Revista Keramica n.º364

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KÉRAMICA revista da indústria cerâmica portuguesa

Publicação Bimestral €8.00

nº364

Edição Maio/Junho . 2020

ECONOMIA CIRCULAR & SUSTENTABILIDADE



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Index

Economia . 20

Editorial . 03

Exportações de Cristalaria em 2019 - No Mundo, UE-28 e Portugal

Destaque . 04

Responsabilidade Corporativa . 22

Novo Plano da UE para a Economia Circular

Principais Temas que o GRACE está a Debater no Âmbito da Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa

Economia Circular . 07

Recursos Naturais . 25

A Economia Circular, uma Agenda Transformadora e um Desafio para a Sociedade

Resíduo e Subproduto

Desenvolvimento Sustentável . 10

Boas Práticas nas Empresas . 28

"Verde" é o Caminho (?)

Sustentabilidade Económica . 12 Um dia Nacional da Sustentabilidade? Primeiro, Estranha-se ...

28 31 33 36 38

A Sustentabilidade da ROCA Cerpeg Crisal Portugal Ecogrés + MG Primus Vitória, a mesma Qualidade mas com Energia Limpa

Resíduos . 40 A Importância da Economia Circular no Fim de Vida do Material Cerâmico

Seção Jurídica . 14

Notícias das Empresas . 44

Programa de Estabilização Económica e Social

Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas

Responsabilidade Social . 17

Outras Notícias . 46

A Sustentabilidade não é uma Utopia

Economia Circular

Calendário de eventos . 48 Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023 Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício C 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt Tiragem 500 exemplares Diretor Marco Mussini Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira e Marco Mussini. Capa Nuno Ruano

Colaboradores Albertina Sequeira, Amélia Damas Gonçalves da Vitória, António Oliveira, Bruno Santos, Cristina Carrola, Cristina Ribeiro, Filomena Girão, Hugo Francisco, Inês Gomes, Inês dos Santos Costa, Jorge Carneiro, Luísa Magalhães, Margarida Couto, Mário Parra da Silva, Marta Frias Borges, Rodrigo Serra e Silvia Machado Paginação Nuno Ruano Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €32,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00 Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da revista Técnica n.º 3 Maio / Junho 2020 (CTCV)

Índice de Anunciantes CERTIF (Página 41) • INDUZIR (Verso Capa) • Magellan (Contra Capa) • OHAI Nazaré (Página 1) • SEW (Verso Contra Capa) Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem Publicação Bimestral nº 364 . Ano XLV . Maio . Junho . 2020

Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php

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Editorial

O tema deste número da KERAMICA é hoje cabeça de cartaz em qualquer empresa ou organização, e não falta quem a ele se refira de forma mais ou menos séria, sobretudo para lhe valorizar o sentido e o tornar não só falado como sobretudo praticado. Como se não bastasse a democraticidade do tema porque todos (ou quase todos …) o conhecemos e valorizamos, ainda lhe damos vários títulos para que de uma forma ou de outra possamos falar da mesma realidade, ainda que ilustrado com fotografias tiradas de vários ângulos. Ambiente, Sustentabilidade, Economia Circular, Eficiência Energética, Recursos Hídricos, Alterações Climáticas, Gestão de Resíduos, Ciclo de Vida dos Produtos e outras tantas que me cansaria de referir, dão afinal o mote para que qualquer campanha de marketing o chame a si e aos seus objetivos, como sinal distintivo que pretende ser um certificado que garanta a confiança dos consumidores. E neste contexto, nem pela cabeça me passaria tentar desmobilizar esta crença, até porque também nela acredito e a pratico, com gestos a que me obrigo pessoalmente e com os quais contribuo muitíssimo modestamente para o melhor ambiente possível. Mas, e como em tudo na vida, quando aparece um tema que pega de estaca na sociedade em geral e se torna ou pretende tornar num selo de garantia que se ostenta em qualquer rótulo, há que tomar muitas cautelas para não nos

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deixarmos levar facilmente pelos rótulos, sem cuidarmos de procurar saber os detalhes que normalmente constam da respetiva “Bula” que, valha a verdade, raramente se lê. Mas onde é que quero chegar? A dois destinos nesta sequência: O primeiro é de que quando usamos qualquer dos títulos que acima referi como exemplo, estes ou outros, não estamos a falar de realidades distintas que contam cada uma por si, mas antes da mesma realidade que resulta da ligação entre eles, ou seja, não se pode falar de sustentabilidade sem falar de economia circular, não se pode falar de gestão de resíduos sem falar do ciclo de vida dos produtos, nem se pode falar de ambiente sem abordar a gestão dos recursos hídricos e em geral da eficiência energética, enfim, não podemos olhar e concluir apenas pela análise de uma das vertentes, esquecendo que se trata de partes do mesmo corpo. O outro destino a que quero chegar está na razoabilidade com que temos de fazer estas abordagens, de modo a não pecarmos por defeito ou por excesso, com o risco agravado de se poder valorizar mais um do que os outros, num julgamento que é feito com subjetividade/parcialidade e/ou interesse, conforme o teor da comunicação com que se pretende influenciar uma decisão. É que, sejamos sérios: não há produtos completamente virgens na sua transformação quando se faz a sua análise do ponto de vista ambiental! A inovação tecnológica, o desenvolvimento científico e a procura incessante por novos produtos que satisfaçam novos requisitos ou melhorem a abordagem de necessidades anteriormente sentidas, são opções da sociedade que cresce, evolui e exige cada vez mais e melhores padrões de vida e conforto de que não queremos abdicar. Por isto e em conclusão, direi que os produtos mais sustentáveis e mais amigos do ambiente, são aqueles que conseguem conciliar melhor as duas frentes em oposição: por um lado o seu respeito pelas causas ambientais, mas por outro a sua multifuncionalidade. O difícil nesta contenda, é a obtenção do equilíbrio que todos desejamos. A cerâmica portuguesa já aceitou este desafio, e tem argumentos suficientes para fazer este debate, mesmo que entendendo que não atingimos o topo a que de resto nunca chegaremos, pelo menos no que respeita à ambição de chegar sempre mais longe.

Dr. José Luís Sequeira (Presidente da Direção da APICER)

Editorial . Kéramica . p.3


Destaque

NOVO PLANO DA UE PARA A ECONOMIA CIRCULAR

po r Sí l v i a Ma ch a d o , A s s essora p ara Amb i e n te & C li m a , C I P — Co nfe d e ração Emp re sar i al d e Po r t u g a l.

Mudança de foco, do resíduo para o produto SÍNTESE O novo plano para a Economia Circular da UE inova ao alargar o foco ao produto conceptualmente mais ecológico. Se até aqui a atenção estava concentrada nos resíduos como recurso, o novo plano concentra-se sobretudo na conceção de produtos mais duráveis, passíveis de reparar e reutilizar, e com maior incorporação de matérias-primas secundárias. O novo plano direciona igualmente a atenção para os direitos de um consumidor mais consciente, com direito a informação fiável e à garantia de duração e do acesso à reparação. Visto como um dos principais motores da recuperação da UE, a par da Digitalização, a Economia Circular é impulsionada por um novo quadro estratégico para a sustentabilidade dos produtos que incluirá três pilares principais — ações em matéria de conceção dos produtos, capacitação dos consumidores e processos de produção sustentáveis.

«Se pretendemos alcançar a neutralidade climática até 2050, preservar o nosso ambiente natural e reforçar a nossa competitividade económica, temos que criar uma economia totalmente circular. Atualmente, a nossa economia é, ainda, quase totalmente linear, e apenas 12% dos materiais e dos recursos secundários são reintroduzidos na economia. Muitos são os produtos que se decompõem ou avariam de forma demasiada rápida, não podem ser reutilizados, reparados ou reciclados ou são concebidos para serem utilizados uma única vez. Existe um enorme potencial a explorar tanto no que se refere às empresas como aos consumidores.» Frans Timmermans, Vice-Presidente da Comissão Europeia

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Na base da iniciativa legislativa em matéria de sustentabilidade dos produtos estará uma proposta no sentido de alargar o âmbito de aplicação da Diretiva Conceção Ecológica para além dos produtos associados ao consumo de energia. O objetivo será dar resposta à necessidade de aumentar a durabilidade, a possibilidade de reutilização, a capacidade de atualização e a reparabilidade dos produtos, reduzir a presença de produtos químicos perigosos nos produtos e aumentar o seu teor de materiais reciclados. Está previsto igualmente restringir os produtos de utilização única, combater a obsolescência prematura e proibir a destruição de bens duradouros não comercializados. Em termos de medidas para capacitar os consumidores, a Comissão pretende garantir que os consumidores tenham acesso a informações fiáveis sobre questões como a reparabilidade e a durabilidade dos produtos, a fim de os ajudar a fazer escolhas sustentáveis do ponto de vista ambiental. Para garantir que os consumidores beneficiem do direito à reparação, será introduzido, até 2021, um «direito à reparação» nas políticas da UE em matéria de consumidores e de produtos.

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Destaque

A Comissão propõe que as empresas fundamentem as suas alegações ambientais através do recurso a metodologias que permitam determinar a sua pegada ambiental. Serão também propostas regras mais rigorosas com vista a reduzir o eco branqueamento. A adoção de novas medidas permitirá promover a adjudicação de contratos públicos ecológicos, graças, em parte, à introdução de critérios ou objetivos ecológicos mínimos obrigatórios.

«Só há um planeta Terra. No entanto, em 2050, o mundo vai consumir como se houvesse três. O novo plano permitirá integrar a circularidade nas nossas vidas e acelerar a transição ecológica da nossa economia. Propomos medidas decisivas para alterar o processo que está no topo da cadeia de sustentabilidade — a conceção dos produtos. Ações orientadas para o futuro permitirão criar oportunidades a nível das empresas e da criação de emprego, conceder novos direitos aos consumidores europeus, tirar partido da inovação e da digitalização e, tal como acontece na natureza, garantir que nada seja desperdiçado.» Virginijus Sinkevičius, Comissário para o Ambiente, Oceanos e Pescas

Continuará a ser dada prioridade à prevenção da produção de qualquer tipo de resíduos e à sua transformação em recursos secundários de elevada qualidade, com vista à promoção do bom funcionamento do mercado das matérias-primas secundárias. A Comissão vai proceder a uma revisão das regras em matéria de transferência de resíduos a fim de facilitar a reciclagem ou a reutilização no território da UE. Isso inclui a ponderação sobre a possibilidade de criar um modelo harmonizado, à escala da UE, para a recolha seletiva e a rotulagem dos produtos. O plano de ação propõe igualmente uma série de medidas destinadas a reduzir ao mínimo as exportações de resíduos da UE. A Comissão anunciou ainda o lançar medidas concretas nos setores que identificou como sendo os que utilizam a maior parte dos recursos e em que existe potencial de circularidade. O que propõe o plano para os diferentes setores: ELETRÓNICA E TIC O plano de ação propõe a criação de uma «Iniciativa sobre a Eletrónica Circular», destinada a promover o prolongamento da vida útil dos produtos, graças a maiores possibilidades de reutilização e de reparação dos mesmos, bem como a um aumento da capacidade de atualização dos componentes e do

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software, a fim de evitar a obsolescência prematura. Este setor será um domínio prioritário no que respeita à aplicação do «direito à reparação». A Comissão pretende, no âmbito da Diretiva Conceção Ecológica, adotar novas medidas regulamentares no que respeita aos telemóveis, aos tabletes e aos computadores portáteis, bem como no que toca aos carregadores de telemóveis e dispositivos semelhantes. TÊXTEIS Os têxteis ocupam o quarto lugar na hierarquia das atividades que mais pressão exercem sobre as matérias-primas primárias e os recursos hídricos, e o quinto lugar no que respeita à emissão de gases com efeito de estufa. O plano neste setor incluirá medidas para promover a produção de têxteis sustentáveis e circulares, e a adoção de novos padrões de consumo. A Comissão prestará igualmente orientações no que toca à recolha seletiva de resíduos têxteis, que os Estados-Membros terão de assegurar até 2025. PLÁSTICOS O plano de ação tem por base a estratégia de 2018 para os plásticos e presta especial atenção ao aumento do teor de plástico reciclado nos produtos. A Comissão irá ponderar sobre a imposição de requisitos obrigatórios no que respeita ao teor de materiais reciclados em setores como as embalagens, os materiais de construção e os veículos. O plano pretende igualmente dar resposta aos desafios relacionados com os microplásticos e com o aprovisionamento e a utilização de plásticos de base biológica e biodegradáveis. CONSTRUÇÃO E EDIFÍCIOS O setor da construção consome cerca de 50% de todos os materiais extraídos e é responsável por mais de 35% da produção total de resíduos da União. A Comissão vai adotar uma nova e abrangente Estratégia para a Sustentabilidade do Ambiente Construído, a fim de promover os princípios da circularidade ao longo de todo o ciclo de vida dos edifícios. A estratégia incluirá a revisão do Regulamento de Produtos de Construção, que poderá incluir requisitos em matéria de teor reciclado no que respeita a alguns produtos. EMBALAGENS Em 2017, na Europa, os resíduos de embalagens atingiram 173 kg por habitante — o nível mais elevado de sempre. A Comissão vai propor medidas prioritárias para contrariar esta atual tendência, com a definição de objetivos na matéria e a adoção de outras medidas preventivas. O objetivo da Comissão é encontrar formas economicamente viáveis para fazer

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Destaque

com que, até 2030, todas as embalagens colocadas no mercado da UE passem a ser reutilizáveis ou recicláveis. Vai igualmente propor um reforço dos requisitos essenciais obrigatórios, que irão definir o tipo de embalagens que podem ser colocadas no mercado da UE, e promover a redução das práticas de sobreembalagem. BATERIAS E VEÍCULOS O novo quadro regulamentar previsto para as baterias incluirá medidas destinadas a melhorar as taxas de recolha e reciclagem de todas as baterias, e a assegurar a valorização dos materiais valiosos recuperados. O objetivo é promover a aplicação de requisitos de sustentabilidade como o aumento do teor de materiais reciclados nas novas baterias, e a garantia da prestação de informações aos consumidores. A Comissão vai propor uma revisão das regras aplicáveis aos veículos em fim de vida, a fim de aumentar a eficiência das operações de reciclagem, e a definição de novas regras no que respeita ao tratamento sustentável de óleos usados. ALIMENTOS Foi recentemente publicada a estratégia «Do Prado ao Prato», a fim de garantir a sustentabilidade do setor, apoiando os esforços de combate às alterações climáticas, de proteção do ambiente e preservação da biodiversidade. Foram estabelecidas metas de redução na utilização de pesticidas na agricultura, na redução da perda de nutrientes e na redução da utilização de fertilizantes. A estratégia tem ainda como objetivo promover a extensão da agricultura biológica (25% do terreno agrícola total até 2030). A Comissão irá ainda propor um sistema de rotulagem que abranja os aspetos nutricionais, climáticos, ambientais e sociais dos produtos alimentares, e intensificar a luta contra o desperdício alimentar, propondo objetivos vinculativos de redução em toda a UE até 2023. DESAFIOS Em termos de desafios na implementação deste novo Plano, que significa continuidade e reforço do anterior está, desde logo, o garantir a manutenção, mesmo que parcial, dos investimentos previstos nesta área face às prioridades na retoma da atividade económica pós-pandemia. Existe um risco elevado de necessidade de suspensão ou reorientação dos investimentos previstos em medidas de economia circular ou descarbonização. As prioridades da maioria das empresas são agora a recuperação financeira e, em alguns casos, apenas a manutenção de liquidez para fazer face às obrigações salariais e medidas de proteção da saúde dos seus trabalhadores.

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Por outro lado, no meio de uma crise económica provocada por uma crise de saúde pública, as pessoas concentram, compreensivelmente, as suas preocupações imediatas na saúde e nos recursos básicos. Os perigos de longo prazo das mudanças climáticas podem, em alguns países, passar para segundo plano, e a desejável transição de comportamentos, essencial a um aumento da circularidade da economia, sofrer uma desaceleração ou mesmo um retrocesso. Medidas anteriormente planeadas de mudança da tributação do trabalho para outras bases tributárias menos prejudiciais ao crescimento económico, como impostos sobre o consumo e impostos ambientais, podem ser postas em causa, ou mesmo suspensas, para não agravar a inevitável crise económica e social que enfrentamos. Outro grande desafio será alcançar um sistema justo de responsabilidades. As novas regras ditam que se procure recompensar os fabricantes de produtos com base no desempenho dos produtos em matéria de sustentabilidade. Significa isto, por um lado, estabelecer uma relação entre elevados níveis de desempenho das empresas e a concessão de incentivos – a discussão em curso sobre o financiamento sustentável. E, em segundo lugar, relacionar impostos e taxas ambientais com o nível de ecodesign dos produtos – o desenvolvimento de critérios de ecomodelação das contribuições financeiras dos produtores. Em ambas as áreas, os critérios que necessariamente terão de ser implementados, podem não ser fáceis de quantificar de forma objetiva e clara. Veja-se, por exemplo, os critérios de ecodesign como durabilidade ou reciclabilidade que dependem não só das características intrínsecas do produto, mas também das infraestruturas de tratamento e reciclagem, e sistemas de reparação ou recolha disponíveis. O terceiro desafio não é novo. Trata-se da dificuldade de adequar a oferta e a procura por matérias-primas secundárias, isto é, criar um verdadeiro mercado de subprodutos e resíduos, recursos secundários. Na prática, esses materiais concorrem com materiais virgens, que atendem a todas as especificações definidas do produto, muitas vezes a um preço mais baixo. Isso pode dificultar a recuperação de investimentos em reciclagem, incluindo custos de mão-de-obra. Acresce que, para os produtores, as matérias-primas secundárias podem ser difíceis de garantir nas quantidades e qualidades necessárias. E ainda que se procure garantir a qualidade, por exemplo através da marcação CE, as matérias-primas secundárias são, geralmente, consideradas de qualidade inferior às das matérias-primas virgens. Isso pode levar ao uso apenas em produtos com especificações mais baixas ou em processos de baixo valor. Incentivos económicos, como a aplicação de taxas reduzidas de IVA, podem ajudar a resolver essa situação. A inovação em termos de especificações técnicas e normas de qualidade também.

