EDIÇÃO
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REVISTA
JULHO/AGOSTO
ISSN 2525-3379
INTERAÇÃO GENÓTIPO AMBIENTE: Artigo: Maricultura multitrófica: uma escolha estratégica
MAR/ABR 2018
aquaculturebrasil.com
2018
será que temos que nos preocupar com isto?
Coluna: Por que o Brasil exporta tão pouca tilápia?
Entrevista: João Manoel C. Alves, gerente de produtos aqua - GUABI
Eles fazem a diferença: Wagner Cotroni Valenti
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O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com DIRETORES ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen DIREÇÃO DE ARTE: Syllas Mariz Jéssica Brol COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Carlos Antonio Lopes de Oliveira, Carlos Eduardo Zacarkim, Daiane Mompean Romera, Daniel Cavalcanti, Débora M. Fracalossi, Denis William Johansem de Campos, Eduardo Gomes Sanches, Eric Costa Campos, Esmeralda Chamorro Legarda, Fabiana Garcia, Felipe do Nascimento Vieira, Filipe Chagas Teodózio de Araújo, Gabriela Claudia Arato Bergamo, João Manoel C. Alves, Leila Hayashi, Luan Freitas Rocha, Luis Vinatea Arana, Luiz Fernando Souza Alvez, Luiz Henrique Castro David Marco Antônio de Lorenzo, Moisés Angel Poli, Ricardo Pereira Ribeiro, Roberta Almeida Rodrigues, Sergio Wobeto, Vanessa Lewandowski, Vanessa Villanova Kuhnen, Vilmar José Frey e Wagner Cotroni Valenti. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Giovanni Lemos de Mello Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.
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SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL - edição 13 jul/ago 2018
08 FOTO DO LEITOR 10 AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA (AMTI) APLICADA AO CULTIVO DO CAMARÃO BRANCO-DOPACÍFICO EM SISTEMA DE BIOFLOCOS
»» p.10
16 PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE I 22 CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS PARA PISCICULTURA COMERCIAL – PARTE IV 30 INTERAÇÃO GENÓTIPO AMBIENTE EM TILÁPIAS DO NILO: SERÁ QUE TEMOS QUE NOS PREOCUPAR COM ISTO? »» p.22
»» p.16
36 MARICULTURA MULTITRÓFICA: UMA ESCOLHA ESTRATÉGICA 42 UTILIZAÇÃO DE PROBIÓTICOS EM AQUICULTURA 48 TRINTA ANOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 52 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 53 CHARGES
»» p.36
»» p.42
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»» p.72 »» p.74
54 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 56 GREEN TECHNOLOGIES 57 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA 58 VISÃO AQUÍCOLA »» p.30
59 GENÉTICA 60 NUTRIÇÃO 62 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 64 RANICULTURA 65 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 66 AQUICULTURA DE PRECISÃO 68 SANIDADE
»» p.48
69 PISCICULTURA MARINHA 70 TECNOLOGIA DO PESCADO 72 DEFENDEU 74 ENTREVISTA - JOÃO MANOEL C. ALVES 78 NOVAS LEITURAS 80 ELES FAZEM A DIFERENÇA »» p.80
82 DESPESCOU
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Larva de tainha com 8 dias de vida após eclosão - UFSC (Florianópolis, SC) Caio Magnotti
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Exemplares de camarão M. rosenbergii (Coronel Vivida, PR) Kátiele Cardoso
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Piaractus mesopotamicus utilizado em pesquisas de melhoramento genético - CAUNESP (Jaboticabal, SP) Milena Vieira de Freitas
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Cultivo de bijupirá em tanques-rede (Guarapari, ES) Marcelo Lacerda
Reprodutor de Pirarucu - 90 kg e 2,30 m (Manacapuru,AM) Américo Vespúcio Araújo Júnior
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redacao@aquaculturebrasil.com 9
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©Moisés Angel Poli
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Aquicultura multitrófica integrada (AMTI) aplicada ao cultivo do camarãobranco-do-pacífico em sistema de bioflocos Moisés Angel Poli* Esmeralda Chamorro Legarda Marco Antônio de Lorenzo Felipe do Nascimento Vieira
O
sistema de bioflocos baseia-se na formação de agregados microbianos, iniciada pela colonização de bactérias heterotróficas a partir da manipulação da relação carbono:nitrogênio (C:N) da água do cultivo. A manipulação da relação C:N para níveis mais altos favorece a via heterotrófica, a qual converte o nitrogênio inorgânico em biomassa microbiana, já a relação C:N mais baixa favorece a via quimioautotrófica na qual o nitrogênio é oxidado a formas menos tóxicas. Essas duas vias, heterotrófica e quimioautotrófica, são responsáveis por manter a qualidade de água ideal para os animais de cultivo sem que haja necessidade de renovar a água. Como consequência tem-se um sistema biosseguro e mais eficiente em termos do uso de recursos naturais. Adicionalmente, os agregados microbianos podem ser utilizados como complemento alimentar pelos animais cultivados, pois são ricos em proteína microbiana. Entretanto, o desenvolvimento do sistema BFT
esbarra em alguns entraves. Entre estes problemas destaca-se a geração de sólidos ricos em nutrientes. O acúmulo excessivo de sólidos em suspensão na água no decorrer do cultivo pode ser prejudicial para o crescimento do camarão e, por esta razão, devem ser removidos do sistema. Porém, os sólidos removidos se tornam efluente rico em nutrientes, principalmente em nitrogênio e fósforo. Diante destes entraves, a aplicação de conceitos da aquicultura multitrófica integrada (AMTI) poderia contribuir para o desenvolvimento do cultivo do camarão-branco-do-Pacífico em bioflocos. A AMTI é um sistema de produção que integra espécies de diferentes níveis tróficos em um mesmo ambiente de cultivo, resultando na conversão dos resíduos do cultivo de uma espécie em fonte de alimento ou fertilizantes para outra. Esse conceito já é aplicado em algumas fazendas de salmão em tanque-rede e consiste no aproveitamento do resíduo da alimentação do salmão para cultivar mexilhões e macroalgas.
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Laboratório de Camarões Marinhos - LCM Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC *moisespoli@gmail.com
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Porém como aplicar esses conceitos no cultivo de camarão em sistema de bioflocos?
O cultivo integrado com tilápias
O primeiro experimento contou com quatro trataComo o maior resíduo do sistema de bioflocos mentos que correspondiam a quatro níveis de densidasão os sólidos salinizados ricos em nitrogênio e fósfodes de tilápia, sendo um dos níveis o ponto zero, ou ro, partimos do princípio que deveríamos priorizar o seja, sem a presença dos peixes. Ao início do experiuso de outras espécies que pumento o peso médio dos camarões dessem se aproveitar desse era de 4,78 ± 0,02 g e dos peixes de sólido. A primeira espécie que 9,64 ± 0,14 g. pensamos foi a tilápia (OreoOs camarões foram cultivados na chromis niloticus), espécie de densidade de 280 camarões m-3 em todas as unidades experimentais. Em peixe mais produzida no Brasil No Brasil já é possível contrapartida, as densidades de tilápia e que tem boa capacidade de encontrar produtos em avaliadas foram determinadas com capturar pequenas partículas base na biomassa final de camarão através do muco branquial, conserva, sal verde e estimada para o final do cultivo, ao sendo o consumo de bioflocos até cerveja a base de redor de 3 kg por tanque, a qual é a já relatado em outras pesquicapacidade de carga das unidades utisas. Além disso, a tilápia possui Sarcocornia a um preço lizadas. Assim, foi determinado que a uma rusticidade grande, tolebastante elevado. biomassa final de tilápia deveria ser rando inclusive altos níveis de algo em torno 0,10, 20 e 30 % da salinidade. biomassa final de camarões. Com a Um potencial como espéestimativa de crescer 40 g até o final cie extratora inorgânica são as do experimento, as densidades de tiplantas adaptadas a solos salilápias foram de 0, 8, 16 e 24 peixes nizados. As halófitas são plantas por caixa de 90 L. Os camarões foram alimentados seque toleram solos ou lugares onde a salinidade é alta e guindo a tabela de alimentação enquanto que as tilápias que a maioria das plantas não toleraria. No Brasil a esforam alimentadas com 1% da biomassa apenas, estipécie Sarcocornia ambigua está amplamente difundida mulando que buscassem alimento nos bioflocos. A água em regiões de manguezais e marismas e surge como do tanque dos camarões era bombeada para o tanque uma alternativa para compor um sistema multitrófico de tilápia constantemente (Figura 1). O desempenho aplicado ao cultivo de camarão em sistema de bioflozootécnico desse sistema pode ser visto na Tabela 1. cos. No Brasil já é possível encontrar produtos em conOs resultados indicam que foi possível aumentar serva, sal verde e até cerveja a base de Sarcocornia a a produtividade em até 31,2%. Houve também um um preço bastante elevado. incremento de 27,9% na retenção de nitrogênio e Levando em consideração o que foi descrito acima, 223% na retenção de fósforo no tratamento com a o presente projeto propôs o estudo da combinação maior densidade de estocagem de peixe em relação ao do sistema de cultivo de camarões em bioflocos com controle. Não houve diferença na quantidade final de tilápias (Oreochromis niloticus) e Sarcocornia (Sarcornia sólido produzido pelos sistemas, mesmo com a maior ambigua). biomassa nos tratamentos contendo peixe. A conversão alimentar próxima a 0,2 das tilápias sugere que os peixes provavelmente aproveitaram os bioflocos. Figura 1. Diagrama de fluxo da unidade experimental integrada de camarões em bioflocos com tilápia.
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Tabela 1. Desempenho zootécnico (médias ± desvio padrão) de Litopenaeus vannamei e Oreochromis niloticus cultivados durante 57 dias em sistema de bioflocos com três diferentes densidades de estocagem de tilápia-do-Nilo.
Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes são significativos pelo teste t (p<0,05).
Em um segundo experimento além do camarão e da tilápia, foi adicionado ao sistema a Sarcocornia e comparamos com um sistema controle que continha apenas camarões e peixes. Escolhemos o melhor tratamento do primeiro experimento como referência para o povoamento da tilápia, que começaram o experimento com 1,16 ± 0,04 g de peso. As plantas começaram com 1,17 ± 0,35 g e foram acopladas ao sistema através de uma bancada aquapônica tipo NFT (Figura 2). Os camarões tinham peso inicial de 4,09 ± 0,05 g e foram cultivados a uma densidade de 300 animais m-3. A alimentação foi a mesma do primeiro experimento, com os peixes recebendo apenas 1 % da biomassa. Os resultados podem ser observados na Tabela 2. Nesse experimento não houve diferença significativa entre os tratamentos em relação a retenção de nitrogênio e fósforo mesmo com a quantidade de nitrato significativamente menor no tratamento que continha Sarcocornia. Porém, a produtividade total foi 17 % maior no sistema AMTI.
Figura 3. Desempenho da salicornia com: a) 1 semana de cultivo; b) 3 semanas de cultivo; c) 5 semanas de cultivo; d) 8 semanas de cultivo.
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Aquicultura multitrófica integrada (AMTI)
Figura 2. Diagrama das unidades experimentais do sistema AMTI.
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Tabela 2. Desempenho do Litopenaeus vannamei, Oreochromis niloticus e Sarcocornia ambigua cultivados em sistema de biofloco durante 57 dias.
Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes são significativos pelo teste t (p<0,05).
C
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Conclusão
Foi possível aumentar a produtividade do sistema com a diversificação da produção e usando praticamente a mesma quantidade de ração. Ao mesmo tempo foi possível melhorar o desempenho ecológico do sistema através do aumento da retenção do nitrogênio e fosforo oriundos da ração do camarão.
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Considerações finais
Novas pesquisas estão dando continuidade a esse projeto entre elas a utilização da tainha e das macroalgas. Além disso, estamos testando a diferença no desempenho produtivo do sistema quando o biofloco tem predominância mais heterotrófica ou quimioautotrófica. Outras perguntas também têm que ser respondidas, por exemplo, é possível diminuir ainda mais a ração ofertada para a tilápia? Futuramente, traremos mais novidades sobre este sistema na Aquaculture Brasil.
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Premiação
O trabalho incluindo salicornia, tilápias e camarões em um sistema multitrófico rendeu ao autor do artigo, Moisés Poli, o primeiro lugar do prêmio Alltech Young Scientist 2018 na categoria América Latina, além do prêmio inédito ao laboratório na etapa final, que foi o Impact Award, recebido nos Estados Unidos. Moisés Poli recebendo o prêmio Alltech Young Scientist 2018.
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© Luiz Henrique Castro David
Perifíton: uma opção de alimento complementar na aquicultura - Parte I Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP Universidade Estadual Paulista (UNESP) Jaboticabal, SP *luiz.h@outlook.com
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criação de peixes em viveiros e tanques.rede é considerada um processo ineficiente na utilização de recursos, isto porque apenas de 5 a 15% de todos os nutrientes fornecidos como dietas ou fertilizantes são convertidos em biomassa de peixe (Cavalcante et al., 2011). Desta maneira, a maior parte do nitrogênio e do fósforo adicionados aos sistemas são perdidos para o ambiente, podendo ocasionar a eutrofização de corpos d’água, como rios, lagos e reservatórios, por meio da emissão de efluentes ricos
Daiane Mompean Romera Instituto Agronômico de Campinas - APTA
Fabiana Garcia Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP Universidade Estadual Paulista (UNESP) Instituto de Pesca Centro do Pescado Continental - APTA
nesses compostos (Figura 1). Uma alternativa para maximizar o uso de nutrientes na produção aquícola é a adoção de sistemas baseados na utilização de substratos submersos para o desenvolvimento do perifíton (Figura 2). Esta matéria é a primeira de três partes e abordará a definição e o emprego do perifíton na aquicultura, bem como suas funções no ambiente aquático e de que forma ele pode melhorar a produtividade dos sistemas de produção.
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Luiz Henrique Castro David* Roberta Almeida Rodrigues Denis William Johansem de Campos
Figura 1. Fluxo de nitrogênio e fósforo dentro de um sistema de produção aquícola (Fonte: adaptado de Crab et al., 2007).
Nutrientres adicionados pela ração 100%N, 100% P
Absorvido pelos peixes 27%N, 24%P
73%N 76% P Eutrofização Figura 2 . Substratos de bambu inseridos em sistemas de tanque-rede (a,b); e viveiro escavado (c,d). © Fabiana Garcia
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O que é o perifíton? O perifíton corresponde à comunidade de microrganismos adaptados a vida séssil que se aderem a diferentes tipos de substratos submersos. Como, por exemplo, pedras, madeiras, plásticos, vidros, etc. Essa microbiota apresenta perfis de desenvolvimento distintos de acordo com o tipo de substrato e características da água. Além disso, ela é altamente variável, podendo compreender grupos de microalgas, bactérias, fungos, protozoários, zooplâncton e outros invertebrados aquáticos (Figura 3).
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Figura 3 . Variabilidade na composição taxonômica do perifíton. © Luiz Henrique Castro David
A variação na composição taxonômica e a diversidade do perifíton pode ser influenciada por diversos fatores como: tempo de submersão dos substratos, correnteza de água predominante, tipo de substrato utilizado, composição química da água, pressão de “pastejo” dos organismos aquáticos, disponibilidade de nutrientes, intensidade e qualidade da luz e temperatura (Figura 4). O nível de importância de cada um desses fatores, tanto na determinação da biomassa perifítica como na composição e estrutura da comunidade, ainda não está completamente esclarecido, evidenciando a necessidade de mais estudos nessa área. As algas, principalmente as diatomáceas, são os microrganismos predominantes no perifíton. Estas podem representar até 80% da sua composição
e são responsáveis pela coloração esverdeada ou acastanhada da comunidade perifítica. Além disso, o estado de maturidade dessa comunidade, período em que a densidade, a diversidade e a riqueza de espécies atingem valores máximos, ocorre por volta dos 14 a 21 dias após a inserção dos substratos, ou seja, após esse período os organismos já podem ser povoados no sistema de produção para que aproveitem ao máximo a disponibilidade de alimento natural (Rodrigues & Bicudo, 2001; Moschini-Carlos, 2003). Vale ressaltar que o consumo do perifíton pelos organismos aquáticos durante o ciclo produtivo é essencial para que essa comunidade esteja em constante renovação, o que promove a disponibilidade contínua de alimento nos substratos.
Figura 4. Principais fatores que afetam o desenvolvimento do perifíton.
Fatores que afetam o crescimento do perifíton Abióticos
Bióticos
Hidrológico
Físico
Químico
Correnteza, circulação de água
Luz, t°, pH, substrato
Concentração de nutrientres
Predação, parasitismo, forrageamento
Aplicação do perifíton na aquicultura
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Figura 5. Taxa de ingestão do perifíton ofertado sozinho ou combinado ao fitoplâncton (Fonte: adaptado de Dempster et al., 1993).
Taxa de ingestão (mg/g/h)
Em sistemas de produção extensivo e semiintensivo é comumente aceita a ideia de que a comunidade fitoplanctônica é a responsável pela fixação de energia e produção de alimento natural na cadeia trófica aquática. No entanto, pesquisas tem mostrado que o perifíton pode, muitas vezes, ser o maior contribuinte para a produção primária de um sistema de produção aquícola. Dempster et al. (1993) relataram que tilápias ingerem quantidades até 25 vezes maiores de material vegetal quando o fitoplâncton é ofertado junto com o perifíton do que quando apresentado sozinho (Figura 5). Isso ocorre porque é mecanicamente mais eficiente raspar ou pastejar uma camada de perifíton, do que filtrar algas planctônicas em um ambiente tridimensional. Além dessa maior eficiência, raspar o perifíton permite ao peixe selecionar os microrganismos que lhes são de maior interesse, sobretudo, os de melhor qualidade nutricional.
