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Capítulo Vinte e Quatro

Eu era uma medrosa.

Eu não conversei com ele sobre minhas preocupações em reação a nós no domingo à noite, mesmo que tivesse sido a oportunidade perfeita. Mas eu não conseguia parar de sentir como alguém que não estava sendo grata o suficiente por tudo que estava acontecendo ou que estava sendo egoísta por querer transformar isso em mais que algo sobre o bebê, e Deus, mesmo isso soava como uma bagunça.

Talvez essa fosse a razão do porque eu não tinha me apaixonado antes, porque, enquanto dirigia até a casa de Nick na tarde de quinta, eu estava convencida que quando se tratava de amar, eu era neurótica.

Eu ficava muito com o pé atrás. Em cada ligação ou mensagem dele era como se não estivéssemos fazendo coisas como os outros casais normais faziam. Eu queria me bater.

Eu também precisava parar de ficar comendo tudo que via pela frente porque eu tinha certeza que o motivo da cintura do meu jeans estar apertado tinha nada a ver com o bebê. Com quase onze semanas, minha semente de laranja era do tamanho de um limão, e além de me fazer querer arrotar a cada cinco segundos, eu duvidava que ele fosse o motivo dos 5 quilos a mais que eu carregava.

No farol, eu olhei para os sacos de compras no banco do passageiro e sorri. Eu iria começar a controlar o que fosse comer, depois de ter meus hambúrgueres e minhas babatas em formato cilíndrico.

Seguindo as direções em meu celular, eu achei facilmente a casa do avô de Nick. Era do outro lado de Plymouth, longe da cidade e dos arredores. No subúrbio. O comercio ficou cada vez mais escasso, as divisões tinham mais espaço entre as casas e, quando as direções indicavam que eu virasse à

esquerda a cem metros, eu descobri que estava entrando em uma área privada – indo para uma casa, não uma rua.

Eu não sabia o que esperar quando se tratava da casa do seu avô enquanto dirigia pelo terreno. Talvez algo velho? Uma fazenda talvez? Mas as árvores começaram a abrir espaço para uma entrada meticulosa, me deixando surpresa por estar encarando uma casa novinha.

Diminuindo a velocidade, eu estacionei na frente da garagem dupla e desliguei o motor. A casa tinha dois andares, no estilo colonial, com uma varanda gigante na frente que parecia ir até o outro lado. Era a varanda perfeita para verões, eu pensei, ou para um bebê brincar.

Minha barriga revirou feliz, ao pensar nisso.

Pegando as sacolas, sai do carro e fechei a porta atrás de mim. O sol estava escondido por nuvens grossas e, enquanto eu andava pelo caminho de pedras, havia um vento gelado de neve no ar. Quando eu pisei na varanda, eu vi o balanço de madeira e sorri.

Deus, essa era realmente a varanda perfeita.

Nick abriu a porta da frente antes que pudesse bater e, por um momento, eu meio que fiquei embasbacada. Ele estava parado na porta de jeans. Só isso. Jeans que estava tão baixo, revelando o maldito V em seu estomago. Seu cabelo molhado, enrolado contra sua testa e pescoço.

“Hey,” ele disse, sorrindo. “Estou atrasado. Acabei de sair do banho.” Isso era certeza. Uma gota de agua fez uma linha por seu ombro antes de deslizar pelo seu peito.

Meus batimentos aceleraram.

Oh Deus, eu queria pular nele. Largar a carne do hambúrguer e tudo mais e só pular nele, ali mesmo, na entrada da casa do seu avô.

Suas sobrancelhas escuras levantaram. “Você vai entrar?”

Eu precisava me controlar.

“Claro,” limpei minha garganta, entrei e, já que não seria apropriado pular nele, eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em seus lábios.

Nick colocou um braço em minha cintura, me puxando contra seu peito molhado antes que eu tivesse chance de me afastar. Eu quase deixei cair as compras quando ele levou o beijo a um nível diferente. Ele tinha um gosto mentolado e de muitas outras promessas que eu gostaria de realizar. Exatamente ali.

“Toda vez,” ele disse contra minha boca. Eu precisei recuperar meu fôlego. “O que?” “Cada vez que eu vejo você, eu quero fazer isso.” Seu nariz passou sobre o meu enquanto ele inclinava sua cabeça, me beijando de novo. “Eu quero que a primeira coisa que você faça é me beijar. Quero esse tipo de cumprimento.” Oh Deus.

Meu coração inchou tão rápido e tão forte que quando ele me colocou de volta em pé e dei um passo para trás, eu pude sentir lágrimas se formando no fundo da minha garganta. “Posso fazer isso,” eu disse mesmo quando o que realmente queria dizer era Oh meu Deus, é lógico que eu vou fazer isso toda santa vez. Virando-me, me dei tempo para me recuperar e absorver meu arredor.

