EDIÇÃO
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ISSN 2525-3379
2019
AQUACULTURE
BRASIL
OSTRAS DA AMAZÔNIA : Artigo: Microbiota intestinal em peixes de aquicultura
MAR/ABR 2018
aquaculturebrasil.com
REVISTA
MARÇO/ABRIL
Uma oportunidade de negócio sustentável
Coluna: Tendências na nutrição em bioflocos
Entrevista: Ligia Uribe Gonçalves - projeto GIGAS
Eles fazem a diferença: Jesus Malpartida Pasco
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AQUACULTURE BRASIL
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com EDITORES-ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen DIREÇÃO DE ARTE: Syllas Mariz Jéssica Brol COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alexandre Gobbo Fernandes, Alexandre Rodrigues Caetano, Amana Garrido, Ana Conceição Abreu de Sousa, Carla Zilberberg, Cristiano Pereira, Débora de Oliveira Pires, Eduardo Gomes Sanches, Eduardo Sousa Varela, Fabrício Flores Nunes, Fabrício Pereira Rezende, Jesus Malpartida Pasco, José Pablo Fuentes Quesada, Leandro Godoy, Ligia Uribe Gonçalves, Lucas Simon Torati, Luciana Cristine Vasques Villela, Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik, Luciana Shiotsuki, Luiz Eduardo Lima de Freitas, Maria Angélica Reis, Monique Berticelli Morselli, Otávio Mesquita de Sousa, Patrícia Ianella, Rafael Mansano Martins, Vanessa Villanova Kuhnen e William Bauer. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Giovanni Lemos de Mello Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.
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“Incrível” Não há outra palavra para expressar o que foi a cerimônia de entrega do Prêmio Inovação Aquícola 2019, em Santa Fé do Sul, noroeste paulista. A “terra da tilápia”, ao menos na noite do dia 15 de maio de 2019, obrigou-se a reverenciar outras culturas aquáticas, como a carcinicultura marinha em águas interiores e a ostreicultura, diretamente do Estado do Pará! Aliás, o “Projeto Ostras da Amazônia”, de autoria de Ana Conceição Abreu de Sousa do SEBRAE/ PA, foi o grande vencedor... o grande inovador aquícola de 2019. Com 1242 votos online, venceu na categoria “Produção” e de quebra foi, simbolicamente, o case campeão geral, por ter tido o maior percentual (48,5%) entre todos os vencedores de todas as categorias. Como não brindar estampando na capa da nossa 17ª edição tamanha conquista? Parabéns a Ana, ao SEBRAE e demais órgãos e instituições envolvidas, aos produtores, ao belíssimo Estado do Pará e, claro, às ostras! Estreando nas capas da Aquaculture Brasil. E os apresentadores do Prêmio? Um charme a participação do casal aquícola Célia Maria Dória Frascá-Scorvo e João Donato Scorvo Filho, pesquisadores do Instituto de Pesca de São Paulo. A cerimônia de entrega dos troféus não seria a mesma sem a participação destes queridos amigos. Aproveito para fazer um agradecimento especial às empresas MSD Saúde Animal e Phibro Saúde Animal, apoiadoras financeiras do prêmio em 2019. Sem vocês, tudo teria sido mais difícil. Obrigado aos parceiros Mariana Nagata, Rodrigo Zanolo e a toda equipe de vocês. Novidades, inovações e novas tecnologias... este sempre foi um dos principais motores propulsores da Aquaculture Brasil. Neste contexto, a coluna Biotecnologia de Algas, escrita sempre de forma impecável pelo Prof. Dr. Roberto Bianchini Derner, da UFSC, pela segunda edição consecutiva apresenta um laboratório de pesquisas aos seus leitores, desta vez o LNEG, de Portugal. Conversando com o Roberto, ele propôs que a AB em toda edição apresentasse um laboratório de pesquisas sobre aquicultura do Brasil ou de fora. Na AB é assim, uma ótima ideia trazida já vira realidade na próxima edição. Falta apenas o nome para esta nova seção. Alguma sugestão? Ótima leitura a todos! Giovanni Lemos de Mello, Editor-chefe.
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SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL - edição 17 mar/abr 2019
08 FOTO DO LEITOR 10 FUNDAÇÃO DAS BASES GENÉTICAS PARA UM FUTURO PROGRAMA DE MELHORAMENTO DE TAMBAQUI ( Colossoma macropomum )
»» p.10
16 CULTIVO DE PEIXES MARINHOS COMO ALTERNATIVA DE CONSERVAÇÃO: CONHECENDO O PROJETO MEROS DO BRASIL 22 O MUNDO PECULIAR DOS CORAIS: CICLO DE VIDA E FORMAÇÃO DE RECIFES 28 OSTRAS DA AMAZÔNIA: UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO SUSTENTÁVEL »» p.16
34 MICROBIOTA INTESTINAL EM PEIXES DE AQUICULTURA 38 A ECONOMIA CIRCULAR NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS: PANORAMA E DESAFIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS 44 BLUECO NET – WORKSHOP SOBRE AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA E O FUTURO DA AQUICULTURA SUSTENTÁVEL NO BRASIL 48 ESPAÇO EMPRESA 50 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR
»» p.22
51 CHARGES
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»» p.70
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52 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 53 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 54 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA 56 GENÉTICA »» p.34
58 GREEN TECHNOLOGIES 59 PISCICULTURA MARINHA 60 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 62 VISÃO AQUÍCOLA 64 RANICULTURA 65 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA
»» p.38
»» p.44
66 AQUICULTURA ORNAMENTAL 68 TECNOLOGIA DO PESCADO 70 DEFENDEU 72 ENTREVISTA - LIGIA URIBE GONÇALVES 78 ELES FAZEM A DIFERENÇA 82 DESPESCOU
»» p.78
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Fêmea ovada - Macrobrachium rosenbergii Cultivo das microalgas Nannochloropsis oculata , (Ribeirão, PE) Chlorella vulgaris e Chaetoceros muelleri Daniel Cavalcanti (Fortaleza, CE) @triangulodocamarao Giancarlo Lavor
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Carpa ornamental - Piscicultura Pomar do Carmo (Mirim, SP) Carlos Conte @danilo_carpas_pomar_do_carmo
Aquarium of the Pacific (Long Beach, Califórnia) Cristina Viriato de Freitas @criisviriato
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Piscicultura (Francisco Alves, PR) Débora Bueno @medvet.debora
Camarão cultivado em BFT - Litopenaus vannamei (Rio Grande, RS) Marilia Fernandes Costa e Kelly Izumi @mary_costa / @kellyizumi
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Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia e participe desta seção.
redacao@aquaculturebrasil.com 9
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MAR/ABR © Jefferson Cristiano Christofoletti 2019
Fundação das Bases Genéticas para um Futuro Programa de Melhoramento de Tambaqui (Colossoma macropomum) Luciana Shiotsuki1*, Luciana Cristine Vasques Villela1, Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik1, Luiz Eduardo Lima de Freitas1, Fabrício Pereira Rezende1, Eduardo Sousa Varela1, Lucas Simon Torati1, Patrícia Ianella2 e Alexandre Rodrigues Caetano2 Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas, TO *luciana.shiotsuki@embrapa.br
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Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Brasília, DF
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rogramas de melhoramento genético diferentes sistemas de criação (Powell et al. 2008; amplamente difundidos em espécies de Nguyen et al. 2010). animais domésticos ainda são pouco A escassez de programas de melhoramento empregados na aquicultura genético em espécies de e muitas das espécies criadas aquicultura está relacionada comercialmente ainda depenprincipalmente aos altos custos dem da captura de reprodutores associados à infraestrutura e ou alevinos selvagens (Gjedrem, mão de obra necessários para 2005). Existem estimativas de a manutenção de núcleos de Existem estimativas que menos de 10% da produção melhoramento, com animais de que menos de 10% identificados individualmente mundial em aquicultura seja baseada em germoplasma da produção mundial em e coleta periódica de dados proveniente de programas de de produção. Em muitos aquicultura seja baseada melhoramento (Gjedrem et al. casos, observa-se a erosão 2012). Como exemplos clássicos em germoplasma prove- genética ocasionada pelo de espécies de peixes em que acúmulo da endogamia nos niente de programas de plantéis de reprodutores, em a produção é baseada em programas de melhoramento função da utilização de poucos melhoramento. podemos citar, salmão (Salmo exemplares para geração de salar), truta (Oncorhynchus sp.) animais de reposição dos e tilápia (Oreochromis niloticus), estoques destinados a produção nas quais o foco tem sido a (Gjedrem, 2005), problema geração de linhagens com produtividade superior nos bastante comum em espécies com alta fertilidade.
Justificativa do projeto
A estruturação de programas de melhoramento genético possibilita a geração de materiais genéticos que permitem o aumento da produtividade e da qualidade dos produtos derivados, atendendo às exigências do mercado consumidor (Rosa et al., 2013). Tais programas consistem em importante atividade estratégica para aproveitamento máximo do potencial aquícola brasileiro, podendo colocar o País numa posição de destaque entre os maiores produtores mundiais de pescado. Embora em 2017 tenha sido observado um crescimento de 8% em relação ao ano anterior (Anuário PeixeBR, 2018), o Brasil ainda não se destaca entre os dez principais países com maior produção aquícola mundial (FAO, 2018). A mudança desse cenário depende de inúmeros fatores, entre os quais o desenvolvimento de pacotes tecnológicos robustos e confiáveis para as espécies nativas. O tambaqui (Colossoma macropomum) tem despontado como uma das principais espécies da aquicultura nacional, com um volume de produção de cerca de 137 mil toneladas em 2016, inferior somente ao alcançado pela tilápia (IBGE, 2016), espécie amplamente estudada em diferentes países, cujo pacote tecnológico é bem estabelecido. Considerando o potencial dessa espécie e aptidão natural do Brasil para a aquicultura, o projeto “Fundação das Bases Genéticas para um Futuro Programa de Melhoramento de Tambaqui - AMAZONGEN”, financiado pelo Fundo Amazônia, objetiva implementar em produtores comerciais situados no Bioma Amazônico alguns plantéis de reprodutores de tambaqui com germoplasma qualificado. Tais plantéis (chamados de Núcleos Satélites) possibilitarão a estruturação da base para futuros programas de melhoramento genético da espécie.
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Desenvolvimento
Para o projeto, três pisciculturas comerciais foram selecionadas, sendo uma localizada no Estado de Rondônia (em virtude deste figurar como o maior produtor nacional de tambaqui), uma situada no Estado do Amazonas (principal polo nacional de consumo de tambaqui) e uma terceira propriedade no Estado do Tocantins (em função da proximidade com a base central dos núcleos satélites, estruturada na Embrapa Pesca e Aquicultura). Nos três núcleos satélites a serem implementados serão realizadas diversas ações que ainda não fazem parte da rotina da maioria dos piscicultores brasileiros, entre as quais: • Atividades de escrituração zootécnica; • Identificação individual dos reprodutores;
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• Controle das taxas de endogamia; • Direcionamento dos acasalamentos; • Identificação de possíveis híbridos no plantel, entre outras. A realização da escrituração zootécnica é o primeiro passo para a estruturação de um programa de melhoramento genético, sendo imprescindível a identificação individual dos animais que compõem o plantel de reprodutores. Usualmente a identificação em peixes é feita por meio da implantação de dispositivos eletrônicos (tags ou micro chips) no corpo do animal (músculo ou cavidade abdominal) que permitam a leitura do código de identificação. A partir das informações coletadas pela escrituração zootécnica será possível que os produtores gerenciem os seus plantéis de forma mais eficiente, uma vez que será possível identificar de forma individualizada os animais com melhores índices produtivos, monitorar eventuais problemas no plantel, manter e analisar o histórico de uso dos animais e estabelecer manejos nutricionais, sanitários e reprodutivos mais apropriados, reduzindo riscos e custos associados. Além desses aspectos, será possível agregar valor aos animais, visto que os mesmos passarão a ter um “certificado” de pedigree e do seu desempenho produtivo e reprodutivo, o que possibilitará o controle de taxas de endogamia e o planejamento de uso de cada animal, seja no momento da seleção, uso e comercialização de matrizes, seja para a definição de critérios de descarte (Lobo, 2002). Figura 1. Piscicultura selecionada do estado de Rondônia. © Jenner Menezes
Figura 2. Chipagem em tambaqui. © Luciana Ganeco
A construção de bancos de dados seguros e confiáveis contendo todas as informações dos plantéis (pedigree, produtivas, reprodutivas, entre outras) poderá consistir em pontos para a elaboração e execução de programas eficientes de seleção e de melhoramento genético. Além disso, essas informações são fundamentais para a caracterização fenotípica da população base (plantel de reprodutores) e poderão ser utilizadas para a seleção, ponto-chave para o sucesso de programas de melhoramento genético. É sabido ainda que uma base genética ampla e com alta variabilidade são pontos de partida para a mensuração das diferenças genéticas entre populações (Tave, 1995; Hilsdorf e Orfão, 2011) e permitem a obtenção de ganhos genéticos por um número elevado de gerações. As relações de parentesco também devem ser conhecidas com o intuito de minimizar a consanguinidade no plantel e suas consequências, como a depressão por endoga-
mia. Outro ponto relevante é a certificação de pureza específica, que permite identificar e evitar possíveis introgressões gênicas interespecíficas nos reprodutores da população base. Para o projeto planeja-se, portanto, a formação/organização, orientação e acompanhamento in loco dos plantéis nos três núcleos satélites e a realização de diversas atividades de capacitação dos técnicos envolvidos em aspectos de escrituração zootécnica, manejo reprodutivo e direcionamento de acasalamentos (baseados nas relações de parentesco e na certificação da pureza específica). Todas essas informações serão organizadas e disponibilizadas para os produtores por meio de um aplicativo para dispositivos móveis que será desenvolvido no âmbito do projeto. Além dessas atividades, o projeto prevê caracterizar o germoplasma nos três núcleos satélites com relação à pureza específica, parentesco e análise da
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A realização da escrituração zootécnica é o primeiro passo para a estruturação de um programa de melhoramento genético, sendo imprescindível a identificação individual dos animais que compõem o plantel de reprodutores.
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diversidade genética. Para isso, serão utilizados painéis de genotipagem de SNPs de baixa densidade, contendo por volta de uma centena de marcadores, desenvolvidos pela Embrapa e em fase final de validação.
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A perspectiva da Embrapa é que com as ações desenvolvidas pelo projeto AMAZONGEN seja possível a estruturação de núcleos satélites em estados com representatividade na produção de tambaqui, podendo conectá-los a futuros programas de melhoramento genético. Os resultados previstos no projeto possibilitarão a produção e o fornecimento de alevinos padronizados e qualificados aos diferentes segmentos da cadeia produtiva do tambaqui (vendedores de alevinos, produtores, etc.), gerando uma série de impactos positivos ao longo da cadeia produtiva. Produtores de alevinos poderão contar com ferramentas genômicas para determinação de pureza específica, variabilidade genética e determinação de parentesco. As informações geradas serão a base para orientar acasalamentos, certificar reprodutores e lotes de alevinos comercializados tanto para engorda quanto para estruturação de plantéis de reprodutores. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/ artigos
Š à thila Bertoncini
Cultivo de peixes marinhos como alternativa de conservação: conhecendo o projeto
Meros do Brasil Eduardo Gomes Sanches 1,2 Otávio Mesquita de Sousa 1 Laboratório de Piscicultura Marinha Instituto de Pesca/APTA/SAA Ubatuba, SP *esanches@pesca.sp.gov.br
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Vanessa Villanova Kuhnen 1 Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho Instituto de Pesca/APTA/SAA Santos, SP
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Laboratório de Piscicultura Maridesempenho produtivo da garoupa-verdadeira, elucidannha (Lapim) do Instituto de Pesca, do importantes questões do ponto de vista de manejo em Ubatuba/SP, vem desenvolvendesta espécie e propiciando a formação de um banco do, desde 2005, estudos de reprodutores que permitiu inisobre o cultivo de peixes ciar pesquisas de inversão sexual, marinhos como alternativa crioconservação de sêmen, reao extrativismo e como insprodução induzida e produção de trumento de conservação formas jovens, visando a realização Atualmente o Lapim destes recursos pesqueiros. dos primeiros ensaios de engorda A primeira espécie estu- integra o Projeto Meros em escala massiva desta espécie dada pelo laboratório foi a gano Brasil (Sanches et al., 2008a; do Brasil, atuando na roupa-verdadeira Epinephelus Sanches et al., 2009). A crioconmarginatus. Exemplares da servação do sêmen da garoupareprodução do mero espécie foram capturados e manti-verdadeira pode ser considerada dos em cativeiro, buscando formar um fato histórico para a piscicultura Epinephelus itajara. um plantel de reprodutores e obter marinha brasileira, tanto pelo valor a produção de formas jovens. Os econômico deste peixe como por estudos mostraram também, que o seu potencial para cultivo, tendo período de desova da garoupa tende contribuído para a reprodução da a se concentrar em torno de dezemespécie em cativeiro e possibilitabro, justamente o período em que afluem mais turistas do a primeira produção de formas jovens de garoupapara o litoral, com consequente aumento da demanda -verdadeira no Brasil (Sanches et al., 2008b). por peixes para restaurantes e hotéis, o que leva a um inaAtualmente, o Laboratório de Piscicultura Marinha dequado aumento do esforço de pesca sobre a espécie. do Instituto de Pesca integra o Projeto Meros do Brasil, Estes estudos possibilitaram importantes avanços no atuando na reprodução de outro “parente” da garoupa, cultivo destes peixes em cativeiro, com destaque para o o mero Epinephelus itajara.
Os trabalhos do Instituto de Pesca com o mero
Através de uma parceria entre o Instituto de Pesca, a Embrapa Tabuleiros Costeiros, a Bahia Pesca, o Instituto Meros do Brasil e com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental, um grupo de meros foi capturado em três estados do Brasil (Pernambuco, Sergipe e Bahia) e mantido no laboratório. Os peixes vêm respondendo muito bem ao cativeiro, ganhando peso rapidamente com baixas taxas de mortalidade, demonstrando alto grau de domesticação.
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Após seis meses de administração de hormônios andrógenos a oito exemplares com peso variando entre 2,0 a 12,0 kg, foi obtida, de maneira inédita para a espécie, a inversão sexual de exemplares com a produção de sêmen. Este feito pode ser considerado como de extrema relevância para a espécie e para o projeto, já que abre as portas para a reprodução destes peixes em cativeiro, com inegáveis vantagens para a conservação da espécie, como por exemplo, a ampliação da base de estudos para se conhecer melhor a biologia reprodutiva deste serranídeo. Através de uma parceria com a equipe de pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE) este sêmen foi caracterizado quanto a volume, densidade espermática, viabilidade, taxa de motilidade e duração da motilidade e a seguir foi crioconservado, utilizando-se um protocolo desenvolvido pelo pesquisador do Instituto de Pesca, Eduardo Gomes Sanches, visando sua posterior utilização em procedimentos de reprodução do mero em cativeiro. O processo de caracterização envolveu a utilização do Sperm Class Analyzer (SCA), um sistema computadorizado acoplado a um microscópio que analisa diversos parâmetros da movimentação do espermatozóide. Elimina a subjetividade das análises, permitindo conclusões seguras sobre a viabilidade do sêmen. A conservação de sêmen traz inúmeras vantagens para o desenvolvimento de um protocolo de cultivo para uma espécie. Permite a otimização do transporte deste material, bem como seu armazenamento em bancos de germoplasma. Estes bancos apresentam grandes benefícios, tais como: manutenção do estoque de sêmen de um grande número de exemplares em botijões criogênicos, garantindo a variabilidade genética e intercâmbio entre as diversas instituições de pesquisa, fornecimento contínuo de sêmen durante toda a estação reprodutiva e redução dos custos na manutenção
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dos plantéis de reprodutores. O próximo passo será a maturação das fêmeas em cativeiro e a utilização do sêmen congelado na fertilização de seus ovócitos e a produção de larvas de mero.
Conhecendo o mero
O mero Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822) é um peixe marinho, que junto com as garoupas, chernes e badejos compõe a família Epinephelidae. Pode atingir comprimento acima de 2,5 metros e peso além de 450 kg (Heemstra & Randall, 1993). O termo itajara proveniente do tupi-guarani, pode ser traduzido como “ita”: pedra, e “jara”: senhor, portanto o mero é conhecido como o “senhor das pedras”. Sua ocorrência tem sido documentada em águas de zonas tropicais e subtropicais da costa oeste do Pacífico, da Costa Rica ao Peru, e também, em ambas costas, oeste e leste e do Atlântico, respectivamente, entre Senegal e Congo (África), e entre a Carolina do Norte (EUA) e Santa Catarina (Brasil). Juvenis são estuarino-dependentes abrigando-se entre as raízes do mangue vermelho (Rhizophora mangle) (Frias-Tor-
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res, 2006). Os adultos se refugiam em parceis mais afastados da costa e em ambientes artificiais como embarcações naufragadas e pilares de pontes. Os Meros são predadores situados em níveis superiores da cadeia trófica, alimentam-se principalmente de crustáceos, lagostas e caranguejos. Juvenis alimentam-se de camarões, caranguejos e bagres marinhos. Partes de polvos, tartarugas e outros peixes também foram encontrados (Sadovy & Eklund, 1999). São animais que, apesar do grande porte, são considerados pacíficos e curiosos, permitindo, por vezes, a aproximação orientada de mergulhadores. De acordo com Bullock et al. (1992), apresentam maturidade sexual entre 5 a 7 anos com comprimento total acima de 110 cm e peso superior a 40 kg (quando saem dos manguezais). Possuem ciclo de vida acima de 40 anos e agregam-se para reproduzir em épocas e locais conhecidos por alguns pescadores, o que facilita a pesca predatória. Essas características tornaram a espécie muito vulnerável, em especial a pesca e poluição, colocando-a em sério risco de desaparecer da costa brasileira. Reprodutivamente, assume-se que o mero, similarmente aos seus congêneres Epinephelus, expressa fortes evidências de uma sexualidade reconhecida com o padrão hermafrodita sequencial protogínico (Bullock et al., 1992), na qual alguns indivíduos desenvolveriam tecido testicular para funcionarem como machos, depois de sofrerem degeneração do ovário. Não está definido se todos machos são obrigatoriamente fêmeas alteradas (monandria), ou se os indivíduos podem amadurecer como macho ou fêmea na “fase inicial” e qualquer um pode se tornar um macho na “fase terminal” (diandria). Embora os condicionantes que pressionam a
decisão da mudança nos papéis sexuais são controversos em hermafroditas, para muitas espécies com sistema social harêmico, o número relativo de machos ou fêmeas e o tamanho dos indivíduos, em populações sob condições de confinamento, têm sido críticos para influenciar a frequência de sucessão do sexo. Os meros são solitários, contudo, no período reprodutivo formam cardumes, fenômeno conhecido como “agregações”, em épocas e locais específicos com a finalidade de encontrar parceiros. Nesse aspecto, as pesquisas têm constatado o desaparecimento gradual dos meros em locais onde costumavam ser abundantes, especialmente durante suas agregações. No entanto, não se sabe exatamente o número de indivíduos e o peso total que tem sido capturado anualmente de forma ilegal. Em função da diminuição dos estoques desta espécie e das características de sua biologia reprodutiva, o governo dos Estados Unidos declarou, em 1999, o mero como espécie protegida, proibindo sua captura na Zona Econômica Exclusiva Americana e nas águas territoriais da Flórida (NMFS, 1999). Na região do Caribe a proibição teve início antes, em 1993. Esse histórico aliado a falta de informações consistentes sobre sua bioecologia, foram decisivos para inclusão dessa espécie na lista vermelha das espécies ameaçadas da IUCN (The International Union for Conservation of Nature), classificada como Criticamente Ameaçada (Pusack & Graham, 2009). Há mais de quinze anos protegida da pesca em todo o Golfo do México, somente em 2002 a espécie recebeu proteção em águas brasileiras (IBAMA, portaria nº 121, de 20 de setembro de 2002). Com isso, tornou-se a primeira espécie de peixe marinho a receber uma portaria específica que estabeleceu a moratória da pesca pelo período de 5 anos, no qual priorizou-se a realização de estudos aprofundados. Em 2007, a portaria do IBAMA n° 42/2007 prorrogou por mais cinco anos a proibição da pesca, transporte e comercialização do mero. No ano de 2012, esforços conjuntos dos pesquisadores do Projeto Meros do Brasil e Ministério do Meio Ambiente (ICMBio) produziram subsídios para proposição de nova prorrogação - Instrução Normativa Interministerial/ INI N° 13/2012 – a qual foi novamente renovada em 2 de outubro de 2015 por mais 8 anos, através de Portaria Interministerial N°13/2015 tendo como prioridade a recuperação das populações de meros no país.
Projeto Meros do Brasil
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Em 2002, tendo em vista o cenário de declínio dos meros na costa brasileira, um grupo de pesquisadores em Santa Catarina criou o Projeto Meros do Brasil, com o objetivo de viabilizar recursos para a pesquisa e conservação de meros. Em 2006, e por mais outras duas edições, (2012 e 2018), o Projeto Meros do Brasil tem contado com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O patrocínio da Petrobras tem alavancado e permitido a realização de estudos de maior amplitude não somente sobre a conservação dos meros, mas também dos ambientes marinho-costeiros associados como manguezais, recifes de corais, costões rochosos e naufrágios ao longo da costa brasileira. Atualmente, os meros são tidos como um símbolo de conservação e proteção dos ambientes costeiros e marinhos. O Projeto Meros do Brasil desenvolve ações de pesquisa e conservação do mero através do estudo da biologia pesqueira, genética, criação em cativeiro, educação ambiental e mergulho científico ao longo da costa brasileira. O Projeto busca ainda a inclusão da sociedade promovendo a equidade de gênero, igualdade e inclusão social.
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Para realizar suas ações de pesquisa, o Projeto Meros do Brasil trabalha com uma rede de parceiros formados por instituições de ensino e pesquisa, distribuídos pelo litoral brasileiro que atuam de forma autônoma, em cooperação técnica e científica. Dessa forma, o Projeto propõe unificar os desafios de pesquisa e conservação de uma espécie que é distribuída amplamente em quase todo o litoral brasileiro. O Projeto Meros do Brasil é realizado por nove instituições que trabalham juntas por meio de uma rede de parceria técnica e científica em seus diferentes pontos focais: Universidade Federal do Pará (PA); Universidade Federal de Pernambuco (PE); Universidade Federal de Alagoas (AL), Grupo Cultural ArteManha (BA); Universidade Federal do Espírito Santo (ES); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (RJ); Instituto de Pesca (SP); Instituto Meros do Brasil (PR) e Instituto COMAR (SC). O Projeto conta também com a parceria de mais de 50 outras instituições e grupos no auxílio do desenvolvimento das ações em prol do conhecimento sobre a espécie e dos ambientes que habita. A Rede Meros do Brasil é hoje mais que uma rede de pesquisa ou um projeto de conservação de uma
Atualmente, os meros são tidos como um símbolo de conservação e proteção dos ambientes costeiros e marinhos.
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espécie ameaçada. Nos últimos anos, consolidou-se uma Rede de instituições governamentais e ONGs, pesquisadores, ambientalistas, mergulhadores e pescadores em vários estados da costa brasileira. Todos os parceiros estão envolvidos diretamente com amplas ações de conservação marinha, e possuem o MERO como ponto de convergência e símbolo de uma espécie que estava quase desaparecendo de nossas águas. As diversas ações da Rede são desenvolvidas de forma autônoma pelas organizações que a integram, e a cooperação técnica e padronização de metodologias entre as diversas instituições são necessárias para se abordar os desafios de pesquisa e conservação do extenso litoral Brasileiro (Hostim-Silva et al., 2005). O Instituto de Pesca foi a primeira instituição a crioconservar o sêmen da garoupa-verdadeira e vem desenvolvendo estudos para a reprodução em cativeiro do mero. A existência do Projeto Meros do Brasil só é possível pela pluralidade de olhares e aspirações compartilhadas entre a academia (onde surgiu), sociedade (para quem se destinam os esforços de conservação dos meros e ambientes marinhos e costeiros) e a iniciativa privada e governamental que suportam, apoiam e acreditam na realização das suas ações. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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O mundo peculiar dos corais: ciclo de vida e formação de recifes Leandro Godoy1,4, Amana Garrido2, Cristiano Pereira3,4, Carla Zilberberg2,4 e Débora de Oliveira Pires3,4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ 3 Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro 4 Instituto Coral Vivo projetoreefbank@gmail.com 1 2
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squeça os padrões que você conhece de relação de cooperação entre duas espécies difeoutros organismos, e venha mergulhar no rentes. Por meio da fotossíntese as zooxantelas mundo peculiar dos corais. O que exterfornecem oxigênio e alimento (glicose, glicerol, namente nos parece tão simaminoácidos) ao coral, ao passo ples, na verdade evoluiu de que o coral dá CO2, nutrientes e proteção para as zooxantelas. uma forma muito sofisticada. Os corais se alimentam do Os corais podem ser soliproduto da fotossíntese das tários ou coloniais. Cada indizooxantelas durante o dia e, víduo solitário ou que faz pardurante a noite, enquanto as te de uma colônia é chamado Simplicidade microalgas “dormem”, o animal de pólipo. Cada pólipo possui por fora não significa se torna mais ativo. Os pólipos uma cavidade gastrovascular são expandidos e os tentáculos (local de digestão e distribuisimplicidade expostos, dessa forma, tudo ção de alimento) e uma boca que nadar próximo pode ser circular cercada por tentácupor dentro. capturado, desde pequenos los, e juntos esses pólipos poanimais planctônicos até partídem chegar a ser milhares em culas orgânicas em suspensão uma única colônia (Figura 1). na água. Ao redor da boca e Dentro dos tecidos dos nos tentáculos existem célucorais vivem microalgas, dinolas de defesa e ataque equipadas com organeflagelados da família Symbiodiniaceae (conhecidas las chamadas nematocistos ou cnidas (Figura 1). como zooxantelas), sua densidade pode chegar Os nematocistos são disparados ao toque (mea 1 milhão/cm2. Elas são essencialmente fábricas de alimento, vivendo em simbiose com os cocanicamente) ou quimicamente, e alguns produrais. Simbiose, que significa “viver juntos”, é uma zem toxinas capazes de imobilizar e matar as presas.
Figura 1. Anatomia de um pólipo de coral pétreo. © Matheus Souza | Projeto ReefBank
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Os recifes de coral brasileiros
À medida que o coral cresce, o que nós vemos é o animal crescendo sobre o esqueleto calcário, que ele fabrica na base dos pólipos. Inúmeros esqueletos acrescidos ao longo de milênios formam a estrutura básica dos recifes de coral. Assim, podemos dizer que o recife é formado principalmente pela sobreposição de diversas gerações de colônias de corais e outros organismos (Pereira et al., 2016). Esse estilo de vida colonial, combinado com processos que aceleram a produção do esqueleto calcário, como o aporte de alimento fornecido pelas zooxantelas, permite que a taxa de formação do esqueleto seja maior que a capacidade de fatores físicos, químicos e biológicos de degradá-lo. A associação coral-zooxantela explica a formação desses ecossistemas em águas rasas tropicais e pobres em nutrientes, em função da dependência da luz solar para fotossíntese. Esse consórcio de organismos que cooperam se manifesta em formas maciças e ramificadas, de alta complexidade estrutural (Figura 2). A Grande Barreira de Corais australiana, por exemplo, possui mais de 2 mil quilômetros de extensão, e é considerada a única estrutura viva da Terra que pode ser vista do espaço.
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Os únicos recifes biogênicos (formados pelo acúmulo de esqueletos calcários) do Atlântico Sul estão ao longo da costa brasileira e abrigam 16 espécies de corais-pétreos zooxantelados, com cinco delas endêmicas do Brasil (Castro e Zilberberg, 2016). O Banco dos Abrolhos, a região do Parque Municipal Marinho do Recife de Fora e outras áreas do Sul da Bahia são considerados os locais de maior biodiversidade marinha na nossa costa. O Parque Municipal Marinho do Recife de Fora nossa área de estudo - está localizado na Costa do Descobrimento (Porto Seguro, BA), possui 17,5 km² e abriga todas as espécies de corais brasileiros, inclusive as popularmente conhecidas como corais-cérebro (Figura 3), espécies-chave por serem considerados os principais construtores dos recifes brasileiros. Figura 2. Parque Marinho do Recife de Fora. © Enrico Marcovaldi
Figura 3. Paisagem recifal com destaque para colônias do coral Mussismilia harttii. Š Luiz Cassino - Concurso Coral Vivo de Foto Sub
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patrocinado pela Petrobras.
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Figura 4. Ciclo de vida dos corais liberadores de gametas. © Matheus Souza | Projeto ReefBank
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Como os corais se reproduzem? Os corais podem se reproduzir tanto de forma assexuada como sexuada. Os tipos mais comuns de reprodução assexuada se dão por meio da produção de larvas não fertilizadas do próprio indivíduo, por brotamento de um pólipo que se separa do pólipo parental ou pela fragmentação das colônias (Pires et al., 2016). Esse processo continua durante toda a vida do organismo, sendo que os novos corais são clones da colônia parental. A reprodução sexuada envolve a produção de gametas (espermatozoides e oócitos) e promove diversidade genética por meio da fecundação cruzada entre indivíduos (Figura 4). A maioria das espécies realiza ambos os tipos de reprodução. Os corais podem apresentar colônias ou pólipos de um único sexo (masculino ou feminino), ou hermafroditas. Neste último caso, um mesmo animal apresenta ambos os sexos, podendo ocorrer pólipos hermafroditas em toda a colônia, ou colônias com uma mistura de pólipos machos e pólipos fêmeas (Pires et al., 2016). Nas três espécies endêmicas de coral cérebro (Mussismilia braziliensis, Mussismilia hispida e Mussismilia harttii), os gametas masculinos e femininos são produzidos no mesmo pólipo, dentro de dobras de tecido chamadas mesentérios. Dessa forma, quando os gametas estão maduros a parede dos mesentérios se rompe, e os oócitos e espermatozoides são liberados para o interior da cavidade gastrovascular dos pólipos, onde ficam envoltos por muco formando um pacote compacto (Figura 1). Nos dias de desova, os pacotes contendo oócitos e espermatozoides são liberados pelas bocas dos pólipos. Quando saem das bocas, os pacotes, que boiam, atingem a superfície do mar. Na superfície, eles se rompem e os espermatozoides e
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oócitos se dissociam uns dos outros. Essa estratégia garante que os gametas sejam transportados de forma eficiente até a superfície, minimiza a diluição espermática, aumentando as chances de encontro entre os gametas femininos e masculinos e a formação de novos indivíduos. A fecundação é cruzada, na qual o oócito de uma colônia é fecundado pelo espermatozoide de outra colônia. A divisão celular se inicia poucas horas após a desova, com o desenvolvimento do embrião ocorrendo na coluna d’água já no primeiro dia. A larva plânula se desenvolve em seguida e é levada pelas correntes marinhas por alguns dias. Quando a larva se fixa e assenta permanentemente ao substrato, sofre metamorfose, transformando-se em um pólipo juvenil ou fundador, que começa a produzir o esqueleto calcário em sua base. Esses pólipos fundadores então se multiplicam de forma assexuada, por divisão, e assim se dá o crescimento das colônias (Pires et al. 2016). O conhecimento da época exata em que se dá a desova dos corais torna possível a coleta dos seus gametas, a realização de reprodução in vitro e até mesmo o uso de técnicas de criopreservação como o congelamento, a vitrificação e o resfriamento. Essas biotecnologias estão sendo utilizadas no nosso projeto e terão um papel crucial na conservação dos recifes de coral, haja vista as sérias ameaças que esses ecossistemas estão sofrendo ao redor do mundo, e que será tema do nosso próximo artigo. O ReefBank conta com o apoio do Projeto Coral Vivo (patrocinado pela Petrobras), do Instituto Coral Vivo, da Fundação Grupo Boticário, do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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Ostras da Amazônia:
Uma oportunidade de negócio sustentável Ana Conceição Abreu de Sousa Analista do Sebrae no Pará - Gestora do projeto Ostras da Amazônia Capanema, Pará anaabreu@pa.sebrae.com.br
o Pará, o extrativismo de moluscos é realizado durante o ano todo. Esta atividade constitui a renda principal ou complementar das famílias. Todavia, catadores e intermediários apontam que os estoques desse recurso pesqueiro vêm diminuindo ao longo dos anos. Com base neste cenário, iniciam-se os primeiros experimentos com cultivo de ostra (Crassostrea brasiliana) no Pará, no período de 2001 a 2003, em municípios que, até então, tinham como prática a coleta de ostras do extrativismo, com danos crescentes ao estuário
natural. A ostra não era vista como uma possibilidade de um negócio sustentável. Em 2003, a ostreicultura paraense é qualificada por Alcântara Neto como uma nova e importante alternativa econômica para transformar o extrativismo em uma atividade de produção, evitando assim a diminuição dos estoques e a possibilidade de esgotamento dos mesmos. Em 2004, a Prefeitura Municipal de Augusto Corrêa reativa o projeto em escala comercial e firma parceria entre prefeitura, Sebrae e a associação representativa dos produtores – Agronol*.
A Agronol é hoje denominada Associação dos Agricultores e Aquicultores de Nova Olinda – Agromar e é atualmente a maior produtora de ostras do estado do Pará, com produção de 39.772 dúzias (dezembro/ 2018). *
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O projeto destaca-se pela possibilidade de promover a inclusão social mediante a suplementação da renda familiar, promoção de igualdade entre gêneros e fortalecimento da segurança alimentar.
Rural do Estado do Pará – EMATER e Al-Invest 5.0, que desempenharam uma multiplicidade de papeis e responsabilidades. Do ponto de vista social, o projeto Ostras da Amazônia destaca-se pela possibilidade de promover a inclusão social mediante a suplementação da renda familiar, promoção de igualdade entre gêneros e fortalecimento da segurança alimentar. Do ponto de vista econômico, a produção estável de ostras pode contribuir para a abertura de novos mercados, gerando emprego e renda. Do ponto de vista ambiental, o cultivo de ostras pode reduzir a pressão sobre os estoques naturais.
Benefícios e ações
O projeto Ostras da Amazônia tem como objetivo geral tornar a ostra de cultivo acessível aos consumidores do Pará e de outros estados, promovendo sua produção com qualidade, através do desenvolvimento da tecnologia social de baixo impacto ambiental, fortalecendo a rede “Nossa Pérola” como marca coletiva e iniciando o processo de Indicação Geográfica de Origem, para elevar a competitividade e agregar valor às Ostras da Amazônia e ser referência nacional. O projeto beneficia 80 produtores de agricultura familiar, os quais, em sua maioria, antes da implantação do projeto, já exerciam outras atividades da agricultura; porém a ostreicultura é referência na geração da renda familiar. Os resultados obtidos com a atividade são analisados de forma coletiva e individual, o que permite identificar e premiar os três melhores produtores do ano nos critérios de produção/ produtividade e comercialização, além da categoria “Mulher de Negócios – Ostreicultura. Esse trabalho permite avaliar o desempenho, o interesse e as necessidades dos produtores, de forma a direcionar as ações de gestão do projeto.
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A partir de 2005, foram implantados oito cultivos de ostras (dos quais dois são produtores de sementes de bancos naturais), com tecnologias apropriadas para a região amazônica, distribuídos em cinco municípios no litoral nordeste paraense, organizados em associações, as quais compõem a Rede Nossa Pérola, criada em 2009, com a finalidade de organizar as associações de produtores para elaborar, compartilhar e padronizar estratégias de trabalho, visando o desenvolvimento uniforme e sustentável da ostreicultura paraense. Além do Sebrae, o projeto contou com parceria de diversas instituições, como Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará - Adepará, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca - SEDAP, Prefeituras Municipais, Universidade e Instituto Federal do Pará (UFPA e IFPA), Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Dentre as principais ações executadas no projeto, estão:
1. 2. Encontros Estaduais de Produtores de Ostras da Amazônia; 3. Inovação e marketing com foco em Inteligência de Mercado; 4. Convênio de Cooperação Técnica e Capacitações para profissionalização dos produtores;
Financeira (2009) - firmado entre Sebrae, Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura – SEPAQ (atualmente SEDAP) e Ministério da Pesca;
5.
Regularização dos produtores - Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP, Registro Geral de Pescador - RGP aquicultor e Inscrição Estadual de Produtor Rural;
6. 7. Autorização Direta para os cultivos em área de Reservas Extrativistas; 8. Regularização da atividade de ostreicultura
Regularização dos cultivos com a Dispensa de Licença Ambiental;
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no Estado do Pará, pela Adepará.
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Houve divulgação do projeto em feiras e festivais de negócios, além de destaques na imprensa regional e nacional. O projeto também recebeu dois importantes prêmios: Prêmio internacional na categoria “Melhoria da Produtividade e Inovação nas MPEs”, no concurso “Transformando Vidas”, em 2018, pelo Programa AL-Invest 5.0, na Guatemala; e o Prêmio Inovação Aquícola 2019, vencedor na categoria Produção, a mais concorrida da premiação, com 21 projetos inscritos. O projeto paraense recebeu 1.242 votos, somando 48,5% da votação geral do Prêmio.
Conclusão
A ostreicultura no Pará, único estado na região Norte com cultivo de ostras da Amazônia, é vista hoje como importante alternativa de inclusão sócio produtiva, cujo
diferencial está na busca da sustentabilidade. Com o projeto Ostras da Amazônia - Negócios Sustentáveis, foi possível a implementação de cultivos que preservam o meio ambiente, geram renda para os produtores locais e promovem a conservação dos bancos naturais do estado do Pará. Para o biênio 2019 – 2020, o projeto, através da Rede Nossa Pérola, tem como principais objetivos: 1) Registro para agroindústrias com Serviço de Inspeção Estadual SIE e Serviço de Inspeção Federal - SIF, qualificando a ostra para comercialização de acordo as legislações vigentes; 2) Registro da marca “Ostras da Amazônia” através do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI; 3) Aumento da produção de ostras em 71% (de 70.628 para 120.800 dúzias), e consequentemente, o aumento de faturamento para os produtores, estimado em R$ 1.207,700 (hum milhão, duzentos e sete mil e setecentos reais).
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Tabela 1. Evolução da ostreicultura no estado do Pará.
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© Capri23auto
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Microbiota intestinal em peixes de aquicultura José Pablo Fuentes Quesada Zootecnista e especialista em nutrição aquícola Centro de Investigación Científica y Educación Superior de Ensenada Baja California, México pablofuentesq@gmail.com
O
trato gastrointestinal (TGI) é responsável Os estudos sobre a microbiota intestinal têm por processos fisiológicos vitais como aumentado nos últimos anos, devido aos avanços osmoregulação, digestão dos alimentos, na tecnologia de sequenciamento de nova geração, absorção de nutrientes, que permitiram reduzir o regulação endócrina, rescusto de identificação da posta imune, eliminação de composição e riqueza de metabolitos tóxicos, além comunidades microbianas de funcionar como uma presentes nas membranas Esta comunidade barreira de defesa contra das mucosas dos peixes. agentes patogênicos. Por complexa de Estas novas tecnologias sua vez, a mucosa intestinal microrganismos benéficos abriram a possibilidade de é colonizada principalmente estudar a relação entre a por bactérias e, em menor que estão presentes no microbiota e homeostase escala, por leveduras, vírus, dos peixes, permitindo a archaea e protozoários. Esta TGI de peixes, e que compreensão em maior comunidade complexa de detalhe da composição formam relações comensais microrganismos benéficos que e do metabolismo da estão presentes no TGI de ou de mutualismo com microbiota, e seu efeito peixes, e que formam relações sobre a fisiologia e saúde comensais ou de mutualismo o hospedeiro, é o que do hospedeiro. Não é de com o hospedeiro, é o que chamamos de microbiota. se admirar que esta estreita chamamos de microbiota. A relação remonta a milhares importância do papel desses de anos de co-evolução, microrganismos no TGI deveonde a sobrevivência se ao fato de que a relação e inúmeros processos simbiótica que prevalece entre a microbiota e o hospedeiro é fundamental metabólicos podem ser realizados completamente ou para manter a homeostase do organismo. facilitados por essas comunidades de microrganismos.
Microbiota transitória e residente
As bactérias que estão presentes no intestino dos peixes podem ser classificadas de acordo com a sua interação com o hospedeiro como microbiota transitória, que são incapazes de aderir à superfície da mucosa do TGI, e estão geralmente presentes nas fezes, podendo ser patogênicas. Já a microbiota residente é capaz de colonizar e se estabelecer na mucosa do TGI. Dentro da microbiota residente, existe a presença de diversos táxons de bactérias no intestino que são semelhantes entre os peixes da mesma espécie e entre espécies de diferentes regiões geográficas, o que sugere que há um grupo de bactérias que têm um papel importante nas funções de TGI e no estado geral do hospedeiro, sendo chamado de microbiota intestinal central.
O papel da microbiota
A microbiota desempenha um papel essencial para o bom desenvolvimento e maturação de TGI e o sistema imune em peixes, através da regulação da expressão molecular associada com a proliferação e diferenciação intestinal, o metabolismo dos nutrientes e genes de resposta inata. Os animais cultivados em ambiente estéril apresentam: diferenciação incorreta do epitélio intestinal, diminuição da atividade de fosfatase alcalina na borda em escova, perda da capacidade de absorver macromoléculas, e redução na presença de células mucosas e enteroendócrinas, que sublinha a importância da microbiota em uma funcionalidade
intestinal adequada. São também identificadas bactérias na microbiota intestinal que contribuem para a produção de vitaminas e enzimas exógenas como celulases, quitinases e fitases, para melhorar o processo digestivo nos peixes. Enquanto isso, as bactérias residentes fazem parte da primeira linha de defesa no intestino quando participam na regulação da permeabilidade paracelular, na produção de biofilmes segregando peptídeos antimicrobianos que limitam a colonização do patógeno.
Fatores de influência na composição e abundância
A composição e abundância da microbiota é influenciada pelo nível trófico, época do ano, salinidade, origem dos animais (selvagens ou cultivados) e tipo de dieta (Figura 1). Por exemplo, a maior diversidade de microbiota intestinal em peixes herbívoros, onívoros e planctófagos, em comparação com peixes carnívoros, está associada a intestinos mais longos. Uma microbiota mais diversificada facilita os processos de fermentação de material de origem vegetal da dieta (Figura 2). Da mesma forma, foi relatado que um aumento superior a 21 °C na temperatura da cultura reduz a abundância de bactérias do ácido láctico (BAL) do intestino no salmão do Atlântico, e tem sido associado a um efeito protetor mais baixo do BAL contra bactérias patógenas como Vibrio spp. Neste sentido, quando ocorre uma mudança no equilíbrio da microbiota que modifica sua funcionalidade e afeta a
Figura 1. Alterações nos fatores bióticos e abióticos afetam a composição e funcionalidade da microbiota que se reflete no crescimento, estado de saúde, utilização de alimentos, entre outros (Adaptada de Ghanbari et al., 2015).
Fatores bióticos e abióticos
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• Estilo de vida do • Genótipo animal
• Fisiologia
• Sistema imune
• Comunidade transitória
• Meio ambiente
Microbiota intestinal do peixe •Mudança na composição (filogenia)
•Mudança no metabolismo microbiano
•Mudança no nível de expressão dos genes
Hospedeiro Mudança no fenótipo: • Absorção de • Eficiência • Taxa de conversão •Crescimento • Desempenho • Sanidade energia alimentar alimentar
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Figura 2. Peixe carnívoro: a) Oncorhynchus mykiss; peixes onívoros/herbívoros: b) Ictalurus punctatus, c) Cyprinus carpio; peixe planctófico: d) Chanos chanos (Adaptado de FAO, 1980).
Boca
Esôfago
Estômago
Intestino Intestino médio posterior
A Seco pilórico
A
B B Vesícula biliar
C C D D
Moela
Figura 3. Interação da microbiota hospedeira durante a homeostase e disbiose (Tirada de Llewellyn et al., 2014).
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saúde ou o desempenho do hospedeiro, é chamado disbiose (Figura 3). No que diz respeito à dieta, tem sido demonstrado que a inclusão de ingredientes vegetais como substituto da farinha de peixe provoca uma diminuição na sobrevivência e crescimento em várias espécies cultivadas na aquicultura. Estes efeitos adversos são mais evidentes em espécies carnívoras de peixes marinhos, onde tem sido relacionado a um aumento na incidência de alterações intestinais, como a enterite, devido a fisiologia digestiva e a microbiota não estarem totalmente adaptadas para o uso de proteínas vegetais. Essas consequências estão associadas com mudanças na microbiota e tem sido proposto que a abundância relativa de certas bactérias pode ser usada como biomarcadores de saúde intestinal. Neste contexto, onde todos os dias há uma busca por dietas livres de farinha de peixe, o estudo sobre o efeito de novos ingredientes alternativos (insetos, microalgas, microbiana) permitiria identificar populações que são moduladas e possíveis interações negativas ou positivas com o hospedeiro, a fim de promover uma microbiota saudável para manter o desempenho, a saúde e o bem-estar ótimo dos peixes, visando promover a aquicultura sustentável.
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© Jéssica Brol | Aquaculture Brasil
A Economia Circular na Indústria de pescado:
Panorama e desafios para a implantação de sistemas produtivos Ms Eng. Alexandre Gobbo Fernandes
Eng. Fabrício Flores Nunes
Consultor Associado GEOCIDADES Membro sênior da CEP-Americas (Circular Economy Platform of the Americas) Consultor especialista em Economia Circular geocidades.consultoria@gmail.com
Diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica do Instituto de Pesquisa, Extensão Rural e Organismos Aquáticos – PEROÁ Consultor em Aquicultura Biotecnológica e Novos Negócios fabriciofloresnunes@gmail.com
A Economia Circular e a indústria de alimentos
Em abril de 2019 foi apresentada pelo Ministério da Agricultura Holandês, uma abordagem circular e de sustentabilidade para o sistema agro-alimentar consumo humano de alimentos tem um na “Oficina para Qualidade Alimentar e Natureza” papel relevante para realizada pela OECD em Paris, a agenda por um no artigo intitulado “Circular desenvolvimento sustentável. Approach and the Sustainability Levantamentos e cálculos da of the Agro-food System”. O rede “Global Footprint Network” documento, muito aprofundado site que monitora a pegada e técnico no tema, coloca Nos Estados Unidos ecológica e a biocapacidade desde o início que o conceito que ainda é mantida em todo da economia circular no sistema estima-se que 40% o mundo, defende que todos agroalimentar está relacionado os países, indiferente de seu à diversas questões ao longo dos alimentos sejam nível de desenvolvimento, têm de toda a cadeia de produção desperdiçados, o que é de alimentos. Nele, diversas grande responsabilidade sobre os desperdícios de alimentos. questões são apontadas para equivalente à Pegada Como um exemplo do impacto, a mudança para um modelo nos Estados Unidos estima- Ecológica total do Peru e de produção mais circular, se que 40% dos alimentos destacando três pontos chaves: da Suécia combinada. sejam desperdiçados, o que é a) redução do desperdício equivalente à Pegada Ecológica de alimentos e emissões na total do Peru e da Suécia produção de alimentos combinada, ou a biocapacidade incluindo gases de efeito estufa; total da Alemanha. Em relação b) reciclagem de embalagens ao pescado, segundo o último relatório sobre o de alimentos e plástico, em particular e; “Estado da Pesca e Aquicultura Mundial”, SOFIA c) uso em cascata de produtos alimentícios, (FAO, 2018) estima-se que a perda seja de 35% do incluindo o uso para fertilizantes (Cingiz; Wesseler, volume capturado. 2019).
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Segundo dados do Global Footprint Network (2019):
1,3 bilhão de toneladas/ano
Cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo para consumo humano - 1,3 bilhão de toneladas a cada ano - são perdidos ou desperdiçados;
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A demanda atual por alimentos representa 26% da Pegada Ecológica global e a quantidade de alimentos descartados pelos países, tanto de alta quanto baixa renda, equivale a 9% da Pegada Ecológica da humanidade. A Economia Circular também é apontada como uma estratégia efetiva para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, não apenas para consumo e produção responsáveis (Objetivo 12), como também para atingir o objetivo de Fome Zero (Objetivo 2) . Os sistemas circulares, tanto para produção de alimentos quanto para as práticas agrícolas, assim como o uso de materiais mais naturais e produtos biodegradáveis fechando o ciclo biológico de produção, pretendem ajudar a reduzir o uso de água e fertilizantes e reduzir a contaminação de alimentos. Com as práticas de distribuição e modelos de compartilhamento, previstos numa Economia Circular, para os equipamentos agrícolas, atesta-se que seria possível influenciar positivamente em mudanças desejadas para criar cadeias de valor agrícolas mais sustentáveis, com a redução de perdas de alimentos ao mesmo tempo aumentando a produtividade (Schroeder; Anggraeni; Weber, 2018). O impacto das práticas de Economia Circular em setores como silvicultura e agricultura são considerados particularmente relevantes para os contextos dos países em desenvolvimento pois podem gerar economias agrícolas circulares capazes de promover sistemas alimentares locais e sustentar meios de subsistência. A noção de uma Economia Circular “restabelecedora e regenerativa por design”
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é considerada um fator relevante para esses dois setores, pois define a sustentabilidade do desempenho e produtividade dos setores florestal e agrícola com práticas que visam restaurar e ao mesmo tempo não diminuir a capacidade regenerativa dos ecossistemas (Preston; Lehne, 2017).
A Economia Circular e a realidade brasileira Para aumentar suas chances de êxito para gerar benefícios sociais em ambientes socioeconômicos como do Brasil, a economia circular precisaria ser adaptada ao contexto local, bem como as tecnologias aplicadas precisariam associar os saberes da população local ao conhecimento científico. Tecnologias comprovadas e descentralizadas, capazes de restaurar os nutrientes orgânicos para o solo para melhorar a produção de alimentos e causar impactos ambientalmente positivos são exemplos voltados à economia circular. Isso é o que aponta um trabalho da organização TEARFUND que investigou os benefícios da economia circular no contexto brasileiro e mostrou que o uso de biodigestores para tratamento de estrume direcionado à produção de fertilizantes e gás de cozinha são tecnologias circulares efetivas para países como o Brasil (inclusive existem experimentos produzindo gás a partir de carapaças de camarão, veremos isso nos próximos artigos). O mesmo trabalho conclui que a busca pelos benefícios sociais da Economia Circular inclui mudanças nas práticas de produção de alimentos. A economia circular poderia contribuir em comunidades pobres que sofrem desigualdades e falta de oportunidades ao ser utilizada de maneira apropriada para atuar de forma complementar a modelos de produção agrícola baseado na Agroecologia, fundamentando-se em quatro pilares: sustentabilidade, estabilidade, resiliência e capital próprio - com grande potencial para responder a situações de exclusão e invisibilidade, endereçando problemas de desigualdade, protagonismo e dignidade das pessoas (Fernandes, 2016). Para criar uma indústria do pescado baseada em uma economia circular é então, essencial, dar apoio às comunidades locais para que possam conceber sistemas de produção que sejam regenerativos, que não esgotem as populações de peixes ou danifiquem os ecossistemas aquáticos. Com esta premissa, buscase atividades de pesca e aquicultura mais resilientes e viáveis para as gerações futuras. Na publicação de 2019 da FARNET, rede da UE no âmbito do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), que integra grupos de ação local, autoridades de gestão,
cidadãos e peritos, empenhados no desenvolvimento das comunidades locais, são reunidos casos e estratégias para a implementação da economia circular em zonas pesqueiras e aquícolas. O trabalho abrangente realizado por Burch et al. (2019) apresenta como a implementação de sistemas econômicos circulares poderiam ajudar os produtores e processadores locais a adaptar seu trabalho para criar formas de valorizar ao máximo os recursos utilizados nos processos, em vez de desperdiçá-los. Neste sentido, para planejar sistemas econômicos circulares e concretizar este objetivo em um dado sistema específico (baía, enseada, município, porto, região, etc), é necessário que os estoques e fluxos de materiais (água, comida, excremento, águas residuais, etc) e substâncias (nitrogênio, fósforo, carbono ou CO2, GEE’s, etc.) sejam quantificados e avaliados. De forma geral, modelos econômicos circulares abrangem diversos pontos de mudanças na visão estratégica, que impactam nas várias etapas da cadeia de valor, conforme pode ser observado na figura 1. A colaboração para criar uma economia circular muitas vezes envolve a utilização compartilhada de serviços e infraestruturas que possibilitem trocas recíprocas e benéficas entre as diferentes partes em um território, destaca o trabalho. A chamada “Simbiose Industrial” envolve a colaboração de todas as partes
interessadas dentro de um raio geográfico relativamente pequeno para o intercâmbio de subprodutos e resíduos das atividades produtivas, valorizados como insumos. Exemplos de iniciativas que vêm apresentando resultados positivos são: • O trabalho conjunto para desenvolver novas cadeias de valor a partir das conchas de ostras como insumo para produção de ração animal, fertilizantes, tinta para estradas, filamentos para impressoras 3D e solas de sapato, realizado por 20-25 produtores de ostras e uma fábrica local, em associação com um laboratório de pesquisa na região de Auray e Vannes, França; • O apoio para testar um sistema circular na qual os resíduos de restaurantes locais são coletados e utilizados para produzir insetos, transformados em farinha de proteína para ração de peixes destinada à aquicultura, realizado pelo Instituto Oceanográfico Paul Ricard em Esterel Côte d’Azur; O mesmo trabalho destaca benefícios potenciais da implementação de modelos econômicos circulares para este setor: • Otimizar o uso dos insumos de matéria-prima virgem; • Diminuir a geração de resíduos, descartados para incineração ou aterro (duas práticas que incorrem em grandes riscos ao meio ambiente);
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Figura 1. Algumas das perguntas estratégicas que devem ser feitas para estimular a reflexão sobre o potencial para o planejamento de sistemas econômicos circulares que constituam mudanças estruturadoras das etapas da cadeia de valor de pescado.
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• Desenvolver mais formas de gerar valor na produção, com insumos, produtos e processos; • Aumentar a resiliência da produção realizada por comunidades. Além da recuperação de resíduos como matériaprima de alto valor, numa Economia Circular produtores deverão repensar a maneira de usar os equipamentos e máquinas de pesca e aquicultura. Para tanto, produtores colaborando em toda a cadeia, precisam questionar alguns processos e práticas atuais em busca de soluções inovadoras e novos modelos de comercialização que irão exigir a agregação de mais atividades e atores à cadeia de valor. Neste sentido, modelos de compartilhamento e contratos de aluguel e leasing ao invés da transferência de posse, devem ser desenvolvidos para incluir a manutenção e a revenda e prever a remanufatura e o upgrade de equipamentos, utensílios e instalações. Sistemas econômicocirculares, exigirão ainda diferentes cadeias de logística e redistribuição, tanto para recuperação do valor de resíduos quanto para a utilização compartilhada de equipamentos, utensílios e instalações pelo máximo de tempo e qualidade, e demandando regulamentações adequadas para as novas atividades da cadeia circular de produção.
Conclusão
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A economia circular depende da colaboração entre produtores. Sua finalidade é maximizar o uso eficiente e efetivo de materiais e isso envolve compartilhar recursos e estabelecer correspondências entre as atividades produtivas e as necessidades de insumos das partes de um sistema produtivo. Para tanto, existem algumas etapas para planejar cadeias de valor para uma economia circular:
1. Analisar o potencial dos modelos em economia circular para as cadeias de valor; 2. Conscientização para mudar a mentalidade e o comportamento nas atividades e operações; 3. Aprofundamento nos conceitos e incentivo ao empreendedorismo; 4. Estabelecer arranjos e associações para colaboração, compartilhamento e simbiose industrial; 5. Repensar modelos de negócios baseados na posse de produtos e atrair investimentos para inovações. Para o setor de pescado, encontrar sinergias e estabelecer associações construtivas essenciais em nível local, é fundamental o desenvolvimento de
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relações entre pescadores, produtores de aquicultura, indústrias, sociedade civil e instituições locais. Isso pode acontecer no nível de uma única iniciativa, como a criação de uma cadeia de fornecimento de conchas de moluscos ou de carapaças de crustáceos, que exigirá o envolvimento de várias partes interessadas e dependendo da escala de atuação, pode ser ser necessário mobilizar mais parceiros, identificar e apoiar o desenvolvimento de ideias inovadoras para atividades específicas em economia circular e estudar outras sinergias. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
Indústria de pescado e o plástico (Burch et al. 2019): Graças à sua natureza resistente à decomposição, o plástico provou ser extremamente eficaz no meio marinho. A indústria de pescado é, como outras, também dependente do plástico para, por exemplo, as artes de pesca, equipamento de aquicultura, engradados, embalagem, etc (Figura 02). No entanto, o plástico é um material não biodegradável derivado de combustíveis fósseis, que causam prejuízo aos ecossistemas marinhos. De fato, as comunidades piscatórias estão bem conscientes das consequências devastadoras que os microplásticos têm para os organismos marinhos. Mais de 80% do lixo marinho da Europa é composto de plástico de diferentes tipos e estima-se que 27% (11 000 toneladas) são resíduos de plástico de artes de pesca (redes, cordas, barcos, armadilhas, etc.). Isso faz com que o manejo do plástico seja uma prioridade também para pescadores e produtores de aquicultura, se desejarem um ecossistema marinho saudável capaz de manter a produtividade da atividade (Figura 03). Exemplos de inovações que substituem o plástico de fontes fósseis: • Novo composto bioplástico biodegradável com base biológica e compostável, fabricado industrialmente a partir de conchas de ostras. Este material poderia ser usado para criar coletores de sementes de ostra; • A corda usada para cultivo de mexilhões foi substituída por algodão biodegradável. Esta solução foi copiada do sistema Hairy Rope da Nova Zelândia e, além de respeitar o meio ambiente, é mais eficaz para semear filetes e coletar mexilhões.
© amdro2003.blogspot.com
Figura 2. Estrutura de cultivo de ostras fazendo uso de bombonas e outras embalagens plásticas como flutuadores. A atividade de cultivo de moluscos marinhos muitas vezes tem mais viés social do que econômico, impossibilitando o produtor adquirir materiais e petrechos específicos, ou pelo inexistência no mercado nacional ou pelo alto custo de aquisição de equipamentos importados de países com produção consolidada.
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© ABC Rural - Laurissa Smith
Figura 3. Bombonas plásticas específicas para serem utilizadas como flutuadores separadas para a reciclagem. A combinação água do mar e exposição ao sol e intempéries diminui a vida útil dos polímeros, mesmo que específicos. O tempo de vida de polímeros reutilizados ou adaptados é muito menor, e também menos resistentes aos manejos diários. Estas bombonas são de fazendas de cultivo de ostras na Tasmânia.
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BluEco Net – Workshop sobre Aquicultura Multitrófica Integrada e o futuro da aquicultura sustentável no Brasil Rafael Mansano Martins
Doutores em Aquicultura Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos Sustentáveis *angelicareis@konablue.com.br
A
tualmente, a Aquacultura Multitrófica Integrada (ou na sua sigla em inglês IMTA ou Integrated Multitrophic Aquaculture) tem ganhado popularidade principalmente pelas práticas de produção de alimentos sustentáveis em todo o mundo. As operações pioneiras bem sucedidas, as pesquisas científicas, publicação de documentos e realização de projetos, bem como surgimento de linhas de financiamento disponíveis dedicados ao tema comprovam isso. Face ao exposto, a BluEco Net e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizaram um workshop sobre este tema voltado para a indústria aquícola nacional. A BluEco Net é uma cooperação
Zootecnista Kona Blue Aquacultura, Tecnologia e Alimentos Sustentáveis
. O objetivo foi determinar o interesse da indústria no IMTA no Brasil, os atuais gargalos de implementação, uma agenda de pesquisa em sintonia com as necessidades da indústria, bem como para interligar os mercados internacionais.
bi-lateral entre Brasil e Alemanha, cuja temática é voltada para pesquisas sobre bioeconomia e aquicultura, focando em toda cadeia de valor dessa atividade. Juntos, a rede incentiva projetos que desenvolvem novas tecnologias e processos para melhoria dos aspectos ambientais e econômicos destas duas áreas temáticas. O evento ocorreu nos dias 18 e 19 de junho de 2019, em Florianópolis, Santa Catarina, e reuniu pesquisadores nacionais e internacionais, especialistas do setor e a iniciativa privada. O objetivo foi determinar o interesse da indústria no IMTA no Brasil, os atuais gargalos de implementação, uma agenda de pesquisa em sintonia com as necessidades da indústria, bem como para interligar os mercados internacionais.
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Maria Angélica Reis* William Bauer
O Secretário Nacional de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, com o professor Dr. Walter Seiffert da UFSC, após sua apresentação no workshop. © Instagram @lcmufsc
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Fábio Pereira, coordenador do BluEco Net, durante sua apresentação da rede no workshop em Florianópolis. © Instagram @lcmufsc
Participaram do workshop universidades brasileiras (UFSC, FURG, CAUNESP, UEM, UFPB), além da EMBRAPA e EPAGRI, e empresas privadas Redemar Alevinos, Kona Blue Aquacultura, Maricultura Itapema, Maricultura Costa Verde, Agertek, SynbiAqua, Lohn Bier, entre outras. Como convidados internacionais, estiveram presentes pesquisadores do Alfred Wegener Institute (Alemanha), Centro de Investigaciones Biológicas del Noroeste – CIBNOR (México), além de empresas do setor sediadas em Portugal e Alemanha. Durante o evento foram apresentadas iniciativas de produção e resultados de pesquisas em sistemas multitróficos, bem como em outras áreas de aquicultura sustentável, como bioflocos e aquaponia. A discussão girou em torno dos gargalos para a produção em IMTA, sobretudo regulamentação específica e licenciamento desta nova atividade. O workshop contou com a presença do Secretário Nacional de
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Exemplar da “cerveja Aquicultura e Pesca, Sr. Jorge Seif multitrófica” da Júnior, que se comprometeu a cervejaria Lohn Bier, atender prontamente os interessaGose Salicórnia. dos no setor, de modo a elaborar normativas e soluções para facilitar a implantação de novos projetos. Foi possível também, durante o evento, degustar a Gose Salicornia, a chamada “cerveja multitrófica” da Lohn Bier, cervejaria de Lauro Muller-SC. Esse tipo de cerveja especial possui sabores dominantes de acidez de limão, característica herbácea e forte salgado, e para isso foi utilizada a Salicornia produzida pela UFSC em um sistema IMTA. A BluEco Net realiza eventos anuais no Brasil, e o programa está em vias de ser renovado por mais três anos. Os próximos passos são estreitar os laços entre as universidades e empresas brasileiras e internacionais, produzir artigos científicos, patentes e desenvolver protocolos para uma aquicultura sustentável econômica e ambientalmente.
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C
om anos de tradição, a Escama Forte estar entre os principais fornecedores de produtos faz parte de um grupo empresarial com e insumos da aquicultura brasileira. atuação nacional e unidades próprias de Distribuidor das marcas INVE, Phytobiotics, comercialização em Natal/RN, Nutriad, Organpesc, ASTEN, Acaraú/CE, Aracati/CE, Brejo REHAU, BIORIGIN, Alfakit, Grande/SE e mais recentemenCARBONOR, Bonkoski, Claste em Itabaiana/PB, além de sifish, Super Pond, Akso, entre possuir uma unidade de produoutras, a Escama Forte tem ção de tilápias em tanques-reuma linha completa de prode localizada em Zacarias/SP, e bióticos e bioremediadores, contar com diversos represen- O braço direito de todo aeradores de todos os modetantes técnicos em todo o terriaquicultor tem nome los, medicamentos, promototório brasileiro. res de crescimento naturais, e sobrenome: Escama A Escama Forte utiliza a equipamentos e kits de meditecnologia como ferramenta ção de parâmetros de qualidaForte. principal na hora de melhorar de de água. Conta ainda com o desempenho produtivo da o OxiAqua (oxigenador de aquicultura. Dessa forma, visa emergência), alimentadores sempre contribuir com o cresautomáticos, Classifish (classicimento e a consolidação do ficadora de peixes), bomba de segmento no Brasil, gerando transporte de peixes e camavalor para clientes, fornecedores e colaboradores rões, redes (bagnets, puçás etc), Halamid (desinde uma forma justa. Sem deixar de lado a compefetante e terapêutico), corretivos de água, bicartitividade com ética, a excelência com simplicidade bonato, Lothar, calcários, entre outros, além de e os resultados com integridade, tem o objetivo de tudo isso, está sempre em busca de inovação e
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Espaço empresa
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soluções para atender de forma eficiente e satisfatória todos os clientes. A Escama Forte sempre participa de feiras e eventos ligados a aquicultura e realiza Workshops com o intuito de capacitar clientes e parceiros. Dentre esses eventos, podemos destacar a FENACAM (Feira Nacional de Camarão), que já se consolidou como o acontecimento técnico-científico e empresarial mais importante da Carcinicultura Brasileira e Latino Americana, mantendo a tradição em mais de 15 anos de ser o evento que representa os segmentos da Carcinicultura, Piscicultura e Malacocultura, e acontece no Nordeste e do Brasil. Presente também na Aquishow Brasil, que reúne integrantes da aquicultura mundial que buscam conhecimento, realização de negócios, novos mer-
cados e tendências por meio de interação entre produtores e inovações tecnológicas do setor, a Escama Forte tem presença cativa no evento com o objetivo de aperfeiçoar práticas de produção e de desenvolvimento sustentável, através de novas técnicas e tecnologias voltadas para o incremento da aquicultura em tanques-rede ou viveiros escavados, ressaltando a importância da sustentabilidade da atividade com base nos aspectos econômico, social e ambiental. Portanto, você já sabe, quando o assunto é aquicultura, a Escama Forte é o parceiro que você precisa para obter os melhores resultados para o seu negócio. Acesse nossas redes sociais, entre em contato conosco e vamos iniciar mais uma história de sucesso juntos.
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(84) 99657-4771 @escamaforte /Escama Forte Brasil
Espaço empresa
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Esp
An insight into advances in fisheries biology, genetics and genomics of African tilapia species of interest in aquaculture Autores: T. OlivierAmoussou, Issaka Youssao Abdou Karim, Guiguigbaza-Kossigan Dayo, Nawroz Kareem, Ibrahim Imorou Toko, Antoine Chikou e AboubacarToguyéni
Na lista dos artigos mais citados da revista científica Aquaculture Amsterdã, a revisão tem como foco apresentar os marcadores moleculares que podem ser usados n a genética molecular de identificação das espécies de tilápia. O uso ou não de um marcador genético depende de vários fatores e conhecê-los é importante para atender os reais objetivos de cada pesquisa. Entre os principais pontos destacados na revisão, estão: O uso de um marcador genético é condicionado pelas instalações disponíveis, pelos objetivos da pesquisa e pela relação qualidadepreço; Os marcadores moleculares mais utilizados para os estudos de Oreochromis niloticus e Sarotherodon melanotheron são atualmente mtDNA e SSR; MAR/ABR 2019
Mitocondriais, SSRs, ISSRs e SNPs são ferramentas promissoras para a caracterização genética de tilápias, especialmente em suas impressões digitais, mapeamento de ligação, estudos genéticos populacionais e análises de paternidade; O DNA barcoding está provando ser uma ferramenta útil para identificar diferentes espécies de tilápia.
Saiba mais em: https://doi.org/10.1016/j.aqrep.2019.100188 50
deu a louca no e-commerce
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um problema antigo
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BIOTECNOLOGIA DE
ALGAS Roberto Bianchini Derner Laboratório de Cultivo de Algas Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC roberto.derner@ufsc.br
Pesquisas com Microalgas no LNEG/Portugal
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integrada de microalgas e a valorização da sua biomassa e extratos em diferentes aplicações, estando previsto o desenvolvimento e lançamento de novos produtos nos mercados da alimentação humana, nutrição animal, cosmética e biofertilizantes, buscando novos processos produtivos e a sustentabilidade. O ALGAVALOR foi subdivido em um 6 subprojetos (SP) específicos (Figura1): valorização de microalgas para alimentação humana (SP 1); valorização de microalgas para alimentação animal (SP 2); valorização de microalgas para cosmética natural (SP 3); desenvolvimento de novos processos, incluindo reatores abertos de nova geração, e a otimização dos processos existentes, tendo em vista a obtenção de ganhos de escala e eficiência (SP 4); desenvolvimento de biofertilizantes agrícolas a partir de microalgas e aproveitamento de resíduos agroindustriais como inputs para a produção de “microalgas biológicas“ numa lógica de economia circular (SP 5); e por último, pretende-se que o projeto ALGAVALOR tenha um grande impacto multissetorial, nacional e internacional, nas várias linhas que estão sendo experimentadas (SP 6). É fato que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas visando ao emprego das microalgas/biomassa para a produção de biocombustíveis e, reconhecidamente, as atividades da Unidade de Bioenergia do LNEG são muito importantes e se somam àquelas de outros importantes grupos de pesquisa, os quais seguem buscando a viabilidade econômica desta atividade através de coprocessos e coprodutos.
Figura I. ALGAVALOR - Unidade de bioenergia.
