3 minute read

9.1. Partida e chegada

9.1 Partida e chegada

Da mesma maneira em que foi norteada a investigação desta pesquisa com as iniciais intervenções no Pátio do Colégio, assim também balizamos o último ato na mesma localidade de forma proposital, visto a intencionalidade da intervenção. Tal como apresentamos a metáfora do professor Benedito Lima de Toledo - a São Paulo do século XIX desenvolvendo-se em três diferentes cidades -, o Pátio do Colégio também é atravessado por três metamorfoses ao longo de sua existência. Suas mutações acompanham e expõem esse movimento de transição entre as formas de cidade, e acaba por tornar-se testemunha e representante guardião dessas três cidades (FORTUNATO, 2014, p. 105). Assim como Lima (1999 apud FORTUNATO, 2014, p. 106) descreve: o que aconteceu com o Pateo foi o que aconteceu com a própria cidade à sua volta. Como dito anteriormente, as instalações do Pátio foram estabelecidas pela missão jesuítica e comportou suas atividades até serem expulsos da colônia - de forma que suas instalações eram dotadas de boa infraestrutura, passaram a ser sede do governo do Estado. O conjunto de construções passou por diversas modificações construtivas, até que no fim do século XIX, tem-se a demolição do conjunto colégio-igreja, ainda de taipa, para abrigar o novo Palácio do Governo, em estilo neoclássico. Seria esta, uma das marcas da transição entre a “cidade de taipa” - em sua

Advertisement

Imagem 121: O Palácio do Governo nos cartões-postais de Gaensly. Fonte: FORTUNATO, 2014.

Imagem 122: Monumento Glória Imortal aos Fundadores da Cidade. Fonte: Acervo Digital da Unesp, 2015.

imagética acanhada - para a “metrópole do café” - no poderio financeiro. O coração vivo paulistano, como Fortunato denomina o Pátio do Colégio (2014, p. 122), ainda perpassa por mais uma fase - a retomada de sua imagem colonial. O Palácio do Governo é demolido para construção do conjunto colégio-igreja como uma réplica jesuítica - conjunto inaugurado no ano de 1979. Anos antes, em 1925, instalou-se no Pátio o monumento Glória Imortal aos Fundadores da Cidade, compreendido por Ivan Fortunato (2014, p. 125) como um “símbolo do remorso” pela destruição de patrimônio secular.

A reconstrução das instalações do colégioigreja dos jesuítas pode ser considerada como um desejo de conexão com a memória da cidade, ainda mais se observada com sua via contígua - Rua Roberto Simonsen, que é compreendida com o último vestígio do urbanismo inicial de São Paulo (TOLEDO, 1983, p. 5). A gênese deste pensamento se desenvolve na década de 1950 em vias de comemoração do aniversário de São Paulo - neste mesmo período existia um forte movimento para finalização da construção da Catedral da Sé e construção do Parque do Ibirapuera. Ao demolir as estruturas do Palácio do Governo, encontraram uma parede de taipa originária dos tempos passados. Nas palavras de Salgado (1976, p. 136 apud FORTUNATO, 2014, p. 132), essa relíquia engloba “derradeiros vestígios de um passado longínquo, que sobravam no Pátio do Colégio, como espectros perdidos numa floresta de arranha-céus”. Hoje a parede histórica encontra-se exposta no interior do Museu Anchieta.

Imagem 123: Descoberta a secular parede de taipa de pilão, no Pátio do Colégio. Fonte: FORTUNATO, 2014. Imagem 124: A réplica do passado, agora igreja e museu, inaugurados em 1979. Fonte: FORTUNATO, 2014.

Com tudo isso, a partir do croqui elaborado por Ivan Fortunato (2014), conseguimos observar nas vistas do Pátio do Colégio como perpassam as três cidades representadas: (A) a representação da pacata cidade de taipa, rememorando a memória da fundação e seus primeiros séculos de vida; (B) a ascensão da metrópole do café e (C) a cidade moderna, industrializada, com vista aos céus com a verticalização.

Em suma, ao perpassar pelas camadas - sendo elas: (1) delimitação do muro inicial da Vila; (2) superação dos limites físico-naturais; (3) expansão e consolidação sentido Anhangabaú e (4) consolidação do Centro Novo em além Vale do Anhangabaú - conseguimos ter um panorama de como o centro histórico se modificou. Este condição mostra-se de forma clara ao compreendermos a quinta camada histórica, a qual nos aponta: a mudança espacial na noção de centro histórico, a remodelação da Praça da Sé após as obras da estação de metrô, o Vale novamente como parque e o monumento Glória Imortal aos Fundadores da Cidade no Largo do Pátio do Colégio.

This article is from: