EDIÇÃO
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ISSN 2525-3379
2018
AQUACULTURE
BRASIL
biotecnologias a PROJETO Usando favor da conservação dos REEFBANK: recifes de coral Artigo: Captura, maturação e larvicultura do camarão nativo para repovoamento no RJ
Coluna: Produção da própria ração - solução ou problema?
Entrevista: Rodrigo Zanolo, MSD Saúde Animal
Eles fazem a diferença: Geraldo Kipper Fóes
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MAR/ABR 2018
aquaculturebrasil.com
REVISTA
NOVEMBRO/DEZEMBRO
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O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA! EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com DIRETORES ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen DIREÇÃO DE ARTE: Syllas Mariz Jéssica Brol COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alessandro Cardozo, Carlos Eduardo Zacarkim, Daiane Mompean Romera, Dariano Krummenauer, Denis William Johansem de Campos, Fabiana Garcia, Geraldo Fóes, Jéssica Brol, Leandro Godoy, Leone de Souza Medina, Luis Poersch, Luiz Henrique Castro David, Raimundo Lima da Silva Junior, Roberta Almeida Rodrigues, Rodrigo Zanolo e Wilson Wasielesky Jr. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Giovanni Lemos de Mello Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.
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15 edições! Tempo voa... Lançada em agosto de 2016, nossa revista impressa atraca em 2019... ainda que após a sua “estreia” o time de futebol do editor-chefe sofredor (flamenguista) não tenha conquistado nenhum título de expressão, ao menos foram inúmeras conquistas aquícolas nos últimos três anos. Cada edição que preparamos é sempre um desafio a questão da seleção dos artigos e demais seções, além do tema de capa. Prioritariamente, “a capa” tem que estar ligada à inovação. Neste contexto, como não emplacar uma capa com o trabalho desenvolvido pelo Prof. Dr. Leandro Godoy, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): aquicultura de corais! Que temática incrível, relevante e atual! O fundo do mar sempre despertou em mim algo mágico... cresci com grande influência da pesca artesanal em minha cidade natal. Durante alguns anos nossa “brincadeira” de adolescente era capturar camarões marinhos de tarrafa em um pequeno barco de alumínio, na Lagoa de Itaipu, Niterói (RJ), durante as férias escolares de julho. Partíamos de SC rumo ao Rio de Janeiro para fugir do frio e passar algumas semanas na companhia de saudosos tios, grandes referências de minha infância... Acordávamos cedo todas as manhãs para pescar camarões com o Tio Hilton, que tanto nos ensinou. As pescarias sempre rendiam deliciosos almoços e jantares. Lembro como se fosse hoje quando decidi que a água seria o meu trabalho para toda a vida. Era 1996, tinha 15 anos e estávamos passeando de barco na Praia de Itaipu, em Niterói. De fato, na lagoa, na piscina ou na praia, eram férias sempre aquáticas! Neste dia, nos deparamos com uma água incrivelmente transparente. No costão da Praia de Itaipu, muitas pessoas praticando snorkeling. Ao passar pela Ilha da Menina, chegar na Ilha da Mãe, e aproximar o barco do costão, jamais esqueço da cena de ver aquele fundo do mar... um paredão de pedra descendo ladeira a baixo, alguns peixes coloridos, uma água caribenha.... esse foi meu Day one (bem ao estilo Endeavor)! Esta cena nunca saiu de minha mente. Ali eu decidi que iria transformar o mar ou a água salgada, de alguma forma, em trabalho. Só que ainda não sabia como... A aquicultura acabou surgindo somente três anos depois desse dia. A capa desta edição, de certa forma, me fez relembrar das férias em Niterói. Imagine a importância de utilizar o meio aquático de forma sustentável para produzir proteína animal e vegetal da mais alta qualidade? Ou então usar a aquicultura para preservar o meio ambiente? Alie isso à oportunidade única de transformar paixão em profissão! Bem-vindo a aquicultura! E uma ótima leitura!
Giovanni Lemos de Mello, Editor-chefe.
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SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL - edição 15 nov/dez 2018
08 FOTO DO LEITOR 10 PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE III
»» p.10
16 CAPTURA, MATURAÇÃO E LARVICULTURA DO CAMARÃO NATIVO PARA REPOVOAMENTO NO LITORAL DO RIO DE JANEIRO 24 PROJETO REEFBANK – USANDO BIOTECNOLOGIAS A FAVOR DA CONSERVAÇÃO DOS RECIFES DE CORAL 30 CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS PARA PISCICULTURA COMERCIAL – PARTE V 38 COOPERATIVA DE PESCA E AQUICULTURA DE GOIÁS (COOPAQ) – PARTE V: NITROSOMONAS
»» p.16
46 SITASS: SIMPÓSIO TÉCNICO DA AQUICULTURA SUPERINTENSIVA SUSTENTÁVEL 50 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 51 CHARGES
»» p.24
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»» p.70 »» p.72
52 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 54 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA 55 NUTRIÇÃO AQUÍCOLA 56 GENÉTICA »» p.30
58 GREEN TECHNOLOGIES 60 VISÃO AQUÍCOLA 62 RANICULTURA 63 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 64 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA 66 AQUICULTURA DE PRECISÃO
»» p.38
»» p.46
68 TECNOLOGIA DO PESCADO 70 DEFENDEU 72 ENTREVISTA - RODRIGO ZANOLO 79 ELES FAZEM A DIFERENÇA 82 DESPESCOU
»» p.79
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Entardecer observado a partir do viveiro (Jaguaribe, CE) Jessyca Alexandre
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Um olhar aproximado - Litopenaeus vannamei (Paraipaba, CE) Augusto Cesar
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Produção de microalgas para uso como alimento na larvicultura de camarão marinho - EMA, FURG (Rio Grande, RS) Lucélia Borges
Georgia Aquarium (Atlanta, EUA) Raimundo Lima da Silva Júnior
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Juvenil de Litopenaeus vannamei LabEcotox-UFMA (São Luís, MA) Jacyara Corrêa
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Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia e participe desta seção.
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© usf-reclaim.org
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Perifíton: uma opção de alimento complementar na aquicultura - Parte III Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP Universidade Estadual Paulista (UNESP) Jaboticabal, SP *campos.dwj@gmail.com
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omo visto nas edições anteriores, o perifíton é um importante componente de ambientes aquáticos, formado por grupos de microrganismos taxonomicamente diversos e de alto valor nutricional. Mas será que o perifíton possui aplicabilidade na produção aquícola? Existe algum benefício na qualidade
Daiane Mompean Romera Instituto Agronômico de Campinas - APTA
Fabiana Garcia Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP Universidade Estadual Paulista (UNESP) Instituto de Pesca Centro do Pescado Continental - APTA
da água? Alguma espécie aproveita o perifíton? Existem espécies nativas que podemos utilizar na produção com perifíton? Quais os benefícios econômicos o perifíton pode proporcionar ao produtor? Estas são perguntas que tentaremos responder no decorrer deste texto.
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Denis William Johansem de Campos* Luiz Henrique Castro David Roberta Almeida Rodrigues
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Potencial produtivo do uso de substratos na aquicultura
Pesquisas práticas têm mostrado que a inclusão de perifíton em sistemas de produção aquícola representa potencial técnico a ser explorado. Isto pode ser evidenciado tanto em monocultivos quanto em policultivos usando perifíton como alimento complementar. Este recurso proporciona maior produtividade e menor conversão alimentar, principalmente no cultivo de tilápias, carpas e camarões de água doce (Figura 1). A comunidade perifítica pode ser considerada um bioindicador sobre o estado trófico dos ambientes aquáticos, respondendo rapidamente às alterações abióticas ocorridas no ambiente de cultivo, tornando-a ideal no monitoramento da qualidade da água. Em relação aos parâmetros de água, o perifíton pode influenciar nos níveis de oxigênio, isto porque a presença de organismos autotróficos e heterotróficos podem, respectivamente, produzir e consumir oxigênio dentro do sistema. Por outro lado, o perifíton pode diminuir as quantidades de amônia, nitrito, nitrato e fósforo, atuando na ciclagem de nutrientes inorgânicos. É importante ressaltar que níveis elevados de amônia e nitrito são tóxicos aos organismos cultiváveis, podem provocar altas mortalidades e consequentemente prejuízos econômicos. De maneira geral, grande parte das espécies de organismos que ocupam as posições iniciais da cadeia alimentar aquática, como peixes herbívoros, onívoros e crustáceos são aptas ao aproveitamento do perifíton como recurso alimentar. Partindo deste princípio, existem espécies nativas de peixes que podemos utilizar? Ainda são necessárias pesquisas referentes a utilização do perifíton na alimentação dos peixes nativos em escala comercial, contudo na Figura 2 apresentamos alguns peixes nativos com potencialidades quanto ao uso do perifíton, devido a seus hábitos alimentares e estruturas morfofisiológicas que auxiliam na captura e digestão
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Figura 1. Benefícios da inclusão do perifíton em sistemas aquícolas.