Subprojeto 6
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•Valorização de microalga para Alimentação Humana
Subprojeto 1
Subprojeto 2 •Valorização de microalga para Alimentação Animal
•Tecnologia e Redução de Custos de Produção
Subprojeto 4
• Microalga para Cosmética Natural
Subprojeto 3 Subprojeto 5
•Economia Circular •Tratamento de efluentes •Biofertilizantes
LNEG
Gestão e disseminação dos resultados
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esta edição apresentamos algumas das atividades desenvolvidas na Unidade de Bioenergia (http:// www.lneg.pt/iedt/unidades/4/) do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) situado em Lisboa, Portugal. As informações apresentadas foram obtidas por meio de material enviado pela Dra. Luisa Gouveia, Chefe do Autothrophic Microalgae Group. À Unidade de Bioenergia compete a realização de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação: “no domínio das bioenergias, para a utilização de fontes renováveis de biomassa na produção de biocombustíveis e biomateriais; no domínio das biorrefinarias de biomassa, incluindo a biofixação de carbono, com vistas à diversificação das fontes energéticas, à diminuição da dependência de fontes externas e ao aumento da segurança do abastecimento; além do apoio às políticas públicas nacionais (de Portugal) nas áreas de biomassa, bioenergia e biocombustíveis”. Com uma competente equipe de pesquisadores, experiência de mais de 30 anos e uma expressiva produção científica, a Unidade de Bioenergia tem no portfólio do LNEG (http://www.lneg.pt/portfolio/mobile/index.html#p=1) informações sobre os inúmeros projetos desenvolvidos em parceria com outros laboratórios/empresas portuguesas e de outros países da Comunidade Europeia. Dentre estes projetos, o de maior dimensão é o ALGAVALOR (MicroALGAs: produção integrada e VALORização da biomassa e das suas diversas aplicações, http://www.lneg.pt/iedt/ projectos/619/), que tem como objetivo geral a produção
Marcelo Shei Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos Santos, SP shei@altamar.com.br
N
as últimas décadas aumentou-se muito os estudos dos ambientes aquáticos e de seus organismos. Consequentemente, houve também, uma expansão do número de centros de pesquisa e dos cursos de formação relacionados nessa área. Muitos desses centros têm utilizado sistemas de recirculação de água (RAS) para fins didáticos e para desenvolvimento de estudos e ensaios. Atualmente, é relativamente comum, encontrarmos a descrição da utilização de algum tipo de RAS na metodologia dos artigos científicos. Com isso, nesta oportunidade, faço aqui algumas notas, à respeito do uso de RAS para essa finalidade. Quanto ao ensino, a utilização de estruturas compactas permite a manutenção de peixes, anfíbios, crustáceos e outros organismos em diferentes estágios de desenvolvimento. Assim, os estudantes conseguem entender o seu comportamento, modo de vida e a interação com o ambiente ao redor. Já para a utilização dos sistemas de pesquisa, tenho observado uma falta de padronização, o que dificulta o entendimento e reprodução das condições experimentais. Como boa parte dos artigos não são sobre RAS, os revisores também tendem a não dar muita atenção nesse tema. Listo aqui, três exemplos comuns e que podem ajudar na descrição das estruturas e também na interpretação dos leitores. • Bombeamento: Muitos artigos citam a potência do motor como referência, a capacidade ou fluxo da motobomba. No entanto, mais importante do que a potência do motor, é a informação da vazão utilizada nas unidades experimentais ou etapas de filtração.
Sendo menos importante se a água foi transferida por uma motobomba magnética, centrífuga ou por air lift; • Filtro biológico: Tão importante quanto a descrição do tipo de mídia ou substrato utilizado, é descrever a quantidade do material utilizado e o método de contato com água (submerso, dry wet ou outros). Isso permite ao leitor estimar a superfície disponível para fixação das bactérias nitrificantes; • Desinfeção por UV-C: Independentemente do fabricante, a informação determinante para esses equipamentos é a dose utilizada. A eficiência de uma lâmpada de uma mesma potência varia de acordo com o fabricante e com a câmara de contato. É importante descrever o modelo do equipamento, mas também a dose de operação. Quanto a otimização de recursos e espaços, nas universidades, apesar de ainda ser comum a individualização dos laboratórios experimentais e suas estruturas, penso que a tendência é, assim como ocorre com outros aparatos de grande porte e valor, o uso compartilhado dessas estruturas experimentais de RAS. Com isso, ao invés de cada laboratório precisar construir e manter o seu próprio sistema experimental, torna-se mais eficiente a construção de sistemas mais modernos e capazes de serem utilizados com diversas configurações de unidades experimentais. Hoje, um sistema que está sendo utilizado para nutrição de peixes de água doce, poderia ser utilizado para testar probióticos em pepinos do mar na semana seguinte. Se hoje, a tendência da economia compartilhada está em alta, por que também não compartilhamos os sistemas experimentais?
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Notas sobre sistemas de recirculação nos centros de ensino e pesquisa
NUTRIÇÃO AQUÍCOLA Artur Nishioka Rombenso CSIRO – Austrália IPEMAR – Brasil artur.rombenso@csiro.au *As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
Tendências na nutrição em bioflocos
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credito que a maioria de vocês, leitores, já devem ter ouvido falar sobre a tecnologia de bioflocos. No Brasil esse tema é recorrente nos fóruns de discussões e também está presente na base educacional de alguns programas de graduação e pós-graduação. Nessa coluna não irei abordar aspectos dessa tecnologia. Para mais informações sobre esse sistema de produção, vejam as edições anteriores da Coluna “Green Technologies” e também no site (cursos e outras seções) da Aquaculture Brasil. Meu intuito é apresentar brevemente o panorama da nutrição em sistemas de bioflocos e como essa linha de pesquisa está crescendo no mundo e sendo liderada pelo Brasil. Para tal, fiz uma busca rápida no site da Web of Science e Scopus colocando as palavras-chave “Nutrition + Biofloc”, resultando em mais de quarenta artigos científicos publicados. Vale ressaltar algumas limitações sobre esse sistema de busca. Como esses sites buscam apenas artigos científicos publicados em revistas indexadas na língua inglesa, uma quantidade considerável de material sobre esse tema não foi considerada, como, por exemplo, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos publicados em revistas de idiomas que não sejam em inglês. Outro ponto é que apresentarei apenas os resultados dessa busca específica. Em outras palavras, não usei outros termos e combinações dos mesmos como palavras-chave. A figura 1 apresenta o número de publicações nesse tema por ano. Interessante notar que o número de publicações aumenta ano a ano e em 2019 já foram publicados 10 artigos, sendo que ainda estamos no mês de julho. A tendência é que esse número aumente a cada ano! Os principais países atuando nessa linha de pesquisa estão apresentados na figura 2, onde o Brasil aparece em primeiro lugar, seguido dos Estados Unidos e depois, empatados, China e México. Em termos das espécies pesquisadas, o camarão lidera com 73% dos artigos
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publicados (principalmente o camarão branco do Pacífico, o Rosa e o de água doce), seguido por peixes com 24% (tilápia, carpa e espécies nativas) e os 3% restantes consistem no pepino do mar. Por fim, os tópicos mais abordados na área de Nutrição em Bioflocos possuem certa semelhança com os da nutrição tradicional como: substituição da farinha e óleo de peixe, ingredientes complementares, entre outros (Tabela 1). Porém, outros tópicos são mais específicos como, por exemplo, a contribuição nutricional e a manipulação do biofloco. Antes de finalizar essa coluna gostaria de parabenizar os centros de pesquisa e universidades brasileiras pelo excelente trabalho nessa linha de pesquisa e por mostrar mais uma vez ao mundo o valor e a qualidade das pesquisas feitas no Brasil. Espero que vocês tenham aproveitado essa coluna e em futuras edições abordarei temas mais específicos dentro dessa área. Tabela I. Lista dos principais tópicos abordados na área de Nutrição em Bioflocos segundo os sites Web of Science e Scopus com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.
Figura I. Número de publicações por ano em jornais científicos segundo os sites Web of Science e Scopus com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”. 12
Número de publicações por ano
10 8 6 4 2 0 2007
2009
2010
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
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Figura 2. Porcentagem de artigos publicados em jornais científicos por países de 2007 a 2019 segundo os sites Web of Science e Scopus com a busca das palavras-chave “Nutrition + Biofloc”.
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Genética Rodolfo Luis Petersen Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar Universidade Federal do Paraná - UFPR Pontal do Paraná, PR rodolfopetersen@hotmail.com
Uso da seleção: o conceito de herdabilidade
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A
herdabilidade de determinada população é um dos parâmetros genéticos mais importantes de todo programa de melhoramento e nos vai nortear, em parte, o andamento do programa. Existem duas herdabilidades. A herdabilidade em sentido amplo, definida pela proporção da variância genética (somatória da variância genética de dominância e a variância genética aditiva) sobre a variância fenotípica. Já a herdabilidade em sentido restrito é definida pela proporção da variância genética aditiva e a variância fenotípica. É importante ressaltar que a herdabilidade é um atributo da população e não da espécie. Para o cálculo da herdabilidade precisamos manter um programa familiar e conhecer as relações de parentesco entre indivíduos e famílias. Na última edição definimos e explicamos a variância genética aditiva como aquela criada pelo efeito individual dos alelos de cada gene envolvido na caraterística de interesse. Existem vários métodos de estimar a herdabilidade. Entre eles, os tradicionais métodos dos quadrados mínimos onde estimamos a variância intrafamiliar e interfamiliar e a relação entre elas, ou o método de correlação da média dos pais com relação a média dos filhos. Atualmente com os avanços da informática o método mais utilizado para a estima de parâmetros genéticos é o “Modelo Animal” onde através de cálculos matrizares estimamos efeitos genéticos onde estarão incluídos dados de várias gerações de parentesco. Independentemente do método de estima, que não abordaremos na coluna, podemos dizer que nossa estima de herdabilidade será alta se a variância genética aditiva da população é alta com relação a variância fenotípica. Sendo assim, significa que a população possuirá alelos que estão aportando significativamente no fenótipo de interesse e que poderemos obter ganhos genéticos significativos se submetermos a população a SELEÇÃO. A seleção incrementará a frequência alélica dos genes responsáveis pela caraterística trabalhada, levando a respostas significativas de geração em geração.
Tipos de seleção
Existem três tipos principais de seleção:
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a) Seleção direcional: aquela realizada para um único caráter ao longo das gerações. É o tipo de seleção mais utilizada na indústria aquícola; b) Seleção em Tandem: aquele realizado por um número definido de gerações para um determinado caráter (ex. taxa de crescimento) e sequencialmente por mais um número estabelecido de gerações para outro caráter (por exemplo, resistência a doenças); c) Seleção por índices: aquela realiza através de um índice de seleção o qual combina duas caraterísticas de interesse e lhes assina um peso a cada uma (Ex. 80 % para crescimento e 20 % para resistência a uma determinada doença). Este tipo de seleção apresenta alguns inconvenientes, quando, as caraterísticas a seleção apresentam uma correlação genética negativa. Ou seja, ao selecionar para uma das caraterísticas estaremos selecionado negativamente para a outra. Isto aconteceu no programa de Melhoramento Genético do Oceanic Institute (Hawai) no final da década dos 90, onde foi utilizado um índice de seleção (50:50) para a melhoria do crescimento e da resistência ao vírus do Taura na espécie Litopenaeus vannamei. Já com relação aos métodos de seleção podemos destacar o de seleção individual e de seleção familiar. O método de seleção individual seleciona com relação ao mérito zootécnico do indivíduo independentemente da família a qual pertence. Já o método de seleção familiar lhe dá ênfase ao mérito da família na população. O método de seleção familiar pode ser interfamiliar ou intrafamiliar. No método de seleção interfamiliar se selecionaram como progenitores da próxima geração as melhores famílias da população. No segundo, se selecionaram os melhores indivíduos de todas as famílias. Existe também e é o mais utilizado, método de seleção combinada, o qual seleciona os melhores indivíduos das melhores famílias. Antes de realizar a seleção numa determinada população devemos fixar a intensidade de seleção que será aplicada. A intensidade de seleção é a proporção da população que será selecionada como futuros progenitores. A intensidade de seleção dependerá em
Limites da seleção
Na medida que vamos selecionado ao longo das gerações, as frequências alélicas dos genes que estão aportando para a caraterística selecionada, vão aumentando até chegar a sua fixação (frequência = 1, ou seja, todos os indivíduos da população possuirão o mesmo alelo com relação a determinado gene). Na medida que os genes vão se fixando na população, a resposta a seleção tende a diminuir a valores insignificantes. Desta forma é atribuição do melhorista ir definindo o tamanho da população, dosando as intensidades de seleção para evitar a endogamia, estimando a herdabilidade e as respostas a seleção para cada geração. Em função dos resultados obtidos o melhorista terá que ir definindo a melhor estratégia com relação ao futuro do programa e da linhagem. Populações onde foram fixados alelos para uma certa caraterística zootécnica podem ser utilizados para serem cruzadas com outras populações selecionadas para uma caraterística complementar e produzir um híbrido intraespecífico.
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parte de nosso tamanho populacional. Não teremos condições de aplicar elevadas intensidades de seleção em populações limitadas (por exemplo 30 famílias de tilápia) já que elevaremos de forma brusca nosso coeficiente de endogamia em função da maior probabilidade de cruzar organismos emparentados ao longo das gerações de seleção. A intensidade de seleção está relacionada com a resposta a seleção. Antes de definir a resposta a seleção precisamos entender o conceito de diferencial de seleção. O diferencial de seleção é a diferença entre a média dos indivíduos selecionados (uma vez aplicada a intensidade de seleção) e a média da geração parental (ou seja, a média da população total). A resposta a seleção é a consequência do produto do diferencial de seleção, do desvio padrão da população e da herdabilidade. Altas intensidades de seleção, em populações com variabilidade fenotípica e alta herdabilidade, a resposta a seleção será maior. A média das médias de resposta a seleção em programas genéticos de espécies aquáticas é de 10 % por geração de seleção.
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Green
TECHNOLOGIES Maurício Gustavo Coelho Emerenciano CSIRO - Austrália Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC mauricioemerenciano@hotmail.com *As opiniões citadas abaixo do primeiro autor são exclusivamente pessoais e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
Nitrogenados: explicando a confusão
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esta edição da coluna Green Technologies trazemos dois convidados especiais para falar de um tema extremamente importante nos cultivos intensivos: compostos nitrogenados e sua correta interpretação. Por diversas vezes ao explicarmos sobre os níveis de segurança dos compostos nitrogenados, escutamos produtores que dizem: “meu nitrito chegou a 30mg/L e meus camarões estão ótimos!” ou “meus animais só começaram a morrer com níveis de nitrito acima de 50mg/L. Eles são muito resistentes!”. São fatos que até poderiam estar corretos se fossem cultivos em salinidades bem elevadas. Mas na verdade o que muitas vezes ocorre é uma confusão na leitura e interpretação dos resultados. Vamos explicar então a questão dos valores dos compostos nitrogenados de acordo com o teste/leitura das diferentes moléculas. Existem duas maneiras principais de descrever as concentrações de amônia, nitrito e nitrato na água:
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1. A partir da massa molecular do nitrogênio dessas moléculas, descrevendo apenas a massa do átomo de nitrogênio; II. A partir da massa da molécula inteira. Vejamos um exemplo: a fórmula N-NO2 (nitrogênio-nitrito) indica apenas a massa do átomo de nitrogênio presente na molécula. Já a fórmula NO2 indica a massa da molécula inteira de nitrito. Dessa forma, o valor de nitrogênio-nitrito terá um valor sempre menor do que o valor do íon nitrito associado. Assim podemos observar diferentes formas de descrever esses compostos: N-NH3 e NH3 (para amônia não-ionizada); N-NH4 e NH4 (para amônia ionizada); N-NO2 e NO2 (para o nitrito); e N-NO3 e NO3 (para o nitrato). A conversão entre as duas formas é bastante simples e pode ser observada na tabela I. Os principais testes de detecção desses compostos são os colorimétricos (testes comuns de aquário), e os fotocolorimétricos (utilizam equipamentos que leem o comprimento de onda de cor). Geralmente os testes
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colorimétricos exibem no resultado as formas iônicas dos nitrogenados. Já os fotocolorímetros, no geral, quantificam as moléculas de nitrogênio ligadas ao composto em questão. Mas isso vai depender de cada marca/equipamento utilizado. Tabela I. Fator de multiplicação dos compostos nitrogenados de acordo com sua molécula.
