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5. Preâmbulo paulistano

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Referências

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5. Preâmbulo paulistano

Imagem 01: Fundação da Cidade de São Paulo, Oscar Pereira da Silva, 1909. Fonte: Acervo Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.

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Embora de forma oficial a cidade de São Paulo tenha nascido em 25 de janeiro de 1554, a partir de um ato simbólico que foi a celebração da comunidade jesuítica no alto da colina histórica, é com certa imprecisão que se inicia o povoamento deste território (FORTUNATO, 2015, p. 123; REIS FILHO, 2004, p. 16). Quando Martim Afonso de Sousa, militar português e primeiro donatário da capitania de São Vicente, chega ao litoral por volta de 1532, já havia registros de moradores portugueses serra acima e de diversos aldeamentos indígenas - como nas regiões de Pinheiros, Barueri,

São Miguel, Guarulhos, Escada, Itaquaquecetuba, Embu, Carapicuíba e Itapecerica (GODOY, 2014, p. 194).

Imagem 02: Capitania de São Vicente, 1597. Fonte: Novo Milênio, 2010.

A localização da colina conformada entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú se mostrava como estratégica para os povos originários. Além de se constituir como uma porção elevada do território, o que conferia segurança contra ataques, também direcionava a numerosas trilhas indígenas - e que hoje simbolizam as grandes rodovias paulistas, com caminhos para Rio de Janeiro, Minas Gerais e estados da região sul do país. Em especial, temse o chamado caminho do Peabirú, que era uma rota terrestre tupi que tinha por objetivo conectar algumas cidades do litoral brasileiro ao Paraguai e aos Andes, devido à descoberta de ouro na porção oeste do continente. Havia grande interesse, por parte do governo português, no planalto e em seus caminhos para o interior, principalmente na rota do ouro do Peabirú.

Imagem 03: Caminho do Peabirú. Fonte: Autor, 2021.

Após finalizada sua missão em São Vicente, Martim Afonso sobe a serra e funda a ocupação denominada Piratininga. De acordo com Reis Filho (2004, p. 16), o planalto já se mostrava como ponto de importância para o governo português, pois recebia constantemente a visita de governadores, e em 1553 recebe a visita do governador-geral,

Tomé de Sousa, que funda a Vila de Santo André da Borda do Campo em local existente de ocupação por João Ramalho - explorador português que vivia entre os índios e era praticante do comércio de escravos. A partir de Tomé de Souza chegaram os padres jesuítas, direcionados por Manoel da Nóbrega. A estratégia empregada por Manoel da Nóbrega teve como finalidade se aproximar da aldeia indígena. Para isso, construíram próximo a aldeia uma pequena igreja com cobertura de palha e uma escola para meninos, e mesmo que em estado provisório de construção, realizaram ali a primeira missa na data simbólica de 25 de janeiro de 1554.

A aliança entre Martim Afonso Tibiriçá1 e os jesuítas também foi de primordial importância para o sucesso da colonização do Planalto Paulista pelos europeus, ou seja, atentar para a tessitura das alianças entre europeus e indígenas é crucial para a compreensão do desenvolvimento dos dois primeiros séculos da colonização, não só do planalto paulista, mas também da própria América portuguesa, inclusive para os papéis assumidos pelos índios no decorrer deste processo. Podese afirmar hoje que de alguma forma essas alianças também favoreceram indígenas, aos seus olhos e em sua época, ainda que o resultado delas nos pareça catastrófico em termos demográficos, culturais, políticos etc. (GODOY, 2014, p. 195).

1 Cacique da aldeia de Piratininga que foi batizado com o nome ‘Martim Afonso’ em homenagem ao fundador da capitania de São Vicente após firmar aliança com os padres jesuítas e adotar práticas cristãs-europeias. Os povos indígenas foram essenciais ao projeto de colonização, sobretudo em seus primórdios, quando a conquista e a preservação dos territórios se faziam em meio de guerras violentas, nas quais os índios participavam intensamente na condição de aliados ou inimigos (CELESTINO, 2006, p. 13 apud GODOY, 2014, p. 202).

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