Fonte: Asaduzzaman et al. (2008 e 2009), Azim et al. (2004), Garcia et al. (2016), Jana et al. (2004), Keshavanath et al. (2004), Sakr et al. (2015) e Uddin et al. (2007).
deste alimento natural. Muitos trabalhos referentes a comunidade perifítica têm sido realizados para conhecer sua taxonomia e composição nutricional. No entanto, existe a necessidade de estudos sobre o desempenho dos organismos aquáticos com fins econômicos em escala comercial de cultivo, pois são escassas pesquisas que determinam a viabilidade técnica e econômica deste tipo de manejo. Os trabalhos disponíveis na literatura (Figura 1) utilizam substratos para produção de perifíton em sistemas de produção extensivos e em localidades onde não há grande disponibilidade de ração comercial. Nosso gru-
Benefícios econômicos promovidos pelo perifíton
Figura 2. Peixes nativos com potencial de utilização do perifíton como complemento alimentar.
POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DO PERIFÍTON
Análises econômicas têm mostrado melhor rentabilidade no uso de perifíton em viveiros para produção de alevinos de Carpa (Labeo rohita), em que houve incremento em mais de 35% na relação custo benefício quando se utilizou o perifíton em comparação a mesma em modelo convencional (sem perifíton) (Huda et al., 2002). Melhorar a relação custo benefício significa aumentar a produção com menor uso de insumos, sendo a ração o insumo de maior custo na produção aquícola. Na produção de tilápias em tanques-rede (peso de abate de 800 g), a utilização de substratos de bambu associada à restrição alimentar garante maior lucro operacional e lucratividade, devido ao menor aporte da ração (Garcia et al., 2017). Isto porque, peixes confinados sob restrição alimentar com substratos de perifíton buscam alimentação natu© Ryan photographic
ral para suprir a exigência nutricional ocasionada pela falta da ração. Desta maneira, a inserção de substrato é uma opção interessante para pequenos piscicultores, pois lhes permite reduzir a dependência de alimentação comercial, diminuir os custos e aumentar os lucros com medidas simples de serem implantadas. © Fabiana Garcia
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po de pesquisa tem se dedicado a testar o uso de substratos em sistemas de produção super-intensivos (tanques-rede) e intensivos (viveiros escavados) (Figura 3), mais comuns no Brasil. Os resultados são promissores em ambos os sistemas de produção para monocultivos de tilápia do Nilo, desde as fases iniciais até as finais, proporcionando, principalmente, economia no uso de ração e consequente redução no custo de produção.
Podemos concluir que o uso de substratos artificiais para produção de perifíton proporciona muitos benefícios na aquicultura. Por reduzir o custo de produção e aumentar a rentabilidade, esta técnica é muito recomendada para produtores familiares ou com pequena lâmina d’agua, por permitir que obtenham renda mesmo em pequenos módulos de produção. Assim terminamos a terceira e última parte da série de artigos: “Perifíton: uma opção de alimento complementar na aquicultura”. Esperamos ter contribuído com a propagação do conhecimento e estamos à disposição para esclarecimentos. Até a próxima.
A inserção de substrato é uma opção interessante para pequenos piscicultores, pois lhes permite reduzir a dependência de alimentação comercial, diminuir os custos e aumentar os lucros com medidas simples de serem implantadas.
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
Figura 3 . Substrato em tanque-rede (A) e em viveiro escavado (B). © Fabiana Garcia
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© Henrique Jun K. Santana
Captura, maturação e larvicultura do camarão nativo para repovoamento no litoral do Rio de Janeiro Jéssica Brol, Luis Poersch*, Kim Catalani, Rodrigo González Zúñiga, Gabriela Hollmann, Missileny Xavier, Ana Paula Morais, Julio Cesar Zemor, Stefani Mendes, Henrique Jun K. Santana, Andrea Idelette Hernández, Hellyjúnior Brandão, Inácio Alves Neto, Lucélia Borges, Flávia Banderó, Lucas Genésio P. da Silveira, Gabriel Keiti K. Santana, Victor Torres, Léa Carolina de O. Costa, Mariana Holanda P Barboza, Wellica Gomes Reis, Plácido Soares de Moura, Ana Carolina Pereira, Geraldo Fóes, Dariano Krummenauer, Alessandro Cardozo e Wilson Wasielesky Jr.
A aquicultura, além de fornecer proteína de qualidade ao mundo, diminuindo a pressão aos estoques pesqueiros, pode contribuir para o repovoamento de espécies nativas. Esse inclusive, foi o objetivo inicial da então construída, em 1989, Estação Marinha de Aquacultura (EMA), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), localizada no bairro Cassino, cidade de Rio Grande, RS. Ali se intensificaram as pesquisas sobre o camarão nativo Farfantepenaeus paulensis, que ocorre desde o litoral da Bahia até o litoral nordeste da Argentina. Esta espécie, popularmente conhecida como camarão-rosa, foi alvo de estudos para repovoamento do estuário da Lagoa dos Patos. Graças a esses esforços o pacote tecnológico de reprodução, maturação, desova, larvicultura e engorda da espécie foi elaborado com sucesso. Já faz alguns anos que o foco das pesquisas do grupo migrou para a produção de Litopenaeus vannamei em sistemas intensivos (bioflocos), contudo, o paco-
te tecnológico gerado acerca do F. paulensis ainda é colocado em prática. Quase que anualmente, desde 1998, a equipe do Projeto Camarão da EMA realiza a captura de reprodutores de camarão-rosa no ambiente natural e traz para o laboratório. O objetivo é fazer a larvicultura do camarão nativo e destinar estas larvas para o projeto de repovoamento no litoral do Rio de Janeiro. Esse artigo irá abordar todas as etapas, desde a captura em ambiente natural até a larvicultura e liberação desses animais na ilha Guaiba, junto à baía de Sepetiba, no estado do Rio de Janeiro. Neste último ano a liberação foi realizada no mês de novembro de 2018. O presente manuscrito leva o nome de vários autores, já que exige o esforço e dedicação de diversos alunos do Programa de Pós Graduação em Aquicultura da FURG, professores e técnicos para realização da captura de matrizes, transporte, aclimatação, maturação, desova, larvicultura e novo transporte para o Rio de Janeiro.
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Universidade Federal de Rio Grande - FURG Programa de Pós Graduação em Aquicultura Rio Grande, RS *lpoersch@mikrus.com.br
Captura e aclimatação dos reprodutores
A captura dos reprodutores foi realizada no litoral de Santa Catarina, partindo da cidade de Itajaí. A equipe contou com o auxílio de pescadores da região com embarcação de pesca de arrasto tipo tangone, sendo necessário apenas uma saída ao mar de 24 h para a captura. Após cada arrasto eram selecionados os camarões adultos em função da espécie, sexo, tamanho, estágio de maturação e condição geral do animal. Neste embarque um total de 500 animais foram capturados e acondicionados em caixas de transporte para serem levados de Armação de Itapocorói (Penha – SC) até a EMA, Rio Grande RS. O percurso durou 12 horas, sendo monitorado periodicamente o oxigênio dissolvido e temperatura.
Maturação
Após a aclimatação as fêmeas foram selecionadas e induzidas à maturação gonadal através da ablação unilateral do pedúnculo ocular. Posteriormente foram distribuídas em quatro tanques de concreto iguais aos da aclimatação. Os machos também foram distribuídos nestes mesmos quatro tanques, na proporção de um macho para cada duas fêmeas. O fotoperíodo invertido foi controlado em 14h claro e 10h escuro, a temperatura média mantida em 27°C e a salinidade em 30. A taxa de alimentação manteve-se duas vezes ao dia, com 10-30% de alimento fresco fornecido de acordo com a biomassa estocada. A qualidade de água foi mantida através de renovações parciais de 50% ao dia. Figura 3. Sala de maturação. © Henrique Jun K. Santana
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Figura 1. Captura dos reprodutores em alto mar. © Kim Catalani
Diariamente as fêmeas maturas eram selecionadas e transferidas para o setor de desova, de acordo com o estágio de desenvolvimento das gônadas, que compreende a visualização da cor e forma da mesma. Tal visualização classifica a gônada em um dos seis estáAo chegar no laboratório de Carcinocultura da gios: EMA os camarões foram aclimatados em dois tanques 1. Sem desenvolvimento: gônada fina e translúcirculares de concreto, com capacidade de 12.000 L e cida, quase imperceptível; volume útil de 4.000 L. Ali permaneceram por um pe2. Em desenvolvimento: é possível a visualizaríodo de cinco dias, com sobrevivência final de 90%, ção da gônada que tem uma forma muito fina, sem desde a captura até o final da aclimatação. Duas vezes contornos claros; ao dia era fornecida uma dieta que contemplava um 3. Branco: a gônada aumenta de tamanho, facilmix de lula, peixe e marisco branco. mente visível no dorso do animal, a cor apresenta-se Figura 2. Aclimatação das matrizes na EMA. © Dariano branco leitosa, principalmente no primeiro somito abdominal; Krumennauer 4. Amarelo: a gônada apresenta aspecto maciço e coloração variando de amarelo claro a amarelo escuro; 5. Verde (maturo): gônada facilmente visível, com uma coloração variando de verde claro a verde-oliva, apresenta-se em uma larga faixa de aspecto maciço e irregular. Ideal para seleção à desova; 6. Desovado: gônada com aspecto vazio, semelhante ao estágio em desenvolvimento. Pode ocorrer uma re-maturação.
