Aquaculture Brasil - 2ª Edição.

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EDIÇÃO

ISSN 2525-3379

aquaculturebrasil.com

SETEMBRO/ OUTUBRO 2016

Aquaponia no Brasil: o que o futuro nos aguarda?


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2016


Lançamento da AQUACULTURE BRASIL!

02 de agosto de 2016: Uma data bastante especial para o time “AQUACULTURE BRASIL”.

No maior evento técnico-científico da aquicultura nacional, o VII Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática, realizado em Belo Horizonte (MG), lançamos a primeira edição de nossa revista impressa. Cerca de 1.000 inscritos participaram do AQUACIÊNCIA 2016. Muitos, gentilmente, foram até o nosso stand conferir a estreia da revista AQUACULTURE BRASIL.

Obrigado a todos pelo carinho, incentivo e parceria.

w w w . a q u a c u l t u r e b r a s i l . c o m3

AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016


Editorial

02 de agosto. Lançamento da revista AQUACULTURE BRASIL,

no AQUACIÊNCIA 2016. As redes sociais nos mostram, cada vez com maior intensidade, que o assunto de hoje provavelmente vai estar ultrapassado amanhã. Às vezes, tempo suficiente apenas para você ler este editorial. De um dia para o outro, descobre-se que o nitrato (ele mesmo, e não o nitrito) causa mortalidade de camarões em sistemas intensivos de produção. A cada novo segundo, uma nova informação surge. Voltamos ao AQUACIÊNCIA. Apesar de ter passado algum tempo deste congresso, não tem jeito. Temos que falar do lançamento de nossa revista, mesmo que rapidamente. Temos que voltar dois meses atrás. Regressar até Belo Horizonte (MG) para novamente agradecer a todos que nos prestigiaram, que fizeram do stand da AQUACULTURE BRASIL um dos mais animados do evento. Para nós foi um momento bastante especial. De fato, “estreamos”. Mas vida que segue. Bola para frente! Escrevo este editorial enquanto ocorre no Brasil as Paralimpíadas do Rio 2016. Buscando mais uma vez uma palavra ideal para um evento mágico como este, pensei em “Superação”. Difícil produzir camarões marinhos em BFT? Nada, difícil é nadar igual ao Daniel Dias e colecionar 24 medalhas paralímpicas. Superação que nossos colegas do Ceará terão que buscar para enfrentar os desafios que têm pela frente. Praticamente todos os reservatórios do Estado, atualmente, apresentam volume de água armazenado entre 0 e 9%. Neles, a tilapicultura chegou a patamares de 25 mil toneladas/ ano. Hoje, difícil estimar o que sobrou. E o vírus da mancha branca? Finalmente acometeu o Ceará... Lamentavelmente mostrou que estava ali, “vivo” e que não há fronteiras para sua manifestação. Doze anos após surgir em SC, esperou o momento mais oportuno para desencadear uma enfermidade que já fez estragos por vários estados brasileiros e por dezenas de países por onde passou. Por isto, fica combinado que este editorial vai homenagear o nosso querido Estado do Ceará. Entretanto, decidimos por não estampar a “capa” desta edição retratando e eternizando na história de nossa revista estas problemáticas atuais, afinal, elas vão passar. Fica a nossa contribuição com informações técnicas que, esperamos, possam auxiliar o setor produtivo na busca pelas soluções para o enfrentamento da doença ou da falta de água. E já fica o nosso compromisso assumido com este Estado. Em breve teremos uma reportagem super especial de capa trazendo a recuperação plena da aquicultura cearense. Acredita? Nós temos certeza! Falando em tempo e em mudanças, já temos novidades em nossa segunda edição. Afinal, para que esperar mais tempo? André Camargo estreia sua coluna sobre “Empreendedorismo Aquícola”. Além disto, estreamos duas novas seções: “Espécies Aquícolas” e “Pescado no varejo”. Também tivemos que crescer. Pelo menos no número de páginas! Tanta informação de qualidade que chega diariamente até a nossa redação, enviada com tanto carinho por profissionais de Norte a Sul, tanto a divulgar acerca das muitas aquiculturas brasileiras, que você está recebendo sua nova revista da AQUACULTURE BRASIL com 100 páginas! Esperamos que você curta o nosso conteúdo. Ele foi feito a inúmeras mãos. Ótima leitura!! 4

Giovanni Lemos de Mello Editor

AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016


Fala Gringo! Grande do Norte. Dormi mal em R ioCuritiba e cheguei às 16h de um

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!

domingo de setembro em São Miguel do Gosto. Coincidentemente terminei jogando um Beach Tennis de frente para o mar com uma das pessoas que mais me ajudou quando, com 25 anos, cheguei a Florianópolis (SC) sem ter onde cair morto com uma prancha e uma raquete de tênis abaixo do braço. Para mim um reencontro duplo, com meu primeiro patrão, o professor de tênis Ricardo Seadi (fazia 10 anos que não o via) e com a carcinicultura marinha brasileira. Me senti no Beco dos Coroas, na Barra da Lagoa e o ventinho do Rio Grande do Norte batendo novamente nos meus genes. E o WSSV batendo no Ceará... E jantando uma meca grelhada na pousada, a pergunta que não paro de me fazer é: “E a genética em aquicultura, para onde vai? ” Será que as empresas de carcinicultura marinha que investiram em tolerância passarão a trabalhar com crescimento e as que investiram em crescimento passarão a trabalhar com tolerância? E a GIFT? Qual será o próximo passo? Os pósgraduandos da Universidade Estadual de Maringá, melhoristas de organismos aquáticos, trabalharão nas grandes empresas do setor? Uma nova linhagem surgirá? E os tambaquis domesticados pela iniciativa privada? A Embrapa entrará forte no melhoramento genético da aquicultura? A palavra é INOVAR, colocando a genética com as dificuldades inatas dos programas de forma aberta e clara. Muito progresso nos últimos 15-20 anos. Mas... do meu ponto de vista se finalizou uma etapa: a inserção da genética na indústria aquícola mundial. Agora a palavra-chave e o desafio é INOVAR: inovar procedimentos, organização e estrutura dos programas, relação entre os diferentes setores das empresas, relacionamento com o comprador de pós-larvas e alevinos. A biologia molecular está avançando a passos gigantes, reduzindo custos ano a ano. Novas plataformas de sequenciamento, novas técnicas de genotipagem de microssatélites e SNPS, estudos de expressão gênica. Esta palavra-chave nos remete a adentrar em uma nova fase. GENÉTICA E INOVAÇÃO! Inovação, como a AQUACULTURE BRASIL! Rodolfo Petersen Co-Editor

EDITOR:

Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com COLABORAÇÃO:

Jéssica Brol jessica@aquaculturebrasil.com GERENTE COMERCIAL:

Diego Molinari diego@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO DE ARTE:

Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alberto Gomes Araújo, Alex Augusto Gonçalves, Bruno Corrêa da Silva, Carminda Brito Salmito-Vanderley, Clara Melo Coe, Daniele Ferreira Marques, Eduardo Gomes Sanches, Fernando Luís Batista dos Santos, Gabriel Fernandes Alves Jesus, Gabriela Tomas Jerônimo, Gabriella do Vale Pereira, José de Souza Junior, José Luiz Pedreira Mouriño, Karen Roberta Tancredo, Liliane Veras Leite, Márcia Darlene Santana, Márcio A. Bezerra, Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Maurício Laterça Martins, Oscar Pacheco Passos Neto, Paulo César Falanghe Carneiro, Rogério Taygra Vasconcelos Fernandes, Sara Mello Pinho, Scheila Anelise Pereira, Severino Antonio Geraldo Neto, Vanessa Villanova Kuhnen e Wladimir Ronald Lobo Farias. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.

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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti,329, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000.

A AQUACULTURE BRASIL não se 5 AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016 responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros.


SUMÁRIO

AQUACULTURE BRASIL

8 FOTO DO LEITOR 10 MÉTRICAS DA FANPAGE 12 Aspectos nutricionais da artemia ( artemia sp. ): novos horizontes 20 Quantos peixes tem no mar? 26 A síndrome do vírus da mancha branca no cultivo de camarões no ceará: Relatos e perspectivas.

»»p.12

34 Aquaponia no brasil: o que o futuro nos aguarda? 44 PROBIÓTICOS NA PISCICULTURA 48 cultivo de pepino do mar no brasil: uma alternativa para um cenário de incertezas »»p.20

»»p.26

52 vacina contra parasitos de peixes: uma realidade muito distante? 56 APLICAÇÃO DE SPRAYS DE OZÔNIO COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A QUALIDADE E SEGURANÇA MICROBIOLÓGICA DO PESCADO. 64 ARTIGOS PARA CURTIR e compartilhar 65 CHARGES 66 GREEN TECHNOLOGIES

»»p.34

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AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016


»»p.82

67 Empreendedorismo Aquícola

»»p.84

68 Nutrição 70 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 72 AQUICULTURA LATINO-AMERICANA 74 Recirculating Aquaculture Systems 75 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS

»»p.44

76 AQUICULTURA DE PRECISÃO 77 PISCICULTURA MARINHA 78 SANIDADE 79 RANICULTURA 80 TECNOLOGIA DO PESCADO »»p.48

»»p.52

82 DEFENDEU 84 ENTREVISTA - carlos magno/embrapa 89 novos LIVROS 90 eles fazem a diferença 92 eSPécIES 94 DICAS Da TERÇA

»»p.56

98 Pescado no Varejo - apresentando o pescado para o consumidor final AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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FOTO DO LEITOR

Manejo de Pirarucu (Cantรก, Roraima)

Visitando nossas vieiras (Angra dos Reis, RJ) Autor: Fazenda Marinha da Ilha

Autor: Willyam Stern Porto

Biometria de tilรกpia local (Palotina, Paranรก) Autor: William Franco Carneiro

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Hora do almoço (Sobradinho, BA) Autor: Vitor Alves

Por do Sol em Dixon Bay (British Columbia, Canadá) Autor: Bruno Buzato

Ovos de linguado via indução hormonal (Rio Grande, RS) Autor: Marcelo Okamoto

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.

redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Métricas Lançamento do Curso de AQUAPONIA!

Contando os dias para o “nascimento” da primeira edição! Falta pouco!

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Em breve, nas suas mãos.

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03 de Agosto

23.409 Pessoas alcançadas 16 comentários 75 compartilhamentos 843 curtidas 7 amei 4 uau

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13.550 Pessoas alcançadas 9 comentários 33 compartilhamentos 743 curtidas 28 amei 2 uau

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www.facebook.com/ aquaculturebrasil

13.997 Pessoas alcançadas 37 comentários 56 compartilhamentos 784 curtidas 8 amei 2 uau

30 de Julho

curta-nos no facebook:

24 de Julho

13.592 Pessoas alcançadas 18 comentários 83 compartilhamentos 586 curtidas 8 amei 6 uau

22 de Julho

21 de Julho

Sim, os moluscos em cultivo podem ficar horas fora da água e isto faz bem aos animais!!


da Fanpage

22 de agosto

14.418 Pessoas alcançadas 7 comentários 64 compartilhamentos 415 curtidas 11 amei 12 uau

14.581 Pessoas alcançadas 25 comentários 127compartilhamentos 563 curtidas 4 amei 5 uau

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Cultivo de camarões marinhos em sistema de bioflocos – artigo da primeira edição da revista Aquaculture Brasil

23 de agosto

09 de agosto

17.496 Pessoas alcançadas 25 comentários 12 compartilhamentos 634 curtidas 20 amei 2 uau

A importância das microalgas na aquicultura – Coluna Dr. Roberto Derner, portal Aquaculture Brasil 15.505 Pessoas alcançadas 13 comentários 144 compartilhamentos 487 curtidas 10 amei 2 uau

28 de agosto

Tecnologia de Alta Pressão Aplicada ao Pescado – Coluna Dr. Alex Augusto, portal Aquaculture Brasil

13.144 Pessoas alcançadas 12 comentários 102 compartilhamentos 412 curtidas 5 amei 2 uau

Automação na Tilapicultura: necessidade para se ter competitividade – Coluna Dr. Fábio Sussel, portal Aquaculture Brasil

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Nasceu!! Lançamento da primeira edição da revista no Aquaciência, em Belo Horizonte – MG.

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Rogério Taygra Vasconcelos Fernandes1 & Alex Augusto Gonçalves2

Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCAN), Departamento de Ciências Animais (DCAN), Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Doutorando (PPGCA/UFERSA) – rogerio.taygra@ufersa.edu.br Professor Tecnologia, Inspeção e Controle de Qualidade do Pescado (PPGCA/UFERSA), Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC/DCAN/UFERSA) – alaugo@gmail.com 1 2

O

crescimento exponencial da população mundial nas últimas décadas desencadeou uma busca frenética por fontes de alimentos alternativos capazes de suprir a nova demanda. Nesse contexto, a proteína de origem animal pode suprir com maior facilidade os requerimentos proteicos de animais e seres humanos do que a proteína de origem vegetal. No entanto, o consumo de farinhas de carne, peixe, sangue ou vísceras enfrenta barreiras sanitárias para a sua utilização na alimentação animal, enquanto o consumo de produtos cárneos por seres humanos pode estar associado a diversos fa-

tores, como poder aquisitivo da população, restrições ideológicas ou religiosas, riscos cardiovasculares, carga microbiana, dentre outros. A artemia, um crustáceo que habita ambientes salinos, em seus diferentes estágios - cistos, náuplios recém-eclodidos e biomassa da artemia adulta - livre de contaminação por microrganismos patógenos e amplamente distribuídos em todo mundo, pode ser uma alternativa como fonte de alimento proteico tanto para organismos aquáticos, como para os humanos.

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PROPRIEDADES NUTRICIONAIS Os estágios da artemia comumente destinados à alimentação são os náuplios recém-eclodidos, fase de desenvolvimento ou adulta. Pesquisadores fazem uso destas fontes para a realização de análises químico-energéticas, onde os resultados (Tabela 1) podem integrar tabelas de composição de alimentos, auxiliando a formulação de rações e dietas alternativas. O perfil de aminoácidos existente no farelo da artemia vem sendo determina-

A artemia é uma excelente fonte de alimento vivo na larvicultura de crustáceos e peixes. Ambos náuplios e adultos têm a grande vantagem de satisfazer as exigências nutricionais de diversas espécies aquáticas (Sorgeloos, 1980; Léger et al., 1986; Sorgeloos et al., 1998, 2001). Comparado com náuplios recém-eclodidos, o valor nutricional da artemia adulta é superior, uma vez que têm maior teor de proteína e são mais ricas em aminoácidos essenciais (Bengtson et al., 1991; Naessens et al., 1997; Lim et al., 2001; Anh et al., 2009). Além disso, a biomassa de artemia parece conter substâncias hormonais e tem sido incluída em dietas de maturação que fornecem benefícios adicionais, tais como indução e reforço da maturação sexual, e aumento das taxas de fertilização em peixes e camarões (Naessens et al., 1997; Wouter et al., 2002; Gandy et al., 2007; Anh et al., 2009). No entanto, o valor nutricional da biomassa de artemia não é constante, mas varia geográfica e temporalmente (Léger et al., 1986; Sorgeloos et al., 1998). No entanto, atualmente, um gargalo na criação de peixes é a deficiência natural em ácidos graxos essenciais (EFA) de presas vivas, como rotíferos e 14

do em diversas regiões do mundo (Aragão et al., 2004) como tentativa de subsidiar formulações de dietas à base deste alimento ou a produção de suplementos aminoacídicos. García et al. (2011) comparou a composição centesimal (Tabela 2) de náuplios recém-eclodidos e suas diferentes preparações dos cistos após 85 minutos de hidratação durante o tempo de descapsulação (cistos frescos) ou reidratação antes de serem oferecidos às larvas (água salgada e cistos secos).

USO NA A Q U I C U LT U R A náuplios de artemia, comumente utilizados na larvicultura de peixes e crustáceos marinhos (Conceição et al., 2010; Boglino et al., 2012). No cultivo de camarões a artemia é geralmente utilizada para a alimentação dos estágios de larva e pós-larva, onde náuplios recém-eclodidos são oferecidos no início da fase de mísis e zoea (Van Stappen, 1996), sendo também fonte de alimento para peixes. A sua fase adulta pode ser utilizada viva ou congelada para espécies de peixes ornamentais, enquanto os cistos são incubados para serem fornecidos Pode ser uma sob a forma alternativa como de náuplios. A literatura fonte de alimento não reporta proteico tanto para alterações no organismos valor nutriaquáticos, como cional existente entre para os humanos. estas duas formas de utilização da fase adulta, no entanto a inclusão destes organismos vivos dentro de aquários ou tanques diminui o nível de partículas poluidoras flutuantes e estimula o comportamento predatório dos peixes (Ortega, 2000).

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Tabela 1. Propriedades nutricionais da Artemia Náuplios recém-eclodidos

Artemia em desenvolvimento ou adulta

1,68% de matéria seca 5.854 kcal/kg 12,8% de carboidratos

1,74% de matéria seca 5.100 kcal/kg 17,2% de carboidratos

12,7% de cinzas

15,2% de cinzas Perfil dos minerais: 51,1 mg/g de sódio 17,5 mg/g de fósforo 12,7 mg/g de potássio 6,8 mg/g de magnésio 48 mg/g de cálcio 2.946 μg/g de ferro 241 μg/ g de zinco 139 μg/g de manganês 32 μg/g de cobre 1,4 μg/g de selênio

12,5% de lipídios Teores de ácidos graxos: C18:3 (ácido linolênico - 14,77%) C20:5 (ácido eicosapentaenoico - 10,5%) C18:2 (ácido linoleico - 5,78%) C18:1 (ácido oleico - 28,73%) 57,6% de proteína bruta Perfil de aminoácidos: Alanina (1,61%) Cistina+Metionina (0,84%) Arginina (3,2%) Fenilalanina (2,3%) Ácido Aspártico (3,2%) Prolina (1,61%) Ácido Glutâmico (4,8%) Serina (1,8%) Glicina (1,68%) Tirosina (2,17%) Histidina (1,12%) Valina (1,1%) Isoleucina (1,4%) Leucina (2,3%) Lisina (3,15%)

10,6% de lípidios Teores de ácidos graxos: C18:3 (ácido linolênico - 7,4%) C20:5 (ácido eicosapentaenoico - 12,0%) C18:2 (ácido linoleico - 6,2%) C18:1 (ácido oleico - 38,8%) 64% de proteína bruta Perfil de aminoácidos: Alanina (4,4%) Ácido Glutâmico (9,08%) Ácido Aspártico(5,09%) Glicina (3,39%) Cistina (1,41%) Isoleucina (3,39%) Histidina ( 1,15%) Lisina (4,86%) Leucina (5,12%) Fenilalanina( 3,0%) Metionina (1,72%) Serina (3,07%) Prolina (3,32%) Tirosina (2,88%) Treonina (2,14%) Triptofano (0,64%) Valina (3,45%) Arginina (4,03%)

Fonte: Léger et al. (1986); Aghakhanian et al. (2011)

“A biomassa de artemia parece

conter substâncias hormonais e tem sido incluída em dietas de maturação que fornecem benefícios adicionais, tais como indução e reforço da maturação sexual, e aumento das taxas de fertilização em peixes e camarões” AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Tabela 2. Composição centesimal de naupilii e cisto de artemia Componentes (g/100g)

Naupilii

Cistos Frescos

Salgados

Desidratados

Umidade

84,8

76,09

76,01

75,95

Proteína

8,05

14,04

14,14

14,19

Lipídios

2,35

3,84

3,85

3,88

Cinzas

0,88

0,98

0,95

0,94

Carboidratos

3,93

5,06

5,06

5,05

Fonte: FAO/OMS/UNU (1985).

Tabela 3. Necessidade de aminoácidos (mg/kg/dia), para diferentes idades propostas Aminoácidos Isoleucina Leucina Valina Lisina Metionina+ Cistina Fenilalanina + Tirosina Triptofano Treonina Histidina

Lactentes (3-4m) Crianças (2 anos) 70 161 93 103 58 125 17 87 28

Escolares (10-12 anos)

Adultos

28 44 25 44 22 22 3,3 28 -

10 14 10 12 13 14 3,5 7 8-12

31 73 38 64 27 69 12,5 37 -

Fonte: FAO/OMS/UNU (1985).

