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Capítulo Vinte e Nove
Eu finalmente dormi.
Não havia outra opção para mim. Eu chorei até passar mal, chorei forte, e eu chorei até me exaustar mentalmente, o que só poderia ser curado voltando para a cama. Eu não sei quanto tempo dormi, mas acordar foi como me tirar de dentro da areia movediça. Meus olhos, inchados e molhados, pareciam grudados, e eu não estava pronta a tentar abri-los e encarar a realidade, encarar a perda do futuro que eu não sabia o quanto queria até que ele já não estivesse ao meu alcance. E enfrentar a realidade das minhas inseguranças e preocupações em relação ao meu relacionamento com Nick, válidas ou não, que tinham me levado a essas escolhas covardes, quando se tratou em envolvê-lo no que tinha acontecido. Eu, também, não queria... não queria vê-lo machucado, e tentar proteger ele disso tinha saído pela culatra.
Eu o amava e o tinha machucado ainda mais.
Como um fantasma, a imagem daqueles sapatinhos que eu e Nick vimos enquanto procurávamos a arvore de natal se formaram em minha cabeça, a dor voltando, forte e afiada, nunca acabando. Nesse momento, eu nunca estive mais grata pelo fato de não ter começado a fazer compras de nada relacionado ao bebê. Eu não tinha certeza se poderia aguentar ter de devolver macaquinhos ou empacota-los. Só a foto do ultrassom que estava na geladeira já tinha sido difícil suficiente de se ver.
Cada célula em meu corpo parecia ter passado por um espremedor, assim como eu. A última coisa que queria era levantar, mas eu precisava por causa das coisas que meu corpo estava passando. Enquanto estava deitada ali, me forçando a levantar, eu vagarosamente fiquei consciente da presença de outra pessoa no quarto.
Uma presença muito próxima, do tipo, na mesma cama, comigo. Eu podia ouvir a respiração ritmada. Eu não ficaria surpresa se Katie tivesse
vindo para cama comigo, mas eu tinha a sensação que não era ela. Minha pele formigava enquanto eu respirava profundamente, sentindo um cheiro fresco junto com pinho.
certo. Meu coração parou. Esse cheiro... esse cheiro era tão familiar, tão
Eu seguei minha respiração enquanto forçava meus olhos a se abrirem e, exalei uma vez que minha visão se ajustou a luz baixa que vinha do corredor, do lado de fora da porta aberta do quarto.
Deitado na cama ao meu lado, de costas, estava Nick.
Eu ainda devia estar sonhando.
Nick virou sua cabeça na minha direção. Mesmo com a falta de luz, eu podia ver os círculos escuros sob seus olhos. Quando ele falou, sua voz estava rouca. “Você acordou.”
Sem conseguir tirar minha língua do céu da boca, eu comecei a me sentar. Nick se levantou ao meu lado, seu olhar nunca deixando meu rosto. “Katie fez Roxy me ligar. Somos apenas nós.” Minha cabeça ainda estava confusa com o sono e eu deixei sair a primeira coisa que me veio à cabeça. “Eu preciso ir ao banheiro.” “Precisa de ajuda?” foi sua resposta imediata. “Balancei minha cabeça. “Eu...” eu estava sem palavras enquanto encarava ele.
“Vou esperar por você aqui, okay?” Ele disse com a voz baixa. “Se precisar de qualquer coisa grite, e eu vou até você.” A pressão aumentou em meu peito e eu me forcei a sair da cama antes que eu perdesse a compostura de novo. Corri até o banheiro e cuidei das necessidades. Antes de sair, eu parei tempo suficiente para jogar agua gelada em meu rosto e colocar meu cabelo sujo para trás.
Nick estava aqui.
Ele tinha voltado mesmo depois deu tê-lo chutado para fora.
Ele estava aqui.
Com minha garganta fechando, eu olhei para meu reflexo e vi que minha aparência estava uma bagunça, mas eu sabia que não tinha nada que eu pudesse fazer sobre isso. O que eu parecia era a coisa menos importante agora.