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Figura 4. Fêmea de F. paulensis com gônada em coloração verde-oliva, ideal para seleção à desova. © Henrique Jun K. Santana
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Desova
Somente as fêmeas no estágio 5, fase em que a coloração das gônadas está verde-oliva, eram selecionadas e transferidas para a sala de desova. A sala contém 25 caixas de desova com volume de 150 L cada e a temperatura foi controlada entre 28 e 30°C. As fêmeas permaneceram nas caixas de desova de 12 a 14 horas, período suficiente para ocorrer a desova. Logo após, as mesmas eram recolhidas e devolvidas aos respectivos tanques de maturação.
Figura 5. Sala de desova. © Henrique Jun K. Santana
Nas incubadoras a eclosão para náuplio ocorre entre 15 a 16 horas após a desova e completa o desenvolvimento dos seis subestágios desta fase cerca de 48 depois. Estes sofrem uma metamorfose para a fase de protozoea, onde já exigem alimentação exógena. Assim, 24 horas após a incubação os náuplios eram coletados (em estágio III e IV) e transferidos para o setor de larvicultura.
Larvicultura
Os tanques de larvicultura (10.000 L de volume útil) estavam preparados com água do mar filtrada (clorada e declorada), aeração constante e temperatura média de 28°C. Antes da chegada dos náuplio, e diariamente até o final da larvicultura, foi adicionado na água probiótico (Pro-W Inve®) para minimizar a ação de bactérias, principalmente do gênero Víbrio. Figura 7. Tanques para larvicultura. © Henrique Jun K. Santana
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Diariamente uma amostra de 100 ml de água era coletada de cada caixa de desova para análise em microscópio óptico a fim de verificar se os ovos estavam fertilizados e estimar a taxa de eclosão. Nas caixas onde se apresentava taxa de fertilização maior que 70%, os ovos eram recolhidos, lavados com água do mar filtrada, iodo (10 mg/L) e formol (20 mg/L) e passados para as incubadoras (50 L) na densidade máxima de 2.000 ovos/L. No total foram cerca de 10 milhões de ovos coletados em um período de cinco dias.
Os náuplios foram estocados em uma densidade de 150 animais/L e algumas horas depois, quando passavam para o estágio de protozoea, eram alimentados com microalgas Chaetoceros muelleri e Conticribra weissflogii na densidade de 5x104 cél/L até o estágio de protozoea III. Posterior a essa fase os animais sofrem metamorfose para misis, quando então passou a Figura 6. Visualização dos ovos em microscópio óptico.© Wellica ser ofertado náuplios de Artemia sp. (Inve®) congelada Reis e dieta específica para cada fase de desenvolvimento (Inve®). Após os três estágios de misis a última metamorfose é para pós-larva, quando os camarões passaram a receber náuplios de Artemia sp. recém eclodidos, intercalado com dieta comercial. Diariamente era monitorado os compostos nitrogenados do sistema, fazendo renovações de 40% do volume do tanque dia sim e dia não, além de análise do estágio de desenvolvimento das larvas. Para envio ao Rio de Janeiro, as pós-larvas foram cultivadas até no mínimo PL 8, tendo até PL 12 em virtude das estocagens diárias ao longo dos 5 dias em que foi realizada a desova.
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Figura 8. Fases de desenvolvimento do camarão nativo Farfantepenaues paulensis.
Náuplio
© Wellica Reis
© Wellica Reis
© Wellica Reis
Ovo
Protozoea
Pós-larva
© Lucélia Borges
© Lucélia Borges
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Misis
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Preparação e transporte dos camarões
Cerca de 24 horas antes de embalar as pós larvas para o transporte, o aquecedor de cada tanque foi desligado para baixar a temperatura. Após esse período, os tanques foram abertos para baixar o volume e com auxílio de um coletor com malha de 300 µm as pós larvas ficavam retidas, sendo transferidas para 3 caixas cilindro cônicas com 150 L de água do mar filtrada. Após todas as pós larvas estarem concentradas nestas caixas, um forte sistema de aeração homogeneizou as mesmas na coluna d’água. Na sequência, amostras de 100 ml de água foram retiradas para estimar o número de pós larvas em cada caixa. Posteriormente, o volume foi dividido para sacos de transporte, que continham cerca de 20 mil pós larvas. Os sacos foram preenchidos com água do mar filtrada até um volume de 15 L e preenchidos com oxigênio puro em uma proporção de um terço de água e dois terços de oxigênio. Os sacos foram acondicionados em caixas de isopor de forma individual, lacrados e enviados via rodoviária para o aeroporto de Porto Alegre, de onde a carga foi despachada por transporte aéreo até o Rio de Janeiro. Todo esse processo foi dividido em dois dias, enviando 50 caixas por vez.
Figura 9. Momento final: equipe reunida para embalar as pós larvas. a) Primeiro dia; b) Segundo dia.
Recepção e liberação no ambiente natural
Ao chegarem no aeroporto do Rio de Janeiro as caixas de isopor foram transportadas via rodoviária para Mangaratiba – RJ. Deste local as caixas seguiram de lancha até a Ilha Guaíba na Baía de Sepetiba, RJ. Na chegada as pós larvas foram aclimatadas de sete a dez dias, junto à estruturas de aclimatação da VALE S.A. e liberadas para o ambiente na região da Baía de Sepetiba, RJ.
Figura 10. Aclimatação das pós larvas após chegarem na Ilha Guaíba, RJ.
Figura 11. Ilha Guaíba, RJ.
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A.
Ilha Guaíba
B.
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Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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Projeto ReefBank – Usando biotecnologias a favor da conservação dos recifes de coral Leandro Godoy
A importância recifes de coral
dos
É muito comum as pessoas se confundirem ao pensar que corais são plantas, ou até mesmo rochas. Os corais são na verdade animais invertebrados pertencentes ao filo Cnidaria, o mesmo das águas-vivas e anêmonas. Os corais pétreos, aqueles que apresentam esqueleto calcário, são os principais responsáveis pela construção dos recifes, e por isso são chamados de corais construtores. Cada indivíduo é chamado de pólipo, e a maioria vive em grupos de centenas a milhares de pólipos que formam colônias. Os recifes de coral estão
Estimativas colocam a diversidade de vida associada aos recifes de coral em até 2 milhões de espécies, perto de 25% de toda a vida marinha.
entre os ecossistemas de maior diversidade do planeta. Sua área total é muito inferior a 1% de todo o ambiente marinho, no entanto, estimativas colocam a diversidade de vida associada aos recifes de coral em até 2 milhões de espécies, perto de 25% de toda a vida marinha (Mulhall, 2007). Portanto, os recifes de coral desempenham um papel fundamental na renovação dos estoques pesqueiros que sustentam milhares de comunidades humanas ao redor do mundo. Além disso, facilitam a fixação de nitrogênio, a regulação do carbono e funcionam como barreiras naturais que protegem as áreas costeiras de ressacas e tempestades.
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS Porto Alegre, RS projetoreefbank@gmail.com
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© Áthila Bertoncini | Projeto Coral Vivo
© Leandro Santos | Projeto Coral Vivo
Um planeta em mudança
Nos últimos 20 anos, os impactos antropogênicos globais têm se tornado cada vez mais preocupantes, e já não resta dúvidas que o clima do planeta está mudando (NOAA, 2016). A exacerbada emissão de gás carbônico (CO2) por meio da queima de combustíveis fósseis e desmatamento aumentou a temperatura em todo o planeta. Como resultado, eventos climáticos extremos como tempestades e inundações estão acontecendo com maior frequência. No entanto, as mudanças não param por aí. A temperatura média da superfície do oceano aumentou cerca de 1 °C no último século, e a absorção de CO2 pelo oceano está tornando suas águas mais ácidas. Esse
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aumento de apenas 1 °C pode não parecer tão significativo na atmosfera terrestre, mas para a sensível vida marinha, é como viver em febre constante.
Um ecossistema ameaçado
O estresse térmico, causado pelo aumento da temperatura do mar, rompe a simbiose entre as microalgas (zooxantelas) que vivem dentro do tecido dos corais, e que são responsáveis pela coloração e fornecimento de alimento aos mesmos. Nessa condição, os corais tornam-se brancos – o chamado branqueamento (bleaching). Dependendo da intensidade do estresse, os corais não se recuperam e morrem. Em 2016, a temperatura recorde dos oceanos levou a um branquea-
© Áthila Bertoncini | Projeto Coral Vivo
O nascimento do ReefBank
Os anos de experiência na área de aquicultura, especificamente na reprodução artificial de peixes, avaliação da qualidade de gametas e criopreservação (manutenção em baixa temperatura) de células reprodutivas, nos levaram a questionar: Essas biotecnologias poderiam ser utilizadas como ferramentas para ajudar na conservação dos corais? Esse questionamento foi então apresentado ao Projeto Coral Vivo. Fundado em 2003 pelos professores do Museu Nacional/UFRJ - Clovis Castro e Débora Pires - o Projeto Coral Vivo é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e atua na conservação e uso sustentável dos recifes de coral por meio de ações de pesquisa, ensino e extensão. A Rede de Pesquisas Coral Vivo é formada por pesquisadores associados oriundos de doze universidades e institutos de pesquisa. O apoio do Coral Vivo foi fundamental para a criação do ReefBank. Nosso projeto traz uma proposta inédita de pesquisa no Brasil. A partir do conhecimento gerado pelo Coral Vivo acerca da biologia reprodutiva, nós estamos utilizando ferramentas tecnológicas como a reprodução in vitro e a criopreservação de gametas.
