Monotipia
Ufa, deu tempo. Ainda ĂŠ fevereiro
Daniel Og em tons de cinza
Monotipia - Fale sobre sua formação,
A primeira coisa que eu fiz
enquanto ilustrador e quadrinhista.
profissionalmente foi storyboard pra
Daniel Og - Eu cursei pintura na UFRJ.
cinema. Na época o meu pouco
mas não terminei.
conhecimento de quadrinhos me ajudou
Meu primeiro zine (de certa forma foi o
muito. Hoje em dia o conhecimento que
único) foi no colégio com uns amigos, o
eu ganhei com o storyboard me ajuda
nome dele era "Mingau". Tinha umas
com os quadrinhos.
histórias toscas, muita tira. Mas eu
As coisas foram se encaixando.
nunca achei que era muito bom com tiras. As minhas piadas eram muito
MT - Quais são as suas principais
previsíveis.. não tinha nada demais.
influências, no que se refere a
Meu negócio sempre foi contar
movimentos e/ ou artistas.
histórias. Por isso que eu fui trabalhar
DOg - Não sei... expressionismo...
com animação. Para tentar fazer filmes
realismo fantástico...
um dia. mas quando eu vi no que
Eu sempre gostei dos quadrinhos de
consiste a vida de diretor na prática,
banca. Conan, lobo solitário. chiclete
não quis pra mim. Deu preguiça, muita
com banana, Peanuts, Calvin... não
postura, muita concessão...
tenho referências muito obscuras. Leio o
Mas a animação me ensinou muito. Em
que a maioria das pessoas leu. lia muito
técnica, porque quando você precisa
quadrinho da Mad. Capitain Klutz. Meu
desenhar quadro a quadro acaba
pai tinha muito quadrinho em inglês,
aprendendo a desenhar personagens
naqueles livrinhos de bolso, quando eu
em poses e expressões que você
era
nunca desenharia se fosse uma
novo, Mad, Peanuts, Back to bc...
ilustração. E deu um desapego grande
Quando era mais adolescente li muito
dos desenhos individualmente. Um
chiclete com banana, Níquel Náusea,
desenho sozinho não vale muita coisa
rango... lia Marvel. Gostava das histórias
em animação, aí fica fácil você fazer
do Dr Estranho, do Surfista Prateado...
narrativas longas.
acompanhei muito a Vertigo também.
Queria fazer alguma coisa naquela
pros cinzas. usei uma caneta de retro-
com revoluções gráficas, chegando ao
linha psicodélica do Allan Moore, mas
projetor pra fazer as áreas grandes de
ponto de pirotecnias maravilhosas pra
sempre entrava um humor nas minhas
preto (se você não vazar o nankim, não
atrair publico, ou só por experimentação
histórias... é uma dificuldade pra eu
borra).
mesmo... mas eu acho que isso é vazio
falar 100% sério.
Não tenho muita frescura com o
existencial! hahaha
Das coisas mais recentes (pra mim pelo
material. o formato o quanto mais
As coisas são simples. as pessoas
menos) a maioria das coisas que eu
simples melhor.
começaram a tratar os quadrinhos como
leio vem da Conrad mesmo.
grandes merdas agora, mas eu gostava
Tayio Matsumoto, por exemplo eu
MT - Como funciona a dinâmica no
mais quando o quadrinho era tratado
acabei comprando bastante coisa
processo de trabalho para a
como coisa de moleque. por que
(Gogo Monster, Blue Spring), vi até os
produção das suas ilustrações e
quando nego não se preocupava com o
filmes baseados nos quadrinhos dele.
HQs?
nível intelectual de quem lia, se sentia
Ping Pong... Blue Spring.
DOg - Minha fonte de renda ainda é a
mais livre pra fazer as coisas "do
Gosto muito do Mattotti, mas só tive
animação, então eu trabalho meus
coração" se a idéia fosse engraçada, ou
acesso ao estigmas. Gosto muito do
quadrinhos nas horas que tenho livre.
se o texto fosse interessante, o
Isaac, o pirata. Gosto de quadrinho de
Ando sempre com um caderninho pra
quadrinho teria algum leitor e isso era o
aventura. Acho quadrinho indie um
anotar as idéias e fazer desenhos.
que importava...
pouco chato. essa coisa de adolescente
tento sempre desenhar as coisas que
Hoje parece que se perde mais tempo
reclamando da vida eu acho muito
eu acho que parecem difíceis de fazer.
