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Algures numa área metropolitana, maio de 2026 -João Paulo Feijoo

Algures numa área metropolitana, maio de 2026

João Paulo Feijoo Professor, consultor, investigador e conferencista nas áreas de Capital Humano, Liderança e Qualidade

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Esta tarde, depois de trabalhar a partir de casa durante a manhã, Sara irá encontrar-se com o líder da sua equipa para o check-in quinzenal de feedback e orientação, no workspace onde a sua empresa mantém permanentemente alugado um espaço de coworking para a sua equipa e onde outras empresas têm também espaços idênticos. Sara aprecia a curta caminhada de 10 minutos a seguir ao almoço, feito em casa, bem como a conveniência dada pela proximidade daquele workspace ao seu domicílio. Sara estima trabalhar ali um dia e meio a dois dias e meio por semana, conforme as necessidades do trabalho em equipa, mas com a particularidade de não serem dias inteiros; como todos os colegas que usam aquele mesmo espaço de coworking também moram nas proximidades, podem combinar encontrar-se em pequenos grupos, ou mesmo dois a dois, a qualquer momento e apenas pelo tempo necessário. Assim, é-lhe muito mais fácil conciliar a atividade profissional com a vida familiar. Embora se sinta confortável e produtiva trabalhando a partir de casa, Sara valoriza muito o tempo que passa neste workspace; permite-lhe não só manter o contacto pessoal com os seus colegas, mas também aproveitar o relacionamento com as outras equipas ali presentes. A diversidade de domínios de atividade e de projetos em que uns e outros trabalham, o ambiente distendido que reina nos espaços comuns e a livre circulação de ideias estimulam a criatividade de todos e, não raro, contribuem para enriquecer o trabalho de cada um. Estes espaços de coworking “de proximidade” surgiram por toda a cidade nos últimos anos, em obediência a um princípio de organização territorial que começou a impor-se após a pandemia de Covid-19, em 2020-2021: a “cidade de 15 minutos”, organizada em bairros polivalentes cujos habitantes podem deslocar-se de casa para o local de trabalho e encontrar todos os serviços essenciais – comércio, escolas, centro de saúde, serviços públicos, etc. – num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta. Como todas as ideias inovadoras, esta iniciativa esbarrou numa forte resistência inicial por parte da maioria das empresas e mesmo da administração pública, que queriam dar por finda a “experiência” de teletrabalho e trazer os trabalhadores de volta para os “locais de trabalho” – como se a pandemia não tivesse transformado centenas de milhares de habitações noutra coisa senão isso. Não contavam, porém, com a relutância de muitos trabalhadores em regressar à antiga “normalidade”, de uma vida passada em filas de trânsito, a correr para a escola dos filhos, e apinhados às centenas em edifícios de escritórios onde as horas de entrada e de saída eram mais importantes, do que a qualidade do seu trabalho. Por isso, quando os mais talentosos e com maior facilidade em encontrar alternativas de emprego começaram a sair para as empresas que tinham apostado na manutenção do teletrabalho, compreenderam o que estava em causa: o movimento a que alguns autores ame-

Uma aposta na Intermodalidade e na Logística

… um princípio de organização territorial (…) começou a impor-se após a pandemia de Covid-19, em 2020-2021: a “cidade de 15 minutos”, organizada em bairros polivalentes cujos habitantes podem deslocarse de casa para o local de trabalho e encontrar todos os serviços essenciais – comércio, escolas, centro de saúde, serviços públicos, etc. – num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta.

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ricanos tinham chamado “The Great Resignation”, afinal, talvez MY não se circunscrevesse aos Estados Unidos… CY Felizmente tudo isso faz parte do passado. As “cidades de 15 CMYminutos” continuam a alastrar nas áreas metropolitanas, traK zendo consigo a qualidade de vida antes só encontrada nos pequenos centros urbanos, mas sem a dificuldade de acesso a empregos qualificados, ultrapassada graças às tecnologias de conetividade digital. A redução do trânsito automóvel está a dar um enorme contributo para a descarbonização, a saúde dos residentes começa a mostrar os resultados do exercício físico… e as ciclovias estão finalmente cheias de ciclistas, sem ser ao sábado de manhã! Como é evidente, nem todas as ocupações beneficiaram deste movimento de descentralização; hospitais, universidades e fábricas escapam parcialmente a esta lógica, embora também nestes casos a telemedicina, o ensino à distância, a robotização e a manufatura aditiva (impressão 3D) tenham permitido reduzir, quer o número de pessoas que se deslocam a estes locais, quer a frequência das deslocações. Já o transporte de pessoas e mercadorias e a logística têm enfrentado um formidável desafio, em resultado da progressiva mudança de perfil das deslocações e dos padrões de consumo. Em particular, o abastecimento das “cidades de 15 minutos” em energia, víveres e outras mercadorias obedece hoje a uma lógica distinta da do passado recente – mas à qual as empresas destes setores têm sabido ajustar-se. O Porto de Setúbal tem uma localização privilegiada com excelentes acessos marítimos e boas ligações rodo-ferroviárias ao seu hinterland. Integra uma das mais importantes zonas industriais e logísticas do país e oferece ligações diretas à Rede Ferroviária Nacional e à Rede Rodoviária Principal, inserindo-se na Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T) o que o torna um dos portos mais competitivos da Costa Atlântica da Europa. Dispõe de terminais portuários especializados em todos os tipos de carga, com grande capacidade disponivel, localizados fora dos limites da cidade, com ligações diretas e sem constrangimento de tráfego. É líder nacional no segmento Roll-On Roll-o na movimentação de veiculos novos com linhas regulares que servem os mais diversos portos da Europa, Mediterrâneo e Extremo Oriente.

É um porto chave no apoio à eficiência da indústria na região onde, se localizam as principais indústrias exportadoras do país, bem como no abastecimento de bens de consumo ao seu hinterland, o qual integra a região da Grande Lisboa.

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