Ambiente & Sociedade

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BAURU, FEVEREIRO DE 2014

Planejamento já! Desperdício e desorganização impedem crescimento sustentável


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FEVEREIRO 2014

EDITORIAL

Sustentável e democrático

O jornalismo ambiental tem ganho cada dia mais espaço nos grandes meios de comunicação e está sendo incorporado como um ponto de vista obrigatório em qualquer produção. Se fala-se de economia, lá está o meio ambiente, influenciado pelo futuro das petroleiras ricas e pelo tamanho do PIB; se fala-se em política, lá está o meio ambiente, afetado por decisões parlamentares em prol dos agricultores, ou então beneficiado por leis anti-desmatamento. A sociedade está mais e mais ciente do seu importante papel na conservação do espaço em que todos vivemos. Atitudes sustentáveis tornaram-se naturais. Vão além de separar o lixo reciclável do orgânico. Campanhas de reciclagem de óleo de cozinha, sacolas plásticas retiradas dos supermercados (e depois devolvidas), multa para quem joga lixo no chão, painéis solares, captação de água da chuva e a procura por produtos orgânicos. O jornalismo ambiental, ao longo dos anos, mostrou que é mais do que um nicho que fala de ecovilas, reciclagem e aquecimento global. Hoje pode-se demonstrar como é importante discutir o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, sem ser eco-chato. Por exemplo, o aquecimento global afetará seu prato de comida, a produção energética pode acabar com a geração de eletricidade, hortas urbanas geram renda para toda a região, falta de planejamento urbano prejudica o ambiente e, portanto, toda a sua vida. O que se observa, também, é a adoção da sustentabilidade como um estilo de vida, ou seja, mais que apenas um modelo de desenvolvimento. O surgimento de festivais sustentáveis, dos menores ao SWU (este quase dialético) demonstra o quanto defender o meio ambiente se tornou algo cool. As pessoas sentem orgulho de participar. Ainda mais: existem culturas e costumes, antes esquecidos, voltando à moda. Coadores de pano, roupas sem poliéster (tecido de plástico) ou materiais parecidos, jardins em apartamentos, visitas a jardins botânicos e absorventes e fraldas descartáveis trocados por outros de algodão. É possível perceber a urgência do tema e o interesse do público por ele. Mas noticiar não basta. Afinal, como já disse o jornalista cubano Vígil López, devemos informar para inconformar e transformar. Sem clichês ou lugares comuns, crítico, contemporâneo e contextualizador. Assim deve ser o jornalismo ambiental. Esperamos que assim seja o nosso jornalismo.

Foto da capa: Clériston Martinelo Diagramação: João Pedro Ferreira e Heloísa Kennerly

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor: Julio Cezar Durigan Vice-reitora: Marilza Vieira Cunha Rudge

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Diretor: Nilson Ghirardello Vice-diretor: Marcelo Carbone Carneiro

Departamento de Comunicação Social Chefe: Juarez Tadeu de Paula Xavier Vice-chefe: Angelo Sottovia Aranha Curso de Jornalismo Coordenador: Francisco Rolfsen Belda Vice-coordenadora: Suely Maciel Planejamento Gráfico Editorial II Professores: Francisco Rolfsen Belda e Tássia Zanini Jornalismo Impresso II Professor e Jornalista Responsável: Angelo Sottovia Aranha (MTB 12.870) 4º Termo Jornalismo Noturno Alunos: Aline Antunes, Heloísa Kennerly, Isabela Giordan, João Pedro Ferreira, Julia Bacelar, Letícia Ferreira, Paulo Palma Beraldo, Renan Hass e Thales Valeriani


ATUALIDADES

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Haverá comida para todos?

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Para aguentar a demanda de 2050, tecnologia e produção de alimentos deverão andar juntas

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Isabela Giordan

esmo em tempos mais modernos não é fácil alimentar a população mundial, apesar do grande avanço da tecnologia. Cerca de 842 milhões de pessoas no mundo passam fome, segundo relatório emitido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Entretanto, essa demanda só tende a aumentar com o crescimento da população mundial. É estimado que para alimentar a população do planeta no ano de 2050, cerca de 9 bilhões de habitantes, será necessário duplicar ou triplicar a produção de alimentos em escala mundial. Mas como fazer isso? Segundo a FAO, um dos primeiros passos é diminuir o desperdício (2,7 bi. kg/dia) e, com a ajuda da tecnologia, implantar novos métodos para o aumento da produção! Mais água! Mais energia!

Para implementar os métodos de aprimoramento da produção de alimentos, é de extrema importância a distribuição do território mundia para esse fim. Segundo o relatório, cerca de 40% da superfície terrestre já é utilizada para a agricultura, e em alguns países já não há mais espaço físico para o aumento do cultivo. E aí fica a pergunta: como aumentar o plantio? A resposta sugerida pela ONU é o aumento da produtividade. De acordo com dados da FAO, a produtividade de alimentos cresceu nos últimos anos cerca de 80% e a expansão territorial cresceu apenas 20%. Tudo isso se deve ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitem maior produtividade de plantio. Um exemplo disso é o monitoramento por GPS, que possibilita o desenvolvimento da agricultura de precisão, facilitando as práticas agrícolas, a eficiência de aplicação de insumos, a diminuição dos custos de produção e reduz os dano ao meio ambiente. Além disso, a utilização de sementes de alta qualidade e de produtos de proteção ao cultivo ajudariam a diminuir cerca de 20% a 40% da perda anual de alimentos, segundo dados da Empresa de Pesquisa Brasileira de Agropecuária (EMBRAPA).