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Economia Circular

A ECONOMIA CIRCULAR, UMA AGENDA TRANSFORMADORA E UM DESAFIO PARA A SOCIEDADE

po r Cr i s t i na Ca r r o l a , Vo g a l d o Co ns e lh o D ire t ivo da Agê nci a Po r t ug ue s a d o Am b i e nt e

Cristina Carrola - Agência Portuguesa do Ambiente

Contexto Europeu e Determinantes da Agenda da Economia Circular Ao longo do séc. XX assistimos a um processo de intenso desenvolvimento económico, tendo a população quadruplicado e a riqueza mundial gerada multiplicado por 23. A abundância de recursos naturais a baixo preço foi um dos fatores impulsionadores de um modelo de crescimento intensivo na utilização de recursos. Em termos económicos, a viragem para o século XXI é marcada por sinais de escassez e pelo aumento e volatilidade dos preços das matérias-primas e minerais, tendo-se verificado um forte aumento da procura, determinado essencialmente pelo crescimento das economias emergentes, que levou, por exemplo, a que o preço dos metais triplicasse entre 2002 e 20081. A ameaça sobre os serviços essenciais fornecidos pelos recursos naturais passou a estar cada vez mais presente, sendo que cerca de metade das Emissões de

Gases com Efeito de Estufa e mais de 90% da perda de Biodiversidade têm origem na extração de recursos e no processamento de materiais, combustíveis e alimentos2. Sendo esta uma problemática de dimensão Global, a União Europeia (UE), confrontando-se com a dependência externa de algumas matérias-primas e com alterações das condições de mercado, e assumindo, simultaneamente, um papel de liderança na defesa de valores ambientais, tem vindo a estabelecer estratégias orientadas para uma economia baseada numa utilização mais eficiente dos recursos. Em termos das políticas da UE, identificam-se como principais “A Estratégia Temática sobre a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais” (2005), a que se seguiu o “Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos” (2011)3, em que se reconhece que para a estabilidade económica é essencial o papel dos recursos ambientais, optando-se por uma transição para um sistema eficiente na utilização de todos os recursos, apostando nas oportunidades da redução de custos e da mitigação de impactos no ambiente. O referido Roteiro apontava já para políticas que trabalhassem a interdependência entre a Economia, o Bem-Estar e o Capital Natural. Uma economia "mais circular" tem vindo a ser apresentada como um conceito operacional no caminho para a mudança de paradigma, tendo em vista enfrentar os problemas ambientais e sociais decorrentes da globalização dos mercados e do atual modelo económico baseado numa economia linear de “extração, produção e eliminação”4. O Plano de Ação para a Economia Circular da U.E. (PAEC U.E.), lançado no final de 2015, é entendido como essencial para alcançar em 2030 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com destaque para o ODS 12, “Garantir padrões sustentáveis de consumo e produção”. O referido Plano renova as orientações estratégicas anteriores e aprofunda as áreas de atuação, bem como instrumentos de Iniciativa “Matérias-Primas” – Atender às necessidades críticas para assegurar o crescimento e o emprego na Europa, COM (2008) 699 final. Pacto Ecológico Europeu, COM (2019) 640 final. 3 Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos, COM (2011) 571 final. 4 https://eco.nomia.pt/pt/ 1

2

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Economia Circular

operacionalização. Contempla ações nas áreas da produção e prestação de serviços (conceção do produto, processo e novos modelos de negócio), do consumo (informação aos consumidores; modelos de partilha), dos resíduos (prevenção, preparação para a reutilização, reciclagem e recuperação de energia e eliminação) e dos resíduos como recurso (mercado das matérias-primas secundárias e reutilização da água). O novo PAEC 2020 da U.E.5, que dá continuidade ao PAEC de 2015, constitui-se como um instrumento central na estratégia de crescimento da União, o Pacto Ecológico Europeu, que visa uma economia com um impacto neutro no clima, eficiente em termos de recursos e competitiva. Destaca-se a identificação dos desafios e das áreas de intervenção para as principais cadeias de valor: Eletrónica e TIC; Baterias e veículos; Embalagens; Plásticos; Têxteis; Construção e edifícios e Alimentos, água e nutrientes. Em termos normativos, prevê-se que a concretização do Plano de Ação seja suportada por um pacote de 35 diplomas, até 2022. Consideram-se como principais objetivos delineados no PAEC 2020: Conceber produtos sustentáveis; Capacitar os consumidores e os adquirentes públicos; Incentivar a prevenção e a circularidade dos resíduos; Promover a circularidade num ambiente livre de substâncias tóxicas; Garantir o funcionamento do mercado para as matérias-primas secundárias; Reduzir as exportações de resíduos e Colocar a circularidade ao serviço das pessoas. A Economia Circular parece, assim, poder vir a afirmar-se como uma Agenda transformadora, capaz de reforçar, de forma inovadora, a base industrial da União, de promover a criação de emprego segundo padrões regionalmente mais distribuídos e de reduzir o impacto ecológico da atividade económica. Desafios para uma maior circularidade na indústria Portuguesa Também em Portugal foi delineada uma estratégia que se adequasse à realidade do país, tendo sido aprovado, em 2017, o Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC)6, o qual promove o uso eficiente e a produtividade dos recursos, através de produtos, processos e modelos de negócio assentes na desmaterialização, reutilização, reciclagem e recuperação dos materiais. O PAEC tem uma vigência de 3 anos, perspetivando-se a publicação de um novo ciclo a cada 3/5 anos após avaliação, revisão, ajustes que irão originar novas ações. O PAEC tem como pilar a procura da obtenção de valor económico e utilidade dos materiais, equipamentos 5 6

e bens, pelo maior tempo possível, em ciclos energizados por fontes renováveis. Os materiais são preservados, restaurados ou reintroduzidos no sistema de modo cíclico, com vantagens económicas para fornecedores e utilizadores, e vantagens ambientais decorrentes de menor extração e importação de matérias-primas, redução na produção de resíduos e redução de emissões associadas. O Plano divide-se em três níveis de atuação: Macro, que utiliza o mesmo racional do PAEC da UE como elemento central, produzindo efeitos transversais, Meso, onde o foco é setorial, referindo à totalidade da cadeia de valor de uma determinada atividade, sendo que cada setor deverá desenvolver a sua própria agenda com vista ao aumento da produtividade e utilização eficiente de recursos do país, e

Para uma Europa mais limpa e competitiva, COM (2020) 98 final. RCM n.º 190-A/2017, de 23 de novembro

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Economia Circular

por fim Micro, onde o foco são as regiões, sendo essencial uma visão global de cada território em agendas regionais assumidas pelo conjunto de agentes governativos. A economia circular é parte fundamental da agenda política nacional, sendo que o Programa do XXII Governo Constitucional a destaca como instrumento para transformar o paradigma de produção e consumo, evidenciando a necessidade de uma economia mais resiliente, sustentável e competitiva. Sendo o atual modelo de crescimento económico fortemente baseado numa economia linear, dependente de uma produção permanente proveniente de materiais extraídos, tratados e processados em bens que, no final do seu ciclo de vida, são eliminados como resíduos ou emissões, importa reduzir o consumo de matérias-primas primárias e promover um destino final mais sustentável para os resíduos através de simbioses industriais e valorização enquanto recursos. De acordo com o PAEC, Portugal é um país cujo perfil em termos de metabolismo da economia é lento, ou seja, extrai e importa mais matérias-primas do que exporta produto acabado, acumulando materiais em stock, sobretudo do tipo imobiliário (p. ex. edifícios, infraestruturas). Em termos de custos (2015), as matérias-primas representam 53% dos custos da indústria transformadora. Assim, torna-se evidente que o desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, assente em ciclos de reconversão a montante e a jusante, impulsionados pela inovação ao longo de toda a cadeia de valor, levará à minimização da extração de recursos, maximização da reutilização, aumento da eficiência e desenvolvimento de novos modelos de negócios. No que concerne à indústria transformadora uma das suas características diz respeito à elevada quantidade de resíduos produzidos. Este fator deve constituir-se como uma oportunidade para reaproveitamento de materiais que, normalmente, têm como destino final a eliminação, para produção de diferentes tipos de produtos tecnicamente viáveis e com desempenho melhorado. Através de simbioses industriais, um ramo da ecologia industrial onde se destaca o potencial de abordagens baseadas em "integração de sistemas", a partilha de resíduos/ /subprodutos (resíduo de uma indústria utilizado como matéria-prima de outra de forma a "fechar o ciclo" e viabilizar a substituição de matéria-prima primária por resíduos), poderá ser um passo de cooperação entre empresas que permitirá uma diminuição do consumo de materiais e energia.7 7

É sabido que a Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (APICER) tem desempenhado um papel fundamental na promoção da circularidade das empresas suas associadas, através de pedidos de classificação como subprodutos de desperdícios resultantes do fabrico de produtos cerâmicos, cujos destinos variam entre fabrico de pasta cerâmica, fabrico de materiais para construção (cimento, betão, agregado), terraplanagens e construção de estradas e pavimentação de áreas desportivas, os quais têm tido um parecer positivo por parte da Autoridade Nacional dos Resíduos por se considerarem alternativas que acrescentam valor e previnem a produção de resíduos. Mas como nem só de soluções no contexto dos resíduos vive a economia circular, importa que a indústria se foque igualmente noutras vertentes que promovam a circularidade dos materiais, destacando-se também a conceção/design dos produtos, através do desenho de produtos e serviços projetados para vários ciclos de vida, economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, que permitirão produtos mais duradouros com a consequente utilização de menos recursos. Também a implementação de novos modelos de negócio é, neste contexto, uma oportunidade. A reparação e a remanufactura são exemplos de modelos que claramente incentivam a durabilidade, ao invés da promoção da obsolescência, uma utilização mais eficiente dos produtos e uma menor produção de resíduos. Os diferentes eixos de intervenção promotores da economia circular têm potencial reforçado no contexto dos clusters industriais, como é o caso do Cluster do Habitat Sustentável, no qual a indústria da cerâmica se encontra integrada. É crucial que as indústrias portuguesas beneficiem da oportunidade de inovação que lhes é proposta pela implementação de modelos de economia mais circulares. Dissociar o crescimento económico da utilização de recursos primários, através de tecnologias de conversão mais sustentáveis e assentes em recursos renováveis, ao longo de toda a cadeia de valor dos produtos, constituirá uma aposta ganhadora em termos económicos e ambientais.

https://eco.nomia.pt/pt/exemplos/kalundborg-symbiosis

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Desenvolvimento Sustentável

“VERDE” É O CAMINHO (?)

po r In ê s d o s S a n t o s Co st a , Secretária de Estado do Ambiente

A pandemia COVID expôs fragilidades associadas ao modelo socioeconómico que tem vindo a ser afinado desde os anos 80 do século XX. A globalidade e horizontalidade das cadeias de valor, aliadas à inovação tecnológica, permitiu a redução de custos e o aumento da eficiência. Mas também trouxe um afastamento da economia real, que acentuou desigualdades, precipitou convulsões financeiras, fez aumentar a exposição a choques globais e a tornou cada vez menos resiliente. A resposta a choques globais tem sido, geralmente, um só: baixar barreiras ao consumo, e incentivar a despe-

p.10 . Kéramica . Desenvolvimento Sustentável

sa. Por isso, quando se levantam vozes a exigir o reavivar da economia assente nos pilares do “green deal”, o imaginário da sociedade recai sobre o investimento e despesa em energias renováveis, em mobilidade elétrica, ou na reabilitação de edifícios. Mas isso não é garante de uma economia global mais sustentável. Veja-se o caso nacional: a energia é cada vez mais renovável e a intensidade carbónica da economia cada vez menor, mas por outro lado cresce o consumo de materiais, a produção de resíduos, a escassez de água ou a aridez do solo. Vivemos uma época de inovação tecnológica, de energias renováveis, e de eficiência, mas extraímos, consumimos e desperdiçamos materiais a um ritmo cada vez maior: em 2000, o consumo doméstico de materiais per capita era de 8,9 toneladas; em apenas 15 anos passou a 12 toneladas per capita. Cerca de metade das emissões a nível global estão relacionadas com este consumo. E extraímos cada vez menos valor dos materiais que processamos. O economista Giorgio Kallis exprime bem este paradoxo: “É louca a ideia de que a economia pode continuar a crescer 3% ao ano, dobrar a cada 22 anos e ser 11 vezes maior no final do século.” O facto é que não podemos ter um caminho “verde” que se alimenta de um caminho “cinzento” de business as usual. Temos de, globalmente, assumir a responsabilidade sobre os impactos da totalidade do ciclo de vida dos produtos ou serviços; o que, por sua vez, significa mudar radicalmente o modo de planear, produzir, vender, consumir e regenerar (reduzir, refazer, recuperar). Só assim poderemos “ser” a mudança, ao invés de apontar responsabilidade ao governo, às empresas ou ao cidadão. Esta visão foi apropriada na nossa atuação, a começar pelo mote: contas certas com o ambiente. Propositadamente, pegámos na conhecida frase para transmitir a ideia de que, tal como nas finanças, temos também de acertar con-

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Desenvolvimento Sustentável

tas com o nosso principal fornecedor – o que nos dá água, solo, ar, energia, alimentos, materiais – e que, tão-somente, sustenta toda a sociedade e economia. Mas a verdade é que demos prioridade à internalização dos benefícios económicos e sociais de curto prazo, enquanto os custos ambientais, são externalizados para a sociedade no médio a longo prazo. E isso vê-se noutros números que não o PIB. Vê-se nos indicadores de saúde, vê-se na despesa pública em resíduos e saneamento, vê-se no ordenamento do território, vê-se nos fogos florestais, vê-se na perda de biodiversidade, vê-se na escassez de água, vê-se no aumento de doenças zootrópicas, como a gripe das aves ou o COVID. Logo, se queremos caminhos verdes e sustentabilidade, então os recursos e serviços ambientais têm, forçosamente, de fazer parte das contas do país, e ser elemento fundamental do processo de decisão e de políticas públicas. Decidimos estabelecer 10 missões para os próximos 4 anos, traçando medidas para uma governança que reconcilie a dimensão de prosperidade económica e social com a dimensão ambiental. As missões variam entre a necessidade de transformar comportamentos, passando por um litoral resiliente e ordenado, até mais design para menos resíduos. E em todas estas missões estabelecemos um conjunto de instrumentos de política – de estratégia, de planeamento, de regulação, de economia – que traduzem as medidas, orientações e a prática, convertendo em “produtos”: a revisão do Regime Geral de Gestão de Resíduos e as Orientações para os Biorresíduos, a revisão da Estratégia Nacional do Ar, o Plano Estratégico da Água, Águas Residuais e Pluviais 2030, as orientações para a reutilização de águas residuais tratadas, a valorização de lamas, a Fiscalidade Verde ou a revisão do PAEC. Todos estes produtos têm, obrigatoriamente, implicações no dia a dia das empresas, dos municípios e dos

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cidadãos. Mas onde, tipicamente, se pensa sempre em “mais custos”, na verdade o que se pretende é maior prosperidade e resiliência das empresas, dos municípios, das famílias – da própria economia nacional. E o Ministério do Ambiente e da Ação Climática não pode ser o único a ter estas questões presentes na sua ação. Num momento em que os desafios ambientais são centrais à estratégia de qualquer país ou organização (basta ler qualquer relatório da Comissão Europeia ou de organizações internacionais), é preciso ter presente que existem papéis definidos – de planeamento, de política, de licenciamento, de fiscalização, de inspeção – mas também que todas as entidades (sejam elas públicas ou privadas), e a própria sociedade, não se podem demitir das suas responsabilidades nessa matéria. Ao Ministério do Ambiente e da Ação Climática cabe ajudar a estabelecer a visão, os objetivos, os instrumentos de política pública de ambiente e promover a sua concretização no terreno. Mas se queremos, de facto, caminhos “verdes” para fora da pandemia, temos de perceber que antes sequer de existir intervenção das instituições de ambiente há uma decisão, uma negociação, um planeamento, uma autorização municipal – e que em todos estes momentos há uma oportunidade para integrar critérios de desempenho ambiental, há uma oportunidade de prevenir que as emissões e efluentes, mesmo cumprindo a legislação, não comprometam as infraestruturas de tratamento existentes ou impactem as comunidades envolventes, há uma oportunidade em fazer sinergias com empresas locais e criar valor local com maior eficiência ambiental, e há uma oportunidade de envolver a comunidade nas soluções de mitigação desde o primeiro momento. É a esse nível que precisamos de ir em conjunto se quisermos, de facto, prosperar.

