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Capítulo Um
Você seria extremamente gostosa se perdesse um pouco de peso.
Meus dedos envolveram as chaves do carro enquanto eu saia do bar, para dentro da pesada brisa de Julho. As pontas irregulares cravando na minha palma enquanto eu resistia à vontade de andar de volta e enfiar essas chaves em um dos músculos inflados daquele imbecil.
Desde o momento que Rick me chamou para sair, eu sabia que isso seria uma péssima ideia.
No segundo que eu pisei naquele aparelho elíptico da academia que era parte da Lima Academy. Eu tinha visto Rick pingando de uma menina para a outra, usando suas calças de nylon e uma camiseta justa da GAP, tão justa que eu sempre esperei que ela fosse estourar a qualquer momento. Eu não tinha percebido que ele trabalhava para a Lima Academy até hoje à noite, empregado no departamento de vendas e marketing, e eu senti como se eu soubesse tudo sobre ele porque isso era tudo que ele fazia.
Ele falava sobre si mesmo.
Deus, por que eu concordei em sair com ele? Eu era tão triste e sozinha assim? O barulho dos meus saltos pela calçada foi minha única resposta. Estacionar na cidade em uma sexta à noite era algo ridículo. Iria levar um ano para que eu chegasse ao meu carro.
Você seria extremamente gostosa se perdesse um pouco de peso.
Meus lábios ficaram mais finos. Eu não conseguia acreditar que ele realmente disse isso para mim, como se fosse um elogio. Mas que porra? Não era como se eu não soubesse que eu precisava perder uns três ou cinco quilos, mas em meus vinte e oito anos de vida, eu tinha há muito tempo aceitado que eu nunca, em toda história, teria um vão entre minhas coxas, minha bunda
sempre teria furos estranhos nela e nenhuma quantidade de agachamentos iria balancear meu amor por cupcakes.
Lá no fundo eu sabia por que eu concordei em sair com ele. Eu não estive em um bom encontro há dois anos, e meu ultimo relacionamento sério tinha revocado a clausula do ‘que a morte os separe’. Eu tinha vinte e oito anos.
Viúva.
Uma viúva de vinte e oito anos que precisava perder peso.
Suspirando, eu virei à esquina, tirando meu cabelo do rosto. Uma fina linha de suor marcava minha sobrancelha. Eu me mantive perto da beira da calçada, andando sobre as luzes da rua e ficando longe da sombras escuras que os inúmeros becos formavam. Eu podia ver meu carro logo à frente, no final da quadra. Era cedo para uma sexta à noite, mas eu iria para casa, abriria uma lata de Pringles sabor Barbecue que chamou meu nome à tarde toda e esqueceria sobre Rick enquanto me afogava no ultimo romance de Lara Adrian1 .
Por que vampiros alfas com um coração de ouro não eram de verdade?
Uma dor repentina chamou minha atenção enquanto estava no meio do caminho para meu carro. Meus instintos ficaram vivos, queimando dentro de mim e me dizendo para continuar andando, mas eu olhei para a direita. Não consegui evitar. Minha cabeça virou por conta própria, um reflexo, e eu tropecei.
Horror cresceu dentro de mim, congelando meus músculos e atirando dardos de gelo pelo meu sangue. Terror diminuiu o tempo, transformando a cena em algo extremamente detalhado.
Uma luz amarela formava um halo sobre três homens no beco. Um deles estava mais para trás dos outros dois. Seu cabelo descolorido e gorduroso, grudado na sua cabeça. Ele tinha uma cicatriz. Um corte fino sobre sua bochecha, mais pálido que o resto da sua pele. Outro homem estava apoiado
1 Autora de livros New Adult. Mais famosa pela série Midnight Breed. www.laraadrian.com
contra a parede de tijolos do prédio que cercava o beco. Eu não conseguia distinguir suas feições, porque sua cabeça estava pendendo de seus ombros, ele aparentemente mal conseguindo ficar de pé, obviamente machucado. O outro homem, sua cabeça completamente raspada, estava de pé diretamente em frente do homem machucado e, mesmo que eu só pudesse ver seu perfil, era um rosto que eu nunca esqueceria.