Voltei para o quarto, me sentindo como se tivesse cinquenta anos, mas ver Nick apoiado contra a cabeceira era como receber uma dose de adrenalina. Nervosismo e o suor que vinha atrelado a ansiedade a tudo relacionado a ele travavam uma luta em mim enquanto fazia meu caminho até a cama, sentando próxima as suas pernas.
Nick havia ligado o abajur enquanto eu estava no banheiro, e agora eu realmente podia vê-lo. Sua barba estava grande e as sombras abaixo dos seus olhos eram profundas. Sua camiseta, a mesma que ele estava usando ontem quando eu o vi estava amassada. Seu cabelo era uma bagunça e ele parecia tão ruim quanto eu me sentia.
Seu peito levantou quando ele respirou profundamente. “Eu sei que você não me quer aqui,” ele começou e, antes que pudesse responder, ele continuou. “Mas eu vou ficar exatamente aqui. Precisou de tudo que eu tinha dentro de mim para sair por aquela porta ontem e eu não tenho mais nada restando para fazer isso de novo. Não depois de saber o que você está lidando e te ver agora. Eu sei que está machucada. Você não deveria estar sozinha e tem de ser eu aqui com você.” Eu abaixei meu olhar enquanto puxava minhas pernas para cima, me sentando sobre elas. “Não é que eu não te queria aqui, Nick. Não é nada disso.”
Houve um minuto de silencio. “Eu vou ser bem honesto com você, Stephanie, mas foi exatamente isso que deu a entender ontem.”
Como eu poderia explicar o que estava sentindo e onde minha cabeça estava quando ela mesma estava em vários lugares diferentes e tudo era tão novo? Não haviam muitas palavras, muitas coisas que eu poderia dizer, e ainda assim eu não conseguia focar um pensamento. Era como tentar pegar a chuva.
Ontem eu tinha esperado um confronto, mas hoje, agora, tudo que eu queria eram seus braços em volta de mim. Tudo que eu queria era ser segurada. Tudo que eu queria era estar com a única pessoa que dividia a mesma dor que eu.
Levantei meu olhar e o rosto de Nick ficou embaçado por causas das lágrimas frescas.
Ele inclinou sua cabeça para o lado e sua foz falhou quando ele disse. “Venha aqui.” Meu corpo se moveu antes que meu cérebro pudesse registar completamente suas palavras. Eu passei sobre suas pernas, seus braços se abrindo, procurando por mim. Eu subi em seu colo, colocando meu rosto contra seu peito enquanto eu tentava fundir meu corpo no seu.
A reação de Nick foi imediata. Ele enterrou uma mão em meu rabo de cavalo bagunçado e seus joelhos se dobraram em cada lado meu enquanto seu outro braço fazia círculos em minha cintura, seu corpo se curvando contra o meu. Era como se ele estivesse se prendendo ao meu redor e aquelas lágrimas escorreram livres pelo meu rosto. Eu quase não pude acreditar que ainda havia mais em mim, mas os soluços voltaram e eles eram tão poderosos que faziam meu corpo tremer – tremer enquanto ele me segurava.
“Isso é bom. Isso é bom,” ele continuava a dizer, de novo e de novo. “É bom não se sentir bem. Eu não estou bem também. Não estou.”
E ele não estava. Eu podia sentir seu corpo tremendo e, enquanto eu enrolei meus dedos em seu cabelo na base de seu pescoço, a culpa e a angustia se fundiram, formando um nó venenoso. “Me desculpe. Me perdoe.”
“Stephanie, baby, por favor, não peça desculpas.” Sua voz deu aquela falhada de novo, me matando. “O que aconteceu não é culpa sua. Você sabe disso, certo? Não foi culpa sua.” Eu não tinha certeza se estava me desculpando por ter perdido o bebê ou pelo jeito que eu o tratei. Ou, talvez, eu estivesse me desculpando por ambos.
E, então, ele disse isso. “Você está quebrando meu coração, Stephanie. Pare de pedir desculpa. Está me desfazendo.” Você vai quebrar o coração dele.
Meu aperto nele aumentou. Não era a perda do bebê. Nem era pelo jeito que eu havia agido. Era isso. Merda, Katie realmente era psíquica.