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http://info.nthrys.org/2013/08/molecular-identification-of.html

http://steeph-k.deviantart.com/art/Artemia-Salina-407424407

USO NA NUTRIÇÃO HUMANA A proteína de origem animal pode suprir com maior facilidade os requerimentos proteicos de seres humanos do que a proteína de origem vegetal. Este fato pode ser explicado pela alta digestibilidade da proteína encontrada em produtos cárneos quando comparada com vegetais e cereais, pois normalmente a proteína constituinte destes últimos alimentos pode estar acompanhada de polissacarídeos-não-amiláceos, fatores antinutricionais ou fibra de baixa qualidade, que aumentam a velocidade da digesta pelo trato gastrointestinal tornando este e outros nutrientes menos disponíveis (Arruda et al., 2008). Por outro lado, o consumo de carne pode estar associado a diversos fatores como: poder aquisitivo da população, restrições ideológicas ou religiosas, riscos cardiovasculares, carga microbiana dentre outros. A busca por uma proteína de qualidade e de baixo custo motiva a pesquisa por fontes alternativas deste nutriente. Desta forma, a artemia surge como uma potencial fonte exclusiva de proteína (Tabelas 1 e 2) ou como uma fonte de suplementação aminoacídica (Tabela 1), já que os aminoácidos não sintetizados pelo organismo humano (Tabela 3) podem ser encontrados neste crustáceo de ampla distribuição mundial. Outro fator a ser considerado a respeito da inclusão de artemia na alimentação humana refere-se à presença de vitaminas antioxidantes em sua composição. As recomendações de ingestão dietética de referência são estabelecidas para a prevenção de defi-

ciências nutricionais, não se levando em consideração a possibilidade de redução dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas. A melhora de defesa antioxidante pode não ser capaz de proteger completamente o indivíduo, podendo provocar alterações no sistema imunomodulatório que levam a inflamação e alterações de tecidos (Peluzio et al., 2010). Stults (1974) avaliou cistos de artemia e encontrou altos níveis de Tiamina (7,13 µg/g), Niacina (108,68 µg/g), Riboflavina (23,15 µg/g) e Retinol (10,48 µg/g) ambas vitaminas ou compostos precursores capazes de desencadear uma reação de antioxidação no organismo humano. Historicamente surgem evidências que a artemia já foi parte integrante da alimentação de nativos da Líbia e tribos de índios na Califórnia (Asem, 2008), verificou-se também no Vietnã que as pessoas que cultivavam o crustáceo incorporaram a biomassa em sua dieta habitual (Mot, 1984), e na Tailândia receitas orientais contendo a biomassa da artemia tiveram grande aceitação pelos consumidores locais (Zarei et al., 2006). Embora existam informações nutricionais sobre a artemia, muito pouco foi estudado sobre a sua utilização para a nutrição humana, devendo ainda haver mais pesquisas que fundamentem a sua viabilidade para esta espécie.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A artemia é um crustáceo que possui fundamental importância biológica em seu habitat por ser capaz de reduzir partículas poluidoras flutuantes, sobreviver em altas salinidades e desencadear comportamento predatório em organismos aquáticos como alimento vivo, além de desempenhar importante papel em pesquisas nas áreas de biologia molecular, ecologia, toxicologia, fisiologia e genética. A presença de nutrientes indispensáveis para o metabolismo basal de animais e humanos, como

aminoácidos, minerais e vitaminas, possibilita a sua utilização como uma fonte de alimento para estas espécies. Em um futuro próximo, sugere-se pesquisas focadas nesta matéria prima, que podem resultar em políticas de incentivo ao seu emprego como fonte proteica para humanos em países em desenvolvimento.

Referências Bibliográficas:

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Quantos peixes tem no mar? Eduardo Gomes Sanches & Va n e s s a V i l l a n o v a K u h n e n Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP e s a n c h e s @ p e s c a . s p . g o v. b r peixes tem no mar? Isto eu não sei dizer, mas Q uantos posso garantir que são bem mais numerosos que a quantidade de empreendedores que se dedicam a cultivá-los. Durante o AQUACIÊNCIA deste ano, em Belo Horizonte (MG), estávamos discutindo a situação da piscicultura marinha no Brasil – área que dedicamos nossa vida profissional há mais de uma década. Resolvemos então escrever este artigo para apresentar os resultados do estudo que fizemos recentemente no litoral norte do Estado de São Paulo. Durante este trabalho visitamos e entrevistamos os piscicultores marinhos buscando conhecer quem são, o que fazem e quais suas necessidades e expectativas.

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© Vanessa Villanova Kuhnen

Nossa pesquisa começou por meio de visitas a todos os empreendimentos nos quatro municípios (São Sebastião, Ilha Bela, Caraguatatuba, Ubatuba). Este estudo é bem amplo e será aqui apresentado de forma muito resumida onde pretendemos apenas apontar os principais pontos que nos levaram à interessantes conclusões. Nosso objetivo inicial era ter uma noção atualizada e exata desta cadeia produtiva com vistas ao desenvolvimento de um programa de pesquisas voltado ao atendimenFigura 1. Cultivo de peixes marinhos no to das necessidades destes produtores. Litoral Norte Paulista. Este tipo de planejamento de pesquisas não é muito comum no Brasil, entretanto, em outros países sempre está associado ao sucesso de cadeias produtivas onde a academia e a iniciativa privada caminham juntas.

Quem são os criadores? Temos menos de dez empreendimentos cultivando peixes marinhos no Brasil. A quase totalidade deles está no Litoral Norte Paulista. Nesta região os criadores de peixes marinhos podem ser caracterizados como pessoas físicas, ou empresas de pequeno porte com baixo nível de governança corporativa. A maioria dos produtores reside no município onde o cultivo está localizado, tem escolaridade de nível superior e idade média superior a 40 anos. Todos os produtores possuem outra fonte de renda, sendo que a maioria dos cultivos até o momento contribue muito pouco para renda mensal do produtor.

© Vanessa Villanova Kuhnen

Figura 2. Tanques-rede instalados em áreas abrigadas.

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Áreas de cultivo, profundidade e volume das gaiolas As áreas de cultivo são de pequeno porte (inferiores a 20.000 m2), em sua totalidade localizadas em áreas abrigadas com baixa profundidade (inferior a 20 metros). As estruturas de cultivo são constituídas por tanques de PEAD (polietileno de alta densidade) com diâmetro entre 5 e 16 metros. O volume total dos empreendimentos raramente ultrapassa 1000 m3 e a densidade utilizada varia entre 5 e 15 kg/m3. O pequeno porte

dos cultivos demanda poucos postos de trabalho, 70% deles operam com menos de três funcionários. Dos quatro municípios, apenas Caraguatatuba não possui empreendimentos de piscicultura marinha. Por outro lado, o município de São Sebastião é o que apresenta o maior esforço em políticas públicas para fomentar esta cadeia produtiva.

© Vanessa Villanova Kuhnen

Espécie cultivada A única espécie cultivada comercialmente de peixe marinho no Brasil é o bijupirá (Rachycentron canadum). Porém, outra espécie é comercializada pela Redemar Alevinos, em Ilhabela/SP, que é a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus). Algumas outras espécies são disponibilizadas por laboratórios de universidades ou instituições de pesquisa, mas ainda não tiveram seus cultivos implantados em nível comercial. Desta forma, o empreendedor fica muito limitado a atuar dentro de um sistema de monocultivo com todos os problemas advindos deste tipo de prática.

Figura 3. Garoupa-verdadeira, espécie alternativa para o cultivo de peixes marinhos

Laboratórios

Atualmente existem apenas dois laboratórios privados em todo o Brasil que comercializam formas jovens de bijupirá. Ambos localizam-se no Litoral Norte do Estado de São Paulo. Os laboratórios possuem uma razoável capacidade de produção, entretanto, operam muito abaixo de sua capacidade por falta de demanda.

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© Vanessa Villanova Kuhnen

A ração é um dos principais componentes do custo de produção de peixes marinhos, sendo motivo de grande preocupação para os produtores. Adquirida por preços elevados e com qualidade nem sempre adequada para as exigências nutricionais do bijupirá, os produtores vêm buscando alternativas na dieta para conseguir reduzir os custos na engorda e elevar a sobrevivência dos lotes. Por exemplo, alguns produtores utilizam pescado oriundo da pesca extrativa (sardinhas ou fauna acompanhante da pesca de arrasto do camarão). Embora estudos recentes estejam indicando melhores composições nutricionais para a dieta do bijupirá, ainda Figura 4. Formas jovens de bijupirá. existe uma longa distância entre as pesquisas e a realidade disponível ao criador.

Licenciamento ambiental

© Vanessa Villanova Kuhnen

O licenciamento ambiental é considerado um dos maiores limitantes da cadeia produtiva. Na região avaliada, apenas um único empreendimento está em vias de obter o licenciamento ambiental. A quase totalidade dos empreendimentos apenas dispõe de um protocolo junto ao extinto MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura). O licenciamento junto ao órgão ambiental estadual (no caso do estado de São Paulo é a CETESB) é impossibilitado quando o interessado não possui o termo de cessão da área aquícola que é concedido pelo SPU (Serviço de Patrimônio da União). Porém, para o órgão licenciador ambiental a dominialidade da área é premissa básica para a análise do processo de licenciamento. Desta maneira, praticamente todos os empreendimentos trabalham com insegurança jurídica ficando desprovidos de acessar linhas de crédito ou programas de seguro.

Figura 5. Interação positiva entre a piscicultura marinha e a pesca artesanal.

Outros desafios encontrados

Todos os produtores consultados apontam a nutrição dos bijupirás como um dos maiores gargalos da atividade. Outros problemas como doenças e a dificuldade de obtenção de formas jovens também foram apontadas pelos produtores. Furtos e vandalismos são comuns à grande parte dos produtores que se queixam da insegurança que os cultivos ficam submetidos.

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© Vanessa Villanova Kuhnen

Um fato curioso é que a despeito de todos os problemas e desafios de uma atividade exercida em ambiente adverso com elevado grau de risco e complexidade, a totalidade dos empreendedores reportou nunca ter cogitado desistir da atividade. Este depoimento final consolida o perfil do empreendedor desta cadeia produtiva. Curiosa a pergunta que nos leva à reflexão: o que mantém tantos empreendedores dedicados à uma atividade com tantos fatores desfavoráveis? Promessa de lucratividade no futuro? Faria pouco sentido acreditar em uma resposta tão superficial. Nosso convívio com estas pes- Figura 6. A falta de assistência técnica é um dos problemas apontados soas nos levou a uma profunda admiração pelos empreendedores. pelo senso de desprendimento que os unia. Parece a existência de uma crença inabalável de que a atividade de criação de peixes marinhos poderá se tornar muito em breve uma cadeia produtiva que modificará o cenário nacional. Tal crença, raramente reportada para empresários que no conceito popular somente se preocupam com o lucro imediato, assemelha-se à observada junto aos cientistas que dedicam seu tempo no estudo de técnicas de cultivo de peixes marinhos. Mesmo enxergando que os resultados práticos destes estudos estejam muito longe de se tornarem viáveis, todos continuam se esforçando para que essa cadeia produtiva se desenvolva. Queremos agradecer a todos os corajosos criadores de peixes marinhos do Litoral Norte Paulista. A dedicação de vocês é que tornará nossa cadeia produtiva uma realidade no cenário brasileiro.

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Furtos

Dificuldade de aceitação pela comunidade local

Falta de peixaria local

Distanciamento dos grandes centros

Alto custo de investimento inicial

Dificuldade na obtenção de cessão da área no SPU

Baixo rendimento na engorda

Ausência de protocolos de manejo

Falta de estruturação do setor produtivo

Qualidade genética das formas jovens

Mão de obra especializada

Obtenção de licenciamento ambiental

Garantia de obtenção de formas jovens

Sanidade

Falta de assistência técnica

0

Quais as dificuldades da atividade?

Nutri ção

Frequência das respostas

70%

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A Síndrome do Vírus da Mancha Branca no Cultivo de Camarões no Ceará: Relatos e Perspectivas

Márcio A. Bezerra Eng. de Pesca Prof. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Aquicultura mab.aquicultura@gmail.com

A

tualmente, o Estado do Ceará se notabiliza por ser o maior produtor de camarões da espécie Litopenaeus vannamei do Brasil. Esse cultivo tem se desenvolvido tanto em áreas litorâneas com a influência direta de águas estuarinas e marinhas, quanto em áreas de terra firme, longes das ações das marés oceânicas, e próximas as bacias hidrográficas continentais do Estado.

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© Giovanni Lemos de Melo AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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© Leonel Martins Araújo Pereira

Nesse histórico de produção, a carcinicultura cearense tinha sofrido, mais precisamente entre os anos de 2003 e 2006, seu maior desafio frente às enfermidades virais que assolam essa modalidade aquícola; e os resultados foram extremamente negativos em todos os aspectos técnico-econômicos da produção (Tabela 1). À época, a causa principal para essa queda abrupta na produção do Ceará, tratava-se de um surto viral sistêmico que, supostamente, partiu do litoral oeste para o litoral leste do Ceará, e era caracterizado por uma enfermidade viral reconhecida, internacionalmente, como IMNV (Infectious Mionecrosis Virus) ou, no Brasil, Síndrome da Necrose Infecciosa Muscular (NIM).

Tabela 1. Fonte: Pantoja (2005) & Madrid (2006)

As lições que a NIM trouxe para os produtores de camarão do Ceará não foram suficientes para que, nesse ano de 2016, fosse evitado um evento que imporá um dos grandes desafios que a carcinicultura cearense deverá passar nos próximos tempos. Mais um surto viral sistêmico. Causado por uma das enfermidades virais mais temidas em todo o mundo. Trata-se do vírus reconhecido, internacionalmente, como WSSV (White Spot Syndrome Virus) ou, no Brasil, vírus da Síndrome da Mancha Branca (SMB). Os impactos negativos econômicos da mancha branca em outros países demonstram que serão necessários esforços adicionais de todo o setor produtivo para que os resultados de rentabilidade não caiam a patamares piores do que já vividos pela atividade no Estado e no Brasil nas épocas da infestação sistêmica da NIM.

Figuras 1 e 2. Diferença de coloração entre camarão sadio e camarão infectado por mancha branca (Foto: Dr. J. Cuella-Anjel); Urópodos avermelhados – Expansão dos cromatóforos (Foto: Cleber Lemos – Fonte: Seiffert & Winckler, 2005).

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Figuras 3,4 e 5. Sintomas macroscópicos característicos da fase aguda da mancha branca em camarões de cultivo (Fotos: Prof. Dr. Alberto Nunes, 2016).

Figura 5

Figura 6. Controle de qualidade em pós larvas através de teste de estresse osmótico e térmico. (Foto: Prof. Dr. Alberto Nunes).

WSSV: Síndrome da Mancha Branca Características, Sintomas e Vias de Transmissão e Dispersão A síndrome da mancha branca, como é conhecida genericamente o WSSV, apresenta características bem peculiares como a replicação no núcleo das células infectadas, além de afetar os tecidos encontrados no epitélio cuticular, estômago, brânquias, apêndices, estômago, entre outras estruturas dos animais afetados. Os níveis de infecção podem ser verificados desde a fase em que os animais se encontram em estágio de pós larvas até a fase adulta, em todo e qualquer tipo de empreendimento e sistema de cultivo em águas doces, estuarinas e marinhas (Nunes, 2016). Além de apresentar alto poder de virulência, segundo Jimenez (1999), a síndrome pode apresentar sintomas bem característicos como: •Repentina redução do consumo alimentar dos camarões nos viveiros ou tanques de cultivo; •Natação lenta dos animais na superfície e/ou próximo aos taludes nos viveiros ou tanques de cultivo; •Coloração rosada a pardo-avermelhada do corpo dos animais e urópodos avermelhados resultante da expansão dos cromatóforos (Figuras 1 e 2); •Hepatopâncreas necrosado, hemolinfa turva e calcificações brancas de 0,5 a 2 mm sob a cutícula (Figura 3 e 4); •Exoesqueleto ou carapaça amolecida ou solta (Figura 5).

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Padrões de eventos de mortalidade nos viveiros ou tanques de cultivo: © Leonel Martins Araújo Pereira

• 1º evento – 30 dias após o povoamento do viveiro; • 2º evento – Camarões com peso médio de 3,5-4,0g, independente do tempo de estocagem; • 3º evento – Camarões com peso médio de 8,0-10,0g, nem sempre ocorre.

Inúmeros estudos apontam que existem, basicamente, duas possibilidades gerais de vias de transmissão do vírus, são elas: •Via de transmissão horizontal: A infecção é repassada para camarões através de agentes abióticos, ou seja, pela água, solo, equipamentos contaminados pelo vírus, etc; •Via de transmissão vertical: É a transmissão do vírus da mãe para o filho, ou seja, de reprodutores para larvas de camarão imediatamente antes e depois da eclosão dos ovos. As informações da literatura disponível também apontam para diversas formas de dispersão do vírus, que podem ser observadas nas seguintes situações: •Pós larvas ou matrizes contaminadas em movimento de uma larvicultura para outra ou para fazendas de engorda; •Água de captação para o cultivo através do bombeamento de efluentes oriundos de fazendas ou beneficiadoras com “animais vetores” contaminados como insetos aquáticos e crustáceos; •Através de aves que migram de uma fazenda para outra carregando partículas virais no trato digestivo e podem regurgitar o bolo alimentar de camarões infectados e comidos em uma fazenda contaminada; •Através de veículos e/ou humanos que tenham circulado com frequência em outras áreas infectadas.

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O Cultivo de Camarões e os Eventos de Mortalidade causado pelo WSSV no Ceará No Ceará, desde 2008, apesar de já ter sido relatada, extraoficialmente, a presença do WSSV em camarões e em águas de alguns estuários cearenses, não eram observados eventos críticos de mortalidade nas fazendas. Entretanto, se considerarmos uma lógica de dispersão do vírus, considerando apenas os eventos críticos de mortalidade, relatamos que a dispersão ocorreu do litoral leste para o litoral oeste do Ceará, com ocorrências isoladas em municípios que ficam longes do litoral. Relatos de altas mortalidades associadas aos sintomas descritos anteriormente nesse artigo já foram confirmados nas principais regiões produtoras de camarão do Ceará que se encontram nos municípios de Aracati, Jaguaruana, Fortim, Beberibe, Paraipaba e Acaraú (Figura 7).

Figura 7. Regiões produtoras de camarão Litopenaeus vannamei no Ceará com registros de ocorrência de eventos de mortalidades causadas por mancha branca.

Há perspectivas e saídas contra esse relevante desafio para o Cultivo de Camarões no Ceará e no Brasil? Como dito anteriormente, a síndrome da mancha branca vem afetando há tempos, as produções em muitos países por todo o mundo. Essa experiência vivida está oportunizando, através de muitas informações técnicas disponíveis, que o Ceará e o Brasil busquem com mais rapidez os ajustes necessários para tentarmos minimizar os impactos negativos econômicos sobre a atividade e que serão notados e/ou contabilizados, muito provavelmente, apenas nos próximos ciclos de produção, já que algumas fazendas estão despescando e buscando uma visão mais prudente, no ponto de vista tecnológico, em seus próximos povoamentos nas suas unidades de produção. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Basicamente, a experiência vivida nos países nos aponta duas perspectivas exitosas de saídas para o enfrentamento dessa enfermidade, expostas na Tabela 2:

Tabela 2. Estratégias de enfrentamento contra enfermidades virais no cultivo de camarões

© Leonel Martins Araújo Pereira

Independente da estratégia e/ou sistema de produção adotado, o produtor deverá buscar aquela saída que consiga, de forma consistente e viável para suas realidades econômicas e ambientais, dar as condições mínimas para efetivar um protocolo operacional que equilibre o ambiente sem estressar o animal do início ao final do cultivo. No Ceará, também baseado em relatos de experiências exitosas de áreas que estão voltando a produzir no Rio Grande do Norte, começam a se desenvolver ações contra as infestações que mesclam protocolos das duas estratégias acima descritas no presente artigo. Com o objetivo de garantir um ambiente saudável e equilibrado para o cultivo, as fazendas de engorda estão começando a buscar protocolos de produção, adotando estratégias como: •Sistemas bifásicos ou trifásicos de produção; •Controle de qualidade de pós larvas (Figura 6); •Barreiras físicas e sanitárias (Figuras 8 e 9); •Higiene de pessoal e desinfecção de veículos na entrada das fazendas; •Desinfecção e limpeza de petrechos e equipamentos utilizados diretamente em todas as estruturas de cultivo da fazenda; •Filtragem da água de captação e redução das trocas de água: Telas de 300-500 µm na forma de bag net; •Controle de temperatura durante o maior tempo possível do ciclo de engorda em berçários e/ou pré-berçários (Figuras 10 e 11). Além das ações acima descritas, as ações de diagnóstico presuntivo e confirmatório, bem como as boas práticas de manejo em todo o ciclo de produção têm sido difundidas com cada vez mais frequência através de palestras e cursos realizados nas regiões afetadas promovidos pelas Associações de Produtores Locais e Nacional.

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Com relação às ações de diagnósticos de enfermidades, apesar da relevância do tema, o Governo e setor produtivo ainda carecem de estrutura necessária para a formatação de uma rede de diagnóstico de enfermidades de baixa, média e alta complexidade. É provável que esse tipo de ação, com as Figuras 8 e 9. Barreiras físicas (Anti-caranguejos) e sanitárias (Inativação do vírus com hipopressões que as enfermidades causam clorito de sódio, Virkon™ (5,0 ppm), Cal virgem, etc.) sobre a atitude técnica e responsável (Fotos: Prof. Dr. Alberto Nunes). de todos os envolvidos, passe a ser mais difundida e fomentada. O diagnóstico prévio do estado sanitário das pós-larvas antes do ciclo de produção e de camarões adultos durante o ciclo de produção, é uma ótima ferramenta para se conseguir avaliar e/ou validar os protocolos de biossegurança adotados das unidades produtoras Figuras 10 e 11. Cobertura de berçários e raceways para controle de temperatura e biossegu- após o advento das infestações virais. rança. Fazendas Nova Vida & Revesa. (Fotos: Prof. Dr. Alberto Nunes).