Nosso objetivo é formar o primeiro banco de gametas de corais do Atlântico Sul. Os gametas poderão permanecer congelados por tempo indeterminando, e quando desejado, serão descongelados e darão origem a novos corais. Esses corais poderão então ser utilizados para repovoar e recuperar recifes degradados. A equipe ReefBank é formada por pesquisadores, alunos de pós-graduação e graduação de instituições públicas e privadas. As espécies-alvo são aquelas conhecidas popularmente como corais-cérebro, dentre elas Mussismilia braziliensis, Mussismilia hispida e Mussismilia harttii. Esses corais estão entre os principais construtores dos recifes brasileiros. Nossa área de estudo é o Parque Marinho do Recife de Fora, localizado em Porto Seguro (BA), e parte das atividades são conduzidas na Base de Pesquisa do Coral Vivo em Arraial d’Ajuda.
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mento generalizado nos recifes australianos. Pesquisas de monitoramento aéreo apontaram mortalidade média de 22% para toda a Grande Barreira de Corais (AIMS, 2016; Hughes et al., 2016), chegando em 83% na sua porção norte. Na costa brasileira, eventos de branqueamentos já têm sido observados há pelo menos duas décadas (Leão et al., 2016; Castro e Pires, 1999). As previsões indicam que esses eventos se tornarão ainda mais frequentes (Heron et al., 2016), diminuindo a resiliência dos corais e ameaçando os ecossistemas de recifes de coral em todo o mundo. Grandes eventos de mortalidade sem recuperação levam a uma diminuição na diversidade genética das populações de corais e a possibilidade de extinção de espécies é alta.
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Conscientização ambiental
© Leandro Santos | Projeto Coral Vivo
O nosso objetivo é formar o primeiro banco de gametas de corais do Atlântico Sul.
© Áthila Bertoncini | Projeto Coral Vivo
Se para muitas pessoas a degradação no ambiente terrestre passa despercebida, já imaginou no ambiente marinho? Pensando nisso nós decidimos que, além da pesquisa científica, teríamos que achar uma maneira de fazer a população perceber o que está acontecendo embaixo d´água. Só é possível preservar aquilo que se conhece. Foi com esse objetivo que criamos o perfil do ReefBank nas redes sociais, para falar de ciência ambiental e recifes de coral de uma forma simples e interativa, informando e educando de modo consciente, a sociedade em geral.
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Apoiadores
Além do apoio constante do Projeto Coral Vivo, ao final de 2018 tivemos duas propostas aprovadas em editais de instituições privadas voltadas à conservação da natureza, são elas: a Fundação Grupo Boticário e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). Esse apoios serão fundamentais para que consigamos desenvolver nossas atividades em prol da conservação dos recifes de coral brasileiros. Nas próximas edições, traremos informações sobre a biologia reprodutiva, a formação dos recifes e como a aquicultura poderá contribuir com a recuperação e conservação deste importante ecossistema. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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Construção de viveiros para piscicultura comercial – Parte V Carlos Eduardo Zacarkim Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura Universidade Federal do Paraná – UFPR/Setor Palotina Palotina, PR zacarkim1@gmail.com
C
onforme abordado nos artigos anteriores, entre os aspectos considerados relevantes e que merecem atenção na construção de viveiros para piscicultura comercial, estão a demanda hídrica de projetos e os aspectos construtivos dos viveiros, tais como tipo de solo, porte, layout, manejo e os dispositivos hidráulicos inerentes a cada projeto. Neste último artigo da série, iremos abortar os aspectos hidráulicos na construção de empreendimentos, considerando que os
componentes hidráulicos devem, obrigatoriamente, permitir o abastecimento e o controle simples e eficiente da entrada e saída, bem como do nível de água em cada viveiro e a sua respectiva drenagem de modo eficaz. Fazem parte dos componentes hidráulicos de empreendimentos os sistemas de abastecimento e de drenagem, como canais, tubos e conexões, comportas, caixas de distribuição, filtros, bombas, poço de visitas, ressaltos hidráulicos e divisores de vazão.
Componentes hidráulicos
Por teoria, dispositivos hidráulicos são estruturas que usam princípios hidráulicos para controlar o fluxo de água. A determinação dos componentes hidráulicos em empreendimentos aquícolas depende de alguns fatores a citar:
• Das características da propriedade:
Conforme visto no primeiro artigo desta série, a demanda hídrica de um empreendimento aquícola será dada pela quantidade de água necessária para o funcionamento pleno da unidade produtiva, independente do porte ou finalidade. Uma vez atendida a demanda hídrica em um projeto, no planejamento das estruturas hidráulicas o profissional deve estar atento para que no mínimo, os dispositivos hidráulicos como canais de abastecimento por exemplo, levem a quantidade de água requerida para atender todo o empreendimento, independe qual seja o porte dele. De nada adianta o profissional ter como disponibilidade de água um imenso rio ou manancial, se o canal construído não leva a água necessária para atender a demanda hídrica do empreendimento.
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• Captação de água:
Suprida a quantidade de água, a captação influenciará nos dispositivos adotados no empreendimento, considerando que, usualmente, são adotados em projetos de piscicultura o abastecimento por derivação (gravidade), abastecimento por bombeamento ou misto (derivação e bombeamento). Na tomada de água por derivação, o sentido de captação deve ser observado. Como a água deriva direto do rio para as estruturas hidráulicas, o sentido do canal de abastecimento deve ser contrário ao fluxo do manancial. Isto evita com que ocorra assoreamento acelerado do canal pela redução da velocidade de entrada da água e previne resíduos oriundos da correnteza. Além da captação, se faz necessária a construção de obras acessórias como filtros ou caixas de passagem, pois permitem o controle da entrada de água, possibilitando a interrupção da captação em caso de chuvas torrenciais, resíduos oriundos de ações antrópicas, entrada de peixes indesejáveis ou rejeitos como folhas, galhos etc. Na tomada de água por bombeamento ou mista, o profissional deve estar atento a perda de carga da tubulação devido à altura manométrica, o comprimento da linha e o número de conexões, pois reduzirá a vazão da bomba a ser utilizada. De maneira geral, em sistemas de bombeamento quando necessitam ser distribuídos a vários viveiros ao mesmo tempo, são utilizados canais ou tanques reservatórios em uma cota (altura) mais elevada e a distribuição de água aos viveiros se dá por gravidade.
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• Porte da piscicultura e manejo:
Algumas cooperativas e entrepostos de pescado por planejamento, padronização de manejo ou por controle da qualidade de água, usualmente adotam renovação de água nos viveiros entre 2-15% ao dia, dependendo da empresa ou do porte do empreendimento. Viveiros destinados ao cultivo intensivo de peixes devem atender as demandas específicas com tamanho, manejo e padronização demandados pelas unidades de processamento de pescado, que por sua vez, não sendo atendidas, podem inviabilizar a comercialização ou o sistema de integração comumente proposto pelas cooperativas. Neste sentido, a renovação de água como observância aos critérios requeridos afeta primeiramente a Demanda Hídrica em um projeto, visto a alteração na renovação de água nos viveiros e, posteriormente, no planejamento dos canais de abastecimento e de drenagem pelo aumento do volume de água circulante.
• Layout:
Conforme abordado no artigo anterior, no processo de construção de viveiros primeiramente se avaliam os projetos pela topografia e de forma secundária, mas não menos importante, pelas rotinas de alimentação e operacionalização para se confeccionar o layout, tamanho e formato dos viveiros, estradas, estruturas de abastecimento e de drenagem. Na hipótese de um empreendimento com lâmina de água definida, topografia plana ou suavemente ondulada, onde o profissional necessita projetar as estruturas de drenagem e de abastecimento, a lógica pela movimentação e volume de terra a ser trabalhado é de centralizar a linha de despesca e aumentar o número ou quantidade de canais de abastecimento conforme expresso na Figura 1. Figura 1. Modelo de implantação da linha de drenagem .
Canal de abastecimento Canal de drenagem
Captação de água por derivação.
Isto se deve, porque é mais “econômico” implantar maior quantidade de canais de abastecimento que, em geral, possuem 50cm a 1m de profundidade, do que canais de drenagem que possuem de 2,5m a 4,5m de profundidade dependendo do projeto. Estruturas de drenagem devem respeitar a topografia do empreendimento, onde a cota (altura) de despesca deve ser menor que o fundo do viveiro em pelo menos 50cm. Desta forma, na hipótese de um terreno plano em que seria indiferente o lado em que se implantaria a drenagem, quanto menor a quantidade de drenagem, teoricamente, menor será o custo de implantação. Evidentemente que o profissional deverá avaliar os custos de movimentação de terra, aquisição e mão de obra para implantação das linhas de abastecimento e drenagem para aferir qual será a melhor proposta de layout antes da implantação do projeto.
da velocidade média da água em um canal, entretanto, as de Chezy (1775), Manning (1891) e Strickler (1923), são as comumente adotadas, sendo Manning usualmente utilizado no Brasil. De forma sucinta, estes pesquisadores avaliaram que a velocidade média da água em um canal dependerá da declividade do fundo, do raio hidráulico (razão da área molhada e o perímetro molhado) e do coeficiente de rugosidade das paredes (Tabelas 1). O coeficiente de rugosidade resulta do material em que o canal é edificado, que para este exemplo, utilizaremos o coeficiente estimado por Manning (n). Tabela 1. Coeficientes de Rugosidade de Manning (n).
