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6. A Vila (século XVI - século XVIII

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Referências

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6. A Vila (século XVI - século XVIII)

Imagem 04: Colina onde foi fundada a Vila de São Paulo de Piratininga. Fonte: Pintura de Jean-Baptiste Debret.

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A gênese do estudo sobre o povoamento do território perpassa as características do sítio escolhido. No percurso de visitar a São Paulo do início de sua ocupação, o estudo arquitetônico se desenvolve como história e arqueologia, e visa buscar a lógica de distribuição dos espaços para identificação de possíveis racionalidades (REIS FILHO, 2004, p. 15). Especificamente no caso paulista, deve ser tratada com certa relevância a relação da topografia, acessos e procedimentos construtivos da época da colonização e moradores - a saber quem eram e o que pretendiam ali.

“Na fase inicial, os núcleos urbanos repetiam em seus sítios padrões que só podem ser explicados como culturais. A principal cidade, que era Salvador, e a modesta vila de São Paulo, no Planalto, foram implantadas em sítios extremamente semelhantes. Instaladas sobre colinas, junto às bordas das respectivas encostas, com um pequeno vale à retaguarda e conventos dispostos como pontos de apoio ao sistema de dominação e defesa, tinham partidos urbanísticos extremamente semelhantes.” (REIS FILHO, 1995, p. 21 apud HEREÑÚ, 2007, p. 19).

O planalto em que se localiza a ocupação da vila de São Paulo assenta-se entre os níveis 745 e 755 em relação ao nível do mar e, mais especificamente, a colina histórica ergue-se em um desnível de 20-25 metros acima dos fundos de vale que a conformam.

Imagem 05: Planta Topográfica da área central de São Paulo e Seção geológica. Fonte: AB’SABER, 1957.

A inexistência de plantas e registros iconográficos dos primeiros anos de ocupação da Vila pode ser resultado de seu afastamento do litoral, visto que são cidades de passagemembarque-desembarque, ou seja, sempre recebendo viajantes, e precisarem de objetos notáveis que as identificassem, a cidades litorâneas tomaram partido disso para que pudessem receber obras e monumentos artísticos. O caso paulistano somente tem mudança no século XIX, época em que a cidade recebe produções de artistas como Hércules Florence, Debret, Ender, Pallière, Landseer e Burchell e do ituano autodidata Miguelsinho (TOLEDO, 1983, p. 23). Com isso, o professor Reis Filho (2004, p. 15) compara a prática do estudo da cidade com a reconstrução de um vaso antigo, que é constituído séculos depois a partir de fragmentos. No que concerne aos primeiros moradores, podemos destacar: padres jesuítas, representantes do governo português e colonos. O propósito de cada grupo deu rumo ao desenvolvimento da Vila, mas coube aos padres jesuítas a fundação da ocupação inicial e, especificamente, ao Pe. Manuel da Nóbrega a decisão de sitiar no planalto. Acerca do interesse dos representantes do governo vigente, estes pretendiam ter domínio sobre a região e sobre os caminhos que levavam ao interior; os colonos desejavam a conquista de riquezas, a escravização do povo indígena e o domínio sobre suas terras e mulheres; os padres jesuítas pretendiam cativar os indígenas através da fé e ação intelectual. Nosso ponto de partida cronológico acerca

da análise sobre o território paulistano é a inauguração da primeira construção símbolo da Vila. Em 1º de novembro de 1556, sob a batuta do Pe. Afonso Brás, inaugurou-se a igreja de taipa de pilão, onde hoje temos o Pátio do Colégio. Possuía características simples, como uma única porta na fachada, sem janelas ou óculo em seu frontão. Seriam traços simples da arquitetura religiosa portuguesa, mais singela dos que os apresentados, na mesma época, na Bahia e no Rio de Janeiro. Após a finalização da igreja, tem-se o início da construção de dois pavilhões que serviram de abrigo aos padres e instalações do colégio - que figuram com notável importância até os dias de hoje no tecido urbano do centro histórico mesmo que tenham passado por modificações ao longo dos anos.

Imagem 06: Croqui Instalações Jesuíticas. Fonte: Novo Milênio, 2010.

