Vibrações

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Sinta o toque das notas Pocket Vibrações é uma edição especial de divulgação do projeto social Som da Banda, mantido pela Associação Cultural de Música Branca da Mota Fernandes (ACBMF), distribuido gratuitamente para Maringá e região. É produzido por acadêmicos do 3º ano de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar) para disciplina de Jornalismo Impresso.

Repórteres Angélica Nogaroto, Bruna Gabriel, Daiana Verdério e Rafael Donadio.

Imagens Angélica Nogaroto e Daiana Verdério

Edição

O aprendizado musical pode se tornar, além de ferramenta educacional, um grande recurso de desenvolvimento da consciência social e sensorial. “Vibrações” foi desenvolvido com a intenção de apresentar à população maringaense e região o trabalho do Projeto Som da Banda, uma organização não governamental que ensina crianças e jovens instrumentos musicais e expressão corporal de graça. As histórias da instituição, de alunos e professores são contadas por estudantes de 3º ano de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar), que, como plateia, acompanharam o trabalho do projeto durante três meses e, aqui, tentam traduzir em palavras aquilo que eles sentem por meio das vibrações.

Angélica Nogaroto e Rafael Donadio

Diagramação Angélica Nogaroto

Informações

SUMÁRIO

SOM DA BANDA

Foto da capa Belathi Fotografia

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Novembro 2016

Regente

Coordenador Geral GrazianiMoraes Fone: (44)9953-0722 E-mail: grazianimoraes@gmail.com

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Presidente Marcos Rodrigo de Oliveira Fone: (44)9101-2357 E-mail: marcos@acbmf.org

Melodia

Rua Guatelama, 346. Vila Morangueira, Maringá - PR Fone: (44) 3028-3800 http://www.acbmf.org/


Plateia

Ressonância

Dó maior

Ao vento

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Consonância

Cadência

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Edição Especial

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MELODIA

Vibrações na Cidade Canção

Crianças e jovens de Maringá aprendem, com a música, a compor o próprio futuro Enquanto muitas pessoas veem o futuro como algo abstrato e distante, crianças e jovens maringaenses podem tocá-lo por meio das vibrações das notas, pois como diria o novelista Victor Hugo, “a música é o verbo para o futuro”. A Associação Cultural Banda de Música Branca da Mota Fernandes (ACBMF) nasceu em 1999 como uma modesta ideia de amigos em reativar a banda colegial que existia no Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes, com ajuda da iniciativa privada e governamental. Com o folhear das partituras, continuaram almejando novos e maiores objetivos para uma comunidade carente de melodias, ampliando saberes de educação, cidadania e respeito, criando nos alunos anseio de se tornarem músicos por pro-

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fissão. Em 2003, a associação ganhou um novo ritmo: o Projeto Som da Banda. Entre os instrumentos de sopro e percussão há também as aulas de dança, compondo uma ressonância de quase 250 alunos. “Atualmente vemos que os jovens têm grande dificuldade de relacionamento interpessoal, e o projeto traz intrinsicamente a necessidade desses jovens interagirem”, disse Marcos Rodrigo de Oliveira, presidente do projeto. O Som da Banda trabalha na harmonia das vertentes: social, educacional e cultural. “O objetivo é dar uma atividade gratuita que, pelo alto valor, crianças de classes menos favorecidas não conseguiriam ter. Buscamos como resultado desse trabalho a formação artística de músicos e dançarinos”, afirma o professor, maes-


tro e coordenador geral da associação, Graziani Moraes. O projeto é sonorizado no Colégio Estadual João de Faria Pioli, na Vila Morangueira, zona norte da cidade; no Instituto de Educação Estadual de Maringá, Centro; e em parceria com o Programa Florescer, na empresa de transportes G10, na PR 317, saída para Astorga. Não há custo financeiro para frequentar as aulas e ensaios. Os instrumentos e uniformes são oferecidos pelo projeto. Os músicos principiantes ainda têm direito ao transporte coletivo estudantil gratuito. Para que haja ritmo, a única exigência é que o aluno tenha participação efetiva de frequência e boas notas na escola, e que demostre comprometimento e assiduidade com o projeto.

