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Capítulo Vinte

‘Queridinho’ Jax encarou Aimee por um momento e deu um meio sorriso a ela" não um qualquer, mas aquele que me fazia revirar por dentro. Ele disse algo e ela jogou sua cabeça para trás, rindo histericamente.

Eu me virei e voltei a focar nas pessoas que estavam esperando por suas bebidas. Eu não tinha certeza quanto tempo passou, e eu nem mesmo tentei me impedir de espiálos, mas eles ainda estavam conversando.

Tudo bem, não é nada de mais.

Quando procurei por Brock, o cara que ela tinha vindo, eu não o vi em lugar algum, mas havia um grande grupo em volta das mesas de sinuca, então imaginei que ele estava ali.

Me sentindo estranha e como se tivesse engolido um lotede pílulas energéticas, eu estava ainda mais sorridente e feliz enquanto atendia os fregueses até que Nick voltasse. Nessa hora, eu estava pronta para voltar ao salão, enquanto fazia meu caminho passando por Roxy, que estava me atirando um olhar de ‘precisamos conversar’, o qual respondi com um olhar de ‘nós não precisamos conversar’.

Eu estava correndo de trás do bar, meus olhos focados em Pearl, cujo cabelo loiro estava escapando do seu coque, quando fui agarrada pela cintura e puxada para o lado. Engolindo um gritinho, eu me virei e me encontrei entre Jax e o fim do bar, encarando Aimee.

Hum.

Aimee parecia confusa enquanto olhava para Jax e eu, até que seu olhar foi para o braço que estava em minha cintura.

“Aimee, eu não tenho certeza se você teve a chance de conhecer Calla,” Jax disse, seu braço como uma marca em minha cintura. “Ela é daqui, mas esteve fora por causa da faculdade. Ela voltou por...”

“Eu sei quem ela é,” ela respondeu e seu tom não era nem frio nem esnobe, na verdade era neutro.

Minha sobrancelha levantou. Eu não tinha ideia de quem ela era e eu tinha a sensação que me lembraria dela se a conhecesse.

Aimee sorriu enquanto jogava seu cabelo por cima do ombro. “Você obviamente não lembra de mim. Nós nos conhecemos a eras atrás.”

Jax se virou para que sua lateral ficasse pressionada contra a minha. “Como você conhece ela? Você cresceu a estados de distância.”

Eu realmente não ligava que ele soubesse que Aimee com os dois ‘es’ tinha crescido em um lugar longe.

“Foi há muito tempo,” ela disse, levantando sua voz para que quem estivesse nas mesas de sinuca pudesse ouvir. “Nós participamos de alguns concursos de beleza juntas.”

Puta merda.

Eu enrijeci enquanto eu encarava ela. Aimee...? Aimee...? “Aimee Grant?”

Seu sorriso aumentou e puta merda,ela era linda. Dentes perfeitos, como se ela estivesse usando um molde. “Sim! Você se lembra. Oh meu Deus, Jax.” Seu olhar voou para ele enquanto ela se aproximava do bar, colocando uma mão em seu braço como se ela tivesse feito isso um milhão de vezes. “Calla e eu praticamente crescemos juntas.”

Uh, eu não teria chegado a tanto. Nós provavelmente esbarramos uma na outra a cada mês por causa dos concursos e nós nunca fomos amigas. Se eu me lembro bem, nossas mães se odiavam com uma paixão incandescente. Minha mãe era considerada ralé por ser dona de um bar e a mãe de Aimee era dona de casa, casada com um médico ou, levando em conta o sorriso perfeito, um dentista.

“É mesmo?” Jax deslizou sua mão para a parte mais baixa das minhas costas e eu pressionei meuslábios juntos. Ele posicionou seu corpo pressionado ao meu, indo para trás para que a mão dela não estivesse mais em seu braço e, mesmo que eu não fosse expert em relacionamentos, eu sabia que ele estava dizendo isso com seu corpo. Eu tinha visto Jase fazer o mesmo. Eu tinha visto Cam também.

