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Bem-Estar

QUALIDADE DO AR INTERIOR: A IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E REVESTIMENTO

por Gabriela Ventura, Investigadora do INEGI na área da Qualidade do Ar Interior

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A qualidade do ar interior (QAI) tem vindo a ganhar relevância devido aos muitos estudos a nível global que demonstraram os efeitos na saúde e bem-estar das pessoas causados por um ambiente interior poluído. A Organização Mundial de Saúde reconheceu a poluição da qualidade do ar interior como um dos fatores de risco para a saúde humana, e vários países implementaram legislação que limita os níveis de concentração de vários poluentes no interior dos espaços. Mas para atingir o objetivo de uma boa QAI é necessário conhecer as principais fontes do problema. As contribuições vêm de vários fatores, desde uma má qualidade do ar exterior a uma pobre ventilação, passando pelos materiais de construção e revestimento, as atividades desenvolvidas pelos ocupantes e os produtos de consumo utilizados. É, pois, importante pensar neste assunto desde a fase de projeto, desenhando um projeto de ventilação adequado, e selecionando materiais de construção e revestimento de baixa emissão. Estes ganham particular relevância, desde logo porque representam uma maior área emissora, levando a que tenham já sido objeto de regulação em muitos países europeus, embora não em Portugal. Entre os principais poluentes regulados nas emissões dos materiais, estão os Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) e o Formaldeído. Os COVs são um grupo muito extenso de diferentes compostos, como hidrocarbonetos aromáticos, aldeídos, cetonas, éteres glicóis, álcoois, etc., que podem ter um potencial toxicológico muito variável. Entre eles podemos encontrar o cancerígeno benzeno, mas também compostos menos tóxicos como o heptano. Os materiais são sujeitos a ensaios em câmara de teste, onde são quantificadas as emissões dos COVs, do formaldeído, mas também dos compostos orgânicos semivoláteis, uma categoria que é o alvo mais recente da atenção de legisladores a nível internacional. Esta está presente em alguns sistemas de etiquetagem de materiais, como os alemães AgBB e EMICODE. Mais conhecidos em Portugal são o rótulo ecológico europeu ou o rótulo A+, decorrente de legislação francesa. O Laboratório da Qualidade do Ar Interior do INEGI (www.inegi.pt/pt/servicos-laboratoriais/qualidade-do-ar-interior/) tem ao longo dos anos colaborado com várias indústrias nacionais e europeias na caracterização de materiais de construção, sendo testemunha de um interesse cada vez maior por parte da indústria nesta temática. A contribuir para este interesse, está a obrigatoriedade de apresentar o material testado nas exportações para França ou Alemanha, mas também o surgimento de

edifícios certificados ambientalmente. Entre os sistemas de certificação mais conhecidos estão o norte-americano LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) e o britânico BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method). Em ambos os sistemas, os edifícios são analisados em várias vertentes, tais como a localização, a eficiência hídrica, a eficiência energética, os materiais e recursos e a qualidade do ar interior, entre outros. Todos os fatores avaliados dão determinados créditos que, ponderados para refletir a importância de cada categoria, resultam numa classificação do edifício quanto à sua sustentabilidade ambiental. No caso do BREEAM o resultado final traduz-se numa classificação entre: Suficiente (Pass), Bom (Good), Muito Bom (Very Good), Excelente (Excellent) e Excecional (Outstanding). No fator qualidade do ar interior a escolha de materiais de baixa emissão dá créditos ao edifício contribuindo para que obtenha uma melhor qualificação. Deste modo é importante que as empresas tenham os seus materiais testados, pois mais facilmente serão escolhidos para estas obras. Um outro aspeto a que as empresas também deverão dar atenção é à incorporação de reciclados no processo de fabrico. O combate ao desperdício é muito importante, e a economia circular é a escolha inteligente para a sustentabilidade do nosso planeta. Mas é preciso estar atento à presença de compostos químicos tóxicos no material a reciclar, que serão reintroduzidos como matéria-prima para o fabrico de novos produtos. Substâncias perigosas atualmente já banidas, ou pelo menos restringidas na quantidade, poderão voltar a aparecer nas emissões dos materiais de construção. É importante caracterizar as “novas matérias-primas” para evitar a propagação de contaminações. Concluindo, é muito importante caracterizar as diversas fontes para poder escolher as opções menos poluentes e mais amigas do ambiente e da nossa saúde. Sensibilizar as empresas para este tema é fundamental.

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