Entretanto, para que se aumente a produtividade é necessário a utilização de mais água e de mais energia, recursos que estão cada vez mais escassos no planeta. Em dado revelado pela ONU, aproximadamente 70% de toda a água disponível no mundo é empregada na irrigação de cultivos. E ainda é possível afirmar que no Brasil esse percentual chegue a até 72%. O esperado é que em 2050 seja necessário aumentar em 11% o uso de água para a irrigação, pois uma população de quase 9 bilhões de pessoas exige o aumento da produção. Além disso, a pecuária também é uma grande consumidora de água. Durante a produção da carne bovina, são utilizados em torno de 15 mil litros por quilo de carne, segundo dados da FAO. Já a necessidade energética para a produção de alimentos deve aumentar em 60% até 2050. Segundo um estudo realizado em 2012 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é esperado que a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis dobre até o ano 2035 para que, em 2050, a demanda seja atendida.

E, por fim, chega de desperdício! De nada adianta todos esses passos para garantir o reabastecimento de comida no mundo se o desperdício não for controlado. Em um alerta emitido globalmente, a FAO afirma que é necessário reduzir o desperdício que já chega a média de 1 bilhão de toneladas por ano. Enquanto isso, cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado durante os processos de produção ou venda. Nos países em desenvolvimento, o alimento se perde antes mesmo de chegar nas mãos do consumidor. Já em países desenvolvidos, a comida é desperdiçada por seus próprios consumidores. Segundo dados da FAO, com apenas um terço dos alimentos desperdiçados seria possível alimentar os 842 milhões de famintos no mundo. “Tirar o máximo de alimentos a partir de cada gota de água, pedaço de terreno, grão de fertilizante e minuto de trabalho economiza recursos para o futuro e torna os sistemas mais sustentáveis”, é o que prega a ONU. Ou seja, é crucial que o desperdício diminua durante os próximos anos ou a disponibilidade de alimentos ficaria gravemente comprometida, já que a população mundial só tende a crescer.

(kCAL/CAPITA/DIA)

REGIÕES AMÉRICA DO NORTE E OCEANIA EUROPA ÁSIA INDUSTRIALIZADA NORTE DA ÁFRICA E ÁSIA CENTRAL ÁFRICA SUSAARIANA AMÉRICA DO SUL SUDESTE E SUL DA ÁSIA

1520 453

748 594

746 414

545 FONTE: WRI/PNUMA/EXAME. ARTE: JOÃO PEDRO FERREIRA

Arte: João Pedro Ferreira

Produtividade é a solução


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ENTREVISTA

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João Pedro Ferreira

João Pedro Ferreira

auru possui mais de 800 áreas verdes e praças, que juntas ocupam um espaço de 2.000.000m², segundo dados aproximados da Secretaria do Meio Ambiente da cidade. Localizada no centro do estado de São Paulo, Bauru ainda se destaca por ter um Zoológico e um Jardim Botânico com mais de 3.600.000m². Mas será que esses espaços têm qualidade para que os cidadãos possam usufruir quando procuram lazer? Bauru vive o desafio que muitas outras cidades em crescimento têm passado: crescer com qualidade de vida e preservar o verde nas áreas urbanas. Sobre o assunto, a Ambiente & Sociedade conversou com a professora Norma Constatitno. Ambiente & Sociedade - O que caracterizam espaços livres urbanos? Norma Constantino - São aqueles espaços não construídos, não tomados por edificação. Não dá para imaginar uma cidade só com espaços construídos. Tem que pensar na qualidade desses espaços entre os edifícios. Há falta de espaços urbanos? Não é que haja falta. Não há espaços urbanos com qualidade. Então, as pessoas os evitam às vezes porque está muito sol e não tem sombra, preferindo ir para um shopping, que é fechado e tem ar-condicionado. Deixam de fazer exercícios físicos, caminhar porque está sol demais. Então, há falta de qualidade e de conforto nesses espaços. E, principalmente, há a questão da segurança. A construção desses espaços deve ser uma das prioridades? Por quê? Aí vale mesmo o interesse político. Tem cidades que investem e investem muito em espaços livres urbanos justamente porque vão dar o diferencial para aquela cidade. Um exemplo é Curitiba. As pessoas vão conhecer a cidade, vão fazer turismo lá porque existem os parques, que foram feitos pela prefeitura. Então, não é se pensando se “vai gastar”, e sim que é um investimento feito

ENTREVISTA NORMA CONSTANTINO

Não há espaços urbanos com qualidade Professora acredita que falta de conforto e segurança nos espaços públicos é o que acaba atraindo as pessoas e os “rolezinhos” para os shoppings.

perfil

Norma Regina Truppel Constantino 59 anos. Casada, 3 filhos. ATUAÇÃO Professora da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Já trabalhou na Secretaria de Planejamento em Bauru (SP) e Porto Velho (RO).

tanto na qualidade de vida de quem mora lá quanto um atrativo da cidade pra trazer outras pessoas, sejam turistas ou pessoas das cidades próximas.

