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Editorial

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A TRANSIÇÃO PARA UMA INDÚSTRIA 4.0 ESTÁ NO BOM CAMINHO

por Eduardo Maldonado, Presidente da Agência Nacional de Inovação

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Portugal tem vindo a convergir com a União Europeia ao nível da capacidade de inovação e os reflexos no posicionamento do país nos principais rankings internacionais já se começam a fazer sentir. Atualmente, somos o 12º país mais inovador da União Europeia (EU 27), integrando pela primeira vez em 2020 o grupo dos países “fortemente inovadores”, de acordo com o European Innovation Scoreboard 2020 divulgado em junho deste ano. Ainda segundo este relatório europeu, liderámos, pelo segundo ano consecutivo, em “inovação nas pequenas e médias empresas (PME)”. Portugal conquistou, assim, aquela que era a principal meta da atual administração da Agência Nacional de Inovação (ANI) até ao final da década de 20. Mas os bons resultados não ficam por aqui: subimos uma posição no Global Innovation Index face a 2019, passando Portugal a ocupar o 31º lugar, destacando-se na produção de artigos técnicos e científicos. Registámos, também, bons desempenhos noutras áreas que contribuem para o processo de inovação, como na despesa com software de computadores, marcas registadas por origem, serviços públicos online ou no ambiente para fazer negócios.

Presidente da Agência Nacional de Inovação Eduardo Maldonado -

Nas últimas duas décadas, o país foi dotado de infraestruturas de investigação e de desenvolvimento (I&D) de excelência em áreas de grande importância estratégica, tais como a saúde, as TIC, os materiais ou a nanotecnologia. Esses setores apresentam, atualmente, recursos humanos altamente qualificados, absorvendo dezenas de milhares de investigadores, quer portugueses, quer de outras nacionalidades, que desenvolvem investigação de base científica e tecnológica com o objetivo de acelerar a transferência de tecnologia e de conhecimento para o tecido empresarial. É igualmente crescente o número de empresas nacionais com competências de inovação e de I&D, nos vários setores de atividade, que são capazes de competir à escala global. Verificamos, ainda, a intensificação de relações entre as entidades científicas e o tecido empresarial, incluindo as start-ups, que se traduzem no desenvolvimento de projetos colaborativos, intensivos em conhecimento e tecnologia, dos quais nascem soluções inovadoras para responder a problemas concretos da sociedade. As instituições de ensino superior, os centros de investigação, os laboratórios colaborativos (CoLAB) e os centros de interface tecnológica (CIT) apresentam atualmente competências interdisciplinares para integrar conhecimento avançado em produtos e serviços. Estas entidades abriram-se ao mundo e ao mercado e apostam, cada vez mais, numa colaboração ativa com o setor empresarial, que, por sua vez, percebeu que a diferenciação alavancada pela inovação é fundamental para sobreviver e competir no mercado global. A transferência de conhecimento científico e tecnológico e a inovação colaborativa fazem hoje parte da realidade do ecossistema de inovação português. Contribuem, por um lado, para uma economia mais sustentável, sustentada e menos suscetível a ciclos de crise. Adicionalmente, oferecem ao mundo novas tecnologias, novas visões de negócio, novos futuros, promovendo a exportação de novos produtos, serviços e know-how.

