser acompanhado de um documentário inédito so-

bre a mineira mais admirada do país, que revolucionou a MPB e abriu caminho para sambistas mulheres, como Alcione. A gravação do aclamado espetáculo ocorreu nos dias 2 e 3 de agosto, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. “A ideia surgiu de uma releitura que fiz de ‘Conto de Areia’ num show meu. Senti ali que poderia revisitar a obra de Clara sem correr o risco de imitá-la, já que eu tinha identidade o suficiente pra fazer a homenagem sem correr esse

Fernanda Grigolin

Fabiana Cozza pretende manter vivos a lembrança e o samba de Clara Nunes, dona de uma das vozes mais marcantes da música brasileira

risco, imprimindo ao espetáculo a minha digital”, diz Fabiana Cozza. A escolha do repertório foi uma tarefa árdua, porém prazerosa, segundo revela a sambista paulistana. “Foi difícil devido à qualidade e à grande variedade. Essa escolha se deu com a diretora do espetáculo, a atriz Olívia Araújo. Ela desenhou o roteiro comigo. Selecionamos canções em que eu pudesse criar uma assinatura pessoal, respeitando sempre a obra.

Por isso, o repertório tem também canções ‘lado B’”, diz a cantora. Fabiana conversou pessoalmente com parentes de Clara Nunes para a produção do documentário de cerca de 30 minutos a ser inserido no DVD. “O foco [do documentário] é falar da pessoa Clara Nunes mais do que da artista. Seus pensamentos, desejos, as andanças, os amigos,...”, adianta. A concepção e o argumento do documentário foram concebidos pela própria Fabiana Cozza, e a direção ficou a cargo de Léo Rudá. | 41


Kultur

Divulgação/ TrioqueChora

Jáder Rezende Jornalista da área de cultura jader.rezende@voxobjetiva.com.br

infomaré

as Cores do som em Setembro A fusão sofisticada do chorinho com bossa, samba, baião, forró, valsa e ciranda pode e deve ser conferida em setembro, no primeiro disco do Trio que Chora. O grupo é formado pelas instrumentistas Rosana Bergamasco, no violão sete cordas, Cássia Maria, percussão, e a flautista Marta Ozzetti, irmã de Ná e Dante Ozzetti. O trio traz repertório erudito-popular, peças de compositores tradicionais com arranjos próprios, músicas de compositores contemporâneos e canções resgatadas do imaginário. A diversidade rítmica é o grande diferencial desse delicado trabalho. E a mistura de elementos e sensações é latente até mesmo aos ouvidos menos sensíveis. Formado originalmente como quinteto, o grupo se transformou em trio por forças contratuais. Logo na primeira apresentação, as expectativas foram superadas. “A sonoridade da flauta, do violão sete cordas e dos vários instrumentos percussivos nos agradou muito. Pareceu-nos que compactuávamos; que havia uma concordância intrínseca com as ideias musicais de cada uma. Daí vislumbramos muitas possibilidades para criações musicais futuras”, diz Rosana. “Foi paixão instantânea entre nós, e começamos a tocar na mais perfeita sintonia musical e emocional. Bastavam olhares para que se abrissem perspectivas sonoras”, completa Cássia. “Assim foi com o CD: o repertório brotou da paixão pelas descobertas das composições. Foram muitas descobertas musicais que nos inspiraram para a criação dos arranjos coletivos. Inclusive descobrimos uma compositora de choro no Trio: Rosana Bergamasco, que até então não sabia desse seu valioso Divulgação potencial”, arremata Marta. 42 | www.voxobjetiva.com.br

A campanha de “crowdfunding” para o lançamento do disco 10 Coisas Que Eu Podia Dizer No Lugar De Eu Te Amo, de Kléber Albuquerque, foi um estrondo. Motivado pelo sucesso, o cantor e compositor paulista ataca com uma nova campanha no site Mobilize. Agora a produção é de um samba interativo da primeira gravadora coletiva e colaborativa da internet. Além de inventar a música brasileira, o artista convida o público para participar do clipe da campanha, enviando imagens ou no megapiquenique programado para um parque em São Paulo. “Há também essa possibilidade de comunicação direta e horizontal. Isso traz outras possibilidades de relação entre o artista e os interessados pelo trabalho dele. Uma das consequências é a possibilidade de a gente inventar diferentes formas de experimentar a música”, frisa o artista.