Esse pensamento é tendência ou exceção? Nos planos diretores, isso é sempre uma coisa muito importante. Lá estão colocadas essas questões dos espaços livres. As cidades com mais de 20 mil

habitantes foram obrigadas a fazer seus planos diretores. Então, acredito que é uma questão de tempo e talvez interesse político implantar esses parques. A lei é o plano diretor. A construção de shoppings está configurada no contexto de espaços livres urbanos? É um interesse comercial, capitalista. Mas as pessoas sentem-se confortáveis em fazer

compras no shopping, pois é climatizado e tem segurança, sendo muito atraídas para isso. Bauru, sendo uma cidade muito importante na região, que atrai as pessoas das cidades vizinhas para o seu comércio e serviços, tem esse perfil. Se houvesse maior qualidade também nos espaços livres, eles também seriam aproveitados. Na questão dos “rolezinhos” os shoppings foram classificados como locais de circulação limitada. Por que esses jovens das periferias se reúnem nesses locais? Por falta de opção mesmo. O que as pessoas querem nos seus espaços públicos? Verem e serem vistas. Então, sentemse bem num lugar, pois tem movimento, onde encontram outras pessoas, são vistas, trocam ideias. Se no shopping acontece isso, é onde acaba atraindo. Como a senhora vê a questão de proibirem a entrada nos shoppings nessas ocasiões? Eu sinto muitíssimo, não gosto de nada proibido dessa maneira, mas é um direito de quem é dono daquele espaço. Não é um espaço público. É um espaço semi-público, aberto em determinado horário, que tem seguranças, portaria, cobram estacionamento. Algum dia podem até cobrar ingresso no shopping, pois eles têm esse direito. Mas, normalmente, não há outros locais nas periferias ou no centro onde eles possam fazer essa socialização.

as pessoas sentem-se confortáveis em fazer compras no shopping pois é climatizado e tem segurança”


ENERGIA

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Aumenta o investimento em energia renovável Julia Bacelar

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fessor doutor em Ciências Físicas pela Universidade de São Paulo. O Ministério de Minas e Energia, através da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), elabora e publica o Balanço Energético (BEN) do país anualmente. Apesar de a geração hidráulica ser responsável por 76,9% da produção do país, outras fontes tiveram um crescimento relativo se comparado ao do ano de 2011, segundo dados do BEN de 2013 (ano base 2012). Um exemplo disso é a energia eólica, que teve sua produção alcançando 5.050 gigawatt/hora, isto é, um aumento de 86,7%, sendo que só em 2012 a potência instalada no país expandiu 32,6%. Outra fonte que têm crescido no país é o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. Isso se deve ao fato de que a demanda pelo combustível aumentou nos últimos anos devido ao surgimento da frota de veículos movidos a biocombustíveis, além da competitividade existente em relação ao preço do etanol hidratado e o da gasolina. “Porém, mesmo com o crescimento da utilização de energia proveniente de fontes renováveis, eliminar completamente o uso de combustíveis fósseis não seria possível de um dia para o outro. O processo ocorrerá de forma gradual, e para isso as pesquisas e tecnologias usadas na área continuam a se desenvolver. Por exemplo, uma área que vem crescendo muito é a da pesquisa envolvendo energia de biomassa”, comenta o professor José Goldemberg. Em 2014, o Brasil pretende aumentar em 6.000 megawatts a capacidade instalada em novas usinas de energia elétrica e construir 6.800 quilômetros de linhas de trans-

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As alternativas que podem substituir o petróleo

ENERGIA SOLAR: O QUE É? Energia gerada a partir de raios solares COMO FUNCIONA? Radiação solar captada por painéis que produzem energia PRÓS Fonte inesgotável de energia; abastece lugares remotos CONTRAS Alto custo dos painéis; depende dos fatores geográficos e climáticos ENERGIA EÓLICA: O QUE É? Energia gerada a partir do uso dos ventos COMO FUNCIONA? A força do ar faz as hélices girarem, produzindo energia PRÓS Fonte inesgotável de energia; pode ser usado em áreas remotas CONTRAS Alto custo; poluição visual e sonora ENERGIA HIDRÁULICA: O QUE É? Energia é gerada a partir da água COMO FUNCIONA? A força da água gira uma turbina que produz energia PRÓS Energia em grandes quantidades CONTRAS O desmatamento prejudica a fauna, flora e o clima da região

BIOCOMBUSTÍVEIS ETANOL: O QUE É? Álcool combustível que substitui a gasolina COMO FUNCIONA? Produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho PRÓS Baixas emissões; plantas absorvem CO2 em seu crescimento CONTRAS Produção ocupa terras destinadas ao plantio; oscilações no preço BIOGÁS: O QUE É? Energia a partir da decomposição de lixo orgânico e excremento de animais COMO FUNCIONA? Material orgânico em decomposição transforma-se em gás metano PRÓS Baixo custo de operação; fim para o lixo orgânico CONTRAS Vazamento e armazenagem dos resíduos no processo BIODIESEL: O QUE É? Combustível que substitui o diesel mineral com semelhante eficiência COMO FUNCIONA? Óleos vegetais/gorduras animais são transformados em diesel PRÓS Baixas emissões de CO2 CONTRAS Sujeito a oscilações de preços

missão, além da realização de sete leilões de energia e cinco de transmissões, de acordo com Edison Lobão, Ministro de Minas e Energia. Esse investimento faz com que o Brasil tenha todas as condições e ferramentas para continuar se a desenvolver, tanto em tecnologia quanto em pesquisa, e a produzir energia de maneira sustentável, de modo a atingir sua eficiência energética nos próximos anos.