Perifíton
Fitoplâncton
Perifíton + Fitoplâncton
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O uso de substrato para perifíton na aquicultura é uma prática de fácil aplicação e baixo custo. Os sistemas baseados nesses microrganismos oferecem a possibilidade de aumentar a produtividade primária por unidade de área de substrato adicionado e consequentemente aumentar a disponibilidade de alimento. A ideia é que, parte dos nutrientes perdidos pela lixiviação da ração e excreção, sejam convertidos em perifíton e que este sirva como alimento adicional para os organismos cultivados. Desta maneira, é esperado que os produtores sejam capazes de manter, ou até mesmo melhorar os níveis de produtividade, aplicando menos nutrientes e reduzindo os custos com alimentação. Nesse sentido, estudos referentes ao uso de substratos para colonização de perifíton em sistemas de cultivo extensivos e semi-intensivos vêm sendo realizados com objetivo de melhorar a qualidade da
água e, sobretudo, diminuir a dependência e utilização de ração, item que pode representar até 60% dos custos variáveis de uma produção. Atualmente, o principal desafio do nosso grupo de pesquisa tem sido utilizar o perifíton na produção intensiva. Nossas pesquisas têm explorado o uso dos substratos em sistemas de tanque-rede e viveiro com altas densidades, obtendo resultados econômicos e produtivos muito promissores. Adicionalmente, o uso de substratos para perifíton promove muitos benefícios ambientais, principalmente quando comparado aos cultivos que não utilizam essa prática. De maneira geral, por meio da ciclagem de nutrientes, o perifíton é capaz de remover os nutrientes biodisponíveis na coluna d’água, melhorando sua qualidade para os organismos cultivados. Na Figura 6 estão apresentados os principais benefícios do uso do perifíton na aquicultura.
Figura 6 .Principais benefícios em usar o perifíton em sistemas de produção aquícola.
Melhora a qualidade de água
Incrementa a disponibilidade de alimento natural
Excelente indicador de alteração ambiental
Perifíton
Fixação de carbono e ciclagem de nutrientes nos ecossistemas aquáticos
Fonte natural de nutrientes como ácidos graxos poli-insaturados (PUFA), esteróis, aminoácidos, vitaminas e pigmentos
© Ana Gauy
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Auxilia no tratamento dos efluentes gerados pelo cultivo
A produção de peixes em sistemas baseados em perifíton é influenciada pelo hábito alimentar das espécies cultivadas, a densidade populacional, a sazonalidade, o tipo de substrato, a disponibilidade de alimentação comercial, a qualidade e quantidade dos microrganismos, etc. O critério mais importante na aplicação desta prática é selecionar espécies que possam aproveitar o perifíton, e que as características do mesmo sejam adequadas para promover o crescimento dos peixes. Neste sentido, espécies herbívoras e onívoras são as que melhor aproveitam a comunidade perifítica como alimento. Os cultivos de carpas e tilápias são os normalmente escolhidos para o uso do perifíton. Estas espécies mostram-se com grande potencial produtivo quando cultivadas em sistemas com substratos artificiais, tendo em vista suas adaptações morfológicas para raspar,
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capturar e selecionar alimentos de origem vegetal de maior valor nutricional, além da eficiência na assimilação de material vegetal que pode chegar a até 80% de tudo que consomem. Por outro lado, é provável que haja muitas espécies brasileiras como o lambari, por exemplo, com grande potencial de aproveitamento do perifíton. Após conhecer os conceitos e aplicações gerais do perifíton, na segunda parte dessa série de artigos serão apresentados dados e informações específicas sobre o uso de diferentes tipos e materiais de substratos, o que levar em consideração na hora da sua escolha, além de informações sobre a composição taxonômica e nutricional do perifíton e seus benefícios para os organismos cultivados. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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EM BREVE
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Construção de viveiros para piscicultura comercial – Parte IV Carlos Eduardo Zacarkim
O
propósito da confecção de um projeto de piscicultura comercial intensiva é, fundamentalmente, favorecer a padronização dos lotes, facilitar o manejo, reduzir custos de produção, operacionalização e construção do empreendimento. Na concepção de um projeto conforme comentando nos artigos anteriores, alguns
aspectos considerados relevantes já foram comentados, tais como a demanda hídrica, layout, tamanho e forma dos viveiros. Neste artigo, iremos abordar os aspectos construtivos em empreendimentos aquícolas, relativos a movimentação de terra e locação de projetos com a expectativa de nortear o profissional a respeito dos aspectos práticos dos trabalhos em campo.
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Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura Universidade Federal do Paraná – UFPR/Setor Palotina Palotina, PR zacarkim@ufpr.br
Layout e movimentação de terra
Na confecção de um projeto de piscicultura comercial intensiva dificilmente podemos replicar uma unidade produtiva considerada “modelo” ou padrão a ser seguido, visto as características da topografia, do solo e da água serem distintas de uma área para outra. Desta forma, para reproduzir um mesmo projeto confeccionado para uma determinada área, mas em outro local com características diferentes, o custo de implantação seria elevado ou mesmo impraticável em muitos casos. Conforme abordado no artigo anterior, a lógica na engenharia do processo é balizar os projetos primeiramente pela topografia e de forma secundária, mas não menos importante, pelas rotinas de alimentação e operacionalização para se confeccionar o layout, tamanho e formato dos viveiros, estradas, estruturas de drenagem etc.
Neste sentido, o estudo topográfico (planialtimetria) adequado e o emprego de vários modelos de layout para elaboração de um empreendimento podem gerar diferenças significativas relativas a movimentação de terra para um mesmo projeto, com lâminas de água semelhantes, mas com propostas de layout diferentes. A concepção de projetos sem o estudo topográfico apropriado, além de gerar movimentações de terra desnecessárias ao produtor/empresário, pode inviabilizar áreas que teriam potencial para o investimento em piscicultura. Em um exemplo prático vamos estudar a situação da área apresentada na Figura 1. Neste caso, o produtor tem como interesse reformar os antigos viveiros, aumentar a área em lâmina d´água, padronizar a propriedade e facilitar as operações de despesca através do acesso do caminhão de transporte em todos os viveiros, conforme requisitos demandados pela unidade de processamento de pescado.
Figura 1. Situação atual de uma propriedade hipotética, com detalhamento da altimetria (curvas de nível). .
Situação
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Atual
Conforme apresentado, a propriedade possui terreno suave ondulado com declividade em torno de 5% e com topografia uniforme, ou seja, sem apresentar pontos críticos ou de relevância que alterassem de forma brusca o formato do terreno como voçorocas, lajes, aflorações de pedra, etc, e que exigiriam na confecção do projeto maior critério de análise. Neste caso, suponhamos que engenheiro tivesse como primeira proposta o sistema de viveiros em paralelos e no sentido perpendicular aos das curvas de nível, com entradas e saídas individuais da água em cada viveiro. A captação seria por derivação da nascente existente na propriedade, fazendo uso do bombeamento complementar para obter a demanda hídrica necessária ao empreendimento, conforme planta baixa demonstrada na Figura 2.
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Neste exemplo, o layout buscou padronizar a maioria dos viveiros, mas com o aproveitamento total da área disponibilizada para o empreendimento, considerando a hipótese de que o custo de implantação de todos os viveiros totalmente iguais seria elevado, além da perda de área disponível em lâmina d´água com espaços ociosos. O custo com os serviços de terraplenagem, considerando os serviços de corte, aterro, compactação e transporte neste empreendimento, foram estimados em R$ 554.900,00 para uma área de 5,64 hectares de lâmina de água, ou seja, R$ 9,83/ m2, algo em torno de 64% do valor total desta obra. Em uma primeira análise, a proposta atente os requisitos comentados nos artigos anteriores, contemplando também a demanda da unidade de processamento de pescado.
Figura 2. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 1.
1
Proposta Área: 56.400 m²
Na concepção de uma proposta de piscicultura comercial é relativamente comum, uma vez atendida todas as demandas existentes no projeto, o profissional partir logo para execução do empreendimento. Contudo, suponhamos uma proposta alternativa de projeto em que se adotasse o sistema de viveiros em paralelo, mas no sentido das curvas de nível, mantendo as entradas e saídas individuais de água em cada viveiro. A captação continuaria a ser por derivação da nascente existente na propriedade, fazendo uso do bombeamento complementar para obter a demanda hídrica necessária ao empreendimento, conforme planta baixa demonstrada na Figura 3. Neste outro exemplo de layout os viveiros serão maiores, também padronizados e com uso total da área disponibilizada, com o acréscimo de dois viveiros na região mais baixa da propriedade. A drenagem será realizada por linhas centrais tubuladas ao longo da linha de despesca e o abastecimento será por canal central,
atendendo também a demanda da unidade frigorífica e os critérios de padronização já comentados. O custo com os serviços de terraplenagem nesta outra proposta foi estimado em R$ 612.200,00, para uma área de 6,34 hectares de lâmina de água ou R$ 9,65/m2 de lâmina de água, em torno de 63% do valor total do empreendimento. O fato da primeira proposta ir contra a topografia natural do terreno pode ter influenciado o aumento do custo/m2 de obra, pois na “teoria”, os viveiros devem ser implantados seguindo o desenho das curvas de nível, o que possibilitaria um menor custo com a movimentação de terra. Contudo, não são raros os casos em que esta assertiva não se repete. A ideia deste artigo é demostrar que o estudo de várias situações e emprego de layout diferentes para concepção de um empreendimento possibilita o melhor aproveitamento da área disponível e a redução do custo de implantação em muitos casos.
Figura 3. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 2.
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Proposta Área: 63.400 m²
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Nos exemplos avaliados, as duas propostas contemplam de forma plena as demandas existentes ao projeto com pontos favoráveis e desfavoráveis. O aspecto positivo da primeira proposta é que a despesca será realizada em uma única linha, o que possibilita a redução dos custos com as tubulações de drenagem, visto que os efluentes gerados serão lançados diretamente dos viveiros para as lagoas de decantação, possibilitando também redução dos gastos com manutenção. Como negativo, se tem o maior custo de implantação, pois a movimentação de terra é elevada, além da área em lâmina de água ser menor. Na segunda proposta ocorre exatamente o oposto, com o incremento da área de lâmina de água e a redução no custo de implantação. Contudo, os gastos com as tubulações de drenagem soterradas, poços de visita, sapatas e demais estruturas necessárias encarecem o projeto, além das despesas com manutenção serem superiores em relação a primeira proposta. Cabe ressaltar que os custos com implantação das tubulações em concreto armado ou PEAD (Polietileno de alta densidade) tanto na drenagem, com no abastecimento, correspondem entre 5 -10% do custo total do empreendimento. Desta forma, cabe ao profissional disponibilizar a opção de escolha ao produtor/empresário que poderá avaliar dentro das diferentes alternativas do projeto, a que melhor atenda sua real necessidade.
Corte e aterro
Na confecção de um layout adequado o primeiro passo é realizar o estudo topográfico (levantamento planialtimétrico) do local onde se pretende realizar o empreendimento. Este levantamento dará o direcionamento necessário para minimizar os custos com a movimentação de terra no empreendimento e estimar as despesas com os diversos tipos de equipamentos destinados aos serviços de terraplenagem. Na movimentação de terra, as operações de corte e aterro, compactação e transporte, considerando o trânsito e o tempo entre idas e vindas de caminhões, operações de carga e descarga de terra, devem ser observadas de acordo com a função e a utilidade de cada maquinário. Em outras palavras, cada equipamento tem sua função e utilidade, que se utilizada de forma equivocada pode acarretar em despesas desnecessárias na execução o projeto. Na análise do corte transversal das duas propostas de empreendimentos ilustrados acima, é possível observar o contraste dos dois projetos na profundidade dos cortes e aterros em relação ao perfil original do terreno, conforme ilustrado na Figura 4. Esta relação de altura de taipas em função do perfil do terreno fará com que a área de corte ou de aterro aumente ou diminua em função da necessidade de cada projeto.
Figura 4. Corte transversal dos viveiros expressos nas propostas de projeto 1 e 2.
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Proposta 1 / Corte A-A
Proposta 2 / Corte A-A
Uma vez que se obtém a área de corte e aterro, multiplicados pela largura dos viveiros projetados, se estima o volume de terra a ser movimentado em um projeto. Cabe ressaltar que existem várias formas de se avaliar a movimentação de terra na engenharia, como modelagem, quadrantes, integrais, e etc. A análise dos vários perfis das secções transversais dependerá da
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metodologia empregada e da complexidade de cada área ou proposta de empreendimento. Independente da metodologia utilizada, a situação ideal é ter a compensação de volumes entre cortes e aterros, visto que se o volume de corte for maior que o volume de aterro, a terra excedente terá que ser transportada para outras localidades ou reapro-
veitada nas taipas, ocasionando movimentações de terra desnecessárias e, consequentemente, prejuízo. Do mesmo modo, ocorre se o volume de aterro for maior que o de corte. Neste caso, será necessário buscar terra em outras áreas, aumentando também as despesas com corte, carga, descarga e transporte desta terra. Na concepção do projeto, as barragens serão balizadas primeiramente pelo tipo do solo encontrado na área do empreendimento e, posteriormente, pelo manejo que se pretende adotar, para então fazer o balanço entre o volume de corte e aterro. Desta forma, a inclinação dos taludes dos viveiros se dará pelo coeficiente de inclinação das taipas, que indicará o número de vezes que a projeção horizontal será maior que a projeção vertical, conforme expresso na Tabela 1. Tabela 1. Inclinação dos taludes em função do tipo de material usado e da altura do talude.
Embora a movimentação de terra do projeto seja estimada como volume compactado, cabe ressaltar que nas operações de corte do terreno ocorrerá o empolamento do material, com consequente aumento de volume de terra a ser transportado/movimentado. Por definição, solos são um conjunto de partículas sólidas (minerais e orgânicas) e de espaços ocupados pelo ar e pela água. Desta forma, a medida em que a terra é movimentada, ocorre o aumento desses espaços com ganho de volume, devendo esse aumento ser contabilizado no projeto conforme expresso na Tabela 2. Uma vez encontrada a quantidade total de terra a ser movimentada, a escolha do tipo de equipamento para os serviços de terraplenagem será importante. Conforme já mencionado, cada equipamento possui sua função e rendimento de movimentação de terra em m3 por hora trabalhada. Um exemplo disso, é demonstrado na Tabela 3, que ilustra o rendimento em m3.h-1, em função da distância trabalhada para os diferentes tipos de trator esteira disponíveis no mercado. Tabela 2. Peso específico e índice de empolamento por tipo de solo.
Fonte: DNAEE, 1985; Carvalho, 2008. *Aterros maiores que 10 metros de altitude, obrigatoriamente devem ter acompanhamento de um engenheiro civil.
Menores inclinações nas barragens propiciam maiores estabilidades nos taludes, onde em terrenos arenosos geralmente pobres em argilas, devem ter sua inclinação suavizada tanto a montante, como a jusante em relação aos demais tipos de solo. Além da inclinação da barragem, o dimensionamento da crista também se dará em função da altura do aterro a jusante, conforme a equação: H: altura da barragem a jusante.
Estimada a largura em função da altura do aterro, a crista deverá ser avaliada também, pelo uso proposto e sua finalidade. Caso a crista da barragem seja utilizada como estrada, onde o tráfico de caminhões de despesca será rotineiro, a mesma deverá ter ao menos 7 metros de largura. Barragens utilizadas apenas para operações de alimentação com veículos leves, podem variar entre 3,5 a 4 metros de comprimento de crista. Neste caso, cabe ao profissional avaliar o uso em que se destinará a barragem, para então estimar a movimentação de terra de todo talude. De maneira geral, quanto maior for a largura da crista, maior será a estabilidade do talude. Contudo, maior também será o custo com a movimentação de terra para construção.
Fonte: Carvalho J.A, 2008.
Tabela 3. Produção estimada em m3.h-1, em função da distância de transporte para os diferentes tipos de trator esteira.
Fonte: Carvalho J.A, 2008.
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C=H +3 5
Conforme se aumenta a distância de trabalho e operação, ocorre a redução do rendimento em m3.h-1 trabalhada. O mesmo raciocínio é empregado para os diferentes tipos de maquinários, como por exemplo: escavadeiras hidráulicas, pás-carregadeiras, rolos compactadores, caminhões, scraps, etc. A combinação entre a função dos diferentes equipamentos e seus respectivos rendimentos resultam na quantidade de horas necessárias para um determinado empreendimento. Uma vez definido o projeto e o custo de execução, a locação da obra se dará com base nos perfis de corte e aterro utilizados no cálculo do volume de terra total do projeto. Assim, o engenheiro deverá estaquear ou piquetear o empreendimento considerando os cantos dos viveiros, largura das taipas, estradas, estruturas de drenagem, inclinação dos taludes (saias) e demais componentes que façam parte do projeto. Na locação da obra, o profissional deverá fixar em estaca da profundidade do corte (C) ou da quantidade de aterro (A), conforme expresso na Figura 5.
Figura 5. Indicação de corte (C), na locação de um empreendimento.
Construção de viveiros para piscicultura comercial - parte V
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No próximo artigo serão abordadas as considerações sobre os sistemas de abastecimento e drenagem em empreendimentos aquícolas. Esperamos vocês!
© Carlos Eduardo Zacarkim
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Interação genótipo ambiente em tilápias do Nilo: será que temos que
nos preocupar com isto? Eric Costa Campos* Filipe Chagas Teodózio de Araújo Luiz Fernando Souza Alvez Vanessa Lewandowski Dr. Carlos Antonio Lopes de Oliveira Dr. Ricardo Pereira Ribeiro Programa de Pós-Graduação em Zootecnia Universidade Estadual de Maringá - UEM *eric.peixegen@gmail.com
A
produção comercial de Tilápias no Brasil ocorre, principalmente, em duas condições de cultivo, tanques-rede e viveiros escavados. Além disso, emerge na produção nacional outras possibilidades, como RAS (Recirculating Aquaculture System), BFT (Biofloc Technology) e Aquaponia. Os dois principais sistemas utilizados são muito distintos em suas peculiaridades. O primeiro (tanque-rede) com maior densidade de estocagem e alta taxa de renovação de água; o segundo (viveiro escavado), dependente da comunidade biótica (fito e
zooplâncton) e atenção diária dos parâmetros da qualidade de água. Ainda mais, existem variações dentro das próprias condições de cultivo, a exemplo os tanques-rede de grande volume (São Paulo e Mato Grosso) e viveiros escavados com alta densidade, por exemplo, Oeste do Paraná. Com a implantação e consolidação de programas de melhoramento genético de tilápias no Brasil, tem-se verificado incremento de produção dado ao uso de animais geneticamente superiores. Porém, em função das diferentes condições de cultivo, alguns questionamentos devem ser levados em consideração. As diferentes condições de cultivos têm impacto importante na determinação da qualidade genética dos animais? Em função disso, é necessário avaliar os animais dos programas de melhoramento nestas diferentes condições?