pensando em como vai ser a publicação
chato... fiz muita força pro Yuri não ser
pra treinar.
e qual vai ser o tratamento, o papel, o
mais um. hahaha
formato, a paleta, "o pulo do gato" do MT - Sobre "Yuri, Quarta-feira de
que com a vontade de falar sobre isso
MT - E no que se refere a formatos e
Cinzas" , quais foram as
ou aquilo... e eu não acredito que o
materiais?
preocupações plásticas que
leitor médio se importe tanto com essas
DOg - Eu experimentei com muita coisa
orientaram a feitura dessa história?
coisas. Eu não me importo, pra falar a
na faculdade, mas sempre gostei de
DOg – Eu acho que hoje em dia tudo é
verdade. Nego se impressionou quando
acrilica e nankim. Coisas que secam
estético demais. meu negócio é a
o Frank Miller usou linguagem de
rápido. lápis de cor também. No caso
história.
cinema nos quadrinhos (que era uma
do Yuri eu usei nankim pro traço. grafite
Eu acho que todo mundo se preocupa
progressão relativamente óbvia de
chegar) e aí ficamos presos nessa
Fui escrevendo, tentando chegar ali e
coisa, de "eu vou ser mais genial ainda"
aqui... e fazendo as pontes de uma
não tem muito mais gênio pra se
idéia pra outra... o resto é orgânico. os
encontrar por aí! haahahha
diálogos, essas coisas, eu fui
Daqui a pouco vão traduzir linguagem
refinando com o tempo, mas é um
de placa de transito pros quadrinhos. é
negócio de escrever parecido com o
interessante graficamente, mas mais
que eu ouço as pessoas falarem. só
cedo ou mais tarde as histórias
isso. tive alguma ajuda na hora que
deveriam voltar a ser o guia no
mostrei o roteiro pros meus amigos. O
processo de criação.
Lobo (autor do livro "Copacabana" com o Odyr) foi um cara que me
MT - Quais foram suas preocupações
orientou muito sobre os excessos.
narrativas no que concerne ao ritmo
Sobre abrir mão de idéias que
dessa HQ?
parecem boas pra mim, mas não
DOg - Minha única preocupação
interessam a quem lê.
consciente foi de dar tempo à história.
Tenho muitos amigos que escrevem,
não apressar o texto na página.
então tive bastante ajuda com as
de resto eu tentei sobreviver. só isso.
frescuras que a gente deixa no texto e
hahahahah
acabam virando um problema.
Nunca tinha escrito nada a sério. Escrevi os roteiros dos clipes que
MT - Quanto tempo "Yuri, Quarta-
trabalhei, fazia poesia quando era
feira de Cinzas" levou entre os
menino, tenho uma relação com a
primeiros rascunhos até chegar ao
linguagem, mas nunca tinha escrito um
leitor?
livro, nunca tinha exposto uma narrativa
DOg - Cinco anos.
a critica. não tenho técnicas de construção.
MT - Para além de Yuri, o que você
histórias, hoje em dia não teria, por que
fez até então em termos de hq e
lancei um quadrinho legal e bem
ilustração?
resolvido, mas antes disso eu não me
DOg - Participei do livro "os irmãos
achava "digno" de participar dos zines,
Grimm em quadrinhos" com a
e sempre me achei diferente dos caras
adaptação do pequeno polegar, mas
que eu conhecia fazendo quadrinhos..
na época eu estava com um traço em
nas convenções eu sempre saí com a
construção, estava "me descobrindo"
sensação que não sabia nada de
fiz umas histórias curtas, uma pra
quadrinho! hahahaha
Golden Shower 2, da Cynthia
e realmente sabia muito pouco. caras
Bonacossa e uma pra Peiote, do
como o Fábio Lyra, que eu admiro a um
Jaum.
tempão, sabem muito mais, participam
Mas isso é tudo muito recente. antes
muito mais, eu era só mais um cara
disso eu fazia o que aparecia de
com seus quadrinhos.... e é isso que eu
ilustração. fiz um livro pra ática "alma
quero continuar a ser.
de fogo" que as ilustrações de miolo ficaram boas, mas a capa ficou um
MT - O que você tem produzido para
lixo, fiz as ilustrações e capa do livro
além dos quadrinhos?
de um amigo escritor (Fidel) "as
DOg - Animação. sempre. é uma
aventuras de um pirocudo" fiz uma
animação experimental também. Cheia
capa pra um amigo aqui e ali, alguns
de visões particulares também... Coisa
quadrinhos da Pepsi pra revistas,
de quem decidiu que quer ser pobre
através da tosco...
MESMO! Hahahahaa
Mas o grosso da minha produção com
mas esse ano sai um filme com
quadrinhos está toda nas gavetas e
animações minhas "os inocentes" do
pastinhas aqui de casa... eu tinha
rodrigo Bittencourt, que eu fiz pela
muita vergonha de mostrar minhas
Toscographics. Parei de dirigir clipes a
Tayio Matsumoto. Gênio.
muito tempo. aquela história da
MT - Há projetos para 2012?
desilusão com a vida de diretor. não é
DOg - Tenho projetos pra vida
o que você pensa... aqui pelo menos...
inteira... hahahaha
eu realmente desconfio que vai ser um
O projeto principal é fazer histórias
tabú fazer fantasia no cinema brasileiro
curtas, pra várias revistas, gostaria
pra sempre...
de ser convidado pra algumas. fui chamado pra fazer uma
MT - Que quadrinhos você tem lido
história pra Tarja Preta. faço umas
ultimamente? E o que além de
histórias curtas aqui e ali,
quadrinhos?
pra quem pedir. Como eu meio que
DOg - Cara... eu não tenho lido muita
vim de lugar nenhum eu tenho medo
coisa nova. Estou duro que nem um
que o pessoal ainda esteja meio
coco e tenho uma filha. quando eu
ressabiado "quem é esse filho da
tenho tempo pra deitar e ler,
puta? tá achando que quadrinho é
geralmente é a fundação do Asimov,
bagunça?!" hahahaha
que eu to tentando terminar a um
Gostaria que me convidassem mais.
tempão. e Harry Potter, que eu
Mas prometi a minha esposa que iríamos começar a construir nosso barraco esse ano. Então, a próxima história longa ainda vai levar um tempinho pra eu começar a desenhar. A história tá quase pronta. vou tentar fazer quadrinhos divertidos...
comecei a ler depois de ver todos os filmes.. coisa muito genial... acho que é o novo Shakespeare, essa moça. Os últimos quadrinhos que eu li foram o Gogo Monster e o Blue Spring, do
Mรกrio Cau
ht Maurício Rett
www.cartunista.com.br
Felipe Assumpção
www.botamem.com
Felipe Assumpção
http://www.seisecinco.wordpress.com
ttp://cavandocomaclher.blogspot.com
Do Alto do Moura Batemos um papo com Sill, autor de “Vitalino, o menino que viou mestre”, HQ que surge já como referência para a historiografia da arte brasileira, por narrar a biografia de um dos artistas de maior relevância do país. Mil coisas.
Monotipia - Fale de sua formação,
Mauricio de Souza...com a Chiclete
enquanto artista visual.
veio a Circo, a Geraldão, a Porrada, a
Sill – Sou autodidata, comecei como
Animal, foi uma época em que ir até
todo mundo que faz hq, ou seja, lendo
as bancas era um prazer.
muito quadrinhos. Em 1989 tive meu primeiro desenho publicado, por sorte,
MT - Quais são seus formatos e
na secção de cartas da revista
materiais preferidos?
GERALDÃO, do genial e saudoso
Sill – O mais simples possível: papel,
cartunista Glauco. Daí em diante,
lápis e arte final com caneta nanquim.
desenhando sem parar, às vezes sendo publicado em jornais de
MT - Como é seu processo de
Caruaru, meio que na raça, fui
trabalho?
desenvolvendo meu estilo, um tanto
Sill – Geralmente é a idéia que surge
simples & tosco mas totalmente
primeiro, anoto num caderninho de
honesto na intenção de fazer humor.
rascunho, depois mais adiante vou dar uma olhada, se for boa, desenho,
MT - Quais são as suas principais
se não, deleto.
influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas?
MT - Sobre tempo “Vitalino - o
Sill – Acho que minha principal
Menino Que Virou Mestre”, como
influência foi quando, por volta de
foi a pesquisa de referências
1986, caiu em minhas mãos uma
históricas, do visual e da
edição da revista Chiclete com Banana
linguagem dos personagens?
do Angeli, aquela forma nervosa e
Sill – Bem, moro em Caruaru berço
urgente de fazer quadrinhos, me fez
natal do Mestre Vitalino, além da
enxergar outras possibilidades de
pesquisa na internet, tive o privilégio
criação e expressão, até então
de poder tirar algumas duvidas
conhecia poucos artistas nacionais,
diretamente com os filhos do mestre
voltados mais para HQ infantil, vide
do barro.