o Brasil pretende construir 6.800km de linhas de transmissão e realizar 13 leilões em 2014

Infográfico: João Pedro Ferreira

s modos de consumo estão cada vez mais intensos. Por isso, a busca por alternativas eficazes na produção e distribuição de energia tornou-se um fator essencial para se pensar em um futuro sustentável. A necessidade de diversificar as fontes energéticas, de substituí-las, é resultado da dependência de recursos não-renováveis, provenientes do petróleo, que contribuem com a alta emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e são responsáveis por intensificar o efeito estufa. É nesse contexto que surgiu o conceito de energia sustentável. As principais fontes de energia sustentável são as renováveis e limpas, capazes de suprir as necessidades das gerações futuras e conhecidas por não liberarem (ou liberarem poucos) gases que contribuem para o aquecimento global. (ver infográfico) O Brasil, detentor de uma grande diversidade de recursos naturais, é conhecido por produzir a maior parte da energia que consome a partir desses recursos, sendo considerado por muitos especialistas como o país dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo industrializado. O país utiliza, na maior parte, a eletricidade proveniente da energia hidráulica, e a matriz de geração elétrica é de origem predominantemente renovável. “Um dos fatores que fazem a energia hidroelétrica ser a mais utilizada no país é a sua relação custo/benefício, levando em consideração a produção e distribuição da mesma. Mas, apesar de poluir bem menos do que as energias não-renováveis, as fontes sustentáveis não deixam de causar impactos ambientais”, afirma José Goldemberg, pro-

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ALIMENTAÇÃO

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Alimentação é o desafio do século A tecnologia e a prevenção podem ser a solução para o problema

Aline Antunes Heloísa Kennerly

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rente às mudanças climáticas, fica difícil saber o que comeremos daqui 50 anos. A população mundial conta hoje com mais de 7 bilhões de pessoas, e esse número só tende a crescer. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Francês de Estudos Demográficos (INED Institut national d’études démographiques) em 2050 nosso planeta alcançará a marca de 9,7 bilhões de habitantes. Junto do crescimento da população, crescem também problemas ligados à alimentação, saúde pública, e meio ambiente. Dentre essas preocupações, a fome mundial é a que ocupa maior destaque. Porém, a questão da falta de alimentos já foi estudada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), o qual garante ser esse um grande mito. A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) ressalta que diversas das afirmações feitas sobre o assunto são reflexos de ideias equivocadas. Segundo o PMA existe comida suficiente no mundo para uma nutrição adequada para todos, mas é preciso que a produção e a distribuição desses alimentos seja mais eficiente, sustentável e justa. De acordo com a doutora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Priscilla Efraim, há um mau aproveitamento dos alimentos, desperdício e falta de eficiência. Ela chama a atenção para a questão da produtividade que pode ser aprimorada nas áreas agrícolas. Uma das soluções é a implantação de uma competente produção energética dentro das indústrias processadoras de alimentos, além de estrutura nos transportes para evitar perdas dos produtos. “Acredito mais no desperdício, falta de práticas póscolheita adequadas (que contribuem com esse desperdício) e falta de eficiência do que na falta de alimentos. No Brasil, cerca de 20 a 30%

da produção agrícola é desperdiçada”, comenta Priscilla. A engenheira ainda levanta o problema dos resíduos gerados pela indústria de alimentos, que são altamente contaminantes ao meio ambiente. Ela destaca os malefícios do descarte da água de lavagem dos equipamentos da indústria de produtos cárneos diretamente na rede de esgoto. Mesmo que a prática seja proibida no Brasil, a falta de fiscalização adequada causa grandes prejuízos.

existe comida suficiente para uma nutrição adequada para todos, mas é preciso que a produção e distribuição desses alimentos seja eficiente, sustentável e justa” Aquecimento global e agronegócio

Outro fator que preocupa é o aquecimento global. Evitá-lo parece um trabalho mais complexo do que reestruturar a distribuição e aumentar a produtividade. De acordo com o quinto relatório IPCC (do inglês, Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas), a temperatura mundial poderá subir até 4,8ºC ainda nesse século, se as emissões de gases do efeito estufa mantiverem as taxas de crescimento atuais. A estimativa foi divulgada em setembro de 2013, na primeira parte do relatório de mais de duas mil páginas que conta com o apoio de cientistas do mundo todo. Os biomas brasileiros poderão sofrer graves mudanças, caso as previsões se tornem reais: o sertão nordestino se tornará um deserto quente e incultivável e o clima será mais extremo, com secas, inundações e ondas de calor. E isso deve afetar diretamente o que comemos. Segundo a doutora em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas, Raquel Silviana Neitzke, a agricultura brasileira deve sofrer com o aumento da temperatura. “É grande a probabilidade de que as mudanças climáticas previstas afetem o cultivo da maioria das espécies plantadas no Brasil. Poderão ocorrer mudanças no ciclo das culturas, ou até mesmo algumas espécies poderão ser tornar inaptas a determinado local”, afirma a doutora.