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kultur

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Paula Santoro e Guinga em memorável registro da homenagem que o compositor fez a Villa Lobos

Toque de reunir Dobradinhas com a fina flor da música brasileira têm sido uma constante na vida da cantora mineira Paula Santoro. Abençoada por Chico Buarque, a bela entra em estúdio com Wagner Tiso para gravar um disco com composições de Dori Caymmi e Edu Lobo. Os compositores completam 70 anos nos dias 26 e 29 de agosto, respectivamente. Paula será acompanhada por um duo de violoncelos, e Tiso assina os arranjos. Dia 8 passado, Santoro encerrou o Festival Conexão Rio ao lado de Marco Lobo e Rafael Vernet. Pouco antes, a cantora recebeu Mônica Salmaso e Antônio Loureiro no Sesc Consolação, em São Paulo. A casa recebeu o espetáculo de lançamento do mais recente disco de Paula, Mar do Meu Mundo. Em setembro, a cantora retorna à Europa para uma turnê que vai se estender até o Japão, onde o último CD de Paula foi recebido com entusiasmo pela crítica e bombou nas lojas. No dia 20 de agosto, ela esteve em BH para apresentação única no Sesc Palladium, na terceira edição do Projeto Compositores.BR. O show homenageou Maysa e Dolores Duran. Paula dividiu o palco com Nana Caymmi e Maria Bragança. Antes da ida à Europa, Paula programou uma participação no lançamento do CD de Lô Borges, marcado para os dias 27 e 28 de agosto, no Sesc Ginástico, no Rio. Reprodução

DISCOTECA BÁSICA para reviver um grande amor O filme não é lá essas coisas, mas sua trilha sonora é um grande marco. Lançada ainda em vinil há 30 anos pela Sony Music, com pérolas de Tom Jobim, Chico Buarque e Carlos Lyra, a trilha de “Para Viver Um Grande Amor” traz 11 faixas de puro e doce deleite. A trilha do filme homônimo de Miguel Faria Júnior, estrelado por Patrícia Pilar e Djavan, inclui faixas gravadas por Olivia Byington, Elba Ramalho, Zezé Motta, Dori Caymmi, Sérgio Ricardo e pelo próprio Djavan. Fazem parte dessa trilha os hits Sabe Você?, A Violeira e Samba do Grande Amor.

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terra brasilis

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Capital Inicial

Erasmo Carlos

Lulu Santos

Em apresentação única, a banda brasiliense atualmente mais badalada do Brasil sobe no palco do Chevrolet Hall. A apresentação é para o lançamento de “Saturno” - novo trabalho da banda, repleto de músicas inéditas. O álbum é o 16º das quase três décadas de carreira do Capital Inicial. O trabalho resgata a origem punk do grupo com um som mais pesado e letras engajadas. “Saturno” tem um toque nostálgico: faz lembrar o que movia os jovens na década de 80. Mas quem for ao show vai conferir grandes sucessos da banda que embalaram e agitaram os fãs nesses quase 30 anos. Os ingressos estão à venda pelo site ticketsforfun.com.br

O Tremendão está celebrando 50 anos de carreira. Para comemorar esse número tão emblemático, Erasmo Carlos percorre o Brasil com o novo show “Sexo & Rock’N’Roll. A apresentação faz um passeio por toda a carreira do cantor. É uma boa oportunidade para relembrar hits com uma das vozes mais importantes da história da música brasileira. Sucessos, como “Sentado à Beira do Caminho”, “Minha Fama de Mau” e “Mulher” estão no setlist do show. O artista vai aproveitar o ensejo para apresentar oficialmente algumas canções ao público belo-horizontino, como “Kamasutra” e “Apaixonado Anônimo”. O preço dos ingressos varia de R$ 70 a R$ 180.