O primeiro movimento de chegada de moradores na Vila se deu no ano de 1559, onde moradores do povoado de Santo André da Borda do Campo - mais antigo e mais populoso -, através de carta, solicitaram à rainha regente permissão para trocarem de povoado. A resposta positiva veio no ano de 15601 - a prática de migração para o território paulistano se torna comum no progresso da cidade e ganha notoriedade com as chegadas de imigrantes entre os séculos XIX e XX -, e junto também veio o reconhecimento formal da ocupação nomeada como Vila de São Paulo2 , que até 1570 totalizavam aproximadamente 300 habitantes. O povoamento na área escolhida por Manoel da Nóbrega prosperou e logo ultrapassou Piratininga e Santo André em importância, se tornando o principal canal de apoio à ocupação de terras sentido interior. Esta prosperidade pode ser entendida através das condicionantes do local: a região escolhida, em escala maior, abrangia os vales dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, possuindo áreas de mata e várzeas cobertas por capim, e

1 Em documento de 26 de maio de 1560, a partir da visita do governador Mem de Sá à Capitania de São Vicente, foi determinada a transferência da população de Santo André da Borda do Campo para o povoamento de São Paulo, englobando os livros da Câmara e o pelourinho, que simbolizavam o poder municipal. Esta transferência também simboliza uma união de forças e movimento de defesa, visto que algumas tribos indígenas não eram favoráveis à presença dos europeus no local, e o território ocupado pelos jesuítas se apresentava como um local mais propício à defesa. A contagem estipulava o deslocamento de cerca de 30 portugueses e 30 mamelucos. 2 O povoamento ganha reconhecimento de Vila em 1560, Capitania em 1681, Cidade em 1711 e de Metrópole em 1973 (FORTUNATO, 2015, p. 113).

também por ser rica no quesito alimentação3. E, de acordo com Nestor Goulart (2004, p. 17), havia uma disparidade entre as condicionantes locais dos povoados existentes e a Vila de São Paulo possuía vantagem ao conter os melhores atributos. A porta de entrada da Vila era a orientação voltada para o Rio Tamanduateí, e internamente dois eixos tinham grande importância: (1) do Largo da Sé4 seguindo em direção à Rua Direita e à Rua José Bonifácio, destinando um caminho para a região de Pinheiros; (2) sentido Rua da Liberdade, destinando caminho para a região de Santo Amaro. A região do Vale do Anhangabaú era tida como “quintal dos fundos da colina central” (TONTI, 2017, p. 04).

A vila possuía muros de taipa em seus limites, que tiveram início de construção por volta de

A gênese do quadro viário dentro desse triângulo ainda está para ser estabelecida com segurança. A existência de muros defensivos, no primeiro século, poderia ter condicionado o traçado de algumas ruas, inexplicavelmente irregular. [...] É uma acrópole que abrigou a cidade em seus três primeiros séculos de existência (TOLEDO, 1983, p. 13).

3 Peixes, aves e caças de pêlo, e seus campos e clima permitiam a criação do gado europeu e diversas plantas trazidas do velho continente - legumes, verduras, frutas e flores. 4 Cabe ressaltar que a localização da igreja matriz da Vila não compatibiliza com a atual. Inicialmente era localizada mais próxima do Pátio do Colégio. 1560 e 1562 como mecanismo de defesa da vila. Possuíam dimensões consideráveis em torno de 8 metros de altura e 1 metro de largura - porte para garantir proteção contra ataques de flechas. A própria ocupação do sítio se configura como um mecanismo de defesa, uma vez que ao se instalar próximo a uma vertente com grande declividade a chance de ataque inimigo é ínfima, com essa atitude também podemos ver esta estratégia portuguesa na ocupação das cidades de Olinda e Salvador (REIS FILHO, 2004, p. 24).

Imagem 07: Croqui do muro de taipa a partir da descrição de REIS FILHO, 2004. Fonte: Autor, 2021.