Desenvolvimento Sustentável . Kéramica . p.11


Sustentabilidade Económica

UM DIA NACIONAL DA SUSTENTABILIDADE? PRIMEIRO, ESTRANHA-SE…

po r Br u n o S a n t o s, Public Affairs DECO PROTESTE

Uma confissão para início de texto: começámos tarde. A Sustentabilidade, enquanto área sistemática de trabalho e de intervenção da DECO PROTESTE, foi, até ao início deste ano, tocada pelos nossos estudos ao longo dos últimos 20 anos, mas sem que a chamássemos pelo nome. Esta demora não se deveu a alguma desatenção ou à desvalorização do tema e da sua urgência. Pelo contrário. Durante as últimas duas décadas, fomos caminhando com os consumidores para um dos pilares essenciais da Sustentabilidade – a criação e solidificação de um consumo sustentável, através de novas mentalidades e novas práticas. Sem este novo olhar se enraizar nos hábitos dos

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consumidores, podemos todos – empresas, sucessivos governos, organizações não governamentais, ativistas – criar as mais espantosas campanhas e as mais ruidosas manifestações, mas dificilmente diminuiremos a depredação dos recursos naturais ou iremos por novos e mais sustentáveis caminhos coletivos. Haverá a tentação de gritar bem alto: persistindo nas práticas atuais não estamos a hipotecar o futuro das gerações vindouras? Talvez este mote desperte os mais comprometidos com o Planeta, mas não toca, nem ao de leve, os que estão (e são muitos) apenas, comprometidos com o presente e com um futuro que não vai muito mais longe do que o depois de amanhã.

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Sustentabilidade Económica

Primeiro problema: como é que entregamos valor aos cidadãos? Como é que aliamos um ganho tangível (ou seja: dinheiro, vantagem económica) a práticas sustentáveis? Esta assunção nasce da nossa experiência, e do conhecimento que temos dos consumidores. Quando confrontados com alterações de práticas, não iremos dissuadir a maioria através de compromissos coletivos. Temos de entregar ganho, temos de evidenciar a vantagem financeira da alteração. Mas numa perspetiva imediata. O ‘agora’ é o momento do ganho. Segundo problema: como compatibilizar progresso e novas práticas? O progresso do consumo representa comodidade e facilidade pessoal. É mais fácil, por exemplo, mantermos a nossa higiene hoje do que há quarenta anos. Não podemos advogar a prescindibilidade se algumas conquistas em prol de um devir coletivo (de forma quase caricatural: o regresso às fraldas de pano, o adeus às toalhitas, a troca dos pensos higiénicos pelo copo vaginal). Este discurso da culpabilização do consumo gera acantonamentos e recusa de diálogo. Atira os seus ativistas para as franjas do radicalismo e as possibilidades de construção esboroam-se. Terceiro problema: como universalizar o acesso financeiro? Carros menos poluentes? Sem dúvida, mas o preço de um elétrico permite comprar, se compararmos equipamentos, veículos diesel ou gasolina mais baratos. Alimentos biológicos? Todos queremos, mas quando comparamos os preços com os ‘outros’ torna-se um consumo impensável para a maioria das famílias. O preço é um fator de bloqueio e, como sabemos, um dos principais fatores na decisão de compra. Quarto problema: enfrentar um dos males crónicos da sociedade portuguesa – como é que criamos responsabilização? Como é que responsabilizamos cidadãos e operadores económicos que, por exemplo, não separam o seu lixo? Como é que responsabilizamos a administração local pela ineficácia generalizada das políticas de gestão de resíduos sólidos urbanos e pela sua falta de coragem política para a definição de regimes PAYT (acrónimo inglês de pay as you throw, ou seja o princípio do poluidor-pagador)? Como é que deixa de ser indiferente gerar resíduos ou poluir?

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Quinto problema: como é que somos consequentes? Como é que podemos defender a mobilidade elétrica, ao mesmo tempo que persistimos num parque automóvel velhíssimo, com uma média de 12 anos de idade, sem que, verdadeiramente, incentivemos a compra de veículos menos poluentes e novos ou mais recentes? Ou como é que toleramos a infernização da vida dos automobilistas sem a recriação de um sistema de transportes públicos realisticamente correspondente às suas necessidades? E aqui entenda-se horários consistentes, adequação dos meios à procura, segurança e conforto? Sexto e último problema: como é que refletimos coletivamente sobre tudo isto? Como é que ultrapassamos visões meramente académicas ou estratégias de comunicação empresarial? Como é que convocamos Portugal e os Portugueses para este processo? Assim nasceu a proposta de criação de um Dia Nacional da Sustentabilidade a 25 de setembro – data em que a ONU, em 2015, propôs os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável que devem ser implementados por todos os países até 2030. Queremos trazer esta discussão para a rua, para a agenda dos cidadãos. Queremos que as opções individuais de consumo não sejam relativizadas – queremos que cada consumidor acredite que a sua decisão faz a diferença. Mas queremos, também, que haja condições para que se tornem possíveis. E que os consumidores utilizem, então, o seu inigualável poder de decidir, de aceitar, ou não, um produto ou um serviço depois de avaliar a sua sustentabilidade. Por tudo isto, queremos que a discussão do nosso futuro tenha um dia marcado, para que saia dos discursos oficiais e entre, definitivamente, na prática coletiva. E teremos, pelo menos uma vez por ano, de ser confrontados com o que fizemos e com o que ainda há para fazer. Nessa altura, o nosso objetivo está ganho, porque também ganhámos, finalmente, os consumidores, a sociedade, os cidadãos para esta obra coletiva que é a preservação do nosso futuro.

Sustentabilidade Económical . Kéramica . p.13


Seção Jurídica

PROGRAMA DE ESTABILIZAÇÃO ECONÓMICA E SOCIAL

po r Fi l o m e n a Gi r ã o e Mar t a Fr ia s B or ges , FAF Advogados

Foi aprovado em Conselho de Ministros, por via da Resolução n.º 41/2020 de 6 de Junho, o Programa de Estabilização Económica e Social, com um horizonte temporal até ao fim de 2020. Numa fase em que parece ultrapassada a fase crítica da pandemia Covid-19, em face das projecções que perspectivam uma forte contracção da economia portuguesa em resultado do choque económico provocado pelas medidas de contenção implementadas, este Programa visa impulsionar a necessária retoma da economia. Assim, o Governo anunciou o “lançamento de um vasto conjunto de pequenas obras, de execução célere e disseminada pelo território, que possam absorver algum do impacto da crise económica provocada pela pandemia”, e, ao mesmo tempo, garantiu o reforço e alargamento de diversas prestações sociais, bem como a criação de novos instrumentos de apoio dirigidos aos trabalhadores e às empresas. Este Programa de Estabilização Económica e Social assenta em quatro eixos, a saber: (i) cariz social e apoios ao rendimento das pessoas; (ii) manutenção do emprego e retoma progressiva da actividade económica; (iii) apoio às empresas; e (iv) matriz institucional. No que concerne ao apoio aos rendimentos das pessoas, destacamos o designado “complemento de estabilização”, com o objectivo de disponibilizar um apoio extraordinário aos trabalhadores que sofreram uma redução do seu rendimento em resultado da pandemia. Trata-se, pois, de um apoio que visa compensar os trabalhadores pela quebra de rendimento sentida com o recurso ao “Lay-Off simplificado” por parte das respectivas entidades empregadoras (recorde-se que, ao abrigo desta medida, o trabalhador apenas tinha garantidos 2/3 da sua normal retribuição ilíquida). Assim, e com esta finalidade, o complemento de estabilização será liquidado numa só prestação no decorrer

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do mês de Julho, no montante da perda de rendimentos de um mês de Lay-Off, assumindo um valor que pode variar de € 100,00 a € 351,00. Os destinatários da medida serão os trabalhadores com salário base superior a € 635,00 e inferior ou igual a € 1270,00, que tenham estado em Lay-Off num dos meses entre Abril e Junho. Já no respeitante às medidas previstas para as empresas (que importarão condicionalismos no recurso a despedimentos colectivos, por extinção do posto de trabalho e por inadaptação, bem como, nalguns casos, à distribuição de dividendos durante a aplicação da mesma), merecem destaque o ‘Apoio à retoma progressiva’ e o ‘Incentivo financeiro extraordinário à normalização da actividade empresarial’. O Programa de Estabilização Económica e Social prevê que as empresas encerradas possam continuar a beneficiar o regime de Lay-Off simplificado, nos moldes actuais. Além disso, o Lay-Off simplificado com opção entre a suspensão do contrato de trabalho e redução do período normal de trabalho, manter-se-á, nesses mesmos moldes, durante o mês de Julho. Posteriormente, o regime de Lay-Off simplificado será substituído pelo designado “apoio à retoma progressiva”, possibilitando às empresas com quebra de facturação igual ou superior a 40% o recurso à redução do horário de trabalho dos seus funcionários. O regime deste “apoio à re-

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Seção Jurídica

toma progressiva” sofrerá variações consoante o mês e a percentagem de quebra de facturação, sendo o apoio da Segurança Social na comparticipação dos salários e a redução/isenção de contribuições para a Segurança Social gradualmente reduzidos, nos termos que se passam a expor:

JULHO (último mês do designado Lay-Off simplificado)

AGOSTO E SETEMBRO E quebra de facturação igual ou superior a 40%

AGOSTO E SETEMBRO E quebra de facturação igual ou superior a 60%

OUTUBRO A DEZEMBRO E quebra de facturação igual ou superior a 40%

OUTUBRO A DEZEMBRO E quebra de facturação igual ou superior a 60%

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• Elegibilidade • Empresas encerradas • Quebra de facturação superior a 40% • Medida • Suspensão; ou • Redução do período normal de trabalho • Isenção de contribuições para a Segurança Social • Horas trabalhadas ou não trabalhadas pagas a 66% • Comparticipação da Segurança Social (70%) das horas trabalhadas e não trabalhadas • Medida • Redução do período normal de trabalho até 50% • Contribuições para a Segurança Social • 50% de redução para as grandes empresas • Isenção total para pequenas e médias empresas • Salário • Horas trabalhadas pagas a 100% • Horas não trabalhadas pagas a 66% • Comparticipação da Segurança Social (70%) das horas não trabalhadas • Medida • Redução do período normal de trabalho até 70% • Contribuições para a Segurança Social • 50% de redução para as grandes empresas • Isenção total para pequenas e médias empresas • Salário • Horas trabalhadas pagas a 100% • Horas não trabalhadas pagas a 66% • Comparticipação da Segurança Social (70%) das horas não trabalhadas • Medida • Redução do período normal de trabalho até 40% • Contribuições para a Segurança Social • Redução de 50% para pequenas e médias empresasI • Salário • Horas trabalhadas pagas a 100% • Horas não trabalhadas pagas a 80% • Comparticipação da Segurança Social (70%) das horas não trabalhadas • Medida • Redução do período normal de trabalho até 60% • Contribuições para a Segurança Social • Redução de 50% para pequenas e médias empresas • Salário • Horas trabalhadas pagas a 100% • Horas não trabalhadas pagas a 80% • Comparticipação da Segurança Social (70%) das horas não trabalhadas

Seção Jurídica . Kéramica . p.15


Seção Jurídica

Por seu turno, o ‘incentivo financeiro à normalização da actividade empresarial’ terá como destinatárias as empresas que (i) tenham beneficiado do regime de Lay-Off simplificado ou do plano extraordinário de formação, desde que (ii) não tenham acedido ao mecanismo de apoio à retoma progressiva. Este incentivo financeiro pode ser concedido numa de duas modalidades: (I) Apoio one-off, que importa o pagamento do montante de 1 SMN (€ 635,00) por cada posto de trabalho que tenha estado em Lay-Off ao abrigo do regime simplificado, numa prestação única; (II) Apoio ao longo de 6 meses, que importa o pagamento do montante de 2 SMN (€ 1.270,00) por cada trabalhador que tenha estado em Lay-Off, com pagamento em duas ou três prestações ao longo de seis meses e, ainda, redução de contribuições para a Segurança Social nos primeiros três meses.

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Mais, se nos três meses seguintes ao final da concessão do apoio se verificar a criação líquida de emprego face aos três meses homólogos, a empresa fica isenta de contribuições para a Segurança Social pelo período de dois meses na proporção do ganho de emprego desde que mantenha esse ganho de emprego por um período de seis meses. Ambas as modalidades têm como condicionante a proibição de promover despedimentos colectivo por extinção de posto de trabalho e por inadaptação, bem como o dever de manutenção do nível de emprego nos 60 dias subsequentes. Finalmente, importa referir que estas medidas estão inseridas no Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) que serve de base ao Orçamento Suplementar e que não dispensa a devida aprovação pela Assembleia da República e consequente regulamentação.

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Responsabilidade Social

A SUSTENTABILIDADE NÃO É UMA UTOPIA

po r Már i o Par r a d a Si l v a , Presidente da APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial; Presidente da Global Compact Network Portugal; Presidente da Aliança ODS Portugal

Mário Parra da Silva - Presidente da APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial; Presidente da Global Compact Network Portugal; Presidente da Aliança ODS Portugal

Um homem é morto em direto algures nos Estados Unidos da América e levantam-se manifestações em todo o mundo. Uma Pandemia emerge e todo o mundo reage quase simultaneamente. Uma borboleta bate as asas na Austrália e uma tempestade arrasa cidades na América Central. Estamos todos ligados, a Humanidade é já um só corpo, partilha o mesmo destino, corre os mesmos riscos, porque somos já muitos num Planeta pequeno e limitado, com recursos finitos e depauperados, com desequilíbrios climáticos e de saúde, eventualmente ligados entre si. A Sustentabilidade da Vida Humana – ambiental, social, económica – já não é uma visão de países ricos que desejam desfrutar a sua prosperidade sem poluição nem vagas de migrantes. É um imperativo humano e uma respon-

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sabilidade para com o resto da Vida na Terra, afinal de contas é o nosso ecossistema de suporte e não a nossa lixeira das traseiras. A Economia tem, hoje, esse novo imperativo: satisfazer as necessidades das Pessoas na sua imediata procura mas também na sua necessidade permanente de manter e melhorar as condições de existência e trabalho, o seu impulso para a felicidade própria e dos seus entes queridos. Parece estranho dar às empresas esta Missão que sempre foi vista como uma responsabilidade dos Estados ou das Famílias. Mas também as Empresas se tornaram muitas e grandes, e hoje são o centro da vida comunitária – onde as pessoas estão empregadas, onde se cria riqueza, onde se tomam decisões que vão muito além do produto que se entrega. Assim, as empresas assumem o cuidado com a Sociedade e com os seus clientes como fator estratégico de sobrevivência, também elas parte de um ecossistema que, se deixar de funcionar, as poderá destruir. A COVID-19 mostrou bem a nossa fragilidade mas vai mostrar também a nossa resiliência e o modo como sabemos unir-nos e pôr o essencial em primeiro lugar. Reduzir o gasto de energia, circularizar a produção, criar produtos que ajudem as pessoas a ter uma vida melhor, integrar todos os trabalhadores e acionistas num propósito rentável mas nobre e de serviço, pensar em projetos de largo alcance e não apenas em eventos de largo lucro, adotar uma ética de verdade, transparência e justiça. O setor da Cerâmica pode – e deve – ser altamente sustentável. Sendo caracterizado por uma grande variedade de produtos e de processos produtivos, é bastante poluente porque consome materiais que têm uma grande emissão de CO2, exige a utilização de produtos químicos e é pautado por uma enorme taxa de desperdício de materiais e de recursos naturais.