© Giovanni Lemos de Mello

Conclusões Com base nas informações expostas anteriormente, podemos concluir que a carcinicultura cearense viverá mais uma vez uma pressão negativa significativa com o aparecimento da mancha branca, todavia, as perspectivas nos levam a crer que, a chave do sucesso da retomada da produção não é algo a ser descoberto, e sim, a ser implementado. Caberá aos produtores e toda cadeia produtiva buscar uma melhor integração de modo a não sofrermos tanto como visto em outras épocas e em outros países acometidos por essa enfermidade.

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Aquaponia no Brasil:

o que o futuro nos aguarda? Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista, PhD Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Laboratório de Aquicultura (LAQ), campus Laguna-SC Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (CEO/UDESC), campus Chapecó-SC Email:mauricioemerenciano@hotmail.com Sara Mello Pinho, Engenheira de Pesca Universidade Estadual Paulista (UNESP), Centro de Aquicultura (CAUNESP), Jaboticabal-SP Email: sara.pinhoo@hotmail.com Paulo César Falanghe Carneiro, Engenheiro Agrônomo, PhD Embrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju-SE Email: paulo.carneiro@embrapa.br

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é um sistema de produção de alimentos que inA aquaponia tegra a hidroponia (cultivo de plantas sem solo) e a aqui-

cultura (cultivo de organismos aquáticos). Nela, os resíduos produzidos na água pelos peixes são transformados em nutrientes que serão utilizados por vegetais para crescimento e frutificação. Dessa forma, a aquaponia possibilita a reciclagem de água e substâncias orgânicas, reduzindo substancialmente o volume de água necessário para a produção de alimentos quando comparada aos sistemas tradicionais. Adicionalmente, a aquaponia produz menor quantidade de efluente e facilita seu tratamento para que possa ser utilizado de forma racional, evitando assim seu descarte inadequado no meio ambiente. Recentemente a aquaponia vem ganhando destaque no cenário nacional. Os conceitos básicos vêm sendo cada vez mais bem elucidados e sua aplicação (comercial ou em pequena escala) mais fomentada. No entanto, quais seriam os próximos passos? O que precisa ser melhorado e aperfeiçoado? O que falta para a aquaponia conquistar seu merecido espaço e se massificar no nosso país? O presente artigo discute a situação atual, os avanços fora do Brasil e o que se necessita para consolidar este importante sistema de produção.

Situação comercial e de pesquisa no Brasil A aquaponia de pequena escala já é uma realidade no Brasil. Muitos simpatizantes dessa modalidade de cultivo possuem em suas casas pequenos módulos de produção, construídos com os mais variados materiais e cultivando espécies de plantas e peixes adaptadas a cada região do país. Por outro lado, as iniciativas comerciais ainda são isoladas e com pouca divulgação a nível nacional. Um bom (e raro) exemplo de aquaponia comercial fica localizado na região metropolitana de Curitiba, atendendo o mercado local.

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Uma primeira iniciativa de diagnosticar os grupos que atuam sobre o tema no Brasil foi realizada entre outubro de 2015 a fevereiro de 2016, com um questionário online buscando conhecer a situação atual da pesquisa, ciência e inovação dos sistemas aquapônicos. Este questionário foi enviado principalmente a pessoas envolvidas no setor e que participaram de eventos técnicos-científicos neste período. Além disso, objetivou também diagnosticar os projetos comerciais existentes, visando informar e fomentar tanto a iniciativa privada como a academia, para que futuramente ocorra interação entre os diferentes segmentos. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016


© P. Carneiro)

Foram obtidas 55 respostas, com maior participação dos profissionais da região Nordeste (38%), seguido do Sul (29%), Sudeste (23%), Centro-Oeste (6%) e do Norte (4%), com aproximadamente 80% dos participantes trabalhando na iniciativa pública. Do total, 63% já realizaram pesquisas em aquaponia e desses somente 59% desenvolveram algum tipo de produção cientíFigura 1. Exemplo de aquaponia de pequena escala no Brasil fica (Figura 2). Aqui vale uma ressalva e reflexão: talvez este seja um dos entraves relacionado à falta de informações técnico-científicas sobre o tema no país. O desafio futuro será fazer com que os produtos gerados das pesquisas nacionais cheguem aos produtores e interessados, em uma linguagem adequada e compatível para os diferentes públicos. A Figura 2 apresenta ainda as diferentes linhas de pesquisas desenvolvidas, mostrando diversidade de objetivos e interesses. Vale ressaltar também que a linha “viabilidade econômica” ainda é pouco abordada, e esforços futuros neste sentido certamente auxiliarão no desenvolvimento de iniciativas comerciais.

Figura 2. Resultado do questionário sobre a situação da pesquisa em aquaponia no Brasil.

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Quanto ao diagnóstico dos projetos comerciais, apenas 9% dos entrevistados tinham conhecimento de alguma produção em funcionamento ou em via de implantação. Foram encontrados seis aquaponias em operação, ambas em fases iniciais, concentradas principalmente na região nordeste do Brasil (três propriedades), além do Sul e Sudeste. Esse número certamente aumentará nos próximos anos. Há informações sobre sete novos projetos em implantação, cinco na região Sul, um no Nordeste e outro no Sudeste. Entre as espécies de peixes e plantas mais utilizadas nos cultivos comerciais, destacam-se massivamente as tilápias e alfaces. Em relação as pesquisas, uma maior diversidade de espécies foram observadas (Figura 3)

Figura 3. Principais espécies de organismos aquáticos e plantas utilizados em sistemas aquapônicos no Brasil. 38

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© M. Emerenciano

Figura 5. Fazenda de cultivo aquapônico Ponnod, Eslovênia. Produção local com uso de energias alternativas.

Evento Europeu

© M. Emerenciano

Nos dias 21 a 25 de março do presente ano foi organizado na Eslovênia um encontro técnico-científico exclusivamente destinado a aquaponia (Figura 4). O evento chamado de COST FA1305, promovido pela Cooperação Europeia de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, contou com a participação de mais de 50 pesquisadores da União Europeia que trabalham direta ou indiretamente com os sistemas aquapônicos, além de produtores e pesquisadores convidados de outros continentes. O primeiro autor deste artigo foi convidado para ministrar a palestra intitulada “Aquaponia na América do Sul: estado da arte e perspectivas”. Além da situação atual em termos de pesquisa e iniciativas comerciais da aquaponia no Brasil e no nosso continente, a palestra apresentou também resultados recentes de pesquisas realizadas pela UDESC-Laguna. Algo marcante do evento foi contrastar que os desafios enfrentados na América do Sul são totalmente diferentes aos da Europa, principalmente em termos de foco e tecnificação do sistema aquapônico. Enquanto que na Europa o foco principal é a engenharia do sistema e mercado consumidor diferenciado (ou nichos), na América Latina muitas vezes nosso maior desafio é a escassez ou a qualidade da água. Durante o período do evento foram realizadas visitas a três fazendas de produção: uma fazenda de cultivo de trutas em sistemas de recirculação, uma hidroponia de tomates e uma fazenda aquapônica (Figura 5).

Figura 4. Evento europeu realizado na Eslovênia contou com a participação da academia e setor produtivo. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Em termos de avanços tecnológicos as pesquisas na União Europeia relacionadas ao tema vão “de vento em popa”. Com uma agenda extremamente organizada e produtiva, as iniciativas são divididas em grupos de trabalhos com temáticas diferenciadas de acordo as expertises de cada pesquisador. Temas como criação de um código de conduta, sanidade de plantas, nutrição de peixes, bem-estar animal, engenharia dos sistemas aquapônicos, marketing, entre outros, foram os principais destaques. Outro destaque foi o protótipo de produção aquapônico, “Paff Box” (Figura 6), uma espécie de aquaponia realizada em container, uma alternativa bem interessante para produção agrícola urbana. Outros temas abordados podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1. Principais temáticas abordadas no COST FA1305.

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© Maurício Emerenciano

Seguindo as tendências mundiais, o Brasil certamente precisa se organizar e criar uma agenda para o tema. A aquaponia é um tema muito vasto e que atende a interesses diversos na sociedade, necessitando portanto da atuação de profissionais de áreas distintas que possam colaborar com seus conhecimentos específicos. A aquaponia comercial merece muita atenção, pois abrirá novas perspectivas sobra à produção de alimentos de forma mais sustentável. Da mesma Figura 6. Modelo de aquaponia urbana “Paff Box” apresentado pela equipe da Universidade de Liége, da Bélgica. forma, a aquaponia em nível residencial vai além da produção de peixes e vegetais, traz consigo valor imensurável como a satisfação e realização de seus usuários em produzir seus próprios alimentos de forma simplificada e com respeito ao meio ambiente. Adicionalmente, a aquaponia também tem grande valor educacional quando utilizada como ferramenta didática nas escolas, servindo no aprendizado prático de assuntos tão diversos como matemática, física, biologia, química, higiene, gastronomia, sustentabilidade, entre outros. A exemplo dos colegas europeus, é necessário que a academia e o setor privado se organizem, planejem e dialoguem entre si. A criação de fóruns de discussão e redes de pesquisa certamente será um passo fundamental. Outro fator de suma importância é que os órgãos de fomento a pesquisa do nosso país visualizem e se sensibilizem com a importância da aquaponia no cenário atual brasileiro, onde escassez de água, de terras e a busca por alimentos considerados “mais saudáveis” é cada vez maior.

O futuro é agora!

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© Delaide, apresentado no COST FA 1305/2016

Perspectivas para o futuro


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PROBIÓTICOS NA PISCICULTURA Gabriel Fernandes Alves Jesus¹; Scheila Anelise Pereira¹; Gabriella do Vale Pereira²; Bruno Corrêa da Silva³; Maurício Laterça Martins¹; José Luiz Pedreira Mouriño¹.

¹ AQUOS – Laboratório de Sanidade de Organismos Aquáticos, Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. - gabriel_faj@hotmail.com ² School of Biological Sciences, Faculty of Science and Environment, Plymouth University, England. 3Epagri –Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Brasil. se pretende aumentar a Q uando produtividade na criação ani-

mal, seja em pequena ou larga escala, um quesito importante a ser observado é a sanidade. Grandes mortalidades de peixes são observadas quando há a intensificação da produção e quando boas práticas de manejo não são realizadas, tanto em tanques-rede quanto em viveiros escavados. A ocorrência de enfermidades tem como principal fator o desequilíbrio do triângulo epidemiológico patógeno-hospedeiro-meio ambiente, devido à deterioração da qualidade de água e/ou bem-estar do animal, que consequentemente diminui a capacidade de resposta imunológica dos peixes, favorecendo assim o desenvolvimento de doenças. As enfermidades virais, bacterianas ou parasitárias são problemas emergentes que limitam o crescimento da atividade piscícola, pois acarretam grandes mortalidades das populações de peixes estocados e perdas econômicas. “Estima-se que as perdas econômicas na aquicultu-

ra mundial oriundas de enfermidades ultrapassem a cifra de US$ 9 bilhões ao ano”. O aumento na prevalência de doenças bacterianas pode estar relacionado à sua rápida proliferação, surtos em curto intervalo de tempo, ou ainda, podem-se desenvolver lentamente, com menos gravidade e resistir ao um longo período de cultivo. À exemplo, doenças causadas por bactérias Gram-negativas podem levar a perdas de 5% em casos mais brandos, ou a 100% em casos mais agudos em cultivo de tilápias.

“Estima-se que as perdas econômicas na aquicultura mundial oriundas de enfermidades ultrapassem a cifra de US$ 9 bilhões ao ano” Ao longo dos anos novas enfermidades e micro-organismos cada vez mais adaptados às condições de cultivo e resistentes aos tratamentos com quimioterápicos convencionais (antibióticos)

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surgem na aquicultura. Tendo em vista esta problemática, acredita-se que a melhor medida a ser adotada pelos produtores é a prevenção, incorporando Boas Práticas de Manejo (BPM) implementadas ao programa de sanidade adotado na propriedade, que irão possibilitar o equilíbrio no cultivo de organismos aquáticos e consequentemente evitar perdas econômicas. Dentre as práticas sanitárias preventivas, destaca-se a utilização de probióticos, capazes de auxiliar no incremento dos parâmetros zootécnicos e da capacidade imunológica dos peixes. Probiótico é uma palavra derivada do grego que significa “a favor da vida”, porém desde 1965 o uso de seu termo vem sendo continuamente revisto. Suas definições podem variar de acordo com a forma de utilização, se há ou não colonização do trato intestinal do hospedeiro, e se atua trazendo benefícios ao ambiente de cultivo e/ ou hospedeiro. Portanto, MOURINO et al. (2008) definiram probióticos como: “micro-organismos 45


vivos que, adicionados ao cultivo de maneira que entrem no trato digestivo dos animais e, mantendo-se vivos, atuem beneficamente no animal de interesse, melhorando a eficiência alimentar, o sistema imunológico e/ou balanço da relação de bactérias benéficas e patogênicas no trato digestivo”. Ao longo dos anos, várias estratégias para modular a composição da microbiota intestinal, a fim de se obter melhor resistência a doenças, além de maiores taxas de crescimento e eficiência alimentar, foram estudadas nos mais diversos ramos da produção animal. Na aquicultura, as bactérias probióticas se destacam pela capacidade de proporcionar uma série de benefícios aos animais cultivados, como: exclusão competitiva de bactérias patogênicas no trato intestinal (principal via de entrada de patógenos); modulação do sistema imunológico desenvolvendo os mecanismos de defesa; auxílio na digestão de nutrientes através da produção de enzimas digestivas; produção e excreção de vitaminas no trato intestinal do hospedeiro, como as do complexo B (ácido fólico);

a)

b) c)

d)

Cepas bacterianas crescidas em MRS isoladas de Arapaima gigas

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de e) produção compostos

uma série de antimicrobianos como bacteriocinas e ácidos orgânicos. Além disso, os micro-organismos utilizados como probióticos na aquicultura devem ser seguros, não apenas para o animal cultivado e o meio em que vivem, mas também para os humanos. Além de colonizar o trato digestório e produzir efeito benéfico no hospedeiro, outras características devem ser observadas nestes micro-organismos, como: ser inócuo, não possuir genes de resistência a antibióticos, possuir propriedades antimutagênicas e anticancerígenas, resistir às enzimas do trato digestório e a bile, ao processo de inoculação na ração, e ao tempo de armazenamento e transporte. Tanto as cepas esporuladas como as não esporuladas podem ser utilizadas como probióticos. Dentre as não esporuladas, as mais utilizadas são os Lactobacillus, que possuem grande capacidade de colonização do trato intestinal e produção de compostos com atividade antimicrobiana. Já dentre as formas esporuladas, as bactérias do gênero Bacillus, principalmente as espécies Bacillus subtilis e Bacillus licheniformes, são as cepas probióticas mais comumente utilizadas na aquicultura. A maior vantagem na utilização deste último grupo de bactérias como probióticos está relacionada com a facilidade de ser produzida em massa e incorporada em produtos comerciais, pois a capacidade de esporulação facilita a sua inclusão em

dietas e produtos comerciais. Atualmente no mercado é possível encontrar diferentes composições de cepas nos probióticos comerciais testados e utilizados em peixes. Porém, se observa que estes produtos utilizados na aquicultura foram isolados de animais terrestres ou de espécies de peixes que não são o “alvo” da suplementação ou aplicação, sendo assim cepas probióticas alóctones, podendo apresentar resultados não

Cepa de Lactobacillus sp em meio de cultura MRS agar

esperados. Com isso, é recomendado sempre que ao iniciar a utilização destes produtos, avaliem-se os resultados atingidos de acordo com cada objetivo desejado, pois estes poderão impactar consideravelmente no custo da ração (R$ 50,00 a R$ 200,00 por tonelada de ração). A utilização de cepas probióticas alóctones também pode apresentar uma série de desvantagens como a inserção de micro-organismos exógenos ao ambiente de cultivo, o desconhecimento dos possíveis efeitos no trato intestinal e sua interação com os demais micro-organismos do ambiente. Uma alternativa é usar cepas probióticas autóctones, isoladas do próprio organismo (hospedeiro). A vantagem da utilização de cepas

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Isolamento de cepas de bactérias ácido láticas

autóctones está relacionada ao fato de apresentarem maior capacidade de colonizar o trato intestinal do hospedeiro, se manterem viáveis, já estarem inseridas no ambiente de cultivo, além de trazer uma série de benefícios ao hospedeiro. Contudo, há poucos probióticos comerciais que utilizam cepas espécie-específico, e sua produção na própria fazenda depende do mínimo de estrutura e conhecimento para se trabalhar com técnicas de microbiologia, dificultando assim a utilização desta tecnologia na propriedade. Dessa forma, o ideal é que empresas e universidades trabalhem em parceria e invistam em produtos baseados na seleção de bactérias autóctones da espécie alvo, assegurando seu modo de ação e sua utilização em larga escala, através do desenvolvimento

de tecnologias que potencializem a chance de sucesso de sua aplicação na piscicultura. Embora se saiba que o modo de administração dos probióticos mais eficaz seja pela alimentação, também podem ser utilizados diretamente na água de cultivo, causando efeitos benéficos ao ambiente e ao hospedeiro, ou ainda podem ser incorporadas em rotíferos e artêmias na larvicultura de peixes. Vale ressaltar a existência de cepas benéficas/probióticas as quais não atuam diretamente no hospedeiro, como as biocontroladoras e bioremediadoras, mas atuam no ambiente de cultivo. Ambos são micro-organismos vivos, porém as biocontroladoras são antagônicas a patógenos e não colonizam o trato gastrointestinal, diminuindo a carga de bactérias patogênicas no ambiente de cultivo (solo e água).

Metodologia de antagonismo a patógenos através da metodologia Disco ágar Difusão (do inglês: Well Disc Assay ).

Já as cepas bioremediadoras irão, como o nome já diz, remediar algum problema na água; seja transformando amônia em nitrato, mineralizando a matéria orgânica; melhorando assim os parâmetros de qualidade de água. Dessa forma, uma cepa pode apresentar mais de uma ação e atender a critérios simultaneamente. Por exemplo, uma bactéria bioremediadora pode decompor a matéria orgânica do ambiente e produzir compostos que diminuam a carga de bactérias patogênicas na água e no solo, além de poder ainda colonizar o trato intestinal do animal. A utilização de probióticos na aquicultura, no Brasil e no mundo, já é uma realidade, para sua utilização racional existe a necessidade do conhecimento da espécie cultivada, seus hábitos alimentares, sua fisiologia e ciclo biológico, a fim de selecionar e implementar o probiótico adequado para cada produção, visando o aumento da produtividade e da sanidade do cultivo.

Referências Bibliográficas: MOURINO, J.L.P. et al. 2008. Probióticos na Aquicultura. In: SILVA-SOUZA et al. (eds). Patologia e sanidade de organismos aquáticos. Maringá-PR, p. 404.