A casa foi construída com o conceito de espaços abertos. Da onde eu estava, eu podia ver a grande sala e cozinha, na direita, com uma sala de jantar. Havia essa porta fechada que eu imaginava ser o banheiro. Na minha esquerda tinha uma sala de estudos e outra porta fechada. As escadas que levavam para o segundo andar estavam exatamente na nossa frente. O piso de madeira cobria tudo que eu conseguia ver.

“Tudo é tão... arrumado,” eu disse enquanto Nick pegava as sacolas.

Ele riu. “O que você estava esperando?” Dei de combros. “Não sei.” Eu o segui para a cozinha no estilo country – armários brancos, granito cinza por todo lado. “Esse lugar é mais arrumado que meu apartamento.” “Isso é totalmente verdade.”

Rindo, eu bati em seu braço enquanto ele colocava as compras no balcão. “Hey!” Ele sorriu enquanto pegava o pacote de hambúrgueres e os colocava no congelador. Quando ele puxou o tater tots, ele balançou a cabeça. “Você é uma criança.” “Cale a boca.” Eu me apoiei contra a ilha da cozinha enquanto ele colocava os tots no congelador. A casa estava tão silenciosa que me deu vontade de sussurrar. “Seu avô está acordado?”

“Normalmente ele dorme essa hora.”

“Oh.” Bati a mão contra minha boca. “Desculpa por estar fazendo barulho.”

“Tudo bem.” Ele contornou a ilha e pegou minha mão. “Quando ele dorme, é um sono bem profundo. Um caminhão poderia atravessar a garagem e ele ainda estaria dormindo. E ele está dormindo bastante hoje.” “Isso é uma coisa boa ou ruim? Dormir muito?” “É... nenhum dos dois.” Ele pegou minha mão. “Venha.” Nick me levou de volta para a sala, passando a sala de estudos, até a porta fechada. Quando ele a abriu, eu me senti como uma adolescente de novo, esgueirando para o quarto do meu namorado para que não chamasse a atenção dos seus pais para o que estávamos prestes a fazer.

“Seu avô construiu essa casa?” Eu perguntei.

“Yep.” Ele abriu a porta, revelando um grande quarto. “Ele sempre planejou que, em algum momento, mais de uma geração da sua família estaria vivendo aqui, então tem três suítes. Essa é uma delas. Tem uma porta para entrar direto. E tem um banheiro.” Ele apontou para as duas portas na nossa direita. “Não posso reclamar. Muito espaço bom.” “Whoa.” Eu olhei ao redor, vendo um pouco mais de Nick. Uma camiseta preta estava sobre a cama. Um par de boras na frente de uma penteadeira de madeira escura. Uma pilha de revistas em uma das cabeceiras. “É bem agradável. E ainda tem outras duas suítes?” “Uma é no andar de baixo, no porão. É praticamente como um apartamento – cozinha, sala e tudo mais.” Ele se moveu, pegando uma mecha do meu cabelo e o colocando atrás da minha orelha. “A outra é no andar de cima. Uma mais tradicional, eu acho. É o quarto do meu avô.” Me virei em sua direção, sorrindo enquanto levantava meu queixo. “Seu avô construiu uma casa linda.”

Sorrindo, ele deu um passo para trás. “Você nem viu o banheiro.” Se virando, ele parou na frente de uma das portas duplas e a abriu.

Nick deu um passo para o lado enquanto eu espiava. Minha boca caiu aberta e meus olhos ficaram arregalados. “Wow...” O banheiro era do tamanho do meu quarto. Uma jacuzzi estava intacta, como se nunca tivesse sido usada antes. Um lustre sobre ela. O chuveiro era grande suficiente para caber três pessoas e os azulejos claros iam até o teto. Havia um chuveiro grande por cima para simular chuva.

“Eu poderia morar aqui,” sussurrei. “E meio que te odeio.” Nick riu enquanto andava atrás de mim, colocando seus braços em volta da minha cintura. Sua mão em minha barriga. “Essa casa é grande.” “Posso imaginar.” Ele beijou minha bochecha. “Grande suficiente para uma família.”

Eu pensei em apontar que isso era obvio, mas seus lábios começaram a percorrer a lateral do meu pescoço, o que ele disse sendo absorvido. Grande suficiente para uma família – para ele, para eu e nosso bebê. 90% de mim queria fazer uma dança maluca no meio desse espaço obscenamente grande, mas os outros 10% estavam cheios de insegurança.

