Monotipia14

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Monotipia



Ufa, deu tempo. Ainda ĂŠ fevereiro


Daniel Og em tons de cinza




Monotipia - Fale sobre sua formação,

A primeira coisa que eu fiz

enquanto ilustrador e quadrinhista.

profissionalmente foi storyboard pra

Daniel Og - Eu cursei pintura na UFRJ.

cinema. Na época o meu pouco

mas não terminei.

conhecimento de quadrinhos me ajudou

Meu primeiro zine (de certa forma foi o

muito. Hoje em dia o conhecimento que

único) foi no colégio com uns amigos, o

eu ganhei com o storyboard me ajuda

nome dele era "Mingau". Tinha umas

com os quadrinhos.

histórias toscas, muita tira. Mas eu

As coisas foram se encaixando.

nunca achei que era muito bom com tiras. As minhas piadas eram muito

MT - Quais são as suas principais

previsíveis.. não tinha nada demais.

influências, no que se refere a

Meu negócio sempre foi contar

movimentos e/ ou artistas.

histórias. Por isso que eu fui trabalhar

DOg - Não sei... expressionismo...

com animação. Para tentar fazer filmes

realismo fantástico...

um dia. mas quando eu vi no que

Eu sempre gostei dos quadrinhos de

consiste a vida de diretor na prática,

banca. Conan, lobo solitário. chiclete

não quis pra mim. Deu preguiça, muita

com banana, Peanuts, Calvin... não

postura, muita concessão...

tenho referências muito obscuras. Leio o

Mas a animação me ensinou muito. Em

que a maioria das pessoas leu. lia muito

técnica, porque quando você precisa

quadrinho da Mad. Capitain Klutz. Meu

desenhar quadro a quadro acaba

pai tinha muito quadrinho em inglês,

aprendendo a desenhar personagens

naqueles livrinhos de bolso, quando eu

em poses e expressões que você

era

nunca desenharia se fosse uma

novo, Mad, Peanuts, Back to bc...

ilustração. E deu um desapego grande

Quando era mais adolescente li muito

dos desenhos individualmente. Um

chiclete com banana, Níquel Náusea,

desenho sozinho não vale muita coisa

rango... lia Marvel. Gostava das histórias

em animação, aí fica fácil você fazer

do Dr Estranho, do Surfista Prateado...

narrativas longas.

acompanhei muito a Vertigo também.


Queria fazer alguma coisa naquela

pros cinzas. usei uma caneta de retro-

com revoluções gráficas, chegando ao

linha psicodélica do Allan Moore, mas

projetor pra fazer as áreas grandes de

ponto de pirotecnias maravilhosas pra

sempre entrava um humor nas minhas

preto (se você não vazar o nankim, não

atrair publico, ou só por experimentação

histórias... é uma dificuldade pra eu

borra).

mesmo... mas eu acho que isso é vazio

falar 100% sério.

Não tenho muita frescura com o

existencial! hahaha

Das coisas mais recentes (pra mim pelo

material. o formato o quanto mais

As coisas são simples. as pessoas

menos) a maioria das coisas que eu

simples melhor.

começaram a tratar os quadrinhos como

leio vem da Conrad mesmo.

grandes merdas agora, mas eu gostava

Tayio Matsumoto, por exemplo eu

MT - Como funciona a dinâmica no

mais quando o quadrinho era tratado

acabei comprando bastante coisa

processo de trabalho para a

como coisa de moleque. por que

(Gogo Monster, Blue Spring), vi até os

produção das suas ilustrações e

quando nego não se preocupava com o

filmes baseados nos quadrinhos dele.

HQs?

nível intelectual de quem lia, se sentia

Ping Pong... Blue Spring.

DOg - Minha fonte de renda ainda é a

mais livre pra fazer as coisas "do

Gosto muito do Mattotti, mas só tive

animação, então eu trabalho meus

coração" se a idéia fosse engraçada, ou

acesso ao estigmas. Gosto muito do

quadrinhos nas horas que tenho livre.

se o texto fosse interessante, o

Isaac, o pirata. Gosto de quadrinho de

Ando sempre com um caderninho pra

quadrinho teria algum leitor e isso era o

aventura. Acho quadrinho indie um

anotar as idéias e fazer desenhos.

que importava...

pouco chato. essa coisa de adolescente

tento sempre desenhar as coisas que

Hoje parece que se perde mais tempo

reclamando da vida eu acho muito

eu acho que parecem difíceis de fazer.