Responsabilidade Social . Kéramica . p.17


Responsabilidade Social

Procurar matérias-primas e processos produtivos menos poluentes, racionalizar recursos, reaproveitar resíduos e reciclar peças que não podem ser utilizadas tal como estão são algumas estratégias que permitem tornar ambientalmente mais sustentável este setor, e outros tantos. Paralelamente, apoiar os colaboradores, dando-lhes condições dignas de trabalho, comprar matérias-primas a produtores locais, fazendo trocas justas a preços justos, são outras medidas que as organizações devem adotar e que apoiam o desenvolvimento sustentável, neste caso, a nível social e económico. Não é uma utopia. É uma obrigação que as Nações Unidas assumiram na Agenda 2030 e nos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. É um trabalho que estamos a realizar na APEE e na UN Global Compact Network Portugal, com a cooperação ativa e empenhada de empresas que representam uma larga parte do PIB Português. O contributo da Ética e da Responsabilidade Social para o Desenvolvimento Sustentável A APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial é uma organização que promove a Ética e a Responsabilidade Social junto das empresas, a nível nacional. A mesma acredita que a integração destas temáticas favorece o sucesso do projeto empresarial, criando um ambiente colaborativo e sinérgico na esfera relacional em que a mesma se integra. A sua atividade estende-se por diversos campos, como a Normalização (sendo, desde 2004, Organismo de Normalização Setorial reconhecido pelo IPQ – Instituto Português da Qualidade nos domínios da Ética e da Responsabilidade Social), a Investigação e a Sensibilização Pública. Paralelamente, a organização também é host da Rede Portuguesa do United Nations Global Compact, a maior iniciativa de sustentabilidade do mundo. Entre as inúmeras atividades desenvolvidas pela APEE, salientam-se: • Reconhecimento de Práticas em Responsabilidade Social e Sustentabilidade: iniciativa que, estando já na sua 6ª edição, distingue, anualmente, as melhores práticas em responsabilidade social e sustentabilidade das organizações portuguesas; • Ethical Code Compliance: iniciativa lançada recentemente e que distingue o desempenho das organizações portuguesas ao nível da elaboração dos seus códigos de ética e de conduta, e estimula o interesse das organizações acerca desta temática;

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• PME Sustentável: trata-se de um portal onde as empresas encontram os recursos para responder aos desafios da Sustentabilidade, potenciando o seu desempenho na economia verde e fortalecendo relações com a sua cadeia de valor; • Academia APEE: fórum de investigação e disseminação de conhecimentos nas áreas da Ética, Responsabilidade Social e Sustentabilidade, apresentando uma oferta formativa relacionada com a Incorporação da Ética na Cultura Organizacional, o Reporte de Informação Não-Financeira e a Agenda 2030 enquanto Roteiro para a Sustentabilidade, entre outros. A Normalização enquanto instrumento ao serviço da Sustentabilidade Enquanto Organismo de Normalização Setorial, a APEE tem vindo a contribuir, de forma crescente, para o Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente através da difusão de conhecimentos e implementação de estratégias relacionadas com a Economia Circular e as Finanças Sustentáveis. De acordo com Ricardo Lopes Ferro, Presidente do ONS/APEE, concretamente “a Sustentabilidade e a Economia Circular não são conceitos novos e vários dos seus instrumentos já estão implementados em atividades como o ecodesign, o fornecimento sustentável e a gestão de resíduos. Mas a aplicação destes instrumentos é apenas o começo da Economia Circular, pois não garante, de forma abrangente, o alcance dos objetivos sociais, económicos e ambientais. Para isso, o conceito precisa de ser amplamente legível, compreensível e implementado”. A normalização é, assim, um instrumento reconhecido, acessível e universal para disseminar os princípios, conceitos, frameworks, guias de implementação e Sistemas de Gestão. Já o fez com enorme sucesso nas áreas da Qualidade (ISO 9001), Ambiente (ISO 14001), Saúde e Segurança no Trabalho (OHSAS/ISO 45001), entre outros domínios.

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Rwesponsabilidade Social

A ISO 20400 – Sustainable Procurement, publicada em 2018, também ela no domínio da sustentabilidade, “define os princípios de compras sustentáveis, incluindo a prestação de contas, a responsabilidade, a transparência, o respeito pelos direitos humanos e o comportamento ético, e destaca considerações-chave como a gestão de riscos e a definição de prioridades. Para assegurar todos estes aspetos, esta norma da ISO indica diretrizes para aliar os conceitos de sustentabilidade à estratégia organizacional e integrá-los às políticas de compras da empresa. Por ser um Guia e não uma norma de requisitos, não se destina a fins de certificação”. De acordo com o Fórum Económico Mundial, “uma economia circular traz benefícios operacionais além de estratégicos, tanto ao nível micro, como ao nível macroeconómico. Esta é uma oportunidade de biliões de dólares com enorme potencial de inovação, criação de empregos e crescimento económico”. Sustentabilidade: um conceito global Em linha com o trabalho que já vem sendo desenvolvido desde a sua constituição, a APEE também é host organization do United Nations Global Compact, em Portugal. Lançado em 2000 e contando já com mais de 14.500 organizações, presentes em 156 países e com 68 redes locais, a iniciativa procura disseminar a mensagem de que as

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empresas em qualquer local-de qualquer dimensão e setor - podem contribuir para melhorar o mundo. À escala global, o UN Global Compact organiza-se em redes locais. Em Portugal, a rede foi constituída em 2007 e adotou a designação Global Compact Network Portugal (GCNP). Enquanto host da GCNP, a APEE apoia, assim, as organizações portuguesas a apostar na Sustentabilidade como via para a criação do “Mundo que queremos”, apelando às empresas para alinhar estratégias e operações com os 10 Princípios nos domínios dos Direitos Humanos, Práticas Laborais, Ambiente e Anticorrupção e para alcançar os ODS. Entre os principais projetos desenvolvidos pela GCNP, destacam-se os seguintes: • Aliança ODS Portugal: criada em 2016 no âmbito da Agenda 2030 da ONU tem como objetivo criar oportunidades de diálogo multistakeholder de modo a proporcionar às empresas uma melhor visão das expectativas das suas partes interessadas. Conta com a participação de mais de 120 organizações de todos os setores, como Universidades, Municípios, Entidades Governamentais e Institutos Públicos, ONGs, Associações Empresariais e outras entidades; • Business Ambition for 1.5ºC – Our Only Future: trata-se de uma iniciativa de combate às alterações climáticas que conta com mais de 200 empresas (21 em Portugal) e utiliza uma metodologia de base científica para incentivar as empresas, a nível mundial, a alinharem as suas estratégias com a diminuição de emissões de gases com efeito de estufa, de modo a que, em 2050, sejam alcançadas as zero emissões líquidas; • Target Gender Equality: um programa acelerador da Igualdade de Género nas organizações concebido, em exclusivo, para os Membros do United Nations Global Compact, apoiando-os na definição de metas para a representação e liderança das mulheres, em todos os níveis e em todas as áreas; A Rede Portuguesa do UN Global Compact tem também um calendário de eventos e incitavas anuais, nacionais e internacionais que se traduzem em verdadeiras oportunidades de aquisição de conhecimentos, apresentação de projetos e networking entre empresas e especialistas em Ética, Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Aproveitemos e coloquemos as organizações portuguesas na linha da frente da Sustentabilidade, atendendo às “necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”.

Responsabilidade Social . Kéramica . p.19


Economia

EXPORTAÇÕES DE CRISTALARIA EM 2019 NO MUNDO, UE-28 E PORTUGAL

po r An t ó n i o Ol i v e i r a , Economista da APICER

Exportações Mundiais No ano de 2019 as exportações mundiais de cristalaria atingiram os 7.696 milhões de euros, o que traduz uma variação de 4,7% relativamente ao ano de 2018. O ranking dos exportadores mundiais em 2019 era liderado pela China (39,2% do valor das exportações mundiais), seguida da França (8,4%), Alemanha (6,2%), Itália (4,1%) e República Checa (4,0%). Portugal ocupava o 15.º lugar do ranking mundial, com 1,2%. A contribuição da União Europeia (UE-28) para as exportações mundiais de cristalaria em 2019 representou 44,6% do valor total mundial (figura 1).

Figura 1 - Exportações Mundiais de Cristalaria em 2019, por Áreas de Exportação Fonte: ITC – International Trade Centre

União Europeia (UE-28) Em 2019 as exportações de cristalaria com origem na UE-28 ascenderam a 3.397 milhões de euros, o que tra-

duz uma variação de 5,8% face ao ano anterior. Em termos de quantidades, as exportações da UE-28 corresponderam a 1.156.603 toneladas. No âmbito da UE-28, os principais exportadores (figura 2) foram a França (19,1% do valor total), Alemanha (14,2%), Itália (9,2%), República Checa (9,0%) e Países Baixos (7,6%). Portugal foi 0 12.º exportador no ranking, com 2,7%. Portugal No ano de 2019 as exportações portuguesas de cristalaria alcançaram os 91,8 milhões de euros (dados provisórios), valor que traduz uma variação de -2,0% em relação ao ano de 2018, e repartiram-se por 136 mercados. Espanha, Países Baixos, França, Alemanha e Estados Unidos constituíram os principais mercados de destino das nossas vendas nos mercados internacionais (figura 3). Em termos de quantidades, as exportações portuguesas traduziram-se em 36.567 toneladas, o que representou 3,2% do total das exportações da UE-28. A cristalaria contribuiu positivamente para a balança comercial portuguesa, com um saldo de 36,2 milhões de

Exportações de Cristalaria na UE-28 em 2019 (em % do valor total)

Exportações Mundiais de Cristalaria em 2019, por Áreas de Exportação (em % do valor total) 5%

1%

3%

8%

19%

3%

9%

4%

União Europeia 28 Outros Europa 44%

China

5% 5%

14%

Outros Ásia América 39%

África e Oceania

2%

p.20 . Kéramica . Economia

6%

7%

9% 8%

França Alemanha Itália Rep. Checa Países Baixos Polónia Áustria Espanha Bélgica Bulgária Eslováquia Portugal Outros

9%

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Figura 2 - Exportações de Cristalaria na UE-28 em 2019, por países Fonte: Eurostat – International Trade

Os objetos de vidro para serviço de mesa, cozinha, toucador, escritório, ornamentação de interiores ou usos semelhantes (cristalaria), correspondem, em termos de comércio internacional, à nomenclatura combinada (NC) 7013.


Maio . Junho . 2020

Cristalaria - Mercados de Exportação de Portugal em 2019 13% 21%

2%

Espanha Países Baixos

2%

França

2%

Alemanha

5%

Estados Unidos Reino Unido

7%

15%

República Checa Suíça Itália Bélgica

9%

Outros 14%

10%

Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2019 - Por Produtos (em % do valor total) 6%

1%

Copos de vidro, com pé e sem pé

8%

Objetos de vidro para serviço de mesa ou de cozinha

53%

32%

Objetos de vidro para toucador, escritório ou ornamentação Objetos de cristal de chumbo para toucador, escritório ou ornamentação Outros

pública Checa, Polónia e Países Baixos. As importações da Alemanha contraíram 0,3% entre os anos de 2018 e 2019. Os Estados Unidos, 5.º mercado de destino das exportações portuguesas em 2019, constituem o maior mercado importador mundial, registando o valor de 1.034,5 milhões de euros em 2019. Os principais fornecedores internacionais do mercado norte-americano foram a China, México, Alemanha, Itália e França. Portugal foi apenas 0 21.º fornecedor do mercado norte-americano (0,5% do valor das importações dos Estados Unidos). As importações dos Estados Unidos registaram uma variação de 6,4% entre os anos de 2018 e 2019. O Reino Unido, 6.º mercado de destino das exportações portuguesas de cristalaria em 2019, foi o 3.º mercado no ranking dos importadores mundiais, com 315,6 milhões de euros. Portugal foi o 12.º fornecedor internacional do mercado do Reino Unido em 2019 (1,8% do valor das importações do Reino Unido), num ranking liderado pela China, França, Alemanha, Países Baixos e Polónia. As importações do Reino Unido aumentaram 1,8% entre os anos de 2018 e 2019.

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Figura 4 - Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2019, por produtos (em % do valor total) Fonte: INE - Estatísticas do Comércio Internacional de Bens

euros, em resultado de uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 165% (a taxa de cobertura média para o conjunto de bens foi de 74,6%). O transporte rodoviário foi o mais utilizado nas nossas exportações de cristalaria em 2019 (80,2% do total), seguido do transporte marítim0 (18,4%), transporte aéreo (0,8%) e outros (0,6%). Os copos de vidro, com e sem pé, foram o produto de cristalaria mais exportado por Portugal em 2019 (figura 4), representando 53,0% do valor total das nossas vendas de cristalaria nos mercados internacionais. Seguiram-se os objetos de vidro para serviço de mesa ou de cozinha (32,6%), os objetos de vidro para toucador, escritório ou ornamentação (7,6%), os objetos de cristal de chumbo para toucador, escritório ou ornamentação (5,7%), os copos de cristal de chumbo, com pé e sem pé (0,7%), os objetos de vitrocerâmica para serviço de mesa e outros (0,3%) e, por fim, os objetos de cristal de chumbo para serviço de mesa ou de cozinha (0,1%). A Espanha, 1.º mercado de destino das exportações portuguesas de cristalaria em 2019, foi o 8.º mercado no ranking dos importadores mundiais, com 199,1 milhões de euros. Portugal foi o 5.º fornecedor internacional do mercado espanhol em 2019 (8,1% do valor das importações de Espanha), atrás da França, China, Alemanha e Itália. As importações de Espanha registaram uma variação de -0,1% entre os anos de 2018 e 2019. Nos Países Baixos, 2.º mercado de destino das exportações portuguesas e 4.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2019 com 254,2 milhões de euros, Portugal foi o 5.º fornecedor internacional (5,8% do valor das importações dos Países Baixos), a seguir à China, Alemanha, Polónia e Bélgica. Entre os anos de 2018 e 2019 as importações dos Países Baixos aumentaram 2,2%. Na França, 3.º mercado de destino das exportações portuguesas e 5.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2019 com 248,5 milhões de euros, Portugal foi o 8.º fornecedor internacional (4,5% do valor das importações francesas), atrás da China, Itália, Alemanha, Países Baixos, República Checa, Turquia e Bélgica. As importações da França registaram um crescimento de 1,7% entre os anos de 2018 e 2019. Na Alemanha, 4.º mercado de destino das exportações portuguesas e 2.º mercado no ranking dos importadores mundiais em 2019 com 479,2 milhões de euros, Portugal foi o 14.º fornecedor internacional (1,2% do valor das importações alemãs). Os principais fornecedores internacionais do mercado alemão foram a China, França, Re-

Figura 3 - Exportações Portuguesas de Cristalaria em 2019, por mercados (em % do valor total) Fonte: INE – Estatísticas do Comércio Internacional de Bens

Economia


Responsabilidade Corporativa

PRINCIPAIS TEMAS QUE O GRACE ESTÁ A DEBATER NO ÂMBITO DA SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE CORPORATIVA

po r Ma r g a r i d a Co u t o , Presidente do GRACE em representação da VdA

Margarida Couto - Presidente do GRACE

Ao longo de 20 anos, o GRACE, nascido da preocupação de um grupo de multinacionais pela falta de respostas estruturadas em matéria de responsabilidade social corporativa, teve como principal missão sensibilizar o tecido empresarial português para a necessidade de apoiar as comunidades e contribuir para uma realidade com menos desigualdades socioeconómicas. Levámos o voluntariado para o mundo corporativo e sensibilizámos gestores, colaboradores e famílias, o que mereceu o reconhecimento da Assembleia da República com um Diploma de Mérito. A aproximação das empresas à Economia Social foi (e é) também um dos grandes focos da

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nossa atuação, com o incentivo ao estabelecimento de parcerias de longo prazo e com impacto, tendo para tal desenvolvido ações de capacitação dirigidas às empresas e às próprias entidades sem fins lucrativos. Integrámos a Comissão Executiva da PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados) desde a 1ª hora e implementámos a Carta Portuguesa para a Diversidade. Colocámos as empresas a trabalhar juntas para encontrar soluções aos desafios da responsabilidade social nos setores do Turismo, Transportes, Saúde, Sociedades de Advogados e Instituições Financeiras. Colaborámos com entidades públicas no âmbito da integração de pessoas com deficiência e inclusão social e levámos os temas da responsabilidade social para o mundo académico com o projeto Uni.Network com as Entidade do Ensino Superior. Podemos dizer que cumprimos a missão de apoiar as empresas no desenvolvimento e integração de políticas e programas de responsabilidade social nas suas estratégias de gestão. Orgulhamo-nos de ter visto estes temas ganharem relevância à medida que a massa associativa foi crescendo e, hoje, somos a associação empresarial em Portugal de referência na área. Em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançados pelas Nações Unidas, estabeleceram um plano até 2030 e vieram reforçar a importância da responsabilidade de todos – Governos, Empresas e Cidadãos – na construção de um mundo mais sustentável, sem deixar ninguém para trás. A sustentabilidade, outrora associada quase exclusivamente a questões ambientais, ganhou um significado mais amplo, abrangendo agora novas esferas de atuação. Os ODS vieram permitir organizar e estruturar todos os temas até então trabalhados pelo GRACE com as empresas, como a erradicação da pobreza e da fome, o combate às desigualdades, o trabalho digno e proteção do ambiente, fomentando a transparência na apresentação de resultados e do impacto obtido e es-

