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Capítulo Doze
Colton tinha me mandado uma mensagem na segunda de manhã perguntando se eu podia passar na delegacia hoje e olhar novamente as fotos, mas quando eu cheguei lá, ele não estava. Eu tentei não levar isso para o lado pessoal enquanto eu seguia o Detetive Hart até uma sala, mas era difícil. Meu estomago revirou enquanto o Detetive Hart espalhava fotos pela mesa.
Eu queria perguntar onde Colton estava. Inferno, eu queria apenas pegar meu celular e mandar uma mensagem para ele.
“Leve seu tempo,” ele disse, se sentando em uma cadeira de metal. “Não tem pressa.” Meu olhar passou pelas fotografias enquanto meu coração palpitava em meu peito. Eu precisava me focar. Prioridades. Agora, o que tinha acontecido com Colton não era a coisa mais importante acontecendo.
O atirador ainda estava solto.
Levando meu tempo, eu olhei para cada foto espalhada na minha frente. No começo, todos pareciam o mesmo – homens com vinte e tantos anos, carecas, com tatuagens no braço e no pescoço, ou apenas nos braços. Eu olhei para vinte e tantas fotos antes que o Detetive Hart adicionasse mais cinco no montante.
Meu coração parou e eu não conseguia respirar. Eu me movi, pegando a terceira foto e a segurei mais perto. Haviam três imagens: uma frontal e dois perfis.
“Sra. Ramsey?” Por um momento minha língua pareceu não funcionar. Como se estivesse grudada ao céu da minha boca. Minha mão tremia enquanto eu
encarava o rosto do homem que eu tinha visto atirar em alguém – matar alguém. Minha garganta estava seca. “É ele.” Detetive Hart se inclinou para frente, colocando seu antebraço sobre a mesa. “Tem certeza?” “Absoluta.” Limpei minha garganta. “É ele.” Sem conseguir olhar mais para a foto, eu a entreguei ao detetive. Satisfação enchendo meus olhos. “Qual seu nome?” Eu perguntei e, então, franzi o cenho. “Você provavelmente não pode me falar isso, pode?” Ele colocou a foto em um arquivo. “Você está certa. Pelo menos, não agora.” Se levantando, ele tirou seu telefone do bolso. “Tem só alguns formulários que você precisa assinar então vai poder ir.” Inalando descompassadamente, eu ignorei a inquietação que estava se formando dentro de mim. Detetive Hart parou na porta. “Você vai colocar esse homem atrás das grades, onde ele pertence.” Seu sorriso estava tenso. “E você, provavelmente, salvou sua vida.”
Segunda-feira foi estranha.
Eu não conseguia ficar no manuscrito, não que pudesse culpar qualquer pessoa além de mim mesma. Depois de ter identificado um assassino essa manhã, segundo Detetive Hart eu tinha salvado sua vida. A não ser que o mafioso que Colton mencionou o pegasse antes.
Colton.
Durante o dia, eu tinha ficado obcecada em checar meu celular. Como se de algum modo eu tivesse perdido uma ligação ou mensagem dele. Claro que não havia nenhuma mensagem perdida. Meu estomago afundou. Depois de ter identificado o atirador, eu imaginei que Colton entraria em contato, mesmo que fosse só no sentido profissional.
Segunda vagarosamente se transformou na terça. Sem ligações. Sem mensagens. Eu poderia ter mandado uma mensagem a ele, eu percebi isso, mas fui eu que estraguei tudo e, honestamente, eu não tinha experiência nessas coisas. Sair com alguém estava além da minha capacidade de entendimento. Eu deveria dar espaço a ele? Dar a ele tempo? Ou ele estava esperando que eu entrasse em contato? Ou ele só estava realmente ocupado? O ultimo fazia mais sentido. Ele provavelmente estava tentando localizar o atirador.