pensando em como vai ser a publicação

chato... fiz muita força pro Yuri não ser

pra treinar.

e qual vai ser o tratamento, o papel, o

mais um. hahaha

formato, a paleta, "o pulo do gato" do MT - Sobre "Yuri, Quarta-feira de

que com a vontade de falar sobre isso

MT - E no que se refere a formatos e

Cinzas" , quais foram as

ou aquilo... e eu não acredito que o

materiais?

preocupações plásticas que

leitor médio se importe tanto com essas

DOg - Eu experimentei com muita coisa

orientaram a feitura dessa história?

coisas. Eu não me importo, pra falar a

na faculdade, mas sempre gostei de

DOg – Eu acho que hoje em dia tudo é

verdade. Nego se impressionou quando

acrilica e nankim. Coisas que secam

estético demais. meu negócio é a

o Frank Miller usou linguagem de

rápido. lápis de cor também. No caso

história.

cinema nos quadrinhos (que era uma

do Yuri eu usei nankim pro traço. grafite

Eu acho que todo mundo se preocupa

progressão relativamente óbvia de



chegar) e aí ficamos presos nessa

Fui escrevendo, tentando chegar ali e

coisa, de "eu vou ser mais genial ainda"

aqui... e fazendo as pontes de uma

não tem muito mais gênio pra se

idéia pra outra... o resto é orgânico. os

encontrar por aí! haahahha

diálogos, essas coisas, eu fui

Daqui a pouco vão traduzir linguagem

refinando com o tempo, mas é um

de placa de transito pros quadrinhos. é

negócio de escrever parecido com o

interessante graficamente, mas mais

que eu ouço as pessoas falarem. só

cedo ou mais tarde as histórias

isso. tive alguma ajuda na hora que

deveriam voltar a ser o guia no

mostrei o roteiro pros meus amigos. O

processo de criação.

Lobo (autor do livro "Copacabana" com o Odyr) foi um cara que me

MT - Quais foram suas preocupações

orientou muito sobre os excessos.

narrativas no que concerne ao ritmo

Sobre abrir mão de idéias que

dessa HQ?

parecem boas pra mim, mas não

DOg - Minha única preocupação

interessam a quem lê.

consciente foi de dar tempo à história.

Tenho muitos amigos que escrevem,

não apressar o texto na página.

então tive bastante ajuda com as

de resto eu tentei sobreviver. só isso.

frescuras que a gente deixa no texto e

hahahahah

acabam virando um problema.

Nunca tinha escrito nada a sério. Escrevi os roteiros dos clipes que

MT - Quanto tempo "Yuri, Quarta-

trabalhei, fazia poesia quando era

feira de Cinzas" levou entre os

menino, tenho uma relação com a

primeiros rascunhos até chegar ao

linguagem, mas nunca tinha escrito um

leitor?

livro, nunca tinha exposto uma narrativa

DOg - Cinco anos.

a critica. não tenho técnicas de construção.


MT - Para além de Yuri, o que você

histórias, hoje em dia não teria, por que

fez até então em termos de hq e

lancei um quadrinho legal e bem

ilustração?

resolvido, mas antes disso eu não me

DOg - Participei do livro "os irmãos

achava "digno" de participar dos zines,

Grimm em quadrinhos" com a

e sempre me achei diferente dos caras

adaptação do pequeno polegar, mas

que eu conhecia fazendo quadrinhos..

na época eu estava com um traço em

nas convenções eu sempre saí com a

construção, estava "me descobrindo"

sensação que não sabia nada de

fiz umas histórias curtas, uma pra

quadrinho! hahahaha

Golden Shower 2, da Cynthia

e realmente sabia muito pouco. caras

Bonacossa e uma pra Peiote, do

como o Fábio Lyra, que eu admiro a um

Jaum.

tempão, sabem muito mais, participam

Mas isso é tudo muito recente. antes

muito mais, eu era só mais um cara

disso eu fazia o que aparecia de

com seus quadrinhos.... e é isso que eu

ilustração. fiz um livro pra ática "alma

quero continuar a ser.

de fogo" que as ilustrações de miolo ficaram boas, mas a capa ficou um

MT - O que você tem produzido para

lixo, fiz as ilustrações e capa do livro

além dos quadrinhos?

de um amigo escritor (Fidel) "as

DOg - Animação. sempre. é uma

aventuras de um pirocudo" fiz uma

animação experimental também. Cheia

capa pra um amigo aqui e ali, alguns

de visões particulares também... Coisa

quadrinhos da Pepsi pra revistas,

de quem decidiu que quer ser pobre

através da tosco...