A ocupação sobre a colina histórica nos primeiros anos era singela. Para se ter uma ideia, até 1580, quando se chega a Ordem Franciscana, os terrenos hoje ocupados pelo Convento de São Francisco e Mosteiro de São Bento eram chácaras

que se localizavam fora dos muros da vila - neste período histórico, a vila de São Paulo ocupava uma porção de terra de cerca de 250 metros de largura e 300 metros de comprimento, dessa forma, podese entender como primeira camada histórica (ver imagem 08) da cidade de São Paulo os limites dos muros sobre a acrópole. Na década de 1590, com o aumento populacional, tem-se a ampliação do perímetro através da construção de novos muros. O traçado mais antigo da cidade é o que compreende o Pátio do Colégio e o Largo da Sé, conformando um polígono de traçado irregular. Expansões deste perímetro trazem ruas com traçados mais regulares a partir do século XVII. Neste momento, já estavam erguidos os três edifícios de taipa de pilão que foram construídos sob orientação do Pe. Afonso Brás. Essas edificações foram as mais importantes da Vila até o final do século XVI. Tem-se registros do início da construção da Casa de Câmara por volta de 1575 e 1584 e a construção da matriz se deu de forma lenta, no ano de 1595 existia uma capela que foi demolida para a edificação de um espaço religioso de maior porte, porém esta nova edificação somente é inaugurada no início do século XVII (BAZIN, 1956 apud REIS FILHO, 2004, p. 27). No ano de 1594 via-se na paisagem da colina a Igreja do Carmo, inicialmente fora da vila.

Imagem 08: Primeira camada histórica: delimitação inicial dos muros. Fonte: Autor, 2021.

Imagem 09: Casa da Câmara e Cadeia, no Largo da Cadeia, atual Praça João Mendes. Foto de Marc Ferrez, 1880. Fonte: Acervo do Instituto Moreira Salles.

Imagem 10: Largo da Sé e as igrejas da Matriz e de São Pedro, foto de Marc Ferrez, 1880. Fonte: Acervo do Instituto Moreira Salles. Imagem 12: Distância entre as Ordens Religiosas conformando o Triângulo Histórico. Fonte: Modificada pelo autor - Mapa da Cidade de São Paulo em 1775 (CARVALHO, 2013, p. 8).

As casas eram térreas e suas coberturas eram constituídas de palhas, pois não havia olaria nos primeiros 15 anos de vila, aproximadamente. O primeiro sobrado é erguido no final do século. Com a chegada de um oleiro, constituiu-se uma nova imagem às edificações da vila, que perdura até a primeira metade do século XVIII, protegidas com largos beirais para resguardar as paredes de taipa, características fortes que compuseram a imagem da cidade. Posto que a região não possuía abundância em pedras, também nascia ali uma tradição de construção em taipa de pilão que

perdurou até meados do século XIX, se conferindo como base para a importante caracterização do professor Benedito Lima de Toledo em seu estudo acerca dos momentos arquitetônicos e evolução urbana de São Paulo. As quadras tinham dimensões apertadas - entre 30 e 70 metros - e formas irregulares, sendo serpenteadas por becos e vielas.

Imagem 13: Ladeira do Ouvidor. Fonte: Acervo Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.

A barreira natural que forma a colina história, constituída pelo desnível topográfico dos fundos de vale do Anhangabaú e Tamanduateí, era vencida pelo conjunto de pontes - as chamadas “pontes de dentro”: do Lorena e a do Marechal (Anhangabaú); do Carmo e a do Fonseca (Tamanduateí). Para além destas, existiam as chamadas “pontes de fora” - Pontes de Pinheiros, Santana e Emboaçava5. Com isso, a face que se volta para o Rio Tamanduateí se conformou como porta de entrada da ocupação e também como porto de chegada de abastecimento, ponto que se confirma em 1860 com a edificação do Mercado Municipal no local, segundo Toledo (1983, p. 46-48) a região era conhecida como “mercado caipira”, e por estar em área aterrada do Tamanduateí, o baixio era local de sucessivas inundações.

Imagem 14: Mercado Municipal, tendo ao alto o Mosteiro de São Bento. Fonte: Foto de Militão Augusto de Azevedo (TOLEDO, 1983, p. 49).

termos do “Registro das Instruçoins para o Governo das Pontes”, tinha taxa de pedágio aos feirantes e tropeiros que abasteciam de mantimentos a cidade. Existiam guaritas nas “pontes de fora” e, com o pagamento do pedágio, os viajantes recebiam uma espécie de comprovante que deveriam apresentar aos fiscais das “pontes de dentro”.