Sentada na minha mesa, eu gemi enquanto me movia, colocando minha testa contra a madeira gelada. Eu era uma idiota. Eu tinha deixado à voz estupida e feia da minha cabeça ter o melhor de mim. Eu ainda estava deixando ela ter o melhor de mim, não estava? Se não, por que eu ainda não tinha mandado uma mensagem a Colton?
Mandar uma mensagem a Colton seria a coisa normal a se fazer.
Eu levantei minha cabeça e bem devagar a abaixei de novo contra a mesa. E fiz isso de novo. O que eu estava fazendo, além de bater minha cabeça contra a mesa? Porque isso nem era assim estranho nem nada. Okay. Eu precisava de um plano. Meu coração parou de bater quando levantei minha cabeça e vi meu celular. Eu poderia mandar uma mensagem para ele. Eu podia fazer isso.
Pegando meu celular, eu toquei na tela e, então, no ícone verde de mensagem. Meus batimentos estavam acelerados enquanto eu procurava o nome de Colton e começava a digitar a primeira coisa que me veio à mente. Eu não me deixei parar para pensar ou permiti me sentir estupida por digitar isso. A mensagem tinha apenas cinco palavras.
Sinto falta dos seus crepes.
Okay. Era meio que uma mensagem fofa e meio estupida. Muito estupida. Antes de apertar enviar, eu apaguei a mensagem.
Eu era uma completa idiota, geez18 .
18 Uma onomatopeia para um ‘puta que o pariu’
Eu não mandei mensagem para Colton nem ouvi nada sobre ele.
Minha vida tinha estado uma loucura essas duas ultimas semanas que era quase difícil de acreditar que tão pouco tempo tinha se passado. Eu não sabia como me sentir sobre ter testemunhado um assassinato, saber que alguém havia morrido, e a outra, o atirador, estaria logo – espero – preso.
Eu não sabia como me sentir sobre muitas coisas.
Na verdade, isso não era inteiramente verdade. Quando se tratava de Colton, eu sabia exatamente como me sentia. Como merda. Eu não achei que sua mensagem de segunda era uma desculpa para não me ver. Depois de tudo, depois do que tinha acontecido, ele estaria ocupado, e desde que ele normalmente trabalhava as terças, eu não estava esperando uma visita.
E nem recebi uma.
E ele não tinha mandado mensagem nem ligado. Havia essa parte de mim que queria ouvir todas as pequenas e, provavelmente, mais racionais, vozes que diziam que sua falta de contato não significava nada. Ele devia estar ocupado e, eu, também, não tinha entrado em contato com ele. Principalmente porque eu não sabia o que dizer.
Eu ainda não conseguia acreditar que eu tinha feito aquela pergunta para ele. Se ele estava bravo, o que eu sabia que ele tinha ficado mesmo que ele tivesse dito que eu não precisava me desculpar, ele estava em seu direito. Insinuar que ele tinha algum outro motivo para estar passando tempo comigo e fazer as coisas que estávamos fazendo era realmente um insulto.
E eu fodi tudo.
E, enquanto Jillian se sentava na beira do meu sofá na quarta à tarde, me observando andar para lá e para cá na minha sala, eu contei a ela o quanto eu tinha fodido tudo enquanto ela bebericava seu latte.
“Então, é isso.” Eu me larguei no sofá, olhando para o cappuccino que ela trouxe para mim. Ele já tinha acabado. “Não só ele, provavelmente, acha
que eu sou uma idiota, mas ele também sabe que eu tenho a confiança de um rato de esgoto.” Jillian franziu o cenho de trás do seu copo. “Não acho que ele pensa que você é uma imbecil. Ele te disse para não pedir desculpas.” “Isso porque ele é um bom homem e ele não é rude com ninguém. Mesmo no colegial ele já era assim. Defendendo as crianças que eram perturbadas e amigável com todo mundo e, se essa ultima semana me ensinou qualquer coisa é que ele não mudou nada nesse sentido.” Eu peguei o copo vazio e me levantei, sem conseguir ficar parada. Andei para cozinha, jogando ele no lixo. “Se ele me acha uma imbecil, ele não vai dizer nada.” “Isso até pode ser verdade, mas eu não acho que é o caso.” Ela colocou seu copo de café na mesa de centro e esperou até que eu voltasse para a sala. “E sobre essa coisa de confiança? Você não deveria ter vergonha disso.” Parando perto da TV, eu levantei uma sobrancelha enquanto eu cruzava meus braços sobre meu peito. “Falta de confiança é, com certeza, uma das coisas menos atraentes por ai.” Jillian revirou seus olhos. “E é, de verdade, uma das coisas mais comuns
por aí.”