O objetivo é dar uma atividade gratuita que, pelo alto valor, crianças de classe menos favorecida não conseguiriam ter

Edição Especial

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NO TOM

A Perseverança Alice Bacaneli Penques, 16. Bombardino Foi em um dia comum de treino de vôlei que o som musical dos instrumentos do Projeto Som da Banda fez com que os ouvidos de Alice Bacaneli Penques se aguçassem à curiosidade. Ao ver um grupo reunido com vários equipamentos, de diferentes tamanhos, os olhos brilharam e o desejo em participar despertou. “Quando vi aquele grupo, com todos aqueles instrumentos nas mãos, era como se estivesse vendo uma Barbie gigantesca”. Bombardino, mais conhecido como eufônio, é o instrumento que Alice mais se encantou e manuseia até hoje. “Para quem escuta pela primeira vez, o som pode até parecer estranho, mas é engraçado, porque é agudo e faz o grave ao mesmo tempo.” Diferente do trompete, o eufônio é um instrumento grave e crônico, que faz parte da família da tuba. Na formação da banda, fica ao lado dos trombones e na frente das tubas. Uma sincronização. Assim como fazer parte de um time de voleibol, Alice também assumiu o compromisso em ser integrante do projeto com 11 anos de idade, talvez um pouco imatura, mas firme nas escolhas. A decisão firmou-se na primeira apresentação oficial. “Lá, a certeza que era aquilo que gostaria de fazer no futuro veio à tona. Quando coloquei meus pés na quadra esportiva, a ficha de que estava em uma banda ainda não havia caído. Hoje é um sonho que se realiza a cada dia.”

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Alguns dizem que música não dá dinheiro nem carreira, e com a mãe de Alice não foi diferente. “Logo que iniciei no projeto ela sempre dizia que não iria dar em nada, mas depois do primeiro concerto a história mudou. Minha mãe começou a me incentivar mais, até que no segundo ano de banda ela já me imaginava em grandes orquestras, fazendo horrores pelos teatros do Brasil.” Com o incentivo de casa, a motivação do maestro e professor Graziani Moraese e a inspiração de um dos grandes maestros da cidade, Davi Oliveira, é difícil dizer que Alice pretende parar tão cedo. São quatro anos de dedicação em ensaios e apresentações do grupo, o que parece ser pouco do que ela sonha para o futuro. “O projeto é oportunidade e aprendizado. Não me vejo sem a banda e nem quero imaginar como faria sem o projeto. Meu objetivo é ajudar quem entra e me capacitar para passar essa experiência vivida para os futuros integrantes.”

Quando vi aquele grupo com todos aqueles instrumentos nas mãos, era como se estivesse vendo uma Barbie gigantesca


O Compromisso Jhonatan Lucio Viana, 25. Tuba Talvez a maioria de nós não se dê conta disso ou não leve tão a sério, mas o fato é que nós nascemos com uma espécie de “carma familiar”. Mas isso não tem nada a ver com magia ou algo negativo. Muito pelo contrário. É uma possibilidade de comportamento de determinadas pessoas de uma família, que costuma se repetir ao longo das gerações. É o que ocorreu com o Jhonatan Lucio Viana. Quando pequeno embarcou nas cordas de um violão e hoje passa horas ensaiando com um instrumento de sopro indispensável na orquestra sinfônica, a tuba. “Gosto bastante de fazer parte desse mundo, pois minha família é composta por vários músicos, e acredito ser por isso que me engajei nessa cultura. Hoje faço faculdade de música justamente por isso”, afirma. Assim como a tuba, existem diversos tipos de instrumentos de sopro, entre eles estão o trompete, saxofone, flautas, trombones entre outros. Em todos eles o músico busca encontrar uma forma precisa para que o ar seja direcionado para dentro deste instrumento, permitindo que este ar seja transformado em notas, o que parece não ser muito fácil. “Como a tuba tem as partes graves, o som é mais cheio e maior. E como é um instrumento enorme, necessita de bom fôlego e bastante ar”, explica. Foi em uma das apresentações do Projeto Som da Banda, realizada em um shopping da cidade, que as notas