Imagens cedidas por: Halos de inibição ocasionados por bactérias acido láticas frente a Pseudomonas fluorescens, Aeromonas hydrophila e Citrobacter freundi. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

© José Luiz P. Mouriño

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CULTIVO DE PEPINO DO MAR NO BRASIL: UMA ALTERNATIVA PARA UM CENÁRIO DE INCERTEZAS

José de Souza Junior *, Liliane Veras Leite, Daniele Ferreira Marques, Clara Melo Coe, Márcia Darlene Santana, Alberto Gomes Araújo, Fernando Luís Batista dos Santos, Oscar Pacheco Passos Neto, Carminda Brito Salmito-Vanderley, Wladimir Ronald Lobo Farias. *jr_pescaufc@yahoo.com.br. Departamento de Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará, Av. Mister Hull, S/N. CEP: 60.871-170

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pepinos do mar de alta qualidade podem chegar a custar U$ 2.000,00 em lojas especializadas. Diante deste mercado em potencial a equipe de pesquisadores do projeto pepino do mar (PEPMAR) iniciou em 2009 estudos no intuito de desenvolver o cultivo de pepinos do mar no Brasil. O primeiro grande desafio foi identificar populações nativas de pepinos do mar que pudessem apresentar potencial para a aquicultura. “Pepinos do mar de

alta qualidade podem chegar a custar U$ 2.000,00 em lojas especializadas”

de pepino do mar O cultivo é considerada uma das

atividades aquícolas que mais crescem no mundo. Atualmente, diversos países como Austrália, Canadá, China, Equador, Índia, Japão, Irã, México, USA, Arábia Saudita e Madagascar têm colocado o desenvolvimento de cultivo de pepinos do mar como área estratégica de seus investimentos (PURCELL et al., 2012). O mercado asiático é o maior responsável pelos crescentes cultivos, devido ao alto consumo do pepino seco, conhecido como Beche de mer (Conand 2008; Purcell et al, 2012). De acordo com Purcell et al (2012)

Após uma intensa prospecção no litoral nordestino do Brasil, conduzida pela pesquisadora Clara Melo Coe do programa de Pós Graduação em Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará (PPGEP – UFC), foi possível identificar uma espécie conhecida como Holothuria grisea. Devido as suas características rústicas esta espécie apresenta potencial para desenvolvimento aquícola. Outro fato descoberto pela equipe durante a prospecção foi a identificação de áreas de pesca deste animais, que estão sendo comercializados de forma ilegal (Souza Junior et al, in press), algo totalmente novo para as estatísticas pesqueiras do Brasil. Em 2011 a estudante de graduação Márcia Santana, do curso de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, desenvolveu protocolo de anestesia e transporte destes animais, processo este que viria

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a viabilizar a continuidade das pesquisas. De 2011 a 2015 diversos estudos foram conduzidos com o objetivo de fechar o ciclo reprodutivo da espécie e viabilizar o cultivo, a fim de gerar uma nova alternativa para a aquicultura nacional. Após uma série de falhas nas tentativas de reprodução da H. grisea a equipe do PEPMAR realizou uma visita técnica em 2012 aos cultivos da espécie Holothuria scabra em Madagascar com o objetivo de importar tecnologia para desenvolvimento da espécie nacional. Ainda em 2012 uma tese de doutorado realizada pela pesquisadora Liliane Veras Leite, do programa de Pós-graduação da Rede Nacional de Biotecnologia (RENORBIO), da Universidade Estadual do Ceará, teve como objetivo caracterizar e fechar o ciclo reprodutivo do pepino do mar H. grisea. Após intensos testes e trocas de informações com pesquisadores de outros países (Canadá, Bélgica, Itália e Madagascar) se obteve a primeira desova deste animal em cativeiro. Este resultado foi obtido apenas seis meses após a visita dos cultivos em Madagascar. O primeiro ciclo reprodutivo foi fechado em 45 dias. Após uma série de mudanças estruturais e nos protocolos, a pesquisadora Daniele Marques (PPGEP – UFC) reduziu o tempo de desenvolvimento larval para 17 dias, estando equivalente ao de outras espécies de pepinos cultivados ao redor do mundo. Esta redução permitiu a equipe do projeto obter até oito induções por ano, garantindo produção de juvenis para continuidade das pesquisas. 49


© José de Souza Junior

P rodução

de juvenis

Já em 2014, estudos com diferentes tipos de alimento foram desenvolvidos para se obter o melhor resultado de crescimento dos animais. O pesquisador Fernando Luís (PPGEP – UFC), desenvolveu uma dissertação na qual diferentes tipos de alimentos como biomassa de zooplâncton, substrato de cultivo de peixes e camarões foram testados para verificar a preferência alimentar. Para o desenvolvimento destes estudos foi utilizado a metodologia do aquário em Y, amplamente difundida para testes com camarões, mas nunca utilizada para equinodermatas. Os testes de alimentação desenvolvidos pela equipe mostraram crescimento de 0,04 g dia-1. Esta taxa é considerada baixa quando comparada a outras espécies (BATTAGLENE et al., 1999; PITT et al., 2001; LAVITRA et al., 2010; WATANABE et al., 2012;

P erspectivas

ROBINSON et al., 2013). Entretanto, devido ao baixo custo de produção do alimento e de manutenção do sistema de cultivo, ainda pode se considerar viável. Ainda em 2014 o professor Oscar Pacheco do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará em conjunto com o pesquisador Souza Junior montaram o primeiro sistema de recirculação de água (SRA) para cultivo de pepinos do mar no Brasil. O SRA de oito toneladas comportava até 2.000 juvenis. Este sistema permitiu a manutenção dos animais para posterior fornecimento às pesquisas. Paralelo aos estudos de desenvolvimento do cultivo, pesquisas de bioprospecção biotecnológica com estes animais foram conduzidas pelo pesquisador Alberto Gomes Araújo que conseguiu isolar aproxima-

damente 400 estirpes de bactérias do pepino do mar. Em 2015, o pesquisador responsável pelo projeto PEPMAR, Souza Junior, realizou uma série de estudos de viabilidade de implantação da primeira fazenda de pepino do mar do Brasil. Como resultado se obteve que o Nordeste do Brasil apresenta as melhores características ambientais. O fato dos pepinos serem animais detritívoros se apresenta como uma vantagem em seu cultivo, pois podem ser adicionados facilmente em cultivos consórciados com ostras, peixes e camarões, promovendo assim a limpeza de todo o sistema de cultivo. Ainda em 2015, o pesquisador Souza Junior, foi convidado pela FAO para participar de uma conferência em Merida – México onde foram discutidos processos de cultivos de pepinos do mar.

Para os anos 2016 e 2017 o objetivo do projeto PEPMAR é escalonar o cultivo de pepino do mar para desenvolvimento de estudos de viabilidade técnica e econômica, para isto, importantes parcerias estão sendo construídas. O desenvolvimento do cultivo de uma nova espécie, rústica e com mercado aquecido surge como possível solução para reverter o cenário atual da aquicultura nacional, onde as principais espécies, tilápia e camarão, estão sofrendo declínios na sua produção devido a seca e a doenças. Por se tratar de uma produção de baixo custo, visto que não se utiliza ração comercial, estes animais podem ser produzidos em fazendas de camarões que estão sofrendo com as doenças infecciosas como mancha branca, se tornando assim uma alternativa para estes produtores que não conseguem mais obter lucros justificáveis com o camarão. Entretanto, não se sabe ainda se estas doenças podem infectar outros animais como equinodermatas. 50

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© José de Souza Junior

© José de Souza Junior

Figura 2. Embriões obtidos da primeira desova de pepino do mar da espécie Holothuria grisea.

© José de Souza Junior

© José de Souza Junior

Figura 1. Tanques de engorda de juvenis de pepino do mar da espécie Holothuria scabra em Tulear – Madagascar.

Figura 1: Tanques de engorda de juvenis de pepino do mar da espécie Holothuria scabra em Tulear – Madagascar. Fonte: Autor.

Figura 3. Juvenis de pepinos do mar da espécie Holothuria grisea obtidos em cativeiro.

Figura 4. Laboratório de desenvolvimento de testes de alimentos para pepinos do mar. Referências Bibliográficas:

BATTAGLENE, S.C.; SEYMOUR, J.E.; RAJAGOPALAN, M.; RAMOFAFIA, C. Culture of tropical sea cucumbers for stock restoration and enhancement. Aquaculture, v. 178: 293–322, 1999. Conand, C. Present. Status of world sea cucumber resources and utilisation: an international overview. In: Advances sea cucumber aquaculture and mangement. FAO fisheires technical paper 463 (eds A. Lovatelli, C. Conand, S.W. Purcell, S. Uthicke, J.F. Hamel and A. Mercier). Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome, Italy, pp.13-23 LAVITRA, T.; RASOLOFONORINA, R.; EECKHAUT, I. The effect of sediment quality and stocking density on survival and growth of the sea cucumber Holothuria scabra reared in nursery ponds and sea pens. Western Indian Ocean Journal of Marine Science, n. 9, v. 2: 153–164, 2010. PITT, R.; THU, N.T.X.; MIHN, M.D.; PHUC, H.N. Preliminary sandfish growth trials in tanks, ponds and pens in Vietnam. SPC Beche-de-mer Information Bulletin, v. 15: 17–27, 2001. Purcell, S.W., Hair, C.A., Mills, D.J. Sea cucumber culture farming and sea ranching in the tropics: progress problems and opportunities. Aquaculture, V. 368, p. 68-81, 2012. ROBINSON, G.; SLATER M. J.; JONES C.L.W.; STEAD, S.M. Role of sand as substrate and dietary component for juvenile sea cucumber Holothuria scabra. Aquaculture, v. 392-395: 23-25, 2013. WATANABE, S.; KODAMA, M.; ZARATE, J.M.; LEBATA-RAMOS, M.J.H.; NIEVALES, M.F.J. Ability of sandfish (Holothuria scabra) to utilise organic matter in black tiger shrimp ponds. Asia-pacific Tropical Sea Cucumber Aquaculture: Proceedings of an International Symposium Held in Noumea, New Caledonia, 15–17 February 2011. Australian Centre for International Agricultural Research (ACIAR), pp. 113–120, 2012. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Va c i n a s c o n t r a parasitos de peixes: uma realidade muito distante? K a r e n R o b e r t a Ta n c r e d o 1 * , M a u r í c i o L a t e r ç a M a r t i n s 1 e G a b r i e l a To m a s J e r ô n i m o 2 Laboratório AQUOS – Sanidade de Organismos Aquáticos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC 2 Laboratório de Ictioparasitologia – Universidade Nilton Lins, Manaus/AM *E-mail: roberta.tancredo@gmail.com 1

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© Karen Roberta Tancredo

tamanha dificuldade no desenvolvimento de vacinas para parasitos são principalmente problemas encontrados na manipulação dos protozoários e helmintos em laboratório, dificuldades no seu cultivo in vivo e in vitro, complexidades de seu ciclo de vida, que pode envolver mais de um hospedeiro. Com relação às pesquisas, a maioria são direcionadas para os parasitos protozoários patogênicos mais comuns, e a proliferação deles no ambiente se dá por simples divisão celular, em curto período de tempo, produzindo milhares de células-filha. Podemos citar o Ichthyophthirius multifiliis, causador da doença dos pontos brancos (Figura 1), Trypanosoma sp., Cryptobia sp., Glugea sp., que podem causar mortalidades indesejadas nos cultivos de peixes. No Brasil, pesquisadores se esforçam em desenvolver uma vacina específica para ictiofiríase testando dois métodos, via injeção intraperitoneal e banho de imersão.

Métodos de vacinação para peixes Diferentes métodos podem ser utilizados na vacinação de peixes:

1) via injetável (Figura 2), geralmente aplicada próxima a uma das nadadeiras;

2)

banho de imersão, em que os animais são imersos em solução aquosa contendo os antígenos vacinais;

3) administração oral (Figura 3) das vacinas co-

locando diretamente dentro da boca ou inserida na ração. Esses métodos apresentam vantagens e desvantagens quanto à eficácia, praticidade, efeitos colaterais e custo-benefício. As vacinas injetáveis são as que induzem respostas ao sistema imunológico dos peixes com maior intensidade, rapidez e podem ser mais duradouras, em comparação com as demais vias. Entretanto, demandam mão de obra técnica no momento da aplicação e ainda há possibilidade de perfurar algum órgão interno do peixe, ou machucando a si mesmo. Além disso, os peixes devem ser vacinados um a um com uma dose previamente ajustada, quando

Figura 1. Jundiá infestado com trofontes de Ichthyophthirius multifiliis

necessário. A opção por anestesiar os animais antes do procedimento, depende do conhecimento técnico de cada produtor, levando-se em consideração problemas secundários, como a morte por anestesia profunda. Na prática, as vacinas de baixo custo e que não demandam manejo intenso dos peixes durante a vacinação, são por meio de banho de imersão. No banho, a vacina é aplicada diretamente no tanque em que estão os peixes, adicionando uma parte da vacina para cada dez partes de água. Este método apresenta melhor resultado em pisciculturas, permitindo a imunização de milhares de peixes em curto período de tempo. Contudo, este procedimento apresenta como desvantagem a necessidade de grande volume da vacina para garantir o efeito esperado. Para muitos piscicultores, o simples fato de adicionar um produto na ração já é um procedimento eficiente para o fortalecimento do sistema imunológico do peixe. Entre os aspectos positivos da adoção desse método, está o menor estresse causado no peixe, dispensando a manipulação individual dos

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Não é mais novidade que os surtos de doenças na aquicultura, por muitas vezes, ocorrem pela falta de boas práticas de manejo, alimentação inadequada e situações precárias de qualidade da água. Estes fatores contribuem para um cenário onde parasitos oportunistas se proliferem em curtos períodos de tempo. Sendo assim, é necessário intervir com medidas de controle sanitário, após fazer um correto diagnóstico para ter conhecimento sobre a doença parasitária, como o ciclo de vida e ecologia dos parasitos. Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento ou medidas profiláticas, devem ser imediatos, a fim de evitar perdas. Ainda de caráter inovador, um dos métodos que se tem investido esforços para controlar as parasitoses, envolve o desenvolvimento de vacinas como método imunoprofilático. A vacinação contra parasitos de peixes é pouco conhecida quando comparada com o conhecimento gerado por estudos que são realizados com bactérias e vírus. As razões que justificam

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© Kennebec River Biocences

Figura 2. Método via injetável.

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da tecnologia do DNA recombinante, na qual são inseridos genes que codificam antígenos de interesse em outros micro-organismos, cujo cultivo laboratorial está dominado (por exemplo: Tetrahymena thermophila), mas essa tecnologia não está disponível, encontrando-se ainda em fase de pesquisas. Em resumo, os estudos sobre a vacinação de peixes com parasitos precisam de diversos ajustes para que se tornem realidade próxima nas pisciculturas comerciais. A eficácia dos métodos deve ser comprovada e protocolada para superar os tratamentos e medidas profiláticas, que são usados mais frequentemente na aquicultura, dos quais destacam-se, o cloreto de sódio, verde malaquita, sulfato de cobre, formalina, permanganato de potássio, bicarbonato de sódio, entre outros. Para finalizar, a adoção de uma vacina vai muito além de apenas isolar o antígeno, necessita-se de estudos de sua eficiência frente a desafios, aliados a nutrição adequada, densidade de estocagem, qualidade da água, biologia do hospedeiro, ciclo de vida do parasito, custos e viabilidade. © Mahida Parvez Jilani

animais, permitindo a vacinação de maior número de indivíduos de qualquer tamanho, sem custo extra de trabalho. Já a maior dificuldade é que o método pode apresentar menor eficácia, uma vez que não se sabe se todo o plantel está se alimentando igualmente, não garantindo que todos fiquem imunizados. A utilização de vacinas em peixes, já é uma realidade em vários países para enfermidades bacterianas e virais, sendo recente no Brasil. No país, há registro apenas de uma vacina comercial usada em tilápia do Nilo, espécie mais cultivada no país, a fim de controlar a Streptococcus agalactiae, importante bactéria causadora de severos prejuízos na tilapicultura. Entretanto, vale ressaltar que pesquisas realizadas por universidades brasileiras, de forma muito prematura, se esforçam em desenvolver uma vacina específica para a ictiofiríase, as quais apresentam respostas positivas quanto a imunização. No entanto, ainda são necessário ajustes às condições de vacinação, pois a temperatura e o tamanho dos peixes afeta significativamente sua eficácia. A vacina é uma necessidade no mercado aquícola uma vez que o combate à ictiofitiríase é pouco eficaz com a utilização de produtos preconizados, principalmente quando o problema é diagnosticado tardiamente. Além disso, muitos produtos químicos são utilizados pelos produtores, de forma descontrolada, com resultados ineficazes. Entretanto, a preparação de uma vacina para “ictio”, esbarra na dificuldade de se produzir antígenos em larga escala pelos métodos tradicionais, uma vez que os trofontes (forma matura do parasito no peixe) são parasitos obrigatórios e não se desenvolvem em meios de culturas convencionais, utilizados em condições laboratoriais. Uma alternativa é a produção de vacinas a partir da utilização

Figura 3. Método via oral, através da alimentação

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© Alex Augusto Gonçalves

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APLICAÇÃO DE SPRAYS DE OZÔNIO COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A QUALIDADE E SEGURANÇA MICROBIOLÓGICA DO PESCADO Severino Antonio Geraldo Neto1 & Alex Augusto Gonçalves2 Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCAN) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) - Mossoró – RN. 1 Doutorando em Ciência Animal – UFERSA - sneto27@yahoo.com.br 2 Professor Tecnologia, Inspeção e Controle de Qualidade do Pescado (PPGCA/ UFERSA), Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC/DCAN/UFERSA) – alaugo@gmail.com

ozônio (O ) é O uma forma alotrópica 3

instável do oxigênio (O2), caracteriza-se como um gás incolor de odor pungente, instável e parcialmente solúvel em água, que se destaca por seu elevado poder oxidante (KHADRE et al., 2001; GONÇALVES; KECHINSKI, 2010). É um forte agente desinfetante com ação sobre uma grande variedade de organismos patogênicos, incluindo bactérias, vírus e protozoários, apresentado uma eficiência germicida que excede ao cloro. Seu mecanismo de ação está relacionado à sua capacidade de criar um potencial de oxirredução incompatível com o metabolis-

mo microbiano, alterando a permeabilidade das membranas celulares e paralisando a atividade enzimática (GONÇALVES, 2016). Em 1982, o ozônio foi considerado como um produto seguro, General Recognized as Safe, (GRAS) para a esterilização de garrafas de água pela Food and Drug Administration (FDA), sendo que várias outras aplicações comerciais foram desenvolvidas, incluindo a desinfecção de água de piscina e o tratamento de águas residuais (GUZEL-SEYDIM et al., 2004a). Na década de 90, os Estados Unidos afirmaram o ozônio como uma substância GRAS

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para aplicação direta em produtos alimentícios, e a partir deste momento, houve um crescente interesse na aplicação de ozônio no processamento de alimentos (GRAHAM, 1997; GONÇALVES; KECHINSKI, 2010). A ozonização passou a ser utilizada no Brasil como alternativa aos métodos convencionais de pré-cloração e pré-aeração no tratamento de águas superficiais a partir de 1983. No processamento de alimentos, o ozônio vem ganhando espaço devido à sua elevada eficiência sanitizante e sua rápida degradação, não deixando resíduos nos alimentos, o que permite a ingestão 57


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de alimentos ozonizados sem riscos à saúde do consumidor (CHIATTONE et al., 2008). No Brasil, poucos resultados de pesquisas que têm sido realizadas com ozônio na área de alimentos estão sendo aplicadas industrialmente, em particular na indústria do pescado, sem mencionar que ainda não existe legislação específica que oriente aplicações nesta área. A utilização dessa tecnologia no pescado deve ser testada industrialmente, para que se possa contar com mais uma alternativa para a garantia da qualidade dos produtos por um longo período de estocagem e comercialização (GUZEL-SEYDIM et al., 2004b).

O ozônio

© Alex Augusto Gonçalves

O ozônio (O3) já está sendo utilizado internacionalmente na aquacultura (GONÇALVES; GAGNON, 2011) e na indústria de pescado (CRAPO et al., 2004; GONÇALVES; PAIVA, 2008; GONÇALVES, 2009; 2011; 2016), e tem-se demonstrado uma tecnologia limpa e promissora. O ozônio é um dos mais poderosos agentes oxidantes utilizados na indústria alimentícia, sob a forma gasosa ou aquosa para fins de saneamento. A solubilidade do ozônio depende da temperatura da água e da concentração de ozônio na fase gasosa. As propriedades de maior interesse do ozônio são a sua solubilidade em água e a sua estabilidade do meio gasoso, pois estas permitem a sua utilização como desinfetante (GÜZEL-SEYDIM, 2004). Na formação do ozônio (O3), o oxigênio (O2) molecular é dissociado e o oxigênio livre (O) resultante reage com um oxigênio diatômico (O2) para formar a molécula triatômica (O3) de ozônio (Figura 1). Os principais métodos para a síntese do ozônio consistem na exposição do O2 à descarga eletroquímica e pela luz ultravioleta a 185nm (TIWARE et al., 2010; GONÇALVES, 2016).

Figura 1. Esquema ilustrativo da formação do ozônio.

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O método de descarga eletroquímica, conhecido como efeito corona, é o mais utilizado, pois gera uma quantidade maior de ozônio com menor custo (KHADRE et al. 2001). No efeito corona, quando uma corrente alternada de alta voltagem é descarregada na presença de oxigênio é gerada o ozônio (GUZEL-SEYDIM et al., 2004). As vantagens da Descarga Corona são: altas concentrações de ozônio; melhor para aplicações em água; rápida remoção orgânica (odor); seu uso em equipamentos pode fazer a manutenção durar por longos períodos (GONÇALVES, 2009; 2016).

Na síntese de ozônio pelo método da luz ultravioleta, o processo é semelhante, sendo que aqui a fotodissociação do O2 ocorre devido ao efeito da baixa radiação ultravioleta, e o átomo de oxigênio (O) reage com o O2 para formar a molécula de ozônio O3 (KHADRE et al. 2001). As vantagens da luz UV são: construção simples, custo menor do que descarga de corona; saída duramente afetada pela umidade; menos subprodutos do que a descarga de corona (GONÇALVES, 2009; 2016).

Aplicação do ozônio no processamento do pescado

Figuras: © Alex Augusto Gonçalves

A água ozonizada para imersão e lavagem (spray) de filés de peixes ou camarões descascados mos trou uma redução eficaz da flora microbiológica e, simultaneamente, não teve nenhum efeito negativo sobre a qualidade do produto (OLIVEIRA et al., 2006; GELMAN et al., 2005).