Projeções para o Brasil

Estudos realizados pela Embrapa e Unicamp projetam a diminuição das áreas de plantio das culturas de café, algodão, arroz, feijão, girassol, milho e soja. Os cientistas brasileiros se basearam em projeções feitas pelo IPCC: no cenário mais favorável, a temperatura deve subir até 1ºC em outro, até 3ºC e, no mais drástico, prevê-se um aumento de 5,8ºC. Em todas as projeções há a diminuição das áreas cultiváveis, com exceção da canadeaçúcar e a mandioca, que são mais resistentes ao calor e às oscilações climáticas. No cenário mais pessimista, o café seria quase extinto da região Sudeste, passando a ser plantado no Sul do país. A soja teria queda da produção, sendo a mais

prejudicada: é previsto que até 2070 haja uma diminuição de 41% na área de baixo risco para o plantio. Isso resultaria no encarecimento dos alimentos e crise no setor agropecuário e nas indústrias alimentícias.

Soluções existem

Para que não se chegue a esses extremos, pesquisas recentes recomendam que sejamadotadas imediatamente políticas de mitigação e adaptação. Em outras palavras, o desejável é que a agricultura deixe de ser um emissor de carbono e passe a absorvêlo. Experiências já são realizadas pela Embrapa, como a integração pastagem lavoura (rotatividade entre pasto e lavoura em uma única área), sistemas florestais (plantio de árvores como o eucalipto em áreas degradadas e pastagens) e plantio direto (dispensar o arado e plantar a nova cultura sobre a palha da anterior). Outra possível solução para evitar o fim de setores importantes da economia brasileira, é o desenvolvimento de transgênicos. “Com certeza, o melhoramento genético, desempenhará importante papel na busca de cultivares mais adaptadas e produtivas frente às mudanças climáticas”, garante Raquel Neitzke. A doutora ainda cita que já existem bancos de germoplasma com vasta variabilidade genética (grosso modo, bancos de sementes de todas as espécies e variações). Ainda assim, é preciso que os agricultores façam mais do que apenas usar transgênicos e variedades de plantas. “Nesse novo cenário é importante aliar práticas de cultivo como irrigação, plantio direto, cultivo protegido em estufas, com o melhoramento genético para assegurar a produção de alimentos”, conclui Neitzke. Caso nada disso seja feito, podemos esperar uma vida sem cafezinhos pela manhã, menos arroz, feijão e molho shoyu. Pelo menos, ainda teremos tapioca, açúcar e etanol.


INFOGRÁFICO

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Como será seu almoço daqui 50 anos Se nada for feito para frear o aquecimento global, o prato nosso de cada dia poderá mudar. Se a temperatura do planeta aumentar 5ºC os agricultores enfrentarão colheitas incertas, áreas de plantio reduzidas, alimentos mais caros e diminuição da produção. E isso afetará diretamente sua alimentação Heloísa Kennerly

Gelatina todo dia Com a colheita de frutas incerta e a indústria brasileira cada vez mais desenvolvida, é possível que comamos mais alimentos industrializados, como a gelatina.

Carne só de vez em quando A redução da produção de soja em 45% pode prejudicar mais do que a indústria de derivados do alimento. O grão é usado na alimentação do gado de corte. Menos soja, menos bois. Menos bois, carne mais cara. O jeito é substituir a proteína por ovos, queijo, proteína de soja ou, nunca se sabe, saborosos insetos.

Os clássicos não morrem Embora seja prevista diminuição da produção de grãos devido ao aquecimento do planeta, é difícil mudar os costumes do brasileiro. Provavelmente continuaremos a comer o bom e velho arroz e feijão, mesmo com a alta dos preços. Quem sabe, no máximo, substituiremos o feijão por lentilha.

Arte: Heloísa Kennerly

Nada de cafézinho A área de plantio do café será reduzida em todas as projeções feitas por pesquisadores. Na pior, o café será praticamente extinto do Sudeste. Ainda poderemos plantá-lo na região Sul, mas é provável que sua produção seja reduzida e o preço aumente. Porque não trocá-lo por um chá?

Hortaliças ameaçadas Clima inconstante e extremo pode ameaçar o cultivo de legumes e vegetais. É provável que certos alimentos se tornem mais caros ou baratos ao longo do ano. E nem sempre o preço do tomate será o mais alto.

Mais farinha e derivados de mandioca O aquecimento global pode favorecer o cultivo da mandioca, bem com o de cana-de-açúcar. A raiz vai continuar sendo protagonista em pratos típicos do Brasil, como a tapioca, pão de queijo (o polvilho é derivado da mandioca) e a farofa, de preferência com carne seca.


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CIDADES

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Tudo é bem diferente do lado de cá Apesar do crescimetno da classe C, composta principalmente por moradores das periferias urbanas, essa população ainda enfrente dificuldades para garantir seus direitos básicos

Letícia Ferreira

Letícia Ferreira

No bairro Jardim Nicéia, em Bauru, as ruas de terra e asfalto são um retrato da desigualdade soial e de infraestrurura da cidade