Portugal é cada vez mais um país de destino de tecnologias digitais

Em outubro de 2018, o Governo Português e a Web Summit anunciaram uma parceria a 10 anos que permite manter a maior conferência da Europa sobre tecnologia no país até 2028, após duas edições muito bem-sucedidas em Lisboa. O investimento de gigantes tecnológicas não para de aumentar em Portugal. Google, Microsoft, Uber, Mercedes-Benz, Amazon, Euronext, Fujitsu, Volkswagen, Huawei, Bosch… Estes são apenas alguns dos muitos exemplos de grandes multinacionais que têm vindo a deslocar os seus centros tecnológicos para o nosso país, ao ponto de a mão-de-obra especializada começar a escassear. Urge, portanto, apostar na nossa capacidade de inovação e na formação de recursos humanos mais qualificados, para nos posicionarmos entre os melhores da Europa e do Mundo, e mantermos o espírito de conquista e renovação que, desde sempre, nos caracterizou. A presença destas gigantes tecnológicas em território nacional, para trabalho qualificado e não para salários baixos, contribui decisivamente para acelerar o processo de transformação do nosso tecido empresarial para a chamada indústria 4.0. Uma transição que tem acontecido de forma transversal em termos setoriais, abrangendo também as áreas tradicionalmente menos intensivas em tecnologias e em conhecimento. Em setores como os de Calçado, Têxtil, Moldes, Vidro ou Cerâmica, por exemplo, são notórias as oportunidades proporcionadas pelas tecnologias da “indústria 4.0”, no que respeita à melhoria da produtividade e competitividade, que tem sido conseguida através da incorporação de I&D e inovação nos seus processos de produção. O papel de uma entidade como a ANI é ajudar as empresas no seu processo de transformação, alavancando a I&D e a inovação colaborativa e, com isto, contribuir para a construção de um país mais competitivo através da inovação. No âmbito da Estratégia para a Inovação Tecnológica e Empresarial 2018-2030, a ANI tem vindo a desenvolver um conjunto de instrumentos que dão resposta a muitas das necessidades das entidades do Sistema Nacional de Inovação (SNI), nomeadamente financeiros (Portugal 2020) e fiscais (SIFIDE). Através de programas como o Horizonte 2020 e o EUREKA/Eurostars, temos apoiado a integração de entidades e investigadores nacionais em redes de inovação internacionais, bem como temos contribuído para a capacitação dos atores do SNI, designadamente com a consolidação de centros de interface, a criação de laboratórios colaborativos e o apoio ao desenvolvimento de ideias e projetos de base científica e tecnológica (programa Born from Knowledge). Em 2020, assumimos a presidência da TAFTIE – The European Network of Innovation Agencies, uma associação com 31 agências de inovação de várias nacionalidades que representam um orçamento de nove mil milhões de euros de apoio público à investigação tecnológica e inovação. Esta rede, que reúne 28 países europeus e conta com quatro parceiros internacionais (no Brasil, Canadá, Coreia do Sul e Japão), tem como objetivo potenciar a melhoria dos serviços e instrumentos de apoio às empresas, bem como o aumento

de desempenho das suas agências-membro, promovendo a aprendizagem mútua e a colaboração. Esta presidência da ANI acontece num momento de transição entre programas-quadro da Comissão Europeia para apoio à investigação e inovação e pretende capitalizar o processo de transição para ajudar a desenhar mecanismos que venham a favorecer as PME nacionais. Com um montante acordado de cerca de 80 mil milhões de euros, o orçamento do novo programa-quadro (Horizonte Europa), que vigorará entre 2021 e 2027, será o maior de sempre, ultrapassando o do Horizonte 2020 em perto de 10%. Além disso, englobará um pilar de apoio exclusivo à inovação nas PME, virado para as empresas inovadoras, com capacidade de tolerância ao risco e com ambição de crescer (Scale-ups) e com um orçamento previsto de 12 mil milhões de euros, centrado no novo Conselho Europeu de Inovação (EIC – European Innovation Council). O desafi o colocado à ANI para os próximos anos é o de aprofundar este caminho, tirando partido das oportunidades proporcionadas pelos vultuosos mecanismos fi nanceiros pós-2020. Na próxima década, Portugal vai poder aplicar na economia e na sociedade um montante muito substancial de fundos europeus dedicados à investigação e à inovação com duas frentes prioritárias bem identifi cadas: a transição digital e o green deal (transição energética). Estes fundos serão fundamentais para tornar o país ainda mais competitivo em termos do conhecimento e da inovação. Para tal, sabemos que é fundamental alargar a base de empresas que apostam em inovação e tornar mais efi cazes os apoios à inovação colaborativa (incluindo com entidades internacionais), desburocratizando-os, simplifi cando-os e tornando mais rápidos os processos de decisão. É também importante desenvolver mecanismos de monitorização e de avaliação dos instrumentos e da política de inovação que permitam melhorar o sistema, corrigindo fraquezas identifi cadas e apostando mais nos instrumentos que produzam mais resultados. Em cenário de pandemia e de uma crise económica que poderá revelar-se de uma dimensão sem precedentes, a industrialização do país é essencial para que a nossa economia volte a crescer rapidamente. Com a industrialização assente num modelo 4.0, e uma aposta clara na melhoria e aceleração dos produtos, bem como na inovação e diferenciação dos mesmos, o caminho será mais fácil. As crises, se bem que possam causar o desaparecimento das empresas que não se souberem adaptar à nova realidade, podem ser excelentes oportunidades para as empresas acelerarem a implementação de novos processos. A digitalização terá um papel absolutamente fundamental nestes processos. O papel da ANI passará por continuar a apoiar e capacitar os atores do SNI, ajudando-os a encontrar soluções para os seus problemas e para que possam, em conjunto, tornar o país um espaço de excelência para trabalhar e viver e com uma economia mais competitiva.

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