Quase um ano distante de Belo Horizonte, Lulu Santos volta à capital mineira para a única apresentação do show “Toca Lulu”. O cantor volta a portar guitarra plugada, amplificada e, às vezes, distorcida para levar os fãs ao delírio. No repertório, clássicos como “Tudo Azul”, “Já É!”, “Tempos modernos”, “A Cura”, “Sábado à Noite”, “Toda forma de Amor”, “Adivinha o quê?”, “Apenas mais uma de amor”, “Como uma Onda” e “Último romântico”. O cantor também promete cantar músicas que não tiveram tanto destaque ao longo da carreira, mas são igualmente importantes. Os ingressos estão à venda pelo site ticketsforfun.com. br e variam de R$ 65 a R$ 180

Chevrolet Hall 31 de agosto Informações: chevrolethallbh.com.br

Palácio das Artes 14 de setembro Informações: fcs.mg.gov.br

Chevrolet Hall 21 de setembro Informações: chevrolethallbh.com.br


Artigo

Meteorologia

A geografia da energia Na primeira semana de agosto estive participando da 9ª Conferência Internacional da Geografia da Energia, realizada na República Checa. Foi uma semana de intensa atividade. Eu aprendi muito e percebi a diversidade de países que estão investindo fortemente em energias alternativas: geração de energia utilizando os ventos, a luz solar e os diferentes tipos de biomassas. Desde a revolução industrial, o consumo de energia passou a ser sinal de desenvolvimento. Os principais insumos utilizados para a geração de energia são carvão vegetal, carvão mineral, gás, água, urânio, vento e etanol. Em 2012, o tsunami ocorrido no Japão causou também o desastre na usina nuclear de Fukushima. Depois desse evento, alguns países europeus decidiram desligar suas usinas e aumentar os investimentos em energias alternativas. No Brasil, a energia hidrelétrica predominou até a década de 90. Entretanto, depois do racionamento de 2001, usinas de geração utilizando o petróleo foram construídas em diferentes estados. Na última década, cresceu muito a utilização do bagaço de cana na geração de energia. Mas, assim como os países europeus, o Brasil precisa investir mais, não apenas visando o meio ambiente, mas a geração de energias por meio de resíduos sólidos. A utilização dos ventos para a geração de energia está mais presente no Nordeste do país. Minas Gerais e alguns estados da Região Sul também apresentam alto potencial nessa modalidade. A energia solar é bem pouco utilizada por aqui devido ao custo da geração. O que se espera é um investimento em tecnologia para baratear os custos de implantação e geração. Mesmo com o descobrimento do pré-sal, entre 2020 e 2030, os cenários para a geografia da energia no Brasil aponta para um aumento significativo das fontes alternativas.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

Em 2012, o tsunami ocorrido no Japão causou também o desastre na usina nuclear de Fukushima. Depois desse evento, alguns países europeus decidiram desligar suas usinas e aumentar os investimentos em energias alternativas

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Artigo

Imobiliário

Condomínio tem como combater a violência

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixamobiliaria.com.br

“É fundamental que o

condomínio tenha uma convenção atualizada. O documento deve permitir ao síndico a aplicação da punição imediata A quem não respeita as regras de convivência

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Recentemente vimos manchetes dos jornais que noticiaram um homicídio ocorrido num condomínio. O incidente poderia ter sido evitado. Bastaria que as pessoas prejudicadas tivessem tomado providências previamente. A lei oferece mecanismos que garantem a convivência pacífica. A ninguém é dado o direito de perturbar o vizinho com barulho, falta de educação ou desrespeito, especialmente no lar: local de sossego e descanso. Um empresário do setor de metalurgia matou um casal de vizinhos a tiros. O barulho do andar de cima fez o autor invadir o apartamento do executivo de multinacional e da dentista e cometer a barbárie. Mas o fato não deveria mais causar espanto. Casos semelhantes ocorreram dezenas de vezes em nosso país. Realmente o brasileiro tem memória muito curta. E lamentavelmente pensa que isso nunca vai acontecer com ele. Problemas semelhantes que causam raiva, angústia, nervosismo, úlcera e dor de cabeça simplesmente são transferidos para o síndico, que não sabe o que fazer. Portanto, novas tragédias estão em construção em dezenas de prédios. A situação é fruto da inércia e até da atitude mesquinha e irracional de não entrar com uma ação na justiça. Um processo judicial poderia inibir atos antissociais de pessoas mal-educadas e desequilibradas. Em locais simples ou em condomínios de alto padrão há pessoas individualistas e agressivas que deveriam residir numa selva. No Alphaville ocorreram três mortes no dia 23 de maio. E o condomínio fica em Santana de Parnaíba - bairro nobre de Osasco, na Grande São Paulo. É fundamental as pessoas perceberem que não podem fazer o que bem entendem no convívio em condomínio. Elas têm de compartilhar espaços comuns (garagem, áreas de lazer, etc.). Isso impõe respeito ao direito do próximo. Todos têm direito ao sossego 24 horas por dia. Mas algumas pessoas ignoram isso. Não há lei que autorize atividade laboral e pessoa produzir ruídos que ultrapassem sua unidade privativa. Nada justifica a fúria que tomou conta do empresário que matou o casal. E ele se arrependeu e suicidou. O fato demonstra que qualquer um pode passar por momentos semelhantes de falta de controle. A violência tem sido estimulada a todo momento em games, na televisão, com filmes, noticiários e até desenhos que mostram crimes como se fossem normais. As pessoas sofrem com a falta de educação de vizinhos. Quem se sente prejudicado deve tomar as medidas judiciais adequadas e não ficar esperando que um milagre aconteça. É fundamental que o condomínio tenha uma convenção atualizada. O documento deve permitir ao síndico a aplicação da punição imediata a quem não respeita as regras de convivência. O amadorismo na condução dessas situações estimula as agressões físicas e morais. É preciso contratar um profissional capaz de enfrentar pessoas que ignoram que paciência tem limite. Quando essa medida não é tomada, a situação pode chegar a ponto de as pessoas sensatas optarem por se mudar do prédio.