N

ão é mais novidade no Brasil as novas configurações da classe média ou classe C. Dos cerca de 200 milhões de brasileiros, 54% se enquadram nessa nova faixa econômica do país, segundo a pesquisa Observador Brasil, de 2011. As características dessa população que, inclui aumento de consumo, melhores condições financeiras, facilidade de acesso ao crédito, modificou a maneira como diversas empresas hoje pensam seus produtos e a necessidade de serviços públicos do país. Outra pesquisa mais recente, do Instituto Data Favela, apresenta o ambiente em que essa nova população vive. Segundo o estudo, 47 % das casas nas periferias possuem computador, 46% tem Tv de plasma, LCD ou LED. Do total de lares, 28% já dispõem de TV por assinatura. Porém, enquanto a perspectiva econômica de parte dessa população melhorou, o acesso à direto básicos avançou pouco, se compararmos com os ganhos econômicos. Este é o caso da cozinheira municipal Joana Miguel da Silva, líder comunitário a três anos no Jardim Níceia, um bairro conhecido como uma área pobre e carente. Aos 47, Dona Joana, como é conhecida, tem computador com tela LCD no quarto, mas

a rua da sua casa é de chão batido, terra vermelha. No Jardim Nícéia, a primeira praça foi entregue em novembro do ano passado. As obras de pavimentação do bairro, concluídas no mesmo ano, foram realizadas apenas em cinco ruas. Uma das áreas que não foram pavimentadas não tem asfalto, luz, telefone, encanamento de esgoto, ou qualquer infraestrutura básica. O que permite que esse bairro e tantos outros da periferia de Bauru e do Brasil não tenham suas ruas pavimentadas ou qualquer tipo de serviço que configura o minímo de infra-estrutura para viver ,é o planejamento urbano das cidades, a maneira como são decididas as área prioritárias de atuação do poder público. “ Bauru é um exemplo de desigualdade no planejamento urbano, algo comum nas cidades brasileiras, com áreas extremamente carentes nas periferias e outras centrais privilegiadas, “ conta o professor e pesquisador de Arquitetura e Urbanismo da Unesp, José Xaides.

O próprio Nicéia tem coleta de lixo três vezes por semana, como todos os bairros de Bauru, segundo a EMDURB (empresa responsável por diversos serviços públicos da cidade). Porém, a coleta seletiva,serviço limpeza e ecolixeiras só são instaladas

Bauru é um exemplo de desigualdade no planejamento urbano, algo comum nas cidades brasileiras, com áreas extremamente carentes nas periferias e áreas centrais privilegiadas

nas áreas centrais da cidade. Infelzimente, situações como essa não acontecer por falta de conhecimento de como planejar uma cidade. Os princípios do urbanismo são conhecidos e observados no Brasil desde a década de 40 em municípios de Minas Gerais, por exemplo. “O problema que enfrentamos hoje é falta de direção de planejamento público, mas tem um sentido, na lógica de mercado. As cidades são pensadas de acordo com os interesses econômicos, e não em prol das necessidades da população”, explica o pesquisador Xaides. A única maneira de reverter esse quadro é a atuação da população. Toda cidade tem um Plano Diretor, documento, hoje, construído e discutido em muitas cidades brasileiras. São Paulo, por exemplo, discute com a sociedade seu novo plano diretor ,de maneira coletiva, com a população, poder público e estudiosos. Uma tentativa de elencar as prioridades da cidade, frente aos novos desafios que ela enfrenta.

Através deste plano, de documentos como o Estatuto das Cidades, que exige a priorização de áreas periféricas no planejamento público, esse quadro pode ser transformado, desde que a população cobre a responsabilidade do poder público.


AGRICULTURA

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Esterco do bem Reaproveitamento de esterco beneficia o maio ambiente

cessidade de melhorar a pastagem. “Eles podem ser repostos por adubos químicos ou pelo esterco, rico em nutrientes. Ao invés de dar um destino qualquer a este esterco e comprar adubo, você o reaproveita”, conta. O despejo desses dejetos em rios pode causar assoreamento. “Essa água escorre e vai para as valetas que dão no rio. Esse adubo aumenta o número de bactérias na água, que podem não ser muito maléficas, mas contribuem para que o mato em torno cresça e cause um assoreamento”, explica Thales. Esse sistema de reaproveitamento também contribui para uma maior higiene no curral, já que o esterco sólido acumulado atrai moscas e outros parasitas que podem transmitir doenças. “O curral tem que estar sempre limpo. Após cada operação de ordenha (tirar leite) ou entrada e saída de animais, é preciso limpar o curral”, orienta Thales, lembrando que o produtor deve olhar para a água que vai para a valeta e pensar que é esterco sendo jogado fora. Esterco que poderia ser reaproveitado e melhorar a pastagem. Com esse pensamento fica mais fácil ter coragem para investir no reaproveitamento. O custo da implementação desse sistema depende do tamanho da propriedade e do número de animais. Mas o retorno a médio e longo prazo é quase certo. Um distribuidor de esterco com capacidade para dois mil litros chega a custar, em média, oito mil reais- valor baixo se comparado a outros equipamentos agrícolas. Mas é importante ressaltar que maquinários usados também são vendidos e chegam a custar metade de um novo, mesmo estando bem conservados.

