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Capítulo Seis
Eu meio que fiz o que Colton pediu. Eu tinha entrado no mercado e esperado próximo a farmácia e, quando eu vi Reece, seu irmão mais novo, entrando pela porta, eu sabia que algo realmente ruim tinha acontecido.
Reece, um policial do condado, estava usando seu uniforme. Eu via bastante Reece ao redor da cidade e sabia que ele estava namorando sério uma das bartender do Mona’s, uma menina que tinha frequentado a mesma escola dele, mas sendo ele a aparecer tinha me feito congelar.
“Algo ruim aconteceu na sua casa,” ele disse e foi tudo que ele pôde
contar.
Ele deveria esperar comigo até Colton chegar da cidade, mas eu não iria aguentar isso. Como ele poderia me dizer que algo aconteceu na minha casa e esperar que eu fosse ficar por aqui? Era a minha casa. Depois de muita discussão e mais de uma pessoa olhando para gente desconfiado, Reece concordou – ou cedeu – me acompanhar até em casa.
As estrelas já preenchiam o céu quando saímos, enquanto Reece murmurava “Colton vai chutar minha bunda.” Uma olhada em Reece me disse que isso não ia acontecer. Yeah, Colton era mais alto uns poucos centímetros mas em quesito peso, Reece com certeza conseguia sobrepujar.
Em sua viatura, ele me guiou até uma pequena distância da minha casa. Minhas mãos doíam o tempo todo durante o caminho e, quando sai, eu queria chorar.
Mas não chorei.
Não quando eu sai do carro e vi dois policiais parados na minha porta. Eu não chorei quando eu vi a janela da frente quebrada. E agora, eu dei a volta
em Reece e entrei. Eu não podia deixar tudo que aconteceu nas ultimas vinte e quatro horas me afetar.
A TV, que costumava ficar perto da janela, estava derrubada, quebrada no meio do chão. Perto dela havia um bloco de cimento. Eu não tinha ideia de como alguém poderia jogar essa coisa pela janela.
“Nada mais parece ter sido danificado,” Reece disse quando eu olhei para ele. Suas mãos estavam contra seu cinto. “Mas nós vamos precisar dar uma olhada para garantir que nada tenha sido roubado.” Inalando, eu tentei processar o que estava vendo. Não tinha como isso estar relacionado com o que aconteceu ontem à noite ou o cara estranho do lado de fora do mercado, mas ainda era difícil de acreditar. Não por que eu estava ignorando a evidência que estava logo na minha cara.
“Ambos vizinhos não estavam em casa,” Reece explicou. “Ninguém mais ouviu nada. Quando sua vizinha da direita chegou e viu, ela imediatamente ligou para a polícia.” Eu precisava agradecer Betty, a mulher mais velha que ele deveria estar se referindo. Chegar em casa e ver isso, além de tudo mais, deve ter sido assustador.
“Você está bem, Abby?” Reece perguntou, se aproximando. “Eu sei que pode ser difícil lidar com o fato que alguém fez algo assim com a sua casa.” “Eu imagino que você vê muito disso, huh?” Eu entrelacei meus dedos juntos, esperando que o sangue voltasse para eles enquanto outro policial pegava o bloco de cimento usando luvas. Então algo me passou pela cabeça. “Como Colton sabia sobre isso?” Essa não era sua jurisdição. Reece viu o outro policial carregar o bloco para fora da casa. “Ele mencionou o que aconteceu ontem à noite quando eu o vi essa tarde – ele mencionou você.” Um meio sorriso apareceu, praticamente idêntico ao de Colton. “O que é estranho porque ele normalmente não fala sobre as testemunhas ou sobre o fato que ele compartilhou crepes com uma essa manhã.”
Minhas mãos travaram e meus olhos arregalaram.
“Eu fui o segundo policial a responder a chamada,” Reece continuou, seu sorriso sumindo. “Quando sua vizinha disse seu nome, eu liguei para Colton.” Isso era permitido? Eu não sabia. Saindo do estupor, eu andei até a poltrona e me sentei, exalando. Durante os anos, desde a morte de Kevin, eu tinha aprendido a lidar com as coisas. Noite passada, eu tinha me deixado ter uma pequena crise. Era compreensível. Eu tinha testemunhado um assassinato. Se você vai surtar sobre algo, isso provavelmente está no topo da lista de coisas permitidas. Mas eu precisava me recompor. Eu não era nenhuma fracote, muito menos histérica.