Estas questões estão relacionadas a um tema importante no melhoramento genético animal e ainda pouco discutido na criação de tilápias em nosso país – a interação genótipo ambiente (IGA). A interação genótipo ambiente é um fenômeno no qual é possível observar diferenças no desempenho dos animais com genótipo semelhante, cultivados em ambientes distintos, de maneira que haja rearranjo na classificação e ou redução nas diferenças dos animais em função das condições de cultivo. Estes dois fenômenos estão apresentados na Figura 1, sendo o rearranjo na classificação observado ao comparar as
famílias 1 vs. 4 e 2 vs. 3 e a redução das diferenças na comparação das famílias 1 vs. 2 e 3 vs. 4. Entre os impactos negativos da interação genótipo ambiente deve-se salientar a redução da resposta à seleção (ganho genético) ao avaliar e selecionar os animais em tanques-rede e produzir as suas progênies em viveiros escavados, por exemplo. Desta forma, a IGA assume grande importância, tendo em vista que os genes que controlam um fenótipo (peso à despesca, por exemplo), podem não ter a mesma expressão em diferentes condições de cultivo.
Figura 1. Exemplos de interação genótipo ambiente (IGA).
Exemplos de IGA Peso à despesca
900
Viveiro escavado
800 750 700 650 600
Desenvolvimento
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Tanque-rede
850
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3
Famílias
Diante destas possibilidades, foi realizado um ensaio pelo grupo PeixeGen da Universidade Estadual de Maringá, no qual testou-se a existência de rearranjos na classificação das famílias, caso a avaliação e seleção fossem realizados em duas condições de cultivo diferentes (tanques-rede e viveiros escavados). Foram utilizadas informações de peso à despesca de tilápias-do-Nilo pertencentes ao programa de melhoramento genético (TILAMAX – UEM). A avaliação genética ocorreu em tanques-rede no rio do Corvo (Reservatório de Rosana), densidade 75 kg/m³ e em viveiros escavados no distrito de Floriano (Maringá – PR), densidade 1 peixe/m² (Figura 2). Os resultados indicaram que o impacto das diferenças entre o sistema intensivo de produção em tanque-rede e o sistema extensivo em viveiros escavados foi bastante acentuado no desempenho de indivíduos da mesma família, cerca de 400 g no peso à despesca, no mesmo período e tempo de cultivo, conforme ilustrado na figura 3.
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Figura 2. Condições de cultivo utilizadas durante o ensaio. a) Unidade Demonstrativa em Diamante do Norte – PR; b) Estação Experimental de Piscicultura (UEM/CODAPAR), Maringá - PR.
A.
© Jailton Bezerra da Silva Júnior
B.
© Carlos Antonio Lopes de Oliveira
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Figura 3. Exemplo da desigualdade entre a médias de peso à despesca a) Tanque-rede; b) Viveiro escavado.
A.
A diferença na média era esperada, porque as duas condições de cultivo apresentam resultados de performance próprios, especificidades que os distinguem. Porém a avaliação de várias famílias em ambos os sistemas apontou que houve alteração no ranqueamento das famílias nas diferentes condições. Por exemplo, a família melhor classificada para tanque-rede ficou na quarta posição em viveiro escavado. Estes resultados podem ser explicados pela correlação* genética que foi menor que 0,40, indicando que o grau de associação genética entre os dois sistemas de cultivo é pequeno. Como consequência, a percentagem de coincidência das dez melhores famílias e a correlação de ranking dos valores genéticos foram afetados, ficando abaixo de 50 %. Ao verificar este ranqueamento, é possível observar que a metade das famílias está presente na classificação das duas condições de cultivo (Tabela 1), ou seja, provavelmente, cinco famílias candidatas a
multiplicação de material genético, serão capazes de atender às demandas das duas condições de cultivo. Isso nos dá também uma tranquilidade para afirmar que, apesar de o ideal é ter um animal ou linhagem mais adequada para cada condição de cultivo, é muito melhor utilizar animais ou linhas melhoradas do que sem melhoramento algum, pois os animais submetidos à seleção genética e acasalamentos dirigidos (ou seja, melhoramento genético) são sempre superiores que os não melhorados em qualquer condição de cultivo. Um outro aspecto da interação genótipo ambiente, está relacionado com o ganho genético ou resposta à seleção, de maneira que o processo de seleção para uma condição específica de cultivo não promove o ganho genético com a mesma intensidade na outra condição. Isto está ilustrado na Tabela 2, enquanto o ganho genético esperado para tanque-rede foi de cerca de 15 %, a resposta correlacionada para viveiros foi quatro vezes menor.
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Tabela 1. Ranqueamento das 10 famílias geneticamente superiores de acordo com a condição de cultivo.
Tabela 2. Correlação genética e resposta à seleção nas duas condições de cultivo.
Apesar da evidência de interação genótipo ambiente, é importante salientar que o melhoramento genético irá promover, simultaneamente, aumento no peso à despesca nas duas condições de cultivo avaliadas, justificando o uso dos animais melhorados ao invés de animais “locais” não melhorados, como já mencionado anteriormente.
Considerações finais
Com a expansão do cultivo de tilápias e a necessidade de profissionalização do setor, a oferta de animais com qualidade genética comprovada torna-se fator essencial. Contudo, as diferentes condições de cultivo, de sistemas de produção e demandas do mercado consumidor incrementam a complexidade aos programas de melhoramento genético da espécie instalados no Brasil. Como alternativa, para utilização dos benefícios da interação genótipo ambiente, os programas de melhoramento genético poderiam avaliar os animais em diferentes locais de teste (determinados
É importante salientar que o melhoramento genético irá promover, simultaneamente, aumento no peso à despesca nas duas condições de cultivo avaliadas, justificando o uso dos animais geneticamente melhorados.
por diferentes condições de cultivo, climáticas e ou ambientais), de maneira que as informações de desempenho nas mais diversas condições, alimentem a estrutura de dados utilizada na avaliação genética, permitindo a seleção mais acurada de indivíduos/ famílias com superioridade genética para cada situação específica, aumentando o ganho genético e o retorno econômico do uso de animais melhoradores (Figura 4).
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Figura 4. Fluxo de material genético e de informações na cadeia produtiva de tilápias.
Locais de teste
Núcleo de seleção
Fluxo de informações Fluxo de material genético
Alevinocultores
Engordadores
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© Jéssica Brol
Maricultura multitrófica: uma escolha estratégica Laboratório de Piscicultura Marinha Instituto de Pesca/APTA/SAA Ubatuba, SP
A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente conhecida pela sigla IMTA (Integrated Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes níveis tróficos na mesma unidade produtiva,
Eduardo Gomes Sanches Laboratório de Piscicultura Marinha Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho Instituto de Pesca/APTA/SAA Santos, SP esanches@pesca.sp.gov.br
sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar. A cadeia alimentar representa o movimento e transferência de matéria e energia entre os seres vivos.
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Gabriela Claudia Arato Bergamo Vanessa Villanova Kuhnen
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Os níveis tróficos normalmente contemplados nesse tipo de cultivo são:
Integrated Multi-Trophic Aquaculture Espécies detritívoras (ex. pepinos do mar e camarões) Espécies filtradoras (ex. ostras e mexilhões)
Os benefícios acerca do IMTA
Espécies consumidoras (ex. peixes)
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Espécies produtoras (ex. macroalgas)
A idéia central deste tipo de sistema produtivo é que seja dimensionado de forma com que os efluentes das espécies consumidoras sejam aproveitados como fonte de nutrientes para as demais espécies, criando um ambiente ecologicamente balanceado (Chopin et al., 2008; Soto, 2009). O sistema pode resultar na mitigação dos impactos na qualidade da água e garantir maior estabilidade econômica do empreendimento (Ridler et al., 2007; Nobre et al., 2010). A maricultura em sistema multitrófico já é praticada no Japão, Canadá, Chile, Itália, Noruega e na China (Shi et al., 2013). No Brasil, porém, ainda são raros os cultivos que operam nesse sistema, especialmente em ambiente marinho. O cultivo em sistema multitrófico pode ser especialmente interessante em locais costeiros protegidos por Áreas de Proteção Ambiental (APA). No caso do estado de São Paulo, visando o gerenciamento do uso e desenvolvimento do litoral norte do estado, onde há grande atividade petrolífera e portuária, assim como uma falta no ordenamento pesqueiro e econômico da área, foi criada a APA Marinha Litoral Norte (Decreto Nº 53525 de 08/10/2008). O objetivo foi o de buscar preservar o ambiente costeiro-marinho, garantindo a convivência harmônica entre os diversos setores socioeconômi-
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cos (setor público/privado e comunidades tradicionais) e o equilíbrio do meio ambiente e seus recursos. Ter o domínio sobre o cultivo de diferentes espécies, especialmente de níveis tróficos distintos e consequentemente com exigências diversas tanto de nutrição, reprodução e manejo é um grande desafio. Mas que tal pensarmos em uma escala menor? Por exemplo em apenas dois níveis tróficos? Quais seriam os benefícios de cultivar organismos filtradores, como ostras e mexilhões, em conjunto com organismos consumidores, como os peixes?
Estudos vêm demonstrando que, em função da capacidade natural dos bivalves em absorver matéria orgânica e transformá-la em biomassa, mexilhões cultivados próximos à tanques-rede possuem maior taxa de crescimento (Handå et al., 2012; Jiang et al., 2013; Irisarri et al., 2015). Majoritariamente formados por restos de ração e pelas excretas metabólicas dos peixes, os efluentes da piscicultura contribuem para o aumento dos níveis de fósforo e nitrogênio no ambiente. Estes compostos são considerados os principais responsáveis pela eutrofização de áreas costeiras, um dos principais impactos associados a atividade aquícola (Soto, 2009; MacDonald et al., 2011; Reid et al., 2013). Em um cultivo multitrófico os mexilhões funcionariam como filtros, ao se beneficiarem dos efluentes gerados pela produção de peixes para crescer. Outro possível benefício é a capacidade de reduzir doenças de origem viral e bacteriana, promovendo uma abordagem biológica para controle de doenças, o que evita o uso de quimioterápicos (Skar e Mortensen, 2007; Molloy et al., 2011). A diversificação do cultivo traz, ainda, uma série de benefícios econômicos ao empreendimento. Sistemas dimensionados para o cultivo de mais de uma espécie são capazes de promover uma renda secundária, que pode por exemplo servir para amenizar os efeitos da variação de preços de comercialização e dos insumos (Ridler et al., 2007). Dessa maneira, podem contribuir para melhorar os índices de viabilidade econômica dos empreendimentos (Whitmarsh et al., 2006; Nobre et al., 2010). Na criação de peixes marinhos em tanques-rede, significativa quantidade de efluentes contendo material particulado em forma de fezes, alimento não ingerido e compostos inorgânicos dissolvidos, podem afetar a coluna de água e o sedimento (Chopin et al., 2008). Muitos empreendimentos têm buscado informações em relação a sistemas multitróficos visando reduzir ou minimizar estes impactos. Entretanto, ainda existem mais perguntas do que respostas.
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© Marine Biomass
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Será que tudo funciona como na teoria?
Um interessante contraponto à proposição de cultivos multitróficos foi apresentado no periódico Aquaculture (Navarrete-Mier et al., 2010). Os autores perguntavam se o cultivo de bivalves reduziria o impacto dos cultivos de peixes. Este trabalho demonstrou que o policultivo de peixes e bivalves não representou uma adequada ferramenta para a redução do impacto ambiental da produção de peixes no oceano. Os autores comprovaram, utilizando isótopos estáveis (recomendo a leitura da coluna Precisão deste número da Aquaculture Brasil), que não existiu efeito no crescimento dos bivalves (Ostrea edulis e Mytilus galloprovincialis) que estivesse relacionado à influencia dos cultivos de peixes. A utilização de isótopos estáveis de Carbono e Nitrogênio e as concentrações de metais demonstraram que os bivalves não assimilaram os resíduos orgânicos dos cultivos de peixes. Isto sugeriu que os efeitos positivos descritos atualmente na literatura podem estar relacionados a causas indiretas ligadas ao hidrodinamismo e a oferta de nutrientes oriundos de outras fontes.
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Futuro da Maricultura
A aquicultura é hoje responsável pelo atendimento de cerca de metade da demanda mundial de pescado (FAO, 2016). Considerando que grande parte do planeta é coberto por água salgada, a maricultura deve ter um papel de destaque no futuro da alimentação humana. Estima-se que menos de 4% da plataforma continental conseguiria atender a demanda projetada para 9 bilhões de habitantes em 2050 (Duarte et al., 2009). Este continuo crescimento demandará o desenvolvimento de sistemas economicamente viáveis e que provoquem menores impactos no ambiente (Witmarsh et al., 2006). Empreendimentos multitróficos, quando corretamente dimensionados e monitorados, poderiam ocupar o nicho de mercado que demanda por produtos marinhos com certificação de sustentabilidade. Estudos mostram que produtos com alto padrão de sustentabilidade podem ter um valor até 10% maior, quando comparados a sistemas tradicionais (Barrington et al., 2010).
Conclusão
Apesar de todas essas vantagens econômicas e ambientais que apresentamos, ainda há a necessidade de muito estudo sobre a real aplicabilidade deste conceito para o cenário brasileiro. Com a diversidade da nossa costa, diversidade climática, oceanográfica, geológica, quais seriam as áreas em que esse sistema cíclico de reaproveitamento de nutrientes realmente funcionaria? Ou ainda, quais seriam as espécies que realmente funcionariam em conjunto e trariam maior lucratividade? Se a aquicultura pode ser considerada como uma ciência nova, o estudo de sistemas multitróficos está recém engatinhando.
No Brasil, quais seriam as espécies que realmente funcionariam em conjunto e trariam maior lucratividade?
Inegável a constante busca por melhorias nos sistemas produtivos da aquicultura. Como em qualquer cadeia produtiva, cada aparente solução traz consigo uma expressiva quantidade de perguntas não respondidas. A aquicultura multitrófica pode vir a ser mais uma importante alternativa para a implantação de cultivos com menor impacto ambiental. Para tanto, existem ainda muitos estudos para definir modelos de integração, espécies adequadas, engenharia de sistemas aquícolas multitróficos e modelos de avaliação que levem em consideração fluxos de energia e nutrientes e a fisiologia e o metabolismo das diferentes espécies aquáticas. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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© Maricultura Costa Verde
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Vilmar José Frey
Sergio Wobeto
Tecnólogo em Aquicultura Kera Nutrição Animal Palotina, PR agropal.palotina@hotmail.com
Médico Veterinário Kera Nutrição Animal Carazinho, RS
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elatório da FAO de outubro de 2016 estima que o Brasil terá um crescimento de 104% na .produção de pesca e aquicultura até 2025. Ainda segundo o estudo, o aumento na produção brasileira será o maior registrado na região na próxima década. O representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic comentou: “A FAO acompanha de perto o crescimento do setor pesqueiro no Brasil. As políticas públicas criadas especificamente para o setor e os investimentos privados comprovam que o país pode ser também uma potência importante na pesca e aquicultura. Sabemos que a demanda por esses produtos tende a cres-
cer e por isso é necessário que os países invistam cada vez mais nessa área como vem ocorrendo no Brasil”. Os custos, a cada dia mais elevados da atividade aquícola, fazem com que os produtores estejam cada vez mais focados na eficiência produtiva, pois, trata-se de um empreendimento que possibilita gerar rendas significativas na propriedade desde que bem gerido, tendo em vista as margens a cada dia mais estreitas da atividade. Na aquicultura para que uma produção seja considerada sustentável é necessário admitir que a natureza é finita, evitando-se assim sua utilização desordenada. Esta é uma preocupação constante dos órgãos ambientais e
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Utilização de Probióticos em Aquicultura
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também das empresas idôneas que estão constantemente investindo em novas pequisas para o crescimento e desenvolvimento da atividade. Com o aumento da demanda de proteína de peixe, devido ao crescimento constante do consumo, tem se intensificado a produção aquícola em todo o País. Com isso observamos cada vez mais a presença de doenças indesejáveis nos mais diversos meios de cultivo, o que acarreta em prejuízos significativos para os produtores. O uso de antibióticos é uma prática utilizada para combater as enfermidades, porém, sua utilização tem enfrentado sérias resistências devido aos riscos do surgimento de bactérias resistentes aos diversos antimicrobianos, o que tem gerado grandes preocupações e debates junto a órgãos como OMS, FAO e grupos consumidores. Na piscicultura é importante manter atenção especial no ambiente em que os peixes se desenvolvem, tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos, uma vez que o desenvolvimento destes animais pode ser comprometido com a falta de qualidade deste meio. Os peixes são sensíveis as adversidades, tanto do meio, como do alimento a eles fornecidos. Em busca da eficiência dos diversos cultivos, principalmente no que diz respeito ao aumento dos índices zootécnicos como: imunidade, eficiência da conversão alimentar, viabilidade, ganho de peso, além do tratamento da matéria orgânica presente na coluna d’água e no solo dos viveiros, bem como a preservação do meio ambiente, a utilização de microrganismos tem sido uma excelente alternativa que possibilita a alta eficiência, a qual, é um dos requisitos fundamentais para a sobrevivência na atividade. Os microrganismos marinhos e de água doce constituem a base da cadeia alimentar em oceanos, lagos e rios. A microbiota do solo ajuda a degradar detritos e incorporar nitrogênio gasoso do ar em compostos orgânicos, reciclando assim os elementos químicos
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entre o solo, a água, os seres vivos e o ar. Os seres humanos e muitos outros animais também dependem dos microrganismos em seus intestinos para realizar a digestão e sintetizar algumas vitaminas que seus corpos requerem, incluindo algumas vitaminas do complexo B e vitamina K (Tortora, 2012). A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente conhecida pela sigla IMTA (Integrated Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes níveis tróficos na mesma unidade produtiva, sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar. A cadeia alimentar representa o movimento e transferência de matéria e energia entre os seres vivos.