MT - Quais foram suas preocupações
MT - Fale sobre o cordel comix.
narrativas no que concerne ao ritmo da
Sill – Por volta de 1996 não conseguia o
história?
espaço desejado na minha cidade para
Sill – Usar uma linguagem simples, de
publicação do meu trabalho então resolvi
fácil entendimento para leitores dos 8 aos
fazer um fanzine. Como o nome Cordel
80...
Comix já vinha batizando meus trabalhos
Mestre Vitalino é nome de praça, rua,
desde 1989, resolvi dar esse mesmo nome
restaurante, hospital...e no entanto
ao zine, fato que caiu como uma luva pois a
poucos, até mesmo da própria cidade
publicação tinha o formato de livreto de
onde ele nasceu e consagrou-se conhece
cordel com o recheio de comix .Durante
sua verdadeira história de sobrevivência e
cinco anos editei o zine, apesar de que os
de amor a arte do barro massapê.
quadrinhos que eu fazia serem bem bagaceiros, recheados de muito humor
MT - Quanto tempo “Vitalino” levou
sacana e afins, a publicação foi muito bem
entre os primeiros rascunhos até
aceita no universo da HQ underground e dos
chegar ao leitor?
fanzines e logo comecei a trocar zines e a
Sill – Em 2009 foi o ano do centenário do
receber colaborações de gente de peso da
Mestre Vitalino, acredito que foi aí que
cena underground, entre tantos:Maria &
surgiu a idéia mas na época estávamos
Henry Jaepelt (SC), Lupin(CE), Laerçon(SP),
envolvidos com a concepção do meu
Sidney(BA)...Daí comecei também a
primeiro livro: Cordel Comix -Humor em
colaborar em algumas publicações e a criar
Quadrinhos...somente em 2010 foi que
laços de amizades que duram até hoje. Em
começamos a por a mão na massa,
2001 o zine entrou em um estado de
acredito que a duração total foi de 1 ano e
hibernação e somente por duas vezes em
5, 6 meses.”Vitalino - O menino que virou
2003 e 2006 deu uma despertada em
mestre” foi realizado com o incentivo do
edições especiais como encarte dos cd`s da
SIC (Sistema de Incentivo a cultura) da
banda recifense Andaluza. Em 2009 o
prefeitura da cidade do Recife.
fanzine virou o livro Cordel Comix - Humor
em Quadrinhos, contendo 130 páginas
mas prefiro o impresso, é a coisa do tato
de muito humor, produzido por Alice
e do cheiro... como moro fora do eixo, a
Santos, com a assessoria de Arthur
maioria dos quadrinhos não chega na
BigHead e realizado com o incentivo do
minha cidade e o jeito é encomendar via
Funcultura, Fundarpe, Secretária de
correios. Mesmo assim, tenho lido muita
Educação e Governo do Estado de
coisa nova e também os clássicos:Laerte,
Pernambuco.
Angeli, Fernandes Gonsales, Lourenço
Com a publicação do livro a visibilidade
Mutarelli, Robert Crumb, Marcatti, Adão,
do meu trabalho foi acentuada o que me
Sieber, alguns Fanzines, os poucos que
levou a conquistar em 2009 o Prêmio
bravamente segue na luta mesmo na era
Angelo Agostini, em sua 26ª edição, na
digital.
categoria de melhor cartunista nacional.
Além dos quadrinhos, literatura. A lista é bem “crossover” : Charles Bukowski,
MT - O que você produz para além
Machado de Assis, Voltaire, Khaled
dos quadrinhos? E onde o
Hosseini (caçador de pipas), Stephen
encontramos?
King, H.P.Lovecraft, Leonardo Panço...
Sill – Além de quadrinhos, ando
Ultimamente li, por intermédio da minha filha Anna Luiza, a Série Percy Jackson e os Olimpianos, uma combinação de mitologia grega e muita aventura... na verdade leio quase tudo que cai em minhas mãos, não tenho um estilo preferido, se eu começo a ler e vou gostando sigo em frente. Agora mesmo ando lendo, acho que pela centésima vez, Uma Confraria de Tolos de John Kennedy Toole, acho que esse livro é o mais engraçado do mundo.
escrevendo microcontos e letras de músicas, mas tudo no ritmo bem bissexto (risos) MT - Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além de quadrinhos? Sill – Rapaz, tenho lido muito quadrinho virtual, a internet tem facilitado isso,