MESMO! Hahahahaa

Mas o grosso da minha produção com

mas esse ano sai um filme com

quadrinhos está toda nas gavetas e

animações minhas "os inocentes" do

pastinhas aqui de casa... eu tinha

rodrigo Bittencourt, que eu fiz pela

muita vergonha de mostrar minhas



Toscographics. Parei de dirigir clipes a

Tayio Matsumoto. Gênio.

muito tempo. aquela história da

MT - Há projetos para 2012?

desilusão com a vida de diretor. não é

DOg - Tenho projetos pra vida

o que você pensa... aqui pelo menos...

inteira... hahahaha

eu realmente desconfio que vai ser um

O projeto principal é fazer histórias

tabú fazer fantasia no cinema brasileiro

curtas, pra várias revistas, gostaria

pra sempre...

de ser convidado pra algumas. fui chamado pra fazer uma

MT - Que quadrinhos você tem lido

história pra Tarja Preta. faço umas

ultimamente? E o que além de

histórias curtas aqui e ali,

quadrinhos?

pra quem pedir. Como eu meio que

DOg - Cara... eu não tenho lido muita

vim de lugar nenhum eu tenho medo

coisa nova. Estou duro que nem um

que o pessoal ainda esteja meio

coco e tenho uma filha. quando eu

ressabiado "quem é esse filho da

tenho tempo pra deitar e ler,

puta? tá achando que quadrinho é

geralmente é a fundação do Asimov,

bagunça?!" hahahaha

que eu to tentando terminar a um

Gostaria que me convidassem mais.

tempão. e Harry Potter, que eu

Mas prometi a minha esposa que iríamos começar a construir nosso barraco esse ano. Então, a próxima história longa ainda vai levar um tempinho pra eu começar a desenhar. A história tá quase pronta. vou tentar fazer quadrinhos divertidos...

comecei a ler depois de ver todos os filmes.. coisa muito genial... acho que é o novo Shakespeare, essa moça. Os últimos quadrinhos que eu li foram o Gogo Monster e o Blue Spring, do


Mรกrio Cau



ht Maurício Rett

www.cartunista.com.br

Felipe Assumpção

www.botamem.com

Felipe Assumpção

http://www.seisecinco.wordpress.com


ttp://cavandocomaclher.blogspot.com


Do Alto do Moura Batemos um papo com Sill, autor de “Vitalino, o menino que viou mestre”, HQ que surge já como referência para a historiografia da arte brasileira, por narrar a biografia de um dos artistas de maior relevância do país. Mil coisas.


Monotipia - Fale de sua formação,

Mauricio de Souza...com a Chiclete

enquanto artista visual.

veio a Circo, a Geraldão, a Porrada, a

Sill – Sou autodidata, comecei como

Animal, foi uma época em que ir até

todo mundo que faz hq, ou seja, lendo

as bancas era um prazer.

muito quadrinhos. Em 1989 tive meu primeiro desenho publicado, por sorte,

MT - Quais são seus formatos e

na secção de cartas da revista

materiais preferidos?

GERALDÃO, do genial e saudoso

Sill – O mais simples possível: papel,

cartunista Glauco. Daí em diante,

lápis e arte final com caneta nanquim.

desenhando sem parar, às vezes sendo publicado em jornais de

MT - Como é seu processo de

Caruaru, meio que na raça, fui

trabalho?

desenvolvendo meu estilo, um tanto

Sill – Geralmente é a idéia que surge

simples & tosco mas totalmente

primeiro, anoto num caderninho de

honesto na intenção de fazer humor.

rascunho, depois mais adiante vou dar uma olhada, se for boa, desenho,

MT - Quais são as suas principais

se não, deleto.

influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas?

MT - Sobre tempo “Vitalino - o

Sill – Acho que minha principal

Menino Que Virou Mestre”, como

influência foi quando, por volta de

foi a pesquisa de referências

1986, caiu em minhas mãos uma

históricas, do visual e da

edição da revista Chiclete com Banana

linguagem dos personagens?

do Angeli, aquela forma nervosa e

Sill – Bem, moro em Caruaru berço

urgente de fazer quadrinhos, me fez

natal do Mestre Vitalino, além da

enxergar outras possibilidades de

pesquisa na internet, tive o privilégio

criação e expressão, até então

de poder tirar algumas duvidas

conhecia poucos artistas nacionais,

diretamente com os filhos do mestre

voltados mais para HQ infantil, vide

do barro.