Noções de Hidráulica
Por definição, Vazão (Q) ou descarga, é o volume de determinado fluido, neste caso a água, que passa por uma determinada seção de um conduto livre ou forçado, por uma unidade de tempo. Em outras palavras, vazão é a quantidade de água que passa através de uma tubulação em um determinado tempo. A vazão necessária de um empreendimento aquícola é defina pela Demanda Hídrica estimada para ele, e definirá as estruturas de abastecimento a serem utilizadas para seu correto escoamento até os viveiros e, posteriormente, o porte das estruturas de drenagem a serem utilizadas. A vazão é dada pela Equação da Continuidade (Equação 1): Q: vazão (m³/s). A: seção molhada (m²). V: velocidade média (m/s).
Componentes do abastecimento
São estruturas componentes do abastecimento canais, tubos, conexões, divisores de vazão e filtros ou caixas de passagem. Na piscicultura comercial, usualmente o abastecimento é realizado por canais abertos ou por tubulações soterradas em virtude do baixo custo de implantação e da fácil manutenção. Independente da escolha utilizada para o abastecimento, canais ou tubulações, existem dois elementos que devem ser observados, a vazão requerida e a perda de carga ao longo do abastecimento. Pela equação da continuidade, a vazão de um dispositivo hidráulico é dada pela área multiplicada pela velocidade média. A área pode ser obtida por geometria e a velocidade média determinada através de equações. Existem várias equações para o cálculo
Fonte: Adaptado de Gribbin, J. E., 2014.
Desta forma, para o cálculo da velocidade (equação 2) temos que: __ 2
1 R 3 J 0,5 V= __ n
n: Coeficiente de rugosidade de Manning (adimensional). V: velocidade escoamento (m/s). R: raio hidráulico (m). J: Declividade do fundo (m/m).
Substituindo a velocidade na equação da continuidade (Equação 1), temos a vazão em função da perda de carga em canais (Equação 3): __ 2
1 R 3 J 0,5 Q=A __ n
A: Seção molhada (m²).
Supondo uma piscicultura comercial onde a demanda hídrica fosse estimada em 300m3/h ou 0,083m3/s, já considerando as perdas de água por evaporação, infiltração e a renovação de água, se no canal de abastecimento ou tubulação não passar essa quantidade de água, os viveiros planejados simplesmente não encherão. Podemos dimensionar
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Q=AV
um canal de abastecimento ou tubulação de duas Figura 2. Canal de terra sem vegetação feito por escavadeira (n=0,033). formas: isolando-se a área e o raio hidráulico em © Carlos Eduardo Zacarkim função da vazão requerida ou por tentativa, estimando o tamanho de um canal e avaliando se a vazão encontrada é compatível com a necessidade do projeto. No planejamento da unidade se optou em construir um canal de terra, sem vegetação (Figura 2, Tabela 1), no formato retangular, com as seguintes medidas: base de 50cm, altura da seção molhada de 25cm e com declividade de 1% (1m de desnível para cada 100m de comprimento). Neste caso, a pergunta que deve ser feita é, se a vazão da água que passará por esse canal planejado, atenderá de forma plena a demanda hídrica da piscicultura. A Tabela 2, expressa a geometria das seções de canais comumente utilizados em piscicultura comercial em função dos componentes requeridos para o cálculo da vazão (Equação 3). As formas retangulares e trapezoidal geralmente são as mais utilizadas em virtude do formato da concha das escavadeiras hidráulicas ou retroescavadeiras.
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Tabela 2. Geometria das seções em função dos componentes requeridos para o cálculo da vazão.
Fonte: Adaptado de Gribbin, J. E., 2014; Azevedo Neto, 2015.
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A vazão do canal planejado pode ser calculada pela Equação 3, logo: Q=0,125x30,303x0,125x0,1=0,0947m³/s
Figura 3. Monge instalado. © Carlos Eduardo Zacarkim
Portanto, a vazão que passa pelo canal planejado é de 0,0947m3/s ou 340,9m3/h e comporta de forma satisfatória a Demanda Hídrica requerida de 0,083m3/s ou 300,0m3/h no projeto. Caso o abastecimento seja optado por tubulações enterradas, o raciocínio será o mesmo, alternando apenas a forma geométrica e o coeficiente de rugosidade adotado. Cabe ressaltar, que linhas de abastecimento soterradas e sujeitas ao tráfego de caminhões de despesca ou maquinários pesados, devem ser enterradas em pelo menos, 50cm de profundidade. Sugere-se para linhas que sejam soterradas, em se trabalhar com tubulação própria para irrigação (PN 60125) ou com tubos em polietileno de alta densidade (PEAD), pois possuem maior resistência ao desgaste e a carga pontual. Entre as estruturas componentes da drenagem estão monges, caixas de ligação, vertedouros, poços de visita, canais ou tubulações de escoamento. De maneira geral, são dispositivos hidráulicos que tem a finalidade de controlar o nível da lâmina de água do viveiro, a renovação da massa líquida, auxiliar na despesca, garantir a manutenção das estruturas componentes e evitar fuga da biomassa. Da mesma forma que o abastecimento, a drenagem deve atender a capacidade de escoamento de água que entra na unidade produtiva e, que permita a despesca dos viveiros de forma satisfatória independente do porte do empreendimento. Neste sentido, o monge é o principal dispositivo hidráulico de drenagem em uma unidade produtiva, juntamente com a tubulação de escoamento ligada a ele. Os monges são largamente utilizados na piscicultura comercial, em sua maioria construídos de pré-moldado ou concreto armado e instalados a jusante do viveiro. Possuem duas câmaras (uma seca e outra molhada), separadas no centro por tampões móveis para o controle do nível da água no viveiro (Figura 3). O dimensionamento do monge deve ser planejado de modo que consiga esvaziar o viveiro entre 4 a 6 horas, independentemente do seu tamanho. Para isso, a vazão Q da tubulação de drenagem ligada ao monge, pode ser calculada por meio do princípio de Bernoulli, tratando a saída do monge como bocal em um sistema hidráulico sujeito a carga.
Podemos utilizar a chamada equação do bocal/ orifício (Equação 4), para dimensionar a drenagem em viveiros, onde o coeficiente de descarga C é uma constante adimensional para orifícios que variam de acordo com o tamanho, a forma e a quantidade de carga que o bocal está sujeito. Assim temos que: Q=CS√ 2gH
C: Coeficiente de descarga (Tabela 3). S: Área da tubulação. H: Altura da coluna de água. G: Gravidade (9,81m/s).
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Componentes da drenagem
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Pesquisas realizadas pela Universidade de Tabela 3. Coeficiente de descarga para bueiros de concreto. Iowa, EUA indicaram que o coeficiente de descarga pode ser dado em função da relação comprimento/diâmetro. Desta forma, podemos adotar de maneira geral para o escoamento dos monges na piscicultura os coeficientes de descarga para bueiros de concreto estipulados na Tabela 3, considerando o comprimento da tubulação e o diâmetro. Conforme comentado, na “teoria”, quanto menor a linha de drenagem, menor também será o custo do empreendimento, observadas as devidas relações de corte e aterro, custo de tubulações, mão de obra etc. Projetos que optem em trabalhar com linhas de drenagem tubuladas, as mesmas devem ser dimensionadas de modo que consigam drenar simultaneamente dois ou mais viveiros, independente do porte de cada viveiro. Além disso, devem possuir declividade mínima de 1%, implantação de caixas de ligação e poço de visitas. Caixas de ligação são construídas na junção ou união da linha de drenagem de dois monges, sendo Figura 3. Construção de uma caixa de ligação. © Carlos Eduardo Zacarkim edificadas em concreto, fazendo uso de sapatas/ brocas para fixação. Devem ser instaladas cerca de 50cm abaixo da linha de drenagem para redução da velocidade da água na despesca, de 1,0 a 1,5m de altura, sendo fechadas por tampa de concreto armado e soterradas posteriormente (Figura 3). Poços de visita são estruturas semelhantes as caixas de ligação, com a diferença de terem ligação ao talude, instaladas para manutenção da rede de drenagem soterrada, podendo ser alternadas entre uma caixa e outra de ligação (Figura 4). Para as linhas de drenagem abertas, o dimensionamento deverá seguir o mesmo princípio adotado pelo abastecimento por canais, com a ressalva de comportar a despesca de dois ou mais viveiros simultaneamente. Os demais dispositivos hidráulicos como ressaltos, vertedouros e divisores de vazão Figura 4. Poço de visita (indicado pelas setas). © Carlos Eduardo Zacarkim poderão ser mencionados em um eventual artigo específico se houver demanda.