O policial que respondeu a chamada entrou e eu respondi todas suas perguntas. Quando eu tinha saído da casa? Onde eu estava? Quando eu disse a ele sobre ter parado no mercado e sobre toda a coisa com a van, Reece entrou em ação.
“Por que você não disse nada no mercado?” ele exigiu, seus olhos ficando mais afiados enquanto ele pegava seu celular.
“Um, eu meio que estava distraída pela ordem de não poder voltar para casa,” eu disse. “Mas estou contando agora.” Reece abriu sua boca mas pareceu repensar o que ia dizer. “Eu já volto.” Saindo, eu o vi erguer seu celular. Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou antes deu levantar e fazer o que Reece havia sugerido. Eu olhei todos os lugares, focando no meu escritório e em meu quarto. Nada de valor estava sumido, o que eu disse a Reece quando ele apareceu em meu quarto.
Eu sabia que o que esse bloco sendo atirado pela janela era.
Uma mensagem.
Enquanto eu me erguia em frente a minha caixa de joias, eu tremi. A mensagem foi recebida, mas isso não significava que eu iria escutar. Eu já tinha dito a um policial e a Reece, e eu iria dizer a Colton.
“Abby?” uma voz grave soou no andar de baixo. “Reece?” Eu me virei ao ouvir a voz de Colton, junto à resposta de Reece. “Estamos aqui em cima.” Uns segundos depois, Colton apareceu na porta. Ele tinha trocado suas roupas desde hoje de manhã, usando outra polo da polícia. Seus olhos azuis voaram para mim enquanto ele entrava em meu quarto.
“Você está bem?” ele perguntou. “Ela está bem,” Reece respondeu, revirando os olhos quando Colton atirou um olhar a ele.
“Estou bem,” eu insisti, passando minhas mãos em minha saia. “Eu estou apenas chocada.” Colton percorreu o quarto e, um segundo depois, estava parado na minha frente. Uma mão em meu pescoço, de um jeito familiar e confortante. A outra mão em meu ombro. Nossos olhares se encontraram e meus lábios se afastaram.
“O homem na loja, ele não te machucou nem nada?” ele perguntou, seu olhar intenso no meu.
“Não,” eu sussurrei, tensa. “Ele só me disse que eu... eu precisava manter minha boca fechada. Que era melhor que eu não identificasse ninguém que vi ontem. E então, ele disse que eu iria entender logo o quão séria essa mensagem era.” Um músculo pulsou no maxilar de Colton enquanto seu olhar percorria meu rosto. “Por que você não me ligou?”
“Eu ia ligar. Eu estava pegando o celular para te ligar, mas você me ligou antes. Eu fiquei tão surpresa com o que estava acontecendo que me foquei nisso,” expliquei. A mão que estava em meu pescoço o apertou mais. Não era um movimento restritivo ou ameaçador. Era estranhamente gentil. Intimo. Muito mais do que ele tinha que fazer, como um membro da força policial, me confortar assim.
Esse momento, o que quer que estivesse acontecendo entre nós, se prolongou. Havia algo ali, uma faísca. Como tocar em um fio. Ele inalou audivelmente. Seus dedos se abriram em meu ombro e havia essa necessidade de acabar com a distância entre nós, pressionar meu corpo contra o dele, que me surpreendeu. Sem pensar, eu dei um passo para frente.
Reece limpou sua garganta.
Corando, eu parei de olhar para os olhos intensos de Colton. Um calafrio começou no lugar onde sua mão estava enquanto ele a abaixava.
“Eu preciso que você me diga exatamente o que aconteceu no mercado.” Colton disse depois de um momento, sua voz mais pesada que o normal.
E eu fiz exatamente isso.
Era estranho ter tanto Colton quanto Reece no meu quarto. A presença deles me fez sentir muito menor do que eu era. Qualquer outra hora eu ficaria surpresa por ter dois homens extraordinariamente lindos, e que também eram policiais, na minha frente, mas eu estava muito absorvida em tudo.