MT - Quais foram suas preocupações

MT - Fale sobre o cordel comix.

narrativas no que concerne ao ritmo da

Sill – Por volta de 1996 não conseguia o

história?

espaço desejado na minha cidade para

Sill – Usar uma linguagem simples, de

publicação do meu trabalho então resolvi

fácil entendimento para leitores dos 8 aos

fazer um fanzine. Como o nome Cordel

80...

Comix já vinha batizando meus trabalhos

Mestre Vitalino é nome de praça, rua,

desde 1989, resolvi dar esse mesmo nome

restaurante, hospital...e no entanto

ao zine, fato que caiu como uma luva pois a

poucos, até mesmo da própria cidade

publicação tinha o formato de livreto de

onde ele nasceu e consagrou-se conhece

cordel com o recheio de comix .Durante

sua verdadeira história de sobrevivência e

cinco anos editei o zine, apesar de que os

de amor a arte do barro massapê.

quadrinhos que eu fazia serem bem bagaceiros, recheados de muito humor

MT - Quanto tempo “Vitalino” levou

sacana e afins, a publicação foi muito bem

entre os primeiros rascunhos até

aceita no universo da HQ underground e dos

chegar ao leitor?

fanzines e logo comecei a trocar zines e a

Sill – Em 2009 foi o ano do centenário do

receber colaborações de gente de peso da

Mestre Vitalino, acredito que foi aí que

cena underground, entre tantos:Maria &

surgiu a idéia mas na época estávamos

Henry Jaepelt (SC), Lupin(CE), Laerçon(SP),

envolvidos com a concepção do meu

Sidney(BA)...Daí comecei também a

primeiro livro: Cordel Comix -Humor em

colaborar em algumas publicações e a criar

Quadrinhos...somente em 2010 foi que

laços de amizades que duram até hoje. Em

começamos a por a mão na massa,

2001 o zine entrou em um estado de

acredito que a duração total foi de 1 ano e

hibernação e somente por duas vezes em

5, 6 meses.”Vitalino - O menino que virou

2003 e 2006 deu uma despertada em

mestre” foi realizado com o incentivo do

edições especiais como encarte dos cd`s da

SIC (Sistema de Incentivo a cultura) da

banda recifense Andaluza. Em 2009 o

prefeitura da cidade do Recife.

fanzine virou o livro Cordel Comix - Humor


em Quadrinhos, contendo 130 páginas

mas prefiro o impresso, é a coisa do tato

de muito humor, produzido por Alice

e do cheiro... como moro fora do eixo, a

Santos, com a assessoria de Arthur

maioria dos quadrinhos não chega na

BigHead e realizado com o incentivo do

minha cidade e o jeito é encomendar via

Funcultura, Fundarpe, Secretária de

correios. Mesmo assim, tenho lido muita

Educação e Governo do Estado de

coisa nova e também os clássicos:Laerte,

Pernambuco.

Angeli, Fernandes Gonsales, Lourenço

Com a publicação do livro a visibilidade

Mutarelli, Robert Crumb, Marcatti, Adão,

do meu trabalho foi acentuada o que me

Sieber, alguns Fanzines, os poucos que

levou a conquistar em 2009 o Prêmio

bravamente segue na luta mesmo na era

Angelo Agostini, em sua 26ª edição, na

digital.

categoria de melhor cartunista nacional.

Além dos quadrinhos, literatura. A lista é bem “crossover” : Charles Bukowski,

MT - O que você produz para além

Machado de Assis, Voltaire, Khaled

dos quadrinhos? E onde o

Hosseini (caçador de pipas), Stephen

encontramos?

King, H.P.Lovecraft, Leonardo Panço...

Sill – Além de quadrinhos, ando

Ultimamente li, por intermédio da minha filha Anna Luiza, a Série Percy Jackson e os Olimpianos, uma combinação de mitologia grega e muita aventura... na verdade leio quase tudo que cai em minhas mãos, não tenho um estilo preferido, se eu começo a ler e vou gostando sigo em frente. Agora mesmo ando lendo, acho que pela centésima vez, Uma Confraria de Tolos de John Kennedy Toole, acho que esse livro é o mais engraçado do mundo.

escrevendo microcontos e letras de músicas, mas tudo no ritmo bem bissexto (risos) MT - Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além de quadrinhos? Sill – Rapaz, tenho lido muito quadrinho virtual, a internet tem facilitado isso,




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