“Verdade,” eu murmurei. “Eu sempre pensei que quando falam que você deveria ter mais confiança, porque confiança é sexy, era como levar um tapa na cara,” Jillian disse. “Como ‘obrigada por apontar isso’.” Eu ri secamente. “É estranho, você sabe? Eu nem tinha percebido isso sobre mim mesma nesses últimos anos. Eu só meio que parei de pensar em mim como uma mulher. Eu sei que isso soa estranho, mas é o melhor jeito que eu consigo explicar isso. Eu acho...” eu me sentei de volta, colocando minhas mãos em meu colo enquanto eu dava de ombros. “E eu sempre me senti tão confortável com Kevin. Isso nunca foi algo em que tive de pensar, e eu acho que isso sendo uma coisa nova me pegou de surpresa.”
“Isso é compreensível.” Um sorriso fraco se formou em meus lábios enquanto eu olhava para meu celular. Colton deve estar de folga hoje, a não ser que ainda estivesse lidando com a investigação. Meu estômago caiu um pouco. “Eu acho que isso foi uma benção disfarçada. Pelo menos agora eu sei como me sinto. E eu posso fazer algo sobre isso.” Ela se virou em minha direção. Seu cabelo grosso castanho deslizou sobre seu ombro enquanto ela inclinava sua cabeça para o lado. “Como o que?” Eu realmente não iria admitir toda a cena deu nua encarando a mim mesma. “Acho que eu preciso ficar mais consciente de mim mesma. Ter um tempo para mim, sabe?” “Você trabalha o tempo todo,” ela concordou depois de um momento. “Eu achava que meu pai trabalhava muito, mas eu acho que o único descanso que você tem é quando estamos juntas.” Essa seria uma afirmativa.
Ela olhou para mim pelas sua franja. “Você... você quer mudar a si mesma?” “Quem não quer mudar a si mesmo nem que seja um pouco?” Eu ri enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha. “Quero dizer, eu provavelmente poderia ser um pouco mais saldável. Parar de beber cappuccinos todo dia. Mas eu preferiria ser feliz comigo mesma que realmente tentar mudar tudo sobre mim.”
“Isso é bom.” Ela abaixou seu olhar. “Eu gostaria de pensar assim. Sobre mim mesma, quero dizer.” Franzi o cenho. “Você quer mudar algo sobre você?” Quando ela não respondeu, eu entendi. “É por isso que você vai mudar de faculdade? Para recomeçar?” Ela meio que deu de ombros. “Eu só quero... yeah, eu quero recomeçar, e eu posso. Eu vou.”
Preocupação passou por mim. Me movi, colocando uma mão em seu braço. “Está tudo bem?” Jillian concordou em resposta para a pergunta pesada. Essa menina nunca tinha sido muito de compartilhar informações, apenas deixando dicas aqui e ali. Eu sabia que ela não era próxima a ninguém exceto... exceto um cara chamado Brock. Ele era um tipo de lutador que trabalhava para seu pai. Pelo que eu tinha descoberto, ele tinha estado por perto da sua família há muito tempo.
E sempre que ela falava sobre ele, o que não era sempre, seu rosto sempre assumia aquela expressão de adoração absoluta.