Cosiderações finais
A proposta desta série de artigos foi nortear a construção de novos empreendimentos aquícolas na observância de critérios técnicos e observações realizadas em campo. A ideia foi de esclarecer possíveis dúvidas e ampliar o debate para a proposta de futuras pisciculturas comerciais com o foco na redução de custos de implantação e facilidades no manejo.
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Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ) – Parte V: nitrosomonas Raimundo Lima da Silva Junior
N
o quarto artigo (edição nº 14, set/out 2018), foi demonstrado como as bactérias heterotróficas atuam na remoção de amônia em cultivos aquícolas, via síntese do biopolímeros PHA (polihidroxialcanoato) e como é possível cultivar o bioflocos usando produtos básicos seja da agricultura, ou mesmo de uma simples farmácia. O presente artigo buscará demonstrar como controlamos o nitrito de forma direta e eficiente no sistema BRASYS (Biofloc, RAS and Aquaponics System), trabalhando em simbiose com as bactérias heterotróficas do meio.
como a hidroxilamina é o composto intermediário na oxidação da amônia. Tais trabalhos deram suporte para Knowles e colaboradores (1965), em Stevenage (Reino Unido), determinassem as cinéticas de crescimento das bactérias nitrificantes: Nitrosomonas e Nitrobacters. Com isso, diversos autores estudaram o mecanismo de nitrificação aplicado no tratamento de águas residuais em sistemas de lodo ativo e biorreatores aeróbicos e anaeróbicos (Molina & Rovira, 1964; Hoopey & Nason, 1965; Wallace & Nicholas, 1968; Hulth et al., 2005; Antileo et al., 2006).
Nitrificação: um breve histórico
Entendendo a rota metabólica da nitrificação
O lançamento de águas residuárias contendo compostos nitrogenados tem um importante impacto sobre a saúde e o meio ambiente. O nitrogênio é um dos contaminantes mais importantes presentes nas águas residuais. Historicamente, o processo de nitrificação é um tema muito estudado, pela sua fundamental importância no processo de produção agrícola e tratamento de água para o consumo humano. O botânico Emil Godlewski (Cracóvia, Polônia), no final do século XIX, se dedicou ao estudo da nitrificação aplicado no crescimento das plantas (Godlewski, 1892) e na nitrificação da amônia e fontes de carbono utilizadas (Godlewski, 1895). Howard Lees (University of Aberdeen, Escócia), em duas publicações na Nature, em 1948 e 1952, demonstrou, cultivando as bactérias Nitrosomonas,
Estudos biogeoquímicos permitiram aplicar alternativas tecnológicas mais práticas para o tratamento biológico do nitrogênio. Basicamente, este tratamento se dá em dois processos, a nitrificação e a desnitrificação (Philips, 2008). Na fase da nitrificação, em condições aeróbicas, o amônio é oxidado em duas etapas: na primeira, é levado até nitrito pelas bactérias oxidadoras de amônio (BOA), lideradas pelas Nitrosomonas sp., e numa etapa subsequente o nitrito é consumido pelas bactérias oxidadoras de nitrito (BON), como as Nitrobacter sp., tendo como principal produto o nitrato. Sob condições de baixa saturação de oxigênio ou mesmo anóxicas, o amônio oxidado é então convertido por bactérias heterotróficas em nitrogênio gasoso e
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Biomédico, Mestre em Biologia Núcleo de Pesquisas Replicon, Escola de Ciências Agrárias e Biológicas Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC,GO) Presidente e Sócio Fundador da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ) railim.jr@gmail.com
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síntese de PHA (polihidroxialcanoatos) (Chang et al., cas, (0,77 e 7,20d-1, respectivamente) (Cox, 2009). 2011; Munoz et al., 2009), como relatamos no artigo O processo de nitrificação é limitado pela concentraanterior desta série. ção de oxigênio e temperatura, bem como inibido A demanda de oxigênio para a nitrificação é apropela concentração de amônia e carbono orgânico. ximadamente a metade da demanda para oxidação Por conta destes inúmeros relatos, há o acúmulo de do material orgânico. O consumo de alcalinidade que nitrito no tanque de cultivo. A intoxicação pelo nitrito acompanha a nitrificação pode reduzir o pH a valores inibe de forma irreversível a absorção de oxigênio petais que inviabilizem processos biológicos e aumenlas proteínas transportadoras de oxigênio nos animais tando a acidez no sistema de tratamento. Downing et cultivados. Nos peixes, este evento é denominado al. (1964) estabeleceram que os dois passos da nitrimetaglobinemia, no qual, a hemoglobina é convertificação podem ser descritos pela cinética de Monod, da em metaglobina. Tal situação é muito mais severa típico para processos biológiem animais cultivados em baixa sacos. Mostraram que a cinética linidade, pois a presença de íons de da nitrificação depende de uma cloro (Cl-) na água salgada, inibe a ligação de nitrito as proteínas transvariável operacional (tempo de portadoras de oxigênio (hemoglomaturação biológica do corpo O consumo de bina em peixes e hemocianina em d’água) e de três constantes: a) camarões). taxa de crescimento máximo de alcalinidade que A equação estequiométrica do Nitrosomonas e Nitrobacter, b) constante de decaimento des- acompanha a nitrificação processo de nitrificação, segundo (Ebeling et al., 2006), consistas bactérias e c) a constante de pode reduzir o pH te em: NH4+ + 1,83O2 + meia saturação. Van Haandel e 1,97 HCO3- ----> 0,024C5H7O2N Marais (1999) mostraram que a valores tais que + 0,976 NO3- + 2,9 H2O + na cinética de Monod a constante mais importante é a taxa inviabilizem processos 1,86CO2. Convertendo mols para massa em gramas, para cada 1g de máxima de crescimento de Nitrosomonas ou Nitrobacter, não biológicos e aumentando nitrogênio-amoniacal oxidado, são somente porque esta constante a acidez no sistema de necessários 7,05g de alcalinidade (bi/carbonatos) e 4,18g de oxigêtem muito mais influência sobre nio. Assim, são produzidos 0,2g a taxa de nitrificação que as outratamento. de biomassa bacteriana, 5,85g de tras constantes, mas também gás carbônico e 0,98g de nitrogêporque se mostra muito mais nio-NO3 (Tabela I). Porém, como influenciada pela composição e produto intermediário temos o Nitrito (NO2). Desta origem da água residuária. forma, é possível observar que não há produção de A oxidação de amônio pelas BOA e a oxidação de matéria orgânica significante no processo de nitrificanitrito pelas BON são processos independentes, poção, e que a oferta de carbono orgânico, juntamente rém, competem entre si quanto a disponibilidade de com o oxigênio são os fatores limitantes do processo. oxigênio e carbono inorgânico. Esse grupo de bactérias se caracteriza por obter sua energia para crescer da oxidação de compostos inorgânicos (NH4+) Nitrosomonas: a vilã da nitrificação e (NO2-), utilizar o carbono inorgânico (CO2) como fonte de carbono e o oxigênio (O2) como aceptor O acúmulo de substâncias tóxicas inorgânicas, de elétrons. Adicionalmente, a velocidade de crescomo amônia e nitrito, é um dos principais problecimento bacteriano (μ) e constante de saturação por mas de qualidade da água em sistemas aquícolas inoxigênio (K), entre estes dois grupos de bactérias são tensivos. O nitrito é um importante produto interdiferentes, indicando um intervalo na sequência de mediário no processo de nitrificação. Dependendo reações bioquímicas. As BOA possuem μ de 0,77d-1 das concentrações e do estágio de desenvolvimento e K de 0,3mg O2.L-1, e as NOBs com 1,08d-1 e K de do organismo aquático cultivado, pode vir a ser bas1,1mg O2.L-1. tante tóxico, causando mortalidade em larviculturas As BOA e BON são autotróficas, o que as carace sistemas de cultivo (Barbieri et al., 2014). O meterizam por ter velocidades de crescimento (μ) muito canismo tóxico do nitrito atua sobre o transporte baixas em comparação com as bactérias heterotrófide oxigênio, no qual o nitrito se liga à hemocianina
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heterotróficas. Tudo ao mesmo tempo! Em poucos dias não restavam animais no tanque de cultivo, pois o nitrito acumulou-se por um longo período. As Nitrosomonas tornaram-se a nossa principal vilã.