Ódio sangrava por cada linha das feições desse homem, desde suas sobrancelhas escuras, seus olhos pequenos, até a linha de seu nariz aparentemente quebrado e seus lábios. Ele era um cara grande. Alto. Ombros largos. Ele usava uma camiseta regata e meu olhar vagou para seu braço, dando para dizer que a pele estava sombreada com marcas. Uma tatuagem. Mas eu não estava pensando sobre a tatuagem quando vi o que ele estava segurando.
O homem careca estava apontando uma arma para o homem machucado!
Meu instinto estava gritando como um alarme de incêndio. Corra. Saia daqui. Ele tem uma arma! Vai. Mas eu não conseguia me mover, dividida entre o choque, descrença e algo inerte, possivelmente uma tendência suicida para intervir e fazer...
Um flash de luz brilhou e um trovão ecoou. O homem machucado desabou como se fosse uma marionete que alguém havia cortado as cordas. Ele caiu no chão com um barulho oco e, por um momento, tudo que eu conseguia ouvir era meu coração batendo forte, empurrando sangue nas minhas veias.
O som não foi de um trovão. O flash de luz era um raio.
Realidade me atingiu enquanto eu encarava o homem caído no meio do corredor. Uma poça escura se formava, espalhando da onde seu rosto estava pela calçada suja. Meu coração aumentou em meu peito enquanto eu abria minha boca, desesperada por ar.
Não. Sem jeito.
O homem com a cicatriz estava falando com aquele com a arma, sua voz um tom alto, animada, mas eu estava além de conseguir ouvir palavras
exatas. Minha mão espasmava e as chaves deslizaram do meu aperto. Elas bateram na calçada, tão alto quanto eu tentando correr numa esteira.
A cabeça do homem careca se virou rapidamente na minha direção e, se antes parecia que o tempo havia desacelerado, ele parou nesse momento. Nosso olhar se encontrou e em um instante, uma conexão horrível foi formada. Ele me viu. Eu o vi.
Eu o vi atirar no rosto de alguém.
E esse homem, o assassino, sabia disso.
Seu braço começou a levantar. Todos meus músculos reagiram e destravaram nesse momento. Com meu coração palpitando, eu me virei e comecei a correr de volta, em direção ao bar, meus pulmões queimando enquanto um grito saia de mim, um som que nem em meus momentos mais obscuros eu já tinha ouvido antes.
Os tijolos explodiram a minha direita, mandando estilhaços afiados pelo ar. Flashes de dor eclodiram da minha bochecha e eu cambaleei. O salto do meu sapato quebrou, mas eu me mantive correndo, deixando o sapato para trás.
Eu precisava encontrar alguém. Eu precisava ligar por ajuda. Eu precisava...
Virando a quadra, eu esbarrei em alguém. Um grito foi abafado enquanto eu cambaleava para trás. Ouvi um grunhido e eu vi uma mão tentando segurar meu braço, mas era tarde demais. Eu cai, aterrissando forte na minha lateral. Um flash de dor subiu pelos meus ossos, tirando o ar dos meus pulmões.
“Puta merda,” uma voz masculina soou sobre mim. “Você está bem?” Eu engoli em seco e bufei, ar saindo na minha frente enquanto eu ouvi uma mulher dizer, “Claro que ela não está bem, Jon. Ela deu um ataque suicida em você!” Levantando minha cabeça, eu olhei sobre meu cabelo que tinha caído no meu rosto. Eu vi eles – aquele com a cicatriz e o homem careca, o assassino
a sangue frio, fugindo pela calçada, além da onde meu carro estava estacionado. Eu os assisti até que eles desapareceram.
“Senhora?” o homem perguntou. “Senhora, você está bem?” Com minhas mãos trêmulas, eu fiquei de joelhos. O mundo parecia algo bem mais claro. Os carros que passavam soavam como aviões. As portas se fechando por perto pareciam que estavam sendo constantemente batidas, meu próprio coração martelando como uma bateria.
“Sim. Não.” Eu disse. Pressionando meus dedos na minha bochecha que queimava, eu afastei minha mão quando senti a umidade. Havia uma mancha escura no topo dos meus dedos. Meu olhar voltou para onde eu havia corrido. “Nós precisamos chamar a polícia. Alguém foi baleado.”