contagiaram o coração de Jhonatan. Ali, o início de um afeto maior com a música. “Me apaixonei pelo grupo desde a primeira vez que os vi tocando naquela apresentação.” Com 100% de apoio em casa, a motivação, dia após dia, não tem fim, e isso ocorre desde o primeiro ‘sim’ de Jhonatan, há exatos nove anos. “Todos em casa me apoiam, porque a música é minha vida, é o que gosto e o que quero. Enquanto der para estar aqui, estarei”. Em meio a rotina acadêmica, ensaios, aulas para as crianças e apresentações, gratidão é a palavra que registra a vida que o jovem professor leva. “O que mais me marcou, lembro-me até hoje, foi a primeira vez que comecei a tocar na banda. É como diz aquele famoso ditado: ‘a primeira vez a gente nunca esquece’. Só de lembrar que estive sentado no meio da banda e participei de um grande campeonato, já ficou registrado para sempre em mim”, conta.

Gosto bastante de fazer parte desse mundo, pois minha família é composta por vários músicos, e acredito ser por isso que me engajei nessa cultura Edição Especial

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O Amor

João Paulo de Carvalho Silva, 18. Trompa Engana-se quem acredita que não existe amor à primeira vista. Existe, sim. Bem, não digo que isso ocorra entre pessoas. Alguns acreditam que aconteça apenas em filmes e romances, mas a questão aqui é outra. Estamos falando de um amor entre o homem com o instrumento musical, um sentimento que envolve ritmo e tom, ou talvez um pouco além disso, que abraça o vibrar de cada acorde. João Paulo de Carvalho Silva, mais conhecido como ‘JP’, toca um instrumento chamado trompa, formado por um longo tubo cilíndrico de dois metros, curvado sobre si em uma espiral de duas voltas, em formato de funil, com o som controlado por três válvulas. A trompa tem o som aveludado e suave, usado em vários tipos de repertório. “Quando entrei na banda, comecei com outros instrumentos, mas quando surgiu a vaga para tocar trompa, me interessei e me apaixonei, pois é diferente e bonita. Até hoje não tenho vontade de trocar para conhecer outros tipos de instrumentos.” Força de vontade é o que não falta para JP, que participa do Projeto Som da Banda há quase 10 anos e pretende seguir carreira de músico. Ao conhecer o projeto em uma das apresentações, foi ao encontro do professor Graziani Moraes para saber mais informações. Foi onde o interesse e a curiosidade sobre a música aumentou. “É uma experiência fantástica, quero e irei fazer vestibular para música, sonho em seguir essa carreira e me tornar

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professor e compositor.” A s s i m como em relacionamentos sérios, bate aquela canseira, vontade de largar tudo e sair para a ousadia. No comprometimento assumido com o projeto não é muito diferente. “Dizer que nunca pensei em desistir seria mentira. Muitas vezes já passou pela minha cabeça sair do projeto, mas ao mesmo tempo o peso na conciência é enorme, porque, querendo ou não, construí toda uma história de vida aqui dentro. Se tivesse saído da banda talvez não estaria fazendo quase nada hoje. O que me ocupa é isso aqui, que é o que mais gosto.” Por fim, além de aprender a se concentrar com o ritmo, o tom, a melodia, tudo ao mesmo tempo, ainda tem as vantagens de rolar outros amores. “Aqui existe uma segunda família. Amo demais nossa galera, é onde conquistei e fiz amigos de verdade. Posso afirmar que a banda mudou, sim, a minha vida, e hoje já não consigo me imaginar sem meu instrumento e a música.”

Se tivesse saído da banda talvez não estaria fazendo quase nada hoje. O que me ocupa é isso aqui, que é o que mais gosto


O Corpo

Ana Carolina Kateivas, 17. Dança Encontrar o ritmo na respiração, por meio da expressão, da interação e da consciência corporal, é uma tarefa para aqueles que se entregam verdadeiramente de corpo e alma. Foi o que Ana Carolina Kateivas fez ao entrar para o corpo coreográfico do Projeto Som da Banda, cinco anos atrás, e continua até hoje. “Conheci o grupo através de uma amiga e me encantei ao vê-los ensaiando com aquelas bandeiras e outros objetos nas mãos”, afirma. Além do corpo musical, o Projeto Som da Banda também abrange um corpo coreográfico, composto por meninas e meninos. Uma mistura cultural que marca no rosto de muitos jovens o sorriso e a paixão ao expressar a canção nos dois formatos unidos. “É legal ver todos juntos, ensaiando em clima ensolarado ou chuvoso, com vento ou sem vento, até mesmo em asfalto quente. E não tem um ensaio que não é divertido.” Descobrir aquilo que se faz bem costuma ser fruto de um longo processo de autoconhecimento ou, até mesmo, identificar algum talento é algo que pode ser feito de várias formas. Nada de testes e avaliações, e sim de colocar a cara à tapa após uma decisão com tamanha coragem. “Nunca fui muito de dançar, na verdade não me imaginava com talento para isso. Fui descobrindo aqui e agora quero para meu futuro”, reconhece Ana. É no meio de tanta diversão que alunos e professora conseguem realizar inúme-

ras coreografias alegres e condizentes com a música instrumental. No ensino transmitido de forma profissional e também um pouco pessoal, o que fica registrado é a amizade e companheirismo. “A Cintia [Cintia Gleice Silva, professora de dança do Projeto Som da Banda] é uma pessoa incrível, e que está sempre nos motivando a crescer. Sei que é nossa professora acima de tudo, mas também muito amiga, porque ela entende nossas dificuldades e busca sempre nos ajudar a melhorá-las. Sempre digo que é a nossa segunda mãe, tanto aqui dentro, como lá fora.” Poder reconhecer os anseios da dança e restituir laços ao entregar-se para os movimentos, é a certeza de quem tem uma experiência baseada na arte de sentir. “É difícil explicar o que fazemos aqui, mas é muito bonito e gratificante. Fica aqui meu convite para que as pessoas participem de uma família diferente. Quem entra fica e não quer sair nunca mais!”

Nunca fui muito de dançar, na verdade não me imaginava com talento para isso. Fui descobrindo aqui, e agora quero para meu futuro

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REGENTE

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EU VEJO A MÚSICA COM UM PODER GIGANTESCO DE TRANSFORMAÇÃO PESSOAL”