Nós nos seguramos, nos tornando a âncora um do outro, e compartilhamos a dor. O tempo se tornou algo acontecendo ao fundo. Eu não tinha ideia do quanto havia passado desde que abri meus olhos e as únicas lagrimas restantes eram aquelas presas aos meus cílios. Seus braços pararam de tremer e seu queixo descansada no topo da minha cabeça enquanto uma mão subia e descia pelas minhas cotas, o carinho reconfortante e seguro.
“Você... você não vai trabalhar?” eu perguntei, me contorcendo quando ouvi a rouquidão da minha voz e a besteira que foi a pergunta.
“Jax me deu o final de semana de folga e Kira está com meu avô.” Sua mão estava em meu pescoço. “Eu não vou a lugar algum, Stephanie.” “Eu não quero que você me deixe.” Eu sussurrei essas palavras, e não me matou admitir algo tão vulnerável. Honestamente, aconteceu exatamente o contrário. Alívio cresceu, pequeno e frágil, mas estava ali.
A mão de Nick parou. “Por que você pensaria isso?” Eu levantei um ombro.
“Não faça isso de novo.” Sua voz era gentil enquanto sua mão voltava a se mover, aliviando a rigidez dos músculos do meu pescoço. “Fale comigo.” Minha mão deslizou até seu peito e parou ali, sobre seu coração. “Eu só não quero que você vá, porque eu... eu acho que é o que você faria. Nós ficamos juntos porque eu estava grávida. É por isso que ficamos juntos. Não por mais nada, e agora que isso se foi, não tem mais nenhum motivo para você continuar fazendo isso...”
“Nenhum motivo?” Seu tom estava cheio de descrença. “Bem, eu sei que você é fisicamente atraído por mim, mas... eu não sei.” Suspirei. “Nada disso é importante agora. Nós pode...” “Isso é importante agora.” Sua outra mão levantou, colocando as mechas que haviam escapado de volta em meu rabo de cavalo. “Por que no mundo você acha que o único motivo que fiquei com você foi por causa da gravidez?” Quando ele disse isso dessa forma, meio que soou bobo, mas nossa relação tinha sido bem diferente da normal. “Você não queria me ver de novo depois da primeira vez que ficamos.” “Eu...”
“Eu sei que você já pediu desculpas e honestamente, eu nem mesmo ligo para isso, mas quando você voltou, você só queria ser meu amigo. Não houve nada além até eu descobrir que estava grávida.” Eu disse e, me apressei a continuar. “Nós nunca chamamos um ao outro de namorado ou namorada e você disse que estávamos presos. E que teríamos de tirar o melhor proveito disso e que...” eu me interrompi porque, realmente, o que mais poderia ser dito além sido? Essas foram suas palavras.
Nick estava quieto por um momento e, então, xingou. “Jesus, Stephanie, eu realmente fodi isso. Eu realmente fiz isso.” Confusa, me empurrei para trás e encontrei seu olhar. “O que?”
“Merda.” Ele levantou uma mão e a passou pelo seu rosto. “Lembra-se da noite em que eu vim pedir desculpas pelo jeito que agi no bar? Quando eu disse que desejava que as coisas fossem diferentes entre nós? Eu não estava brincando. Você não tem ideia do quão difícil foi para mim não te ver depois da noite em que ficamos. Eu queria. Porra, eu queria mais que qualquer coisa que quis por um bom tempo.” Mas que o que? “Então por que não fez?” Ele balançou sua cabeça. “Meu foco foi meu avô pelos últimos, últimos anos, e eu não queria mais nenhuma complicação. Eu não tinha tempo para uma.” Ele abaixou sua mão. “Mas eu também sou a porra de um imbecil. Isso foi algo que percebi depois que te conheci. Essa não é uma boa desculpa, mas com tudo que aconteceu na minha família – perder quase todos eles e, então, a menina que eu pensei estar apaixonado no colegial me deixando quando viu que as coisas seriam difíceis? Entrar em um relacionamento de novo não era algo que o ansiava. Eu tenho de ser honesto. A ideia ainda... yeah, ainda me assusta um pouco.” Eu abri minha boca, mas não sabia o que dizer enquanto balançava minha cabeça.