Crítica

Reprodução

Teus problemas, tuas glórias André Martins e Paulo Filho Feito de forma artesanal, como uma ação entre amigos, o filme “Família”, de Guilherme Reis, tem o condão de transformar o difícil no fácil, o problema na solução e, o mais importante: a lamúria de não fazer nada por falta de recursos em um trabalho vigoroso. Obviamente o primeiro longa-metragem assinado por Reis é despido de grandes caprichos estéticos devido à falta de apoio financeiro. O pouco tratamento sonoplástico e a iluminação modesta são provas disso. O filme foi feito na “raça”, com gastos de finalização – dentre os poucos – bancados pelo próprio diretor. O filme circunscreve a história de uma tradicional família mineira residente na capital do estado. Dona Augusta Alegre é uma senhora idosa e viúva que levanta cedo, faz a feira e conduz, a duras penas, um carrinho de compras de volta para casa. As mãos trêmulas e fracas impossibilitam que o almoço seja concluído rapidamente. Por esse motivo, os preparativos começam bem cedo. Com paciência

e amor de mãe, ela rala os legumes da salada, amacia a carne com um martelo e abafa o arroz com uma tampa de ferro pesada. Na mesa há sempre mais pratos que o necessário. Dona Augusta sobrevive da aposentadoria e do aluguel de um imóvel. Se não fossem os sonhos que ela devora escondida de todos, a glicose estaria controlada. Mas, no geral, a saúde está em dia. À noite, a senhorinha liga para os filhos, Malton, o primogênito, casado, pai de duas meninas e síndico de um condomínio, e Jhonata, o filho do meio, estudante de sociologia da UFMG, anfitrião de festas regadas a cerveja e marijuana que vislumbra viajar para um congresso no Equador. A maior distração de Dona Augusta é a novela “Direito de Amar”, acompanhada com muito interesse também pela filha caçula, Doroti - uma pretensa designer de moda insegura, um pouco afetada e que vampiriza a mãe sem ao menos se dar conta. “Família” não teve um grande roteiro, mas um argumento que serviu como fio condutor para os atores. Os diálogos, não amordaçados a um script, fluem facilmente, pois contam com o talento e a capacidade de improvisação dos atores. A obra não tem reveses nem solavancos. A narrativa é simples, assim como foi pensada e traçada para ser: acompanha os personagens de uma família e acontecimentos cotidianos, triviais. Às vezes, de tão descompromissada, a câmera de Reis abandona a casa e vai para a rua registrar uma conversa informal entre dois amigos, personagens secundários, sentados numa calçada. A despeito da falta de protocolos, é importante ressaltar a forma como o diretor trabalha a identidade mineira que está impressa em quase tudo: nas conversas, nos hábitos e até mesmo nos elementos que compõem as locações. Minas está no jeito cantado de falar, na figura da mãe que funciona como elo familiar e no porcelanato que adorna as paredes. A obra conta com a presença de atores conhecidos no meio do cinema mineiro e independente. A maioria deles foi convidada e se voluntariou para participar do projeto. No meio de bons atores e boas atuações, merece registro e destaque o trabalho de Gisele Werneck na construção e representação da filha/irmã abobada. Ninguém pode, impunemente, fazer tão bem o papel de uma pessoa tão sonsa e lesada. Se sua atuação em “Família” não lhe render prêmios, que pelo menos lhe abra as portas para outros filmes, peças e voos mais altos nas artes cênicas. De cara, o filme mostra que, se não há uma grande história, dessas de estúdios de Hollywood, há a “daqui de casa”, do quarteirão. Se não existe um roteiro pronto e acabado, existe o improviso e a disposição. Se não dá para contar com os estúdios e os sets profissionais, a cidade serve como locação, e um bando de amigos — atores, produtores, figurinistas e figurantes — se colocam como uma trupe disposta a fazer e acontecer. | 47