“Jillian...” “Eu só não quero terminar fazendo o que minha família toda faz. Tudo é sobre a academia, e não é isso que quero fazer. O único jeito deu escapar é indo embora agora. De qualquer forma,” ela disse, seus lábios fazendo um bico como se ela estivesse pensando em algo. “Uma das coisas que você nunca vê em livros de romance é uma mulher que tem problemas de autoestima. Quero dizer, eu tenho certeza que eles existem, mas eles são poucos e difíceis de achar. Como se elas pudessem ter problemas alimentares, traumas de abusos sexuais e abuso mental. Elas podem ser vendidas em trafico de sexo e elas podem carregar uma quantidade enorme de culpa. Nós temos personagens femininas que sofreram grandes perdas e aquelas que tem cicatrizes mentais e físicas, mas onde estão as mulheres comuns? Aquelas que se olham no espelho e se retraem um pouco? Como, por que todas essas coisas são aceitas mas ler ou saber sobre outra mulher que tem problema de autoestima é algo pior que um drama meloso? Cara, eu entendo que se ler por prazer, mas você precisa ter um pouco de realidade na história.” Afastando sua franja dos seus olhos, Jillian exalou audivelmente e continuou. “Que seja. Isso não importa. Você é normal. Eu sou normal. Nós não somos perfeitas e não ter a melhor das confianças não faz de nós uma pessoa pior.”
O que Jillian disse era totalmente verdade.
Puta merda, a verdade nua e crua me atingiu.
Mulheres queriam que outras mulheres tivessem autoestima e confiança. Ninguém queria admitir que não tinha tanta confiança e que elas não gostavam de se ver no espelho.
Isso era errado e nós não podíamos ter nossos momentos de fraqueza. Que tínhamos de esconder o fato de estarmos desconfortáveis com nossas imperfeições. Que a jornada para amar a si mesma não excluía reconhecer que haveriam dias onde você só não gostaria de se ver nua.
E que haviam coisas piores que ter problemas com sua autoestima.
Eu olhei para Jillian. Esse era um dos momentos que eu esquecia que ela era tão nova, porque porra, ela realmente poderia ser bem mais esperta que eu. “Você está certa.” Seu rosto se transformou quando ela sorriu. “Eu sei.” Eu ri. “Modesta.” “Que seja.” Se inclinando para frente, ela bateu com sua mão sobre seu joelho. “Você quer sair?” “Ir aonde?” “Eu não sei. Você mora bem perto do bar ao lado do Outback.” “Mona’s?” Eu comecei a sorrir. Jillian, eu não acho que você tem permissão para ir lá.” “Eu já estive lá antes. E enquanto eu não beba, Jax não se importa comigo lá.” Minha sobrancelha levantou. “Jax?” “Ele é o dono. E é um bom amigo de Brock.” Ela se levantou. Eu olhei para ela. “Então... Brock vai estar lá?”
“Duvido,” ela disse. “Normalmente ele está treinando essa hora.” Por algum motivo eu meio que não acreditei nela.
“Vamos lá. Vai ser bom sair um pouco.” Ela pausou. “Além do mais, você sabe quem é bartender lá, certo?” Eu entendi a dica. “Espere. Lá é onde Roxy trabalha e ela está namorando...” “O irmão de Colton,” ela terminou. O redemoinho no meu estômago agora era por outro motivo. “Como você sabe isso?” Ela revirou os olhos. “Brock é um bom amigo deles e eu sou ótima em... escutar. Então, você quer ir? Eu vou me comportar e pedir uma Coca.” Eu atirei um olhar a ela. “Menina rebelde.” Jillian riu e eu tive de sorrir porque eu acho que nunca tinha ouvido ela rir. “Então?” Olhando para o relógio, eu vi que ainda estava cedo. Eu tinha planejado começar outro manuscrito que tinha recebido, mas eu não deveria estar tendo mais tempo para mim mesma? Além do amis, se eu ficassem em casa, tudo que eu iria fazer era ficar encarando meu celular, desejando coisas.
