4 minute read

Qualificação

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E COMPETITIVIDADE: O EXEMPLO DA DUAL

por Elísio Silva, Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã; Diretor da DUAL

Advertisement

A propósito do Ano Europeu das Competências, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu: “Precisamos de muito mais foco no investimento que fazemos em formação profissional e em processos de upskilling. Precisamos de uma melhor cooperação com as empresas, porque são elas quem melhor conhece as suas necessidades. E precisamos de combinar essas necessidades com as aspirações das pessoas.”

De facto, poucos fatores contribuem tanto para aumentar a competitividade das empresas e de uma região, como a adequada formação das suas pessoas. Mas se isto foi sempre uma verdade de La Palice, hoje torna-se ainda mais evidente: a automatização na indústria, mas também nos serviços (i 4.0), a IoT, a Inteligência Artificial, o Machine Learning, o Big Data, entre outros, são temas que exigem respostas competentes e eficazes, no que à formação das pessoas diz respeito, capazes de responder de forma rápida aos desafios que as empresas enfrentam, numa conjuntura económica pouco favorável.

No momento atual, em que muitas profissões tendem a ser substituídas por outras, ainda que não se saiba quais, a qualificação e requalificação dos Recursos Humanos assume um papel fundamental e urgente para as empresas, mas também para os jovens e para os adultos.

Se olharmos para os vários dados e estudos que vão sendo publicados, verificamos que há um grande desfasamento entre as necessidades das empresas e os profissionais disponíveis. Um exemplo disso, são os resultados do Guia do Mercado Laboral 2023 da Hays, que teve como base as respostas de mais de 800 empregadores e de 3100 profissionais, e que refere uma “escassez global de candidatos, ou de profissionais especificamente qualificados, no mercado de trabalho português em 2022. De uma lista de 11 afirmações disponíveis no inquérito, as duas que reuniram mais consenso entre os inquiridos referem-se à escassez de talento no mercado: seja uma escassez global de candidatos, ou de profissionais especificamente qualificados.” Isto significa que já não faltam apenas especialistas nos mercados; faltam candidatos para processos de recrutamento, mesmo sem as competências que as empresas procuram.

Exigências da economia – importância da formação profissional de jovens e da sua relação com as empresas

Na Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, através da DUAL, temos defendido que o país deve garantir a existência de um sistema de formação profissional forte e em que as empresas sejam envolvidas. Um sistema que seja atrativo para os jovens, levando-os a colocar a opção pela via da formação profissional ao mesmo nível que colocam a opção pelo ensino académico, sem estigmas ou preconceitos. Só desta forma as empresas poderão recrutar novos profissionais com as competências de que necessitam, incluindo as novas profissões emergentes, como especialistas em Supply Chain, programadores, analistas de dados, especialistas em Cyber segurança, entre muitas outras, mas sem esquecer as profissões ditas tradicionais e que continuam a ser extremamente importantes (quando procuramos, hoje, soldadores, técnicos de CNC, técnicos de manutenção industrial, ou simplesmente operadores, temos muita dificuldade em encontrá-los). Além disso, hoje mais do que nunca, já não são apenas as Hards Skills que os empregadores procuram: as novas formas de trabalho, como o home office, os ambientes de trabalho menos formais e mais flexíveis, as equipas multidisciplinares e multiculturais, são tendências que nos últimos anos se acentuaram de forma exponencial e que tornam as soft skills ainda mais desejáveis: a capacidade de comunicação, a cultura colaborativa, a autonomia, a responsabilidade, a inteligência emocional, a proatividade, a capacidade para “aprender a aprender”, são competências tão ou mais valorizadas do que as técnicas.

Sempre que falamos de desemprego e formação profissional, não podemos ignorar a composição do tecido empresarial português, nomeadamente o que é representado pela APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria, no qual as PME desempenham um papel vital. E sendo as PME o principal empregador nacional, é imperativo saber quais são as necessidades reais destas empresas em termos de recursos humanos e garantir uma resposta adequada em matéria de formação profissional.

Mas para que isso seja possível, é necessário que se mude radicalmente a imagem que a formação profissional (ainda) tem na sociedade: uma via que significa uma “opção de segunda”, destinada aos jovens com dificuldades, que não conseguem sucesso nas vias académicas. É necessário, e urgente, que a formação profissional seja encarada como uma opção “normal” e de qualidade, que atrai mais jovens, motivados e disponíveis para uma rápida e adequada integração no mercado de trabalho.

Quando olhamos para o exemplo da Alemanha, onde o sistema de formação profissional dual tem uma longa tradição, não temos dúvidas em afirmar que ele é um dos pilares fundamentais da competitividade das suas empresas, em particular das PME; a competitividade da sua economia seria impensável sem a existência do Sistema Dual. Um Sistema que é reconhecido e valorizado pela sociedade e pelos seus jovens, mas especialmente pelas suas empresas que assumem um papel central em todo o processo. São elas que, através das Câmaras de Comércio e Indústria, informam sobre as suas necessidades e sobre as transformações nas suas áreas de atividade, alterações sociais e tecnológicas e contribuem para a atualização permanente dos programas de formação. São também elas que colaboram diretamente na formação dos jovens, ao disponibilizarem tutores, devidamente formados, que os acompanham durante todo o tempo que passam na empresa.

Este é, sem dúvida, um dos principais motivos para a baixa taxa de desemprego jovem verificada na Alemanha (5,8%), em comparação com a que temos em Portugal (15%) em dezembro de 2022, de acordo com a Bundesagentur für Arbeit e o Instituto Nacional de Estatística.

Ao integrar um jovem durante o seu processo formativo num ambiente empresarial, onde ele irá desempenhar tarefas reais inerentes à profissão, as empresas estão a fomentar ativamente a cultura empresarial, o trabalho em equipa, a orientação para o cliente e para os objetivos estratégicos da organização.

Na DUAL, há exatamente 40 anos que desenvolvemos cursos de formação para jovens, seguindo o modelo alemão, em áreas como a Manutenção Industrial, a Mecatrónica Automóvel, a Eletrónica e Automação, a Logística, a Gestão Administrativa, entre outras. A empregabilidade dos jovens que frequentam estes cursos, no final dos mesmos, ronda os 95%, sendo que 30% continuam a trabalhar

This article is from: