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Nicolette Van der Jagt (CLECAT É necessário reconstruir a confiança entre os players do setor do shipping

O setor do shiping vive tempos conturbados, nunca vistos. A pandemia COVID-19 afetou profundamente o comércio global e os padrões de consumo, causando disrupções nas cadeias de abastecimento a nível mundial. Pela primeira vez, a procura pelo transporte marítimo de longo curso ultrapassou a oferta, levando a um aumento brutal do custo dos fretes e colocando em causa a relação entre os armadores e os restantes players do setor. Por outro lado, o congestionamento que se verifica nos portos chineses e norte-americanos, assim como a falta generalizada de contentores no mercado, só tem agravado a crise logística que se vive a nível global. A diretora-geral da CLECAT, que participou na PORTO MARITIME WEEK, promovida pelo TRANSPORTES & NEGÓCIOS (e que a APAT apoiou), referiu que “esta situação afeta todo o setor, mas no caso dos transitários afeta principalmente as pequenas e médias empresas, que não têm como defender os seus interesses e dos clientes. Tem sido extremamente difícil assegurar que os contratos são cumpridos e que as cargas são carregadas e transportadas, não só devido ao elevado preço dos fretes, como também devido à crise de falta de contentores”. Nicolette van der Jagt adiantou que “muito aconteceu nos últimos 18 meses na cadeia de abastecimento de contentores e é justo dizer que a reputação da cadeia de abastecimento marítima nunca foi tão má como agora. Muitas vezes me perguntam como é que queremos sair desta situação de crise e eu digo que terá de ser através do diálogo e do debate entre todos, de modo a entrarmos numa situação de “novo normal”. Todos os dias recebo telefonemas de carregadores, retalhistas, produtores, industriais, fornecedores, que querem saber se os seus produtos vão chegar às lojas a tempo do Natal a um preço normal, isto porque os preços dos fretes marítimos simplesmente são muito altos. E para os transitários esta situação é muito frustrante, porque somos aqueles que precisam de encontrar soluções para os clientes, mesmo sabendo que existem aqueles que podem pagar os fretes, devido ao valor dos seus bens”. Para a responsável, a atual situação “não vai ficar resolvida no curto prazo”, sendo necessário encontrar soluções e apostar na resiliência das cadeias de abastecimento, mesmo tendo em conta que os armadores estão cada vez maiores e que existe uma concentração do mercado. “Já não existem players independentes, existem alianças globais que partilham cada vez mais informação (…) Aquilo que a Comissão Europeia nos diz é que é o mercado a funcionar… só que mesmo antes da pandemia já estávamos a ver o que iria acontecer devido aos efeitos da concentração no setor do shipping. Não estamos contra as alianças ou corporações, mas vemos estes grandes grupos a terem acesso a informação digital e dados, que alguns até podem ser confidenciais, e que lhes dão vantagens competitivas”. A diretora-geral da CLECAT defendeu, por isso, que “é necessário apurar responsabilidades, e os reguladores deveriam investigar o que aconteceu e está a acontecer no setor. Já perguntámos à Comissão Europeia se tem dados e informação sobre esta situação e disseram-nos que estão a monitorizar o que está a acontecer. Estamos dispostos a partilhar os nossos dados, informação e o nosso ponto de vista. Mas também sabemos que será um processo de investigação longo”. Nicolette Van der Jagt assume que “é preciso reconstruir a confiança no setor. É isso que os nossos membros pretendem, mas para que tal aconteça é preciso mais transparência entre todos os players. E o nosso papel, enquanto associação, é fazer com que estas questões que preocupam o setor cheguem às principais instâncias europeias”.

Pedro Costa Pereira Jornalista

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