Os probióticos
O termo “probiótico” foi definido pela primeira vez como sendo um fator de origem microbiológica que estimula o crescimento de outros organismos (Lilly e Stillwell, 1965). Depois de alguns anos, utilizaram-se microrganismos em dietas para animais, definindo-os como organismos ou “substâncias” que contribuem para um balanço intestinal adequado (Parker et al., 1974). De acordo com Fuller et al. (1989), os probióticos são constituídos de microrganismos vivos que afetam beneficamente o hospedeiro melhorando o equilíbrio na flora do trato gastrintestinal. Probióticos são suspensões de microorganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios notáveis à saúde do hospedeiro bem como do ambiente explorado (FAO, 2001). As bactérias probióticas tem potencial para substituir os antibióticos por não poluir o ambiente, não selecionar cepas resistentes, além de possibilitar um melhor crescimento (Vieira et al, 2010).
Mecanismos de ação dos probióticos
Vários são os mecanismos de ação dos probióticos, podendo citar: Bactérias probióticas se aderem às células epiteliais da parede celular (micro vilosidades) e habitam na mucosa, impedindo a fixação das bactérias patogênicas;
Exclusão por competição
As bactérias probióticas competem com as patogênicas pelo substrato à luz intestinal, impedindo assim a sua multiplicação;
Competição
Cepas probióticas possuem a capacidade de produzir bacteriocinas. Atualmente já se utilizam estas bacteriocinas naturais para a conservação de alimentos para humanos;
Produção de substâncias antimicrobianas
Desintoxicação
Através da neutralização in situ das entero-toxinas e da prevenção da síntese de aminas tóxicas;
Devido ao conceito “saúde intestinal”, os probióticos atuam no equilíbrio da flora intestinal, mantendo o sistema digestório saudável e consequentemente estimulando a produção de anticorpos específicos e não específicos. No caso dos crustáceos que não possuem a capacidade de produzir anticorpos (memória imunológica), os probióticos aumentam a eficiência da modulação do sistema imune inato através de uma microbiota intestinal em equilíbrio;
Estimulação do sistema imunológico
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Alguns microrganismos probióticos são capazes de produzir no intestino enzimas microbianas digestivas, exógenas ao animal, que associadas às enzimas que são naturalmente produzidas no intestino, otimizam a digestão promovendo o aumento da eficiência alimentar;
Produção de enzimas digestivas
A administração de probióticos melhora a qualidade no ambiente de cultivo, através da redução das concentrações de matéria orgânica, de nitrogênio e de fósforo, além de inibir o crescimento de patógenos.
Tratamento ambiental
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Para que a utilização de probiótico seja realmente efetiva em um sistema de criação existem dois fatores que são de fundamental importância. Esses fatores são: concentração e conservação. Temos que ter em mente que as bactérias probióticas têm que fazer prevalência no meio para se sobreporem as bactérias patogênicas e para tanto é preponderante que os produtos a serem utilizados tenham altas concentrações (UFC/g). Da mesma forma temos que nos conscientizarmos que probióticos são bactérias vivas, e como tal devem ser conservadas sob refrigeração, para que se mantenham vivas até sua chegada ao sistema digestivo dos animais, pois, só assim serão realmente efetivas.
© Murício Emerenciano
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Outro aspecto à considerar quando da utilização de probióticos é a procedência do mesmo, já que a origem das cepas utilizadas no produto pode garantir ou não o resultado final.
Conclusão
Sem dúvidas a utilização de probióticos resulta em melhorias significativas na saúde dos animais aquáticos e na eficiência dos sistemas produtivos, devendo ser uma prática constante nos mais diversos meios de produção aquícola, pois, maximiza os ganhos zootécnicos, ambientais e econômicos, quando utilizado e conservado de maneira adequada.
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Trinta anos do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina Leila Hayashi Débora M. Fracalossi Luis Vinatea Arana
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Florianópolis, SC
O
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura (PPGAQI) da Universidade Federal de Santa Catarina teve início em 1988 com seu curso de mestrado, o primeiro programa stricto sensu de cultivo de organismos aquáticos da América Latina. Trinta anos se passaram e, hoje, o PPGAQI oferece, além do mestrado, o curso de doutorado (criado em 2005). De lá para cá, o Programa já formou 436 mestres e 85 doutores, sendo que a grande maioria atua diretamente em importantes instituições brasileiras e estrangeiras na área de Aquicultura e Recursos Pesqueiros. Falar dos trinta anos da nossa pós-graduação equivale a falar das pessoas que fizeram possível seu nascimento, crescimento e consolidação. Nos referimos aos coor-
denadores, professores, alunos e pessoal técnico-administrativo, cujo esforço, muitas vezes hercúleo, garantiu que o Programa alcançasse, em 2010, o seu atual status de excelência (CAPES 6). O histórico, a infraestrutura e a qualidade das pessoas envolvidas colocam o Programa numa posição privilegiada para aspirar a progressão para o nível CAPES 7, com o qual a nossa pós-graduação irá se igualar aos melhores programas stricto sensu do Brasil. O PPGAQI é considerado um dos programas mais completos dentro da área de aquicultura por desenvolver pesquisas com praticamente todos os organismos aquáticos: microalgas, macroalgas, moluscos, camarões, peixes marinhos e de água doce, além de peixes ornamentais.
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ppgaqi@contato.ufsc.br
Só em 2017 foram produzidas 24 dissertações de mestrado e 14 teses de doutorado em cinco linhas de pesquisa:
Reprodução e larvicultura; Tecnologias e sistemas de produção; Manejo e conservação de ecossistemas aquáticos; Nutrição e alimentação;
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Patologia e sanidade. A grande maioria das pesquisas tem sido publicada sob a forma de artigos científicos em periódicos com elevada qualificação. O Programa contou, ainda em 2017, com nove bolsistas de pós-doutorado, parte deles dentro da cota do Programa Nacional de Pós-Doutorado e outra parte de projetos CAPES e CNPq. Desses nove bolsistas, cinco possuíam formação em Instituições distintas da UFSC: Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal de São Carlos e Universidade Federal de Santa Maria. O profissional formado no PPGAQI tem uma visão ampla do setor, que vai além dos temas abordados nas dissertações e teses. Graças às pesquisas e tecnologias geradas pelo corpo docente e discente, o Estado de Santa Catarina é destaque em todas as áreas de aquicultura, servindo de modelo nacional e internacional; prova disso são os diferentes prêmios nacionais (Destaque Pesquisador UFSC, Prêmio UFSC de Tese, Prêmio CAPES de Tese, Prêmio Fundação Bunge, Prêmio Expressão de Ecologia) e internacionais (Prêmio Von Martius de Sustentabilidade Brasil-Alemanha, Alltech Young Scientist Award) que os docentes e discentes receberam nos últimos anos. Atualmente, o Programa conta com dezenove docentes, todos permanentes, cuja qualidade científica pode ser evidenciada pelos quinze bolsistas de produtividade em pesquisa (PQ) do CNPq, sendo que três deles possuem bolsa PQ Nível 1 e, os outros doze, bolsas PQ Nível 2, que em conjunto representam 83,3% do corpo docente. Além disso, os professores do PPGAQI participam de dezenove grupos de pesquisa cadastrados e certificados no CNPq, e estão desenvolvendo 44 projetos com oito financiadores principais, entre instituições de fomento públicas e iniciativa privada.
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Comemoração aos 30 anos
De 15 a 17 de agosto de 2018, no Hotel Mercury (Itacorubi, Florianópolis), o PPGAQI comemorou seus trinta anos de existência com o evento “Revolução Azul no Brasil: Aquicultura em 30 anos”. Cabe destacar a participação no evento do ex-reitor da UFSC Álvaro Toubes Prata (MCTIC), Wilson Wasielesky Jr. (FURG), Luis H. S. Poersch (FURG), Wagner C. Valenti (UNESP), Felipe Matias (FAO), Luiz E. Pezzato (USP), Silas C. da Silva (ESALQ) e dos ex-alunos do Programa, entre eles Aliro Borques, primeiro discente formado no mestrado e atual reitor da Universidade Católica de Temuco (Chile), Walter Vásquez Torres, coordenador da Pós-graduação em Ciências Agrárias da Universidade de Los Llanos (Colômbia), Sérgio W. da Costa (EPAGRI), Juan Esquivel García (Piscicultura Panamá), Alex A. dos Santos (EPAGRI) e Rafael Luiz da Costa (ABEAQUI). No evento foi homenageada a figura mais emblemática da nossa pós-graduação, o técnico-administrativo Carlito Aloisio Klunk, secretário do Programa desde os tempos em que a pós-graduação era uma especialização lato sensu, a qual funcionou de 1986 a 1987. Lembramo-nos disso porque em 1986, ano da última passagem do cometa Halley, um dos que subscrevem este artigo fazia parte da primeira turma do curso, cujo coordenador era o Prof. João Bosco Rosas Rodrigues. A especialização serviu para lançar em 1988 o curso de mestrado, sob a coordenação do Prof. Santo Zacarias Gomez (1988-1992). Desde então, vários professores do Departamento de Aquicultura ocuparam o cargo, os quais destacamos por ordem cronológica:
1992-1996 Annia T. Bessanesi Poli 1996-1998 Jaime Fernando Ferreira 1998-2000 Vinícius R. Cerqueira 2000-2002 Jaime Fernando Ferreira 2002-2006 Débora Machado Fracalossi 2006-2010 Cláudio M. Rodrigues de Melo 2010-2012 Evoy Zaniboni Filho 2012-2017 Alex Pires de Oliveira Nuñer 2017-2019 Leila Hayashi
Conclusão
No referente aos desafios que o PPGAQI em particular, e a aquicultura em geral, terão de enfrentar nos próximos anos, os palestrantes convidados foram unânimes em apontar a necessidade de criar e desenvolver tecnologias mais sustentáveis, que priorizem a inclusão social e a preservação do meio ambiente. Esperemos que em 2062, na próxima passagem do Halley, levando em consideração o número atual de egressos, o PPGAQI tenha ultrapassado a marca das 1.500 teses e dissertações defendidas e publicadas. Esperemos também que, nesse ano, a aquicultura supere em várias vezes a atual produção, que a faça de forma sustentável e inclusiva, e que cada um dos 10 bilhões de seres humanos desse futuro próximo possa usufruir dos benefícios diretos do consumo de produtos aquáticos cultivados.
No referente aos desafios que o PPGAQI e a aquicultura em geral, terão de enfrentar nos próximos 30 anos, os palestrantes convidados foram unânimes em apontar a necessidade de criar e desenvolver tecnologias mais sustentáveis, que priorizem a inclusão social e a preservação do meio ambiente.
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Figura 1. Participantes do evento.
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Potential of insect-based diets for Atlantic salmon (Salmo salar) Ikram Belghit, Nina S.Liland, RuneWaagbø, IreneBiancarosa, Nicole Pelusio, Yanxian Li, Åshild Krogdahl, Erik-Jan Lock.
Embora atualmente os insetos não sejam produzidos em volumes suficientes para serem utilizados na produção comercial de ração para peixes, estes mostram-se como grande promessa de ingredientes sustentáveis para o futuro da aquicultura. No presente estudo, os pesquisadores avaliaram o efeito do uso de larvas de mosca soldado negro (Hermetia illucens) cultivadas em diferentes meios, como ingredientes de rações para salmão do Atlântico cultivado em água doce. Foi analisado o desempenho de crescimento, composição corporal e digestibilidade de nutrientes. Os resultados demostraram que:
É possível adicionar 600 g kg- 1 de farinha de insetos em combinação com óleo de insetos nas dietas de salmão do Atlântico, sem qualquer efeito adverso sobre o desempenho de crescimento, utilização da ração, digestibilidade aparente e composição corporal;
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A farinha de mosca soldado negro parece ser uma boa fonte de aminoácidos e tem alta biodisponibilidade para aminoácidos em salmão do Atlântico; A inclusão dietética da farinha de insetos não afetou a composição imediata corporal do salmão do Atlântico. A escolha dos ingredientes e a formulação das dietas podem influenciar no impacto ambiental da indústria aquícola. Portanto, é crucial um contínio estudo do desenvolvimento de dietas que causem cada vez menos impacto no ambiente, sem deixar de serem eficientes no aspecto zootécnico. Leia o artigo completo no portal Aquaculture, Volume 491 , 1 de abril de 2018 , páginas 72-81.
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Manejo do dia
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Cultivo super-espinhoso
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Roberto Bianchini Derner Laboratório de Cultivo de Algas Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC roberto.derner@ufsc.br
Quando as microalgas se tornam indesejadas: floração de algas nocivas D
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iferente das colunas anteriores, nas quais tratamos das aplicações biotecnológicas das algas e de aspectos do metabolismo destes organismos, nesta coluna trataremos de alguns casos em que as microalgas se tornam indesejadas. Neste sentido, sem dúvida o assunto mais discutido é o da proliferação muito intensa de determinada população de microalgas no ambiente natural, ou em um tanque de cultivo de peixes, por exemplo. Este fenômeno natural é conhecido como Floração de Algas Nocivas (FAN), ou Harmful Algal Bloom (HAB), e sua ocorrência têm estreita relação com parâmetros ambientais, quando variações nas correntes, regime de ventos, aporte de nutrientes, salinidade, iluminação e na temperatura da água, dentro outros fatores, induzem uma população de poucas células microalgais a uma proliferação massiva, ocasionando, em poucos dias, uma FAN que pode ser deslocada pelos ventos e correntes e alcançar áreas de pesca, de cultivos aquícolas, de lazer e de captação de água para consumo humano, por exemplo. As FAN podem ocorrer tanto em ambiente marinho quanto em água doce e, algumas são conhecidas
popularmente como “marés vermelhas”, quando se tratam de florações de dinoflagelados com pigmentação avermelhada, entretanto, podem ser de outras cores, relacionadas aos táxons (diatomáceas, cianobactérias, clorofíceas etc.) e aos respectivos pigmentos sintetizados pelas células algais. Cabe esclarecer que uma FAN não necessariamente se refere à florações de microalgas produtoras de toxinas (ficotoxinas). Em muitos casos, basta que ocorra uma proliferação muito intensa de qualquer espécie de microalga para que as condições ambientais possam sofrer alterações, principalmente em relação à concentração do oxigênio dissolvido, pH, cor, odor e até no gosto da água. Tanto no ambiente natural quanto nos ambientes de cultivos, uma população muito densa de microalgas pode consumir todo o oxigênio dissolvido na água (por sombreamento, pela respiração ou no processo de decomposição das células mortas), levando à morte todos os outros organismos naquele local, causando muitos prejuízos ambientais e econômicos, como grandes mortandades de peixes, moluscos e crustáceos, com registros de ocorrência no Brasil e em muitos outros países.
Figura 1. a) FAN na costa da África; b) Pseudo-nitzchia - diatomácea produtora de neurotoxina que pode causar síndrome amnésica. A.
© http://oceanadventures.co.za
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B.B.
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BIOTECNOLOGIA DE
ALGAS
Grande atenção é necessária, e tem sido verificada em alguns casos, no monitoramento da ocorrência de espécies de microalgas potencialmente produtoras de toxinas nos locais de cultivo de moluscos filtradores (ostras, mexilhões e vieiras). Estes moluscos obtém seu alimento através da filtração das partículas em suspensão na água - incluindo células microalgais, que constituem o fitoplâncton – e o problema decorre da possibilidade destas ficotoxinas (algumas muito potentes) serem concentradas na carne dos animais (bioacumulação). Geralmente, as toxinas não causam mal aos moluscos, entretanto, podem causar diversos tipos de envenenamento nos organismos – incluindo o homem - que se alimentaram dos moluscos contaminados. Menos mal que uma vez que a floração desapareça, após alguns dias os moluscos podem se depurar naturalmente, e o seu consumo pode ser retomado sem riscos. Outros possíveis problemas ocasionados pelas FAN são relacionados ao envenenamento através da pele pelo contato com estas ficotoxinas presentes na água e/ou pela possibilidade de determinadas microalgas causarem obstrução das brânquias de animais aquáticos, ou de espécies com frústulas causarem microferimentos nas brânquias destes animais, sendo os ferimentos a porta de entrada para micro-organismos como bactérias e fungos, causadores de doenças secundárias. Bem conhecido nas estações de captação de água de muitas cidades, bem como dos produtores de peixes de água doce - mas não exclusivamente, uma
vez que também pode ocorrer em peixes e camarões marinhos, o off-flavor (gosto e/ou cheiro de terra ou mofo) causado pela presença, principalmente, de algumas cianobactérias é um problema que ocasiona expressivas perdas econômicas na aquicultura, uma vez que os produtores precisam tomar medidas visando tanto à eliminação destas microalgas dos sistemas de cultivo quanto à depuração dos animais, visto que muitos mercados rejeitam o produto no caso de ser constatado o off-flavor. Em relação à saúde humana, um caso muito grave de envenenamento por ficotoxina ocorreu numa clínica em Caruaru, PE, em 1996, quando 65 pacientes morreram após o procedimento de hemodiálise no qual foi acidentalmente empregada água contaminada com microcistina, uma potente hepatoxina sintetizada por cianobactérias do gênero Microcystis. Assim, seja para o desenvolvimento das atividades aquícolas, como para o lazer ou para o abastecimento de água das cidades, é muito importante o desenvolvimento de planos de monitoramento e, se possível o controle, das populações de microalgas, particularmente daquelas potencialmente produtoras de toxinas. E para não fugir completamente das aplicações biotecnológicas das microalgas, nesta coluna as ficotoxinas foram apresentadas de maneira negativa, porém, quem sabe algumas possam ser estudadas e virem a ser empregadas na elaboração de medicamentos.
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© AP Photo/Felix Marquez
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Figura 2. a) Milhares de sardinhas mortas em praia do Chile por causa de uma FAN; b) FAN de cianobactérias em um lago.
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© www.fondriest.com
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Green
TECHNOLOGIES Maurício Gustavo Coelho Emerenciano CSIRO - Austrália Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC mauricioemerenciano@hotmail.com *As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
Aquaponia nas escolas: educação com alimentos saudáveis!
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ranscender a ciência e tecnologia das Universidades e aterrissar nas escolas é o tema da coluna Green Technologies desta edição. Os sistemas considerados mais ecológicos ou “environmental friendly” como bioflocos e aquaponia são um caminho sem volta e isso não é novidade para ninguém. Mas a pergunta é: será que podemos aplicar estas tecnologias, como por exemplo a aquaponia, como instrumento de educação e ainda produzir alimentos mais saudáveis? A resposta é sim! Não é de hoje que a Aquaponia é considerada uma revolução na forma de produzir alimentos. Esse modelo de cultivo que integra peixes, crustáceos e difeA.