“A conquista de outros pontos dessa colina central, durante os séculos XVI e XVII, acabou sendo definida em decorrência do estabelecimento de três ordens religiosas na cidade: a dos beneditinos, a dos carmelitas e a dos franciscanos e de seus respectivos conventos. Cada uma dessas construções era provida de uma igreja com uma torre e de um corpo lateral bastante extenso onde se localizava o mosteiro ou o convento. Essas três ordens, deviam manter um certo distanciamento entre si, em respeito às suas respectivas circunscrições territoriais. Assim, a localização delas acabou definindo os vértices de um triângulo, assentado sobre os pontos dominantes da colina central.” (SIMÕES JR, 1995, p. 7 apud HEREÑÚ, 2007, p. 19-21).

Desse modo, podemos destacar como segunda camada histórica (ver imagem 15) da cidade de São Paulo a ligação do núcleo inicial por sobre as águas, a transposição dos vales com as pontes, conformando como porta de entrada a elevação por sobre o Rio Tamanduateí e a chamada “cidade nova”, porção que se erigia após o vale do Rio Anhangabaú. Destacando a Ponte do Lorena, que se localizava entre as ladeiras do Meio e de São Francisco (atual Rua José Bonifácio e Rua São Francisco, respectivamente) e o Largo do Piques (atual Largo da Memória), região se destinava a saída para a estrada de Sorocaba. Cabe ressaltar também que, sob o governo de Lorena6, a cidade de São Paulo conheceu várias obras, entre elas o

6 Bernardo José Maria de Lorena e Silveira, fidalgo e administrador colonial português, governou São Paulo por nove anos, até o ano de 1797. Chafariz da Misericórdia projetado pelo Brigadeiro João da Costa Ferreira e executado pelo lendário pedreiro Tebas. Por ser uma obra em granito em plena “cidade de barro”, passou a ser olhada como um monumento da cidade” (TOLEDO, 1983, p. 18). O chafariz foi erigido com o objetivo de abastecer a cidade com a água recolhida do Tanque Reuno (local hoje do Viaduto Martinho Prado).

Imagem 15: Segunda camada histórica: Demarcação das pontes na cidade. Fonte: Autor, 2021.

Imagem 16: Ponte da Santa Ifigênia. Fonte: Aquarela de J. B. Debret (TOLEDO, 1983, p. 35).

Imagem 17: Ponte do Carmo. Fonte: Foto de Militão Augusto de Azevedo (TOLEDO, 1983, p. 45). Imagem 19: Daniel Pedro Muller, engenheiro militar. Planta e Praça do Chafariz, localizada no Piques, 1814, desenho aquarelado. Fonte: CAMPOS, 2007, p. 41.

Sob forte influência dos bandeirantes, no ano de 1640 os jesuítas são expulsos do território paulista pela primeira vez, tendo suas construções entrado em processo de ruína e desmoronamento. Retornam ao povoado cerca de treze anos após, 1653. O grupo jesuíta é novamente expulso do território no ano de 1759. A partir do ano de 1765 as edificações jesuíticas começam a sediar a residência dos governadores da capitania, pois eram tidas como as melhores infraestruturas da localidade, com isso, o local ficou conhecido como Palácio. Não sendo mais utilizadas pelos religiosos, as edificações transformaram-se em abrigo para diversos usos, como por exemplo, Casa de Fundição dos Reais Quintos e um pequeno hospital (FORTUNATO, 2015, p. 129-130).

Imagem 21: Palácio do Governo, aquarela de J. B. Debret, 1827. Fonte: Acervo Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.

“[...] há, na evolução histórica da cidade de São Paulo, um entrelaçamento muito íntimo entre tempo e espaço, entre história e geografia, entre historicidade e geograficidade, que configuram sua identidade. [...] É algo muito mais significativo na história do Pateo, porque, conforme estudamos a sua história e a história da própria cidade que ali nasceu e dali foi se expandindo, entendemos o quanto elas estão imbricadas, principalmente nos primeiros séculos de sua existência, quando São Paulo era o Pateo, e vice-versa, e os seus desdobramentos ou eram reflexos ou eram refletidos no coração da cidade” (FORTUNATO, 2015, p. 113).