O Biorreator de Nitrobacters: a solução A perda de produção em tanques intensivos fez com que buscássemos outras estratégias, mais precisas e rápidas, para combater as altas concentrações de nitrogenados na água do cultivo, tanto para o tratamento da amônia, quanto para o nitrito. A amônia quando dissolvida na água encontra-se em equilíbrio entre as formas ionizada e não ionizada (tóxica), sendo este equilíbrio influenciado pelo pH, temperatura e salinidade. Alterações destes parâmetros resultam na variação da concentração das diversas formas de nitrogênio, que podem atingir concentrações tóxicas para os peixes e camarões. A forma não ionizada da amônia, difunde-se facilmente através das membranas respiratórias, causando danos ao epitélio branquial e, como consequência, dificulta as trocas gasosas entre o animal e a água, desestabilizando o sistema de osmorregulação. O nitrito em altas concentrações provoca um quadro de cianose, tornando-se letal aos animais em pouco tempo. Desta forma, para que pudéssemos antecipar os picos de amônia e nitrito, criamos um biorreator simples (Figura 1), de duas fases, específico para cada problema a ser enfrentado: amônia e nitrito. A primeira fase consiste em reduzir as altas concentrações de amônia na água do cultivo, ativando as bactérias heterotróficas dos probióticos comerciais a base de Bacillus cereus e B. subtilis utilizando fontes de carbono orgânico, com uma maior concentração de carboidratos, como açúcar mascavo, acompanhando com o medidor de ORP (do inglês: Oxidation Reduction Potencial). Valores de ORP acima de +110mV indicam NOV/DEZ 2018
(proteína de transporte de oxigênio em crustáceos), ocupando o lugar do oxigênio, transformando-a em metahemocianina, a qual é incapaz de transferir oxigênio para os tecidos. Dessa forma, ocorre uma redução na quantidade de oxigênio disponível para o metabolismo e um aumento da pressão parcial do oxigênio (pO2), podendo ocorrer hipóxia e, consequentemente, morte dos camarões por ausência total de oxigênio (anóxia). Nas tilápias, a resistência a toxicidade do nitrito é um pouco maior, porém, quando presente em altas concentrações também pode levar a mortalidade em massa no tanque de cultivo. A presença de nitrito no cultivo estava diretamente relacionada a presença de bactérias do grupo das Nitrosomonas e a de amônia. Com estes dois componentes, a síntese de nitrito é inevitável. A concentração letal média (CL50) é a concentração estimada que produz mortalidade em 50% da população-alvo, em um período de tempo específico, geralmente de 24 a 96 horas. Campos et al. (2012) relataram, utilizando juvenis de Farfantepenaus brasiliensis (camarão-rosa), em salinidade de 28ppt, 25ºC e pH de 8,29, obtiveram as CL50 (96h) de amônia e nitrito de 20 e 40mg.L-1, respectivamente. Frías-Espericueta et al. (1999), testando L. vannamei (camarão-cinza), obteve CL50 (96h) para amônia de 70,9mg.L-1. Como praticamente todas as bactérias nitrificantes comercialmente disponíveis contém os dois grupos de bactérias, BOA e BON, usar estas bactérias em um tanque de cultivo intensivo com amônia elevada era inevitável a perda de animais, pela proliferação de Nitrosomonas e o acúmulo de nitrito na água. Por três vezes, perdemos toda a nossa produção de camarões, seguindo a orientação da assessoria contratada, de inocular diretamente estas bactérias comerciais e adicionando carbono orgânico para auxiliar na proliferação das bactérias
Tabela 1. Parâmetros cinéticos reportados para bactérias que oxidam amônio e nitrito e bactérias heterotróficas, segundo Beltran (2008).
DQO: demanda química de oxigênio; μmax: velocidade de crescimento bacteriano específico; YB: coeficiente de crescimento das bactérias; Ki: constante de inibição; Ks: constante de saturação pelo substrato ou constante de Monod; K’: constante de saturação por oxigênio.
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um processo químico de oxidação ocorrendo na água do biorreator, o que caracteriza a ativação das bactérias que normalmente são vendidas no estágio de quiescência. Esta ativação foi fundamental para controlarmos o nível de amônia na água do cultivo. Com o crescimento exponencial bacteriano após a ativação pelo biorreator, conseguimos zerar os níveis de amônia em menos de 48h, partindo de 13,5ppm. Com isso, eliminamos o substrato para a ação das BOA presentes no cultivo. Neste cenário, estávamos inibindo a ação das Nitrosomonas por competição pelas bactérias heterotróficas, que convertiam toda a amônia em PHA, não restando amônia para as Nitrosomonas oxidarem amônia em nitrito. Isso graças a velocidade de crescimento bacteriano específico (μmax) das bactérias heterotróficas serem 9,3x maior do que o μmax das BOA.
Altas concentrações de amônia inibem a ação das BON, com isso, iniciamos a segunda fase do processo, que consistia em tratar o nitrito da água, inoculando mais bactérias comerciais que continham Nitrobacters, porém, em condições físico-químicas favoráveis, como o oxigênio, apenas para as BON que oxidaram o nitrito residual em nitrato. Nossos dados indicaram que a velocidade de oxidação de nitrito a nitrato (descida da concentração do nitrito: A=-3,5d+18,7, r²=0,97) foi maior do que a velocidade da oxidação da amônia em nitrito (subida da concentração de nitrito: N=2,9d-3,7, r²=0,93), pelas BON do tanque de cultivo (Figura 2), demonstrando a eficiência catalítica das BON após a retirada da amônia da água do cultivo pelas bactérias heterotróficas cultivadas no biorreator.
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Figura 1. Biorreator de bactérias nitrificantes para crescimento exclusivo de bactérias BON.
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Figura 2. Parâmetros de análise do tanque de cultivo (35m³) de pós larvas de camarão Litopenaeus vannamei (3.000PLs/m³), MH/COOPAQ (2017). 35
Concentração (ppm)
30 25 20 15 10 5 0
0
2
4
Amônia
6 Dias Nitrito
8
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Nitrato
Conclusão
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Concluímos que, como a amônia é tóxica e inibe a atividade das bactérias nitrificantes, esta inibição ocorre de forma desigual para os dois grupos de microrganismos (BOA e BON) envolvidos no processo, com tempos de oxidação da amônia e do nitrito diferentes. As BOA são mais resistentes à amônia livre que as BON por possuírem a própria amônia como substrato metabólico. A amônia não ionizada é inibidora das BON a uma concentração de 0,1 a 1,0mg.L-1, enquanto a inibição das BOA ocorre a uma concentração de 10 a 150mg.L-1. Carboidratos em excesso na água do cultivo podem inibir a ação de ambas. Os bi/carbonatos precisam estar sempre elevados (>120 mg.L-1) para fornecer energia para as BOA e BON. As heterotróficas são mais eficazes e mais ágeis na redução de amônia nos tanques de cultivo, quando comparadas as BOA. Esta estratégia, quando realizada via biorreator, faz com que não haja mais substrato (amônia) para as BOA sintetizarem nitrito, criando um ambiente favorável para a ação das BON. Ao eliminar a amônia, pela síntese de PHA pelas bactérias heterotróficas, e oxidando o nitrito residual com bactérias Nitrobacters, cultivadas em biorreator específico, pode-se controlar os níveis de nitrogenados em cultivos superintensivos, diminuindo a mortalidade e aumentando a produtividade. Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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SiTASS: Simpósio Técnico da Aquicultura Superintensiva Sustentável Rodrigo C. A. Baldin Camarão São Luiz Itu, SP camaraosaoluiz@camaraosp.com.br
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os dias 28, 29 e 30 de setembro de 2018 em Taubaté/SP ocorreu algo inédito para a aquicultura do Sudeste brasileiro. Um evento técnico (teórico e prático) foi realizado, visando trazer informações técnicas, profissionalismo e dinamismo à aquicultura superintensiva em águas interiores. Com o objetivo de estimular a aquicultura superintensiva, nascia o SiTASS - Simpósio Técnico da Aquicultura Superintensiva Sustentável, evento criado pelo Médico Veterinário Rodrigo C. A. Baldin e ministrado pelo Eng. de Aquicultura Bruno R. Scopel, incluindo também outras palestras com diversos profissionais do setor aquícola brasileiro. O evento reuniu mais de 50 pessoas para discutir o assunto e apresentar as atualidades e desafios do segmento.
O evento reuniu mais de 50 pessoas para discutir o assunto e apresentar as atualidades e desafios do segmento.
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Simpósio envolveu também empresas do setor As empresas Aquadrop, Aquatec, Guabi, Inve, Kera, Konkreta, Nano Biologic, Nutriad, VazFlux, Veromar e Zanatta estiveram presentes, divulgando seus produtos e tirando dúvidas dos participantes, sendo este um dos principais motivos do evento: viabilizar o fornecimento de insumos e tecnologia para uma região carente por informações e produtos voltados ao sistema superintensivo de produção.
Local do evento O evento foi realizado na Aquicultura Aqualuz, uma das pioneiras em São Paulo a produzir, despescar e comercializar o camarão marinho (Litopenaeus vannamei) em sistema totalmente fechado, usando a tecnologia BFT (Biofloc Technology System) no interior de São Paulo. Figura 1. Vista aérea dos galpões da Aquicultura Aqualuz, SP.
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SiTASS Os participantes puderam observar como a produção funciona, visualizando camarões juvenis e as pós-larvas dentro do sistema. A aula prática demonstrou várias técnicas utilizadas no monitoramento do sistema, desde análises diárias a análises feitas em microscopia óptica. Com o título, “Tecnologias avançadas na produção de camarões e peixes em sistemas intensivos com mínimo uso de água: atualizações e perspectivas para o estado de SP”, o curso apresentou nestes três dias um conteúdo focado no sistema de produção superintensivo e novas tecnologias que estão se desenvolvendo em paralelo ao sistema de bioflocos.
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Figura 2. Aula prática sendo ministrada pelo engenheiro Bruno Scopel.