B.
rentes espécies de plantas caiu no gosto de diversas pessoas em muitos países, tanto no âmbito de hobby ou como negócio! Este modelo integrado, que aproveita nutrientes oriundos dos efluentes dos peixes e crustáceos para produzir diversas espécies de hortaliças, frutas, forragens e até mesmo flores, é foco de diversos programas de pesquisa e de desenvolvimento alimentar em muitos países. No Brasil o interesse vem crescendo a cada dia graças a maior quantidade de informações disponíveis nas mídias sociais, cursos ofertados, entre outros. Mas este sistema integrado pode virar ferramenta de educação e ser aplicado de maneira imediata? C.
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Figura 1. Unidades de pesquisa em aquaponia nas Universidades UDESC campus Laguna-SC (a,b) e UNIBAVE campus Orleans (c).
A aquaponia nas escolas certamente foi um dos maiores exemplos neste sentido. Pude ver “ao vivo e a cores” e participar ativamente desta iniciativa única e que facilmente pode ser replicada. Ver as inovações técnico-científicas desenvolvidas nas Universidades aterrissarem com sucesso em escolas de ensino médio da região de Laguna-SC foi um dos maiores presentes profissionais de minha vida. Fruto de um projeto financiado pelo CNPq-VALE, as pesquisas em aquaponia iniciaram na UDESC em 2013 e o resultado, entre outros, foi a implantação de unidades demonstrativas
em escolas públicas da região. Nestas unidades os professores de disciplinas tais como biologia, física e química utilizavam aquele ambiente para suas aulas práticas, sempre atrelando o conteúdo ministrado com a conscientização ambiental. Segundo relato dos professores, as crianças demonstravam cada vez mais interesse nos diversos assuntos abordados e apresentavam maior facilidade de aprendizagem. Passados vários anos, as unidades continuam em pleno funcionamento e o melhor: expandindo! Bacana não é mesmo? Certamente muitas belas histórias ainda virão.
Figura 2. Aquaponia nas escolas públicas da região de Laguna-SC: diversão, conscientização e aprendizado.
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André Camargo Sócio Fundador da Escama Forte Botucatu, SP andre@escamaforte.com.br
Por que o Brasil exporta tão pouca tilápia? A
1. Preços
Atualmente os preços do mercado interno são extremamente atrativos, remuneram de forma interessante e fazem com que as empresas tenham pouco interesse pelo aumento das exportações, porém este cenário pode mudar com os incrementos de produção e aumento da oferta de pescado no mercado interno.
2. Perfil do empreendedor Excluindo-se as empresas com perfil mais empresarial, os demais empresários ligados a produção, são mais cautelosos quando se trata de exportação. As empresas que estão exportando são administrações diferentes das tradicionais.
Concluindo, o Brasil encontra-se muito bem em relação ao desenvolvimento de questões zootécnicas, porém encontra-se extremamente defasado em relação às questões externas à produção. O Drawback ainda é um estudo da EMBRAPA, o Serviço de Inspeção Federal dificulta as exportações por falta de conhecimento e pessoal, o empresário do setor ainda é muito pequeno e não vê com bons olhos os processos de exportação e assim seguimos, porém, a pesca mundial está entrando em colapso, o interesse por espécies que utilizam mais baixos níveis de proteína são
para cá já estão ocorrendo. De maneira básica sãos as questões relacionadas à zootecnia como manejo, nutrição, genética, entre outros que podem colaborar de forma significativa com os índices gerais de produtividade e desta forma dar ao Brasil mais competitividade. Podemos considerar que estamos apenas começando e ainda temos muito a avançar em equipamentos, sistemas de produção, melhoramento genético e etc. Fora da fazenda alguns pontos se mostram como os mais importantes quando pensamos em exportação de tilápias:
3. Drawback
Como parte do ganho de competitividade no exterior temos a implantação do DRAWBACK, que vai desonerar os insumos utilizados na produção e processamento, isentos de impostos federais quando se tratar de exportação.
4. SIF
Processos do SIF vinculados ao governo federal engessam as exportações e tiram competitividade das empresas brasileiras frente aos concorrentes internacionais, importante salientar que esta é uma colocação recorrente de várias empresas do Brasil.
uma realidade na Europa e a solidificação da tilápia no mercado americano trazem excelentes perspectivas para nossos produtos. Quando pensarmos o que fazer, devemos priorizar o mercado americano no curto prazo, a América Latina no médio prazo, pois Chile, Colômbia entre outros já compraram do Brasil e possuem a tilápia em suas realidades e a Europa como o passo fundamental a um prazo mais alongado, pois aos poucos a tilápia vai entrando e nós temos condições de atender aos padrões de qualidade impostos por eles.
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tilápia já está bem avançada neste quesito .de exportação, principalmente por ser um produto muito comum no mercado internacional. Mas o que nos falta para conquistar esse mercado internacional, então de tilápia? A primeira resposta é bem simples, necessitamos de competitividade, muita competitividade. Essa competitividade tanto dentro das fazendas como fora das fazendas. Nas condições atuais não conseguimos sequer chegar perto de chineses, vietnamitas e equatorianos por exemplo, que hoje usam soja brasileira para a produção de seus peixes. Dentro da fazenda as melhorias de alguns anos
Visão aquícola Giovanni Lemos de Mello Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil Laguna, SC giovanni@aquaculturebrasil.com
Piscicultura Marinha no Mediterrâneo
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ecentemente participei de uma missão na Europa coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), integrando uma delegação brasileira no tema de P&D em aquicultura. Um dos principais objetivos desta missão foi conhecer de perto plataformas de integração entre academia, indústria e governo, buscando adaptar um modelo para o Brasil, a exemplo da EATIP (European Aquaculture Technology Platform). Minha primeira missão internacional como especialista da área, aos 37 anos, após meus primeiros dez anos (ainda bem tímidos) como pesquisador e 15 anos de graduado em Engenharia de Aquicultura. “Marinheiro de primeira viagem”. Foi incrível adentrar no mar Mediterrâneo e conhecer a piscicultura marinha do Sul da Espanha. Como assim, professor da disciplina de Piscicultura e pesquisador na área de piscicultura marinha que nunca visitou a piscicultura marinha fora do Brasil? Caro leitor, não tenho vergonha alguma de apontar as minhas fragilidades. Pior é a pessoa que vive tendo oportunidades de conhecer a aquicultura pelo mundo e não contribui em nada pelo desenvolvimento de nossa atividade no País. O curioso, é que pude conferir na prática o que escrevi em minha primeira coluna, da edição anterior. Robalos e pargos com 300 a 400 gramas, produzidos por dois anos, protagonizando um mercado que mo-
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vimenta bilhões de Euros/ano. Entre robalos, pargos, corvinas e atuns, obviamente que este último foi o que mais chamou a nossa atenção. Fomos recebidos por um dos seis proprietários da maior empresa espanhola, que nos contou absolutamente tudo sobre o processo de criação, beneficiamento e comercialização do atum. Aliás, algumas imagens ilustram muito melhor do que uma ou duas páginas... Segundo a empresa, após o mês de maio, melhor preço para venda do atum ao Japão (90% de seu mercado), o preço deste pescado reduz consideravelmente e a solução é estocá-los em gaiolas no mar. Ali, eles ficam em média 5 meses, até o preço se recuperar. O peso inicial é de causar espanto: de 150 a 250 Kg! Isto mesmo, quilos! O tanque-rede parecia mais uma jaula com leões! Nos meses em que os atuns vão permanecer ali, eles engordam cerca de 40%, mas não é muito controlada a questão de biometrias. Outra coisa que assusta, tanques-rede com 90 m de diâmetro, como vocês podem conferir nas imagens que ilustram esta coluna. Por fim, daí assusta mesmo, a produção anual da empresa: 12 mil toneladas de atum por ano. E para aterrorizar de vez, a última informação: o fornecimento diário de peixes para os atuns: 800 toneladas/dia. Isto mesmo, não é quilo, e não há erro de digitação! São oitocentas toneladas por dia de peixes sendo ofertados aos atuns nas gaiolas da empresa no Mediterrâneo. Tente refletir um pouco a respeito... Da próxima vez que estiver mostrando aquele gráfico mais famoso da FAO, com o total produzido pela pesca e aquicultura, e falando que a pesca, apesar de ainda produzir mais, parte não vai para consumo humano e sim para outros fins (como o descrito acima!), nunca mais vou me esquecer do que vimos.
GENÉTICA Rodolfo Luis Petersen Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar Universidade Federal do Paraná - UFPR Pontal do Paraná, PR rodolfopetersen@hotmail.com
ão é fácil iniciar uma série de colunas sobre melhoramento genético. Trata-se de uma disciplina que para conseguir entendê-la precisamos ter claro alguns conceitos, entre eles, por exemplo, as leis de Mendel. Todos sabemos das dificuldades para seu entendimento. Sem querer julgar, a maioria dos técnicos ligados a aquicultura não conhecem o conceito de GENE, mesmo falando de melhoramento genético, muito menos de alelo e de segregação mendeliana. Na sequência precisamos ter boas noções de estatística e genética quantitativa. E para finalizar, mas não menos importante, precisamos conhecer a biologia e o comportamento do animal que desejamos melhorar. Numa bela oportunidade, conversando com o Dr. Maurício Alencar, meu professor e orientador de genética quantitativa, uns dos idealizadores do programa de desenvolvimento da raça bovina Canchim da Embrapa, frente a uma série de perguntas o “monstro” me responde: “Rodolfo, Ninguém faz melhoramento de um animal que não conhece”. O intuito desta nova série, e apesar de já ter lido ótimas notas em revistas do setor, é rever alguns conceitos básicos e tentar colocá-los em uma linguagem coloquial para o entendimento de alunos, técnicos e profissionais da aquicultura. A continuação, iremos aprofundando o tema para chegar com uma sequência lógica e temas mais específicos.
Para começar, existe um dito famoso: TAMANHO NÃO É DOCUMENTO. O que isso significa? já escutei milhões de vezes de aquicultores participando de uma despesca, em uma transferência ou em qualquer manejo habitual, ao observar um indivíduo avantajado em peso e comprimento, comentar a possibilidade de produzir um reprodutor com aquele exemplar, achando que o mesmo é adequado para tal, mesmo sem ter a mínima noção do histórico do animal. Primeiramente, algo que temos que ter bem claro é que o que nós observamos, o fenótipo, é a relação entre o genótipo e o ambiente que o indivíduo foi cultivado desde seu nascimento até o momento em que se está observando, e em alguns casos, já existe um efeito materno antes do mesmo ter nascido. Parece fácil entender este conceito, mas não é. O grande objetivo de um melhorista no seu programa é estimar que proporção do fenótipo é devido a ação dos genes e que proporção é devido a ação do ambiente, para selecionar ou cruzar os que realmente são superiores geneticamente. Para complicar a situação, existe uma variabilidade ambiental bastante reconhecida nos cultivos aquícolas: diferentes estuários, salinidades, temperaturas, sistemas de cultivo, etc, etc... Para finalizar, sabem qual é o sonho de Maradona? Produzir uma linhagem de crescimento rápido e resistente à doenças.
© Paul Darrow
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Melhoramento Genético: o sonho de Maradona N
NUTRIÇÃO Artur Nishioka Rombenso CSIRO – Austrália IPEMAR – Brasil artur.rombenso@csiro.au *As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
Bomba de carne fresca: um grande passo para
a sustentabilidade na produção de alimentos aquícolas
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equipamento “bomba de carne fresca” é utilizado no processo de fabricação de alimento extrusado para animais de estimação, principalmente cachorros. Seu uso possibilita a inclusão de ingredientes como a carne fresca de frango e em consequência a obtenção de uma textura e qualidade únicas. Esse tipo de produto consiste em uma ração tipo premium rica em proteína para atender nichos de mercado. Conforme mencionei em edições anteriores, a indústria de alimento de animais de estimação oferece grandes oportunidades para a indústria de alimento aquícola, e a bomba de carne fresca é uma delas. Na fabricação de alimentos aquícolas extrusados, esse equipamento permite a utilização de uma série de rejeitos e subprodutos industriais, além da incorporação de novos ingredientes que dificilmente seriam utilizados na maneira tradicional. Sua utilização abre um leque de possibilidades não só em relação aos ingredientes a serem utilizados, mas também à qualidade do produto final (pellet – grão de alimento), pelo fato de possibilitar a incorporação de ingredientes úmidos e semiúmidos. Em extrusão geralmente são utilizados apenas ingredientes secos. Assim, qualquer ingrediente com umidade tem que ser seco antes de incorporado no processo de fabricação, fato que eleva o custo do mesmo. Essa nova tecnologia quebra esse paradigma e abre portas para inovações. A bomba de carne fresca exige ingredientes em forma pastosa ou líquida para bombeá-los diretamente no pré-condicionador, compartimento do extrusor que recebe a adição de água e vapor, pré-condicionando os ingredientes para em seguida passarem pela cabeça do extrusor onde serão submetidos a alta pressão e temperatura. O Laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de Organismos Aquáticos da Universidade Autónoma da Baja Califórnia, México (liderado pela Dra. María Teresa Viana), junto com a empresa Extru-Tech Inc., utiliza sua planta piloto comercial de extrusão para desenvolver novos alimentos aquícolas. Em nosso laboratório
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utilizamos a bomba de carne fresca para fabricação de dietas experimentais para atum, incorporando ensilagem de rejeito de pesca e recentemente produzimos dietas extrusadas para juvenis de olhete (peixe marinho carnívoro) com ensilagem de pasta de grilo. Essa última dieta é um excelente exemplo de como esse equipamento pode revolucionar a incorporação de ingredientes na extrusão. O uso de farinhas de insetos na aquacultura está em alta, com vários trabalhos publicados, inclusive uns bem interessantes do meu grande amigo e colega Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano (colunista da Green Technologies). Um dos maiores desafios para o uso desse tipo de farinha em escala comercial é o volume de produção e a preparação desses ingredientes para atender às exigências de qualidade da farinha pelas empresas de fabricação. No caso do grilo, é desafiadora a moagem para atingir uma granulometria fina pelas características composicionais do organismo.
Assim, acreditamos que a melhor forma foi produzir uma silagem com rejeito de sardinha e pasta de grilo para minimizar esses efeitos. Os resultados em termos de fabricação do alimento extrusado foram um êxito, pois conseguimos incorporar até 50% dessa silagem (rejeito de sardinha + pasta de grilo) na formulação e os pellets saíram com uma ótima qualidade. Atualmente, os juvenis de olhete estão em experimentação por cinco semanas e as dietas contendo grilo estão sendo aceitas da mesma forma que a controle. Nessa coluna, quis mostrar como a indústria de alimentos evolui e apresentar uma das muitas inovações que existem no setor. É bastante provável que essa tecnologia de bomba de carne fresca esteja presente no mercado nos próximos anos. E quais ingredientes estaremos incorporando nas dietas?
Fábio Rosa Sussel
Pesquisador Científico da APTA - UPD Pirassununga, SP sussel@apta.sp.gov.br
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Interiorização do camarão marinho F azendo jus ao título da minha sessão, Atualidades e Tendências da Aquicultura, não poderia deixar de falar sobre a mais recente modalidade de expansão da carcinicultura: produção de camarão marinho em águas interiores. Ou seja, sem qualquer influência da água marinha. Mas que tipo de água, mais especificamente, isto envolve? Absolutamente todas, exceto, obviamente, as dos rios poluídos que cortam nossas cidades. São águas possíveis de se criar camarão marinho: rios de água doce, rios de água salobra (comuns no Nordeste do Brasil), poço caipira ou poço amazonas, seja com água salobra ou doce, poço artesiano, seja com água doce ou salobra, água de chuva e até mesmo “água de rua” fornecida pelas companhias de saneamento básico. A diferença é que enquanto algumas destas precisam de correção, outras, onde por sinal vislumbro o maior potencial, são naturalmente aptas a criação de camarão marinho. Com alguns detalhes bem interessantes: ambientalmente sustentável, oportunidade de fixação do homem no campo, geração de renda em áreas improdutivas e produção de proteína nobre com alto valor agregado. Pra não gerar confusão, vou logo deixar claro quais são as situações possíveis nestes diferentes tipos de água citados. Depois, havendo espaço, comento um pouco mais sobre as perspectivas otimistas deste tipo de exploração. Inicialmente é preciso deixar claro que água salgada obtida por meio da adição de NaCl (sal de cozinha) é uma coisa, e água marinha é outra. Ao mesmo tempo que o camarão marinho não é totalmente dependente da água marinha, não é certo imaginarmos uma produção comercial desta espécie em água salgada (NaCl). Se adicionarmos NaCl na água e elevarmos a dureza para mais de 80 mg/CaCO3 posso garantir que ele até sobrevive, mas não é o ideal, tratando-se de produção comercial. Também é importante registrar que não é a proposta deste artigo apresentar uma receitinha de parâmetros físico-químicos ideias para o cultivo da espécie. Primeiro porque eventuais diferenças entre os valores desejados podem implicar apenas em maior ou menor
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produtividade. E segundo que, absolutamente todos os parâmetros podem ser perfeitamente corrigidos. Neste caso, as particularidades de cada água precisam ser estudadas in loco. No caso das águas naturalmente aptas, pouca técnica se faz necessário para o êxito nas criações. Enquanto que aquelas águas onde a correção é imprescindível, muita técnica e profissionais especializados são necessários. Numa criação comercial de camarão marinho em águas interiores, o objetivo é proporcionar aos animais um adequado balanço iônico, e não alta salinidade. Neste caso, além do NaCl (Sódio + Cloreto) os camarões vão precisar ainda de mais 4 sais: potássio, cálcio, magnésio e sulfato. Mais importante que a quantidade destes sais é a relação entre eles. Neste caso, podemos ter uma água com salinidade de 1 ppt, ou seja, baixa quantidade de sais, mas boa relação entre eles, sendo ideal para uma criação comercial. Portanto, a primeira análise não pode se resumir apenas a salinidade em si. O segundo aspecto a ser analisado é a dureza e alcalinidade. Preconiza-se que estas estejam acima de 100 mg/L de CaCO3. Estas duas características apontadas acima são relativamente comuns de encontrar nas águas do interior do Nordeste do Brasil, seja em rios ou poços. Não sendo necessário qualquer tipo de correção. A título de melhor ilustração de como estas águas são facilmente encontradas no semiárido brasileiro, dezenas de produtores de arroz do Vale do Jaguaribe – CE (cerca de 100 km do litoral), por exemplo, simplesmente estão abandonando a rizicultura e aproveitando os tabuleiros para produzir camarão marinho, sem qualquer correção na água. No caso da região Sudeste por exemplo, estes tipos de águas naturalmente aptas já não são tão comuns. Existem, mas estão em localidades específicas. Tratando-se de poços artesianos, a variação química da água é grande. Verificando superficialmente algumas análises de água disponíveis no site da CETESB, por exemplo, observa-se que em uma mesma cidade há água de poços com dureza de 20 e outros com 350 mg/L de CaCO3, sendo esta última bastante desejável para
ser pensados de modo a serem eficientes no que tange a reutilização (tratamento e recalque) da água. Além de ser uma forma de se produzir alimentos sustentáveis ambientalmente, é mais eficiente do ponto de visa financeiro. Por fim, importantíssimo deixar registrado a possível transformação que esta interiorização do camarão marinho pode representar. No caso das regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde temos as maiores densidades populacionais, a grande oportunidade de ter a produção junto ao mercado consumidor. Enquanto que especialmente no caso do Nordeste, onde a água salobra muitas vezes é um problema, eis a grande oportunidade de explorar tal recurso que, até então, nenhuma utilidade tinha. Simples? Não, absolutamente não. Tudo que é fácil e simples já tem alguém fazendo. Porém, perfeitamente possível e viável tecnicamente.