BHZ

otium

Roteiro do sabor Vecchio Sogno Culinária contemporânea Liderado pelo Chef Ivo Faria desde 1995, o Ristorante Vecchio Sogno oferece ambiente sofisticado e cardápio inovador. Premiado, o Vecchio Sogno é unanimidade entre os amantes da culinária e apreciadores do bom vinho. A casa conta, também, com um salão privé que pode ser reservado para almoço de negócios, eventos empresariais, jantares e confraternizações familiares. Rua Martim de Carvalho, 75 - Santo Agostinho | Telefone: 3292 5251

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O Eddie Fine Burgers é uma hamburgueria prime que não usa conservantes. A casa trabalha com carne de primeira qualidade, e os pães, sorvetes e as sobremesas são preparados artesanalmente, com ingredientes selecionados. Tudo é feito em nossa casa, com os mesmos cuidados da sua.

Autêntica pizza napolitana de fina espessura, várias opções de entrada, saladas, massas e risotos, além de uma bela carta de vinhos, whiskys e coquetéis. São cinco ambientes diferenciados, música-ambiente e, em dias específicos, apresentações de renomados DJs.

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Rua Marília de Dirceu, 189 - Lourdes Telefone: (31) 3275-2027


otium

Ah! Bon

Parada do cardoso

Culinária contemporânea

Pizzaria

Inspirado nas pâtisseries e rotisseries francesas, o Ah! Bon é o lugar perfeito para desfrutar desde um bom chá da tarde até o melhor da alta-gastronomia. Da cozinha do Chef Leo Mendes saem delícias que buscam fundir elementos inspirados na cozinha italiana com toques da cozinha contemporânea.

Inaugurada em 1997, em homenagem a uma pequena estação de trem, a casa tem um ar cultural e apoia as iniciativas artísticas, unificando o mix proposto pela pizzaria de aliar gastronomia e cultura. Para curtir os dias de forma bem saborosa, a Estação é a Parada do Cardoso.

Endereço: Rua Fernandes Tourinho, 801 - Lourdes Telefone: (31) 3281-6260

Endereço: Rua Dores do Indaiá, 409 - Santa Tereza Belo Horizonte/MG | Telefone: (31) 3468 0525

Circus rock bar Casa noturna O Circus Rock Bar foi inspirado no filme “The Rolling Stones Rock and Roll Circus”, de 1968. Dois andares de puro rock and roll! Dois shows na noite, VJ, sinuca, sushi bar e espaço lounge. Circus Rock Bar, o picadeiro do rock! Endereço: Rua Gonçalves Dias, 2010 - Lourdes - Belo Horizonte/MG Telefone: (31) 3275-4344

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CRÔNICA

Crônica

O que tem na próxima esquina?

Joanita Gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com

“Dez minutos depois, tem-

po em que me distraí com um grupo que fazia coreografias ao som dos anos 80, o homem e a mulher já estavam se atracando num beijo cinematográfico. Não tenho informações suficientes pra saber se eles se conheciam, se eram ex-namorados se reconciliando ou se, pelo menos, sabiam os nomes um do outro. Mas, de qualquer forma, achei tudo rápido demais