Figura 2. Exemplos de aplicação de água ozonizada na lavagem do pescado após processsamento (spray ou por imersão)

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Muitas pesquisas vêm sendo realizadas sobre o uso do ozônio com o objetivo de aumentar a qualidade e segurança do pescado, levando-se em consideração que o ozônio é o agente antimicrobiano mais poderoso no mundo, podendo destruir até 99,9% dos pesticidas e microrganismos presentes nos alimentos, devido a sua alta capacidade de oxidação. Qualquer agente patogênico ou contaminante que puder ser desinfetado, removido ou alterado por meio de processos de oxidação será afetado pelo ozônio (DUGUET, 2004; RAKNESS, 2005; GONÇALVES, 2009). Para investigar a eficácia de novos mecanismos de aplicação do ozônio, estudos têm sido realizados, e dentre estes o seu uso em spray para aumentar a segurança microbiana com atributos químicos de qualidade de peixes de alto conteúdo lipídico. Segundo Crowe et al. (2012), sprays de ozônio aquoso em concentrações de até 1,5 ppm demonstraram ser eficazes na redução da contagem inicial de bactéria aeróbia e na redução significativa da contagem de L. innocua sem causar aumentos

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significativos nos níveis lipídicos de oxidação em viveiro de salmão do Atlântico realizada sob armazenamento refrigerado a 4°C. Entre os estudos que avaliam o papel do ozônio para melhoria da qualidade e segurança do pescado, a grande maioria tem utilizado técnicas de imersão com sucesso variável. Por exemplo, Manousaridis et al. (2005) relataram reduções microbianas significativas na contagem dos aeróbios totais (redução de até 2,1 log) juntamente com uma extensão de 35% em vida de prateleira de mexilhões imersos em 1 ppm de ozônio aquoso. nas instalações do processamento de pescado. Lavando o peixe in na“...O ozônio é o agente tura e os equipamentos com água antimicrobiano mais ozonizada, um número muito repoderoso no mundo, duzido de bactérias deteriorantes podendo destruir até pôde ser encontrado. O ozônio 99,9% dos pesticidas e pode estender a vida-de-prateleira microrganismos por um tempo maior quando compresentes nos parado com o lavado apenas com alimentos, devido a sua água clorada (GUZEL-SEYDIM et alta capacidade de al., 2004a,b). O mesmo foi verificaoxidação”. do por Campos et al. (2006), onde Por outro lado, outros au- tratou o linguado (Psetta maxima) tores recomendam o uso de ozônio com 40% de gelo e 60% de água para aumentar a vida-de-prate- ozonizada (0,2 ppm) e obteve um leira (shelf life) seja em água de aumento da estocagem do lingualavagem, ou na fabricação de do in natura por 14 dias (além de gelo em escamas ou gelo líqui- melhorar as qualidades sensoriais, do (GONÇALVES, 2016). Cam- microbiológicas e bioquímicas), pos et al. (2005) demonstraram enquanto que o armazenado sem que num sistema contendo 40% ozônio atingiu apenas cerca 7 dias. de gelo e 60% de água ozonizada Em contraste, Chen (2005) (0,17 ppm), as sardinhas alcançam que relatatou pequena redução uma vida-de-prateleira de 19 dias, microbiana (<Log 1,0) em caenquanto no sistema contendo marão inoculado com bactérias somente gelo, e outro com 40% de diferentes culturas após a exgelo e 60% água, as sardinhas posição a concentrações variadas obtiveram uma vida-de-prate- de ozônio (1,25 e 4,5 ppm). Entreleira de 8 e 15, respectivamente. tanto, na sua forma gasosa, a uma Nota-se que o ozônio reduz concentração de 0,1 ppm, o ozônio a população comum de bactérias AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016


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não foi efetivo na redução da contagem de Listeria innocua 2030c e bactérias mesófilas durante processo de defumação de salmão a frio (Vaz-Velho, 2006). A combinação do pré-tratamento com ozônio, com o armazenamento a 0°C parece ser um meio promissor para melhorar a vida-de-prateleira (GELMAN et al., 2005). O efeito do ozônio, em solução aquosa também foi estudado em trutas e mexilhões embalados a vácuo e armazenados refrigerados a 4°C. Onde foi observado que o produto teve uma vida de prateleira de 12 dias, em comparação com seis dias para as amostra não ozonizadas (NERANTZAKI et al, 2005; MANOUSARIDIS et al., 2005). No peixe fresco e molusco bivalve, a aplicação de ozônio elimina o cheiro característico que às vezes pode ser desagradável, dando um aspecto saudável para estes produtos. É aconselhável considerar que o ozônio, neste caso, não tem de ser usado para mascarar a baixa qualidade evitando, assim, a fraude econômica. Oliveira et al. (2006) estudaram a influência da ação do ozônio sobre a composição centesimal e perfil de ácidos graxos em filés de tilápia, e verificaram que houve preser-

vação dos componentes químicos ocorrendo apenas uma diminuição do teor de umidade do filé. Em outro estudo, Oliveira et al. (2007) avaliaram, in vitro, a atividade sanificante da água ozonizada e clorada associados ou não ao ultrassom, sobre filés de tilápia e verificaram que a água ozonizada associada ao ultrassom foi o método mais efetivo com padrões microbiológicos aceitáveis e com o retardo do processo deteriorativo (extensão da vida-de-prateleira). Chawla et al. (2007) demonstraram que durante as operações do processamento de descasque do camarão, o tratamento com água ozonizada apresentou uma nova oportunidade de melhorar a qualidade do produ-

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to pela redução da contaminação bacteriana. Pastoriza et al. (2008) compararam o novo processamento (água estéril e água ozonizada), com aqueles obtidos pelo método tradicional, que consiste em utilizar apenas a água do mar para a lavagem e fabricação de gelo. Os resultados obtidos com o estudo das variáveis microbiológicas, químicas e sensoriais indicaram uma maior estabilidade e qualidade do pescado, quando comparado com o método tradicional, quando o novo tratamento foi aplicado. O mesmo foi verificado com filés frescos de bacalhau, lavados com água ozonizada (CANTALEJO, 2007). © Alex Augusto Gonçalves

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Conclusões Todas as informações resumidas neste artigo demonstraram a surpreendente eficácia do ozônio, como um promissor agente de desinfecção de amplo espectro (ganhos significativos na vida-de-prateleira), que deve ser considerada como parte de qualquer protocolo de sanificação das empresas de alimentos. Observa-se que a eficácia do ozônio varia de acordo com o tempo de contato e sua concentração, as condições do meio (tipo de alimento, quantidade de matéria orgânica, pH, temperatura), dentre outros, o que demonstra que novos estudos nesse campo de pesquisa ainda se fazem necessários para que se tenha um efetivo conhecimento das potencialidades do ozônio, benefícios e melhores formas de aplicação tecnológica. A tecnologia do ozônio, como uma tecnologia limpa e emergente, é uma nova oportunidade de garantir a qualidade e vida-de-prateleira dos alimentos, porém, não existe um substituto para os princípios básicos da manipulação correta e cuidadosa do produto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

Consulte as demais referencias em: www.aquaculturebrasil.com/artigos

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ARITA, M.; NAGAYOSHI, M.; FUKUIZUMI, T.; OKINAGA, T.; MASUMI, S.; MORIKAWA, M. Microbicidal efficacy of ozonated water against Candida albicans adhering to acrylic denture plates. Oral Microbiology & Immunology, 20(4): 206210, 2005. BUCHAN, K.A.H.; MARTIN-ROBICHAUD, D.J.; BENFEY, T.J. Measurement of dissolved ozone in sea water: A comparison of methods. Aquacultural Engineering, 33(3): 225-231, 2005. CAMPOS, C.A.; LOSADA, V.; RODRÍGUEZ, O.; AUBOURG, S.P.; BARROS-VELÁZQUEZ, J. Evaluation of an ozone–slurry ice combined refrigeration system for the storage of farmed turbot (Psetta maxima). Food Chemistry, 97: 223-230, 2006. CAMPOS, C.A.; RODRÍGUEZ, O.; LOSADA, V.; AUBOURG, S.P.; BARROS-VELÁZQUEZ, J. Effects of storage in ozonized slurry ice on the sensory and microbial quality of sardine (Sardina pilchardus). International Journal of Food Microbiology, 103(2): 121-30, 2005. CANTALEJO, M.J. Effect of gaseous ozone on quality and shelf-life of fresh cod (Gadus morhua). IOA Conference and Exhibition, Valencia, Spain, n 4.3, p. 1-7, 2007. CELIBERTI, P.; PAZERA, P.; LUSSI, A. The impact of ozone treatment on enamel physical properties. American Journal of Dentistry, 19: 67-72, 2006. CHAWLA, A.; BELL, J.W.; MARLENE, E.J. Optimization of Ozonated Water Treatment of Wild-Caught and Mechanically Peeled Shrimp Meat. Journal of Aquatic Food Product Technology, 16(2): 41-56, 2007. CHAWLA, A.; J.W. BELL; M.E. JANES; C. POLLET. Development of a Process to Measure Ozone Concentration in Processing Water at the Point of Product Application. Ozone: Science & Engineering, 28(3): 171-175, 2006. CHEN, Z.; D.R. GALLIE. Increasing Tolerance to Ozone by Elevating Foliar Ascorbic Acid Confers Greater Protection against Ozone Than Increasing Avoidance. Plant Physiol., 138(3): 1673-1689, 2005. CHIATTONE, P. Ozônio e ácido ascórbico na coloração e microbiota da carne bovina maturada. 2006. 51f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Agroindustrial) – Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. CRAPO, CH., HIMELBLOOM, B., VITT, S., & PEDERSEN, L. Ozone efficacy as a bactericide in seafood processing. Journal of Aquatic Food Product Technology, 13, 111–123, 2004.


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Artigos

pa r a c u r t i r e c o m pa r t i l h a r

A quaculture environment interactions : P ast , present and likely future trends

De autoria de Peter Edwards, pesquisador do Asian Institute of Technology da Tailândia, o presente artigo foi publicado em 1º de outubro de 2015, na revista “Aquaculture”. Três questões principais são abordadas pelo autor: o que aconteceu no passado, quais são as tendências de hoje e o que o futuro reserva para a aquicultura. O artigo apresenta três boxes sintetizando informações e reflexões acerca do tema, de leitura obrigatória, como o “Box 3”, transcrito a seguir.

O

futuro da

aquicultura está nos oceanos

Parece escandaloso sugerir que os oceanos poderão um dia produzir uma maior proporção de alimentos consumidos pelo homem do que se é cultivado na terra (Brittain, 1952); Estamos entrando em uma nova era – a “era da maricultura”. Com a expansão da população mundial, os cultivos na terra serão cada vez menos capazes de satisfazer a crescente demanda por alimento (Bente, 1970); Os oceanos constituirão a próxima revolução alimentar da história humana (Duarte et al., 2009); Na verdade, com a produção terrestre alcançando os seus limites, o oceano é a opção final (Greenberg, 2010); Os especialistas concordam que a maior porção da expansão da aquicultura futura ocorrerá nos mares e oceanos, certamente mais afastados da costa, talvez tão longe quanto o alto mar (FAO, 2010); Os peixes de água doce irão se tornar cada vez mais escassos nas próximas décadas. Podemos esperar, e de fato deve-se promover, uma significativa mudança das fazendas para os oceanos e mares (Sorgeloos, 2013). Os oceanos... são o segredo para a criação de alimento e segurança alimentar para que a população humana continue a crescer (Palmer, 2014).

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C

h a r g e s

Classificação de peixes

Aproveitamento integral do pescado?

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G r e e n Te c h n o l o g i e s “Decoupled Aquaponic systems”: individualizando o que é integrado?

Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano - UDESC, Laguna, SC mauricioemerenciano@hotmail.com

com imensa alegria que a coluna “Green Technologies” aborda uma inovação em relação Esta remineralização (aeróbica, anaeróbica aos sistemas aquapônicos. Mas afinal, o que são ou ambas) pode ser contínua e dosada, com o efluos “Decoupled Aquaponic Systems”? Quais seriam as ente gerado (agora com nutrientes remineralizados) vantagens e desvantagens, e por que este modelo pode direcionado às bancadas hidropônicas. Em outras se tornar uma nova tendência? A resposta por incrível palavras: uso máximo de nutrientes! Levando em que pareça é simples: máxima eficiência e melhor consideração que em média os peixes aproveitam soambiência aos organismos cultivados, individualizan- mente de 30-40% dos nutrientes ingeridos da ração, do os compartimentos produtivos quando necessário! este lodo residual é uma fonte extra de elementos as Isso possibilita garantir condições físi- similáveis para as plantas. Mas para que isso ocorra co-químicas da água ideais para os compartimentos é necessário um tratamento prévio. Aí entra a ação dos peixes e das plande microrganismos degratas. Ao individualizar dando de maneira aeróbica os compartimentos, e/ou anaeróbica os resídupossibilita-se, por os da produção aquícola. A exemplo, restabelecer fração líquida é direcionaníveis de nitrito para da para as plantas e a fração os peixes, de nitrasólida pode ser novamente to para as plantas, tratada. e assim por diante. Como nem tudo são Ou até mesmo, caso “flores” a grande desvannecessário, supletagem do sistema é a aquimentar ou realizar sição de novos equipamenum tratamento pretos, além da necessidade ventivo em alguns de um conhecimento mais Figura 1. Decoupled Aquaponic Systems utilizado na Eslovênia dos compartimenaprofundado em engen© Maurício Emerenciano tos, isolando-os e sem haria aquícola, visando um comprometer a saúde de plantas ou peixes. Neste correto dimensionamento dos fluxos, do balanço de sistema, se desejado, é possível ter um cultivo de peixe massas e nutrientes. Na Europa e nos Estados Unidos em sistema de recirculação (ou “RAS” na sua sigla em alguns projetos comerciais já adotam o Decoupled inglês) isolado e ainda uma hidroponia clássica (uti- Aquaponic Systems e alguns dados preliminares aponlizando soluções nutritivas hidropônicas) de maneira tam uma melhoria no crescimento das plantas na orindependente. dem de 10-20%. Além disso, como dizem os especialis A grande inovação é a incorporação de um ter- tas: “plantas mais nutridas, são plantas mais saudáveis”! ceiro compartimento responsável pela mineralização Uma correta nutrição das plantas é um importante do “sludge” (famoso “lodo” oriundo de filtros pré-requisito para enfrentar as pragas que atormenmecânicos acoplados a produção de peixes tais como tam a produção dos vegetais. Mas este tema e outros sedimentadores e/ou filtros tipo “drum”). serão “cenas do próximo capítulo” da nossa coluna.

É

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Empreendedorismo Aquícola Potencial temos sobrando! André Camargo Escama Forte andre@escamaforte.com.br

E mpreendedorismo é a iniciativa

de se criar novas oportunidades de negócio, sendo assim a base para empreender sustentada na boa ideia e na coragem de implementá-la. Novas empresas favorecem o empreendedorismo, mas grandes ideias foram responsáveis por transformar pequenos negócios ao redor do mundo nas maiores empresas do planeta. A Aquicultura no Brasil atrai muito os empreendedores devido à paixão do brasileiro pelo pescado e nos últimos anos por nosso setor apresentar ótimas condições como futura fonte de renda. Essas condições favoráveis levam então ao empreendedorismo aquícola, que guarda surpresas àqueles que não estudaram o setor e não se prepararam para o que vem a seguir. No mundo dos negócios a matemática é uma das ferramentas mais importantes e pode ser utilizada para avaliar, fazer e refazer as contas daquilo que sempre é o objetivo, ou seja, o lucro. Na aquicultura brasileira possuímos algumas variáveis que ao mesmo tempo que dificultam um pouco o uso da matemática, tornam o setor ainda mais atrativo e apaixonante. Seria um erro dizer que o maior PIB de carnes do mundo pode ser um desastre quando falamos de Brasil, trata-se do país com maior potencial hídrico do planeta, falamos do celeiro do mundo e temos vocação para o agronegócio mas, conhecendo o setor podemos avaliar que as chances de grande sucesso são as mesmas do fatal fracasso. Isso porque estamos tratando de um setor que mesmo não sendo novo, está em formação e apresenta diver-

sos problemas em relação ao cenário geral do país. A aquicultura brasileira passa hoje pela formação de seu arcabouço legal e, portanto, apresenta dificuldades do ponto de vista de regularização, tributos, cadeia de suprimentos, etc. Além disso, nossos consumidores sequer nos conhecem como deveriam e de forma errônea ainda nos chamam de “pesca” e assim deixam de conhecer nossos maiores diferenciais.

É sábio então dizer que empreendedorismo aquícola mistura o que temos de melhor no ser humano: senso de oportunidade, paixão e arrojo, trazendo ao empreendedor um sentimento inigualável quando seu negócio vai em frente e alcança os objetivos projetados. Portanto, como matemática não inclui os riscos e as oportunidades, o empreendedorismo aquícola se configura hoje como umas das sensações brasileiras no mundo dos negócios e pode nos levar a sermos um dos maiores e mais importantes produtores de pescado do planeta, com sustentabilidade nunca antes vista. Bons negócios a todos!

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IÇÃO R T U N

Verão: Será que seu peixe necessita um alimento diferenciado?

Dr. Ar tur Nishioka Rombenso

Laboratório de Nutrição, Instituto de Oceanografia, Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México. arturnr@yahoo.com.br

meus artigos anteriores N os mencionei inúmeras vezes a

importância de fornecermos um alimento adequado para atender as exigências e as demandas nutricionais dos organismos aquáticos em questão. Nesse sentido, o que vem de imediato em nossa mente é o fornecimento de uma ração para cada fase: berçário, pré-engorda, engorda e pré-despesca. Mas será que outros fatores, como por exemplo a variação de temperatura da água ao longo das estações do ano, têm influência nas

Figura 1. Linguado Sole Europeu

exigências nutricionais a ponto de se desenvolver uma dieta específica? Para responder a essa e outras questões o Dr. Fernando Norambuena (atualmente pesquisador sênior da empresa Biomar) realizou uma série de experimentos com diferentes espécies de peixes incluindo a Truta Arco-Íris, o Salmão do Atlântico e o Linguado Sole Europeu (Figura 1). Uma de suas pesquisas com reprodutores do Linguado Sole Europeu consistiu em utilizar um alimentador automático por demanda, ou seja, um alimentador automático que é acionado pelo próprio peixe quando necessita alimento (Figuras 2 e 3). Mais especificamente, esse sistema possui três partes: 1 alimentador automático por demanda; de atividade de deman2 registro da; para armazenar 3 computador todas as informações (Figura 4) Para melhor desempenho nesse tipo de sistema é necessário um “treinamento” para que os peixes se acostumem e entendam a necessidade de acionar o alimentador para obter alimento. Uma vez acostumados, não se observam problemas relacionados a falta de alimento, saúde e crescimento dos peixes.

Figura 2. Alimentador automático por demanda.

68© Fernando Norambuena

Nesse mesmo estudo, foram analisadas duas dietas com diferentes níveis de ácido araquidônico (ARA – 20:4n-6): dieta A – rica em ARA e dieta B – pobre em ARA. As duas dietas foram colocadas em dois alimentadores automáticos independentes e cada tanque possuía dois alimentadores com as duas dietas. Para evitar resultados tendenciosos, a posição dos alimentadores foi modificada seis vezes durante o experimento. No final de 70 semanas, observou-se que ao longo do ano a preferência por ARA estava relacionada à variação de temperatura da água (Figura 1). Os peixes preferiram a dieta A (rica em ARA) nos meses de verão e início de outono, enquanto que a dieta B (pobre em ARA) foi mais consumida nos meses de inverno. Esse resultado é bastante interessante em diversos aspectos. Primeiramente pelo fato do organismo ter a habilidade de escolher a melhor dieta segundo suas preferências e necessidades fisiológicas. Em segundo lugar, pelo fato do peixe exigir mais ARA no verão do que no inverno. O ARA é um ácido graxo poliinsaturado de cadeia longa (LC-PUFA, do inglês long-chain polyunsaturated fatty acid) bastante importante fisiologicamente, participando de maneira ativa em processos como crescimento, sobrevivência, resistência ao estresse e reprodução. Além disso, esse estudo mostra a relevância que ape-

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muitas vezes associadas ao aquecimento global. O intuito desse artigo foi levar um assunto novo e interessante para o conhecimento de todos e também mostrar uma das novas frentes para a nutrição aquícola. Através desse tipo de sistema (alimentador automático por demanda) é possível obter dados, informações e conhecimento nunca pensados, pois quem melhor do que o próprio orFigura 3. Sistema do alimentador automático por demanda, ganismo para nos indicar sua preferência nutriem que os peixes o acionam para se alimentar. cional? Além disso, essa linha de pesquisa pode ser expandida para outros organismos aquáticos nas um nutriente (nesse caso o ácido graxo ARA) e esses resultados podem ser também interessantes pode ter para a nutrição geral do peixe e a sutileza do ponto de vista ecológico, comportamental, fido organismo em selecionar dietas idênticas que sosiológico, produtivo, nutricional, entre outros. mente se diferenciam pelo nível desse ácido graxo. Por fim, é necessário termos um melhor entendimento sobre as preferências nutricionais das espécies em função da temperatura da água, pois as mudanças climáticas estão cada vez mais bruscas e aleatórias, sendo

Figura 5. Seleção das dietas (A – rica em ARA, pontos pretos; B – pobre em ARA, pontos brancos) de acordo com as preferências nutricionais e fisiológicas de reprodutores de Linguado Sole Europeu durante 70 semanas. As setas representam as trocas de dietas e posição dos alimentadores automáticos. Fonte: Norambuena et al. 2013.

Figura 4. Ilustração do sistema do alimentador automático por demanda. Fonte: Norambuena et al., 2013.

Referências bibliográficas: Norambuena, F., Estévez, A., Sánchez-Vásquez, F.J., Carazo, I., Duncan, N. Self-selection of diets with different contents of arachidonic acid by Senegalese sole (Solea senegalensis) broodstock. Aquaculture, 364-365:198-205. Norambuena, F., Morais, S., Emery, J.A., Turchini, G.M. 2015. Arachidonic acid and eicosapentaenoic acid metabolism in juvenile Atlantic Salmon as affected by water temperature. Plos One 10(11):e0143622.