“Ou só para um cara e uma menina,” eu me ouvi dizendo. Nick não respondeu enquanto suas mãos se moviam em círculos sobre minha barriga. Eu me virei em seu abraço, meu olhar encontrando o seu. Eu queria apontar algo, perguntar o que ele pensava sobre nós, mas as palavras não se formaram em minha língua.

Ele abaixou sua cabeça, beijando a ponta do meu nariz antes de se virar e voltar para o quarto. Eu fechei meus olhos um pouco. Quando os reabri, ele estava colocando uma camiseta termal sobre sua cabeça.

Que pena.

Sai do banheiro e fui para o quarto, os livros que estavam em prateleiras embutidas chamando minha atenção. Haviam muitos livros e eu fui passando pelas prateleiras, chegando a vários álbuns de fotos empoeirados.

“Oh Lord.”

Olhando para a porta, eu vi Nick parado, braços cruzados, e sorri enquanto puxava um dos álbuns. “O que?” “É claro que você encontraria os álbuns de fotos.” “É meu talento escondido.” Eu andei com um olhar confiante e me joguei na poltrona, abrindo o álbum. Tinham várias fotos em preto e branco de pessoas de cabelo escuro.

Nick se sentou ao meu lado. “Meus bisavós.”

Eu virei a página cuidadosamente, algumas fotos escorregando por debaixo do plástico. “Eles parecem muito felizes,” comentei.

“Eu não os conheci mas assumo que eram.” Eventualmente as fotos começaram a aparentar serem mais novas. Seu avô quando era moço, sorrindo para a câmera. “Muito bonito.” “Eu me pareço com ele,” ele respondeu, pegando uma mecha de meu

cabelo.

“Eu já disse o quão incrivelmente modesto você é?” Ele riu enquanto enrolava a mecha do meu cabelo em seus dedos, eu continuando a virar páginas. “Essa é minha avó,” ele explicou quando eu parei numa foto antiga de casamento. “Ela faleceu quando eu era bem novo. Câncer.”

“Sinto muito”

Nick não disse nada enquanto soltava meu cabelo e começava a enrola-lo de novo, continuando em silêncio enquanto eu virava as páginas, eventualmente encontrando uma mulher e homem, em que ambos me lembravam Nick. “Seus pais?” “Sim.”

Passei meu dedão sobre a foto deles sentados junto a uma mesa na cozinha. Ambos com cabelo escuro e pele morena. A mulher era linda, sorrindo enquanto segurava um cigarro fino em sua mão. Seu pai estava atrás dela, seu braço em volta dos ombros. Havia mais fotos deles. “Eles... eles parecem muito felizes juntos.” “Eles eram.” Ele se abaixou, parando de brincar com meu cabelo, e virou algumas páginas mais para frente, parando numa grande foto de um bebê de costas, com a cabeça cheia de cabelo escuro. “E aqui estou eu. Adorável, huh?” Eu sorri. “Yeah, você era adorável.” “Ainda sou.”

Eu bufei. “Você parece com alguém prestes a gritar.” “Provavelmente. Minha mãe dizia que eu chorava muito. Então isso é algo para se ansiar.” “Oh geez.” Ele riu enquanto eu virava as páginas e, na ponta dos meus dedos, Nick cresceu de um bebe de rosto avermelhado para um lindo adolescente que deve ter encontrado muitos problemas. No caminho, eu vi seus pais crescerem até que seu pai desapareceu as fotos de família e, então, sua mãe. Eu cheguei ao fim do álbum, realmente sem saber o que dizer.

Vida e perdas impressas em um totem esquecido.

Fechando o álbum, eu olhei para Nick. Ele não estava olhando para mim, mas encarando o álbum fechado. “Você não vê essas fotos há um tempo.” “Não é... fácil ver as coisas do jeito que costumavam ser,” ele admitiu.

Voltei minha atenção para a capa preta do álbum. “Eu não olhei para fotos do meu pai, por anos depois da sua morte. É como se eu quisesse... apagar as evidências da sua existência. Eu sei que isso soa terrível, mas era mais fácil não ver lembretes dele.”

Ele ficou quieto por um momento. “E o que mudou isso?” “Eu... eu senti sua falta.”

Nick pegou o álbum de mim e se levantou, colocando ele no lugar onde encontrei. “Você quer ver se ele acordou?” Me levantando, eu concordei.

Ele inalou profundamente. “Às vezes ele fica mais agitado no fim da tarde, então...”

“Está tudo bem.” Em vez de esperar por ele pegar minha mão, eu peguei a dele e a apertei gentilmente. Ele me levou pelas escadas, pelo corredor, para outras portas duplas que estavam abertas. Com uma mão, ele as empurrou mais e entrou.

O quarto era claro e tinha certo cheiro de antisséptico. Tudo estava arrumado, mas eu realmente não estava prestando muita atenção além da cama no meio. No meio dos travesseiros, havia um homem idoso, frágil, que mal se parecia com o homem nas fotos.

Enquanto Nick me guiava para a cadeira ao lado da cama, eu comecei a notar as outras coisas no quarto. Bandejas. Lençóis limpos. Um andados que parecia intocado a um tempo. Equipamentos médicos que eu não entendia. Meu olhar voltou para os lençóis e foi aí que entendi tudo que Nick estava tendo de lidar.

Eu queria abraçá-lo.

“Hey vovô,” Nick disse, falando como estivesse falando com qualquer outra pessoa. “Eu trouxe alguém para te conhecer.” Meu coração estava palpitando um pouco. Seu avô estava acordado, mas seu olhar passava sobre nós como se nem estivéssemos ali.

“Essa é Stephanie,” Nick disse, se sentando. Eu me sentei ao seu lado, minha mão ainda junto da sua. “Oi.” Seu avô não respondeu enquanto seu olhar voltava para Nick. “Essa é a menina que eu venho te contando...” Nick pausou, sorrindo um pouco para mim. “Eu tenho dito boas coisas a ele.”

“Espero que sim.” Meu estomago revirou. “A maioria,” ele adicionou e eu sorri. Nick inalou profundamente. “Ela é a menina que vai te transformar em um bisavô.”

Eu olhei para ele, surpresa. Dizer ao seu avô sobre mim era surpreendente e foi meio que um choque ele ter falado sobre a gravidez. Eu nem mesmo sabia porque isso era um choque. Eu disse a minha mãe e ela, com certeza, já tinha espalhado isso para qualquer outra pessoa viva na família.

“Ela trabalha na cidade e ela come tater tots,” Nick adicionou, Meu olhar de descrença virou um de humor e voltei a olhar para seu avô. “Tenho certeza que você não tem nada contra tater tots,” Seguindo as brechas de Nick, eu falei com seu avô como falaria com qualquer um. “Eu me formei na Universidade de Shepherd na última primavera e agora estou trabalhando na Lima Academy na cidade...” Nós ficamos ali por um tempo, conversando com seu avô. Eu não senti como se estivéssemos tendo uma conversa unilateral mesmo que Job não respondesse. A verdade era, ele até poderia ter algum problema para entender o que estávamos dizendo, mas ele parecia... calmo. Ele nos assistia com seus olhos fora de foco e, algumas vezes ele parecia ficar mais afiado, passando entre Nick e eu. Eu não tinha certeza se esses eram momentos dele compreendendo ou se eram momento dele não sabendo quem nós éramos.

Eu não sabia, e deveria ser muito difícil para Nick sempre confrontar algo assim. Eu sentia sua dor. Eu sentia a dor do seu avô, mas eu não me arrependia de estar aqui, sentada com Nick, conhecendo o homem que acolheu Nick quando seu mundo virou de cabeça para baixo.

Não era justo – justo para o homem que fez tanto ser derrubado assim pela doença.

Nós não ficamos muito, seu avô voltando a dormir depois de ficarmos ali uma hora. Saímos sem fazer barulho e fomos para o andar de baixo. No momento que chegamos a sala, eu disse. “Isso foi bom. E eu acho que ele concorda que tater tots são ótimos, então...”

Nick pegou meu braço, me virando de repente. Ele me puxou contra seu peito e passou seus braços em volta de mim, me segurando contra ele tão forte quanto eu desejei ter abraçado ele lá em cima. Ele abaixou sua cabeça, pressionando sua bochecha contra a minha. “Obrigado,” ele disse, sua voz rouca.

Eu apertei meus olhos fechados enquanto o segurava de volta. Eu não precisei perguntar. Eu sabia pelo que ele estava me agradecendo. “Você não tem nada para me agradecer.” “Sim. Sim, tem.” Nós não dissemos nada por alguns bons minutos. Em vez, nós ficamos ali de pé, no conforto do abraço um do outro, e eu acho que isso foi melhor que qualquer palavra que pudéssemos compartilhar.

Muito, muito depois, quando nos sentamos no sofá lado a lado, nossos estômagos cheios, não tinha como resistir o sorriso bobo que estava em meu rosto. Não houve peru, nem acompanhamentos, sem cozido de feijão verde ou purê de babatas. Mas houve hambúrgueres, cheeseburgueres e deliciosos tater tots, e esse foi um dos melhores Thanksgiving que eu podia me lembrar.

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