“Okay,” eu disse, me levantando. “Vamos lá.”
Já tinha se passado um ano desde que estive no Mona’s e, mesmo que o bar parecesse decadente, não era um lugar estranho. Jillian e eu fomos com nossos próprios carros já que ela morava na direção oposta, perto da cidade.
No momento em que vi Jax, eu me lembrei de quem ele era. Como eu poderia ter esquecido? Mesmo que ele fosse uns anos mais novo que eu, ele era o tipo de homem que passava a sensação que sabia como cuidar de tudo.
Ele estava atrás do bar quando fomos em direção a uma mesa. Desde que Jillian era menor de idade, ela não podia se sentar no bar. Jax tinha esse grande sorriso e risada, o que ele estregava livremente. Agora, ele estava rindo de algo que alguém havia dito do bar. Inclinando sua cabeça para trás e deixando escapar uma risada profunda e contagiante.
“Você só quer uma coca? Nada para comer?” eu perguntei. Jillian estava olhando para as cabeças abaixadas sobre a mesa de sinuca. “Nah. Uma Coca está bom.” Não haviam muitas pessoas no bar quando chegamos, então a menina atrás dele veio correndo para onde eu estava. Eu sabia quem ela era. Essa era Roxy – a namorada de Reece. Enquanto ela se aproximava, eu vi que ela tinha uma mexa colorida em seu cabelo castanho. Eu sempre quis ter essas cores estranhas no meu cabelo, mas eu não tinha o rosto nem a personalidade para usar.
Sua camiseta tinha a inscrição I’m like a self-cleaning oven19 , e logo abaixo um pequeno forno feliz. E abaixo dele, as palavras I’m self-sufficient, bitches20 .
Eu queria aquela camiseta.
“O que eu posso...” Os olhos castanhos de Roxy arregalaram atrás de seus óculos. “Hey, como você está?” Chocada que ela me reconheceu, eu divaguei por um momento. “Bem. Estou bem. Você?” “Ótima. Eu não te vejo a um bom tempo. Wow. Faz muito tempo.” Ela se inclinou contra o bar, sorrindo. “Eu nem tinha certeza se você ainda morava aqui perto.” A porta se abriu e um grupo entrou, indo em direção ao bar. “O que posso pegar para vocês?”
19 Eu sou como um forno auto-limpante 20 Eu sou independente, putas
“Apenas duas Cocas.” Eu pausei. “E o menu.” Roxy concordou. “Já trago.” Eu olhei para o outro lado da mesa. Jillian estava encarando seu celular, seus dedos voando a um quilometro por minuto.
“Eu vou dar a eles outro minuto e, se ele não sair, eu vou entrar.” Eu ouvi Jax falar enquanto ele dava a volta em Roxy, pegando outra garrafa de bebida.
“Resgate?” ela respondeu, suas sobrancelhas levantando enquanto ela colocava gelo em dois copos.
“Hmm,” ele gemeu, abrindo a tampa. “Eu não tenho ideia do que está acontecendo ali. Eu pensei que eles estavam juntos,” ela disse, colocando dois copos na minha frente. Ela pegou o menu enquanto olhava sobre seu ombro para Jax. “Ele precisa correr de qualquer forma. Reece já mandou uma mensagem perguntando onde seu irmão está.”
Meu coração parou. Eles estavam falando sobre Colton. Puta merda. Okay, havia essa pequena parte de mim que esperava que eles estivessem mesmo mas que também estava com medo do fato de que eles estivesse, porque isso significava que ele não estava trabalhando. E ele não tinha entrado em contato comigo.
E eu não tinha entrado em contato com ele também.
E não parecia que ele estava sozinho.
“Aqui está.” Roxy sorriu enquanto ela colocava o menu na minha frente. Eu entreguei o dinheiro, entorpecida, e tinha acabado de pegar os copos junto com o menu quando eu o vi.
Ele apareceu do outro lado do bar, e mesmo da onde eu estava eu pude ver que seu maxilar estava tenso. Meu coração começou a acelerar. Eu segurei os copos mais firme. Roxy disse algo, mas eu realmente não a ouvi.
Então eu vi ela.
A loira alta que eu já tinha visto com ele antes. Ela era linda assim como me lembrava. Cabelo brilhoso e liso, bem abaixo do seu ombro, e ela era magra. Como se eu pudesse machuca-la se sentasse no seu colo. Esse tipo de magra. O sangue foi drenado do meu rosto enquanto eu percebia quem essa mulher era. No meu coração eu sabia que era ela, sua ex-noiva.
Oh meu Deus.
“Eu estava ficando preocupado com você,” Jax disse, colocando a garrafa no lugar.
Colton olhou para ele, e seu olhar estava gélido quando passou por Jax e Roxy, terminando em mim. Ele parou. Literalmente parou de andar, freiando com tudo.
Nossos olhos se encontraram e eu nem consegui pensar. Não haviam pensamentos enquanto encarávamos um ao outro. Meu coração... parecia que ele tinha parado, assim como ele.
“Um,” Roxy murmurou. A mulher com Colton disse algo. Seus lábios se moveram, mas ele não reagiu. Não no começo, até que ele respondeu.
“Merda,” ele disse, se virando para a loira, que tinha colocado sua mão em seu braço. O toque era familiar, como se ela tivesse feito isso milhões de vezes antes.
Eu me virei, minha pele formigando enquanto eu levava as bebidas e o menu até a mesa. Eu os coloquei para baixo antes que deixasse eles caírem.
“Você está bem... oh meu Deus.” Os olhos de Jillian dobraram de tamanho.
Com meu estomago revirado, eu me senti nauseada, ficando quente então fria. “Eu acho...” balancei minha cabeça, minhas bochechas queimando. “Deus, me desculpe, mas eu realmente preciso ir.”
Jillian se levantou, seu rosto cheio de simpatia. “Oh meu Deus, me desculpe. Eu não achei que algo assim pudesse...” “Eu sei.” Um nó se formou em minha garganta e a dor em meu peito me disse que o que eu sentia por Colton não era apenas atração. “Odeio ter de fazer isso.” Pressionando meus lábios juntos, eu exalei pelo nariz. “Isso é tão vergonhoso.” “Tudo bem.” Ela apertou meu braço. “Vá. Apenas me ligue quando chegar, okay?” Concordando, eu me inclinei e beijei sua bochecha, pegando minha bolsa. Eu não ousei olhar para trás enquanto ia para porta, e eu sabia sem nem antes abri-las que eu estava sendo covarde.
Minha confiança era uma merda e eu era covarde. Ótimo. Uma combinação vencedora. Eu não lembrava muito do caminho até em casa enquanto eu entrava, tirando os sapatos e deixando eles perto da porta.
Depois de ter mandado uma mensagem para Jillian, eu me senti horrível. Eu não deveria ter fugido. Eu deveria ter ficado sentada ali e fingido que nada tinha acontecido. Jogando meu celular sobre o sofá, eu pressionei minha palma contra minha testa. Toda a coisa de ser idiota era um bom tema.
Mas Colton estava com a mesma loira bonita. A noiva – ex-noiva, e domingo ele tinha me beijado, me tocado, e me dito que eu era bonita e inteligente, e hoje a noite ele estava com ela?
Mas que porra?
Raiva surgiu, e eu peguei meu celular dentre as almofadas do sofá. Eu nem sabia o que eu iria fazer. Mandar mensagem? Ligar? Jogar meu celular? Todas pareciam opções possíveis.
Uma batida na porta me parou.
Eu me virei e, por um momento, não me movi. Apesar do fato deu ter acabado de ver Colton com ela, lá no fundo do meu peito a esperança
aumentou, e o quão idiota isso era? Eu duvidava que eles simplesmente tinham se esbarrado. Então, novamente, foi pura coincidência eu estar lá.