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Ambiência na Aquicultura

Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.; pesquisador científico da Apta - UPD Pirassununga, SP. e-mail: sussel@apta.sp.gov.br

P

roduzir mais, sem abrir novas áreas e com respeito ao meio ambiente. Eis o desafio de todas as cadeias produtivas imbuídas da nobre missão de alimentar uma população mundial crescente. Tarefa nada fácil para um setor que é pouco reconhecido pela sua importância e que, portanto, pouco contemplado por políticas públicas. Na caso da aquicultura, a sensação é que as cobranças para uma produção sustentável são ainda maiores. E não há dúvidas que é isto que todos os envolvidos desejam, pois, é justamente o setor que mais depende de um ambiente equilibrado. Acontece que muitas vezes estas cobranças soam como injustas, implicando em certo desânimo.

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Por outro lado, é extremamente empolgante saber que a produção de organismos aquáticos é a atividade que mais tem condições de atender as exigências modernas de se produzir alimentos. Seja em quantidade ou qualidade. No aspecto de quantidade, praticamente todos os solos agricultáveis do mundo já estão ocupados. Enquanto que no caso dos organismos aquáticos, ainda temos muitos ambientes aquáticos, seja água doce ou salgada, para explorar. Sem contar que já dispomos de tecnologia até mesmo para produzir em águas salobras de poços. Mas é no aspecto de qualidade que vislumbra-se as características mais animadoras. Não há dúvidas que a aquicultura reúne condições para ser a proteína (seja animal ou vegetal) mais sustentável.

Estou me referindo à capacidade que o aquanegócio tem de produzir alimentos deixando um mínimo de residual para o ambiente, já que estamos descobrindo alternativas de como colocar o próprio ambiente para trabalhar a favor da produção de organismos aquáticos. E isto partindo de uma premissa bem básica e em concordância com as exigências da sociedade moderna: CRIAMOS ÁGUA, NÃO PEIXE!!! E lógico, isto vale para crustáceos, moluscos, anfíbios, algas e etc. E já temos aquicultores brasileiros, sejam tilapicultores no sul, carcinicultores no nordeste e de peixes nativos no norte / centro oeste, produzindo com esta mentalidade, com este objetivo. E aí temos observado piscicultura intensiva devolvendo água com características melhores que a cap-

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© Fábio Sussel


tação, e carciniculturas em sistemas super-intensivos sem qualquer descarte de água para o ambiente (a água que sai dos viveiros de cultivo vai para lagoas de decantação e depois volta para os viveiros de produção, onde a captação de água nova é apenas para compensar o perdido por evaporação ou infiltração no solo). Mas como isto é possível? Em linhas gerais, colocando as características naturais do ambiente aquático para trabalhar a favor da produção de alimentos. Um conceito que vem sendo denominado de “ecologia produtiva”. Sim, é possível potencializar as características naturais dos ambientes aquáticos e torná-los mais produtivos. Basicamente, inserindo e estimulando a proliferação de bactérias benéficas (probióticos) e fornecimento contínuo de oxigênio. No caso do oxigênio, a preocupação vai muito além se o mesmo encontra-se adequado para os peixes ou camarões junto à comporta de drenagem. Preconiza-se que o oxigênio esteja adequado para as bactérias benéficas que encontram-se por todo o

“Não há dúvidas que a aquicultura reúne condições para ser a proteína (seja animal ou vegetal) mais sustentável.”

© Fábio Sussel

ATUALIDADES & TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA

viveiro, especialmente no fundo, na interface solo-água. Algo simples e que há muito tempo é estudado, só que agora sim encontrando o adequado equilíbrio, tornando o próprio ambiente de produção o maior aliado do aquicultor. Sendo possível inclusive escutar relatos do tipo: “Se tenho uma água rica em nutrientes, porque vou descartá-la?” Atualmente, já dispomos de empresas que realizam à identificação, seleção e multiplicação destes microrganismos benéficos. E fornecem um produto comercial que já contém o “blend”, ou seja, uma mistura de bactérias benéficas, além de alguns minerais e outros bio-fertilizantes. Então, utilizando-se de uma biotecnologia natural, ou seja, microrganismos não patogênicos, não oportunistas e

não modificados geneticamente, é possível aumentar a carga destes seres vivos benéficos no viveiro de produção. Teoricamente, quanto mais nutrientes na água, maior a proliferação destes microrganismos benéficos, desde que o oxigênio esteja em níveis adequados e as oscilações de temperatura sejam as mínimas possíveis. Consequentemente, mais alimentos, em menores áreas e mais respeito ao meio ambiente! Ou seja, o que um dia foi desafio hoje se mostra como oportunidade. Sem contar que ainda há os aspectos de menor exigência energética para mantença, maior eficiência nutricional, entre outros... Enfim, só depende de nós... sem perder o foco: “CRIAMOS ÁGUA, NÃO PEIXE”

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A h i s tó r i a d a P R I L A BS A , u m a e m p r e s a Dr. Rodolfo Luís Petersen - Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontal, PR. rodolfopetersen@hotmail.com A PRILABSA BR Ltda é uma empresa transnacional dedicada a comercialização de dietas alimentícias e equipamentos para a carcinicultura. Fundada no ano de 1992, iniciou suas operações no Equador importando inicialmente cistos de artemia salina do Grande Lago Salgado (Salt Lake City, Utah/EUA). Anos depois, em 1997, incluiu na sua distribuição as dietas micronizadas para larvicultura e berçários de duas grandes empresas americanas: ZEIGLER BROS e MACKAY MARINE, reconhecidas mundialmente pela qualidade dos seus produtos para alimentação animal. Em todas as décadas desde sua implantação a PRILABSA vem satisfazendo as necessidades dos laboratórios de produção de larvas de camarão e de alevinos de peixes graças ao real conhecimento do meio ambiente. Em 2002 abriu sua primeira filial fora do Equador, na Florida/EUA, e em 2003 abriu a segunda filial, em Natal – Rio Grande do Norte, estado que na época era o maior produtor de pós-larvas de camarão.

Um dos aspectos que tornam a PRILABSA uma empresa diferenciada, está a cooperação acadêmico-científica com universidades equatorianas para desenvolvimento de produtos e testes pilotos em pequena escala. Além disso, outro aspecto que merece destaque é o fato de possuir empresas colaterais em várias regiões do continente, principalmente no Equador, com área de berçários e milhares de hectares de engorda. Antes de assumir a representação de determinado produto, a PRILABSA faz provas em condições comerciais nas suas próprias empresas. Atualmente a PRILABSA tem expandido seus limites latinos abrindo filiais também em Honduras e Nicarágua, cobrindo as principais regiões de cultivo de camarão das Américas. Recentemente inaugurou sua nova filial em Aracati (CE), comprometendo-se no continuo investimento em infraestrutura, visando o aperfeiçoamento de seus produtos e serviços.

“Não somos só uma empresa distribuidora de ração, somos mais do que isso. Temos a consciência clara de que o sucesso do carcinicultor e do piscicultor depende de vários fatores, um deles é a qualidade na nutrição dos animais. Por isso nosso compromisso de nutrir com alta qualidade” disse Pablo Roberto Paez, gerente da PRILABSA BR. 72

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Aquicultura Latino-americana co m s e l o L a t i n o - a m e r i c a n o .

Pablo, te conheço desde o início da PRILABSA quando trabalhava na AQUATEC e nos encontramos em Natal no ano 2003. Gostaria que nos respondesse algumas perguntas.

Q ue me d i d as a P R I L ABS A es tá projetand o e pla n ej a n d o co m o a van ço d o Ví r u s d a S í n dro m e d a M an ch a Branca ( WSS V ) n o B ra sil ? Hoje em dia tem muitos países que já produzem com o vírus WSSV. O Brasil será um deles. Você pode ter certeza. Estamos planejando convidar produtores de outros países que já convivem e produzem com o vírus da mancha branca para intercâmbio de experiências aqui no Brasil. Além disso estamos registrando novos produtos como probióticos, vitaminas, etc.

Você acre d i ta n a to le râ n c i a do cam arão e q ua to r i a n o o u a c ha q u e o siste ma e o m a n ej o ge ra l dos c ul ti vos p rat i ca d os n o E qu a d or sã o se us d ife ren c i a i s? Eu acredito que são as duas coisas. Atualmente, o camarão equatoriano, depois de 18 anos em que chegou a mancha branca (1998), é geneticamente mais tolerante e essa tolerância veio acompanhada de bom manejo

no cultivo de camarão. Em que sentido? Conhecimento e cuidado com a qualidade de água, tratamento de solos, boa nutrição e uso de probióticos em grande escala.

U m dos in s u mos de maio r co mercial ização pel a s u a emp re sa é a ar temia. In depen den teme nte da po rcen tagem de ecl os ão, d o q u e depen de s u a q u al idade? A artemia segue sendo um aporte muito importante na nutrição da pós-larva. A qualidade da mesma depende exclusivamente das condições climáticas do seu local de extração. No nosso caso, do Grande Lago Salgado, em Utah.

Po rq u e a PR IL A BSA n ão in ves t iu n a Á s ia co m o mercado abs u rdo q u e isso repres en ta? Eu pessoalmente sou apaixonado pela América e pelo continente americano todo. Por enquanto temos certeza do crescimento e sucesso do cultivo de camarão aqui. Já temos planejado para o ano 2018 abrir uma filial no Panamá. Somo uma empresa latino-americana apaixonada por nosso continente. Ainda não pensamos na Ásia. Ainda ...

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Recirculating Aquaculture Systems

Filtros Biológicos Dr. Marcelo Shei - Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos. Santos, SP. shei@altamar.com.br www.altamar.com.br Em um ambiente fechado, toda a amônia (NH3) proveniente dos restos da alimentação e do metabolismo dos animais passa a se acumular. Esse composto é tóxico e pode ser letal para espécies mais sensíveis em concentrações de 0,5 mg/L. Devido a esse acúmulo constante, a filtração biológica é um dos pilares dos sistemas de recirculação de água (RAS). Na maioria dos RAS, esse processo ocorre em duas fases: mineralização e nitrificação. Na fase de mineralização, ocorre a decomposição da matéria orgânica imobilizada, composta basicamente pelas fezes e resto de alimento não consumido. Nesse processo, a matéria orgânica é degradada por bactérias heterotróficas em formas menos complexas, resultando basicamente em nitrogênio e fósforo inorgânico. Como os vegetais só conseguem consumir o nitrogênio inorgânico, esse processo também é de grande importância para sistemas de Aquaponia. A nitrificação é o processo mais conhecido e mais importante na filtração biológica. Nele, toda a amônia tóxica que se acumula na água, é consumida e oxidada por bactérias para compostos nitrogenados menos nocivos em duas etapas. Na primeira, bactérias Nitrosomonas e Nitrosococcus convertem o NH3, o composto nitrogenado mais tóxico, para nitrito ( N O 2) . Na segunda etapa, o NO2, é processado 74

por bactérias Nitrobacter para nitrato (NO3). O NO3 é a forma final e menos tóxica do processo de nitrificação, sendo geralmente bem tolerado pelos animais. Alguns sistemas mais exigentes, ou com pouca capacidade de trocas de água, passam a incluir também a remoção do nitrato pelo processo de denitrificação, que será abordado especificamente em outra oportunidade. Para a nitrificação ocorrer, é necessário disponibilizar um substrato para fixação das bactérias e condições ambientais favoráveis para a formação de um biofilme. Quanto as condições, destacam-se: a manutenção da concentração de oxigênio dissolvido > 4,5 mg/L. Nesse processo, uma grande quantidade de alcalinidade é consumida pelas bactérias, demandando atenção e reposição de carbonatos. A temperatura também influencia a capacidade das bactérias em consumir esses compostos, onde temperaturas elevadas possuem maior eficiência em relação à temperaturas mais baixas. Quanto ao substrato, atualmente existe uma diversidade considerável de opções de mídias disponíveis específicas para esse uso. Elas diferem basicamente no tipo de material e também na superfície específica, de modo a permitir abrigar uma grande quantidade de bactérias em um menor volume. A escolha do material e método de instalação precisa levar em consideração a carga de nitrogenados que precisa ser processada diariamente, a estrutura disponível e que tipo de manutenção se adequa a sua operação.

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BIOTECNOLOGIA DE ALGAS

Microalgas e a produção de biocombustíveis: si tuação atual

Dr. Rober to Bia nchini Derner - rober to.derner@ufsc.br

Laboratório de Cultivo de Algas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC. A crescente demanda mundial por energia, aliada à dependência do petróleo para a produção de combustíveis, tem levado muitos países a investir na busca por novas matrizes energéticas, preferencialmente a partir de fontes renováveis. Baseado nesse cenário, as microalgas têm sido propostas como uma potencial alternativa para a produção de biocombustíveis, sendo que, isto envolve três vias gerais: a produção direta nas culturas de moléculas combustíveis recuperáveis (bioetanol, biometanol e biohidrogênio, por exemplo) sem a necessidade de separação e da extração dos produtos da biomassa; o processamento da biomassa integral (combustão, gaseificação ou fermentação); a extração de compostos da biomassa (lipídios e carboidratos) seguida da conversão em combustíveis (biodiesel, bioetanol, bioquerosene, dentre outros). A última via é a mais comum, ou seja, a produção de biodiesel a partir da fração lipídica da biomassa de microalgas (matéria-prima) é o processo mais frequentemente estudado. Podem ser apresenta-

das muitas vantagens decorrentes da produção de biodiesel a partir de culturas de microalgas, que incluem o rápido crescimento, a elevada produtividade em biomassa e o alto teor lipídico de algumas cepas, assim, o cultivo pode ser implantado em áreas menores (em terras inférteis), além de poder utilizar águas impróprias para a agricultura, como água do mar, salobra e residual (efluentes municipais e de determinados processos de produção industrial). É fato que na literatura são encontradas estimativas que apontam para uma produtividade em biomassa muito superior àquela verificada nas culturas das oleaginosas (soja, palma, etc.), sendo que, isto implica em produtividade em biodiesel igualmente elevada (150.000 L/ ha/ano, por exemplo). Entretanto, cabe esclarecer que estes volumes são apresentados com base em extrapolações de dados de produção obtidos em cultivos desenvolvidos em laboratório e/ou em pequena escala. Apesar do potencial, o uso das microalgas como fonte de matéria-prima graxa para a produção de biodiesel em nível industrial ainda requer o desenvolvimento de muitas pesquisas, a fim de identificar e dirimir diversos gargalos tecnológicos, particularmente considerando: 1 – a diversidade biológi-

© Roberto Derner

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ca das microalgas (das centenas de milhares de espécies somente algumas têm características adequadas para cultivos em grande escala); 2 - os tipos de cultivo (autotrófico, heterotrófico, mixotrófico e fotoheterotrófico); 3- os sistemas de produção (abertos, fechados, de elevada produtividade); 4- os fatores que influenciam a biossíntese/acumulação dos lipídios de interesse (estresses); 5- os métodos de separação da biomassa do meio de cultura (floculação, centrifugação etc.); 6- as técnicas de extração do óleo e síntese do biodiesel; 7- os custos de produção, que poderão ser contrabalançados pelo emprego de resíduos contendo nutrientes (tratamento de efluentes da aquicultura, CO2, por exemplo), - coprocessos, bem como, a utilização da biomassa resultante do processo para distintas finalidades (alimento animal, biofertilizantes, extração de biopolímeros, pigmentos etc.) - coprodutos. Para concluir, é possível afirmar que ainda não existe um pacote tecnológico (industrial) para a produção de biodiesel a partir da biomassa de microalgas, contudo, em muitos países – incluindo o Brasil – grandes corporações e muitas instituições governamentais têm investido recursos buscando equacionar este processo através de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica, assim, segue a batalha... 75


Aquicultura de Precisão A obtenção de informações

Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br

mais esta nova coluna sobre aquicultura de E mprecisão acho oportuno lembrarmos de um

Escrituração Zootécnica consiste no registro pequeno detalhe que normalmente nos passa des- de todos os parâmetros produtivos que acontecem percebido. Quem faz anotações sobre o que acontece em um empreendimento aquícola. Densidades utino dia a dia de nossos empreendimentos de aquicul- lizadas, quantidade de ração fornecida, produção tura? E como planejar o futuro se não conhecemos alcançada, valores obtidos para qualidade de água, o passado? Tenho certeza que já deve ter leitor fa- custo dos insumos, sobrevivência, preço de venda, lando “eu sempre fiz minhas anotações”. Tudo bem, entre outros. De posse destes dados, adequadamente mas será que elas estão organizadas e tem permitido organizados, é possível gerenciar um empreendimeno acompanhamento dos cultivos? Pensando nisto, to, tomando as decisões corretas. Ao longo do tempo nosso tema desestes dados perta vez será sobre mitem que se alimentação. Não conheça profuna alimentação de damente o renossos organissultado dos culmos aquáticos tivos, permitindo (para isto já teque melhorias mos colunistas sejam implemenmuito bons!), tadas de maneira mas sobre como cirúrgica e não baalimentar os seadas na emoção dados de nosou no momento sa aquicultude algum problera de precisão. ma. Ao longo do Lembrando tempo isto faz a de minha fordiferença entre os mação como empreendimentos Zootecnista ou- © Fonte: www.lbaaf.co.nz que “dão certo” via os professores falarem da Escrituração Zootécnica dos que “ficam pelo caminho”... e de como isto era vital para gerenciar um empreendimento. Lembro também de minhas primeiras ten- Existem várias maneiras de se fazer isto. Utitativas em operar softwares de gerenciamento e ouvir lização de uma simples planilha de Excel ou comdos programadores que nenhum programa serviria plexos programas de gerenciamento. Alguns foram se não fosse “alimentado”... desenvolvidos especificamente para a aquicultura. Alguns podem ser obtidos gratuitamente, outros po dem custar bem caro, mas já aviso que valem cada centavo. Permitem que se gere relatórios que apontam exatamente os pontos fortes e fracos do cultivo. Permitem saber, quase que instantaneamente, quan to estamos gastando para produzir e em função do preço de comercialização, qual será nossa margem de lucro. Com mais esta ferramenta incorporada em nosso dia a dia, nossos empreendimentos irão se beneficiar e fazer parte do seleto time dos aquicul tores de precisão. Você já fez suas anotações hoje? © Giovanni Lemos de Mello

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Piscicultura Marinha COMO IMPULSIONAR O DESENVOLVIMENTO DA PISCICULTURA MARINHA NO BRASIL? Dr. Ricardo Vieira Rodrigues - vr.ricardo@gmail.com Universidade Nilton Lins - Programa de Pós-graduação em Aquicultura

edição meu objetivo é comentar alguns N essa aspectos que devem ser trabalhados para o

desenvolvimento da piscicultura marinha no Brasil. Dentre as dificuldades do desenvolvimento da atividade posso citar a ausência de instituições de ensino devidamente equipadas. Atualmente no Brasil existem pouquíssimas instituições de ensino que possuem setores que abordam a atividade de uma forma ampla, com setores para reprodução, larvicultura, alevinagem/engorda e sanidade de peixes marinhos. O aspecto positivo é que durante o período em que tivemos o Ministério da Pesca e Aquicultura algumas universidades foram modernizadas e novas instituições passaram a ter um setor de piscicultura marinha. O reflexo da carência de instituições de ensino com um setor de piscicultura marinha é a ausência de profissionais devidamente qualificados para o desenvolvimento da atividade. Me atrevo a dizer que atualmente no Brasil, não existem 10 profissionais devidamente qualificados para serem possíveis “gerentes” (pessoa com conhecimento desde a produção de alimento vivo de qualidade até o envio do juvenil para engorda) de um laboratório de produção de juvenis de peixes marinhos no Brasil. Em minha opinião também falta uma continuidade no desenvolvimento do pacote tecnológico de uma determinada espécie. Essa “falta de foco” vem desde as políticas públicas no setor que mudam rapidamente, até mesmo do trabalho dos próprios pesquisadores, que muitas vezes devido a necessidade de publicarem artigos científicos focam em muitas espécies, ou até mesmo pela falta de financiamento adequado para o desenvolvimento de um pacote completo. Nesse sentido eu também acho importante uma maior aproximação do setor produtivo com os centros de pesquisa e desenvolvimento, que as vezes não se conversam como deveriam.

A carência de dietas adequadas aos peixes marinhos também é um problema atual. A farinha e o óleo de peixe fabricados no Brasil não possuem em sua grande maioria qualidade adequada, principalmente em ácidos graxos altamente insaturados (n-3 HUFA) e alguns aminoácidos essenciais. Desta forma, a importação desses produtos além de onerar em muito o preço da ração, gera uma variação na qualidade da ração. Esse aspecto tem sido bastante discutido entre a academia e as indústrias de ração e passos positivos têm sido dados para tentar resolver esses problemas nos últimos anos. Existe também a necessidade de desenvolvimento de equipamentos específicos para a atividade. Muitos equipamentos como tanques-redes e equipamentos para sistemas de recirculação de água para sistemas marinhos como reatores de ozônio, skimmers, raios ultravioletas são importados. A boa notícia nesse aspecto é que com a incipiente produção que temos algumas empresas nacionais estão trabalhando para desenvolver esses © Ricardo Rodrigues equipamentos. Os licenciamentos ambientais e a regularização de áreas aquícolas são aspectos fundamentais para o entrave não só da piscicultura marinha como para a aquicultura de uma forma geral no Brasil. Para maiores informações sobre essa temática sugiro a leitura do artigo publicado na primeira edição da Aquaculture Brasil “Regulamentação da Aquicultura Brasileira: Nadando em águas turvas e turbulentas”, que traz de forma geral e bem concisa um resumo dessa temática. Embora existam todas essas dificuldades, sou otimista e acredito que passos importantes foram dados nos últimos anos. Como é uma atividade nova no Brasil, o bom é que existe muito trabalho a ser desenvolvido!