E por que precisamos levar em consideração essa diferença de valores? É simples: uma interpretação errônea pode trazer consequências desastrosas. Um certo valor de nitrito interpretado de maneira equivocada pode estar sendo subestimado em até 3,28 vezes a menos! Por exemplo, em um cultivo de camarões marinhos da espécie Litopenaeus vannamei em salinidade 10, se o resultado para N-NO2 for 7,0 mg/L, você está dentro ou fora dos limites de segurança? O nível de segurança de nitrito para essa espécie em salinidade 10 é de 2,5 mg/L de N-NO2. No entanto, utilizando a tabela acima e convertendo para a molécula NO2, o nível de segurança passa a ser 8,2mg/L. Assim, você está fora dos limites de segurança, e medidas de manejo devem ser tomadas. Um olhar rápido e menos atencioso poderia supor que tudo está sob controle. Mero engano! Para evitar confusão, sempre verifique qual molécula o teste utilizado apresenta como resultado e tenha em mãos boas literaturas. Fazendo a conversão pode-se saber corretamente a concentração do composto nitrogenado e tomar as devidas medidas necessárias no seu cultivo. Ótimas despescas! *Colaboração: Maria Angélica Reis e William Bauer (Kona Blue Aquacultura)
Ricardo Vieira Rodrigues Estação Marinha de Aquacultura - EMA Universidade Federal do Rio Grande - FURG Rio Grande, RS vr.ricardo@gmail.com
Produção de peixe marinho dá novo passo no Brasil? o mês de maio a Aquaculture Brasil noticiou um de produção de juvenis já estabelecido. Possui uma elefuturo empreendimento na área da piscicultura vada taxa de crescimento, por volta de 2,2 kg entre 9 marinha na Bahia. A empresa norte-americana Forever a 12 meses de produção, dependendo da temperatura Oceans pretende investir cerca de 60 milhões de dóda água. Portanto, certamente pode ser uma excelente lares na produção do olho-de-boi Seriola rivoliana. São espécie para produção aqui no Brasil. escassas as informações, porém o governador da Bahia Como o gênero Seriola vêm despertando muito inteassinou um memorando de entendimento com a emresse ao redor do mundo, no ano de 2018 foi realizado presa. O empreendimento necessita ainda de todos os um workshop exclusivo sobre as espécies do gênero nos trâmites de licenciamento ambiental para então iniciar EUA (Seriola Workshop) reunindo os principais pesquisasuas atividades. Espero que de fato essa iniciativa saia dores do mundo sobre as espécies do gênero. A tentatido papel, que as questões de licenciamento não travem va de um segundo evento será para o ano de 2020. Para o processo como já observamos no passado e que de quem tiver mais interesse sobre a produção de Seriola fato mais uma iniciativa de maricultura tenha início nesse em geral, recomendo a leitura do artigo de revisão sobre nosso enorme litoral pouco explorado pela aquicultura. produção de Seriola (Sicuro e Luzzana, 2016*). Sobre Para quem nunca ouviu falar em produção de peixes as conclusões da revisão, ressalto os pontos considerado gênero Seriola, são muitas as espécies que são prodos gargalos para expansão da produção das diferentes duzidas ao redor do mundo. Seriola quinqueradiata já é espécies de Seriola, que são: o impacto causado pelas produzida no Japão desde a década de 60, enquanto S. enfermidades, carência de programas de melhoramenlalandi vem sendo produzida no Japão, Austrália, Nova to genético e um conhecimento incompleto relacionaZelândia, EUA e Chile. Quanto a espécie que é alvo no do as exigências nutricionais das espécies, sendo esse Brasil S. rivoliana, ela já vem sendo produzida nos EUA último ponto alvo de muito estudo na atualidade. e estudos iniciais têm sido realizados com a espécie no Chile. As Seriolas são pro- Figura I. Exemplar da espécie S. rivolian. © Reef Life Survey duzidas geralmente em tanques-redes, porém sistemas de recirculação também podem ser utilizados para sua engorda. Existem relatos de maturação e desova natural em tanques de grande volume das Seriolas, mas geralmente são realizadas induções hormonais para obtenção de larvas. A S. rivoliana é uma espécie amplamente distribuída, estando presente em praticamente todos os mares tropicais e temperados do mundo. É nativo da costa brasileira, com ocorrência de norB. e Lazzuna, U. 2016. The state of Seriola spp. Other than Yellowtail (S. te a sul do país. Como já é produzida *Sicuro, quinqueradiata) farming in the world. Reviews in Fisheries Science & Aquaculture. V.24, comercialmente, dispõe de protocolo n.4: 314-325
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Fábio Rosa Sussel Pesquisador Instituto de Pesca de SP - UPD Pirassununga Pirassununga, SP fabio@pesca.sp.gov.br
Preservação Ambiental, Conservação Ambiental e Aquicultura
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m tempos de informação abundante, o desafio da comunicação é imenso”. Já escrevi isto em outras colunas e em praticamente todas minhas palestras/cursos repito esta frase. Volto a insistir nesta questão por que é impressionante como isto prejudica diretamente o entendimento e o direcionamento dos fatos ou discussões. Por conta da facilidade no compartilhamento de notícias e opiniões, aliado a posicionamentos pessoais com a flexibilidade de termos que a língua portuguesa oferece, logo temos algo completamente distorcido e fora da realidade. Quer um exemplo prático envolvendo a produção de organismos aquáticos? Então observe bem como a falta de um entendimento primário envolvendo conceitos nas terminologias Preservação Ambiental e Conservação Ambiental afetam diretamente nosso setor. Conforme o naturalista John Muir, maior expoente preservacionista, defende que a natureza existe desde muito antes da ocupação humana e por isso deve se manter intocada. Envolve a adoção de medidas radicais e extremas. Em que situações este conceito deve ser aplicado? Nas Unidades de Conservação, Terras Indígenas, Parques Nacionais, Reserva Legal e Áreas de Proteção Permanente, os quais somados perfazem o montante de 563.736.030 hectares ou 66,3% do território brasileiro (isto mesmo, 66,3%), conforme dados recentes publicados pela Embrapa. Por algumas particularidades, especialmente as relacionadas a distinta riqueza de biodiversidade, tais áreas já foram previamente identificadas, mapeadas e declaradas como prioridade de intocabilidade de seus recursos naturais. Enquanto que a Conservação Ambiental, de acordo com Aldo Leopold, precursor da Biologia da Conservação, defende a participação humana com harmonia, explorando os recursos naturais de forma sustentável em prol da sociedade. Trata a mãe natureza de uma maneira bem menos rígida, liberando a exploração dos seus recursos desde que seja com inteligência, assim como o manejo correto do meio ambiente pelo homem. Defende ainda o desenvolvimento sustentável da humanidade, para assim garantir uma melhor qualidade de vida para as gerações presentes e as futuras. Diretamente ligado a Preservação e a Conservação Ambiental, temos ainda a Sustentabilidade, formando a tríade de terminologias frequentemente utilizadas fora do contexto ou em situações e casos inadequados. Sustentabilidade vem do termo “sustentável”, que, por sua vez, deriva do latim sustentare, que significa sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar e/ou
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cuidar. Teve origem em Estocolmo, na Suécia, durante Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no ano de 1972. Mais tarde, em 1992, na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), foi consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável; que passou a ser entendido como o desenvolvimento a longo prazo, de maneira que não sejam exauridos os recursos naturais utilizados pela humanidade. Por fim, conforme conceitos mais recentes sobre Sustentabilidade, de maneira simples e objetiva, prega que: “Deixar para nossos filhos e netos um meio ambiente igual ao que encontramos, é pouco! O desafio é deixar um ambiente melhor.” Pois bem, após devidamente apresentadas as reais definições e significados dos termos mais utilizados quando o assunto é meio ambiente, vamos aos fatos. O que isto tudo tem a ver com aquicultura? Por não saberem a real diferença entre um termo e outro, acabam misturando as coisas. Não tem lógica alguma falarmos de Preservação Ambiental em áreas que encontram-se fora das Unidades de Conservação, conforme os casos já citados acima. Enquanto que Conservação e Sustentabilidade, faz todo sentido. E de que forma devemos implementar e ou apoiar políticas que na prática sejam efetivas, que realmente tragam melhorias ao meio ambiente? Inicialmente identificar, bem como deixar claro aos legisladores, onde realmente estão os problemas e as principais ameaças ao meio ambiente. Por exemplo: considerando as regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste, as quais concentram a maior densidade populacional do Brasil, o problema do meio ambiente está nas cidades e não no campo! É das cidades que partem os maiores exemplos de não aplicação dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Ironicamente, é pautado principalmente na opinião de quem mora nas cidades as leis e regras pra quem vive no campo. Por sua vez, os que vivem no campo produzem alimentos para sustentar os que vivem na cidade. E aí então que o correto seria leis mais brandas para o campo? NÃO, de jeito nenhum. Já está provado por A + B que a proteína aquática é a forma mais sustentável de se produzir alimentos. Portanto, não precisamos ter qualquer abrandamento de leis, apenas deseja-se que sejam coerentes. E, lógico, que esta mesma coerência seja aplicada nas cidades. Simples assim. Agradeço a colaboração do amigo Splinter, Prof. Dr. André Luiz Julien Ferraz (UEMS), o qual auxiliou na construção desta linha de raciocínio que inicialmente foi proposta para a pesca esportiva, mas que enquadra-se perfeitamente para a aquicultura. Grato pela parceria, meu amigo.
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Visão aquícola Giovanni Lemos de Mello Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil Laguna, SC giovanni@aquaculturebrasil.com
Berçários intensivos na carcinicultura catarinense: novos tempos!
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história da criação de camarões marinhos em Santa Catarina passa pelo pioneirismo nacional na tentativa de produção com espécies nativas, ainda no final da década de 60, ou seja, há mais de 50 anos! Entretanto, somente a partir de 1998, com a introdução do Litopenaeus vannamei, a atividade deslanchou, embora os tempos áureos tenham durado muito pouco. O “apogeu” foi de 1998 até novembro de 2004, ou seja, apenas 6 anos... e hoje, passados 15 anos, o setor ainda não se recuperou. Seis anos de produção para mais de 15 anos de paralisação? Por enquanto sim, mas as coisas parecem estar mudando... Sem dúvidas, o estado de SC não é o local ideal para a produção de uma espécie tropical como o L. vannamei. As temperaturas ótimas para esta espécie (28 – 32 °C) não ocorrem em mais do que três meses durante o ano (dez/jan/fev). Fora as oscilações para baixo desta sua faixa ideal de conforto, mesmo nessa época de verão. Se houve algum erro estratégico do ponto de vista de concepção dos projetos catarinenses, certamente foi a questão da não utilização de estruturas como pré-berçários ou berçários intensivos para recepção/ aclimatação das pós-larvas, visando sua “proteção” nos primeiros dias ou semanas. O Estado, mais do que qualquer outro produtor de camarões marinhos do Brasil, necessita de um local seguro e de um ambiente controlado para acondicionar as pós-larvas. Acondicionar ou quem sabe até cultivá-las durante os primeiros 30 dias, concebendo uma pré-engorda. O fator clima atrapalha demais a região... Liberar pequenas pós-larvas em viveiros de até 8,0 hectares, em meio a tamanha incerteza e adversidades climáticas, não foi a melhor estratégia até então. A grande novidade da safra 2018-2019 na região Sul de SC foi a adoção de berçários intensivos para receber as pós-larvas e mantê-las seguras nos primeiros 30 dias. Duas fazendas saíram na frente nesta questão, construindo berçários individuais para cada um de seus viveiros de engorda. Foram os primeiros 10 berçários intensivos no Sul de SC.
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Os berçários intensivos, na prática, foram construídos dentro dos viveiros de engorda (Figura 1), aproveitando o próprio material existente para movimentação de terra e construção dos taludes. Houve o revestimento com geoemembrana e cobertura por estufas feitas de eucalipto tratado, além da aeração por sistema misto (aeradores de pás + compressores radiais e mangueiras microperfuradas). Em geral, os berçários trabalharam com densidades ao redor de 800-1000 pós-larvas/m³. Os resultados foram surpreendentes para o Estado! Em uma das fazendas, os berçários propiciaram a adoção de três ciclos completos, nas duas fases, atingindo um patamar acima de 5.000/kg/ha/ano. Em outra, dois ciclos completos foram realizados com sucesso e, já em meados de janeiro, todas as despescas destes dois ciclos estavam concluídas. Com os povoamentos em geral sendo realizados na região entre setembro e outubro, de forma inédita, uma destas fazendas que fez o uso dos berçários intensivos despescou todos os camarões no mês de novembro (média de 10 g). Os cultivos monofásicos jamais permitiram a realização de despescas no mês de novembro, algo impensável até então. Hoje, com os camarões sendo recebidos em berçários, tendo maior conforto, temperatura e biosseguridade, após os 30 dias iniciais em sistema intensivo e com a “liberação” para os viveiros de engorda, o efeito do crescimento compensatório somado a redução drástica da densidade (de 1.000 para 10-20 camarões/ m²), tem provocado um ganho de peso semanal bastante interessante (1,5 – 2,0 g/semana). Apesar do “encurtamento” significativo da fase de engorda, somente a utilização desta tecnologia não é garantia de sucesso na produção, e os produtores locais já sabem disso. Tanto que a síndrome da mancha branca novamente assombrou os carcinicultores do Sul de SC após alguns anos em silêncio. De fato, trata-se apenas de uma ferramenta, entre tantas disponíveis para o enfrentamento das enfermidades nos cultivos de camarão.
Figura I. Fazenda Costa Azul, localizada em Campos Verdes (Laguna/SC), retomando a produção de camarões marinhos após anos em inatividade. A imagem mostra dois viveiros com água e aeradores ligados e outros dois viveiros já despescados. Cada viveiro possuí um berçário intensivo, conforme indicado na imagem, construídos para pré-engorda de juvenis de Litopenaeus vannamei.
Berçários
Berçários
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Para a safra 2019-2020 no Sul de SC, que iniciará em setembro de 2019, durante o início da primavera, praticamente todas as fazendas que produzirão, utilizarão berçários para a pré-engorda. Há anos atrás, os produtores catarinenses já tiveram que receber pós-larvas em meio a frentes frias causadas por massas de ar polar que derrubam a temperatura na região, ficando reféns da situação, tendo em vista a falta de previsibilidade com relação à oferta de pós-larvas em SC. Hoje em dia, produtores e laboratórios podem dormir um pouco mais tranquilos, pelo menos com relação a este aspecto. Se chegar uma massa de ar polar em meio a aclimatação, as pós-larvas ficarão seguras dentro dos berçários, até que o clima melhore do lado de fora.
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Ranicultura Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná - UFPR Palotina, PR andremunizafonso@gmail.com
O que se produz da rã? - Parte III Aspectos mercadológicos
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m 2007, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ) publicou um estudo denominado “Estudo de mercado sobre varejo e consumo de carne de tilápia e rã nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói”. Este estudo apontou a presença de um círculo vicioso, pois chegou-se à conclusão de que não se produzia mais rãs porque faltava mercado, enquanto que este mesmo mercado informou que não comprava mais o produto por conta da sua irregularidade. Outros dados importantes demonstrados relacionavam-se à falta de hábito de consumo da rã, preço elevado e resistência por parte do consumidor, que pode apresentar, inclusive, repulsa ao se deparar com o produto na gôndola do mercado. São poucos dados, extraídos de um mercado selecionado de uma das regiões mais populosas do país, mas extremamente representativos, pois se espelham em diversos outros espalhados por outras regiões e em outros países cuja cultura de consumo da rã ainda não foi desenvolvida. Ao analisá-los podemos perceber que: o produtor conhece as limitações do mercado e tem receio em produzir mais, uma vez que o produto tem baixo giro de prateleira; existe sazonalidade na oferta dos produtos, demonstrando que a cadeia apresenta gargalos ainda não superados; o consumidor desconhece ou não tem interesse em consumir a rã, fator este que pode possuir relação direta com o preço elevado e restrição direta ao produto e/ou à sua imagem, associando-o muitas vezes ao animal que vive no brejo, inclusive confundindo-o com o sapo ou a perereca. Todos estes fatores demonstram, claramente, que falta um bom trabalho de “marketing”. Ainda que existam algumas iniciativas no sentido de obterem-se produtos diferenciados, como bolinhos, pratos prontos, patês, empanados, entre outros, esses pro-
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dutos não foram devidamente trabalhados ou mesmo não estão disponíveis, com regularidade e preços honestos ao consumidor. Todo o conhecimento sobre os benefícios do consumo da carne de rã, produzida de forma racional e higiênica, respeitando-se os conceitos da sustentabilidade econômica, social e ambiental não foram agregados à gama de produtos já desenvolvidos de forma à sensibilizar o consumidor (Figura 1). A rã não se vende sozinha... essa é uma realidade que deve ser encarada. O brasileiro a desconhece, não sabe como prepará-la, não sabe porque deve optar por ela e não por outro pescado ou pelo frango, por exemplo, categorizados como carnes brancas. Você, leitor, já consumiu carne de rã? Gostaria de consumir mais vezes ou de experimentá-la? Por que não o faz? É provável que a resposta esteja nos parágrafos acima. Se sabemos como mudar esta realidade, o que estamos esperando para colocar isso em prática? Fica a reflexão... Saudações ranícolas! Figura 1. Produtos da rã disponíveis no mercado nacional expostos à venda no varejo (2016). © Andre Muniz Afonso
André Camargo Sócio Fundador da Escama Forte Botucatu, SP andre@escamaforte.com.br
Acomodação pós crise S
momento. Nossa cadeia mostra maturidade e precisa de preços competitivos quando comparada a outras cadeias de produção animal. Portanto amigos aquicultores, técnicos, empresários e demais participantes da cadeia da piscicultura brasileira, a peneirada vai continuar, não existe mais espaço para a ineficiência, não é mais possível aceitar índices zootécnicos baixos e muito menos a falta deles. Todas as nossas unidades de produção têm chances de permanecerem, mas para tal, vão precisar saber exatamente o que está acontecendo em seu dia a dia de produção. Precisamos começar a nos preocupar com a segunda casa depois da vírgula e assim garantir o sucesso de todos. Vamos em frente!