“Eu queria ser diferente com você – eu queria que tudo fosse diferente para você, e isso foi antes deu saber que você estava grávida,” ele disse, seus ombros tremendo enquanto ele balançava sua cabeça. “Eu só não achava quer era capaz de ser essa pessoa.” Minhas sobrancelhas levantaram. “Você é.”
Seus cílios abaixaram. “Sabe, há uns meses atrás eu não teria certeza sobre essa afirmação e, honestamente, eu não sabia até você ter ido em casa no Thanksgiving. Ver você com meu avô me fez perceber o completo idiota que fui, não correndo atrás de você no momento em que sai do seu apartamento. E ter falado com você sobre o que aconteceu com minha família, como isso está amarrado a Calla. Ter dito essas coisas me ajudou a deixar tudo ir. Eu deveria... eu deveria ter dito isso para você, porque eu
entendo porque você pensou que não havia nada mais entre nós. Eu entendo. Eu deveria ter deixado claro que eu sentia mais.” Ele pressionou sua mão em meu peito. “Eu estava sentindo mais por você aqui, e isso não tinha nada a ver com a gravidez.” Eu quase não conseguia acreditar no que ele estava dizendo. “Mas se eu não tivesse engravidado, iríamos ficar juntos?” “Eu não sei, honestamente não sei, mas eu gosto de pensar que iriamos ter encontrado o caminho um para o outro de um jeito ou de outro.” Seu olhar encontrou o meu. “Eu quero acreditar nisso. Eu preciso.” Eu lutei contra bola de emoção que estava aumentando de novo. A esperança estava ali, crescendo lindamente, mas estava tingida com a perda e com confusão que ainda havia. Meus lábios tremiam e eu os pressionei juntos um pouco. “Eu não sei. Você é incrível – você tem sido incrível. Eu deveria saber que havia mais. Eu só estive tão... tudo é tão novo para mim.” “Yeah.” Seus olhos procuraram os meus. “Nenhum de nós é bom nesse negócio de relacionamentos, huh?” Uma risada seca, rouca, escapou de mim. “Não. Não somos bons nisso.” Eu abaixei meu queixo. “Mas nós somos realmente bons nisso quando não sabemos o que estamos fazendo.” “Com certeza,” ele murmurou, gentilmente tocando meu queixo. Ele levantou minha cabeça para que nossos olhares se encontrassem. “Você gostaria de ser minha namorada? Circule sim ou não.” Outra risada rouca escapou enquanto levantava meu dedo, desenhando um círculo em seu peito. “Essa sou eu circulando o sim.” Os lábios de Nick formaram um sorriso. “Talvez eu devesse ter te perguntando isso a um tempo atrás.” “Talvez eu deveria ter te perguntado.”
Seu sorriso sumiu enquanto ele se inclinava, pressionando seus lábios em minha testa.
“Sabe o que?” Eu sussurrei, fechando meus olhos enquanto tentava segurar a esperança e quase me senti culpada por estar fazendo isso. Como eu poderia ficar feliz com qualquer coisa nesse momento? Mas ao mesmo tempo, como poderia não ficar, agora que eu sabia que o homem que eu amava queria ficar comigo? Mesmo que ele não tivesse dito essas palavras, o que ele me disse já significava muito.
Ele passou seus braços em volta da minha cintura. “O que?” “Eu desejo... eu desejo que isso não tivesse acontecido.” “Eu sei. Eu desejo a mesma coisa.” Minha respiração estava falhada. “Isso dói. Eu não consigo acreditar o quanto isso dói, e eu não consigo parar de pensar que eu... eu poderia ter feito algo diferente.” “Babe,” ele disse, beijando minha testa. “Não deixe sua cabeça ir por aí. Prometa-me que você não vai deixar sua cabeça ir por aí.” Prometer era mais difícil de se cumprir do que falar, mas foi o que eu fiz e ele envolveu minhas bochechas com suas mãos. “Vai ser difícil. Eu sei que vai. Para ambos, mas sabe o que?” “O que?” “Nós temos um ao outro. Não importa o que. Existe um eu e você.” Nick abaixou sua testa contra a minha. “E isso é tudo que precisamos agora.”