Eu estava feliz por dentro.

Aimee ou estava ignorando a mensagem ou não a estava entendendo. “Sim, isso é realmente ruim. Eu não te via a tanto tempo.” Seus olhos estavam em mim agora. “Não desde quando você parou de ir aos concursos de beleza.”

Uma bola se formou no topo do meu estômago, pesando enquanto abaixava, e por reflexo, eu tentei me afastar, mas com Jax tão perto, não havia como eu sair.

“Ela costumava ganhar de mim,” Aimee continuou e a bola em meu estômago estava crescendo exponencialmente. “Cada concurso. Eu ganhava o titulo de Supreme e Calla quase sempre conseguia levar pra casa o titulo de Grand Supreme.”

Os lábios de Jax se curvaram e um pequeno sorriso enquanto ele me observava, mas eu estava fazendo de tudo para ir para longe dele, do bar e de Aimee.

Ela inclinou sua cabeça para o lado enquanto se apoiava no balcão. “Eu não te vejo desde o incêndio.”

Ar ficou preso em minha garganta enquanto os pequenos cabelos no meu pescoço se arrepiavam.

“Vários organizadores ajudaram a levantar fundos. Eu lembro disso,” ela continuou despreocupada. “Durante seis meses, várias das meninas que ganharam os concursos abdicaram do premio em dinheiro por você.”

Oh meu Deus.

Eu também lembrava disso" lembrava do meu pai dizendo algo sobre enquanto eu estava no hospital e minha mãe estava ocupada de mais com o luto para se quer fazer uma visita.

“Tão triste,” Aimee disse, piscando seus grandes olhos. “Tudo que aconteceu com você e sua família. Por quanto tempo você ficou no hospital?”

Quem fazia perguntas desse tipo? Mas eu sabia a resposta. Durante toda minha vida, pessoas estranhas colocavam seu nariz onde não eram convidadas e faziam perguntas que outras pensavam que eram inapropriadas ou fora de contexto. Elas não pensavam ou, simplesmente, não se importavam.

“Meses,” eu me ouvi dizendo.

A mão de Jax enrijeceu contra minhas costas e eu senti seus músculos ficarem tensos. Os pequenos cabelos estavam arrepiados agora.

“Com licença.” Minha voz estava rouca enquanto eu me livrava de Jax e do bar. “Eu tenho que voltar ao trabalho.”

Eu me afastei, sem nem ouvir o que fosse que Aimee disse quando eu andava por trás do balcão e ia em direção ao salão para encontrar copos e garrafas vazias. Minha cabeça estava girando em pensamentosque eu não conseguia me focar em um só.

Aimee era uma inesperada e indesejada visita do passado. Ela era parte de memórias que, depois de todos esses anos, eu não tinha feito as pazes e não tinha certeza se um dia faria. Não só isso, mas ela representava tudo que eu deveria ser.

O nó voltou pra minha garganta enquanto eu pegava garrafas vazias, ignorando o leve cheiro de cerveja enquanto eu as colocava na caixa. Mais tarde, eu poderia dizer que Aimee não era ninguém mas agora, se eu pensasse nela, eu pensava em como as coisas foram antes do incêndio. Eu pensava em como a vida poderia ter sido para minha família— minha mãe, Kevin, Tommy e para meu pai e eu, se o incêndio nunca tivesse acontecido.

Eu provavelmente estaria aqui.

Eu parei, respirando pesadamente enquanto meus dedos se fechavam em torno de outra garrafa. Eu olhei para frente, para as costas das pessoas que estavam acumuladas em volta da mesa de bilhar.

Então a ficha caiu, naquele momento, tão forte que meus dedos formigaram. Se o incêndio nunca tivesse acontecido, eu provavelmente estaria exatamente aqui onde eu estava. Eu teria sido criada para trabalhar no bar, porque ele teria sido bem sucedido, e foi algo que meus pais construíram para passar para nós. Kevin estaria administrando o lugar.Tommy estaria aqui. Assim como meus pais.