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Responsabilidade Corporativa

tabelecendo uma “linguagem comum”, que é compreendida por todos. Cinco anos volvidos, são cada vez mais as empresas que estão familiarizadas com os ODS e cientes da importância da prossecução desta agenda global, tendo até muitas delas “redesenhado” projetos para melhor darem resposta aos desafios identificados nos setores em que atuam. Para além da sempre relevante vertente do lucro, as empresas estão crescentemente conscientes de que é seu dever serem responsáveis a todos os níveis, sob pena de verem a sua “licença para operar” posta em causa pelos seus stakeholders. Os critérios ambientais, sociais e de governança (Environmental, Social and Governance, ou ESG, na sigla inglesa) vieram para ficar, na avaliação e validação da atuação das empresas, e tornar-se-ão crescentemente incontornáveis. No início de 2020 – ano em que o GRACE celebra 20 anos – tudo apontava para que, apesar das (naturais) diferentes velocidades, a missão de consolidação da Agenda 2030 das Nações Unidas por parte das Empresas Responsáveis prosseguisse, até que… a pandemia causada pela COVID-19 apareceu! Subitamente, o Mundo parou. Assistimos, incrédulos e impotentes, a declarações de Estados de Emergência, e à emergência de conceitos que não conhecíamos, mas que hoje integram o nosso dia-a-dia – confinamento, distanciamento social, etiqueta respiratória – e às dramáticas consequências daí decorrentes para empresas, organismos públicos e cidadãos. Pela primeira vez, deparámo-nos com uma situação em que a incerteza se tornou a única certeza. As empresas responsáveis, seguindo as recomendações das autoridades de saúde e do governo, foram em geral exemplares na elaboração de planos de contingência e na adoção de medidas de segurança para proteger o seu maior “ativo”, os colaboradores. Nos últimos 3 meses, foram evidentes os imensos bons exemplos de Responsabilidade Social Interna, como apoio psicológico e formação online para os que passaram a trabalhar a partir de casa, ou prémios pelo esforço acrescido aos que não puderam “proteger-se” em casa. Também no apoio à comunidade, muitas foram as empresas que não descuraram o seu sentido de missão e que desenvolveram projetos e iniciativas de solidariedade para apoiar os mais carenciados, desde os alunos sem acesso a equipamentos informáticos, aos idosos isolados e os profissionais de saúde, só para mencionar alguns exemplos. O GRACE, naturalmente atento à realidade e às preocupações dos seus mais de 170 Associados, desenvol-

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veu rapidamente um novo plano de ação adaptado às novas circunstâncias, centrado na criação de valor partilhado para as empresas, com a realização de iniciativas online para os colaboradores como as Conversas com Medida, que abordaram a “nova” legislação Covid-19; a formação certificada sobre competências de RH, gestão emocional e resiliência entre outros temas; a capacitação focada no bem-estar organizacional, gestão de stress e pressão, conciliação entre vida pessoal e profissional, tendo também disponibilizado a Hora Pro Bono dedicada às entidades de economia social. No espaço de menos de 3 meses, organizámos cerca de 40 sessões online que contaram com o envolvimento de 93 Associados e tiveram a participação de mais de 900 dos respetivos colaboradores. Atualmente, no momento em experienciamos o “desconfinamento” e o regresso gradual à vida fora de casa, mais do que a inexistência de uma solução para a Covid-19, permanece a incerteza do que aí vem. Após as enormes alterações e adaptações que todos os setores da economia tiveram de operar para o “day after”, as empresas e a sociedade civil preparam-se agora para um “pós-pandemia” extremamente desafiante. O Fundo Monetário Internacional considera que os próximos tempos constituirão a pior recessão desde a Grande Depressão, com previsões de 7,5% de queda da economia da Zona Euro – a maior em 90 anos, sendo esperado para Portugal uma queda de 8%, de acordo com algumas previsões. Tal poderá implicar uma taxa de desempego de 10%, segundo projeções recentes do Banco de Portugal, com os consequentes aumento da taxa de pobreza, fome, desigualdades no acesso à educação, violência doméstica, entre outros. A acrescentar à crise climática, que já atravessávamos, iremos agora enfrentar uma grave crise sanitária, económica e social. A pressão sobre as empresas aumenta, já que as novas gerações delas exigem propósito, honestidade, transparência e accountability. Esperam também que as empresas tenham a capacidade de transformar crises em oportunidades de mudança. O “business as usual” deixou de ser uma opção para as empresas que quiserem perdurar e não apenas “sobreviver à crise”. Para Lawrence Fink, CEO da BlackRock, “quando sairmos desta crise [sanitária], o mundo estará diferente. A psicologia dos investidores vai mudar. Os negócios vão mudar. O consumo vai mudar”. Daqui para a frente, temas como a segurança, saúde e bem-estar psicológico dos trabalhadores e a preparação dos mesmos para o “trabalho do futuro” serão dominantes a nível interno no tecido empresarial

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Responsabilidade Corporativa

nacional. O apoio à produção e produtores locais, com condições justas serão fundamentais no âmbito do estabelecimento de cadeias de valor transparentes. A nível externo, o contributo das empresas para a comunidade, com marcas com propósito e investimento de impacto farão a diferença junto dos consumidores. Não obstante a redução das emissões de gases com efeito de estufa resultantes da desaceleração da economia, a pandemia provocou o aumento do uso de materiais descartáveis (incluindo plástico), quer nos equipamentos de proteção, quer no retalho e restauração, pelo que as questões ambientais terão necessariamente de voltar ao centro das atenções, com a produção sustentável e a prossecução do Pacto Ecológico Europeu a ocuparem lugares de topo. Estes são temas aos quais o mundo corporativo terá necessariamente de estar atento nos próximos tempos. É premissa do GRACE levá-los para as agendas das empresas, apoiando-as na construção de soluções responsáveis e sustentáveis,

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para que 2020 seja recordado nos manuais de História como o maior desafio às capacidades de adaptação e resiliência da Humanidade, ultrapassado com perseverança e união. Nas palavras de Dalai Lama, “esta pandemia serve como aviso de que, apenas com uma resposta global coordenada, poderemos vencer os desafios sem precedentes que enfrentamos”. Estamos perante a oportunidade única e perfeita de “build back better”. E o GRACE aqui estará sempre para apoiar as empresas a serem verdadeiramente responsáveis e responderem eficaz e efetivamente à chamada da agenda das Nações Unidas. Juntem-se a nós!

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Recursos Naturais

RESÍDUO E SUBPRODUTO

po r Alb e r t i na S e q u e i r a , Diretora-Geral da APICER

No decurso do processo produtivo que decorre na Indústria Cerâmica, são gerados vários tipos de resíduos, na sua maioria inertes ou não perigosos sendo a maior percentagem de resíduos oriundos de produtos não conformes, ou seja produtos secos e cozidos, criados ao longo do processo de fabrico. A gestão de resíduos tem vindo a ser desenvolvida e melhorada pelas empresas dos diferentes subsetores da indústria cerâmica, tendo em conta a redução da utilização dos recursos naturais e a minimização ou mesmo a eliminação da deposição em aterro dos resíduos produzidos, privilegiando a sua reutilização e reciclagem contribuindo, desta forma, para um desenvolvimento sustentável e uma extensão do ciclo de vida e estratégias que promovem a economia circular. No que se refere aos produtos finais não conformes após a sua cozedura, caco cozido, os quais possuem a mesma composição/características dos produtos finais colocados no mercado, as empresas procuram soluções para a sua valorização, as quais dependem do tipo de caco produzido e do subsetor considerado. As soluções de valorização do caco cozido têm sido várias e diversos setores industriais têm demonstrado disponibilidade para os incorporar nos seus processos produtivos, nomeadamente a construção civil, incorporando os cacos em cimento, argamassas, betão, pavimentos betuminosos e agregados, os solos artificiais e mesmo a recuperação de caminhos, enchimento de cotas e pavimentação de campos de ténis. Neste contexto, em 2016 a APICER, em resposta a solicitação de vários associados, adjudicou ao CTCV (Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro), a elaboração de um Estudo. Desse Estudo resultou o Relatório que evidencia o estado da arte em matéria de potenciais destinos para os

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materiais em causa e que a valorização dos cacos cozidos, resultantes do processo cerâmico, poderia ser efetuada na própria cerâmica ou em vários outros setores industriais, com ou sem necessidade de um pré-tratamento (ex. moagem, mas que é prática comum), apresentando vantagens ambientais e contribuindo para um correto ciclo de vida daqueles produtos, indo ao encontro do pretendido pela União Europeia, na revisão da Diretiva Quadro dos Resíduos.

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Recursos Naturais

É assim, inequívoco, que o caco cozido cerâmico, as poeiras e partículas de despoeiramento cumprem de forma evidente os requisitos definidos pelo Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de julho para serem considerados subprodutos e não resíduos da produção, uma vez que são “quaisquer substâncias ou objetos resultantes de um processo produtivo cujo principal objetivo não seja a sua produção quando verificadas as seguintes condições: • Existir a certeza de posterior utilização da substância ou objeto;” Os cacos cozidos, os resíduos da preparação da mistura, as poeiras e partículas de despoeiramento, podem ser utilizados no próprio processo de fabrico na cerâmica ou em diversos setores industriais (cimento, argamassas, betão, pavimentos betuminosos e agregados, os solos artificiais e mesmo a recuperação de caminhos, construção de estradas, enchimento de cotas e pavimentação de campos de ténis, etc); • A substância ou objeto poder ser utilizado diretamente, sem qualquer outro processamento que não seja o da prática industrial normal;” Os cacos cozidos, os resíduos da preparação da mistura, as poeiras e partículas de despoeiramento podem ser utilizados diretamente ou após processos de redução da granulometria como seja a trituração ou moagem (nomeadamente para o caco cozido), recorrendo à prática industrial normal. • A produção da substância ou objeto ser parte integrante de um processo produtivo;”

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No processo de fabrico de materiais cerâmicos são produzidos vários resíduos da produção, entre os quais os que se pretendem que venham a ser considerados subprodutos, nomeadamente os cacos cozidos (inerente a não conformidades do processo), os resíduos da preparação da mistura (oriundos das operações de preparação das misturas cerâmicas), as poeiras e partículas de despoeiramento (inerente a operações que visam melhorar o nível de empoeiramento inerente a este processo de fabrico). • A substância ou objeto cumprir os requisitos relevantes como produto em matéria ambiental e de proteção da saúde e não acarretar impactes globalmente adversos do ponto de vista ambiental ou da saúde humana, face à posterior utilização específica. As poeiras e partículas de despoeiramento têm a mesma composição química das matérias-primas que lhe deram origem e consequentemente podem ser utilizadas no fabrico de produtos cerâmicos, desde que as empresas possuam secção de preparação de pasta. Sendo sujeitas ao mesmo processo de fabrico das outras matérias-primas cerâmicas, contribuindo para uma menor extração de recursos naturais. Já os cacos cozidos, material com a mesma composição dos produtos cerâmicos, diretamente ou preferencialmente após a redução granulométrica, podem ser utilizados para o fabrico de outros materiais, promovendo-se a extensão do seu ciclo de vida, bem como simbioses industriais que promovem a economia circular.

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Recursos Naturais

Acresce, ainda, que as análises químicas ao caco cozido e ao respetivo lixiviado permitiram classificar os cacos dos produtos cerâmicos analisados essencialmente como “inertes”, de acordo com os critérios de aceitação estipulados no DL nº 183/2009, bem como nos ensaios de lixiviação sucessivos. O Relatório do referido Estudo foi parte integrante do processo apresentado à APA (Agência Portuguesa do Ambiente), pela APICER, com o pedido de definição das condições em que os “Resíduos de peças cerâmicas, tijolos, ladrilhos, telhas e produtos de construção, após o processamento térmico” (LER 10 12 08) podem ser considerados como subprodutos, ao abrigo do Regime Geral de Gestão de Resíduos (Diploma RGGR), aprovado elo Decreto-Lei nº.178/2006, de 5 de setembro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº.73/2011, de 17 de junho. Após a tramitação do processo decorrente do pedido, em 2017, foi emitida pela APA a respetiva Decisão que reconheceu a classificação dos desperdícios resultantes do fabrico de produtos cerâmicos como subproduto, para as tipologias de materiais que resultam das seguintes fases do processo de fabrico de material cerâmico: • Preparação da mistura cerâmica, aparas resultantes da conformação da pasta antes do processo térmico; • Partículas e poeiras, recolhidas do sistema de despoeiramento; • Peças cerâmicas não conformes, após processamento térmico.

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Quanto ao destino considerado adequado para este tipo de materiais, consideraram possíveis as seguintes atividades: • Fabrico de pasta cerâmica; • Fabrico de materiais de construção (cimento, betão, argamassas, agregados); • Terraplanagens e construção de estradas; • Pavimentação de áreas desportivas. A Decisão aplica-se exclusivamente a empresas associadas da APICER e às situações em que aqueles materiais tenham um destino que se enquadre nas condições impostas: • Certeza de posterior utilização daqueles desperdícios; • Possibilidade de utilização direta, sem qualquer outro processamento que não seja o da prática industrial normal (que pode incluir trituração/moagem e homogeneização); • A produção daqueles desperdícios ser parte integrante de um processo produtivo; • Cumprimento dos requisitos relevantes como produto em matéria ambiental e de proteção da saúde e não acarretar impactes globalmente adversos do ponto de vista ambiental ou da saúde humana, face à posterior utilização específica. Em termos globais, a Autoridade competente considerou que as empresas do setor da Indústria Cerâmica podem reunir as condições necessárias para classificar os desperdícios do processo cerâmico como subproduto, mas a aplicação da Decisão será viabilizada empresa a empresa, mediante a confirmação do cumprimento daqueles pressupostos. Uma vez que esta Decisão destina-se exclusivamente aos associados da APICER, estes devem submeter a sua intenção à Associação, com informação sobre o cumprimento das condições expressas na Decisão, especificando o ou os destinos previstos, e respetivas quantidades, sendo ainda indicada igualmente a capacidade de armazenagem disponível (m3). Por sua vez, a APICER fará o acompanhamento da citada Decisão, devendo enviar o Relatório Anual à APA, decorrendo o dever das empresas que utilizem esta Decisão o envio da informação sobre as quantidades totais de desperdícios produzidas e respetivo destino enquanto subproduto ou resíduo.

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Boas Práticas nas Empresas

A SUSTENTABILIDADE E A ROCA S. A.

Desde a sua fundação em 1917 quea Roca integra a sustentabilidade na sua gestão operativa e estratégica. Ao longo de mais de 100 anos de existência, a aposta tem sido na Qualidade e no desenvolvimento de produtos inovadores por forma a proporcionar o conforto e bem-estar dos utilizadores no espaço de banho. Em consonância com as necessidades de inovação e qualidade aliamos a nossa visão de sustentabilidade ligada ao consumo de água e energia atendendo a que estes aspetos ambientais são os mais relevantes na fase de uso de produto. A estratégia tem sido então a aposta em novos produtos que visem a efetiva poupança de água e de energia sem descurar a performance requerida pelos consumidores. Atualmente é possível compatibilizar design e qualidade com eficácia no desempenho hídrico nos produtos utilizados no espaço de banho. As sanitas Roca com descargas de água reduzida, apenas 4 ou 2L de água são exemplos desta compatibilidade. As torneiras Roca, fabricadas com recurso à tecnologia ColdStart, permitem a efetiva poupança de energia aquando do seu uso por garantirem a abertura sempre em frio. Desta forma oferecemos a poupança de energia ao mesmo tempo que estamos a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

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“ Só é possível criar produtos realmente sustentáveis se o processo de fabrico também for sustentável”

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Boas Práticas nas Empresas

Na Roca sabemos o valor dos recursos com que trabalhamos. A política de ambiente patente nas fábricas da Roca reflete a preocupação com a sustentabilidade dos nossos processos de fabrico bem como o estreito cumprimento de toda a regulamentação oficial aplicável. Práticas que visem: • Uso racional de água e energia • Limitação e controlo estreito das emissões gasosas • Controlo das emissões de CO2 • Diminuição, reutilização e reciclagem de resíduos Estão incorporadas nos nossos processos de fabrico. Projeto Eco-Roca O projeto Eco-Roca encontra-se implementado em todas as fábricas do grupo Roca e está enfocado na redução do consumo de energia. Sendo o gás natural o principal recurso energético utilizado no processo de fabrico de peças

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cerâmicas, todas as práticas que visem a redução de consumo são relevantes, por permitirem minorar a redução do consumo de recursos naturais e também contribuir para a menor emissão de gases com efeito de estufa. Na Roca seguimos práticas como o permanente ajuste de curvas de cozedura, a otimização das enfornas, a afinação de queimadores e a reutilização de ar quente gerado pelos fornos para aquecimento das naves das olarias e estufas de secagem. O contributo de qualquer uma delas é relevante na redução e controlo dos consumos de gás natural. Programa Zero Waste Este programa visa a adoção de processos de fabrico mais limpos onde se privilegie a redução dos resíduos gerados ao mesmo tempo que se promove a reutilização e reciclagem de resíduos. Todas as fábricas da Roca incorporam no seu processo de fabrico cerâmico as lamas produzidas na estação de tratamento de águas residuais. Esta reincorporação de resíduos em processo é relevante na gestão ambiental da empresa por permitir reduzir o consumo de matérias primas naturais e minorar a quantidade de resíduos gerados, sem alterações na qualidade das pastas cerâmicas. As peças de louça cozida que apresentem não conformidades não passíveis de correção por uma nova cozedura são partidas, moídas e reintroduzidas no processo de fabrico. A conformação de peças nas olarias com recurso a moldes de gesso é uma técnica vulgarmente utilizada no fabrico de sanitário devido quer à sua simplicidade quer à sua versatilidade. No entanto, esta técnica apresenta a desvantagem de gerar grandes quantidades de resíduos de moldes.