Distribuidor de esterco com capacidade de 3 mil litros. Baixo custo de operação e manutenção viabilizam o seu uso Thales Valeriani

despejo inadequado de esterco de animais causa poluição em rios e lagos. Os coliformes fecais diminuem o nível de oxigênio, o que mata peixes, e os resíduos acabam assoreareando os mananciais. Se não for em espalhado em toda a terra, ao invés de adubar e fazer bem para o pasto, o esterco mata a pastagem daquele local. Caso fique no curral, atrai parasitas que transmitem doenças para os animais e pessoas. Então, um manejo inteligente do esterco traz várias vantagens para uma propriedade rural. A poluição causada por dejetos animais despejados em rios pode superar a causada pelas indústriasconsideradas grandes causadoras de degradação ambiental- segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Para a Embrapa, esses resíduos orgânicos- fezes e urina animal- podem deixar de ser poluidores e passar a contribuir para uma produção sustentável, se forem reaproveitados como adubo para o pasto. Um dos modos de reaproveitar esses dejetos é fazer a limpeza do curral com a chamada vassoura d’água (jatos de água com forte pressão) e concentrar todo o dejeto líquido em um tanque. Posteriormente, um distribuidor de esterco, uma espécie de caminhão tanque com aspersor (como o de irrigação), o coleta e o distribui na pastagem. O engenheiro agrônomo Thales Diniz fala das vantagens deste sistema. “Não é só econômico, tem o lado ambiental também. Se você pode reaproveitar o esterco, por que vai jogá-lo no rio?”, questiona. De acordo com o agrônomo, o animal consome os nutrientes ao comer o capim, daí a ne-

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Thales Valeriani

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Thales Valeriani

Sociedade

A adubação melhora a qualidade do capim, o que aumenta a produtividade de leite e carne


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AGRICULTURA

pra quem quer trabalhar”

Agricultura urbana baseada em hortas comunitárias aumenta renda de famílias e traz utilidade a terrenos baldios

Thales Valeriani

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AGRICULTURA Paulo Palma Beraldo Thales Valeriani

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para passear e já dou uma passada aqui. Vejo o que está mais bonito e barato e já compro”, afirma. Segundo pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a agricultura urbana caracteriza-se por localizar-se dentro do perímetro urbano. É uma atividade complementar de renda, além de estar mais próxima dos consumidores, o que reduz o custo de produção. Já a agricultura rural, em geral, tem como características uma produção em áreas maiores e nem sempre próximas aos mercados e consumidores. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, (FAO), 800 milhões de pessoas praticam a agricultura urbana em todo o mundo. Para o secretário de Agricultura e Abastecimento (SAGRA) de Bauru, interior de São Paulo, Antônio Francisco Maia, também conhecido como Chico Maia, a agricultura urbana é uma oportunidade para produzir e tirar da ociosidade terrenos antes baldios. Ele conta que conheceu a agricultura urbana ainda nos anos 1990, em viagem a Belo Horizonte-MG. “A ideia é gerar renda, alimento e combater a fome. Vamos abrir vendas diretas do produtor para o consumidor e incentivar a

Ambiente &

produção de frutas, verduras e legumes sem agrotóxicos, com certificação”, falou. O projeto também prevê o cultivo de plantas aromáticas, medicinais e daquelas que podem ter valor agregado por se transformarem em bebidas. A prefeitura já mapeou as possíveis áreas que podem ser aproveitadas para a agricultura urbana. Ainda segundo o secretário, há possíveis políticas de incentivos municipais a essa agricultura: “Faremos uma chamada pública para saber quantos são os interessados e avaliar”. Será dada prioridade a pessoas desempregadas ou que têm empregos informais e já tiveram alguma relação com o campo. Caso a pessoa não tenha experiência na área, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) oferecerá cursos profissionalizantes.

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O secretário também falou como será a venda dessa produção. “Será criado o mercado do produtor. Assim, estreitamos o laço entre consumidor e o produtor e aumentamos a margem de lucro de quem produz”, adianta. Uma das vantagens desse mercado é que ele funcionaria todos os dias, diferentemente das feiras que só ocorrem um dia da semana ou aos finais de semana. De acordo com Chico Maia, a prefeitura de Bauru chega a gastar uma média de R$ 3 milhões por mês com a alimentação de creches e escolas - a cidade consome 66 mil refeições diárias. “São convênios da prefeitura que o governo federal paga. Mas nenhum pé de alface é do pequeno produtor. Queremos mudar esse quadro”, conta.

Agricultura Urbana * Não há um padrão * Pequenas propriedades * Próxima ao consumidor * Atividade complementar de renda * Cultivo o ano inteiro * Em geral, recebe poucos incentivos do poder público

Agricultura Rural * Produção padronizada e homogênea * Áreas médias ou grandes * Quase sempre distante dos grandes centros * Principal fonte de renda * Em algumas regiões, tem alta prioridade na agenda política Paulo Palma Beraldo

ário Passeto, 82, trabalhou a vida toda na roça. Plantou, carpiu e colheu debaixo de sol e chuva. Quando chegou a hora da aposentadoria, optou por não deixar de trabalhar. “Ficar em casa parado para quê?”, questiona o senhor com disposição de jovem. Essa energia faz com que, toda manhã, ele pegue um ônibus logo cedo e vá até suas pequenas plantações para cuidar do seu pedaço na horta, na zona leste de Bauru, que já foi comunitária. “Antigamente, o pessoal vinha aqui, cuidava. Hoje em dia, não, ninguém quer trabalhar muito”, lamenta. Com os brilhantes olhos azuis e uma disposição invejável, Mário conversa atenciosamente e conta como funciona seu dia a dia ali na horta. “Eu acordo às seis da manhã, pego o ônibus e venho pra cá. Aí fico aqui até 10h50min, quando chega o ônibus de volta. Almoço e à tarde venho aqui cuidar de tudo”, diz ele, apontando para os canteiros de alface, cheiro verde e cebolinha. O amor dele pelo que faz impressiona. E contagia. A horta é dividida com outras cinco famílias e existe há duas décadas. Cada uma das famílias tem um espaço e planta o que tiver vontade. Por isso, existem vários canteiros de cebolinha, alface, couve, rúcula e outras verduras ou legumes. Mário conta o que tem mais saída: “alface e cebolinha vendem sempre, sempre mesmo. Todo dia vem gente buscar aqui de manhã e, às vezes, eu levo até pros vizinhos que pedem”. Seu Mário não revela quanto chega a ganhar com a horta, mas é enfático ao afirmar que ela complementa a aposentadoria de um salário mínimo. “Depende do mês, da chuva, do sol. Tem época que a gente faz três alfaces por R$ 2, às vezes chega a ser três por R$ 1”, conta. Se quem planta consegue aumentar a renda, quem mora perto de hortas urbanas tem à disposição legumes e verduras frescas com preços acessíveis. A bauruense aposentada Maria Aparecida Sanches, 67, mora no Geisel e vai à horta quase todos os dias da semana. “Eu aproveito o solzinho da manhã

FEVEREIRO 2014

Agricultura urbana é alternativa para complementar a demanda de alimentos das cidades


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Renan Haas

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Ambiente & FEVEREIRO 2014

Mais que um Paraíso Artificial Evento chama a atenção pela consciência ambiental

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Renan Hass assar sete dias acampando no litoral baiano em comunhão com a natureza e cercado por indivíduos com o espírito emanando paz e amor em um evento totalmente sustentável. Interessante, não? Procurando por isso, saí rumo ao Universo Paralello, que ocorre a cada dois anos em Pratigí, um oásis oculto, uma praia paradisíaca que fica a 300 km de Salvador. Há cinemas, exposições de artes, espaço para crianças e cinco palcos, quatro deles tocando música eletrônica 24 horas por dia (Main Stage, 303 Stage, Up Club e Chillout) e um em que há grande variedade de estilos e que teve, como principais atrações, Criolo e Mundo Livre S/A (Palco Paralello). Porém, mais do que as músicas e a bela praia, o que desperta a atenção e admiração é o respeito dos organizadores e do público pelo meio ambiente. Nesse evento há várias ações visando torná-lo cada vez mais sustentável, e, o que chama ainda mais a atenção, as pessoas presentes partilham essa ideia. Já no primeiro dia, fiquei admirado. As duchas para banho eram abertas e enquanto me ensaboava fui repreendido, pelo próximo na fila, para que fechasse o chuveiro e economizasse água, que conta com um sistema de filtragem residual que

retira elementos nocivos da água provenientes de sabões e xampus. Ao longo dos dias, o respeito ao ambiente só foi se confirmando, não havia lixo no chão, nem sequer bituca de cigarro. Elas eram eliminadas nos “porta-bituca” distribuídos pelo evento e diretamente levadas para uma empresa especializada na reciclagem das mesmas. Houve até prêmio para os que levassem um determinado número de bitucas. Contando com equipes de limpeza o dia todo, os banheiros sempre estavam limpos e havia também reciclagem dos resíduos eliminados. Todo o lixo é levado para compostagem e os dejetos humanos são destinados à produção de adubo orgânico que, posteriormente, é doado para pequenos

produtores rurais e produtores de alimento orgânico da região. Além disso, ainda nos banheiros, há um sistema de exaustão elétrico que canaliza os gases para dentro da fossa e elimina os odores. As estruturas construídas no festival utilizam materiais de mínimo impacto ao meio ambiente, como bambus e folhas de coqueiro, árvores abundantes no local. Sendo assim, nenhuma árvore de corte foi derrubada para o evento. Já na cenografia dos palcos, os que cuidam disso são orientados a reutilizar os materiais de decoração e figurino de outras edições. Para conseguir energia existia a Upedalada, área repleta de bicicletas em que a pessoa subia, pedalava e a sua energia era convertida em energia elétrica

e poderia ser utilizada para recarregar celulares e notebooks. Uma solução sustentável para a natureza e para o corpo humano. E, pelo segundo ano consecutivo, o evento recebeu o prêmio Commended Greener Festival dado aos festivais com grande consciência ambiental. Vale ressaltar que o Universo Paralello é o único da América do Sul com esse troféu. Além dele, há muitos outros festivais com o mesmo estilo e mentalidade, porém não são tão conhecidos. (Ver quadro abaixo) Esse é o Universo Paralello, realmente um universo paralelo, no qual impera a lei da paz e do amor, e um dos poucos lugares em que não se encontra lixo no chão, as pessoas se respeitam e respeitam o ambiente.

Outros festivais sustentáveis em 2014 Zuvuya em Luziânia, GO (28/02 – 05/03)

Ozora em Ozora Dadpuzsta, Hungria (29/07 – 03/08)

Festival Mundo de Oz em Lagoinha, SP (30/04 – 04/05)

Boom Festival em Lago Idanha-A-Nova, Portugal (04/08 – 11/08)

Festival do Kranti na Chapada dos Veadeiros, GO (12/07 – 15/07)

Boom Festival em Lago Idanha-A-Nova, Portugal (04/08 – 11/08) Arte: Heloísa Kennerly


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