Foto: Arquivo pessoal

Respeito, disciplina, estudo e compro- Universidade Estadual de Londrina, em misso. A partir desses quatro pilares bases 2003. E foi ali na faculdade que descobriu de toda a filosofia da Associação Cultural o poder que tinham as melodias e notas de Banda de Música Branca da Mota Fernan- uma canção. “Em 2002, fui dar aula para crianças des (ACBMF) e o Projeto Som da Banda, o coordenador, professor e maestro Grazia- em uma comunidade muito pobre em ni Moraes, 38, transfere o significado de Londrina. Crianças não tomavam banho e toda carreira profissional para os mais de iam a escola para se alimentar. Viam ami250 alunos que mantém, hoje, na institui- guinhos morrendo na linha de trem que passava ali. Conseguimos fazer um tração. “Música é minha vida. Eu vivo para balho muito bom e no final eles estavam música. Eu vejo a música com um poder interagindo mais, ensaiando mais, tratangigantesco de transformação pessoal”, re- do melhor uns aos outros e se dedicando latou, emocionado, o maestro, no Colégio mais.” Esse foi o estopim para reunir, na próInstituto de Educação, um dos três polos pria festa de aniversário, em 2003, os amida ACBMF. gos de longa data das fanfarras do Colégio Não houve durante todo o período de Santo Inácio e Branca da Mota Fernandes, entrevistas com funciopara iniciar o Projeto nários e alunos ligados Som da Banda - uma Por meio da ação a associação uma só parte importante da artística você poder pessoa que não menACBMF, criada quatro ressignificar vidas é cionasse o nome de anos antes, mas que fantástico Graziani com muito caestava aos trancos e rinho e respeito. E não barrancos. Assim como é à toa. outras datas importanMaringaense, nascido em 4 de fevereiro tes, essa não sai da cabeça. “Começamos de 1978, o professor dedicou toda a vida ao o Projeto Som da Banda em 24 de abril do aprendizado e ensino da 1ª arte. Lembra- mesmo ano de 2003”, relembra. se, dos primeiros passos na música quanDali saiu a linha de frente da instituido ia à creche Menino Jesus e arriscava os ção, que mudou, e continua mudando, a primeiros cantos no coral. Mas, por fotos, vida de milhares de crianças. Marcos Olisabe que o amor pelos acordes era ainda veira (presidente), Paulo Silva (secretámais antigo do que as recordações. rio), João Siqueira (tesoureiro), Graziani e “Tenho fotos de 2 anos de idade colo- muitos outros colaboradores e amigos. cando a agulha no vinil. Estraguei muitas “Ver acontecer aqui na minha cidade o agulhas e discos do meu tio, mas, desde que eu vi acontecer lá em 2002, naquele aquela época eu sei que já me interessava bairro carente de Londrina, no meu estágio de regência, não tem valor. Por meio por música”, relembra, saudoso, Moraes. Indo contra tudo e contra todos, en- da ação artística você poder ressignificar frentou a vontade da mãe de ver o filho vidas é fantástico. E isso acontecer a parformado em advocacia, e do pai em ver o tir de uma atividade sua é fenomenal”, cofilho médico, e se formou em Música pela menta, orgulhoso, o maestro.

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AO VENTO

Sopa de legumes Esse é o prato que acompanha o buffet dos músicos e da plateia após as apresentações da “Primeira Orquestra Vienense de Legumes”, uma saborosa sopa de legumes. A orquestra austríaca utiliza apenas instrumentos vegetais, como castanholas de berinjela, flautas de cenoura, instrumentos de percussão recheados de feijão ou o pepinofone – espécie de flauta feito de pepino perfurado com uma embocadura de cenoura e um pimentão oco na extremidade. E a música é levada a sério. No repertório dos onze músicos, Stravinski e outros clássicos, além de melodias modernas do grupo de música eletrônica Kraftwerk.

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Orquestra para mais de metro

Recordes

Considera-se a orquetra da Congregação Cristã como a maior do mundo, pois há uma comunhão entre os membros de vários países. É tanta gente que não se sabe o número exato de músicos, mas acredita-se que sejam cerca de 600 mil e mais de 150 mil organistas. A pessoa responsável pela orquestra dessas comunidades é chamada de encarregado musical, enquanto aquele encarregado de todas as orquestras de uma região é chamado de encarregado musical regional.

Apesar dos números surpreendentes da Congregação Cristã, a maior reunião de um conjunto orquestral aconteceu em 2000, no BC Place Stadium, em Vancouver, Canadá. Todos os membros da Orquestra Sinfônica de Vancouver se juntaram a 6.400 estudantes para tocar a 9ª Sinfonia de Beethoven. A apresentação durou nove minutos e 44 segundos e superou o recorde anterior, em que 3.500 músicos tocaram durante sete minutos e 42 segundos, em Birmingham, na Inglaterra.

Foto: Divulgação


DÓ MAIOR

Natanael Calefi, professor de sopro e maestro no polo Florescer Trabalhar a música na educação infantil é despertar na criança um modo de vida mais ativo, auxiliando numa aprendizagem escolar prazerosa. O projeto dá a chance de as crianças saírem do comodismo causado pela tecnologia e de buscarem laços afetivos com a apreciação musical, pois a música pode ofertar oportunidades fantásticas. A música requer uma certa disciplina, fomentando mais a atenção e emprenho das crianças. Os professores buscam utilizar repertórios bastante ecléticos, trazendo músicas de alguns desenhos e filmes que as crianças gostam. “É gratificante ver o crescimento e o desenvolvimento deles ao adquirir o gosto pela composição instrumental. Sempre digo que aqui eles são apenas alunos ensaiando para serem bons artistas, mas quando eles sobem ao palco já não são mais pequenos, mas grandes músicos!”, afirma o professor de sopro Natanael Calefi.