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Boas Práticas nas Empresas

A substituição do enchimento convencional por enchimento a pressão com recurso a moldes de resina, permite minorar a quantidade de resíduos gerados devido ao maior tempo de vida útil dos moldes, sendo um contributo efetivo para a diminuição de resíduos. A preocupação da Roca com a sustentabilidade dos seus produtos e processos é contínua e como tal gostamos de a partilhar com os nossos parceiros sociais. Diversas iniciativas são levadas a cabo: • Certificação ambiental (NP EN ISO 14001) de todas as fábricas Roca • Publicação das DAP – Declarações ambientais de produto • Eventos Outdoor realizados com todos os colaboradores para promoção de trabalho em equipa e partilha do valor da sustentabilidade – Logo Humano Roca Loves the Planet • Programa Let’s Make a Deal”

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Em 2018 estabelecemos em parceria com a fundação We are Water o programa Let’s Make a Deal(https:// www.wearewater.org/en/-let-s-make-a-deal-for-water-and-sustainability_317413). Participaram neste programa todas as fábricas do grupo Roca a nível mundial. Este programa visa a adoção de práticas que permitam a redução do consumo de água utilizada em todos os processos de fabrico do grupo Roca. Foi possível a partilha de experiências entre todas as fábricas a nível mundial e através das poupanças conseguidas efetuar um donativo à fundação. É com orgulho que verificamos que o contributo de cada fábrica foi importante para o abastecimento de água a populações carenciadas nomeadamente na India, Indonésia e Guatemala. Para mais informações consulte wearewater.org.

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CERÂMICA DE PEGÕES, J.G.SILVA, S. A.

p o r Hu g o Fran ci sco , Administrador

Decorria o ano de 2004, e os sinais de uma profunda crise estrutural no setor da construção eram já evidentes. Com o agravamento da crise e os constantes aumentos no preço do petróleo, a Cerâmica de Pegões efetua em 2006 um investimento na tecnologia de queima instalada no forno, mudança essa bastante significativa substituindo o fuelóleo, um combustível fóssil derivado do petróleo, por biomassa, um combustível proveniente de resíduos florestais e, portanto, renovável. Esta mudança permitiu uma redução nos custos de produção, tornando a empresa mais competitiva, assim como em termos ambientais permitiu reduzir substancialmente as emissões de gases com efeitos de estufa, responsáveis por algumas das alterações climáticas no nosso planeta, emissões essas que passaram de 5564 toneladas de CO2 em 2004, para 156 toneladas em 2008, uma redução de 3466%. A última crise, que teve o seu pico em meados do ano de 2012, teve uma grande incidência no setor da construção, levando ao encerramento de várias empresas e as que sobreviveram lutaram para se manter vivas, com a incerteza de qual seria o futuro.

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Boas Práticas nas Empresas

Em 2018, surgem os primeiros sinais de uma possível retoma no setor depois de vários anos de crise, e foi desta forma que a Cerâmica de Pegões começa a delinear uma nova fase de investimento na unidade fabril. Seguindo o caminho pela eficiência, e sendo a energia um dos fatores com maior incidência nos custos produtivos, a Cerâmica de Pegões em parceria com a empresa ENON, empresa dedicada a gestão energética, inicia o processo de instalação de aproximadamente 900 painéis fotovoltaicos para autoconsumo (UPAC), de

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250 kWp, permitindo uma produção de 410 mWh. Isso permitiu uma redução em cerca de 20% na fatura da eletricidade, o que se traduz numa redução em cerca de 179 toneladas de CO2/ano, o equivalente à plantação de mais de 8000 árvores. No final de 2018 renovamos todo o sistema de gestão de forno, o que permitiu uma redução no consumo de biomassa em cerca de 15%, assim como ventiladores e sistema de ar comprimido de alta eficiência que permitiram reduções na ordem dos 20% do consumo energético. Foi também instalada uma nova máquina de cintar que, ao contrário da anterior, permite a utilização de cinta PET reciclada. Desta forma procuramos contribuir, cada vez mais, para uma economia circular, sendo o nosso produto considerado um produto ecológico, produzido com 100% de matéria-prima natural. Apesar da dimensão geográfica do nosso país, Portugal tem um grande potencial e “Know How” no setor cerâmico, com gestores e recursos humanos bastante capacitados, ficando a cargo de todos delinear novas estratégias procurando ser mais eficientes e inovadores.

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Boas Práticas nas Empresas

CRISAL PORTUGAL

p o r Rodr i g o S er r a , Responsável pelo Ambiente, Higiene e Segurança e Gestor CELE na Crisal

Nos dias de hoje em que tanto se fala do problema das emissões de gases com efeito de estufa e da poluição causada pelo plástico, não é possível falar da responsabilidade que cada um de nós e que as empresas em particular têm neste papel da luta e preservação do meio ambiente, embora face aos tempos conturbados que atravessamos em resultado da pandemia do COVID-19, é fácil abstrairmo-nos do que temos feito de bem em prol do meio ambiente e falarmos um pouco mais dos nossos constrangimentos. A CRISAL-Cristalaria Automática, S.A. é a única fábrica de cristalaria automática existente em Portugal, tendo evoluído de um processo de fabrico manual para um processo automático em meados de 1970. Em 1989 inaugurou as suas novas e atuais instalações, tendo em vista já a sua futura expansão de acordo com o que era a sua visão estratégica e de negócio, que ao

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deslocar a sua unidade industrial para uma zona industrial, permitiu-lhe sair do meio da cidade, demonstrando desde logo a sua preocupação e respeito pela população e concelho onde está inserida, tendo em conta o custo acrescido que isso acarretou para a empresa, mas também os benefícios que representou para todos, população em geral, trabalhadores, clientes e fornecedores, tendo-nos permitido um crescimento contínuo, ao ponto de sermos hoje o maior empregador do concelho da Marinha Grande. Desde 2005, a CRISAL faz parte da Libbey Inc., um líder do mercado mundial de vidro de mesa. A CRISAL, ou Libbey Portugal (LP) está inserida na Libbey EMEA juntamente com a Royal Leerdam, na Holanda. Juntos oferecemos uma vasta e crescente gama de produtos de vidro de mesa que vão ao encontro das necessidades dos clientes. Dado sermos uma empresa abrangida por todos os atuais processos de licenciamento comunitários, tais como: Prevenção e controlo integrados de Poluição (Licença Ambiental n.º 238/1.0/2015), Título de Emissão de Gases com Efeito de Estufa (TEGEE 015.05 III) e Nível Inferior de Perigosidade (Diretiva SEVESO III), pelo que a deslocação da nossa unidade industrial foi fundamental para deixar de haver o risco de prejudicar a população moradora próxima das nossas antigas instalações, devido ao efeito dominó na eventualidade de ocorrer um acidente industrial grave que pudesse colocar em causa a integridade das nossas instalações e ao mesmo tempo permitiu reduzir significativamente a circulação de camiões TIR e camiões de substâncias perigosas no meio da povoação, o que já não é o caso atual. No âmbito da nossa abrangência pelos vários processos de licenciamento comunitários e na nossa constante procura pela proteção do meio ambiente e sustentabilidade, a CRISAL ou LP, tem procurado aumentar a sua produção em larga escala, consolidando a sua posição de liderança na indústria vidreira da cristalaria (vidro do-

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méstico), garantindo um contínuo investimento em novas tecnologias disponíveis para o setor, modernizando os seus processos de fabrico e utilizando fornos de última geração, de acordo com as Melhores Tecnologias Disponíveis à data, uma vez que este tipo de investimentos nem sempre são possíveis de realizar, a não ser no fim de vida dos nossos fornos, tais como: • Introdução de um electrofiltro para redução da emissão de partículas em 2009; • em 2012 upgrade da sua Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais (ETARI) para poder reutilizar o máximo de água no seu processo industrial, em vez de lançar a mesma no meio hídrico; • Em 2012 introduziu um sistema de aproveitamento de casco interno; • Em 2013 e 2015 reconstrução dos nossos fornos regenerativos com a introdução de MTD’s: alteração da boca de enforna (redução da entrada de ar parasita), isolamento da abóbada (otimização do consumo

• •

energético), substituição dos queimadores de baixo teor de NOx por outros de última geração (com menor emissão de NOx e menor consumo de gás natural) e introdução de sistema automático de gestão de energia (otimização do gás natural com correção constante da relação ar gás); Em 2019 instalação de uma subestação de alta tensão 60KV; Em 2020 novo upgrade da ETARI a fim de nos permitir aumentar a capacidade de tratamento de água dos 15 para os 25m3/h e permitindo tirar o máximo de proveito do sistema de aproveitamento de casco; Melhoria contínua do leito de fusão por forma a procurar a melhor qualidade do nosso vidro e respetiva redução das emissões poluentes (NOx, SO2, CO2, ...) e reduzindo, sempre que possível, a utilização de substâncias perigosas; Implementação de softwares específicos que permitem monitorizar os sistemas de gestão de águas, energia e ar comprimido.

Neste momento estamos a estudar a viabilidade financeira para voltar a proceder a uma alteração de vulto na nossa instalação, trata-se da reconstrução dos nossos fornos, estando em causa uma possível troca da tecnologia utilizada até aqui por uma tecnologia híbrida de oxi-fuel, por forma a ser possível reduzirmos ainda mais as nossas emissões gasosas. A viabilidade financeira deste projeto pode estar em causa, devido aos constrangimentos e instabilidade que a pandemia COVID-19 veio trazer a toda a atividade económica a nível mundial, uma vez que os nossos produtos são essencialmente utilizados pela hotelaria, restauração, cafés, bares, discotecas e cervejeiras, atividades fortemente afetadas pela pandemia e que nos forçaram a parar a maioria das linhas de produção. Relativamente à geração de resíduos a CRISAL separa por ano, de um modo geral, mais de trinta tipos diferentes de resíduos, dos quais em 2019: • 91% são resíduos não perigosos; • 9% apenas são resíduos perigosos; • 87,7% dos resíduos gerados são reciclados; • 12,3% dos resíduos gerados são eliminados (entre perigosos e não perigosos). Dada a especificidade do nosso vidro e processo de fabrico, há que realçar que não nos é permitido ter melhores performances, comparativamente com outros subse-

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• Perante este facto, a CRISAL tem que compensar a falta de casco recorrendo à utilização de grandes quantidades de matérias-primas, sendo necessário condições de fabrico mais oxidantes (logo necessário a utilização de maior quantidade de nitratos), resultando em temperaturas de fusão e tempos de residência também superiores, o que gera um aumento do consumo específico por tonelada de vidro fundido, ou seja, mais necessidade de gás natural e maior quantidade de emissões de NOx e CO2. tores do vidro, embora tenham tendência a comparar-nos com eles, partindo do princípio que se trata do mesmo setor e que não existem diferenças significativas entre subsetores, o que é profundamente errado e penalizante para a CRISAL que tudo tem feito para melhorar a sua eficiência energética e ambiental e poder assim ser sustentável, pelo que há que referir o seguinte: • Os nossos fornos são exclusivamente de vidro branco, pelo que apenas podemos utilizar o nosso próprio casco (resíduos de vidro), estando extremamente limitados na percentagem de casco reincorporado nos nossos fornos, entre 18 a 30%. • Independentemente do vidro ser um artigo que pode ser eternamente reciclado para o mesmo fim e dado que não podemos utilizar casco de origem externa, logo não somos tão atrativos em termos de pegada CO2 ou ambiental comparativamente com outros subsetores do vidro, que produzem nos seus fornos vidro de cor, o que lhes permitem utilizar casco externo, chegando a reincorporar até 80% de casco.

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Os clientes da CRISAL monitorizam-nos através de várias plataformas, como por exemplo: SMETA, ECOVADIS, HIGG INDEX, mantendo desta forma a nossa transparência em termos de responsabilidade social, sustentabilidade e ambiental. Para além do já referido anteriormente poderíamos continuar a falar na especificidade do nosso processo que não nos permite ser mais competitivos e amigos do ambiente, mas estamos de consciência tranquila de que tudo temos feito para reduzir a nossa pegada carbónica e sermos o mais possível amigos do ambiente. Até porque, doutra forma não somos competitivos e sustentáveis, pelo que nos resta realçar a importância da APICER, entre outras entidades, na demonstração e defesa da nossa especificidade, uma vez que somos a única empresa de cristalaria automática em Portugal abrangida por todos estes processos de licenciamento e constrangimentos legais quando, no nosso caso em concreto, temos uma forte concorrência de países não comunitários, logo que não estão abrangidos por tais leis ambientais e obrigações legais, distorcendo a livre concorrência e pondo em causa a nossa sustentabilidade.

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ECOGRÉS+NG

po r Jo r g e Ca r n e i r o , Responsável pelo núcleo de I&D na Grestel

A sustentabilidade do sistema económico mundial tem sido, e irá ser certamente um dos temas centrais das próximas décadas. As previsões apontam para que em 2050 sejam necessários recursos equivalentes a três planetas para sustentar o nosso modo de vida. Este problema está muito relacionado com o sistema produtivo linear em que assenta a nossa economia, extração de recursos virgens finitos, o seu tratamento e transformação em produtos, o seu consumo e posterior descarte. Um sistema onde a valorização de resíduos não é realizada em nenhuma etapa do processo. Uma alternativa é a valorização interna de resíduos e a interligação de diferentes sectores industriais para a valorização cruzada de resíduos. Assim, reduz-se o consumo de matérias-primas virgens e valorizam-se resíduos que de outra forma não teriam valor e que representariam um custo. A Grestel identificou como pontos estratégicos para o seu futuro a eficiência energética e o desenvolvimento de uma produção mais sustentável. As melhorias na eficiência energética têm sido

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conseguidas através do recurso a energia renovável (instalação de painéis solares) e intervenções nos fornos, contínuos e intermitentes, a principal fonte de consumo energético e de emissões de CO2. As medidas de intervenção nos fornos passaram pela aplicação de sistemas de controlo de queima, aproveitamento do ar de arrefecimento indireto para o ar de combustão, melhoria do isolamento dos fornos e redireccionamento dos gases quentes de exaustão para o pré-forno e estufas de secagem. No sentido de uma produção mais sustentável a Grestel em parceria com o Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (DEMaC) da Universidade de Aveiro, desenvolveu uma pasta que permitisse o aproveitamento dos subprodutos resultantes do seu processo produtivo e de outras indústrias, assim nascendo o projeto Ecogrés + NG. A monitorização do ciclo de vida do produto bem como as condições ambientais de sinterização está a cargo do CTCV. O projeto Ecogrés + NG tem como objetivo aplicar o conceito de economia circular à área da cerâmica utilitária, com o desenvolvimento de uma pasta de grés constituída por uma percentagem e resíduos/subprodutos industriais superior a 80%. O projeto foi desenhado em duas fases, uma focada na valorização de resíduos próprios e uma segunda promovendo a criação de parcerias com indústrias da região (não cerâmicas) para a valorização dos seus resíduos. 1º Objetivo – Valorizar os subprodutos/resíduos próprios Parte destes subprodutos já eram valorizados através do seu envio para o fornecedor, onde seriam reincorporados na produção. No entanto, este processo só é possível para aparas de pasta e peças de caco cru, deixando de fora outros resíduos mais desafiantes: lamas ETARI, pó de despoeiramento e caco cozido. No decorrer do projeto foi desenvolvida uma formulação capaz de integrar todos os resíduos referidos. No entanto, por questões de logística e capacidade instalada de moagem, o caco cozido não foi utilizado na formulação de pasta final. Na Figura 1 é apresentado o organograma produtivo da Grestel, após a implementação do projeto Ecogrés + NG. Podemos

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Do estudo realizado, verificou-se que as lamas do processo de anodização do alumínio da Extrusal eram as mais promissoras para obtenção de uma pasta com excelentes características mecânicas. As lamas de Galvanização permitem a obtenção de uma coloração da pasta Ecogrés. Neste caso surgiram dificuldades de desclassificação destes resíduos para subprodutos pelo que iremos desconsiderá-los. No caso dos dregs e cinzas volantes a sua incorporação na pasta grés revelou-se inviável, por alterarem de forma negativa as propriedades da pasta grés. O projeto, que teve início em junho de 2018, encontra-se na sua fase final (termina em novembro de 2020), com o 1º objetivo científico concluído com sucesso e o 2º objetivo a entrar na fase de produção de protótipos e pré-séries. Nesta fase já podemos classificar o projeto Ecogrés + NG como sendo um grande sucesso. Uma linha de peças produzidas com pasta Ecogrés, composta por resíduos próprios, já se encontra em comercialização desde o início do ano, tendo sido apresentada em diversos certames internacionais (Figura 2), sendo bem recebida pelo mercado. O seu sucesso foi tal que levou à reestruturação de uma das três unidades fabris da Grestel, que neste momento se encontra, quase em exclusivo, a produzir produtos da linha Ecogrés. A incorporação de lamas de anodização apresenta-se agora como o grande desafio do projeto, na sua industrialização e na desclassificação do resíduo em subproduto. É espectável que ambos os obstáculos sejam ultrapassados a curto prazo e que a pasta desenvolvida no âmbito do segundo objetivo científico consiga superar o sucesso alcançado pelo primeiro. Este projeto, e o seu sucesso, vem reforçar a aposta da Grestel no desenvolvimento de produtos inovadores que almejam responder às necessidades dos consumidores, muito focados em peças únicas de elevado valor e com uma preocupação ambiental crescente. O Ecogrés + NG responde a estas necessidades com a criação de uma linha de produtos inovadora e sofisticada obtida através da valorização de resíduos.