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Faltava-me energia pra ir àquela festa, mas o buraco negro aberto no meu peito não ia me paralisar. Enxuguei as lágrimas, lavei o rosto, escolhi o vestido que esperava ansioso pra deixar o armário, chamei o táxi,... O grupo de amigos, entre os quais eu conhecia apenas dois, estava na porta da casa de shows. Pelo andar cambaleante de alguns, o olhar caído de outros e as sonoras gargalhadas da maioria, eles estavam alguns drinques à minha frente. Implantei um sorriso, respirei fundo e tentei “entrar no clima”, embora meu coração me pedisse que eu nem entrasse na boate. Escolhi um canto da pista onde pudesse dançar sem que ninguém me incomodasse e observar – meu passatempo predileto. Faço isso na rua, no ônibus, no restaurante,... Confesso que minha curiosidade me faz até buscar posições mais propícias para ouvir a conversa alheia. Nesse caso, por causa da música alta, teria que me ater às atitudes ou à falta delas pra fazer minha “viagem” pelo universo particular e nem tão privado das pessoas. Dois homens, com idade entre 40 e 50 anos, conversavam do outro lado. Pelos gestos, um deles estava “de olho” em uma mulher que dançava empolgada. Dez minutos depois, tempo em que me distraí com um grupo que fazia coreografias ao som dos anos 80, o homem e a mulher já estavam se atracando num beijo cinematográfico. Não tenho informações suficientes pra saber se eles se conheciam, se eram ex-namorados se reconciliando ou se, pelo menos, sabiam os nomes um do outro. Mas, de qualquer forma, achei tudo rápido demais. Na frente do palco, cinco mulheres com microvestidos (adoro os curtos, mas abomino a falta de bom senso!) dançavam fazendo caras, bocas e movimentos em direção aos integrantes da banda. Imagino que a ideia era parecer sensual, mas gostaria de ser amiga delas para revelar que a estratégia não estava funcionando. Pode parecer caretice, bisbilhotice, chatice e outras “ices” minhas, mas não! Também já dei uns “amassos” em quem conhecia havia menos de 30 segundos e ainda danço até o chão. Basta eu misturar tequila com outra bebida alcoólica. Não tenho a pretensão de julgar, mas o que percebi naquela noite - e quase pude tatear - foi uma solidão generalizada combinada a uma busca insana por emoção. E não é preciso sair para a balada para constatar que esses sintomas são tão comuns entre homens e mulheres que deveriam gerar um alerta das autoridades de saúde. Por que tantos relacionamentos fugazes? Por que esperamos sempre pela nova conquista, pelo frio na barriga, por outras bocas, outros braços, outros corpos? Por que queremos sempre o que não temos? Por que a novidade que nos satisfaz parece estar sempre na próxima esquina e não ao nosso lado, caminhando os mesmos passos? Essa não é uma crônica de respostas, mas de perguntas. Afinal, como disse no início do texto: “Eu também tenho um buraco negro dentro do peito”. Por quê?


“Com novas e modernas UPAs, vamos melhorar a qualidade do atendimento de urgência e emergência.”

QUALIDADE NOS CENTROS DE SAÚDE A Prefeitura de Belo Horizonte está transformando antigas unidades em verdadeiras clínicas. Das unidades existentes, 36 foram reformadas ou reconstruídas. Outros 106 novos centros de saúde serão construídos, sendo 80 para substituir antigos e 26 para ampliar a rede. Assim, todos os centros de saúde da Prefeitura terão o mesmo padrão de qualidade.

UPAs A Prefeitura está ampliando a rede para 11 UPAs, com a construção de 7 novas unidades. Cada uma delas com estrutura completa para atender cerca de 300 pacientes por dia. 4 já estão em obras.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE A Prefeitura retomou a política de concursos públicos para ampliar o número de profissionais de saúde. Nos últimos 12 meses foram 2.400 contratações.

LEITOS HOSPITALARES A Prefeitura reabriu vários hospitais e criou 915 novos leitos. Também está aumentando a capacidade do Odilon Behrens para 600 leitos. E no ano que vem entra em funcionamento mais um grande hospital.

OS NÚMEROS DA SAÚDE EM BH

Os centros de saúde de BH realizam mais de 2,5 milhões de consultas médicas por ano. BH tem hoje 59 Academias da Cidade, que atendem mais de 23 mil pessoas. São cerca de 416 mil consultas odontológicas e mais de 100 mil tratamentos por ano. Mais de 29 mil cirurgias eletivas realizadas em 2012. O Programa Saúde na Escola atende em média 100 mil alunos/ano nas escolas da Prefeitura. Mais de 580 mil atendimentos por ano nas UPAs. 96% dos casos são resolvidos nas próprias UPAs, sem encaminhamento para hospitais. pbh.gov.br

É A PREFEITURA TRATANDO A SAÚDE DE MANEIRA INTEGRADA PARA CUIDAR MELHOR DE VOCÊ.

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