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Capítulo Vinte

Em algum momento Nick havia se levantado e ido até a cozinha, completamente nu e totalmente confortável com isso. Ele voltou com dois copos d’agua, deslizou as luzes e se juntou a mim.

Enrolada contra ele, de lado e com o lençol sobre nós, eu estava totalmente no clima de me aconchegar. E eu também estava... absolutamente contente. Apesar de que aconchegar era algo totalmente novo para mim, tudo sobre isso parecia certo, como se estivéssemos fazendo isso por anos. Esse sentimento era meio estranho, mas eu não tinha vergonha disso. Eu meio que queria me enrolar nisso.

Trilhando a fina linha de pelos abaixo do seu umbigo, eu sorri. “Obrigada.” “Eu sinto como se eu precisasse te agradecer, mas estou curioso.” Seus dedos estavam acariciando a região das minhas costelas. “Por que está me agradecendo?” Meu sorriso ficou maior. “Por vir aqui. Você não precisava fazer isso. Você poderia ter esperado. Foi fofo.” “Eu sou um cara fofo, mas não conte a ninguém. Eu tenho uma reputação a manter.” Eu ri mais um pouco. “Vai ser nosso segredo.” Nick se virou para que minha bochecha estivesse sobre seu braço e para que estivéssemos de frente um para o outro. Sua mão viajou da minha cintura para baixo em meu estomago. “Você está ansiosa para a consulta ao médico?”

No escuro, eu conseguia ver só um pouco de suas feições, mas ele estava sorrindo. “Estou. Também estou um pouco nervosa porque eu não sei o que realmente esperar,” admiti.

né?” Sua mão estava inteira em meu estomago. “Às vezes não parece real,

Meu coração cambaleou. “Não. E isso é loucura, huh?” “Provavelmente é normal. Eu acho que depois de ir ao médico, a realidade vai cair,” ele disse. “Como sua mãe está lidando com tudo?” Eu coloquei minha mão sobre a dele, gostando da sensação. “Ela está me apoiando. Tenho sorte. Triste ela não morar aqui porque tenho certeza que teríamos uma babá a disposição.” Eu pausei enquanto milhares de perguntas sobre sua família ressurgiam. Agora era um bom momento para começar a perguntar. “Você não fala muito sobre sua família. Eu me lembro que disse que sua mãe morreu. Posso perguntar como?” Nick não respondeu por um longo momento e eu prendi a respiração, esperando. Se ele realmente quisesse fazer isso funcionar, ele teria de se abrir. Assim como eu. Esse era um momento importante para nós, definitivamente mais do que já havíamos compartilhado.

“Minha mãe morreu quando eu tinha acabado de começar o colegial,” ele disse eu perdi o folego. “Ela morreu de um coração partido. E, yeah, eu sei o quão estupido isso parece, mas depois que meu pai morreu, ela simplesmente desistiu.” Meu peito apertou e eu imaginei que seu pai não estava mais presente desde que Nick já havia dito que sua família não estava por perto, mas eu não tinha assumido que ele havia morrido. Colocando minha mão sobre a sua, eu a afastei do meu estomago e a trouxe contra meu peito.

“Ela mal comia,” ele continuou. “Não cuidava de si. Parou de sair e, basicamente, parou tudo. Meu avô – seu pai tentou conseguir ajuda para ela, antes que adoecesse. Ele a colocou na terapia, mas ela não tomava nenhum

dos medicamentos prescritos. Ela simplesmente não ligava, não pode lidar viver sem meu pai. Isso levou anos.” Sua mão apertou em volta da minha. “Eu estava no colégio. Era de manhã e meu avô tinha vindo me buscar. Depois que meu pai morreu, nós nos mudamos para morar com ele. Ele tinha saído naquela manhã para ir ao mercado e voltou para encontrá-la morta em sua cama.”

“Me desculpe,” eu sussurrei.

Ele levantou nossas mãos e beijou a parte de trás da minha. Então exalou. “Não tenho certeza que você vai querer saber sobre meu pai.” “Eu quero.” Nossas mãos foram para o espaço entre nossos peitos. Alguns momentos passaram antes dele falar. “Meu pai se matou.” Meus olhos arregalaram em choque. Eu não estava esperando por isso. Nem um pouco.