Figura 2 - Coleção PLANO

Figura 1 - Organograma do processo produtivo da Grestel, pasta de grés normal e pasta Ecogrés.

ver que as unidades Grestel 2 e Grestel 3 fornecem os subprodutos para a preparação da pasta da Grestel 1. Como referido, grande parte dos subprodutos não eram incorporados, algo que o projeto Ecogrés + NG alterou. As aparas de pasta, juntamente com os outros resíduos são enviadas para a unidade Grestel 1, a poucas dezenas de metros, para serem loteados e homogeneizados numa instalação de pasta criada para este projeto. A preparação inicia-se com a diluição, homogeneização e armazenamento da pasta. De seguida, a pasta é filtro prensada, dando origem a lastras de filtro prensa com cerca de 20-22% de humidade, que posteriormente é destroçada e extrudida numa fieira sob a forma de lastras ou tarugos. Os subprodutos resultantes da produção de peças com pasta Ecogrés são incorporados nesta pasta na sua quase totalidade. O facto de a pasta ser preta permite a utilização de materiais menos nobres em termos de coloração, evitando assim variações de cor ao longo da produção. A utilização de resíduos da ETARI e do despoeiramento permitiu um abaixamento de temperatura de cozedura tornando assim esta pasta ainda mais ecológica sem perder as características de um grés. As peças obtidas a partir da pasta Ecogrés apresentam um bom desempenho técnico, cumprindo todos os requisitos necessários para a sua comercialização como louça utilitária de grés. As peças Ecogrés são foodsafe e seguras para utilização no micro-ondas, forno e máquina de lavar louça. 2º Objetivo – Valorizar os subprodutos/resíduos próprios e de outras indústrias não cerâmicas A pasta já desenvolvida no 1º objetivo científico seria utilizada como base à qual seriam incorporados resíduos de outras indústrias, mantendo sempre as propriedades necessárias para a sua integração no processo produtivo da Grestel. Esta etapa conta com a colaboração da Extrusal, S.A., da Grohe – Componentes Sanitários, Lda e da The Navigator Company. Estas forneceram os resíduos: lamas de anodização (LA) (Extrusal), lamas de galvanização (LG) (Grohe) e dregs e cinzas volantes (Navigator).

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PRIMUS VITÓRIA, A MESMA QUALIDADE MAS COM ENERGIA LIMPA

po r Ma r i a Am é l i a D a m a s Gon ç a l v es da Vit ór ia , Presidente do Conselho de Administração

Quem olha para a fábrica da Primus Vitória, não nota a diferença, parece igual. No interior continuam a ser produzidos revestimentos cerâmicos de alta qualidade que vão embelezar as mais variadas obras ao redor do globo. No entanto quando subimos à cobertura ou numa vista aérea, percebemos que algo mudou na fábrica da Taboeira. Na cobertura da fábrica, nasceu uma central

fotovoltaica, composta por 1628 painéis, que irá permitir à Primus evitar a emissão anual de 316 toneladas de CO2, o que equivale a plantar 8100 árvores anualmente. Este é um contributo importante para o desenvolvimento sustentável do planeta em harmonia com a produção industrial. Atualmente na 3ª geração e com 125 colaboradores, a Primus Vitória está vocacionada para a produção de revestimentos cerâmicos, dividida em 2 vertentes : uma com elevada eficiência produtiva mas com produtos de menor valor acrescentado e outra associada a produtos de maior valor acrescentado, onde se inclui a replicação de azulejos tradicionais portugueses. O desafio da Primus é o mercado global e aproximadamente 70% da produção da Primus Vitória é para exportação. Ser competitivo e manter a boa performance do volume de negócios neste mercado global, exige uma gestão minuciosa de vários fatores nomeadamente qualidade, custo do transporte e um preço competitivo do custo industrial dos produtos. Relativamente a este último fator, o sector da Cerâmica de pavimentos e revestimentos é um forte consumidor de energia, representando o gás e a eletricidade uma fatia muito importante do custo industrial. O consumo de energia por m2 produzido é um KPI determinante para a competitividade do negócio.

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A eficiência produtiva aliada a uma boa eficiência energética permite obter elevados níveis de performance, concretizados em produtos de qualidade e com preços que permitem competir nos mercados internacionais. Foi neste contexto que surgiu a necessidade de instalar uma central fotovoltaica que permitisse que parte da energia consumida no processo produtivo fosse produzida localmente. A central fotovoltaica produz energia renovável e limpa e permite a diminuição da fatura da fábrica e do planeta, uma dupla vantagem. Como parceiro de negócio a Primus optou pela Helexia, que tem a vantagem de desenvolver projetos chave-na-mão, estando presente em toda a cadeia de valor do projeto, fornecendo todos os recursos técnicos, legais, de construção e financiamento necessários. Sendo um investimento realizado pela Helexia, a PRIMUS não perdeu a capacidade de investir na sua atividade principal, a produção de revestimentos cerâmicos de qualidade.

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O objetivo da Helexia é ajudar a acelerar a transição energética dos seus clientes, sem que para isso tenham de desviar capital das suas atividades core e com os benefícios adicionais de reduzirem a sua pegada ecológica, reduzirem o consumo de energia baseada em combustíveis fósseis e reduzirem a fatura de energia. A central, com uma potência instalada de 520,8 de kWp, tem uma produção anual estimada de 702 MWh anuais, que seria o equivalente a fornecer energia a 140 famílias/ano. Com esta central, a Primus Vitória consegue satisfazer 20% das suas necessidades energéticas. Quando atualmente falamos na recuperação da economia mundial no período pós-pandemia, é reafirmado por muitos líderes internacionais a necessidade de conciliar a recuperação económica com a solução da crise climática. Uma questão que parece inegável e que este período veio mostrar é a adoção de um novo modelo de produção e utilização de energia. A Primus Vitória já tomou essa iniciativa e está na linha da frente para contribuir para um futuro mais equilibrado

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Resíduos

A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA CIRCULAR NO FIM DE VIDA DO MATERIAL CERÂMICO

po r Lu í sa Ma g a l h ã e s, Cr is t ia n a Ribeir o e In ês G o m e s, Associação Smart Waste Portugal

O constante crescimento da população mundial e o desenvolvimento económico levam a que sejam necessários cada vez mais recursos para garantir a sobrevivência do ser humano, bem como os padrões de qualidade de vida por si estabelecidos. Assim, consomem-se cada vez mais matérias-primas que se tornam resíduos, pois o atual modelo económico assenta numa visão linear de “extrair-transformar-consumir-descartar”. Continua a ser bastante elevada a dependência das indústrias europeias no que se refere a matérias-primas provenientes de mercados internacionais sendo que, seguindo o atual ritmo de consumo e tendo em conta a volatilidade de preços, acrescem os riscos para as empresas. Assim, é importante que se vejam os resíduos como recursos, de forma a diminuir o risco e a contribuir para a sustentabilidade de forma global. Em todo o mundo gera-se um volume anual de cerca de 11 mil milhões de toneladas de resíduos, do qual apenas 25% é recuperado e encaminhado para valorização. Na Europa, a taxa média de reciclagem é de 32%, sendo que a meta portuguesa continua a encontrar-se aquém do esperado (ASWP, 2018). As taxas de reciclagem baixas traduzem-se em resíduos enviados para incineração ou aterro, o que para além de ter fortes implicações ambientais, tem também implicações económicas. Atualmente a Europa perde cerca de 600 milhões de toneladas de resíduos que podiam ser reduzidos, reutilizados ou reciclados, trazendo ganhos de ordem económica para as indústrias (ASWP, 2018). O consumo de materiais está intimamente relacionado com a geração de resíduos, sendo que quanto menor for a produção de resíduos mais eficiente será a economia e a tendência deverá passar por aqui, realçando-se aqui a transição para uma economia mais circular. A prática da inadequada deposição e gestão dos resí-

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duos de diferentes setores de atividade teve ao longo dos anos um impacte bastante negativo no ambiente, levando ao agravamento dos problemas ambientais e às externalidades negativas associadas (Amin, H.A.Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir, 2016). Caso a gestão de resíduos seja eficaz e se estes forem vistos como recursos, existirão várias vantagens, como a poupança na utilização de recursos, manutenção da biocapacidade dos serviços de ecossistemas, redução de custos e impactes ambientais no tratamento dos resíduos e contribuição para o desenvolvimento sustentável. Em Portugal geraram-se, em 2018, cerca de 15,8 milhões de toneladas de resíduos, dos quais cerca de 5,2 milhões correspondem a resíduos urbanos e os restantes 10,6 milhões dizem respeito a resíduos setoriais. Quanto a estes últimos, cerca de 84,9% foi encaminhado para valorização face aos 80,2% dos dois anos anteriores (2014 e 2015) (INE, 2019). No que toca ao setor da Construção, em 2018 foram gerados 14,3% de resíduos não perigosos (1,3 milhões de toneladas) e 2,6% de resíduos perigosos (28,9 mil toneladas) (INE, 2019). Os materiais de construção tradicionais, nos quais os materiais cerâmicos se incluem, são obtidos a partir da extração de matérias-primas naturais que levam à depleção dos recursos naturais. Para além disso, durante o seu processo de transformação são emitidas substâncias tóxicas, tais como

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Parceiro de Confiança no seu Negócio CREDIBILIDADE - IMPARCIALIDADE - RIGOR reconhecidos na certificação de produtos e serviços e de sistemas de gestão Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo Presente em 20 países

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Resíduos

monóxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de azoto e material particulado em elevadas concentrações (Amin, H.A. Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir, 2016). Os materiais cerâmicos são inorgânicos e encontram-se geralmente divididos em dois grandes grupos: os cerâmicos tradicionais e os cerâmicos técnicos ou de engenharia. Os cerâmicos tradicionais podem ser obtidos a partir de três componentes, como sendo a argila, a sílica e o feldspato, dando origem a objetos do dia-a-dia como as telhas, porcelana e louça sanitária. Por sua vez, os cerâmicos técnicos são formados por compostos puros ou praticamente puros e podem ser encontrados em facas, ferramentas, painéis de fornos ou parafusos (Lino, 2006). Assim, a indústria da cerâmica utiliza uma gama alargada de matérias-primas, aditivos, aglutinantes e materiais decorativos, sendo necessário promover a racionalização destes materiais, devido ao seu consumo excessivo e ao grau de perigosidade de alguns deles. Em cada etapa do processo de fabrico dos materiais cerâmicos podem ser apontados os aspetos ambientais a ter em conta. Durante a extração, receção e armazenamento da matéria-prima são emitidos para a atmosfera gases e poeiras, gerados resíduos e efluentes líquidos resultantes dos sistemas de pulverização e águas residuais de lavagem. Das etapas da moagem, mistura, atomização, conformação, secagem, cozedura e esmaltagem resultam também emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos da limpeza e manutenção dos moinhos, misturadores, fornos e restantes equipamentos. No processo produtivo são utilizados diversos equipamentos de apoio (caldeiras, aquecedores de fluidos térmicos, compressores de ar) que têm igualmente a si associados impactes ambientais. Os resíduos resultantes podem ser divididos em duas categorias: resíduos gerados em indústrias de cerâmica estrutural que utilizam pasta vermelha nos processos (tijolos, blocos e telhas) e resíduos gerados em indústrias de grés cerâmico (azulejos e louça sanitária). Alguns estudos apontam que durante a produção dos materiais cerâmicos, cerca de 30% do material utilizado dá origem a resíduos que não são valorizados (Awoyera, Ndambuki, & Omole, 2018). Para a indústria da cerâmica é importante que se encontrem alternativas ao seu processo de fabrico, já que uma das ameaças ao setor é a contínua exigência das medidas ambientais. Apesar disso, a emergência do ecodesign e da análise do ciclo de vida, das técnicas de produção sustentáveis e das tecnologias limpas, leva a que esta ameaça se transforme numa oportunidade de desenvolvimento e inovação para o

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setor, através da promoção de simbioses industriais, trazendo benefícios económicos e ambientais. A resposta a estas ameaças passa, por exemplo, pela automatização dos processos de adição de matérias-primas, reagentes e outros aditivos que conduz a uma deteção rápida de erros na produção e à minimização dos mesmos, traduzindo-se na redução dos custos operacionais e, sobretudo, na prevenção da geração de resíduos, numa perspetiva de economia circular. A utilização de resíduos cerâmicos em obra pode levar à resolução de problemas de escassez de agregados e à consequente redução dos problemas ambientais associados à deposição final deste tipo de resíduos (Awoyera, Ndambuki, & Omole, 2018). Por outro lado, as matérias-primas utilizadas no fabrico dos materiais cerâmicos apresentam uma composição bastante variável, dando origem a produtos heterogéneos. Assim, estas flutuações permitem a incorporação de diferentes tipos de resíduos, incluindo os próprios resíduos cerâmicos, na estrutura interna de certos materiais, tendo em consideração o resíduo como recurso (Andreola, Barbieri, Lancelotti, & Manfredini, 2016). Ao longo dos anos, vários estudos têm vindo a ser realizados no sentido de desviar os materiais cerâmicos de aterro e promover a sua reutilização e reciclagem. Amin et al., 2016 citam a utilização do pó de cimento dos fornos de cozedura (subproduto do processo) como substituto de uma percentagem do feldspato necessário para o fabrico de azulejos, que os tornam mais porosos e com melhores propriedades dielétricas. Citam igualmente a utilização de 20% de resíduos de tijolo para o fabrico de azulejos, tendo os parâmetros de aceitação correspondido aos standards necessários e referem a possibilidade de utilização de resíduos de granito e caulino como alternativas de matérias-primas para a produção de tijolos e azulejos. Foram também estudadas alternativas aos materiais para os tubos e acessórios de grés cerâmico, tendo-se concluído que a adição de vidro à mistura de argila levava a que fosse possível diminuir as temperaturas de cozedura dos materiais e assim reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. A utilização de mistura de resíduos de cerâmica branca e vermelha foi também já estudada em substituição dos materiais utilizados para os tijolos convencionais, tendo-se tornado prática em vários países. A utilização de resíduos de materiais cerâmicos para a produção de cimento também se encontra amplamente estudada. Arenas et al., 2016 estudaram a possibilidade de incorporação de resíduos cerâmicos de diferentes granulometrias

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Figura 1 - Peças cerâmicas desenvolvidas a partir de subprodutos e resíduos pela empresa Grestel (Fonte: Notícias de Aveiro, 2018).

Figura 2 - Economia Circular – representação simplificada do sistema económico

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para a produção de barreiras acústicas, chegando à conclusão de que o betão reciclado obtido apresentava melhores propriedades que o betão convencionalmente utilizado para o mesmo fim. A economia circular assenta em três princípios que passam pela preservação e aumento do capital natural (isto é, controlar as reservas finitas e equilibrar a utilização de recursos renováveis através de conceitos como a recusa e/ou redução, pela utilização de recursos de forma inteligente e promovendo a regeneração dos materiais), pela otimização da produção de recursos (ou seja, recorrendo aos ciclos técnico e biológico, elevar a utilização dos produtos ao máximo, quer seja através de redesign, utilização de ciclos mais curtos e promoção de partilha dos mesmos) e pelo fomento da eficácia dos processos (com negócios mais resilientes e inovadores). Uma vez que o setor da construção (incluindo aqui a cerâmica) resulta no consumo intensivo de matérias-primas e na produção de elevados quantitativos de Resíduos de Construção e Demolição, cuja valorização se encontra sujeita a diversos constrangimentos e barreiras à inexistência de uma gestão adequada para este fluxo de resíduos, a Associação Smart Waste Portugal (ASWP) tem vindo a desenvolver projetos junto dos municípios por forma a promover um estudo de caracterização do setor, que contemple a identificação das principais barreiras e consolide um conjunto de recomendações ao governo para que haja uma maior valorização dos RCD, através de casos de boas práticas já identificados e elaboração de catálogos de reciclados, por forma a aumentar a confiança na incorporação destes materiais. Estas estratégias vão de encontro com a missão da ASWP, que visa a envolvência de todos os agentes do setor através de um trabalho colaborativo, potenciando a economia circular e criando condições para uma maior capacidade de

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reação a fatores nacionais e internacionais, de forma competitiva, sendo estas temáticas fulcrais para os seus Associados.

Referências Bibliográficas: Amin, S. K., H.A.Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir, M. (2016). An overview of ceramic wastes management in costruction. International Journal of Applied Engineering Research, 2680-2685. Andreola, F., Barbieri, L., Lancelotti, I., & Manfredini, C. L. (2016). Recycling of industrial wastes in ceramic manufacturing: State of art and glass case studies. Ceramics International, 13333–13338. Arenas, C., Vilches, L., Leiva, C., Alonso-Fariñas, B., & Rodríguez-Galán, M. (2016). Recycling ceramic industry wastes in sound absorbing materials. Materiales de Construcción. ASWP, EY-AM&A, 3drivers. (2018). Estudo sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal na Perspetiva de uma Economia Circular. Aveiro, N. d. (26 de novembro de 2018). Grestel desenvolve pasta inovadora a partir de resíduos. Obtido de Notícias de Aveiro: https://www.noticiasdeaveiro. pt/grestel-desenvolve-pasta-inovadora-a-partir-de-residuos/ Awoyera, P. O., Ndambuki, J. M., & Omole, J. O. (2018). Characterization of ceramic waste aggregate concrete. HBRC Journal, 282-287. INE. (2019). Estatísticas do Ambiente 2018. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, I.P. Lino, F. J. (fevereiro de 2006). https://paginas. fe.up.pt/~falves/matceramicos.pdf. Obtido de paginas. fe.up.pt.