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a criação de camarões marinhos. Mas a melhor notícia é que atualmente já dispomos de tecnologias para fornecer na água o completo balanço de sais que estes crustáceos precisam. E, lógico, num custo acessível. Já temos empresas que disponibilizam sal para constituição de “água marinha” artificial específica para a produção comercial de camarão marinho. Neste caso, pouco importa a composição química original da água. Conforme já comentado, tal situação envolve certo conhecimento técnico para o êxito da criação. Ou seja, já temos soluções tecnológicas para contornar o problema, mas não é simples. Umas das propostas, por exemplo, é criação no sistema de bioflocos (BFT). Eficiente, mas exige acompanhamento diário. Uma observação importante que vale tanto para as situações onde tem águas aptas ou águas que necessitam de correção, é que nunca deve haver o descarte de água para o ambiente. Os sistemas produtivos, sejam viveiros escavados ou tanques elevados, devem
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Ranicultura Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná - UFPR Palotina, PR andremunizafonso@gmail.com
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Como evitar o canibalismo na engorda de rãs? O
canibalismo é uma prática inerente à várias espécies de animais, podendo ou não possuir estreita relação com a prolificidade, uma vez que espécies muito prolíferas além de não apresentarem cuidado parental, podem se alimentar da própria prole. Este comportamento já foi descrito para diversos tipos de animais aquáticos, principalmente peixes, sendo a rã-touro uma espécie comumente a ele associado. No âmbito da criação comercial, existe um grande e justificado temor quanto ao canibalismo na fase de engorda. Quando a predação é bem sucedida ocorre uma diminuição populacional, por outro lado, quando a rã alvo da predação escapa, sequelas, na forma de feridas, podem constituir perigosa porta de entrada para patógenos oportunistas. Isto posto, como evitar o canibalismo ao longo do processo de engorda de rãs? Iniciando-se pela recria, cabe salientar que, é prática comum os criadores introduzirem animais todos os dias nas baias iniciais até que suas lotações máximas sejam atingidas. Isso faz com que aqueles que aprendem a comer primeiro, também se desenvolvam primeiro e mesmo que não sejam muito maiores que os mais “novos” naquele ambiente, por uma questão de domínio e competição, tendam a predá-los. A correção para tal problema seria a introdução do lote na baia no mesmo dia ou, ao menos, a sincronização do início da oferta alimentar, ainda que os animais não apresentem tamanhos tão uniformes. Outro fator que também leva ao canibalismo é a Figura 1. Baia semisseca de engorda de rãs, onde uma única bandeja (laranja) constitui o cocho.
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oferta de alimento, muitas vezes reduzida por questões estruturais da baia. Projeta-se um cocho que não torna o alimento disponível a todos os animais ao mesmo tempo ou, na ausência de cocho, não se distribui o alimento equitativamente, gerando, mais uma vez, domínio e competição. Neste caso, a solução é bastante simples, basta tornar o alimento disponível a todos ao mesmo tempo, modificando-se a estrutura da baia ou aumentando a proporção dos cochos, quando estes são móveis (Figura 1). Outro aspecto de relevância está ligado ao aumento da temperatura, que, por resultar em aumento do metabolismo dos animais, faz com que a procura por alimento seja maior, agravando o comportamento de competição. Como medida básica, o ideal é que no dia seguinte a baia apresente um pouco de sobra do dia anterior. A triagem, um manejo realizado para separação dos animais em lotes mais homogêneos, é uma prática muito adotada que pode diminuir o canibalismo presente na baia, ainda que sua eficácia seja discutida por especialistas. A verdade é que deve-se evitar ao máximo que existam grandes discrepâncias em relação ao tamanho dos animais num mesmo lote, no entanto, em algumas situações, as diferenças entre as rãs podem ser tão grandes (Figura 2), que fica evidente a necessidade desse manejo. Observação é tudo! Existe um ditado em ranicultura que se aplica muito ao canibalismo – “O ranicultor pode ser surdo e mudo, mas não pode ser cego...” Saudações ranícolas! Figura 2. Imago (apresentando feridas típicas de canibalismo na cabeça) ao lado de fêmea adulta .
Marcelo Shei Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos Santos, SP shei@altamar.com.br
Bead Filters na Aquicultura? proveitando a estação do ano, vamos abordar o .uso de aquecedores em sistemas de aquicultura. Dentre as opções disponíveis para o aquecimento da água, tenho priorizado a utilização das bombas de calor. A grande vantagem desses equipamentos é que a grande quantidade de energia de baixa temperatura disponível no ambiente é transferida para um meio de menor superfície com alta temperatura. O aumento da concentração de partículas sólidas e de compostos nitrogenados são os principais fatores que levam a trocas de água em sistemas de aquicultura. Para sistemas de menor capacidade, o uso dos Bead Filters (BF) são uma ótima opção para filtração mecânica e biológica combinada e diminuição da necessidade de trocas de água. Esse filtro é construído em uma câmara que utiliza mídias flutuantes, capazes de realizar a retenção de sólidos de forma similar aos filtros de areia (FA). Nele, as partículas sólidas são capturadas a medida que a água atravessa a coluna filtrante de forma ascendente. Simultaneamente, a superfície contida nessas mídias serve como substrato para crescimento de biofilme e filtração biológica. Como filtro de sólidos, apesar de possuirem o mesmo princípio de funcionamento dos FA, não geram os mesmos problemas existentes nesses. A diferença está principalmente na eficiência da retrolavagem. Nos FA, quando os grãos são envolvidos pelo biofilme, eles acabam se aderindo fortemente uns aos outros. Essa adesão é forte o suficiente para que a pressão de bombeamento não seja capaz de suspender toda a coluna de areia durante a retrolavagem, deixando-a compactada e com pouca capacidade de filtração. Nos BF, mesmo com a formação do biofilme, a coluna filtrante é facilmente agitada. Alguns modelos drenam a água concentrada de sólidos, um processo que utiliza muito menos água, pois a necessidade de enxágue se torna muito menor. Como filtros biológicos, BF são classificados como reatores de filme fixos, pois o envolvimento de toda mídia filtrante pelo biofilme permite extrair nutrientes da água durante a passagem através do filtro. Dessa forma, a capacidade de remoção de nitrogenados por um BF está relacionada diretamente a superfície total disponibi-
Figura 1. a) Bead Filter Altamar 21m3/h; b) Bubble Bead Filter AST - EUA.
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lizada pelas mídias filtrantes. Equipamentos maiores são capazes de remover até 1.000g amônia/ dia. Essas características tornam os BF uma ótima opção para sistemas experimentais, manutenção de reprodutores, incubação de ovos, larvicultura, aquaponia, aquários públicos e lagos ornamentais. A Altamar possui uma linha própria de Bead Filters capaz de atender vazões entre 4 e 50 m3/h.
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Eduardo Gomes Sanches Instituto de Pesca / APTA Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br
A precisão em novas técnicas de pesquisa
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ossa aquicultura vai adquirindo complexidade e se modificando, assim como tudo nesta vida, com o passar do tempo. Nos dias atuais, com a forte influência da globalização do conhecimento, os consumidores estão cada vez mais exigentes e a cadeia produtiva necessita acompanhar estas mudanças. Não é diferente para o setor acadêmico, onde as perguntas ficaram mais complexas e as respostas cada vez mais difíceis. Já está longe o tempo em que somente pesar e medir os organismos aquáticos possibilitava encontrar as respostas que buscávamos. No artigo que assino neste número, apresento e discuto os cultivos multitróficos, exponho a dificuldade em fazer pesquisas no ambiente marinho, dada a expressividade das interações e sua complexidade. Por exemplo, como afirmar que os resíduos da ração que fornecemos aos peixes são absorvidas pelos moluscos bivalves ou que os nutrientes são absorvidos pelas macroalgas? No Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca trabalhamos com diversas espécies de peixes marinhos ameaçados de extinção, tais como a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) e o mero (Epinephelus itajara). Nosso objetivo é que, um dia, estas espécies sejam produzidas em cativeiro, não sendo mais necessária sua captura na natureza. Temos muitos desafios pela frente, mas pensando no futuro, como identificar quais peixes são provenientes do cativeiro e quais são resultantes da pesca extrativa? Na tentativa de encontrar respostas para perguntas complexas em ambientes distintos de pequenos laboratórios, onde todas as variáveis podem ser controladas, me deparei com a possibilidade dos isótopos estáveis. Lembram das aulas de química? Para lhes explicar um pouco (e confesso que ainda estou estudando isto...) sugiro a leitura de um interessante artigo intitulado “Aplicação dos isótopos estáveis em aqüicultura” do finado Prof. Carlos Ducatti, uma das maiores autoridades nesta questão no Brasil. Isótopos são átomos
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do mesmo elemento químico com diferentes massas, pois apresentam igual número de prótons, mas diferem no número de nêutrons. Cada elemento químico apresenta um isótopo estável dominante, como por exemplo carbono-12 (12C) e nitrogênio-14 (14N). O mesmo elemento químico, entretanto, também pode ocorrer na natureza em versões mais pesadas, como exemplo, o carbono-13 (13C) e nitrogênio-15 (15N). Esses elementos apresentam propriedades químicas iguais, mas diferem nas propriedades físicas. O princípio da utilização de isótopos em pesquisas científicas reside na utilização da forma isotópica de um elemento químico para rastrear a origem e a história do metabólito de interesse. Isso é possível pois a composição dos tecidos reflete a dieta ingerida pelo indivíduo. Diferentes tecidos apresentam diferentes tempos de assimilação de nutrientes, portanto, apresentam uma assinatura isotópica única. Complicado? Concordo, mas vai ficar ainda mais interessante. Segundo o professor Ducatti, existe grande potencial de aplicabilidade de isótopos estáveis na aquicultura, principalmente como ferramenta do sistema de rastreabilidade. Seus trabalhos comprovaram que é possível diferenciar peixes provenientes do cultivo dos provenientes da pesca extrativa utilizando a técnica de isótopos estáveis de carbono (13C) e nitrogênio (15N). Concordam como isto é fantástico para nosso setor de aquicultura? No meio de tanto pescado misturado, poder comprovar a origem? Essa precisão é ainda mais relevante quando se trata de peixes ameaçados de extinção que podem vir a ser produzidos em cativeiro. No campo da nutrição, a técnica de isótopos estáveis pode contribuir muito para se ampliar a compreensão sobre o aproveitamento dos ingredientes em ambientes complexos como os tanques de cultivo. Segundo o professor Ducatti, as pesquisas que abordam aspectos sobre a alimentação e nutrição de larvas de peixes, além das informações científicas so-
bre a assimilação dos nutrientes das dietas ao longo do desenvolvimento larval, deveriam utilizar mais frequentemente os isótopos estáveis, seguindo as premissas metodológicas necessárias, visando uma exata compreensão dos mecanismos envolvidos. Não se trata mais de pesquisar causa e efeito e sim entender os mecanismos envolvidos nas causas. Finalizo esta coluna prestando uma justa homenagem a este colega pesquisador que trouxe para nossa atividade a perspectiva de utilização de técnicas complexas. Ainda temos muito a avançar nestas linhas de pesquisa, mas seguramente o caminho não tem volta. Precisamos elevar o conhecimento das variáveis com-
plexas na aquicultura e a técnica de isótopos estáveis é mais uma das ferramentas que devemos utilizar para atingir nossos objetivos. Precisamos aprender a pensar fora do convencional. Em um mercado tão competitivo, a precisão é um diferencial. Além disto, o avanço dos policultivos e dos cultivos multitróficos irão exigir abordagens mais aprofundadas. Portanto, hora de lembrar da multidisciplinaridade da aquicultura, buscar parcerias e contribuir no desenvolvimento desta cadeia produtiva que tantos desafios nos proporciona no dia a dia. Até a próxima coluna.
Figura 1. a) Garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus; b) Mero Epinephelus itajara; c) Pesquisa se faz com bons parceiros. B.
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Santiago Benites de Pádua Biovet Vaxxinova Vargem Grande Paulista, SP santiago.padua@biovet.com.br
Mixosporidíase gonadal em matrizes de tilápia
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s doenças reprodutivas são pouco conhecidas .na produtivo de importância para os reprodutores, uma vez aquicultura mundial. Diferentes agentes infecciosos que não temos diagnosticado na rotina machos que apree parasitários possuem a capacidade de ocasionar sentem Myxobolus associado ao interstício testicular. O monitoramento e diagnóstico desta doença devem diminuição ou perda da atividade reprodutiva, impactando a produção de ovos e larvas, além de aumentar os custos ser conduzidos de forma constante no plantel de matride produção das formas jovens para as demais etapas zes, principalmente quando notado redução da atividade do ciclo de criação. Duas principais doenças possuem a reprodutiva. Para tanto, a melhor opção para rastrear as capacidade de comprometer a reprodução em tilápias, fêmeas que estão reproduzindo é pela separação manual sendo a mixosporidíase gonadal e a franciselose gonadal. daquelas que apresentarem ovos incubados na boca no A mixosporidíase é uma doença parasitária causada intervalo de 6 coletas de ovos (6 semanas, consideranpor diferentes gêneros de parasitos microscópicos per- do uma coleta por semana). Considerando que ciclo retencentes à classe Myxosporea. Em tilápia do Nilo, temos produtivo da tilápia é em torno de 21 a 30 dias (depena ocorrência de parasitos mixosporídeos pertencentes ao dendo do clima), no intervalo de 6 semanas as matrizes gênero Myxobolus que infectam principalmente o inters- que estiverem em boas condições reprodutivas deverão tício gonadal de fêmeas de tilápia, sendo descrito a es- apresentar ao menos uma desova. O plantel de fêmeas pécie Myxobolus dahomeyensis como agente gonadal no remanescentes neste período, que não apresentarem continente africano, mas ainda carecemos de descrições desovas, deverão ser submetidas à necropsia e avaliação específicas do gênero que ocorre em tilápias no Brasil. da integridade ovariana. Geralmente as fêmeas com inEstes parasitos são agentes microscópicos, que possuem fecção avançada por Myxobolus apresentam ovários eneum ciclo de vida complexo o qual a tilápia é o hospe- grecidos, com sinais evidentes de inflamação (Figura 1). deiro intermediário, havendo a necessidade de oligo- Para confirmação do diagnóstico se faz necessário uma quetas como hospedeiros definitivos, embora o ciclo de avaliação microscópica a fresco do tecido ovariano, ou vida e estratégia de transmissão da mixosporidíase gona- então uma avaliação histopatológica. Uma vez confirmada dal ainda necessite de maiores estudos para elucidação. a infecção por Myxobolus, a melhor alternativa é realizar o As matrizes infectadas por Myxobolus sp. em seus descarte das fêmeas inférteis do plantel, uma vez que não ovários desenvolvem um quadro inflamatório crônico, na temos opções de tratamento efetivos. qual a intensidade e distribuição da inflaFigura 1. Avaliação macroscópica de ovários de tilápia do Nilo. Os ovários destacados mação é dependente da quantidade de no canto superior à esquerda são gônadas com aspecto normal, enquanto as demais parasitos observados no interstício ovaria- apresentam melanose (escurecimento) e inflamação decorrente da infecção por Myxobolus no. Em casos severos de infecção, nota- sp. No canto superior direito está indicado (setas) a presença de Myxobolus no interstício mos que a fêmea pode alcançar a perda ovariano em corte histológico. da função reprodutiva, sendo caracterizado um quadro de castração parasitária. O percentual de matrizes com comprometimento da atividade reprodutiva em um plantel pode ser variável, além de ser de difícil detecção nas fazendas berçário, podendo ocorrer em pequena parcela da população ou em até 45% do plantel. Por outro lado, a mixosporidíase gonadal parece não se tratar de um problema re-
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Ricardo Vieira Rodrigues Estação Marinha de Aquacultura - EMA Universidade Federal do Rio Grande - FURG Rio Grande, RS vr.ricardo@gmail.com
ser alimentado com uma ração de baixo custo e ainda utilizar alimentos naturais dentro dos viveiros. Outra característica importante é que tolera água doce, podendo assim ser cultivada em uma ampla faixa de salinidade. Atualmente o Brasil tem muitos viveiros ociosos devido às diferentes enfermidades que vem afetando a carcinicultura marinha, sendo essa uma boa possibilidade para produção de peixes marinho-estuarinos, como é o caso da tainha. Estudos sobre o potencial de produção da tainha no Brasil foram realizados principalmente na década de 80 e descontinuados por muitos anos, principalmente as pesquisas com reprodução e larvicultura. A partir dos anos 2000 foram reiniciados estudos com a espécie, principalmente na FURG, mas sempre a partir da obtenção de juvenis capturados no ambiente natural. Foram realizados estudos especialmente sobre a nutrição da tainha e avaliação do seu crescimento em cercados dentro de viveiros de engorda de camarão. No ano de 2014 a UFSC voltou a formar um plantel de reprodutores a partir de peixes selvagens e vem realizando estudos de reprodução e larvicultura dessa espécie desde então. Atualmente o Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC (LAPMAR) possui em seu plantel 4 fêmeas e 5 machos selvagens e 70 peixes F1 selecionados para reprodutores nascidos em 2015 e 2016. Até o momento foram obtidas desovas com fe-
larvas com 40 dias após a eclosão. A partir dessas desovas, a UFSC distribuiu juvenis para várias fazendas de engorda em diferentes estados brasileiros, a fim de avaliar o potencial de crescimento dessa espécie em viveiros. Também foram enviados juvenis para instituições de pesquisas parceiras para alavancar os estudos com a espécie. Em 2016 foi aprovado um projeto do CNPq (Edital Universal) em parceria UFSC/FURG para continuidade desses estudos. Além deste projeto, as metas atuais são enviar juvenis para várias fazendas de engorda para continuar avaliando o crescimento da espécie em viveiros de produção. Na parte científica a UFSC está pesquisando o cultivo da tainha em bioflocos e pretende avaliar métodos para formação de lotes monosexo fêmea, pois as gônadas das tainhas tem um grande valor comercial, podendo assim agregar valor ao produto final e viabilizar a produção em escala dessa espécie. Futuros estudos para sua produção em sistema multitrófico integrado também serão realizados, assim como a continuidade dos estudos com nutrição dessa espécie. Gostaria de agradecer ao professor Vinicius Cerqueira (LAPMAR) e sua equipe pelas informações sobre a reprodução e larvicultura da tainha e pelas imagens em anexo nessa coluna. Talvez teremos tainhas sendo engordadas em viveiros no Brasil, em um futuro próximo?