Eu estaria exatamente onde estou, e eu não tinha ideia de como entender a epifania. Nem um pouco. Meus pensamentos cortavam como uma navalha, minha pele arrepiada.

Meu coração estava apertado. Eu não queria me virar. “Eu tenho mesas para limpar,” eu disse a ele. “Muitas mesas.”

A mão de Jax foi para meu ombro e ele me virou. Nossos olhares se encontraram e, quando ele falou, eu sabia" eu só sabia" o que ele quis dizer e isso me despedaçou.

Ele se aproximou, abaixando sua cabeça para dizer em meu ouvido. “Eu sei.”

Eu estava quieta na volta para a casa de Jax, passando a viagem toda de carro olhando para fora da janela, para as casas escuras. Eu estava cansada, mentalmente e fisicamente, e tudo que eu queria era ir para a cama, jogar um cobertor sobre minha cabeça e dizer boa noite.

Aimee tinha ficado até a hora de fechar, nem um momento voltando para se juntar a Brock, que terminou saindo bem antes dela. Roxy tinha dito que ele saiu com uma menina diferente, então eu não tinha idéia do que estava acontecendo entre ele e Aimee, mas ela parecia encantada. E eu sabia o porque ela tinha ficado. Ela queria ir para casa com Jax.

E isso não aconteceu.

Quando o último pedido foi feito e Aimee estava encarando Jax, Roxy me disse que ele gentilmente perguntou se ela tinha carona para casa, mas antes que ela respondesse, ele disse que ele poderia chamar um taxi.

Suave.

Roxy disse que Aimee parecia como alguém que tinha acabado de ver um fantasma e, por mais que isso fosse algo divertido de se ver, eu me perguntava se Jax a teria levado para casa se eu não estivesse aqui. Isso não deveria importar, mas importava, porque eu era uma menina e eu estava me sentindo extra idiota.

Eu sei.

Perdi a respiração quando Jax entrou narua que levava a sua casa. Eu sabia que ele iria querer falar sobre o incêndio. Como ele havia trabalhado com minha mãe e ela tinha contado a ele sobre os grades dias dos concursos de beleza, não precisava muito para descobrir que ela também tinha falado sobre o incêndio. Mas quanto? Quanto ele sabia quando seus olhos pararam em mim pela primeira vez que entrei novamente no Mona’s?

De volta a casa, eu levei minha mala para o andar de cima enquanto Jax foi para a cozinha, fazendo a mesma coisa que a últimavez, tirando seus sapatos e deixando a chave no aparador.

Eu me despi, dessa vez usando um top por baixo da minha camiseta de manga comprida e meus shorts de dormir e, depois de lavar meu rosto, eu prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Quando deixei o banheiro, eu peguei meu celular da minha bolsa e liguei o abajur. Um leve brilho iluminou o quarto.

Havia uma mensagem não lida da Teresa, uma foto dela e de Jase na praia. Ela estava nos braços dele, fazendo chifrinho nele com seus dedos e ele estava sorrindo, seus lindos olhos cinzentos escondidos pelo mesmo estilo de óculos de sol que Jax usava.

Passos chamaram minha atenção enquanto eu guardava meu celular novamente na minha bolsa e ali estava Jax, entrando no quarto. Ele tinha perdido sua camiseta em algum momento entre entrar na casa e no quarto e eu não iria reclamar, porque sua pele exposta, mesmo que marcada, era incrível de se olhar, especialmente quando seus jeans estavam baixos em seu quadril.

Ele estava segurando uma cerveja em uma mão e uma caixa de suco na outra.

Meu sorriso aumentou um pouco. “Para mim?”

“Eu imaginei que você precisaria de uma bebida, ou de um suco pelo menos.”

“Obrigada.” Eu peguei a caixinha de suco e sentei de pernas cruzadas na cama. O canudo já estava colocado, como da últimavez. Perfeito. Levantando meus olhos, eu o vi tomar um gole da cerveja e, então ele abaixou a garrafa e passou a outra mão pelo seu cabelo. Eu senti uma certa ansiedade se formar em minha barriga enquanto eu observava seu peito subir e descer com sua respiração. “Está tudo bem?”

Parecia como uma pergunta idiota.

Seu olhar foi de encontro ao meu enquanto ele tomava outro gole. Ele não disse nada enquanto sua garganta se movimentava e, puta merda, ele tinha terminado aquela garrafa enquanto eu tinha tomado apenas um pouco do meu suco.

A ansiedade aumentou como uma erva daninha em um jardim. Ele tinha mudado de opinião sobre eu ficar aqui com ele? Ele não parecia feliz. Talvez ele desejasse que estivesse aqui com Aimee de dois ‘e’. Dado sua pele e sorriso perfeitos, e uma mãe que não estivesse atualmente desaparecida e se enfiada em uma bagunça com traficantes, eu conseguia entender se ele estivesse repensando várias coisas. Afinal, ele quase tinha sido atropelado hoje e isso não foi sua culpa.

Eu nem deveria estar em sua casa, ainda mais sentada em sua cama. Eu não pertenço aqui.

Depois disso tudo eu queria voltar para Shepherd, sentar com Teresa e observar a Brigada dos Caras Quentes de uma distância segura. Lá eu estava protegida, porque ninguém sabia nada sobre mim e eu tinha meus três ‘F’s, era tudo que eu sabia e que tinha me forçado a aceitar.

Apertando a caixa de suco a um ponto de quase transforma-la em um vulcão, eu comecei a sair da cama, minha barriga se revirando. “Eu posso dormir lá em baixo hoje e, então, amanhã...”

“O que?”

Meus pés estavam quase encostando no chão. “Eu disse que poderia ir dormir no andar de baixo e amanhã eu...”

“Eu te ouvi.” Ele colocou a garrafa vazia no criado mudo e se virou na minha

direção.

Eu olhei ao redor. “Estou confusa. Se você ouviu o que eu disse então porque perguntou?”

“Okay. Talvez eu devesse ter expandido minha pergunta.” Ele se corrigiu, e com os olhos arregalados, eu o observei se inclinar para frente e quando ele segurou meu quadril, eu congelei. Um calafrio percorreu minhas coxas, porque wow-wee, esse homem

sabia como segurar em um quadril. “Por que motivo você iria ir dormir no andar de baixo?”

Vagarosamente, eu levantei meu suco e tomei um grande gole. “Eu só pensei que depois de... um, tudo...” eu me cortei quando ele me levantou, meus pés agora bem longe do chão.

“Você pensou o que? Que eu não queria mais você aqui comigo?” Ele engatinhou pela cama. Não há outra palavra para descrever o que ele estava fazendo. Uma perna estava de um lado meu e a outra,do outro lado. Suas mãos ainda estavam no meu quadril. “Que eu não percebi o quão linda você estava hoje? E que nenhuma vez você virou sua bochecha para esquerda para tentar se esconder?”

Oh meu Deus.

Suco esquecido.

“Você pensou que eu não iria querer dormir ao seu lado novamente? Você achou errado se esse foi o caso.” Seus dedos apertaram meu quadril, mandando uma onda de calor pelas minhas veias. “Eu realmente gostei de dormir com você e andar ao seu lado. O que é algo novo para mim. Eu não sou um grande fã de coisas como essas, mas você... Sim, você é diferente.”

Eu nunca quis ser mais diferente na minha vida.

Suas mãos deslizaram para minha lateral. “Ou você pensou que eu não reparei que você estava bem o dia todo, apesar da merda com que teve que lidar de manhã? Nós fomos em um buraco e quase fomos atropelados, mas você ainda sorriu, mesmo depois disso. Você aguentou firme, foi trabalhar. Até que Aimee apareceu.”