Eu não deveria ter ido embora.
A batida ressoou de novo e meu pé desgrudou do chão. Com meu celular em uma mão, eu abri a porta.
Tudo aconteceu tão rápido.
Uma sombra – uma pessoa – se jogou para dentro, batendo a porta contra a parede. Vi um vislumbre de uma mancha preta em seu bíceps. Um grito começou a se formar e quase saiu mas dor explodiu do lado da minha cabeça, me atordoando.
Eu cambaleei para o lado, meu celular deslizando dos meus dedos e caindo no chão. A porta bateu, fechada, e, um segundo depois, fiquei sem ar enquanto minhas costas batiam no chão. Meus pulmões doíam enquanto eu olhava para cima.
Era ele - o atirador.
Puta merda.
Ele tinha me dado uma coronhada? Havia algo quente e úmido escorrendo pelo meu pescoço. Todo o lado esquerdo da minha cabeça doía.
Uma fina camada de suor cobria sua testa enquanto ele pairava sobre mim, uma arma em sua mão. “Você tinha que abrir a boca, não?” Meu coração foi parar na minha garganta enquanto eu me arrastava para trás, minhas mãos deslizando pelas tábuas do piso. Um chinelo saiu enquanto eu chegava na borda do tapete.
Ele me seguiu. “Tudo que você tinha de fazer era manter a porra da sua boca fechada. Só isso. Agora Mickey está morto e o filho da puta do Vakhrov esta atrás de mim, tudo porque você não manteve a porra da boca fechada.”
Minha visão estava embaçada um pouco enquanto eu tentava lembrar que Mickey deveria ser o outro homem que eu vi com ele. “Eu... eu não identifiquei el...” “Cale a boca! Cale a porra da boca!” Ele gritou, seus dedos tremendo sobre o gatilho da arma que ele segurava. “Você vai me dizer que não disse porra nenhuma? Porque Mickey está morto e a porra da polícia apareceu na casa da minha mãe ontem.” Eu me trouxe até a parede, meu coração batendo tão forte que eu pensei que ficaria doente. Isso era mal, muito mal que eu nem conseguia processar o que estava acontecendo. A única coisa que eu sabia é que conseguia ver a morte em seus olhos.
Seus lábios se curvaram, assim como haviam feito antes dele ter atirado naquele homem. “Puta estúpida. Levante as mãos.” Engolindo forte, eu levantei minhas mãos tremulas enquanto meus pensamentos corriam. Eu não tinha ideia de como sair disso. Será que eu poderia argumentar com ele?
Seus olhos escuros tinham certo brilho e suas pupilas estavam dilatadas demais enquanto ele apontava a arma para mim. “Levante.” Quando não me movi, ele gritou. “Levanta, porra!” Okay. Eu estava levantando.
Devagar, eu me levantei, perdendo o outro chinelo no processo. “Nós podemos tentar resolver...” “Cale a boca.” Ele deu um passo para frente. “Que parte disso você não entendeu? Não tem nada...” Um som abafado de sirenes o silenciaram. Esperança cresceu em meu estômago. Será que alguém – um dos meus vizinhos – ouviu meu grito ou os dele?
Eu realmente precisava agradecer os meus vizinhos. Assar um bolo ou coisa do tipo. Se eu sobrevivesse a isso, claro.
Ele ouviu as sirenes e, em segundos, o som ficou mais alto, mais perto. “Merda. Porra. Puta que o pariu.” Meu olhar voou pelo cômodo, procurando por algum tipo de arma. A não ser que eu pudesse pegar um abajur antes dele atirar em mim, eu estava fodida, mas eu tinha de tentar algo. Pela janela da frente, eu conseguia ver as luzes vermelhas e azuis piscantes. A policia estava aqui e eu realmente duvidava que esse cara planejava sair andando daqui vivo ou, pelo menos, me deixar ir.