Figura 1. A) Exemplar de um reprodutor de Tainha; B) Larva de tainha com 18 dias após eclosão. © Caio Magnotti
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Avanços na produção da tainha tainha é uma espécie que na minha opinião tem cundação natural e artificial, a partir de peixes induzidos seu potencial neglicenciado. É um peixe detri- com a produção entre 90.000 e 120.000 peixes por A tívoro (baixo nível trófico), o que significa que pode desova e sobrevivência variando entre 15 e 35% das
Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA Mossoró - RN alaugo@gmail.com
Peixes fermentados, anchovados ou aliche?
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ma dúvida persiste quando estamos falando sobre o processo de fermentação de peixes. O termo correto é peixe fermentado, anchovado ou aliche? Os peixes da espécie Engraulis encrasicolus, cujos nomes comuns são “anchois” na França, “anchoa” na Espanha, “semiconserva de anchovas” ou “biqueirão” em Portugal, “anchovis” na Alemanha, “alici” (pronunciase “alitche”) ou “ancioia” na Itália, e denominado “European anchovy”, ou seja, anchova europeia pela FAO, são os mais utilizados para a fabricação de peixes fermentados. Em alguns países de língua latina os termos peixe anchovado e anchovagem são muitas vezes utilizados como sinônimos de peixe fermentado e fermentação, respectivamente, porém, qualquer termo utilizado está correto. O termo “peixe fermentado”é mais técnico, usualmente utilizado por pesquisadores e na indústria, enquanto que o termo “anchovado” é mais comum para o consumidor, usualmente utilizado comercialmente, e o termo “aliche” mais utilizado na gastronomia. Na Itália o líquido obtido da preparação do “alici” é denominado “colatura di alici” e usado como condimento. Na França as anchovas fermentadas são comercializadas em latas como filés inteiros ou em pedaços ou em bisnagas de alumínio, em forma de pasta e são denominadas de “Paté d’anchois”, “Beurre d’anchois” ou “Crème d’anchois” dependendo da porcentagem de anchovas e outros ingredientes. Os anchovados autênticos somente podem ser elaborados com peixes da família Engraulidae (Engraulis encrasicolus, E. ringens, E. anchoita, E. mordax, E. japonica). Produtos elaborados com outras espécies geralmente são denominados com o nome comum da espécie + o termo anchovada(o) ou produto “tipo anchova”. Em Portugal também se “anchovam” peixes como a cavala (Scomber japonicus), peixe agulha (Belone belone), sardinha (Sardinella aurita), que tomam a denominação de cavala anchovada, peixe agulha anchovado, sardinha anchovada, respectivamente.
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No Brasil é utilizada a sardinha (Sardinella brasiliensis) que possui características de composição que permitem o desenvolvimento do aroma, sabor, cor e textura próprios dos anchovados. A produção ocorre em escala industrial pequena, e o tempo de produção é longo, devido à fermentação e a cura necessárias para o produto atingir as características sensoriais desejáveis. Estes produtos são comercializados com a denominação de “Sardinha anchovada” ou “Filés de sardinha anchovadas” ou “Filé de peixe anchovado”. No Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA/UFERSA), o mestrando Roosevelt de Araújo Sales Junior (LAPESC, UFERSA) está estudando a viabilidade de se produzir o “aliche” a partir da carne do peixe-voador (Hirundichthys affinis). Nos testes preliminares, os resultados já estão demonstrando resultados promissores.
Mas o que são os produtos fermentados de peixes? Existem centenas de produtos fermentados de pescado, processados a partir de diversas espécies e com diferentes tecnologias, de acordo com a região de origem. Estes produtos variam em suas características sensoriais (aparência, textura, sabor, odor), condições higiênicas do processamento, matérias primas utilizadas, custo de produção e finalidade de uso, sendo que o produto obtido, de sabor peculiar é o principal objetivo da fermentação e, a preservação, fica em segundo plano. A adição de carboidratos tais como sacarose, açúcar mascavo, arroz tostado ou cozido, ou diversos condimentos, permite obter produtos tradicionais fermentados de pescado com diferentes sabores e aromas. Dessa forma, os produtos fermentados de pescado são preparados efetuando-se a salga da matéria prima e fermentando-se o produto salgado. Entende-se por fermentação a transformação de substâncias orgânicas em compostos mais simples seja pela ação de enzimas ou de microrganismos localizados no próprio tecido da
Princípios da conservação
A elaboração de produtos fermentados de pescado consiste basicamente em um processo de conservação baseado em duas etapas: 1) salga, realizada com concentrações variáveis de sal, e, 2) maturação, quando o produto passa por uma hidrólise proteica controlada provocada por enzimas endógenas e/ou produzidas por microrganismos halotolerantes. Ocorre uma diminuição da umidade, as proteínas são transformadas em compostos mais estáveis, os lipídios são parcialmente oxidados e compostos aromáticos são formados, sendo obtidos produtos com sabor diferenciado. O produto quando maturado deve ser macio, mas consistente, e a coluna vertebral removível facilmente da carne. Os peixes fermentados produzidos no Brasil podem ser considerados semiconservas, ou seja, produtos que se caracterizam por apresentarem teores de sal superiores a 6% de NaCl (p/p) na fase aquosa ou pH inferior a 5,0; presença eventual de agentes conservantes (sorbato, benzoato, nitrato); e por não serem submetidos a tratamento térmico durante o processamento ou durante o preparo que precede o consumo.
No Brasil, não existe legislação para produtos fermentados de pescado, que regulamente seu processamento tecnológico e características de identidade e qualidade. No novo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Origem Animal – RIISPOA 2017, foi introduzido o Artigo 342 que define “pescado em semiconserva” - é aquele obtido pelo tratamento específico do pescado por meio do sal, com adição ou não de ingredientes, envasado em recipientes hermeticamente fechados, não esterilizados pelo calor, conservado ou não sob refrigeração. Embora a tecnologia envolvida no processamento seja simples, uma série de fatores pode influenciar o processo, tais como: a microflora presente no pescado, sal e outros ingredientes; qualidade e concentração de sal; a atividade proteolítica das enzimas características da espécie de pescado; condições da matéria prima, incluindo frescor, condição nutricional; temperatura durante a fermentação; pH atingido na fermentação; presença de enzimas das vísceras ou de outras fontes; presença e concentração de carboidratos e outros aditivos; duração do processo de fermentação.
Características do produto final
Sob o ponto de vista nutricional, os produtos fermentados de pescado apresentam-se como excelentes fontes de proteínas e aminoácidos essenciais. Em geral, produto tradicional de peixe fermentado contém entre 44 a 47% de umidade, 20 a 22% de proteínas, 7 a 15% de lipídios e 15 a 17% de sal. O teor de umidade varia muito pouco entre os produtos fermentados de pescado na forma de pasta (< 3%), independentemente da espécie utilizada e do processamento inicial da carne (lavada ou sem lavar). Com relação aos outros macro componentes, proteínas, lipídios e cinzas, também ocorrem pequenas variações. Portanto, apesar da tecnologia ser simples e viável tecnologicamente, o produto fermentado, anchovado ou o aliche ainda tem pouca inserção no mercado nacional, exceto no eixo Rio-São Paulo, onde o produto é muito consumido como ingrediente de petiscos, canapés e pizzas. Essa delicatessen merece mais destaque no mercado para que o consumidor possa introduzi-lo no seu dia a dia.
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matéria prima. A salga reduz a umidade e consequentemente, a atividade de água, auxiliando na seleção da flora bacteriana desejada, geralmente eliminando microrganismos deterioradores mais comuns no pescado, prevenindo a deterioração. Durante o processo de fermentação do pescado, enzimas endógenas hidrolisam as proteínas musculares, somado aos microrganismos de vários tipos (bactérias, leveduras e fungos) promovem alteração de textura, aparência, aroma e sabor do produto. Existem diferentes formas de se agrupar os produtos fermentados de pescado de acordo com características comuns. Uma das mais utilizadas se baseia na aparência/textura do produto, e assim divide os produtos de pescado fermentado em três categorias: 1) produtos onde a forma natural do pescado é preservada; 2) produtos onde o pescado é macerado até se obter uma pasta; e 3) produtos onde o pescado é completamente hidrolisado até a forma líquida, geralmente recebendo o nome de molho de pescado.
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Defendeu! Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas informações para nossa aquicultura. Nome do acadêmico: Luan Freitas Rocha Orientador: Prof. Dr. Breno Gustavo Bezerra Costa Instituição: Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, curso de Engenharia de Pesca Título do trabalho de conclusão de curso: Desenvolvimento zootécnico de juvenis de Tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1816) cultivados em sistema de recirculação de água.
Introdução: a aquicultura no Brasil é essencialmen-
te representada pela piscicultura, com destaque para o tambaqui (Colossoma macropomum), em virtude às suas características zootécnicas positivas, rusticidade e resistência as altas densidades. Para determinar a densidade adequada em um cultivo, deve-se levar em consideração o sistema de criação a se utilizar. Sistemas de recirculação de água são relevantes, pois permitem utilizar altas densidades de estocagem.
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Objetivo: o estudo objetivou avaliar o crescimento do tambaqui para diferentes densidades de estocagem em sistema de recirculação de água. Materiais e métodos: foram utilizados 1.800 juvenis de tambaqui com peso médio inicial de 0,77 ± 0,01g, distribuídos nas densidades de 100, 200 e 300 peixes/m³ em três repetições. Os peixes foram alimentados em quatro refeições diárias com ração comercial com 55 e 36% de proteína bruta, durante 68 dias. A temperatura da água foi medida diariamente e o oxigênio dissolvido, pH, condutividade, turbidez e sólidos dissolvidos a cada sete dias. À partir da sexta semana de cultivo, amostras de água foram coletadas semanalmente dos tanques de cultivo, filtro e piscina de oxigenação para análise de amônia e nitrito. Ao final do experimento, foram analisados os seguintes parâmetros zootécnicos: ganho de peso; incremento de biomassa; consumo médio individual de ração; taxa de crescimento específico; sobrevivência e conversão alimentar. Para testar a diferença significativa entre as densidades, aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis para os dados não normais e ANOVA para os normais. Foi feita regressão linear para os parâmetros zootécnicos objetivando o valor determinístico (r²) em função da densidade. 72
Resultados e Discussão: os resultados mostraram que os parâmetros de qualidade da água: condutividade, sólidos dissolvidos, amônia e nitrito apresentaram faixas acima do ideal para o tambaqui. Já a temperatura, turbidez e pH estavam dentro do ideal para a espécie. O oxigênio dissolvido decresceu durante o cultivo, apresentando valores abaixo do ideal, principalmente na densidade de 300 peixes/ m³. O ganho de peso dos organismos foi de 13,43; 9,80; e 7,29 g e incremento de biomassa de 1,34; 1,90 e 2,10 kg/m³ respectivamente para as densidades estudadas. As taxas de sobrevivência foram superiores a 96%, com valores mais elevados para a menor densidade (100%). Parâmetros como conversão alimentar e biomassa média de ração ofertada não diferiram significativamente entre as densidades Figura 1. Sistema de recirculação utilizado.
(p>0,05). Valores de ganho de peso e crescimento específico foram significativamente maiores (p<0,05) para a menor densidade, e apresentaram elevado fator determinístico (r²>0,90) em função da densidade. Já os dados de incremento de biomassa foram significativamente maiores (p<0,05) nas densidades de 200 e 300 peixes/m³, as quais não diferiram entre si, e apresentaram elevado valor determinístico (r²>0,90) entre as densidades. Portanto, o presente estudo demonstrou que o sistema de filtragem utilizado foi incapaz de manter a qualidade da água, afetando o desenvolvimento dos organismos. De modo geral a melhor densidade de estocagem foi a de 200 peixes/m³, em virtude da maior produtividade (kg/m³), menor conversão alimentar e satisfatório índice de sobrevivência (97,5%).
Tabela 1. Valores (média ± erro-padrão) dos parâmetros físico-químicos da água, avaliados nas diferentes densidades.
Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre si (Kruskal-Wallis; α=0,05).
Tabela 2. Valores (média ± erro-padrão) dos compostos nitrogenados nos diferentes componentes do sistema.
Tabela 3. Valores (média ± erro-padrão) dos indicadores de desempenho zootécnico, avaliados nas diferentes densidades de estocagem.
Conclusão: futuramente com
Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Figura 2. Regressão linear entre ganho de peso e densidade de estocagem.
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a adequação do sistema de filtragem, e comprovada melhora do desempenho dos animais, aliado com os bons resultados de conversão alimentar e sobrevivência obtidos nesse trabalho, esse sistema pode ser uma alternativa para recria de tambaqui até que atinjam peso adequado para serem estocados em outros sistemas de cultivo, como tanque-redes e/ou viveiros.
Filtro mecânico/ biológico
Tanque para aeração da água
Sistema de cultivo O trabalho foi defendido em: 20/09/2017
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João Manoel C. Alves Zootecnista (1982), mestre em aquicultura e há 16 anos (2002 até o momento) trabalha na Guabi Nutrição e Saúde Animal, atualmente como Gerente de Produtos para aquicultura.
Sua afinidade com o mundo aqua começou ainda quando criança, pois tinha como hobby mexer com aquários. Atualmente João é um dos grandes nomes da aquicultura, já esteve em mais de 30 países, sendo que 95% de suas viagens foram a negócios ou eventos do setor aquícola. Com a mente aberta, João comenta nesta entrevista sobre ingredientes alternativos nas rações, capacidade de suporte em reservatórios e qualidade das rações, entre outros assuntos.
com o pesque-pague as pessoas poderiam pescar ali as mesmas espécies do Pantanal, e para quem desejasse voltar com mais do que 30 kg de peixes, passaria ali para comprar. Cheguei a ir para Brasília apresentar o projeto ao presidente do banco que ia conceder João Manoel: A nutrição era o que eu gostava, mas não o financiamento. Mas acabou não saindo do papel. conhecia zootecnia, era um curso ainda muito raro. AsDepois acabei atuando com zootecnia de modo geral, sim, ingressei em agronomia. Já cursando, descobri que formulando rações para ruminantes, aves, registrando tinha um cara no Brasil que havia ido fazer um curso no produtos, entre outras funções. Ao final da década de Japão pela FAO e lecionava em Jaboticabal, um dos únicos 80 começaram a surgir os pesque-pagues e senti que lugares que oferecia a disciplina de piscicultura. A pessoa era hora de me preparar e me dedicar para esse merem questão era o Prof. Newton Castagnolli. De imediato cado que estava começando. Assim, comecei o meslarguei a agronomia e fui fazer zootecnia em Jaboticabal. trado no ano de 95/96, ou seja, alguns anos depois de Quando estava para me formar, formado. O que eu acho que pensei “Vou trabalhar com peixe foi uma boa, porque o pessoal aonde?”. Como gostava de nutrisai da graduação hoje e vai dição, fiquei trabalhando com dois reto para a pós-graduação, isso professores, o Pedro e o Cacau é uma exigência que a maioria Quando me formei de Andrade. Com eles aprendi das empresas tem e acredito fui para o Mato Grosso do a formular rações, entender exique seja em virtude de a formagência nutricional, ingredientes Sul montar uma fazenda de ção hoje ser mais deficiente do etc. Quando me formei fui para quando eu me formei, por produção de peixes. Talvez que o Mato Grosso do Sul montar exemplo. Após o mestrado couma fazenda de peixe. Talvez mecei a pegar trabalhos somente fosse um dos primeiros fosse um dos primeiros pesquede aquicultura e a Fri-Ribe, que -pagues no Brasil, porque foi no pesque-pagues no Brasil, pois hoje é Trouw Nutrition, estainício de 1983. A nossa ideia era va procurando uma pessoa pra foi no início de 1983. montar uma estação de reprocontratar e eu acabei ocupando a dução, produção de alevinos e vaga, em 1999. Em 2002 fui para engorda. Tinha uma represa de a Guabi onde estou até hoje. 38 alqueires que íamos fazer uns chalés para as pessoas pescaAQUACULTURE BRASIL: Quais os rem. Já havia as cotas de pesca, do MS só era permiprincipais avanços em nutrição do setor aquícola que você acompanhou? tido trazer 30kg de peixe e mais um exemplar. Mas
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AQUACULTURE BRASIL: Você é zootecnista de formação há 28 anos, ou seja, formou-se em um tempo que a aquicultura era uma atividade ainda pouquíssimo conhecida no Brasil. Como foi essa sua aproximação com a aquicultura?
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João Manoel junto aos organizadores do I Workshop Online sobre Bioflocos.