Jax abaixou sua cabeça e passou seus lábios pelos meus. “Aimee e eu nunca namoramos.”

Meusmúsculos travaram enquanto meu cérebro dizia que isso era mentira. “Eu não acho que isso é assunto meu.”

Ele fez um som grave, não concordando. “Você está na minha cama agora, certo?”

“Bem, sim.”

“E minha boca esteve em você, certo?”

Eu concordei.

“Minha mão já esteve entre essas lindas pernas também, certo?”

Oh wow. Aquele calor derreteu meu coração e foi parar entre minhas pernas.

Ele pressionou sua testa na minha. “E eu vou te levar para jantar mais tarde. Então me diga, como uma menina qualquer aparecendo hoje a noite, se jogando em mim e insinuando que temos um passado tem nada a ver com você?”

“Okay,” eu sussurrei. “Quando você diz desse jeito, eu acho que tem.”

“Acha?” Ele se afastou, balançando sua cabeça. Então ele se sentou, suas pernas em cada lado das minhas, suas mãos em minha cintura. “Eu entendo que você nunca fez isso antes.”

Eu levantei meu suco e tomei outro gole enquanto meu estômago flutuava.

“Mas você precisa entender onde isso está indo. Eu já te disse que gosto de você. Eu acho que eu deixei isso bem óbvio. E, quando terminarmos com essa conversa, eu vou deixar isso ainda mais obvio para você.”

Não vou mentir. Várias partes de mim gostaram de como isso soou.

“Aimee e eu tivemos alguns casos.” Ele continuou, e um sentimento ruim cresceu no meu peito mesmo que eu já tivesse imaginado isso. “Ela normalmente fica em Philly e eu acho que ainda vai para a faculdade no norte. Eu não sei e, honestamente, não ligo. As coisas sempre foram casuais entre nós. Ela esteve na minha casa. Nunca passou a noite aqui. Nenhuma vez. E ela nunca pode tomar suco de fruta na minha cama.”

“Fico feliz de ouvir essa últimaparte,” eu admiti.

Um sorriso se formou em seu rosto. “Aimee é uma menina bonita. Ela sabe como se divertir, mas ela não é a menina para mim. Nunca foi.”

Aquela bolha estava no meu peito novamente.

E ele moveu suas mãos enquanto inclinava sua cabeça para o lado. “E eu sei o que está passando pela sua cabeça é mais do que uma menina que eu dormi no passado aparecendo. É sobre o que ela disseessa noite.”

Eu fiquei tensa novamente. “Jax...”

Ele colocou seu dedo indicador em meus lábios, me silenciando. Normalmente, se alguém fizesse isso comigo, eu estaria inclinada a morder seu dedo, mas o assunto em questão era intenso demais para isso.

“Eu sei,” ele disse com a voz baixa. “Eu sei tudo sobre o incêndio.”

Ar escapou de mim. Eu coloquei uma mão na cama enquanto me inclinava para longe dele, mas suas mãos se firmaram em minha cintura. Eu não consegui ir muito longe. Eu não consegui fazer isso. Eu podia sentir o pequeno fio de controle que eu tinha se soltando.

“Mona falava sobre isso de vez em quando e Clyde preencheu as partes que ela não disse,” ele continuou naquela voz baixa e paciente. “Eu sei como isso aconteceu.”

Meu coração começou a pular em meu peito e quando eu falei minha voz estava rouca. “Eu não quero fazer isso.”

“Eu sei.” Jax se aproximou de algum jeito, sua pélvis sobre a minha, mas seu peso estava suportado pelas suas pernas. Ele estava perto, perto demais para isso. “O bar era um sucesso na cidade. Sempre cheio. Fazendo montanhas de dinheiro. Seus pais decidiram construir sua casa dos sonhos.”

Eu desviei meu olhar de seus olhos castanhos, minha mão livre segurando firme o edredom. “Eu não quero fazer isso,” eu repeti, sussurrando.

Ele abaixou sua cabeça, pressionando um leve beijo no meio da minha bochecha esquerda, e minha respiração falhou. “Era o tipo de casa que seus pais sonharam em criar uma família, espaço suficiente para todos vocês crescerem, especialmente Kevin e Tomy.”

Oh Deus.

Meu peito foi cortado por um ar gelado e eu balancei minha cabeça. “Eu não posso fazer isso.”

Jax não aliviou. “Seus pais não perceberam que contrataram um eletricista que não era o melhor qualificado. Um que economizava no trabalho para que pudesse embolsar mais dinheiro. Sua licença estava sob investigação por um trabalho mal feito em outra casa. O que seus pais não sabiam quando eles se mudaram para o novo lugar, levando vocês, todos felizes e festejando, era que esse eletricista não tinha seguido o protocolo para a instalação no interruptor do corredor do segundo andar" o andar com todos os quartos das crianças.”

Abaixando meu queixo, eu apertei meus olhos fechados. Foi uma péssima ideia pois eu conseguia ver nitidamente aquela noite. Até o dia que morresse, eu seria capaz de reviver aquela noite, da parte de andar até meu quarto novo, com suas paredes rosas e meu nome escrito em letras garrafais preso na parede, cheio de fumaça. Eu nunca iria esquecer aquele grande fôlego que eu inalei que tinhaqueimado minha garganta e meu peito por dentro. Eu entrei em pânico enquanto eu saia da cama e vi a tinta rosa descascando da parede, o terror quando eu abri a porta do banheiro e o mundo inteiro explodiu. A fumaça tinha ficado amarela e marrom" eu lembrava disso" um momento antes disso tudo acontecer. Estilhaços de vidro voaram pelo ar, cortando minha pele. Chamas estavam em todos os lugares, dançando pelo chão, chegando ao teto e as paredes. Era como um flash gigante. E haviam os gritos. Gritos horríveisque nem filmes de terror conseguiam replicar e algum deles eram meus. Outro eram de Kevin.

“Estava tão quente. A tinta estava derretendo. Não havia ar e...” eu inalei, tremula, e eu não percebi que tinha falado isso em voz alta até que seus lábios pressionaram contra minha testa novamente.

“Eu sei que você teve sorte por sobreviver,” ele disse, acariciando a lateral da minha cintura com seu dedão. “Seu pai chegou a você primeiro e a levou para o lado de fora. E quando ele e sua mãe tentaram voltar para dentro, para o segundo andar, já estava tomado pelo fogo. Eles não conseguiram subir as escadas... era tarde demais para seus irmãos.”

Eu tentei me mover novamente, mas Jax me segurou. O gelo em meu peito estava expandindo, se tornando uma dor real e tangível. “Tommy nunca acordou.” Eu lembrava de minha mãe dizendo isso uma vez. Isso depois de uma autopsia ser feita que mostrou que ele morreu pela inalação de fumaça. Uma benção em meio a desgraça, porque quando

o fogo foi apagado, seu quarto não era nada mais do que cinza e madeira. “Kevin... ele estava acordado.”

Novamente, com sua voz calma, “Eu sei.”

Eu abri meus olhos vagarosamente e meus cílios estavam úmidos. “Seus caixões,” eu sussurrei, apertando meus olhos fechados mais uma vez e os vendo. “Eles eram tão pequenos. Você sabe, menor que você pode imaginar que costumam fazer os caixões. E ainda assim, eu sei que fazem ainda menores, mas Deus... eles eram tão pequenos.”

Seus lábios roçaram a pele ao lado do meu olho direito, e eu sabia — oh Deus, meu peito doía" eu sabia que ele tinha pego uma lágrima, e o gelo em meu peito, que agora invadia meu estômago e minha alma, aliviou um pouco.