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A biosseguridade é a solução para os desafios sanitários da piscicultura brasileira?

últimos anos os conceitos de biossegurança e N osbiosseguridade estão sendo introduzidos na re-

alidade da piscicultura brasileira, porém, ainda de forma discreta e pouco representativa no contexto nacional. A biosseguridade reúne uma série de estratégias e ações que em conjunto promovem a interrupção da circulação de patógenos em um sistema de produção animal, prezando pela saúde do plantel. Por outro lado, as medidas de biossegurança reúnem estratégias e ações que zelam especialmente pela saúde das pessoas envolvidas, estando bastante relacionadas também com a segurança do trabalho. Estes dois conceitos andam juntos e devem ser implementados na rotina da piscicultura para que possamos alcançar um crescimento ordenado, responsável e com estabilidade na produção. Nos últimos anos, podemos listar a introdução e emergência de novas doenças na piscicultura nacional, como a franciselose que impacta a tilapicultura, a infecção por acantocéfalos em peixes redondos e branquiomicose para bagres nativos. Neste cenário, é necessário haver esforços para conhecermos a biologia destes patógenos, incluindo sua manutenção no ambiente de criação animal, seus mecanismos de infecção, transmissão e aspectos patológicos da doença. Somente desta forma, poderemos orquestrar medidas contra a livre circulação destas doenças, especialmente com foco em promover maior salubridade no ambiente de produção, com descontaminação e implantação de barreiras sanitárias efetivas. Caso contrário, o crescimento desordenado, sem respeitar os princípios de saúde animal e ambiental irá chegar ao ponto em que a atividade de criação se tornará insustentável, amargando prejuízos pela depreciação do ambiente juntamente com alta pressão de patógenos. Para o futuro da piscicultura, certamente os desafios sanitários serão maiores e mais frequentes. 78

SANIDADE

Sejam eles Dr. Santiago pela emerBenites de Pádua gência de AQUIVET novos patóSaúde Aquática, genos, bem São José do Rio como pela muPreto, SP. dança nos aspectos de resistência e patosantiago@ genicidade dos agentes aquivet. etiológicos que conhececom.br mos atualmente na rotina das fazendas de criação. Portanto, precisaremos nos preparar e nos antecipar a esta situação, para que esta indústria emergente não sofra grandes impactos em sua fase de consolidação. E como poderemos nos preparar? O primeiro passo a ser dado é com a formação de recursos humanos capacitados e dispostos a se debruçar sobre estas questões. Outro fator importante é experimentar das estratégias de sucesso em outras atividades de criação animal praticadas no Brasil, especialmente suinocultura e avicultura, bem como nos inspirar em modelos que já estão em operação na aquicultura internacional, especialmente na salmonicultura. Desta forma, teremos condições de avançar a passos largos para alcançar e implementar um modelo próprio para nossa piscicultura. Portanto, as medidas de biosseguridade certamente serão pré-requisitos para uma maior competitividade e consolidação da piscicultura nacional, sendo um item crucial para a gestão sanitária e sustentabilidade da criação de peixes no Brasil. Contudo, precisamos ajustar um modelo próprio, adequado para cada realidade das espécies criadas nas diferentes regiões de nosso país, sendo pouco provável obtermos um modelo único para todas as espécies que produzimos atualmente. Este certamente será o maior desafio!

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RA RANICULTU PRIMAVERA E REPRODUÇÃO: CASAMENTO PERFEITO

Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR. andremunizafonso@gmail.com

Sul a primavera tem início no final N odoHemisfério mês de setembro e com ela inicia-se a chama-

da estação das águas. Vários animais encontram nesse momento características ambientais que favorecem o período de reprodução. A base alimentar no meio terrestre, representada pela produção primária composta pelos vegetais (pastagens, árvores frutíferas, leguminosas, entre outras) aumenta a oferta de nutrientes no meio, necessários ao processo de reprodução, que em algumas espécies começa pela presença do cio e, em seguida, pela manutenção da gestação. Nos organismos aquáticos não é tão diferente, pois com a maior ocorrência das chuvas o volume dos cursos d’água naturais aumenta. Um maior aporte de minerais e matéria orgânica são carreados e a produção primária, representada pelas algas, também aumenta. A migração dos peixes, no Brasil conhecida como piracema, renovará o plantel desses animais na natureza. Outras espécies aquáticas acompanham o mesmo panorama, como os anfíbios. Como sabemos, os anuros, grupo de anfíbios representado pelos sapos, rãs e pererecas, têm o seu apogeu nesta época do ano, uma vez que nos meses mais frios de outono e inverno existem espécies que mantém um metabolismo baixo e algumas até podem hibernar. O Brasil, por ter grande parte do seu território próximo à linha do

Equador, possui muitas regiões onde a vida reprodutiva dos anfíbios se mantém em todos os meses do ano, com destaque para as regiões Norte e Nordeste. No entanto, nas regiões Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste, os meses de primavera e verão são responsáveis pela migração de diversos grupos de anuros e pela renovação das suas populações. Os dias vão ficando mais longos e as noites mais curtas, a maior incidência luminosa estimula toda uma cascata hormonal responsável pela maturação e produção gonadal. Fato este que faz com que nos sistemas artificiais a luz seja um dos fatores abióticos mais importantes, juntamente com a tem- Desovas de rã-touro em incubação (Afonso, 2013). peratura. De acordo com Cribb e colaboradores (2013), para mantermos um sistema de reprodução artificial ao longo do ano devemos mimetizar condições ambientais semelhantes ao período primavera-verão, ou seja, temperatura do ar entre 25 °C e 29 °C e da água entre 21 °C e 25 °C; fotoperíodo de 12:12 ou 14:10 horas luz: escuro por dia; umidade relativa do ar alta (acima de 80%); e índice pluviométrico alto (simulação de chuvas intermitentes). A presença do som característico das espécies também é uma das marcas destas estações do ano. Os machos cantam chamando suas fêmeas e esse canto é o sinal de que tudo está perfeito para que a reprodução aconteça. Portanto ele deve estar presente nos procedimentos de reprodução natural e artificial de ranários comerciais. Saudações ranícolas! Figuras ©Andre Muniz Afonso

Baia de acasalamento natural em ranário comercial (Afonso, 2013). AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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A CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PESCADO

Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA) Mossoró, RN alaugo@gmail.com

Quando estamos abordando o tema “Ciência e Tecnologia do Pescado”, temos que saber distingui-los, e ao mesmo tempo, unificá-los, visto que jamais se faz Tecnologia sem o conhecimento profundo da Ciência. Este questionamento me surgiu há mais de 25 anos, já na graduação em Oceanografia, quando comecei a me interessar pela área da Tecnologia do Pescado. Ao me deparar com o tema pude perceber que não entendia muita coisa por não ter o conhecimento básico da “Ciência”. Mas o que compreende a Ciência do Pescado? O conhecimento profundo do que acontece com o pescado no ante-mortem (quando estamos tratando de pescado oriundo de cultivo), no pos-mortem, ao longo do processamento e transformação em produtos, no seu armazenamento e por final na distribuição (comercialização). Temas relacionados com os aspectos gerais (estrutura do corpo, tipo de músculo, componentes, rendimentos); aspectos físico-químicos; aspectos microbiológicos; aspectos toxicológicos; aspectos nutricionais; aspectos parasitológicos; e por final a qualidade e valorização do pescado como alimento. Ao longo da minha vida acadêmica (mestrado, doutorado e pós-doutorado), bem como na carreira da docência (há mais de 15 anos), percebi que não existia, até o momento, uma obra literária que contemplasse distintas áreas, como as mencionadas acima, associadas à inovação, pesquisa e desenvolvimento de produtos, embalagens, vida de prateleira, sanitização e higiene, legislação e, por final, aproveitamento racional dos resíduos. Diante disso e com a colaboração de renomados profissionais nacionais e internacionais, em suas diversas expertises, organizamos o livro Tecnologia do Pescado: Ciência, Tecnologia, Inovação e Legislação, tendo como objetivo promover o avanço da pesquisa e o desenvolvimento da área de pescado, bem como estimular o progresso profissional de técnicos e pesquisadores da área. O livro está dividido em seis partes e anexos, como descrito a seguir:

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Primeira sessão – CIÊNCIA DO PESCADO: são abordados os aspectos da qualidade geral do pescado, ou seja, por que são nutritivos, por que ficam impróprios para o consumo (podendo ser tóxicos e causar doenças), e, em última análise, por que agradam ou não o consumidor. A ideia seria um resumo da Ciência do Pescado como introdução para os capítulos subsequentes. Segunda sessão – TECNOLOGIA DO PESCADO: são abordadas as tecnologias tradicionais e emergentes (ou inovadoras) utilizadas na transformação do pescado como um alimento para o consumidor. Os autores vislumbraram demonstrar as informações sobre qual a melhor maneira de se processar e estocar o pescado de forma segura, como aumentar seu tempo de conservação, e como reter suas características originais como cor, sabor e valor nutricional. Terceira sessão – PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS: Aqui foi feita uma abordagem inédita sobre o processo de desenvolvimento de produtos oriundos da pesca e aquicultura, bem como, as inovações, ingredientes, aditivos e embalagens mais utilizadas, os principais problemas enfrentados no processo de desenvolvimento de produtos, as tecnologias de obstáculos (i.e., barreiras ou obstáculos que microorganismos têm que superar para sobreviver, multiplicar ou produzir toxinas), e a estimativa da vida de prateleira. Quarta sessão – APROVEITAMENTO DE SUBPRODUTOS: Não se pode falar em Ciência e Tecnologia do Pescado, sem sequer mencionar as diferentes possibilidades do aproveitamento do resíduo do processamento do pescado, e a sua transformação em diferentes subprodutos, que possam ser utilizados na alimentação animal, humana, e até mesmo na área de vestuários, medicina, e farmacêutica. Quinta sessão – SANITIZAÇÃO E HIGIENE: Não se faz Ciência e Tecnologia sem o conhecimento aprofundado de higiene e sanitização, bem como, o conhecimento de tecnologias limpas que possam auxiliar nesse processo, como o ozônio, muito bem explicado no capítulo 5.2.

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TECNOLOGIA DO PESCADO capítulo, também é inédito, e vem ao encontro das necessidades dos diversos setores que trabalham com Ciência e Tecnologia do Pescado. ANEXOS: E por fim, uma síntese das principais espécies comerciais de pescado em cada região do Brasil, uma extensa tabela de composição química de importantes espécies e produtos de pescado, bem como exemplos de fluxogramas operacionais dos principais processamentos do pescado são apresentados ao leitor. Essa obra com certeza fará com que o leitor possa definitivamente ter o esclarecimento da Ciência e Tecnologia do Pescado, bem como das demais áreas disponibilizadas no referido livro. Este é destinado a vários níveis, contendo informação tanto atual quanto inovadora, além de ser muito relevante para futuras consultas e aplicações práticas. Cada capítulo é extensivamente relacionado com informações chaves, exemplos práticos e referências bibliográficas, sendo outro diferencial das obras até então publicadas. Por fim, este material poderá ser um complemento importante para a indústria, instituições de Sexta sessão – LEGISLAÇÃO: Não se tra- pesquisa, instituições de ensino técnico e superior, balha com Ciência, Tecnologia, Inovação, sem o e bibliotecas pessoais. Esta obra será inestimável conhecimento dos aspectos legais do pescado e pro- para tecnólogos da indústria de pescado, consuldutos à base de pescado. Nessa sessão listamos as tores, pesquisadores, estudantes de graduação e principais resoluções, portarias, instruções norma- pós-graduação e de autoridades do governo entivas, etc. relacionadas ao setor pesqueiro, que estão volvidas na regulação ou fiscalização e controle de disponíveis na América do Norte (Canadá e Estados qualidade do pescado. Unidos), América do Sul (Brasil e Mercosul), e Europa (União Europeia, Codex Alimentarius). Esse Espero que todos tenham uma ótima leitura.

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DEFENDEU! Novidades em teses e dissertações

Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de pós-graduação contribui com novas informações para nossa aquicultura.

Acadêmico: João Antônio Amaral Xavier Orientador: Dr. Ricardo Robaldo Coorientador : Dr. Wilson Wasielesky Programa: Programa de Pós-graduação em Aquicultura da Universidade de Rio Grande, Rio Grande/RS-Brasil

Título da tese: Justificativa:

“Fontes Alternativas de Água no Cultivo de Litopenaeus vannamei (Boone 1931) em Sistema de Bioflocos.”

Os elevados preços de áreas próximas a costa marinha e a necessidade de aproximação de grandes mercados consumidores, tem impulsionado o desenvolvimento de cultivos de camarões marinhos longe da costa. A dificuldade de obter água salgada e a dificuldade de emitir efluentes no meio demandam estratégias visando reduzir a salinidade e reduzir a quantidade de água salgada. Diante disto é necessário o transporte de água marinha, uso de água subterrânea, salobra ou pela salinização artificial. Já a redução de seu uso é possível através de sistemas de cultivo superintensivos e fechados como o sistema de bioflocos (BFT), quando é possível reutilizar a água em vários ciclos de cultivo e assim reduzir a quantidade de água salgada e de efluentes. Mesmo que o L. vannamei tolere uma ampla faixa de salinidade, concentrações iônicas inadequadas podem impossibilitar o cultivo da espécie.

Objetivo:

Fornecer informações que possibilitem o cultivo interior de L. vannamei com diferentes fontes de água salgada e diferentes composições e relações iônicas da água.

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Principais resultados: - A composição iônica da água em sistema BFT se

©Maurício Emerenciano

modifica ao longo do período de cultivo podendo prejudicar o crescimento e sobrevivência dos camarões. - A salinidade reduzida combinada com elevadas concentrações de nitrogenados afeta a sobrevivência e crescimento de L. vannamei em sistema BFT, sendo a salinidade mínima adequada para um berçário de L. vannamei de 8g/L. - É possível utilizar diferentes fontes de água para cultivar L. vannamei em sistema BFT. No caso, água de subsolo salobra, água de chuva e água de subsolo doce salinizadas artificialmente. - Diferentes composições iônicas afetam o desenvolvimento de certos microrganismos componentes dos bioflocos. - É viável substituir em até 50% a salinidade marinha por NaCl sem prejudicar a sobrevivência e crescimento de L. vannamei. - A redução de 50% na concentração de Mg2+ na água é possível, reduzindo o custo de salinização artificial em 31%.

Recomendações:

O uso de salinização artificial no cultivo de L. vannamei é possível e pode ser realizado de dois modos. Através da compra de composto de sal marinho comercial ou através da junção de diferentes sais resultando na composição iônica da água marinha. É recomendado o acompanhamento periódico do perfil iônico da água com a finalidade de evitar uma modificação pronunciada da composição de sais. Alterações na concentração de determinados íons podem modificar as relações entre eles de maneira a prejudicar o desenvolvimento dos camarões.

Perspectivas de trabalhos futuros:

Avaliar o equilíbrio iônico da água em cultivos com bioflocos em baixas salinidades com vários ciclos de reuso da água. Avaliar a influência de diferentes sais artificiais na composição dos microrganismos presentes nos flocos microbianos. Desenvolver estudos com diferentes composições de sais para reduzir ainda mais o custo da salga artificial para os produtores.

© João Antônio Amaral Xavier

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AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016 © Nicator


Ele não começou a sua carreira na aquicultura, entretanto, hoje já pode ser considerado uma peça chave na interlocução entre o setor produtivo, EMBRAPA e academia. Com muita satisfação apresentamos o entrevistado desta edição: Carlos Magno Campos da Rocha.

E N T R E V I S TA CARLOS MAGNO AQUACULTURE BRASIL: Formado em Ciências

©Fonte: www.embrapa.br

Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa (1973) e com mestrado na Universidade de Kentucky em Ciência Animal (1977), você sempre esteve à frente de pesquisas ligadas em sua maior parte a área agrícola e recentemente tem se lançado a esse desafio que é a aquicultura, no cargo de chefe geral da EMBRAPA Pesca e Aquicultura (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Na sua visão, a aquicultura brasileira vive hoje, algo similar ao que a agricultura e pecuária brasileira experimentaram há 40 anos atrás? De fato, o país do potencial está tornando-se, a partir desta década, o país do pescado?

Carlos Magno: A situação atual da aquicultura brasileira é bem parecida com a da avicultura há 40-50 anos. Creio que estamos no início de um processo que tem tudo para dar certo, desde que resolvamos alguns problemas do setor, daí, sim, poderemos pensar neste “país do pescado”.

AQUACULTURE BRASIL: Como você mencionou, há ainda alguns problemas que freiam esse

desenvolvimento. Portanto, quais você elencaria como os maiores gargalos da aquicultura no país e como resolvê-los?

Carlos Magno: Eu elencaria dois gargalos: licenciamento ambiental e carência de novas tecnologias. Creio

que a questão do licenciamento poderia ser resolvida quase que totalmente por um processo declaratório, semelhante ao utilizado no Imposto de Renda. Este sistema já está em teste no Estado do Paraná. Da mesma forma que na declaração anual do IR, em nosso caso, o aquicultor assumiria a responsabilidade pelas informações prestadas e o órgão ambiental seria o auditor, ou seja, a “malha fina” de todo o processo. No sistema atual toda a responsabilidade do processo está direta e/ou indiretamente sob a égide do órgão ambiental, e por isso este processo é extremamente moroso e em muitos casos origina péssimos exemplos de conduta para servidores públicos, sem considerar a constante rotatividade do pessoal técnico, a baixa remuneração e principalmente, o pouco conhecimento dos processos produtivos a serem licenciados. A carência de novas tecnologias está relacionada ao novo. Temos alguma tecnologia em tilápia e camarão, espécies que vieram de fora. Para as nossas nativas ainda estamos engatinhando. Considerando 84

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E N T R E V I S TA CARLOS MAGNO a nossa imensa biodiversidade é bem provável que as espécies mais badaladas hoje (tambaqui, pirarucu, surubim, jundiá, matrinxã) provavelmente não serão as espécies que o mercado vai pedir daqui a trinta anos. E não há outra forma de desenvolvimento sustentável, que não seja pela Ciência. A agricultura brasileira é o maior exemplo desta estratégia de sucesso. Fomos grandes importadores de alimentos e depois de 40-50 anos o Brasil se tornou um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. Podemos fazer a mesma coisa com o pescado.

AQUACULTURE BRASIL: Em eventos científicos ligados à aquicultura você vem discutindo que parte

das pesquisas brasileiras não atendem às demandas diretas do setor produtivo. Ou seja, uma parcela dos projetos de pesquisa não estão em sintonia com os reais problemas da cadeia produtiva e isto pode ser observado nas apresentações orais e escritas de importantes congressos do setor. Pesquisa e produção não estão falando a mesma língua? O que fazer para mudar este panorama?

Carlos Magno: Eu tenho colocado este ponto para a reflexão

de nossos colegas da academia, dos institutos de pesquisa. Desde que comecei a trabalhar neste setor em 2010 tenho observado que a maioria do material de pesquisa produzido não tem muita sintonia ou mesmo relevância para o setor produtivo. E o que mais me preocupa é que temos um grupo muito pequeno de cientistas quando comparamos às outras cadeias. Por isso necessitamos trabalhar de forma mais integrada, com mais foco, mais objetividade nos problemas reais dos nossos clientes, atuais e futuros. Penso que poderíamos ter agendas de pesquisa e transferência de tecnologia definidas por região, e dessa forma todas as instituições teriam comprometimento em resolver problemas dos nossos clientes, sejam eles aquicul©Fonte: www.revistapesca.com.br tores, empresários do setor de ração, da indústria de fármacos ou de processamento. Outro problema sério é que as nossas agencias de financiamento de pesquisa nos avaliam quase que exclusivamente pela produção dos famosos papers que deverão ser publicados em revistas com fator de impacto cada vez mais alto; e na maioria das vezes estes papers por eles mesmos não resolverão o problema deste ou daquele aquicultor ou mesmo da cadeia produtiva. Quando o pesquisador “traduz” este conhecimento em alguma publicação com característica mais prática, mais aplicada, esta sequer é aceita ou avaliada no curriculum deste cientista. Um grande avanço, a meu ver, além dos editais direcionados a problemas de produção, seria premiar os nossos cientistas pelo impacto que este ou aquele conhecimento (produto, processo ou serviço) teria no setor ou na cadeia produtiva. Ainda estamos longe do dia em que os melhores cientistas serão avaliados pelas patentes depositadas!!!

AQUACULTURE BRASIL: Carlos Magno, a América Latina, incluindo o Brasil, vivencia uma série de

surtos de enfermidades na aquicultura (vírus em tilápia, mancha branca em camarões, etc). Sistemas mais biosseguros (a exemplo de bioflocos) e integrados (aquaponia e RAS) seriam uma boa solução na busca por diminuir a incidência de doenças e obter maior controle e produtividade?

Carlos Magno: Creio que estes sistemas mais biosseguros são uma grande alternativa aos nossos produtores

no momento. Acho também que precisamos investir mais em melhoramento genético. Temos hoje disponíveis uma gama de ferramentas biotecnológicas que poderiam agilizar a nossa geração de conhecimento e de forma bastante eficiente resolvermos alguns problemas atuais e nos prepararmos para os futuros. Adicionalmente, temos que aplicar e adaptar tecnologias que possam integrar sistemas, economizar e fazer melhor uso da água.

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E N T R E V I S TA CARLOS MAGNO AQUACULTURE BRASIL: Qual o papel

da Embrapa no setor da carcinicultura brasileira? Estaria o setor da piscicultura sendo mais priorizado que o setor da carcinicultura pela Instituição?

Carlos Magno: A Embrapa apresenta uma ex-

pertise de cerca de 60 pesquisadores e analistas em aquicultura distribuídos em 9 centros de pesquisa, a grande maioria nos centros dos estados da região norte do país. Destes, poucos são aqueles que possuem background para atuação em carcinicultura, sendo que a grande maioria ©Fonte: www.rondonia.ro.gov.br apresenta experiência em diferentes subáreas da piscicultura e isso acaba se refletindo na programação de pesquisa da Embrapa e na percepção da sociedade. Entretanto, a carcinicultura marinha também é considerada estratégica na Embrapa, tanto que no Portfolio de Aquicultura (estrutura interna de governança para priorização de espécies e de linhas de pesquisa) e na Agenda Institucional da Empresa essa área é considerada prioritária. Atualmente, o centro mais preparado para atender a carcinicultura marinha considerando a sua proximidade dos centros produtores é a Embrapa Meio Norte por meio de sua Unidade de Execução de Pesquisa localizada em Parnaíba no norte do Piauí. Entretanto, o grupo é pequeno e as ações atualmente se limitam a área de sanidade. A partir de um novo concurso é que a Empresa deverá considerar perfis com experiência em diferentes temas de relevância da aquicultura, incluindo a maricultura e em especial a carcinicultura, visando aumentar sua capacidade de prover soluções ao setor.

AQUACULTURE BRASIL: Agora de modo geral, quanto a aquicultura brasileira perdeu com a extinção do MPA? Há chances do ressurgimento da SEAP (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, diretamente ligada à Presidência da República)?

Carlos Magno: Não teria números para quantificar. Entretanto, acho que perdemos muito, pois transformar

o MPA numa Secretaria do MAPA mostra o desconhecimento do setor por parte dos nossos tomadores de decisão. É sabido que o pescado representa 35 e 65% da produção e exportação, respectivamente, das proteínas animais produzidas no mundo. A FAO (2010) afirmou que tínhamos no mundo um déficit de 25 milhões de toneladas de pescado no mundo. E o Brasil talvez seja o país com o maior potencial de produção de pescado. Precisamos urgentemente que nossas autoridades tomem uma decisão à semelhança do que foi feito no início dos anos de 1970, ou seja, o Brasil tomou uma decisão que iria explorar os Cerrados, e hoje somos um dos maiores produtores e exportadores de grãos do planeta. Por que não poderíamos ser o maior produtor de pescado do mundo? Temos água, clima favorável, ração, empreendedores. Necessitamos de uma decisão política e mais investimento em geração de conhecimento, de tecnologia que trarão as inovações tão necessárias a quem está na ponta. Na minha modesta opinião falta muito pouco para o início dessa nova “revolução” na produção de um alimento sabidamente de altíssima qualidade.

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E N T R E V I S TA CARLOS MAGNO AQUACULTURE BRASIL: Sabemos que você tem participado ativamente das reuniões da PEIXE BR

(Associação Brasileira de Piscicultura). Neste sentido, o que o motiva a “abraçar” esta entidade? Quais suas expectativas para essa parceria?

Carlos Magno: Especialmente no Brasil não há espaço para trabalhos isolados. Temos que ter foco em nos-

sos trabalhos. A PEIXE BR é uma associação que agrega todos os elos da cadeia produtiva: produtores (suas associações e cooperativas), os frigoríficos, as indústrias de fármacos e de ração, dentre outros. Ou seja, você hoje tem realmente uma interlocução com o setor aquícola. E nós da pesquisa precisamos auscultar esta instituição, para evitar as pesquisas tipo “determinação do sexo dos anjos”. Outra razão importante da parceria é também mostrar ao setor privado as nossas dificuldades, os nossos problemas e também, convencê-los a investir mais em ciência e tecnologia. Ainda no Brasil o setor privado investe muito pouco em ciência e tecnologia. Parcerias dessa natureza são uma via de mão dupla. Cada vez mais elas serão importantes ao desenvolvimento de qualquer setor da nossa economia. Vide investimentos privados em ciência e tecnologia nos países desenvolvidos. Ainda há muita resistência de instituições públicas em trabalhar com o setor privado. Isto tende a mudar haja vista a carência geral de recursos públicos para a ciência e tecnologia vivida atualmente. O que precisamos é, melhorar os nossos marcos legais de cooperação, e acredito que a recém aprovada Lei de Inovação trará grandes avanços nas parcerias público-privadas.

AQUACULTURE BRASIL: Em se tratando de pesquisa, a unidade da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), inaugurada há poucos meses, promete ser um dos grandes centros de pesquisa em aquicultura no país. De que forma este centro pretende contribuir com o setor? Unidades Demonstrativas apresentando diferentes modelos de produção aplicáveis no Brasil estarão entre as ferramentas da Embrapa?

Carlos Magno: A esperança é muito grande: tornar a Embrapa Pesca e Aquicultura um centro de referência

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©Fonte: www.segs.com.br

em piscicultura tropical. Creio que o caminho será longo haja vista a dimensão continental de nosso país, para os, pelo menos, cinco Brasis. O grande desafio a ser enfrentado é estruturar um Plano Estratégico, ou seja, o que queremos ser na Pesca e na Aquicultura daqui há 10, 20 ou 30 anos? Temos inúmeros sistemas de produção tanto na Pesca e na Aquicultura a serem melhorados. A nossa biodiversidade aquícola sem sombra de dúvida é a maior do mundo. Isto dependendo da análise poderá ser um grande fator de sucesso caso tomemos decisões acertadas, ou um tremendo fracasso se nossas escolhas atuais forem equivocadas. A Embrapa tem um modelo próprio de gestão e avançamos muito na agricultura com ele. A ideia da Embrapa Pesca e Aquicultura é utilizar desse modelo para prover soluções tecnológicas aos nossos clientes, e como sempre, em parcerias


E N T R E V I S TA CARLOS MAGNO

AQUACULTURE BRASIL: Com uma capacidade de absorver inúmeros técnicos e pesquisadores, uma pergunta que muitos futuros candidatos às vagas de trabalho estão se fazendo há algum tempo: “Quando abrirá um novo concurso para a Embrapa Pesca e Aquicultura?” Existe alguma previsão acerca do número de contratações? Pode-se contratar até mais de 100 novos pesquisadores apenas na área de aquicultura?

Carlos Magno: Vai depender de quando o Brasil sairá desta crise. Há de se considerar que a palavra gasto

está proibida em todas as esferas governamentais. Entretanto, somos otimistas e sabemos que quase todas as instituições públicas brasileiras tem o problema do envelhecimento do pessoal como uma grande ameaça. A Embrapa tem também este problema, mas não é tão grave como em outras instituições, haja vista termos contratado cerca de 1000 pessoas entre 2008 até 2012. Estas contratações foram para repor pessoas que saíram em nosso PDI iniciado em 2008. A Embrapa Pesca e Aquicultura possui estrutura para um quadro de 240 pessoas (hoje somos 82). Não existe uma decisão do governo em relação à data do próximo concurso, entretanto, há esperança que ele ocorra em 2018.

AQUACULTURE BRASIL: Por fim, deixe uma mensagem para nossos leitores. Carlos Magno: A Pesca e Aquicultura precisam marchar juntas. Sabemos que são atividades diferentes, mas

©Fonte: www.embrapa.br

complementares e, somente pela união das lideranças destes dois setores seremos e teremos uma atividade forte. Não precisamos morrer de amores por alguém para trabalharmos juntos. Precisamos hoje de líderes com pensamento estratégico, fazendo prospecções para os próximos 5, 10, 25 e 50 anos. A Pesca e Aquicultura que queremos para o futuro terão de ser planejadas nos dias de hoje. Creio que este será o nosso maior desafio: trabalho, união, planejamento e atitudes estratégicas. Não podemos perder mais tempo com essas infindáveis discussões, que não nos levam a nada e tão pouco a lugar algum. As outras cadeias devem achar graça do nosso despreparo, amadorismo e desunião. Ao trabalho e unidos.

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©Fonte: www.sed.go.gov.br

com instituições públicas ou privadas. Em relação às Unidades Demonstrativas elas fazem parte da nossa metodologia de trabalho, pois só consideramos uma tecnologia validada quando esta é apropriada pelos nossos clientes.


NOVOS LIVROS Biology, Ecology and Culture of Grey Mullets (Mugilidae)

Editores: Donatella Crosetti e Stephen J. M. Blaber. Editora: CRC Press Idioma: Inglês - 539 páginas Lançamento: 22 de janeiro de 2016

Além de uma excelente atualização acerca da biologia e ecologia das tainhas (Família Mugilidae), três capítulos abordam especificamente o tema aquicultura: “Estado atual da captura e cultivo dos mugilídeos”, “Captura e cultivo de mugilídeos em Taiwan” e “Cultivo de mugilídeos no Egito”.

Marine Ornamental Species Aquaculture

Editores: Ricardo Calado, Ike Olivotto, Miquel Planas Oliver e G. Joan Holt. Editora: Wiley-Blackwell Idioma: Inglês Lançamento: 13 de fevereiro de 2017

Este livro reúne em um único volume as principais informações disponíveis sobre o cultivo de espécies ornamentais marinhas. O trabalho tem a contribuição de mais de 50 especialistas em diversos temas relevantes, sendo uma referência fundamental para cientistas e acadêmicos de institutos de pesquisa e universidades, aquários públicos e privados, bem como para amadores.

Piscicultura Marinha: criação de bijupirá em sistemas de recirculação de água

Editores: Luís André Nassr de Sampaio, Marcelo Hideo Okamoto, Ricardo Vieira Rodrigues e Marcelo Borges Tesser. Editora: Editora da FURG Idioma: Português – 124 páginas Lançamento: setembro de 2016

O livro editado pela equipe da FURG, apresenta o desenvolvimento do pacote tecnológico de produção do bijupirá em sistema de recirculação de água. São apresentados os primeiros aspectos relacionados desde a reprodução até a engorda do bijupirá nesse sistema de produção no Brasil.

DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL! redacao@aquaculturebra sil .com AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Eles fazem a diferença!

Lesaffre Animal Care.

Chegou a vez de homenagear um grande Engenheiro de Pesca. Grande mesmo! Tanto no talento, quanto no coração. Apresentamos com muito carinho o Engenheiro de Pesca Marcelo Borba, Gerente Técnico Comercial da Phileo –

Marcelo Borba apresentou sua monografia na UFRPE no dia do Engenheiro de Pesca, em 1999. No dia seguinte à sua colação de grau, já estava trabalhando com carcinicultura em Luís Correia (PI), na Fazenda Conmar. Daquele dia em diante, nunca mais parou. Através da MCR Aquacultura Ltda trabalhou na construção e operação de diversas fazendas de cultivo de camarão no Nordeste do Brasil. No entanto, em 2002, um convite irrecusável da Purina o fez entrar em outro universo: o da área comercial. “Fiquei fascinado e mergulhei fundo. Fui Gerente de Serviços Técnicos da Purina entre 2002 e 2010, sendo responsável pelo acompanhamento técnico e gestão comercial dos principais clientes. Conheci bastante gente, aprendi bastante e me engrandeci profissionalmente”. Após longos anos na Purina, novos ventos sopraram na carreira profissional de Marcelo. Em 2010, o Engenheiro de Pesca foi contratado como Consultor Técnico da FAO. A partir de 2011, a ABCC o contratou para o cargo de Consultor Sênior. Marcelo coordenou o Censo da Carcinicultura de 2011 e o Plano de Desenvolvimento da Carcinicultura do Maranhão, que considera estarem entre seus grandes projetos profissionais. “Conheci a Carcinicultura da Ásia por intermédio da ABCC, em 2011, após o que, escrevi o Artigo: Um Mergulho na Carcinicultura Asiática (Revista da ABCC, Janeiro de 2012). Tive a honra de representar a ABCC no Departamento de Agricultura da União Europeia, junto ao Embaixador do Brasil, na Cerimônia de recebimento do selo de Indicação Geográfica por Denominação de Origem do Camarão da Costa Negra. Novamente tive o privilégio de representar a ABCC no Estande do Brasil da Feira de Bruxelas de 2012”.

A partir de 2016, um novo desafio! “No início de 2016, após acirrado processo seletivo, fui selecionado, pedi desligamento da ABCC e da UFERSA (onde era professor substituto) e assumi o desafio de implementar as soluções Aqua da Phileo - Lesaffre Animal Care, multinacional francesa da área de biotecnologia, especializada em leveduras e com mais de 160 anos de desenvolvimento. A Phileo é a Unidade de Negócios de Animal Care do Grupo Lesaffre, que aposta muito na aquicultura brasileira e todo o potencial de crescimento que nosso país apresenta”.

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Como é a sua rotina? “Por nossas dimensões geográficas e pela dispersão da atividade pelas diversas regiões e estados do país, meu dia-a-dia é uma absoluta falta de rotina. Entre estradas, hotéis, fazendas de peixes e camarões, aeroportos, fábricas de ração e videoconferências, estamos expandindo nosso negócio, conduzindo field trials em fazendas comerciais de peixes e camarões e dando feedbacks para nossas equipes de P&D na França, no México e no Brasil. Participação em feiras, congressos, palestras, seminários, workshops e dias de campo, além do acompanhamento de produção de nossos clientes, elaboração de relatórios gerenciais, montagem de estratégias, elaboração de planos de ação e leituras técnicas complementam as atribuições que fazem parte das minhas atribuições”.

Um recado para os estudantes da área de aquicultura

“Uma vez que o aluno se identifique com o curso e suas áreas de atuação, o próximo passo é tentar descobrir em que ramo da atividade tem mais afinidade: se dispõe de um perfil mais gerencial ou mais técnico, se gosta ou não de trabalhar com pessoas, gosta ou não da área comercial ou se prefere uma carreira acadêmica, enfim.... Precisa-se parar, pensar, refletir, querer decidir e se entregar, desmedidamente. Não há espaço para “profissionais meia-boca”. Precisa-se ser atento, observador, estar aberto para aprender sempre. Precisa-se ser competitivo sem esquecer a humildade, precisa-se produzir resultados sem atropelar a ética”.

Onde vamos encontrar o Marcelo Borba daqui há 10 ou 20 anos? Não sei exatamente, mas estou seguro que estarei perto da água daqui a 5, 10 ou 20 anos. Sou absolutamente “apegado” à água e à aquicultura. Minhas aspirações são as de ajudar a Phileo a implementar, com o merecido êxito, nossas soluções na aquicultura brasileira, crescer, expandir e passar a atender outros mercados na América Latina. Acho que se daqui a 5-10 anos eu conseguir vir a ser o Gerente Aqua da Phileo na América Latina estaria alinhado com minhas atuais ambições. Daqui a 20 anos eu quero poder estar lendo José Saramago, J. J. Benítez, Garcia Marques, Jorge Amado, Mario Quintana e tantos outros, entre as despescas de minha piscicultura, junto à minha família e em comunhão com a Divina Mãe.

Uma mensagem para os leitores da AQUACULTURE BRASIL Cumprimento e saúdo a AQUACULTURE BRASIL e todos os seus leitores, desejando o melhor para todos. Em poucas palavras, eu sugeriria para todos que fizessem valer a pena. Estudem, estagiem, trabalhem, empreendam, gerenciem, produzam, ensinem, pesquisem, enfim... Façam tudo com ética, esmero e bom senso, como se fossem entregar o fruto deste trabalho a Deus. Sabemos que não se concebe o futuro da raça humana sem o substancial e imprescindível aporte de proteína oriunda da aquacultura. Desta forma e por sermos players ativos desta atividade, passa por nós seu futuro e, portanto, da humanidade, sendo nossa responsabilidade contribuir para seu crescimento de maneira econômica, social e ambientalmente sustentável.

São 16 anos de serviços brilhantemente prestados à Aquicultura Brasileira. Parabéns e muito obrigado Marcelo! AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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C

onhecido como o gigante da Amazônia, o pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo, podendo pesar cerca de 200kg e atingir mais de 3 metros de comprimento. Tem atraído a atenção dos produtores justamente pelo ótimo crescimento (10 kg em 12 meses) e também pela rusticidade, suportando altas densidades no cultivo. Endêmico da bacia Amazônica, gosta de viver em águas tranquilas, de baixa correnteza. De hábito carnívoro, alimenta-se de crustáceos, moluscos e sobretudo de peixes quando na fase adulta. Além da carne de ótima qualidade, as escamas e o couro podem ser comercializados como subprodutos para a confecção de artesanatos, bolsas, etc.

Alimentação: Larvicultura e alevinagem: fornecido apenas alimento natural, ex: zooplancton,

em uma frequência de no mínimo oito refeições ao dia. Quando atingirem entre 7 e 8 cm, o treinamento com ração contendo 45% de proteína bruta pode ser iniciado, adotando-se uma frequência de seis vezes ao dia, com substituição gradual do zooplancton pela ração. Recria e Engorda – A recria é iniciada após a fase de treinamento em que o alevino entre 10 e 15cm já consome rações secas. Na tabela recomendada pelo SEBRAE, estão descritos o manejo alimentar para as fases de recria e engorda. A conversão alimentar está em torno de 1,5 – 2,0:1,0.

Reprodução: A maturação sexual começa entre os 4 ou 5 anos de idade. O processo é de forma natural, com a formação de casais e a construção de um ninho, que servirá para a deposição dos ovos. Alguns produtores optam por coletar os ovos ou larvas recém eclodidas, outros deixam que estas se desenvolvam inicialmente nos viveiros.

Faixa de Temperatura ideal

Para o cultivo é entre os 28 e 30°C. Em temperaturas muito baixas (20°C) os animais param de se alimentar.

Sistemas de produção

Sistemas extensivos em viveiros escavados. Densidades: 1000 - 8000 peixes/ha Intensivos em tanques de geomembrana. Densidades: 5 peixes/m3

Principais doenças/ parasitos que comprometem a produção Nematoides - parasitam o intestino ou cecos pilóricos. 92

©Willyam Stern Porto

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Monogeneas – parasitam pele, brânquias e superfície corporal. Mixosporídeos - parasitam diversos órgãos (brânquias, olhos, rins, fígado, coração, baço, vesicular biliar e gônadas). Tricodinas - comumente em alevinos de pirarucus, devido à elevada concentração de matéria orgânica na água.

Volume nacional produzido: 8.386 toneladas (IBGE, 2015). Preço de mercado : O preço por quilo varia de acordo com a região, entre R$ 20,00 e até R$ 50,00 ou mais em mercados de São Paulo.

Preço médio do alevino: R$ 1,00 - 1,50/cm Preço médio da ração: R$ 2,00 - 2,50 / kg

©Willyam Stern Porto

Entraves/ desafios na produção: Reprodução em laboratório; Sobrevivência na larvicultura; Preço dos alevinos; Ração específica para a espécie; Método de sexagem mais fácil.

Características positivas

Tolera altas densidades; Apresenta rusticidade no manejo; Toleram elevadas concentrações de amônia; Respiração aérea; Carne sem espinhos intramusculares; Bom rendimento de filé (+/- 50%). Fontes: Alimentação e nutrição do pirarucu (Arapaima gigas) – Documento pdf Embrapa Pesca e Aquicultura, Palmas-TO, 2015. Ferreira, G.T.C. Competitividade da cadeia produtiva do Arapaima gigas, o pirarucu da Amazônia brasileira. Tese de doutorado, USP, São Paulo-SP, 2016. Parasitos de pirarucu cultivados em três estados do Amazônas. Documento pdf, Embrapa, Amapá. 2011. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2016

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Toda terรงa, novas dicas sobre aquicultura em nossa FanPage

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Visite-nos na FENACAM 2016! A AQUACULTURE BRASIL estará

participando e cobrindo a 13ª Feira Nacional do Camarão – FENACAM, que inclui o XIII Simpósio Internacional de Carcinicultura, o X Simpósio Internacional de Aquicultura, a XIII Feira Internacional de Serviços e Produtos para Aquicultura e o XIII Festival Gastronômico de Frutos do Mar.

Durante a FENACAM, sortearemos um Tablet em case de altíssima resistência a prova de impacto, chuva e poeira ideal para coleta de dados a campo, uma parceria A Q U A C U LT U R E B R A S I L & PD INSTRUMENTOS.

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Pescado

no

Varejo -

a p r e s e n ta n d o o p e s c a d o

pa r a o c o n s u m i d o r f i n a l .

Manta d e Pi r ar u c u s a lg ad a e s e c a na “Feir a d e Manau s Mo d erna”. A partir da próxima edição, confira imagens de várias regiões do Brasil e do mundo!

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