Maicon Douglas da Cruz, professor de sopro do polo Pioli Entre algumas notas, palavras de motivação. “Não vai estragar, não, cara. Seu som é importante. Se você não tocar não vai acertar nunca”, incentiva o professor. Todo esforço é recompensado quando eles podem demonstrar ao público aquilo que aprenderam. “É muito gratificante vê-los tocando. Nós, professores, ficamos mais felizes ao vê-los tocando do que quando nós mesmo tocamos”, afirma o professor Maicon Cruz. Ensinar crianças exige tato, paciência e determinação. “Pegamos no pé quando precisam. Tem alunos que se desenvolvem mais rápido, outros têm mais dificuldade. Assim, separamos a turma, como um reforço, para todos aprenderem juntos”, relata. Ensinar essas crianças não é tudo, existe aprendizado também por parte do professor. “Nós aprendemos muito com eles também. É uma troca.” Edição Especial

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RESSONÂNCIA

Um repente com o maestro Foto: Arquivo pessoal

DAVI OLIVEIRA

“A música é uma das armas mais poderosas que temos. Ela disciplina o ser humano, molda o caráter” Mineiro de Belo Horizonte, o maestro da Orquestra Filarmônica Unicesumar (Ofuc) Davi Oliveira, 33, sabe muito bem a importância do ensino da música na vida de uma pessoa, principalmente durante a infância. Aos 9 anos, começou a estudar piano e aos 12 ingressou na Fundação Clóvis Salgado - “Palácio das Artes” – para estudar violino, onde foi orientado pelos professores José Maurício e Rodolfo Padilha. De lá para cá, o músico teve uma bela caminhada na carreira. Ele é graduado em Regência pela UEM, na classe da professora mestre Andréia Anhezini e exerceu também diversas atividades na cidade e região, como master class com outros grandes nomes

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da regência mundial e espetáculos a convite da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina. Desde 2003, a convite do reitor Wilson de Matos Silva, assumiu o cargo de coordenador do Departamento de Cultura e Artes da Unicesumar e de diretor artístico e regente titular da Ofuc e do Grupo Vocal Unicesumar. Em entrevista ao informativo Vibrações, Oliveira falou da importância da Associação Cultural Banda de Música Branca da Mota Fernandes (ACBMF) para Maringá e para as crianças entre outros outros assuntos musicais relacionados a cidade.


Qual a importância do ensino da música no desenvolvimento de uma criança? É uma das armas mais poderosas que temos. Ela disciplina o ser humano, molda o caráter, desenvolve o raciocínio lógico entre outras benesses. A criança que tem contato com a música logo nos seus primeiros dias de vida, com “musicalização para bebês”, coleciona uma série de virtudes proporcionada por ela, a música.

todas as pessoas. A popularização da música através dos temas de filmes se tornou uma estratégia fenomenal para atrair a atenção das pessoas nesse mundo cheio de novidades a cada segundo. A música, sendo ela clássica ou popular, executada por uma orquestra, toma uma grandiosa sonoridade que a todos chama a atenção. Nessa questão do incentivo e conhecimento de orquestras, o senhor acha que a ACBMF desempenha um papel importante? Sim, a ACBMF faz um excelente trabalho de base musical e proporciona a todos que ali estão crescer e se tornar músicos de verdade.

Alguns músicos da orquestra da Unicesumar tiveram os primeiros contatos com instrumentos por meio da Associação Cultural Banda de Música Branca da Mota Fernandes. Qual a importância do projeto Som da Banda e Além do trabalho Nosso dever é da ACBMF para os feito por vocês e por alunos participanlevar a música outras orquestras tes? em seus diversos aqui em Maringá, o Projetos sociais de estilos e gêneros a senhor acha que falformação artística ou todas as pessoas ta incentivo na área de inclusão são immusical e de concerportantes pelo poder tos e músicas eruditas no municído resgate ao ser humano e da formapio? ção sociocultural. Muitos pelo profundo Em Maringá temos o Projeto Convite à envolvimento se tornam músicos profissionais, porque o alicerce dos primeiros Música que proporciona aos músicos um passos foi bem estruturado, como é o tra- espaço para realizar seus concertos, além dos outros espaços como o Teatro Calil balho feito pela ACBMF. Haddad entre outros. O poder público Assim como a Orquestra Filarmô- procura fazer a sua parte e cabe a nós, da nica Unicesumar, o maestro Gra- área, desenvolvermos projetos e coloca ziani Moraes e a ACBMF realizam -los em prática, com verbas de incentivo à espetáculos com músicas pop e tri- cultura. A iniciativa privada em Maringá lhas sonoras. Qual a importância se destaca através da Unicesumar, mandesse trabalho de popularização tenedora da Orquestra Filarmônica. Trabalho consolidado e respeitado em todo das orquestras? O sustentáculo das orquestras é o País, motivando o profissional da música grande público. Nosso dever é levar a mú- ao mercado de trabalho e atentando-se sica em seus diversos estilos e gêneros a aos anseios do público..

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PLATEIA

Toque dos espectadores Quem passa pelos pontos de ensaio de longe consegue escutar as notas do Projeto Som da Banda. A vizinhança é privilegiada pelos ritmos e batidas dos instrumentos. Desde a criação vem atingindo públicos de todas as idades e dos mais variados gostos e estilos musicais. Quem ganha com isso não são somente os alunos, e sim, aqueles que acompanham de pertinho as apresentações da fanfarra. A fotógrafa e jornalista Mariana Kateivas, 22, acompanha as apresentações da banda há alguns anos. Ela é irmã de uma

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das integrantes e diz que ficou admirada com a união do grupo e com o esforço para os ensaios. “Eles têm uma amizade muito bonita e de longa data.” Além disso, Mariana também se comove com as apresentações. “A alegria é indescritível no momento em que vão anunciar os vencedores. [Eles] Choram, pulam, fazem de tudo, parece que todo aquele empenho é possível ser visto na hora do prêmio.” Além das pessoas que acompanham, existem aquelas que ajudam a atrair novos integrantes para a banda. É o caso do


Isabela Giovana Baptistoni com o professor Luciano Pereira da Silva, o “Caverna”. Foto: Arquivo pessoal

professor de bateria Luciano Pereira da Silva, o “Caverna”, 48, que apresentou a banda para Isabela Giovana Baptistoni Cardoso, 22, que hoje é baterista e também toca instrumentos de percussão. “Eu indiquei a Isabela e mais duas pessoas, porque o Graziani Moraes [maestro e coordenador do projeto] me perguntou se eu tinha alunos aptos a fazer as aulas, pois iam abrir vagas na banda. Entendi que a Isabela Giovana era uma dessas pessoas, uma menina muito dedicada que vinha se desenvolvendo muito bem, estava pegando rápido as coisas, entendendo rápido o que tinha que ser feito.” Silva conta como ele vê o Som da Banda. “Um projeto que tem trabalhado com jovens, tem instruído, ensinado música

para essa juventude. É um trabalho muito bacana, tem o intuito de realmente levar cultura para a galera que é afim de desenvolver os dons musicais. Um projeto que realmente deu certo, com títulos e apresentações de nível nacional.” A banda tem trazido para os integrantes uma nova sensação, um novo estilo a ser seguido. Cada integrante da banda é essencial para o desenvolvimento e crescimento, juntos, formando uma única melodia. A baterista Isabela Giovana gosta cada dia mais. “Uma sensação muito legal, de ver que tem muita gente que vai nos eventos só para ver a galera tocar, como também a relação entre as bandas e as outras cidades na hora das apresentações. Dá um pouco de nervosismo, mas é bom fazer parte desse movimento.” Cada ensaio, cada esforço, cada tempo que os alunos dedicam para o projeto é recompensado, seja pelos prêmios obtidos, pelos aplausos e, principalmente, pela união dos integrantes com aqueles que fazem parte da história da banda. “Vejo que é muito cansativo, na semana, no fim de semana e mesmo assim eles vão [ensaiar]. O principal, o mais bonito, é a amizade que desenvolve entre eles, o empenho que eles têm para conseguir ir bem em uma apresentação”, diz Mariana Kateivas.

O projeto tem o intuito de realmente levar cultura para a galera que é afim de desenvolver os dons musicais Edição Especial

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CADÊNCIA

Poesia da Alma

Ritmo e essência

Wendell de Mattos, 14

Isabela Giovana Baptistoni Cardoso, 22

Foto: Arquivo pessoal

A melodia, o ritmo acelerado causado pelas batidas dos instrumentos, a cadência que dá vida à harmonia, permite que a música traga recordações de um tempo que ainda faz-se presente. A música permite que a mente eleve os mais altos pensamentos para os desejos da alma. Foram alguns anos para chegar na sintonia harmoniosa de uma orquestra. Volta a mente as recordações de quando participou de uma banda marcial do projeto realizado pela Associação Atlética Banco do Brasil (ABB). A música, o som, as batidas dos pratos, o bombo e o dedilhar das teclas, permite o equilíbrio de cada nota e ressonância por ele produzida. O que começou há quatro anos, hoje, é a parte essencial da banda. Ouvir a música e as notas da composição, permite sentir-se orgulhoso do trabalho que realiza, em que a música deixa de ser música e passa a ser a poesia da alma.

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Foto: Arquivo pessoal

Passam-se as horas, os minutos e os segundos. Os pandeiros são tocados junto com os pratos e o bumbo, formando a melodia. Com todos os presentes e todos os instrumentistas, a banda é formada. Pensar que por meio de um professor de bateria ela conheceu a essência de uma banda. A baterista, que um dia tocava solo, hoje, faz parte da composição de uma banda marcial. Como todo início, o dela não foi diferente. Apesar da experiência com a bateria, novos desafios foram surgindo, como uma meta de vida. Ritmos são formados, as notas musicais sobem e descem como as ondas do mar.


CONSONÂNCIA

“O terceiro setor atua como fator preponderante para o desenvolvimento social. Muitas entidades de terceiro setor, popularmente conhecidas como ONGs, têm como objetivo gerar serviços de caráter público, adentrando na realidade social onde foram implantadas. Desse modo, a busca por desenvolver projetos para pessoas de vulnerabilidade social é constante, levando-as a conhecimentos básicos e de formação humana. O ensino da músicas no terceiro setor tem como função inclusiva que atua como a busca do levar a arte para todos. Dessa maneira, entendemos que a música faz parte de um processo de socialização, por meio do qual as crianças, jovens e adultos criam suas relações sociais; por essa razão, ela apresenta um forte potencial de mobilização e agregação. A música, por meio dessas entidades, tem como visão levar a educação musical e cultural, não extinguindo o conhecimento que seus participantes têm. Desse modo, o centro das aulas de música seriam não só as relações que os alunos constroem com os participantes do projeto, mas também as relações que os alunos constroem com a música, sejam quais forem. Minha experiência participando do projeto, fez com que tomasse gosto por música, pensando em torná-la profissão. O projeto da ACBMF foi a primeira experiência musical que tive. Hoje estou no último ano em graduação em Música, Licenciatura na UEM (Universidade Estadual de Maringá).”

Foto: Arquivo pessoal

O ENSINO DA MÚSICA NO TERCEIRO SETOR

Caio Henrique Batista Alves, 21, estudante 4º ano de Música. Integrou a ACBMF entre 2008 à 2012

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