crônica – Isabela Barros
Final de novela na 25 de Março
N
aquele momento, ela tinha apenas três certezas: estudaria Direito em São Paulo, com isso mudaria a sua vida e a de sua família e, ao chegar à maior metrópole brasileira, iria direto para a 25 de Março. Queria arrumar um emprego na rua, que sempre sonhou conhecer. Decisões que ela começou a tomar desde menina, quando ouvia a avó materna, Maria de Lourdes, dizer: “vai ser advogada”. O pai e a mãe não tinham a mesma convicção e até tentaram convencer a filha única a tirar aquela ideia da cabeça: “faculdade custa caro, não é para nós”. Entre um argumento e outro, ela ficou com o primeiro. E começou a pesquisar preços de universidades particulares na Grande Porto Alegre (RS), onde morava com a família. Logo se deu conta de que, em sua cidade, não seria
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possível pagar pelo único curso superior que a interessava com o salário de vendedora em uma loja de jeans. A família não tinha condições de ajudar. Não demorou a descobrir que, em São Paulo, existiam instituições de ensino superior com preços mais acessíveis. Com isso, fez contas: era preciso garantir uma quantia para pagar a matrícula, as três primeiras mensalidades, além do suficiente para comer e pagar alguma pensão no Centro onde pudesse se hospedar até conseguir um emprego. Com o dinheiro da venda de seu computador, presente de um exnamorado, os três primeiros meses de vida na capital paulista estariam assegurados. E assim foi feito, tão logo ela conseguiu convencer a mãe de que, aos 18 anos, em 2007, daria conta do recado sozinha. Por fim, teve o apoio dos pais, com o reforço de que os dois confiavam
nela e na educação que haviam lhe dado. Uma vez no Terminal do Tietê, deixou as malas num guarda-volumes e foi direto para o Shopping D, ali ao lado, arrumar um salão de beleza onde pudesse lavar o cabelo e ir para a 25 de Março, procurar emprego. Mal deixou a rodoviária, foi assaltada. O prejuízo: 300 reais e um celular cedido por um tio para que ela pudesse se comunicar com a mãe quando estivesse longe. Por sorte, a maior parte do dinheiro havia ficado guardada em suas bolsas. Voltou, fez um Boletim de Ocorrência, conseguiu reaver suas bagagens, e ligou para a mãe de um telefone público. Para não preocupá-la, preferiu inventar uma história e disse que havia esquecido o telefone no ônibus. Depois disso, tratou de arrumar o cabelo e ir à luta. Não havia tempo para lamentação.