Gritos ecoaram na frente da casa e fiquei horrorizada quando reconheci a voz. Não. Não. Não.
Uma batida forte me fez pular, me fazendo ficar tonta. “Abby? Você está aí?” a voz ressoou pela porta fechada. “É Colton. Abra a porta.” Antes que eu pudesse abri minha boca, o cara se jogou para frente, batendo em mim. A parte de trás da minha cabeça bateu na parede. Sua mão voou para minha boca enquanto ficávamos cara-a-cara.
“Abby!” Colton gritou e a porta da frente vibrou enquanto ele, ou outra coisa, batia contra ela.
O cara tinha hálito de bebida e cigarros enquanto se pressionava contra mim. “Malditos policiais, policiais filhos da puta,” ele grunhiu, pressionando a ponta da arma contra a lateral da minha cabeça. “Diga uma palavra e eu vou estourar seus miolos agora.” Agora, eu estava embasbacada. E depois? Uma risada histérica subiu pela minha garganta. A batida na porta da frente não parou, mas eu não ouvi mais Colton. Como ele estava aqui? Se tivessem chamado a polícia não tinha como ele ter descoberto assim tão rápido. Não fazia sentido, mas nesse momento, não importava.
Se Colton de alguma forma passasse por aquela porta, eu sabia que esse homem iria atirar nele. Meu estomago revirou de medo.
“Nós vamos sair pela porta dos fundos, okay?” Ele disse. “E você vai ter certeza que eu saia daqui. Entendeu?” Apertando meus olhos fechados, eu concordei. Ele iria me usar como um tipo de escudo e eu sabia que no momento que ele pisasse do lado de fora, ele iria atirar em mim. Ou era aqui ou lá, onde ele tinha a chance de atirar em mais alguém – um vizinho, um dos policiais, ou Colton.
Eu não podia deixar isso acontecer.
Nunca.
Eu até posso ter a autoestima de uma preguiça mas eu não era covarde. Não. Eu sobrevivi à porta dos meus pais. Eu sobrevivi a New York. Eu sobrevivi a morte do meu marido. Eu sobrevivi.
Eu não era uma covarde.
Ele segurou meu ombro e me puxou para longe da parede. Com um empurrão bem colocado no centro das minhas costas, ele me guiou pela sala. Alguém estava gritando, de novo, na porta da frente mas não era Colton.
“Fique quieta,” ele ordenou e quando eu não me movi rapidamente, ele me empurrou de novo.
Eu cambaleei até a pequena sala de jantar. O impacto me fez esbarrar no vaso de cerâmica, jogando flores de plástico por todo o lugar. E o vaso rolou na minha direção.
“Movendo,” ele ordenou e novo. Meu olhar voou para o vaso. Estava ao meu alcance. Logo ali. Meu coração parecia desacelerar. Tudo pareceu desacelerar, na verdade.
“Porra.” Ele agarrou meu cabelo e jogou minha cabeça para trás com tudo. Meu pescoço doeu, me jogando de costas. “Mova sua bunda gorda...” Meu cérebro desligou enquanto eu pegava o vaso e me virava. O homem xingou e nivelou a arma novamente, mas eu podia ser rápida quando importava. A arma disparou logo quando eu bati com o vaso em sua cabeça. Houve um
barulho estranho e algo quente e molhado respingou em meu rosto. A arma disparou de novo, assim como madeira voou da porta dos fundos. Ela se abriu logo quando o atirador caiu no chão.
Colton correu para dentro, vestido com as mesmas roupas do bar, de jeans e uma camiseta velha. Ele tinha sua arma apontada e seu olhar azul brilhante absorveu a situação. Atrás dele, policiais uniformizados entraram.
Ele deu um passo para frente, mantendo sua arma apontada para o atirador. “Abby?” Eu ainda estava segurando o vaso ensanguentado quando disse. “Eu não sou covarde.”