Outra obra que merece destaque é o Quartel da Legião dos Voluntários Reais, edificado onde hoje é o Fórum, se constituindo como o maior edifício da cidade e superando em área construída as grandes edificações conventuais. Toledo (1983, p. 19) reforça a importância abordada pelo professor Mário Barata sobre um importante edifício da época, a Casa da Câmara e Cadeia, com risco de 25 de agosto de 1783. Se tratava de um edifício expressivo em tamanho, regular e com muitas aberturas7. Possui frontão triangular, mas não se sabe se já contava no risco original ou se foi adição construtiva em posterior reforma. Existe um embate sobre a classificação neoclássica, se somente o atributo do frontão triangular seria suficiente para classificá-lo, pois o restante da edificação apresentava vergas recurvadas, uma novidade chegada ao país em meados do século XVIII pelo engenheiro militar Pinto de Alpoim.

Imagem 22: Quartel da Legião dos Voluntários Reais. Fonte: TOLEDO, 1983, p. 51.

Imagem 23: Mapa da cidade de São Paulo em 1775. Planta da cidade de São Paulo - Henry P. Joyner para a Companhia Cantareira de Água e Esgoto, 1881. Fonte: CARVALHO, 2013, p. 8.

Três edifícios de grande expressão, para a época, foram: Hospital Militar, Casa de Câmara e Cadeia e o Quartel dos Voluntários Reais. Todos foram edificados no século XVIII e o Hospital trazia, em seu risco, traços de uma arquitetura neoclássica, o que, devido a técnica construtiva de taipa de pilão e sua rigidez, não se concretizou da mesma forma. Mesmo sendo edifícios de grande expressão, sua linguagem não se destacava muito do restante das construções vizinhas. Citando Roger Bastide, acerca desses grandes edifícios, Toledo descreve que estas edificações marcaram com “alguns traços novos a fisionomia do burgo paulistano” e que significava a presença absolutista na localidade (1983, p. 20). O primeiro plano de expansão da cidade nasce já na São Paulo reconhecida como cidade (após 1711) e data de 1792, sob o governo de Lorena - importante salientar que ainda no século XVIII a cidade se torna capital da província, atraindo recursos e mais olhares da Coroa. O Plano de Lorena é considerado o primeiro registro no qual menciona a dificuldade de continuar o traçado das ruas após o Vale do Anhangabaú, no morro do Chá, pois ali se desenvolvia como um terreno “monstruoso e desigual” (TOLEDO, 1983, p.18). Esta direção de crescimento da cidade se fortalece como principal vetor de expansão (ver imagem 24) e é berço para a chamada cidade nova. O principal meio de ligação entre o núcleo histórico e a porção nova da cidade era a ponte do Lorena, e não era visto distinções construtivas entre as edificações do núcleo histórico e da nova cidade - as construções de taipa, de um ou dois pavimentos, eram guarnecidas de beirais e suas bases - propriamente o calçamento do passeio público - eram cobertas por pedras a fim de resguardar infiltrações.

Imagem 24: Área urbanizada de São Paulo até 1881. Fonte: Autor, 2021.

Em suma, o grande desnível topográfico para a colina histórica era sinal de proteção - como dito ser uma característica do local, com o crescimento da cidade isto se tornou uma barreira, e esta situação “se modificou somente no começo do século XX” (SEGAWA, 2000 apud TONTI, 2017, p.03). Na paisagem da grande colina, os três primeiros séculos de existência da cidade deixaram traços e marcos que perduram até os dias atuais. De forma inicial, podemos destacar a área ocupada pelo Pátio do Colégio e Palácio que, apesar de ter sofrido grandes remodelações ao longo dos anos, sempre se manteve como ponto central da acrópole. Embora não seja de dimensões exorbitantes, em virtude da existência de diferentes ordens religiosas, tem-se uma abastança nos espaços públicos. Ressaltamos os largos do Mosteiro de São Bento, Convento de São Francisco, Convento do Carmo, Igreja Matriz - Sé e da Cadeia (atual praça João Mendes).

Imagem 26: Principais edificações de São Paulo, 1775-1881. Fonte: Modificada pelo autor - Mapa da Cidade de São Paulo em 1775 (CARVALHO, 2013, p. 8).

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