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Notícias das Empresas

NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS

po r Al be r t i n a S e q u e i r a , Diretora-Geral da Apicer

BMI BMI IBERIA colabora na luta contra a COVID-19 Desde o início da crise provocada pelo Covid-19 que a BMI tem dado prioridade ao seu compromisso com clientes, parceiros e colaboradores, implementando iniciativas que promovam o seu bem-estar e segurança. No seguimento desta linha, a empresa anuncia que realizou donativos importantes a três instituições dentro da sua comunidade: o Centro Hospitalar do Oeste, Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e Lar de Santo António de Campelos e ao Serviço de Saúde de Castilla la Mancha (SESCAM), em Espanha. “A grandeza desta iniciativa reside na resposta solidária dos colaboradores da BMI, canalizada pela direcção que também se juntou à mesma. Esta contribuição pretende ser um grão de areia a mais na luta contra a pandemia e reflecte o compromisso da BMI com a sociedade espanhola e portuguesa”, afirma Carlos Hernández, CEO de BMI. Em Portugal, foram doadas aproximadamente 7200 unidades de EPIs (entre máscaras, óculos, batas, cobre-sapatos) e 50L de gel desinfectante ao Centro Hospitalar do Oeste de Torres Vedras e ao Lar de Santo António de Campelos. Foi entregue, também, um donativo monetário aos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras para aquisição de 200 fatos de protecção individual, para utilização no transporte de doentes. Em Espanha e após um levantamento das necessidades, foram doadas quase 1000 máscaras ao Serviço de Saúde de Castilla la Mancha, SECAM. O BMI Group, resultado da fusão de Brass Monier e Icopal, é o maior fabricante de soluções para coberturas planas e inclinadas em toda a Europa. Com mais de 150 centros produtivos e operacionais na Europa, partes da Ásia e África do Sul, a empresa reúne mais de 165 anos de experiência no sector. GRESTEL Novo site. Mais coleções para descobrir e se inspirar. Mais insights sobre nossos projetos. Dê uma olhada. Esperamos que você goste: www.grestel.pt

p.44 . Kéramica . Notícias das Empresas

VALADARES Há 99 anos no mercado, a Valadares é a marca de cerâmica sanitária mais antiga de Portugal. A 25 de Abril de 2020, a Valadares comemorou 99 anos. Para assinalar a data, a ARCH (empresa detentora da insígnia comercial) recorda a história da Valadares e afirma a importância da Cerâmica como um sector que irá continuar a contribuir para o crescimento da economia portuguesa. A marca Valadares sobreviveu a inúmeros sobressaltos políticos, uma guerra mundial e várias crises económicas. Recuperada em 2014, depois de um processo de insolvência, a marca continua a ser um símbolo incontornável de qualidade na cerâmica sanitária. Sempre com os olhos postos no futuro, a ARCH prepara o seu centenário da Valadares. O Eng.º Henrique Barros, CEO da ARCH, desvenda um pouco do que está a ser preparado: “Estamos a preparar o lançamento de um livro comemorativo do centenário da marca, juntamente com um documentário. Temos quase 100 anos de História e muito por explorar. Mas também estamos atentos à importância do mundo digital e iremos promover muitas novidades nesta frente este ano e em 2021.” Henrique Barros, CEO

Maio . Junho . 2020


Notícias das Empresas

A Fundação No dia 25 de Abril do ano de 1921, seis homens do Norte de Portugal e uma firma constituíram-se em comandita e no cartório do Notário José de Oliveira Mourão (…). São eles: Artur Gonçalves da Silva, industrial, António Alves, negociante, Manuel Carlos Moreira Alves, negociante, Joaquim António da Silva, capitalista, António Domingues Esteves, mestre-de-obras e representante da Firma Saul D. Esteves & Irmão e Artur Venceslau da Rocha, industrial - Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, 7 de outubro de 1979. Assim foi fundada a Fábrica Cerâmica de Valadares. Durante a década de 20, a fábrica dedicou-se à produção de artigos de barro vermelho de grés, de louça decorativa, azulejos e refractários. Nos anos 30, iniciou-se a produção de louça de faiança, a que a fábrica se iria dedicar por mais de 20 anos, tornando-se famosa pelo requinte da variedade de peças e desenho na área da louça decorativa portuguesa. A Fábrica Cerâmica de Valadares teve um período famosos na produção de louça decorativa, que foi confeccionada por notáveis e prestigiosos artistas como A. Cinnati, Artur Venceslau da Rocha, Carlos Branco, António Braga, entre outros. Nos anos 50, a Valadares iniciou a produção de louça sanitária.

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Valadares - história mais recente No final dos anos 70, o bloco fabril cerâmico da empresa era conhecido por ser o mais moderno centro de produção em louça sanitária e azulejos, não só em Portugal, como no estrangeiro. Manuel Brito, um funcionário com mais de 40 anos de ligação à empresa, observa: “Antigamente, as pessoas preferiam vir trabalhar para a cerâmica de Valadares do que para um banco ". Apenas nos anos 90 a Valadares passou a dedicar-se exclusivamente à produção de louça sanitária e acessórios cerâmicos para quartos de banho, actividade pela qual é conhecida até hoje. Nessa década, a sua capacidade exportadora atingiu níveis notáveis, estando presente em mais de 70 países. Ao longo dos anos, a empresa constituiu-se involuntariamente como incubadora de outras empresas e novas unidades fabris de sanitário. “Isto foi uma escola de Cerâmica e de Engenharia, que transmitiu uma série de conhecimentos que acabaram por ser aproveitados em várias empresas, em Portugal e fora do País. Alguns são hoje nossos concorrentes, mas nasceram com os conhecimentos Valadares", comenta o Eng.º Rocha Ferreira, Director de Engenharia e ID&T. Agora em “casa própria”, o futuro é o maior desafio de uma empresa preparada para reptos difíceis. Em 2012, a empresa atravessou um período conturbado, que culminou na sua insolvência. No entanto, dois anos depois e pela mão de ex-trabalhadores da Valadares a marca renasceu, através da empresa ARCH, SA, solução que evitou o desaparecimento da insígnia e permitiu o ressurgimento de dezenas de postos de trabalho. O ano de 2019 terminou em grande para a empresa produtora de artigos em cerâmica para casas de banho. Finalmente, a ARCH atingiu um objectivo traçado em 2014: a aquisição do seu próprio espaço, os 65 mil metros quadrados de terreno onde funciona a fábrica em Vila Nova de Gaia. O êxito da Valadares é o êxito dos seus clientes. Pesquise o hashtag #valadares99 e descubra as publicações nas redes sociais que celebram os 99 anos da marca.

Notícias das Empresas . Kéramica . p.45


Outras Notícias

CERAME-UNIE Economia Circular Com o novo Plano de Ação para a Economia Circular adotado pela Comissão Europeia no dia 11 de março de 2020, a transição de um modelo linear de 'produzir, usar, desperdiçar' para um modelo circular em que os recursos e materiais são reutilizados, reciclados ou recuperados tornou-se prioritário para a agenda política europeia e um elemento fundamental do Green Deal. A indústria

CIRCULAR ECONOMY & SUSTAINABILITY BEST PRACTICES FROM

cerâmica Europeia, representada pela Cerame-Unie, acolhe e congratula-se com este Plano de Ação e destaca que a economia circular desempenha um papel indispensável para o alcance de uma economia carbono-neutra. Esta transição exige novos modelos de negócios e incentiva o desenvolvimento de soluções inovadoras no setor. A indústria cerâmica tem contribuído ativamente para a transição para uma economia circular, por meio da durabilidade dos seus produtos e da eficiência das sua matérias-primas. Os produtores de produtos cerâmicos têm desenvolvido soluções inovadoras com o objetivo de minimizar o consumo de matérias-primas e a criação de resíduos durante o processo de produção, mas também de aumentar a reutilização ou reciclagem de produtos. Esta transição tem sido conseguida através da reutilização de resíduos resultantes do processo produtivo (por exemplo, resíduos de pastas, cacos, etc.), da reutilização de resíduos de outros processos industriais, da reutilização da água utilizada no processo produtivo, da seleção otimizada de matérias-primas, da otimização do design do produto e da cooperação entre setores da cadeia de valor de forma a promover práticas de reciclagem. No entanto, é importante observar que a transformação química de argilas em cerâmica não permite uma reciclagem 100% em ciclo fechado, mas contribui consideravelmente para uma reciclagem em ciclos abertos. Nesse contexto, a Cerame-Unie publicou uma Brochura que apresenta as melhores práticas de economia circular e sustentabilidade, desenvolvidas na Indústria Cerâmica. Um ciclo de webinars com o objetivo de comunicar as oportunidades da economia circular para a indústria de cerâmica e a contribuição da indústria cerâmica para uma economia circular, sob a bandeira do Green Deal, encontra-se a decorrer desde junho até ao final de 2020. Para mais informações, por favor consulte o website da Cerame-Unie.

THE CERAMIC INDUSTRY

METEC Purificador de AR METEC com filtros HEPA H14 A Metec, empresa 100% nacional e PME Excelência com 75 anos de experiência na purificação do ar interior, apresentou o seu novo purificador de ar REINTAIR.

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Purificador de AR METEC com filtros HEPA H14

Outras Notícias

O novo purificador de ar REINTAIR, renova o ar interior e reduz a carga viral de qualquer ambiente, para torná-lo totalmente saudável. Vírus como o COVID-19, assim como partículas suspensas que causam alergias e asma (bactérias, pólen, pelos de animais, fumo de tabaco, maus odores, esporos de mofo, etc) são capturados pelos filtros HEPA H14 da unidade REINTAIR. O REINTAIR, apresenta estágio de filtração dupla, com pré-filtragem e dois filtros HEPA H14 com 99,995% de eficiência. • Vantagens • Não requer instalação; • Silencioso graças ao painel sanduíche duplo com isolamento de lã de rocha de 25mm; • Caudal máximo até 600m3/h; • O sistema de fixação é de fácil acesso aos filtros para substituição; • Filtração Dupla com filtros absolutos HEPA H14.; • Rodas para fácil movimentação; • Instalação monofásica; • Controle integrado para programação automática e equipado com modo económico; • Alarme de aviso para entupimento de filtro; • Protegido contra corrosão para evitar oxidação quando limpo externamente; • Versões REINTAIR está disponível em 2 tamanhos e cada um pode ter motor AC ou EC (eletrónico).

Maio de 2021 é a data para o reencontro do setor em Munique e para a apresentação de centenas de soluções tecnológicas nesta plataforma, que é a mais internacional do setor e a mais abrangente da indústria cerâmica. O prazo de inscrição para a pré-reserva de stand de exposição é até 30 de junho de 2020. O registo não é vinculativo, a decisão final sobre a participação das empresas será confirmada no último trimestre de 2020, altura que os expositores recebem proposta de localização do stand. Muitas empresas já se inscreveram para ajudar a moldar ativamente o caminho da indústria cerâmica. Portugal tem marcado uma excelente presença em Munique. Com 9 empresas expositoras em 2018 a ocupar um total de 550 m2, Portugal está no Top5 do ranking de área de exposição ocupada. Esta posição relevante fez com que a organização incluísse na sua brochura de apresentação a opinião de uma das empresas expositoras portuguesas, a MOTA Ceramic Solutions. A edição de 2018 recebeu 633 expositores de 38 países e, de 95 países chegaram a Munique 15.500 visitantes para conhecer as recentes propostas de máquinas, de equipamentos, sistemas, processos e matérias-primas da indústria da cerâmica. Cujos segmentos se fazem representar neste certame, desde a cerâmica clássica à industrial e da cerâmica técnica à metalurgia do pó. Inscrições abertas online em www.ceramitec.de. Contacto: Tânia Mutert Barros Representante em Portugal, MundiFeiras, Lda. Tel. 22 616 49 59, info@mundifeiras.com, www.mundifeiras.com.

CERAMITEC Portugal bem posicionado para a Ceramitec 2021 A Ceramitec acontece apenas de 3 em 3 anos e é a feira líder internacional de máquinas, equipamentos e matérias-primas para a indústria cerâmica. A próxima edição é em 2021, nos dias 17, 18, 19 e 20 de maio.

PORTUGAL BEM POSICIONADO PARA A CERAMITEC 2021

Maio . Junho . 2020

A ceramitec acontece apenas de 3 em 3 anos e é a feira líder internacional de máquinas, equipamentosÕe umatérias-primas t r a s N o t í c i a para s . Kaéindústria r a m i c a cerâmica. . p.47 A próxima edição é em 2021, nos dias 17, 18, 19 e 20 de Maio. Maio de 2021 é a data para o reencontro do setor em Munique e para a apresentação de centenas soluções tecnologicas nesta plataforma, que é a mais internacional do setor e a


Calendário de eventos

FILDA´2020 (Materiais de Construção) Anual – Luanda (Angola) De 14 a 18 de Julho de 2020 filda.co.ao/

BAU’2021 (Materiais de Construção) Bienal – Munique (Alemanha) De 11 a 16 de Janeiro de 2021 bau-muenchen.com/en/

CERAMITEC’2021 (Tecnologia Cerâmica) Anual – Munique (Alemanha) De 17 a 20 de Maio de 2021 ceramitec.com

FORMEX’2020 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Estocolmo (Suécia) De 18 a 21 de Agosto de 2020 formex.se/en

THE INTERNATIONAL SURFACE EVENT’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Las Vegas (USA) De 26 a 28 de Janeiro de 2021 intlsurfaceevent.com

INDEX DUBAI2021 (Design/Tendências) (Design/Tendências) Anual – Dubai (EAU) De 31 de Maio a 2 de Junho de 2021 indexexhibition.com

KAZBUILD 2020 (Materiais de Construção) Anual – Almaty (Cazaquistão) De 8 a 10 de Setembro de 2020 kazbuild.kz/en

MAISON & OBJET’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa Anual – Paris (França) De 22 a 26 de Janeiro de 2021 maison-objet.com

THE HOTEL SHOW’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Dubai (EAU) De 31 de Maio a 2 de Junho de 2021 thehotelshow.com/

IDF’20 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Porto (Portugal) De 10 a 13 de Setembro de 2020 idf.exponor.pt/fall/

CEVISAMA’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Valencia (Espanha) De 8 a 12 de Fevereiro de 2021 cevisama.feriavalencia.com

NEOCON’ 2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa/Ladrilhos) Anual – Chicago (USA) De 14 a 16 de Junho de 2021 neocon.com/

TEKTÓNICA´2020 (Materiais de Construção) Anual – Lisboa (Portugal) De 8 a 11 de Outubro de 2020 tektonica.fil.pt/

SURFACE DESIGN SHOW’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Londres (R.U.) De 9 a 11 de Fevereiro de 2021 surfacedesignshow.com/

BIG 5 SHOW´2021 (Materiais de Construção) Anual – Dubai (EAU) De 12 a 15 de Setembro de 2021 www.thebig5.ae/

THE NEW YORK TABLE TOP SHOW’2020 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Nova Iorque (USA) De 13 a 16 de Outubro de 2020 41madison.com/

AMBIENTE’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) De 19 A 23 de Fevereiro de 2021 ambiente.messefrankfurt.com

100% DESIGN’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Londres (R.U.) De 22 a 25 de Setembro de 2021 100percentdesign.co.uk/

EQUIPOTEL’2020 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – São Paulo (Brasil) De 27 a 30 de Outubro de 2020 equipotel.com.br/

ISH’2021 (Louças Sanitárias) Bienal – Frankfurt (Alemanha) De 22 a 26 de Março de 2021 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html

CERSAIE’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Bolonha (Itália) De 27 de Setembro a 1 de Outubro de 2021 cersaie.it

EQUIPHOTEL’2020 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Paris (França) De 15 a 19 de Novembro de 2020 equiphotel.com/en/Home/

MOSBUILD 2021 (Materiais de Construção) Anual – Moscovo (Rússia) De 30 de Março a 2 de Abril de 2021 mosbuild.com

HOSTMILANO’2021 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Milão (Itália) De 22 a 26 de Outubro de 2021 host.fieramilano.it/en

LONDON BUID ‘2020 (Materiais de Construção) Anual – Londres (UK) De 18 a 19 de Novembro de 2020 www.londonbuildexpo.com

COVERINGS’2021 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Orlando (USA) De 13 a 16 de Abril de 2021 coverings.com/

BATIMAT’2021 (Materiais de Construção) Boanual – Paris (França) De 15 a 19 de Novembro de 2021 batimat.com/

p.48 . Kéramica . Calendário de Eventos Maio . Junho . 2020


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