“Minha família não tem a melhor sorte, huh? Meu avô tem Alzheimer. Minha mãe desistiu e meu pai tirou sua própria vida.” Ele virou sua cabeça para que estivesse olhando para o teto. “Meu avô – Job – era um empresário de sucesso. Assim como seu pai. Eles entraram no ramo de construção por aqui a muito tempo e eles eram bom nisso – ótimos nisso. Metade das casas por aqui foram ou construídas por eles ou por alguém que trabalhava para eles. Quando minha mãe conheceu meu pai e eles se casaram, ele começou a trabalhar para Job e, eventualmente, meu pai assumiu o negócio e as coisas começaram bem. Quero dizer, eu era apenas uma criança e eu não lembro muito, mas meus pais eram felizes. Nós vivíamos uma boa... vida. Isso é tudo que lembro.” “O que aconteceu?” eu perguntei. O peito de Nick levantou e abaixou com uma respiração profunda. “A empresa do meu pai estava construindo essa casa enquanto terminavam outra. O lugar era bem grande e mesmo sendo uma empresa grande, eles

estavam apertados, mas ele não podia largar o trabalho nem dispensar o dinheiro. Os funcionários normais que eles trabalhavam estavam ocupados em outra casa, então ele contratou umas pessoas novas. Um deles era um eletricista. Meu pai pensou que eles eram bons. Você sabe? Eu não acho que ele tinha motivos para duvidar do trabalho que eles estavam fazendo. Mas ele estava errado.”

Sua mão soltou a minha, mas eu me recusei deixar ele tirá-la. Outro momento se passou. “O eletricista que ele contratou desapareceu depois que a casa foi terminada. O que era comum. As pessoas se mudavam muito. Sem problemas. Não no começo.” Meu instinto estava me dizendo que algo realmente ruim estava por vir e que ouvir isso seria doloroso.

“Viemos a descobrir que o eletricista tomou alguns atalhos. Você ficaria surpresa o quão comum isso é. Normalmente não vira nada grande, mas esse cara... ele fodeu tudo. A fiação era ruim – bem ruim – e isso fez a casa pegar fogo.” Nick engoliu e eu pude sentir a tensão crescendo nele. “A família que pediu a construção estava na casa quando ela pegou fogo. Os pais. Três crianças. Duas delas morreram no acidente.” Fechei meus olhos. “Oh Deus...”

“Meu pai tinha seguro – seguro contra acidentes. Desde que o eletricista não estava por perto, tudo caiu em cima dele. Não que isso não fosse acontecer assim. Foi sua empresa que construiu a casa. Era sua responsabilidade ter certeza que ela foi feita corretamente. A família entrou com um processo. Era direito deles. Eles levaram tudo com exceção do que meu avô tinha. Ele era bem esperto com dinheiro – com o negócio. Ele separou o dinheiro que ele economizou durante os anos com o da empresa antes de entrega-la ao meu pai, mas não foi o dinheiro que o atingiu. Pelo menos, eu não acho que foi. Não pelo que me lembro.” Sua voz ficou mais pesada, mais rouca. “Saber que ele foi responsável pelo que aconteceu com aquela família o consumiu. Eu lembro vagamente dele sentado de noite, na

sala. Como se nem mesmo estivesse ali. Por volta de um ano e meio depois do incêndio, ele se enforcou. Minha mãe o encontrou.” “Deus.” Eu me aproximei, pressionando meu corpo contra o dele. Agora, muitas coisas sobre Nick começavam a fazer sentido. “Me desculpe. Sei que essas palavras são bobas, mas me desculpe.” “Essas palavras não são bobas. Elas significam algo.” Ele virou sua cabeça para mim. “Tem uma coisa a mais... e você provavelmente vai achar que é estranho.” “Duvido,” prometi. “Não. É bem estranho. Reece é um dos poucos que sabe e eu sei muito bem que ele nem mesmo contou a Roxy. Eu nem sei porque estou prestes a te dizer.” Agora eu estava curiosa. Eu não conseguia entender que coisa estranha Reece poderia saber e ter de manter para si, nem mesmo contar a Roxy. “Okay,” eu disse, procurando seu olhar na escuridão. “Mesmo se eu pensar que é estranho, não significa que vou te expulsar da cama.” Ele balançou sua cabeça. “Bem, espero que não. Seria estranho considerando que estamos nus.” Eu sorri apesar do teor da conversa. “Me conte.” Ele apertou um pouco minha mão. “Você não sabe muito sobre a Calla, sabe?” Meus ouvidos ficaram aguçados. Eu não era uma detetive, mas minha mente correu diretamente para o que Roxy havia dito sobre o comportamento do Nick ao redor dela e no que eu já havia testemunhado. “Não realmente. Eu só sei que ela sai com Teresa quando está em Shepherd.” “Mas você... você notou a cicatriz em seu rosto, não?” Eu franzi o cenho. “Yeah?”

Nick inalou profundamente de novo. “Ela conseguiu aquela cicatriz em um incêndio. As janelas explodiram ou coisa do tipo. A atingiu no rosto. Ela é uma das crianças que sobreviveu na casa que meu pai trabalhou. Foram seus irmãos que morreram. E isso não é tudo. Seus pais originalmente eram os donos do Mona’s.”