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e você queria que os preços dos peixes da aquicultura voltassem aos patamares de 2017, pode esquecer. Os solavancos da crise de super produção vieram para acomodar os preços no mercado do atacado e nos preços pagos pela indústria. Dificilmente recuperaremos os patamares de preço, pois no varejo os preços já se estabilizaram em patamares mais baixos que antes. Isso é um problema muito sério para os pequenos produtores que direcionavam seus produtos para grandes mercados. Muitas vezes, por ser pequeno, seus custos são altos e “vender seu peixe” a preços baixos pode inviabilizar o processo produtivo deste produtor. Até mesmo os médios produtores encontram-se desafiados a encontrar equilíbrio em seu sistema de produção em busca da máxima eficiência. Nunca a palavra “custo” foi tão importante para o produtor piscícola brasileiro. Produzir a custos compatíveis virou questão de sobrevivência. Sendo assim, olhando para um horizonte em que dificilmente os preços vão subir e os limites de eficiência já estão sendo buscados, é chegada a hora da mudança de comportamento. Peixe pequeno tem que andar em cardume. É chegada a hora de pequenos e médios produtores se unirem no sentido de ganhar força de mercado, compartilhar seus resultados e assim buscar maior eficiência dentro deste mercado que hoje só dá sinais verdes para os grandes projetos. As associações estaduais possuem papel fundamental neste processo onde não mais precisam apenas representar politicamente por seus associados, mas sim prestar auxílio aos seus associados de pequeno porte para que estes consigam sobreviver a este novo
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Eduardo Gomes Sanches Instituto de Pesca / APTA Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br
Início de trajetórias A
© Jéssica Brol | Aquaculture Brasil
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quicultura ornamental. Não tenho conheci®mento de nenhuma pesquisa que fale do quanto este ramo da aquicultura ser responsável pelo despertar do interesse em seguir carreira profissional nesta atividade. Conheço muitas histórias de colegas que desde crianças mantinham peixes e outros organismos aquáticos em aquários e hoje são profissionais renomados junto a esta cadeia produtiva. Minha própria aptidão floresceu com minha paixão, na fase infantil, em reproduzir peixes e ficar horas estudando o comportamento reprodutivo de diversas espécies, alimentando os filhotes e tentar entender um pouco da tamanha diversidade biológica que conseguia manter em aquários no quarto onde dormia (ou tentava dormir frente ao barulho de filtros e bombas de ar). Já na década de 80, na universidade, estudando Zootecnia (Universidade Estadual Paulista - UNESP, campus de Botucatu/SP), entre tantas disciplinas de
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cadeias produtivas (bovinos de corte, de leite, caprinos, ovinos, avicultura de corte e de postura... até sericicultura - criação do bicho da seda), ficava indignado pelo pouco espaço da aquicultura e mais ainda pela inexistência da aquicultura ornamental!!! A aquicultura ornamental era tida como uma “bobagem”. Um hobby que não merecia espaço junto a cadeias produtivas “relevantes”, que produziam alimento. Quando ingressei no Instituto de Pesca, a aquicultura ornamental também era vista como “de segunda classe”. Alguns diziam: “Somos uma instituição de pesquisa em uma Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Precisamos produzir tecnologia para ampliar a produção de alimentos. Não podemos perder tempo com peixinhos de aquário”. Tempos difíceis. Quantos bons pesquisadores não devem ter passado por isto. Passados quase trinta anos tudo mudou. O que era uma “atividade de segunda classe” hoje é um mercado de bilhões de
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dólares. Muitas tecnologias (reprodução, larvicultura, sistemas de filtragem, alimentação, entre outras) surgem primeiro no mercado da aquicultura ornamental para muito tempo depois serem oferecidas na aquicultura de organismos aquáticos destinados à alimentação humana. Podemos até traçar um paralelo com a Fórmula 1. Novas tecnologias são inicialmente desenvolvidas nesta categoria, para muitos anos depois serem incorporadas nos carros de nosso dia a dia. A justificativa está nos custos elevados do desenvolvimento tecnológico que precisam ser “amortizados” por preços elevados, antes de atingirem a produção em escala. Assim, os valores elevados de uma atividade de alto valor agregado acaba “subsidiando” o desenvolvimento de produtos que depois, por exemplo, acabam beneficiando um produtor que engorda tilápias em uma pequena propriedade rural no interior do Brasil. A aquicultura ornamental também permite que se amplie o conhecimento sobre inúmeras espécies de maneira muito acelerada. É impressionante a quantidade de espécies de peixes ornamentais de recifes de coral que vem sendo reproduzidos por aquaristas. Uma notável contribuição à ciência e à conservação das espécies, quase sempre sem nenhum tipo de subsídio governamental (pelo contrário, puro
financiamento pessoal em prol de uma paixão). Dizem que quando ficamos mais velhos passamos a ficar um pouco saudosistas. Não sei... mas posso admitir que quando participo de congressos de aquicultura, tenho uma enorme satisfação em ver a produção científica relacionada a aquicultura ornamental aumentando ano a ano. Sinal de que outros estão reconhecendo a oportunidade e a relevância deste segmento produtivo. E não posso deixar de pensar naqueles tempos em que tínhamos que trabalhar “escondidos” com peixes ornamentais e jamais pensar em levar um resumo sobre o tema em um congresso científico. Seria um vexame na certa. Nada como o passar do tempo. A partir da próxima coluna vou começar a abordar as diferentes facetas da aquicultura ornamental. Notadamente as mais curiosas, que fogem ao convencional, contribuindo para despertar nos leitores da Aquaculture Brasil, o interesse por esta atividade. Vamos conhecer empresas e profissionais que tiram seu sustento (e geram muitos empregos e renda) somente da produção de organismos aquáticos ornamentais. Vamos conhecer a história destas pessoas e observar um ponto em comum entre todas: a paixão pela aquicultura ornamental. Vocês vão se surpreender ao perceber que “peixinhos coloridos” são muito mais do que “peixinhos coloridos”. Portanto meus amigos, vamos agradecer a Aquaculture Brasil por esta oportunidade de divulgação deste segmento produtivo e trazer a cada coluna, histórias e novidades deste segmento. Até a próxima coluna!
Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA Mossoró - RN alaugo@gmail.com
Em breve... Nova legislação sobre aditivos e coadjuvantes de tecnologia para pescado e produtos de pescado
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pós uma longa espera (~30 anos), as indústrias de processamento de pescado, indústrias fornecedoras de aditivos alimentares e pesquisadores finalmente começam a enxergar uma luz no final do túnel... A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, submeteu para consulta pública, no último dia 17 de abril de 2019, a proposta da Resolução da Diretoria Colegiada – RDC que estabelece os aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia autorizados para uso em pescado e produtos de pescado, pelo prazo de sessenta dias para o envio de comentários e sugestões. Cabe lembrar que os aditivos alimentares são substâncias intencionalmente adicionadas aos alimentos, de origem natural ou sintética, normalmente sem valor nutricional apreciável, que são adicionadas aos alimentos na quantidade mínima necessária para se atingir o propósito tecnológico, durante a fabricação ou alteração industrial, ou durante o seu armazenamento. Baseado no Codex Alimentarius, a ANVISA propôs um incremento de novos aditivos de grau alimentar para a Categoria 9 – Pescado e produtos de pescado, passando de 6 provisões de aditivos (Res. n. 4/1988) e 1 provisão de coadjuvante de tecnologia (Res. n. 13/1978), para uma proposta de 389 provisões de aditivos e 4 provisões de coadjuvantes de tecnologia (Consulta Pública Nº 634, de 16 de abril de 2019). Certamente as indústrias de processamento de pescado terão sugestões de novos aditivos, haja visto que um dos aditivos mais utilizados internacionalmente (fosfatos), não foi contemplado nessa consulta pública. Ressalta-se que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recentemente publicou a Instrução Normativa Nº 30, de 9 de agosto de 2017 – SDA/ MAPA, que estabelece os procedimentos para submissão de proposta, avaliação, validação e implementação de inovações tecnológicas a serem empregadas em qualquer etapa da fabricação de produtos de origem animal em estabelecimentos com registro no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA/SDA. No Art. 2º, alínea III da IN 30/2017 definem “inovação tecnológica” como sendo o processo, equipamento,
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substância ou material, isolado ou em combinação, tecnologicamente novo ou significativamente aperfeiçoado, que proporcione a melhoria do processo de fabricação ou da qualidade do produto de origem animal. Nesse sentido é que o aditivo FOSFATO poderia estar sendo incluído nessa Consulta Pública, uma vez que já existe uma abertura junto ao MAPA em viabilizar o uso de substâncias que melhorem a qualidade de produtos de origem animal. E somando-se a isso, esse aditivo já foi aprovado recentemente para a Categoria 8 – Carnes e produtos cárneos (RDC No. 272, de 14 de março de 2019), dentro do limite de 0,5% (expresso como P2O5, quantidade adicionada sem considerar a quantidade naturalmente presente na carne), o que facilita sua inclusão na Categoria 9 – Pescado e produtos de pescado, considerando que são necessários e indispensáveis visando a garantia da qualidade do pescado e dos produtos à base de pescado, bem como a segurança para o consumidor, uma vez que seu uso poderá ser limitado pela legislação, promovendo dessa forma o combate à fraude e o uso indiscriminado. FOSFATO: um “polêmico” e necessário aditivo alimentar A discussão sobre aditivos alimentares é um dos principais pontos de controvérsia entre indústria e órgãos legislativos – enquanto os primeiros buscam incrementos constantes de produtividade e shelf life através de formulações mais eficientes e/ou robustas, os segundos preocupam-se com a segurança alimentar, a manutenção dos padrões de qualidade e o combate a fraudes econômicas. Esta discussão não está, nem nunca estará encerrada, visto que os avanços científicos descortinam diariamente novas moléculas de interesse e novas funcionalidades antes não conhecidas – e, ao mesmo tempo, novas informações sobre a segurança da ingestão dos diversos aditivos. Os fosfatos são aditivos funcionais para alimentos com diversas aplicações no processamento do pescado, podendo ser uma alternativa para garantia da qualidade do pescado e seus produtos. O desenvolvimento contínuo
(USFDA) como GRAS (Generally Recognized as Safe). Sua inocuidade com relação à saúde humana é confirmada não somente pelo fato de serem usados em todos os países do mundo, mas também por terem sido incluídos nas formulações de alimentos infantis e health foods. O ácido fosfórico, fosfatos e polifosfatos são aditivos autorizados, para vários fins tecnológicos, em muitos produtos alimentares. Estes aditivos foram avaliados pelo Comitê Científico para Alimentos (Scientific Committee for Food - SCF), quando o consumo diário máximo tolerável (MTDI) de 70 mg/kg, previamente proposto pelo Comitê de Especialistas da FAO/OMS em Aditivos Alimentares (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives JECFA) e expressado como fósforo, foi aprovado. A exposição aos fosfatos é considerada abaixo deste MTDI. Em 1991, o SCF endossou as conclusões do JECFA estabelecendo um MTDI de 70 mg/kg de peso corporal de todas as fontes, e expressou como P (equivalente a 160 mg de P2O5) para o ácido ortofosfórico e seus sais de sódio, potássio, cálcio, magnésio e fosfatos de amônio, bem como para a di-, tri- e polifosfatos. A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (European Food Safety Authority - EFSA) sobre produtos dietéticos, nutrição e alergias foi incapaz de estabelecer um nível de ingestão tolerável de fósforo, porém concluíram que indivíduos saudáveis podem tolerar a ingestão de fósforo até pelo menos 3.000 mg de fósforo por dia, sem efeitos adversos sistêmicos. Assim, percebe-se que a polêmica do fosfato não está restrita ao possível grau de toxicidade, muito pelo contrário, são necessários e indispensáveis na indústria de alimentos, visando a garantia da qualidade dos mesmos, bem como a segurança para o consumidor, uma vez que seu uso poderá ser limitado pela legislação, promovendo dessa forma o combate à fraude (uso indiscriminado visando a incorporação excessiva de água).
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de novos produtos de pescado e o avanço tecnológico requer fosfatos efetivos que podem cumprir todos os requisitos. O primeiro estudo que patenteou uso de polifosfatos em pescado, demonstrando que esse aditivo inibia a perda de líquido pelo descongelamento e após a cocção foi feito nos EUA em 1962. Desde então, diversos estudos têm sido feitos para demonstrar as aplicações apropriadas desse aditivo em alimentos, e em particular no pescado. Os fosfatos são utilizados na indústria alimentícia como emulsificantes, estabilizantes, suplementos minerais, agentes de dispersão, acidulantes, inibidores de descoloração, agentes sequestrantes, crioprotetores etc. Também é utilizado com a função de retenção de umidade, ou melhor, auxilia na reidratação da carne (água perdida no post-mortem) e auxilia na diminuição de perda de água no processo de cozimento (camarão), e após o descongelamento. Além disso, reduzem a resistência térmica de vários organismos, aumentando a vida de prateleira dos produtos. Quase todos os fosfatos alimentícios são considerados pela Food and Drug Administration
Defendeu! Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas informações para nossa aquicultura. Nome do acadêmico: Monique Berticelli Morselli Orientador: Prof. Dr. Diogo de Alcantara Lopes Co-orientador: Prof. Dr. Aleksandro Schafer da Silva Instituição: Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZOO), Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC
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Título da dissertação: Suplementação dietética de timol para carpa capim: efeitos sobre desempenho, sistema antioxidante e metabolismo energético hepático
Introdução: Originária da Ásia, a carpa capim apresentam grande rusticidade, suporta baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água e resiste a uma ampla faixa de temperatura, o que estimula sua produção nas regiões sul do Brasil. Contudo, apesar de sua rusticidade, as carpas não estão livres de serem acometidas por doenças bacterianas, e isso pode ocorrer devido ao sistema de manejo intensivo, elevadas densidades de estocagem, fornecimento de ração em demasia, redução da qualidade da água. Esses fatores podem aumentar a quantidade de bactérias no viveiro e como consequência, causar o surgimento de doenças. O uso indiscriminado de antibióticos para eliminar ou diminuir os problemas causados por doenças no sistema produtivo faz com que haja a seleção de linhagem de bactérias resistentes, aumentando o risco de resistência cruzada, ou seja, quando essa resistência acomete bactérias associadas à população humana. Para diminuir o risco a saúde humana e dos peixes, bem como aumentar seu bem-estar, vários estudos estão sendo realizados com produtos derivados de plantas como, por exemplo, óleos essenciais, extratos ou componentes puros, que constituem uma promissora fonte de moléculas bioativas. Os óleos essenciais são ricos em diferentes componentes, como por exemplo o óleo de orégano e tomilho que contém timol. O timol é quimicamente é conhecido como 2-isopropil-5-metilfenol (Figura 1) e pode ser extraído de diversas plantas aromáticas produtoras de óleos essenciais. A principal é o tomilho, sendo a planta na sua totalidade usada para extração do componente. De acordo com a literatura, o timol é um estimulante na digestão, e tem efeitos antisséptico e antioxidante que podem favorecer o desempenho zootécnico das carpas, o que justifica a escolha do composto como um aditivo alimentar. O timol também possui atividade 70
antibacteriana relacionada ao mecanismo de ação que consiste em modificar a permeabilidade da membrana citoplasmática acarretando a saída do material intracelular e com isso causando a morte dos microrganismos.
Figura 1. Estrutura molecular do timol (Peixoto-Neves et al., 2010).
Objetivo:
Avaliar a suplementação de timol na dieta de carpa capim e seu efeito sobre desempenho zootécnico, o sistema antioxidante e metabolismo energético.
Materiais e métodos: O timol (peso molecular 150,22 g/mol - Sigma-Aldrich®) foi adicionado a ração basal e um total de 160 alevinos de Ctenopharyngodon idella (7,33 ± 0,12 g; 8,13 ± 0,12 cm) foram mantidos em sistema de recirculação de água e divididos em quatro grupos, com quatro repetições e com 10 peixes por aquário (60 L) da seguinte forma: • T0: dieta sem suplementação de timol; • T100: dieta basal suplementada com 100 mg de timol / kg de ração basal; • T200: dieta basal suplementada com 200 mg de timol/kg de ração basal; • T300: dieta basal suplementada com 300 mg de timol/kg de ração basal. A taxa de alimentação diária foi de 6% da biomassa total, dividida em duas vezes (9h e 17h), por 60 dias consecutivos. Ao término do estudo foi analisado o desempenho zootécnico e coletadas amostras de fígado para analises de variáveis relacionadas ao status oxidante e antioxidante, assim como metabolismo energético.
Resumo dos principais resultados do trabalho com uso de 100 mg de timol/kg da ração na alimentação de carpas capim por 60 dias:
1. Aumento de 47,1% do peso corporal comparado ao controle. 2. Estimula resposta antioxidante enzimática
(SOD e GPx) e não-enzimática (ACAP) no fígado.
3. Reduz atividade da LDH hepática. 4. Reduz peroxidação lipídica e radicais livres no fígado.
5. Estimula atividade da AK, enzima envolvida no metabolismo energético, isto é, síntese de ATP.
Considerações finais: Este estudo demonstrou que a suplementação dietética de timol (100 mg/kg de ra-
ção) foi capaz de melhorar o desempenho das carpas, sendo a dose recomendada de 68,4 mg/kg e 72,6 mg/kg de timol para peso corporal e ganho de peso, respectivamente. A suplementação dietética de timol (100 mg/kg de ração) foi capaz de melhorar o metabolismo energético hepático, enquanto que praticamente todas as concentrações testadas estimularam a resposta antioxidante hepática, que pode favorecer o aumento do desempenho e crescimento das carpas. No entanto, é importante notar que, O trabalho foi defendido em: de acordo com a análise estatística, doses ainda mais baixas 20/05/2019 de timol podem potencializar o desempenho da carpa.
Agradecimento: Agradecemos a Matheus D. Baldissera, Carine F. Souza e Bernardo Baldisserotto por terem contribuído para execução do projeto. 71
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A atividade hepática da lactato desidrogenase (LDH) foi menor no grupo T100 comparado ao grupo T0. Os níveis de espécies reativas ao oxigênio (EROs) no fígado foram menores nos grupos T100, T200 e T300 comparado ao T0, assim como a peroxidação lipídica (LPO) foi menor no fígado dos peixes apenas do grupo T100. A atividade hepática da superóxido dismutase (SOD) foi maior no grupo T300 comparado ao T0, enquanto a atividade hepática da glutationa peroxidase (GPx) foi maior nos grupos T100, T200 e T300 comparado ao T0. Além disso, capacidade antioxidante total (ACAP) no fígado foi maior no grupo T100 comparado ao T0. Todos esses resultados mostram que a alimentação das carpas com 100 mg de timol/kg estimula o sistema antioxidante e consequentemente reduz a lipoperoxidação e níveis de radicais livres hepáticos, protegendo o fígado, um dos órgãos mais importantes relacionados ao sistema digestivo e interferindo assim diretamente no desenvolvimento dos peixes. A atividade hepática da adenilato kinase (AK) foi maior no grupo T100 comparado ao T0; mas a enzima piruvato quinase (PK) não diferiu entre grupos no fígado. Isso permite concluir que ocorre uma estimulação na síntese de ATP, molécula energética, envolvida em diferentes funções biológicas, entre elas no desempenho de animais.
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Resultados e Discussão: Não houve diferença significativa entre os grupos quanto ao comprimento e consumo de ração. No entanto, o peso corporal e o ganho de peso corporal foram maiores nos peixes do grupo T100 em comparação com todos os outros grupos. Em porcentagem, o peso corporal dos peixes em 60 dias aumentou 8,7% (T0), 47,1% (T100), 10,9% (T200) e 15,4% (T300). A análise de regressão mostrou um efeito do tratamento no peso corporal e no ganho de peso quando utilizada a dose recomendada de 68,4 mg/kg e 72,6 mg/kg de timol, respectivamente.
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Zootecnista formada na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP.
AQUACULTURE BRASIL: Após a Zootecnia, qual foi a sua especialização? Ligia Uribe Gonçalves: Tenho Doutorado pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP e durante o doutorado realizei um estágio sanduíche na Università degli Studi di Firenze na Itália. Após, fiz Pós-Doutorado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” da USP. AQUACULTURE BRASIL: A ligação com a aquicultura começou na graduação ou ainda antes? Comente um pouco sobre sua carreira até aqui e projetos em que está envolvida.
nhecimentos mais básicos das espécies amazônicas. Então, encarei o grande desafio de trabalhar com a fase inicial do pirarucu. Iniciamos com a parte nutricional, mas logo vimos que tínhamos muito para conhecer desde a biologia da espécie até tratamento para doenças. Tem sido uma experiência muito gratificante trabalhar com o pirarucu. AQUACULTURE BRASIL: Como coordenadora do projeto Gigas, explique para os leitores que ainda não conhecem, quando começou, onde é executado e quais seus principais objetivos?