O assassinato ontem.
Colton aparecendo essa manhã.
O cara estranho da van.
Propriedade vandalizada.
E agora o jeito que Colton tinha aparecido e... e aquela faísca? Minha pele ainda estava formigando.
Isso tudo em vinte e quatro horas. Era insano. Minha vida costumava ser entediante.
Quando terminei de responder as perguntas de Colton, era apenas nós na casa. Reece tinha ido embora um tempo antes depois do outro policial para atender outra ocorrência, e já eram quase dez da noite.
Colton tinha ido ao andar de baixo para fazer algumas ligações e eu estava prestes a seguir ele. Uma brisa morna levantou as cortinas na frente da janela quebrada e eu percorri o chão com meu olhar. O vidro já era. A TV também estava perdida, quebrada e inutilizável.
Descendo as escadas, eu olhei para a cozinha a tempo de ver Colton colocar o vidro na lata de lixo. Ele ainda estava no telefone.
“Foi isso que pensei,” eu ouvi ele dizendo enquanto colocava a pá no chão. “Você sabe como ele opera. Todos nós sabemos como ele opera.” Houve uma pausa enquanto ele se virava. Seus olhos encontraram os meus. “Yeah,” ele disse no telefone. “Eu entro em contato.” Voltando a consciência, eu olhei para a janela e de volta para ele enquanto estava de pé perto da escada. “Obrigada por limpar. Não precisava ter feito isso.” Ele colocou seu telefone no balcão enquanto olhava para mim. Minha pele começou a formigar. “Você tem algo para cobrir sua janela essa noite? Amanhã eu posso ir à loja de ferragens e pegar umas tábuas para cobrir até que alguém venha trocá-la.” Será que eu cai e bati a cabeça? “Você não tem que fazer isso. Obrigada, mas...” “Eu sei que não tenho. Eu quero fazer.” Com suas longas passadas, não levou esforço nenhum para que ele estivesse logo na minha frente. “Estou de folga amanhã e eu tenho tempo a não ser que seja chamado.”
Eu inclinei minha cabeça para trás para encontrar seu olhar enquanto eu considerava se devia ou não aceitar sua ajuda. Parecia bobeira não aceitar, mas era muito para ele fazer por... por mim. “Eu não quero que você saia do seu caminho, Colton.” Um lado de seus lábios curvou para cima. “Eu não ligo de sair do meu caminho por você.” Ele colocou sua mão no corrimão da escada acima de mim. “Nem um pouco.” Aquela borboleta carnívora que apareceu no meu estomago essa manhã estava de volta, dançando no meu estomago.
“Deixe-me te ajudar com isso,” ele disse gentilmente.
Eu inalei profundamente. “Okay.” Seu sorriso ficou maior enquanto ele tirava a mão do corrimão e pegava uma mecha do meu cabelo, colocando ela atrás da minha orelha. “Agora, isso não foi tão difícil, foi?” Eu nem mesmo entendi o porquê.
“Você tem uma lona que eu possa usar para cobrir a janela?” ele perguntou.
“Tem uma no barracão aos fundos. Já estava lá quando me mudei então não sei em quais condições ela está.” “Eu vou dar uma olhada.” Ele começou a se virar, mas parou. Colocando a ponta de seus dedos sob meu queixo, ele inclinou minha cabeça para trás. Nessa hora, havia uma boa chance do meu coração ter parado. “Posso te perguntar uma coisa?” Naquele momento ele poderia me perguntar o que quisesse. “Claro.” A covinha apareceu em sua bochecha esquerda e, então, ele mordeu seu lábio inferior. Algo sobre isso mexeu com meu interior. Eu queria ser aquele dente. Ou o lábio. Inferno. Eu toparia ser qualquer coisa.
“Você acredita em segundas chances?” ele perguntou.
Essa não era a pergunta que eu estava esperando, mas minha resposta foi imediata, assim como era verdadeira, algo que eu realmente acreditada no fundo de mim. “Sim.” “Bom.” Seus dedos saíram do meu queixo e seu dedão acariciou a pele embaixo dos meus lábios. “Eu também.”