Segundos se passaram eu não fazia ideia do que dizer. Eu estava chocada. “Calla não sabe isso?”

“Não. E, provavelmente, isso nem teria passado por sua cabeça. O sobrenome do meu pai era Novak, mas quando ele morreu, minha mãe voltou a assumir o nome de solteira – Blanco. E eu nunca disse a ela. Como eu contaria isso para ela? Sabe? Quando ela entrou pela primeira vez no bar, meu coração praticamente parou. Veja, ninguém esperava que ela voltasse para cá. Depois do incêndio, seu pai a deixou e sua mãe acabou cuidando do bar sozinha, mas isso foi por água abaixo – ela se envolveu com drogas e virou uma péssima mãe. Ela não conseguiu lidar com a perda dos seus meninos,” ele disse, encarando o teto de novo. “Eu terminei encontrando a Mona – esse é o nome da mãe dela – a uns anos atrás. Ela sabia quem eu era. Disse que eu era a cara do meu pai. Foi um dos raros momentos quando ela não estava sob efeito de alguma coisa. De qualquer modo, eu estava começando a cuidar do meu pai, tinha acabado de sair do colegial e mona sabia o que estava acontecendo com o Job. Ela me ofereceu um trabalho. Foi estranho. Eu nem precisava do dinheiro. Não de verdade. Job tinha mais que o suficiente guardado para cuidar de mim e de si, mas foi... foi uma chance. Sabe?” “Para fugir? Eu entendo.” Ele concordou. “Então comecei a trabalhar no Mona’s, antes do Jax aparecer, e quando ele chegou, ele meio que assumiu tudo. Toda a situação que envolvia Mona e o bar estava uma bagunça, mas acho que de um jeito, trabalhando lá para ela, eu meio que...” “Se sentiu melhor pelo que aconteceu?” Quando ele não falou, eu apertei sua mão. “Nick, você sabe que nada que aconteceu foi culpa sua,

certo? E parece que mesmo que seu pai tenha sido o responsável legalmente, ele... ele também foi uma vitima.”

“Me levou muito tempo para perceber isso,” ele disse depois de uns minutos. “Eu nem mesmo sei porque minha cabeça estava confusa assim.. Acho que era apenas novo e burro. De qualquer jeito, como disse, eu nem esperava ver Calla.” “Você acha que um dia vai contar a ela?” “Eu não sei. Provavelmente faria sentido se eu tivesse dito quando ela apareceu. Agora, simplesmente é estranho.” “Não é estranho,” eu disse a ele e, então, ele voltou a olhar para mim e eu não precisei olhar de volta para saber que seu rosto estava cheio de duvidas. “Okay. É um pouco estranho, mas em entendo o motivo pelo qual você não contou. Eu não a conheço muito, mas ela não parece como alguém que iria esfregar uma coisa desse tipo na sua cara.” “Mas o quão ruim seria para ela perceber que está trabalhando ao lado do filho do homem que é praticamente responsável por sua vida ter sido destruída? Não deve ser fácil.” Sua voz estava mais baixa. “Eu só... eu não quero bagunçar ela mais.” Oh Deus, ouvir isso doía e havia algo nessas palavras que me fez pensar no que ele tinha dito antes sobre relacionamentos. Era por isso que ele era tão contra? Porque, de algum modo, ele achava que não merecia por causa do seu pai e da casa que pegou fogo? Parecia uma desculpa esfarrapada, mas o fato de Nick achar que trabalhar no Mona’s era um modo de amenizar tudo, isso me preocupava.

“Você esteve em um relacionamento sério uma vez, não?” Eu perguntei.

“Yeah.”

Eu inalei profundamente. “O que aconteceu?”

“Foi uma menina que estava namorando na faculdade. Nós estávamos mesmo juntos e, por um tempo, eu pensei que... que seria para sempre.” Um ciúme irracional cresceu em mim. A intensidade me surpreendeu e eu meio que queria bater em mim mesma. Como eu podia sentir ciúmes de uma menina que nem mais estava por perto? Espere. Oh meu Deus. E se ele ainda estivesse apaixonado por ela? Meu estômago caiu.

“De qualquer modo,” ele continuou, aliviando meu surto interno. “Quando meu avô adoeceu e tudo começou a acontecer, as coisas entre nós ficaram complicadas. Eu não acho que ela pode lidar com tudo que eu precisava fazer. No começo eu não a via muito, já que estava cuidando dele. Nós nos afastamos e um dia simplesmente acabou. Foi uma merda, mas porra, se ela não podia lidar com meu avô estando doente e eu cuidando dele, o que ela teria feito se fosse eu o doente?”

“Que babaca,” eu retruquei. Nick riu enquanto soltava minha mão e passava seu braço em volta da minha cintura. “E você? Não esteve em nenhum relacionamento sério desde o colegial?” “Eu nem sei se posso dizer que aquele relacionamento foi realmente sério,” eu admiti. Sua mão acariciou minha lateral. “Então qual o problema? Não acredita no amor?”

A pergunta me pegou de guarda baixa. “Eu acredito no amor. Eu só... eu nunca estive apaixonada. Não como meus pais. Eles se amavam. Quero dizer, cada vez que você os via juntos, ouvia eles falando um com o outro, mesmo que estivessem bravos, você podia ouvir o amor em suas vozes. Esse é o tipo de amor que quero. Eu não aceito nada menos.” “Hmm...” sua mão se moveu para parte de trás do meu quadril. “Você está conjugando os verbos no passado aqui, Stephanie.”

Meu nome – eu realmente gostava quando ele dizia meu nome.

“Meu pai estava na Marinha,” eu disse, e eu me senti estranha por dizer em voz alta por ser algo que não falava muito. “E ele estava muito tempo fora do país. Quando tinha quinze anos, ele estava em casa durante o verão e isso foi ótimo. Então ele foi embora. Ele nunca mais voltou.”

Nick não falou enquanto levantava sua cabeça e colocava um beijo leve, casto, em minha testa. Eu engoli forte, mas aquele nó estava de volta, preso em minha garganta. “Ele levou um tiro e eu me lembro de estar sentada nas escadas quando dois policiais disseram a minha mãe que foi algo rápido, que ele não sofreu. E eu também me lembro de ter pensado como isso iria ajudar em qualquer coisa? Agora eu entendo. Eu fico feliz por ele não ter sofrido, mas com quinze anos eu só... isso não deixava a perda mais fácil.” “Desculpe-me,” ele disse com a voz baixa e, então, beijou minha testa de novo. “Eu obviamente não conheci seu pai, mas o fato que ele estava lá, dando sua vida pelo resto de nós, significa que era um bom homem.” “Ele realmente era,” eu sussurrei, sorrindo tristemente. “Minha mãe nunca casou de novo ou namorou a sério. EU não acho que um dia ela vá. Até hoje ela usa suas dog tags18. Apenas a tira para tomar banho. Não importa o que esteja usando.” Eu engoli de novo, limpando minha garganta. “Yeah, então é isso.”

Ele levantou sua mão do meu quadril e levemente penteou meu cabelo para afasta-lo do meu rosto. Sua mão parou em minha bochecha. “É o seu pai nessa foto na prateleira?” Fiquei surpresa. “Você viu?” “Yeah, quando levantei para pegar agua. Eu sou bastante observador.”

“Wow,” murmurei.

18 Placas de identificação usadas por militares.

“Mas também pode ser culpa de eu ter percebido essa foto de biquíni antes,” ele admitiu, rindo. “Quero dizer, vamos lá, quem não perceberia isso?”

“Wow,” repeti. “De algum modo acho que seu segundo wow soou menos impressionado.” Eu ri de novo e, enquanto a seriedade da conversa fosse quase como uma pessoa a mais no quarto, eu senti meus lábios se curvando em um grande sorriso. “Você não pode ficar a noite toda, pode?” “Eu queria poder. Preciso ir por volta das três,” ele disse, sua mão se movendo para baixo, em volta do meu quadril. Ele apertou. “Eu não gosto de deixar Kira até tarde quando ela precisa voltar para casa.” “Entendível.” Eu pausei, sabendo que tínhamos apenas algumas poucas horas restantes. “Está com fome ou coisa do tipo?” perguntei. “Não. Você?”

Balancei minha cabeça e fiquei feliz que não iríamos sair da cama agora. Eu queria me afogar nesses poucos momentos com ele antes que tivesse de ir. Senti-me bem por estar tendo essa conversa com ele. Não era apenas mais vislumbres da superfície. Isso era... isso era real, e estávamos indo profundamente, além das camadas iniciais.

De repente, Nick se moveu.

Eu dei um gritinho quando ele tirou as cobertas de nós e o ar gelado passou sobre minha pele, mandando um arrepio. Seu corpo rapidamente substituiu a fonte de calor e eu não estava reclamando disso quando ele começou a beijar meu pescoço.

“Pensando melhor nisso,” ele disse, aqueles seus lábios viajando pela minha garganta. “Eu estou com fome. Quero café da manhã.”

“Café da manhã?” Eu perguntei enquanto seus lábios passavam pelo inchaço dos meus seios. Quando sua língua foi envolvida, eu entendi bem o que ele quis dizer. Jogando minha cabeça para trás, eu ri alto, e a risada rapidamente se transformou em gemidos, mas o sorriso...

Aquele sorriso não saiu do meu rosto.

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