João Manoel: Muita coisa! Por exemplo, na graduação quando trabalhava no setor de piscicultura, nós misturávamos em um tambor grande abóbora, milho, madioca, etc, colocávamos água, depois algumas lenhas em baixo para fazer o fogo e deixávamos cozinhando. No outro dia usávamos aquela mistura para alimentar os peixes. Chegamos a usar muita ração de frango pra dar aos peixes e também já peletizei muita ração com máquina de moer carne. Ou seja, mudou demais, desde os ingredientes que hoje nós conhecemos muito melhor e a indústria farmacêutica que também acompanhou essa evolução. Temos vitaminas que podem passar dentro de extrusoras com temperatura e pressão muito altas, e que se recupera 99% da vitamina. Além disso, sabemos também muita coisa sobre a exigência nutricional. A Guabi por exemplo, formula ração com proteína ideal, balanceando cada aminoácido. É uma precisão muito grande comparada há 30 anos atrás. Mas ainda é uma imprecisão muito grande comparada à indústria de suínos e aves. Atualmente se sabe por exemplo a exigência nutricional diária de uma das principais linhagens de frango. Mesmo de tilápia que é o nosso peixe mais produzido não estamos no mesmo nível destas indústrias. E acho muito difícil que consigamos chegar nessa precisão, porque para peixe são muitas incógnitas com muitas variáveis, desde espécie, temperatura etc., e não consigo visualizar as respostas. Por isso acredito tanto nas fazendas com tudo controlado, as variáveis diminuem e a precisão aumenta. AQUACULTURE BRASIL: Quais as suas considerações sobre ingredientes alternativos nas rações, como o uso de farinha de insetos? João Manoel: Acho muito legal, acredito que não podemos descartar nenhuma fonte possível e todas elas são passíveis de serem utilizadas. Sobre a farinha de inseto, ela ainda é muito cara e não tem uma pro-
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dução muito grande. Nós da Guabi temos a intenção de produzir um pouco de farinha de insetos para usar nas rações iniciais, porque elas têm gorduras muito boas e interessante perfil de aminoácidos. Porém do ponto de vista “custo” ainda é inviável. Pensando na Guabi, que vai produzir perto de 90 mil toneladas de ração de aquicultura esse ano, se a empresa for usar 1% desse ingrediente, vou precisar de 900 toneladas de farinha de inseto e sabemos que não vamos ter isso, é uma quantidade muito grande. Estamos pensando em usar em alguns produtos mais específicos, como rações iniciais ou uma ração para um peixe carnívoro ou alguma outra ainda mais específica que exija mais esse perfil nutricional. Tudo é passível de ser usado e pode ser aproveitado, só é preciso pensar em volume de produção e muitos estudos antes de começar a usar em grande escala. AQUACULTURE BRASIL: Existem novidades nas rações para espécies nativas no Brasil? João Manoel: Nós temos prontas rações específicas para peixes redondos, mas estão engavetadas. São rações formuladas com proteína ideal (perfil de aminoácidos na mesma proporção dos aminoácidos no corpo do peixe) que minimizam a excreção, são mais fáceis de serem metabolizadas, melhoram qualidade de filé e não deixam excesso de gordura na carcaça e vísceras. Com isso há mais crescimento, melhor qualidade de água e é possível colocar mais peixes no mesmo ambiente. No entanto estes peixes são produzidos em sistemas bastante extensivos e com pouca avaliação de custos. Temos também uma ração para carnívoros de água doce que dá resultados excelentes (também com proteína ideal), especialmente em crescimento e redução de gordura na carcaça, que já está sendo comercializada. Mas os produtores do Brasil e em boa parte do mundo não fazem muitas
AQUACULTURE BRASIL: O que mudou na Guabi com a compra de 51% da empresa pela Alltech? João Manoel: Na essência nada, mas melhorou o que já era bom. As duas empresas têm o mesmo DNA, fundadas por dois empresários (Dr. Thor Haaland fundou a Guabi em 1974 e Dr. Pearse Lyons fundou a Alltech em 1980) que se mantiveram à frente delas enquanto viveram, eram amigos e pensavam parecido. A Guabi é cliente das tecnologias Alltech há muito tempo, sendo uma das maiores clientes na América do Sul. Com a chegada da Alltech fizemos investimentos nas fábricas e, como a Alltech está em mais de 120 países, nos ajudará nas exportações. As duas seguem separadas, mas as decisões são tomadas pelo Conselho, constituído por pessoas das duas empresas. Não foi preciso fazer mudanças na essência da Guabi, as duas empresas sempre trabalharam buscando inovações, produtos de qualidade, proximidade com os clientes e com os mercados, apoio ao desenvolvimento através de parcerias com Centros de Pesquisa e seus pesquisadores. AQUACULTURE BRASIL: A discussão da capacidade de suporte nos reservatórios passa pela questão da qualidade da ração utilizada pelos produtores. Qual sua visão com relação a esta problemática? João Manoel: Está aí um problema que precisa ser encaminhado rapidamente. Conhecemos pouco sobre a capacidade de suporte dos nossos reservatórios, que têm um potencial enorme para desenvolver a aquicultura. Cada um é um organismo diferente, isso mesmo, um organismo vivo. E a legislação trata todos igualmente. Quando falamos em aquicultura a primeira coisa que vem à cabeça da maioria das pessoas é o aporte de nutrientes pela ração. Mas nos esquecemos dos fertilizantes, das excreções de animais em pastejo, das enxurradas que carreiam de tudo e principalmente dos esgotos urbanos e industriais. Essa pergunta pode ser assunto para uma edição inteira da Aquaculture Brasil. Excreções de animais quando no solo são fertilizantes, mas na água são considerados poluentes terríveis. Do
solo vão para o lençol freático ou vão em enxurradas para rios, lagos, represas, reservatórios, etc. Na verdade, a presença do homem provoca impactos sempre e precisamos minimizar o máximo possível e as rações podem contribuir com isso, mas caímos nos custos outra vez. Uma ração que produza excreções com menos fósforo e nitrogênio, os principais impactantes nas águas de cultivo, custa mais que uma ração mais rica nestes nutrientes, o que pode parecer estranho. Com mais proteína (principalmente) pode ser mais barato. Proteína de baixa digestibilidade não é usada como fonte de aminoácidos e é excretada como N e P, além de outras substâncias. Colocar nutrientes mais digestíveis é a solução, além disso, grandes avanços têm sido feitos com a adição de enzimas às rações para peixes e camarões. Acredito que rapidamente os próprios produtores vão se preocupar com isso, rações mais digestíveis podem ser mais caras, mas muito provavelmente o custo de produção por quilo de peixe ou camarão seja mais baixo, a quantidade de peixes e camarões produzida por metro quadrado seja maior, o tempo de cultivo menor, e por aí vão as vantagens que precisam ser mostradas. A tentação de comprar coisas mais baratas é quase irresistível. AQUACULTURE BRASIL: Em tempos eleitorais, vale a pergunta, o que um presidente tem que apresentar de propostas para ganhar o voto do João Manoel? João Manoel: Vale a pergunta e vale a resposta. O país atravessa uma fase horrível e só vamos acabar com ela conversando, baixando tom. Estamos como um casal que se separa, vive brigando e se esquece que o importante são os filhos. O Brasil precisa de paz, paz só se tem com justiça, justiça só se tem com igualdade. Meu voto iria para o candidato que oferecesse caminhos para apaziguar o país (chega de nós contra eles), que diminuísse as diferenças entre os grupos de pessoas, que fizesse um estado menor, que cuidasse primeiro da saúde, da segurança, da educação, e do futuro. Nosso país tem um potencial como poucos no mundo, mas é incerto. Votaria em alguém que fizesse projetos viáveis e não promessas vazias, falam, falam, acusam, mas não falam como, com que recursos vão fazer o que prometem. Meu presidente ideal teria que ser um cara manso, firme, mas manso. Bom ouvidor, coração mais humano, capaz de se colocar no lugar dos injustiçados. Digo que votaria “nele” por que “ele” não é candidato, não apareceu ainda. Mas, irei votar em alguém. Como a maioria dos brasileiros, vou votar no que tiver mais chance de ganhar dos que mais tenho medo. A esse momento as pesquisas só me trazem mais dúvidas. Mas democracia é assim, difícil e o aprendizado demorado.
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contas e acabam atraídos por produtos mais baratos. Estamos lançando um programa que demos o nome de Projeto Aqua do Futuro. Com ele esperamos ajudar os clientes a ficarem mais exigentes, que queiram, possam e saibam tirar o maior proveito dos investimentos e trabalho duro que é tocar uma fazenda aquática. A aplicação destas ferramentas permite escolher o melhor programa nutricional, a melhor alocação de recursos, prever despesas, receitas, etc. É uma grande oportunidade de buscar o máximo desempenho.
Novas leitur
s
LANÇAMENTOS RECENTES DO SETOR AQUÍCOLA, CONFIRA! The State of World Fisheries and Aquaculture (SOFIA) 2018 Autor: Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO Editora: FAO Idioma: Inglês/Espanhol – 379 páginas Lançamento: jullho de 2018 O relatório sobre o estado da Pesca e Aquicultura a nível mundial, é um documento que visa fornecer informações objetivas, confiáveis e atualizadas para um público amplo, incluindo formuladores de políticas públicas, gestores, cientistas e, de modo geral, todos os interessados no setor pesqueiro e aquícola. Na seção sobre aquicultura você encontra os dados da produção mundial total e dividida por grupos, as espécies mais produzidas, os principais países produtores, tópicos comentados sobre os últimos dados entre outras informações. O documento encontra-se disponível em inglês ou também em espanhol.
Basic and Applied Zooplankton Biology Editores: Santhanam Perumal, Begum Ajima, Perumal Pachiyappan Editora: Springer Idioma: Inglês – 452 páginas Lançamento: agosto de 2018 O zooplâncton é peça fundamental na cadeia trófica do ambiente aquático, sendo produtores secundários que formam ligações alimentares pelágicas e agem como indicadores de massas de água. Eles constituem a maior e mais confiável fonte de proteína para a maioria dos peixes do oceano. Como tal, a sua ausência ou esgotamento afeta frequentemente a pesca. Em muitos países, o declínio na pesca tem sido atribuído à redução das populações de plâncton. Assim, este livro é uma ferramenta para pesquisadores, aquicultores e demais interessados em entender a biologia e dinâmica do zooplâncton.
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Dimensão socioeconômica da tilapicultura no Brasil Autores: Renata Melon Barroso, Andrea E. Pizarro Munoz, Elda Fontinele Tahim, Ruy Albuquerque Tenório, Luiz Danilo Muehlmann, Fabiano Müller Silva, Luiz Eduardo Guimarães de Sá Barreto, Gelson Hein, Fernando Jesus Carmo, Roberto Manolio Valladão Flores Editora: Embrapa Idioma: Português – 110 páginas Lançamento: 2018 O livro é resultado do estudo socioeconômico da tilapicultura no Brasil e reúne informações sobre as características da produção, bem como sobre aquelas pessoas envolvidas na atividade. Amparado em visitas de campo realizadas nos principais polos de produção do país, ele nos traz informações atualizadas e mostra-nos uma visão panorâmica do setor, incluindo as oportunidades e dificuldades encontradas pelos produtores desta que já é a principal espécie de peixe produzida no país.
DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL! redacao@aquaculturebrasil.com 78
Wagner Cotroni Valenti Nascido em São Paulo (SP), por influência do pai, Wagner Valenti foi criado junto à natureza, pássaros, plantas e, especialmente, peixes. Sempre tiveram aquário em casa e isto acabou servindo como um grande estímulo para o que vinha pela frente em sua vida. Após terminar a graduação em Biologia pela USP, no final dos anos 70, a ideia era montar uma loja de aquário marinho, já que não existia nenhuma em SP. Wagner iria empreender! Entretanto, o mestrado “o chamou”. Foi trabalhar com biologia populacional de camarões de água doce. Tornou-se mestre e doutor pelo Instituto de Biociências da USP. Após o mestrado, Wagner foi aprovado em um concurso para professor na UNESP e, desde então, sempre lutou pela Instituição. Aliás, se você pensar no Prof. Wagner, automaticamente se lembra da UNESP. “Sempre pensei: eu tenho que honrar o salário que eu recebo, que é dinheiro público e pago por todos os brasileiros... e me considerava um privilegiado por ter tido a chance de estar em uma universidade, podendo fazer aquilo que eu mais gostava, dar aula e fazer pesquisa”.
Quando estava finalizando o mestrado, houve um bloom de criação de Macrobrachium no Brasil: “Todo mundo queria produzir, mas ninguém sabia como. Comecei a fazer uma grande revisão bibliográfica sobre a espécie e a prestar algumas consultorias”.
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Certo dia, quando estava na editora Nobel, comentou que tinha elaborado uma apostila sobre camarões de água doce, e ouviu de uma pessoa na editora: “-É tudo o que estamos procurando!” Trabalhou oito meses aprimorando sua apostila e, a partir dela, publicou seu primeiro livro: sobre cultivo de camarões de água doce. “Esse trabalho me deu muito prestígio, percorreu o Brasil todo, vendendo mais de 20 mil exemplares. Das minhas mais de 100 publicações, sem dúvidas, essa foi a obra mais lida!”. Os debates sobre carcinicultura de água doce aumentaram no País, momento em que se criou o GTCAD – Grupo de Trabalho em Camarões de Água Doce. Através dos esforços do grupo, em 1998 lançou-se um novo livro, possivelmente o primeiro trabalho multi-autoral brasileiro, publicado para uma única espécie aquícola no Brasil. “Esse livro abriu portas para publicar meu primeiro livro em Oxford”. Convite mais que especial feito por Michael New, maior autoridade em Macrobrachium do planeta. Além do livro, M. New tornou-se um parceiro e amigo pessoal de Wagner. Sobre o livro, simplesmente, passou a ser o livro texto mundial sobre criação de camarões de água doce.
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ário... “Quando criança, eu Tudo começou com um aqudisse que quem estudava os adorava peixe! Alguém me eu decidi que eu iria fazer peixes eram os Biólogos. Aí biologia”.
Criação do Comitê de Aquicultura do CNPQ: “Foi uma das coisas mais importantes que fiz em minha carreira. A aquicultura era apenas um apêndice da zootecnia. Aproveitei que estava na diretoria do CAUNESP e levei a ideia para o José Tundisi, parceiro de antigos projetos, e presidente do CNPQ na época. O Tundisi além de abrir as portas, vislumbrando o potencial científico da aquicultura, comprou a ideia e o comitê acabou sendo lançado”.
©Mariane Rossi
Networking: “Naquela época ninguém falava sobre a importância de uma rede de contatos. Eu marcava os autores das referências bibliográficas que eu mais usava e quando comecei a frequentar congressos internacionais, eu queria conhecê-los, me apresentar. Contudo, como meu inglês era muito ruim, na maioria das vezes eles não me davam a menor atenção... Eu começava a conversar e logo elas falavam ‘Excuse-me’ e saiam”. Wagner sentiu a necessidade de aprimorar seu inglês, e após os 30 anos, o que não foi tarefa fácil. Bastante atuante na aquicultura internacional, participando de diversos congressos científicos pelo mundo e construindo inúmeras parceiras em pesquisa e produção científica, em 1999 recebeu o convite do presidente da WAS para ser editor associado do “Journal of the World Aquaculture Society”, ocupando este cargo por 15 anos. Além disso, na WAS, foi vice-presidente, diretor, entre outras funções, ampliando sua experiência e trabalhos internacionais.
brasileiro a receber o Wagner se tornou o primeiro Aquaculture Society (WAS). título de “Fellow ” da World
pós-doc. Mas agora, já até recebeu alguns convites para ser docente em universidades no exterior. “Eu adoro o CAUNESP, instituição que ajudei a criar e não pretendo me desligar de lá... e quem sabe agora, com inovação e empreendedorismo no meu dia-a-dia, eu tenha minha própria empresa, embora eu seja muito ruim nisso... rsss. Mas planejamento eu sei fazer!”.
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Surge a Aquaculture Reports: “Em determinado momento, a Elsevier resolveu criar uma revista para ser uma coirmã da Aquaculture. Entre as várias novidades deste periódico, a ideia foi que os editores fossem escolhidos não por áreas, mas sim por região. Tornei-me o Editor Chefe para as Américas. O que me deu uma motivação adicional, é que pude definir todo o escopo da revista”. Novo desafio: Agência UNESP de inovação! “Foi um desafio que surgiu no início de 2018. O Reitor me ligou e perguntou se eu toparia assumir a presidência da agência. Prontamente aceitei o desafio! Fui estudar um pouco de inovação, porque era o setor que eu menos conhecia da Universidade, e a agência precisava arrumar a casa”. Depois de uma longa trajetória na aquicultura, Wagner não dispensa fazer um pós-doutorado no exterior num futuro próximo. Como sempre esteve envolvido com cargos administrativos, nunca lhe sobrava tempo para pensar num
Prof. Wagner duran Montpellier (França).te o Aquaculture Europe 2018, em
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Camarão de água doce!
É em Ribeirão, no estado de Pernambuco que o empresário Daniel Cavalcanti tem sua criação de camarão de água doce da espécie Macrobrachium rosenbergii. Esse camarão também conhecido como Gigante da Malásia, ou Lagostim de água doce, é comercializado a partir de 50 g, mas pode atingir até 500 g.
Fazenda: Triângulo do camarão
Proprietário: Daniel Cavalcanti
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Data do povoamento: 28/09/2017 Quantidade de larvas estocadas: 12.000 Densidade: 10/m³ Peso inicial: 2 mg Biomassa inicial: 2,4 kg Data da despesca: 28/05/2018 Dias de cultivo: 180 Peso final : 57,8g cada Biomassa final: 450,84 Kg Produtividade: 3.754,83 kg/ha Sobrevivência: 75% Total de ração: 720 kg Conversão alimentar: 1,6:1
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a
Dniel, proprietário da fazend
RAISING LIFE
Uma série dedicada de soluções inovadoras para a aquicultura:
Fração parietal premium rica em ingredientes ativos
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Fonte alternativa de proteína com propriedades funcionais
Concentrado de leveduras vivas
NADA É MAIS PRECIOSO QUE A VIDA, E ESTA É A FILOSOFIA QUE CONDUZ A PHILEO. Como a população global continua a crescer, o mundo enfrenta uma crescente demanda por alimentos e maiores desafios de sustentabilidade. Trabalhando na inter-relação entre nutrição e saúde, nos comprometemos em fornecer futuras soluções embasadas em evidências científicas que melhorem a saúde e o desempenho animal. Individualmente e em todos os países, o progresso de nosso time é liderado pelos mais avançados resultados científicos, assim como pela contribuição de experientes produtores.
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