O objetivo do Projeto Gigas é realizar pesquisas direcionadas ao desenvolvimento morfológico, nutrição, manejo alimentar e sanidade das fases iniciais do pirarucu...
Ligia Uribe Gonçalves: Sempre tive paixão por peixes ornamentais e foi num curso sobre criação de peixes ornamentais que surgiu meu interesse pela aquicultura durante a graduação. Logo procurei a Profa. Elisabete Viegas para ser minha orientadora de iniciação científica. Iniciei na ciência com estudos de produção de coprodutos de resíduos de pescado para serem incluídos em dietas para peixes. Meus primeiros estudos foram com tilápias e depois passei a trabalhar com as espécies nativas: dourado, lambari, pacu, tambaqui e pirarucu. Em São Paulo, foquei a pesquisa mais para lipídios dietéticos, mas quando cheguei no Amazonas, vi que não fazia muito sentido continuar com esses estudos, pois faltavam co-
Ligia Uribe Gonçalves: O projeto GIGAS nasceu em 2015, com recursos da CAPES e da FAPEAM, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Manaus, Amazonas. O nosso objetivo é realizar pesquisas direcionadas ao desenvolvimento morfológico, nutrição, manejo alimentar, sanidade das fases iniciais do pirarucu, com propostas de novas técnicas de manejo para uma larvicultura intensiva que promova maior sobrevivência dos animais e garanta juvenis saudáveis para a fase de engorda na piscicultura. Desde a sua criação, temos a honra de contar com a colaboração do Dr. Luís Conceição, da Sparos LDA em Portugal, que foi nosso bolsista Pesquisador Visitante Especial do Programa Ciências sem Fronteiras da CAPES.
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Ligia Uribe Gonçalves
Ligia é zootecnista, ingressou na aquicultura pelo gosto por ornamentais. Contudo, trabalha atualmente com um gigante dos rios! Ou como é chamado, o gigante da Amazônia: pirarucu. Os desafios acerca da produção do pirarucu em cativeiro motivaram o início de um grande projeto, o “Projeto Gigas” que teve início em 2015, do qual Ligia é coordenadora. Confira!
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AQUACULTURE BRASIL: Quais os avanços em termos de pesquisa obtidos desde 2015 quando o Projeto Gigas começou?
Ligia Uribe Gonçalves: Os principais avanços que tivemos foram o conhecimento dos principais eventos durante a metamorfose da larva do pirarucu, com finalização da formação das escamas acontecendo em animais com mais de 12 centímetros de comprimento. Verificamos que algumas rações comerciais podem desencadear problemas como hérnia e úlcera estomacal. Além disso, identificamos que larvas menores a 4 cm apresentam dificuldades pra digestão de zooplâncton do grupo ostacoda, que causam atraso no crescimento e até mortalidade. Estabelecemos um protocolo seguro para transição alimentar e utilização de ração comercial nas larvas de pirarucu com 4 centímetros de comprimento. Identificamos os principais parasitos que ocorrem nas pisciculturas de pirarucu, sendo que os tricodinídeos e os monogenéticos são os mais preocupantes nas larvas e juvenis, respectivamente. Com os nossos protocolos alimentares temos obtido 70% de sobrevivência, considerando a captura das larvas com 1,5 a 2 centímetros de comprimento. AQUACULTURE BRASIL: Atualmente, quais os principais desafios do projeto Gigas?
Ligia Uribe Gonçalves: Nosso principal desafio é produzir microdietas para dar continuidade às pesquisas, pois grande parte dos alimentos foram feitos na empresa Sparos, em Olhão, Portugal. Estamos adquirindo os equipamentos e em breve poderemos processar rações (microdietas) mais adequadas para larvas de peixes e camarões.
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AQUACULTURE BRASIL: Como é a relação do Projeto Gigas com os produtores, há uma troca de informações? Há participação de colaboradores externos ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia?
Ligia Uribe Gonçalves: Nossos primeiros estudos foram realizados na piscicultura Boa Esperança, propriedade do Sr. Megumi Yokoyama, o “Pedrinho”, em Primavera de Rondônia, Rondônia. Esse primeiro contato com a família Yokoyama foi essencial para troca de informações com o produtor, quando aprendemos muito sobre o manejo reprodutivo e também das formas jovens. Essa colaboração foi muito importante para planejarmos os nossos experimentos. Além disso, os primeiros ensaios no INPA foram executados com larvas de pirarucu provenientes da piscicultura Boa Esperança. Hoje também temos parceria com o Sítio Amadeu Cirino, propriedade do Sr. Ari, que está localizado no munícipio de Coari, interior do Amazonas. Para atender os técnicos e produtores, realizamos algumas vezes o curso de capacitação chamado “Larvicultura intensiva do pirarucu” em Manaus e Coari no Amazonas e Paragominas no Pará. Em novembro, ofereceremos mais uma vez o curso no Congresso Zootecnia da Amazônia em Santarém no Pará. AQUACULTURE BRASIL: O projeto Gigas é financiado por agências de fomento ou apenas com recursos próprios? E estes recursos estão assegurados para a continuidade das pesquisas, mesmo diante do cenário atual de crise no Ministério da Educação, ou podem estar comprometidos?
Ligia Uribe Gonçalves: Nós obtivemos recursos da CAPES e FAPEAM, porém esses projetos foram finda-
dos em janeiro de 2019. Atualmente, tenho somente um projeto com pirarucu em vigência com recursos da FAPEAM e CNPq (Edital Primeiros Projetos de Pesquisa), que também está em fase final de utilização dos recursos financeiros. Infelizmente, no último edital da FAPEAM, destinado para aquicultura, somente foi possível apresentar proposta com tambaqui e matrinxã. Acredito que toda pesquisa brasileira está comprometida com o atual cenário brasileiro. Nós estamos tentando encontrar uma solução para que as nossas pesquisas não parem. Recentemente, conseguimos a aprovação da Advocacia Geral da União para comercializar os juvenis de pirarucu que são os resultados das nossas pesquisas, e assim, conseguir algum recurso para comprar insumos e continuar com os ensaios, mesmo que em “marcha” mais lenta.
de peixes não nativos nos rios do Estado do Amazonas foi publicada e logo depois acabou sendo revogada sob apelo de instituições ambientais. Em sua opinião, valeria a pena arriscar a introdução de uma espécie não nativa nestes locais? Ou as espécies da aquicultura nacional tem potencial para alavancar a produção do Amazonas?
Ligia Uribe Gonçalves: Na minha opinião não vale a pena arriscar a introdução de espécies exóticas nos rios do Amazonas, pois além dos problemas ambientais, as espécies nativas possuem desempenho zootécnico excelente na região.
AQUACULTURE BRASIL: Qual a sua perspectiva para a produção de peixes nativos no Brasil, em especial sobre o Pirarucu?
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Ligia Uribe Gonçalves: Eu acredito muito no potencial dos peixes amazônicos. Isso pode ser visto com o tambaqui, como principal representante, está lá no topo da produção aquícola brasileira. Em relação ao pirarucu, acho que faltam muitos estudos para deixar o produtor mais confiante em relação ao alto investimento inicial da sua produção, mas já vi casos de sucesso no Brasil. Nesse momento, acho que a espécie seria muito interessante para ser trabalhada em policultivo com peixes onívoros. O pirarucu pode atuar como predador de peixes forrageiros, diminuindo a quantidade de competidores de alimento e oxigênio, e o peixe onívoro pode se aproveitar do resto do alimento do pirarucu, além de filtrar a grande quantidade de plâncton que haverá na água devido os resíduos nitrogenados e fosfatados. Não falta mercado para comercializar a carne do pirarucu, já recebi comerciantes querendo indicação de produtores que poderiam oferecer regularmente 20 toneladas de pirarucu ao mês, mas não encontramos. AQUACULTURE BRASIL: Em 2016 uma legislação que permitia o cultivo
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AQUACULTURE BRASIL: Atualmente o maior desafio do cultivo de Pirarucu e os peixes nativos redondos está na nutrição?
Ligia Uribe Gonçalves: Acredito que para o pirarucu os maiores desafios são a inconstância na oferta de juvenis, preço muito elevado do juvenil, alto investimento e falta de tecnologias específicas para a espécie. Em relação ao tambaqui, o maior desafio é sanitário, algumas doenças têm prejudicado a produção e a utilização de medicamentos sem controle podem causar sérios problemas de segurança ambiental e alimentar. AQUACULTURE BRASIL: Deixe um convite para futuros alunos interessados em ingressar em uma pósgraduação que possam colaborar com o projeto Gigas?
Ligia Uribe Gonçalves: Primeiramente, gostaria de agradecer a equipe da revista Aquaculture Brasil pelo interesse no Projeto GIGAS. As demais pessoas que tiverem interesse em conhecer um pouco mais do nosso trabalho, podem acessar a nossa página www. projetogigas.com e também nos seguir nas redes sociais @projetogigas e facebook.com/projetogigas. Os que tiverem interesse em pós-graduação podem obter maiores
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Equipe do Projeto Gigas (2019).
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informações nos sites: PPG-Aquicultura: http://pgaquicultura.inpa.gov.br/ PPG-Ciências Pesqueiras nos Trópicos: http://ppgcipet.ufam.edu.br/ PPG-Ciência Animal: https://ppgcan.ufam.edu.br/
Para o pirarucu os maiores desafios são a inconstância na oferta e preço muito elevado do juvenil, alto investimento e falta de tecnologias específicas para a espécie...
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Jesus Malpartida Pasco @jesusmalpartidap A seção “Eles fazem a diferença” desta edição presta uma justa homenagem a alguém que talvez ainda não seja muito reconhecido pelas pessoas que trabalham com a aquicultura em todo o Brasil, entretanto, trata-se de um dos profissionais mais competentes e dedicados que o País possui. Peruano de nascimento e brasileiro de coração, Jesus é um grande multiplicador de conhecimentos técnicos, especialmente na área de tilapicultura e carcinicultura marinha, focado aos sistemas intensivos em bioflocos.
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“Quando fui escolher uma profissão defini que queria estudar algo que não fosse tão comum. Lá no Peru (meu país de nascimento) a pesca é uma atividade econômica muito significativa, porém as espécies aquáticas mais apreciadas pela tão reconhecida culinária peruana (por exemplo o linguado), eram escassas, sazonais ou inclusive restritas às classes sociais com maior poder econômico. Quando entendi que isto acontecia pela dificuldade e a baixa disponibilidade destas espécies, comecei a pesquisar a maneira de mudar este contexto e por isso orientei os meus estudos de biologia no Peru para a parte da produção aquícola. Porém encontrei bastante dificuldade para apoio à pesquisa, nas condições em que o país se encontrava naquela época (inícios dos anos 2000)”. Do Peru para o Brasil “Logo que terminei minha graduação (fim de 2001), conversando com o meu professor da Universidad Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), o Dr. Juan Enrique Vinatea Jaramillo, me candidatei a uma vaga no Programa de Mestrado em Aquicultura na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Assim, cheguei ao Brasil para complementar meus estudos e encontrei uma realidade completamente diferente. A produção aquícola brasileira era cada vez maior, tanto em piscicultura continental, carcinicultura e inclusive também na malacocultura. As universidades que trabalhavam com pesquisa possuíam uma estrutura e um staff de profissionais de alto nível. Dentro destes profissionais tive a grande sorte e o favor de Deus em colocar no meu caminho aquele que viria a ser meu grande amigo, mentor e exemplo de profissional, o Dr. Luís Alejandro Vinatea Arana. Uma vez finalizado meu mestrado me casei com Adriana, minha esposa, e cinco anos depois veio a Marina, a nossa lindíssima filha. Quando a Marina nasceu iniciei
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meus estudos de doutorado no meu segundo lar, a UFSC. Já no doutorado trabalhei com a tecnologia de bioflocos, com a produção intensiva de tilápia e com a busca do manejo energético mais eficiente, tudo para que a nossa pesquisa fosse útil para a produção para o produtor, para o técnico, para o Brasil e para o mundo”. Especialista em sistemas intensivos “Na verdade, quando falamos em sistemas intensivos, como sempre ensinamos nos nossos cursos, a espécie é mais um fator de todo o sistema que trabalhamos. Pois o que cultivamos é a água, e a adequamos a certos requerimentos específicos para o tipo de espécie, o estágio de produção e a finalidade para a qual vamos usar o sistema. À época, iniciamos os cultivos com tilápia, dominando por completo os estágios e as produtividades. E continuamos com o cultivo de camarão marinho tanto na engorda como na produção de berçários intensivos. Com certeza estes cultivos conseguirão alavancar novamente a aquicultura brasileira e mundial, desde que bem orientados, projetados e manejados”.
Principais projetos e conquistas “Produzir em fazendas com mancha branca, produzir camarão marinho em águas interiores, produzir com água de rio que ninguém botava fé, produzir em países que não conheciam o sistema BFT ou em lugares onde a estrutura montada já tinha sido abandonada por maus resultados, porém, com a nossa chegada como consultor externo conseguimos colocar um pouco de fé e muito pescado. Dar cursos no Brasil e em outros países da América Latina. Também, fazer um pós-doutorado com o Dr. Luís Vinatea na Espanha, trabalhando lado a lado junto com ele e alavancar o nome do Brasil e do Peru no velho continente. Um desafio muito grande foi montar a nossa empresa, a JMPaquaculture, já que marcava a ruptura da minha etapa de estudante. Tudo o que veio a partir desse dia é uma conquista, já que o fato de ter a empresa nos serve para poder participar em cursos, eventos e palestras no Brasil inteiro, onde só empresas podem participar. A JMP estará onde seja necessária”.
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Um pré-conceito que se tornou um grande combustível “Trabalhar no Brasil foi difícil ao início, pois como me disse um professor de faculdade: “-Se eu dou a oportunidade a você, teria que tirá-la de um brasileiro...” Isso me marcou muito! Embora naquela época eu ainda não fosse oficialmente brasileiro, já gostava do bordão: sou brasileiro e não desisto nunca. Não desisti e encontrei pessoas (produtores, empresários e outros técnicos) que atentavam mais para a competência, seriedade, compromisso e capacidade técnica do que para o lugar de nascimento do profissional. Contei essa história para muitos amigos e muitos deles criticaram a atitude do professor, e isso me fez ver que o pensamento das pessoas atualmente é mais integrador, mais humano, e isso já é um bom caminho para consertar o país e o mundo. Agora agradeço a todas as pessoas que sempre me brindaram com sua confiança e que reconhecem o esforço realizado ao longo destes mais de 15 anos de atividade profissional especializada na aquicultura”.
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sibilidade de testar seus produtos (aeradores, alimentadores etc.) com um acompanhamento técnico especializado que com certeza oferecerá resultados que servirão para melhorar os produtos testados. Também com o LabTA os nossos clientes-produtores e alunos poderão contar com uma unidade demonstrativa do sistema em funcionamento que possa servir para aquela tomada final de decisão entre construir ou não o projeto aquícola”.
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O motivo de maior orgulho “O que mais me deixa orgulhoso na minha trajetória é ser sincero. Sincero com os produtores, sincero com os alunos, sincero com as pessoas que me deram, me dão e me darão seu apoio e a sua confiança. Saber que a nossa bandeira é a sinceridade técnica atrelada a um grande conhecimento científico e de campo. O jogo aberto e o apoio às pessoas que buscam em nós um conselho profissional, e que respondem com um elogio, que respondem com um obrigado e que saem dos nossos cursos e consultorias nos recomendando, é o que nos deixa orgulhosos”. Além de consultor, agora também produtor! “Justamente, mais do que uma produção própria, o nosso LabTA (Laboratório de Tecnologia Aquícola da JMPaquaculture), foi concebido para suprir dois objetivos. Primeiro comprovar para os investidores que conseguimos produzir tilápias em sistemas superintensivos (30-35kg/ m³) e produzir camarões marinhos em águas interiores (3-4 kg/m³), utilizando água do mar transportada, água salinizada e água corrigida via balanço iônico. Segundo para oferecer aos nossos parceiros, produtores e clientes a pos-
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O que vem pela frente “Consolidar minha empresa e interagir com produtores responsáveis e a longo prazo. Consolidar parcerias a longo prazo com empresas que vendem produtos que sabemos que funcionam e muito bem, empresas que já são parceiras nossas e empresas que venhamos a conhecer, cujos produtos sejam diferenciados e que colaborem com o incremento da produção aquícola. Aumentar a equipe de trabalho e que mais clientes possam usufruir do nosso manejo especializado e diferenciado, e isso se traduza em maiores lucros para os nossos clientes. Aumentar a nossa consultoria e assessoria on-line que é um dos nossos maiores orgulhos pois conseguimos utilizar a tecnologia dos meios digitais para trabalhar em qualquer canto do planeta. Também espero em breve concretizar a nossa fazenda própria, pois já tenho dois projetos que estão em execução e muito logo seremos produtores para valer, em maior escala! Finalmente, gostaria de trabalhar em uma universidade, como professor externo ou com uma ou duas disciplinas só, para poder manter minha “liberdade” de ir de país em país, de produtor em produtor, de cursos em cursos, aprendendo, ensinando, produzindo em conjunto”. Onde o encontraremos daqui há 30 anos... “Se Deus me der vida ainda, gostaria de estar na minha fazenda com meus animais, cercado dos meus netos, minha filha, minha esposa e os meus amigos, produzindo de tudo, com uma fazenda autossustentável e podendo fazer trabalho social, podendo fazer com que muitas pessoas se beneficiem com o que nós produzimos. Me vejo feliz e tranquilo pela trajetória percorrida e me vejo comendo um delicioso ceviche de linguado produzido pela JMPaquaculture”.
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Nem só de tilápia caminha a aquicultura paranaense! Conheça os resultados da produção do camarão gigante da Malásia Macrobrachium rosenbergii, em parceria com o Laboratório de Carcinicultura - LABCAR, da Universidade Federal do Paraná, no município Palotina.
Fazenda:
Pierezan
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Data do povoamento: 07/09/2018 Quantidade de PL estocadas: 25.000 Área: 2.400 m² Densidade: 10,5 camarões / m² Data da despesca: 05/04/2019 Dias de cultivo: 210 Peso final médio: 40 g Biomassa final: 560 Kg Produtividade: 2.333Kg/ha Sobrevivência: 56,0% Total de ração: 1.400 Kg Conversão alimentar: 2,5:1
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