“Eles nunca tiveram chance,” eu disse, inalando profundamente novamente. “O fogo começou exatamente do lado de fora de seus quartos, no teto e nas paredes. Espalhou muito rápido.”

Jax permaneceu quieto e alguns minutos se passaram antes que eu falasse novamente. “Nossa família recebeu uma grande quantia de dinheiro quando foi descoberto que o fogo... foi por causa dos fios. Meu pai colocou uma parte em um fundo para a minha faculdade. Esse... esse é o dinheiro que minha mãe pegou. E ela tinha muito dinheiro" milhares de centenas que ela deve ter apenas desperdiçado.” Meus dedos aliviaram o aperto no edredom.“Meu pai foi embora nem um ano depois”.Ele não pôde lidar com isso.”

“Filho da mãe,” Jax disse.

Meus olhos se arregalaram e eu pensei em defender meu pai mas me parei. Sim, ele era meio que um filho da mãe. Eu aceitei isso há muito tempo. Minha próxima respiração foi mais fácil. “Eu nunca falei com ninguém sobre isso. Nem meus amigos em casa. Não é como se eu não tivesse... aceitado isso, porque eu o fiz. Eu era jovem quando isso tudo aconteceu e eu ainda sinto falta dos meus irmãos. É só muito triste.”

“É.”

Nossos olhares se encontraram e eu senti meu coração se virar pesadamente em meu peito. Eu sabia que ele não tinha terminado.

“Eu sei que essa não é a única coisa.” Ele levantou uma mão e passou ela pelo cumprimento de minha cicatriz. “Eu sei que você tem outras.”

Eu não conseguia olhar para outro lugar. Merda, eu queria, mas seu olhar me segurou e seus olhos estavam quentes, eles estavam focados.

“E eu sei que você foi queimada, Calla.” E nisso, meu peito se apertou com uma mistura de vergonha de alívio. “Eu sei que você fez algumas cirurgias e eu sei que elas pararam antes do que deveriam.”

“Minha mãe... ela...”

“Ela ficou presa em sua própria merda. Ela esqueceu ou não pôde lidar.” Ele confirmou. “Ela nunca disse o porquê, e eu sei que isso não faria nada melhor, mas ela sentia muita culpa sobre isso. Isso era bem óbvio.”

Sim, isso não mudaria nada. Nunca poderia. Eu não sabia se isso me fazia uma pessoa insensível ou não, mas algumas coisas não podiam ser esquecidas tão fácil. Elas não foram feitas desse jeito.

“Eu nunca... ninguém nunca viu as cicatrizes,” eu disse em um tom mal acima de um sussurro. “Elas não são bonitas.”

“Elas são parte de você.”

Eu concordei vagarosamente. Meus pensamentos estavam girando novamente enquanto meu olhar procurava pelo seu. Ele sabia desde o dia um que eu estava escondendo várias cicatrizes. Inferno, ele sabia disso antes de me ver pela primeira vez, por causa da minha mãe e Clyde. Eu não tinha certeza do que pensar sobre eles contando a alguém que era um total estranho para mim, mas eu não podia ficar com raiva sobre isso. Eu não conseguia sentir mais nada enquanto olhava para ele. “Você gosta de mim.”

Seus lábios se curvaram. “Nenhuma novidade, querida. Eu gosto de você, sabendo que as cicatrizes são parte disso.”

“Mas como?” Não era a primeira vez que eu o perguntava isso.

“Eu já te disse como.” Ambas suas mãos estavam de volta a minha cintura e eu perdi o fôlego. “Eu acho que já passou do tempo de te mostrar.”

“Sim, te mostrar.”

Sua mão se curvou sobre meus braços enquanto ele me levantava, e eu segurei minha bebida ainda mais forte. Ele me moveu até que eu estivesse perto da cabeceira, bem no meio da cama. Ele pegou a caixa de suco e a colocou no criado mudo.

Então ele começou seu trabalho de deixar bem óbvio que ele gostava de mim.

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