As empresas patrocinadoras acima citadas e os apoiadores (ABCC, Aquaculture Brasil, Camarão São Luiz, Ecomarine, Peixe BR e Piscicultura Aqualuz), foram de fundamental importância para o sucesso do evento. Que venha o Segundo SiTASS em 2019, para incentivar cada vez mais este sistema de produção totalmente sustentável e ecologicamente correto, capaz de trabalhar de forma eficiente os nutrientes e resíduos do sistema, utilizando área e quantidade de água significativamente menores, resultando desta forma em uma atividade de pequeno ou nulo impacto ambiental. Figura 3. Vista interna dos tanques de produção em sistema de Bioflocos.
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Figura 4. Da esquerda para a direita: Débora Baldin (Sócia Camarão São Luiz), Giancarlo Tognato (Sócio-proprietário Aqualuz), Maria Claudia (Sócia-diretora Aquatec), Rodrigo Baldin (Proprietário Camarão São Luiz / Gerente Comercial Nutriad), Ana Carolina (Sócia-diretora Aquatec), Dalton Nielsen (Sócio-proprietário Aqualuz).
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The role of dietary methionine concentrations on growth, metabolism and N-retention in cobia (Rachycentron canadum) at elevated water temperatures Autores: Minh Van Nguyen, Marit Espe, Louis E. C. Conceição, Hoang Minh Le, Manuel Yúfera, Sofia A. D. Engrola, Ann‐Elise Olderbakk Jordal e Ivar Rønnestad
De autoria de Nguyen e colaboradores, o artigo foi capa da revista Aquaculture Nutrition (ed. 2, vol. 25). O trabalho determinou os impactos de diferentes níveis de metionina na dieta e temperaturas (30 e 34°C) no crescimento, na eficiência alimentar e nos metabólitos nitrogenados, em juvenis de bijupirá. Principais pontos do artigo: Diferentes níveis de metionina na dieta e temperaturas da água de cultivo afetaram significativamente o crescimento e a eficiência alimentar;
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O plasma sanguíneo, músculo, aminoácidos livres do fígado e metabólitos nitrogenados também sofreram alteração, de acordo com os tratamentos avaliados; Além disso, a temperatura afetou a composição das classes de lipídios, resultando no aumento dos fosfolipídios e no colesterol, na temperatura de 34°C.
Saiba mais em: DOI: 10.1111/anu.12875.
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UM OLHAR CURIOSO
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VAI QUE A “MODA” PEGA
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Roberto Bianchini Derner Laboratório de Cultivo de Algas Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC roberto.derner@ufsc.br
Produção de microalgas no Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM/UFSC)
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fato que em aquicultura as microalgas continuam sendo essenciais na alimentação de diversas espécies de peixes, camarões e moluscos, principalmente na etapa de larvicultura. Para suprir esta demanda, nos laboratórios de larvicultura são desenvolvidas culturas em recipientes com volumes de até alguns milhares de litros (< 10.000 L). Em geral estes sistemas de cultivo foram esquematizados há décadas e, replicados mundo a fora, poucos têm sido aprimorados buscando melhorias na produtividade, na qualidade das culturas e na segurança (estabilidade) da produção das microalgas. Em relação aos moluscos bivalves, as microalgas são ainda mais importantes, uma vez que constituem exclusivamente a dieta nas larviculturas e são o alimento principal durante todo o ciclo de vida destes animais, sendo assim, maior atenção deve ser dirigida à produção das microalgas nestes empreendimentos comerciais. Apesar da lenta evolução nos sistemas de produção aquícola (“em time que está ganhando não se mexe”!?), um significante exemplo da busca pelo aprimoramento vem ocorrendo há anos no Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM – http://www.lmm.ufsc.br) da Universidade Federal de Santa Catarina, onde as atualizações também incluem a modernização do seu Laboratório de Microalgas. Neste Setor, com uma equipe qualificada sob o comando da Bióloga Jaqueline de Araújo, M. Sc., são produzidas diariamente 25 t de culturas com elevada qualidade, e a produção somente é interrompida nos momentos de paradas sanitárias. Para a alimentação das diversas espécies de moluscos (Ostra-do-Pacífico Crassostrea gigas; ostras nativas C. rhizophorae e C. brasiliana; ostra perlífera Pteria hirundo; Vieira Nodipecten nodosus; mexilhão Perna perna; e o berbigão Anomalocardia brasiliana) são cultivadas algumas cepas de microalgas, cada qual apropriada para alguma(s) espécie(s) de molusco(s) e/ou para um estágio específico do ciclo de vida (fase larval, semente, reprodutor etc.).
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Como ocorre em praticamente todos os laboratórios brasileiros, as cepas das microalgas (Chaetoceros calcitrans, C. muelleri, Thalassiosira pseudonana - clone 3H, Skeletonema sp., Isochrysis sp. - TISO, Pavlova sp., Nannochloropsis oculata, Tetraselmis suecica, Thalassiosira fluviatilis, Rhodomonas salina e Phaedoctylum tricornutum) também foram importadas, neste caso, do Provasoli-Guillard National Center for Marine Algae and Microbiota (NCMA, antigo CCMP) e são cultivadas com Meio f/2. As culturas com maior volume (empregadas principalmente na alimentação dos reprodutores) são desenvolvidas a céu aberto, sob condições ambientais naturais, entretanto, muita tecnologia é empregada nas culturas desenvolvidas em ambiente fechado, onde são aplicadas rigorosas condições ambientais (assepsia, qualidade da água, temperatura, iluminação etc.) permitindo que, além dos cultivos estacionários, também sejam desenvolvidas culturas aplicando os métodos semicontínuo e contínuo (ver Coluna Biotecnologia de Algas da 10ª edição da Aquaculture Brasil). As culturas em cultivo semicontínuo são desenvolvidas em bolsas plásticas de 100 L (Figura 1) e de 300 L (Figura 2), sendo que alguns dias após a inoculação, quando as culturas alcançam elevada densidade celular, são iniciadas as diluições periódicas. Geralmente, a cada 4 dias são retirados 40% do volume de cada cultura e é adicionado o mesmo volume de meio de cultura (água e as soluções de nutrientes). Neste método de cultivo, o LMM tem conseguido manter as culturas por até 60 dias, com ótima qualidade das células e apropriado valor nutricional da biomassa para a alimentação dos moluscos. Em relação ao cultivo contínuo, este exige ainda um maior conhecimento técnico (cinética de crescimento, assimilação dos nutrientes etc.), uma vez que os ajustes devem ser mais precisos. As culturas em cultivo contínuo são desenvolvidas em bolsas plásticas de 100
BIOTECNOLOGIA DE
ALGAS
L, numa estrutura onde um complexo sistema de adição de meio de cultura (Figura 3) foi programado para controlar a diluição permanente (todo o tempo). Assim que as culturas alcançam elevada densidade celular é iniciada a diluição constante (por até 60 dias), correspondente a 30% do volume a cada ciclo de 24 horas, e a entrada permanente de meio de cultura é compensada pela saída da cultura por extravasamento, assim, é mantido um volume constante. Reconhecidamente, a aplicação dos métodos semicontínuo e contínuo em cultivos de microalgas desenvolvidos em escala comercial é uma evolução a ser considerada, particularmente no Brasil, onde predominam os cultivos estacionários. Estes métodos de cultivo, além de levarem ao aumento da produtividade também permitem o controle da qualidade das culturas e das células, elevando e mantendo o valor nutricional da biomassa produzida nestas condições de cultivo. Pelo excelente trabalho, parabenizamos a Equipe do LMM/UFSC por sempre buscar a excelência!
Figura 2. Bolsas plásticas 300 L - cultivo semicontínuo. © Jaqueline de Araújo
Figura 3. Sistema de adição de meio de cultura dos cultivos contínuos. © Roberto Derner
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Figura 1. Bolsas plásticas 100 L - cultivo semicontínuo. © Roberto Derner
André Camargo Sócio Fundador da Escama Forte Botucatu, SP andre@escamaforte.com.br
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Eficiência e produtividade N
os dias atuais a busca por índices zootécnicos eficientes é fundamental para a sustentabilidade dos negócios na aquicultura. Com o crescimento da atividade, passamos a estar sujeitos a oscilações de mercado que antes não pareciam alcançar os produtores aquícolas. Com a crise vivida pelos produtores de tilápias, conforme falamos na edição anterior, a segunda casa depois da vírgula passou a ganhar importância no que diz respeito a índices como taxa de conversão alimentar e ganho de peso diário, o mesmo acontecendo com camarões, tambaquis e outras espécies aquícolas produzidas no Brasil neste momento de crise. Com isso, os produtores e as empresas fornecedoras de insumos iniciam um trabalho mais intenso no uso de ferramentas que possam auxiliar na maior eficiência e produtividade dos sistemas de produção aquícola. Nas próximas edições exploraremos a estrutura dos sistemas de produção e seus controles, a biossegurança dos processos de produção, a manutenção da qualidade de água e nesta edição abordaremos o uso de ferramentas nutricionais não convencionais que fazem a diferença nas criações, os chamados “aditivos nutricionais”. Os aditivos nutricionais são compostos que não atuam diretamente na nutrição dos animais e sim colaboram com os processos vinculados a processos digestivos, absorção de nutrientes, fortalecimento de flora intestinal benéfica, além de estímulos em relação a saúde e imunidade dos animais de produção. Desta forma, podemos dividir estes aditivos em quatro principais grupos:
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Probióticos;
1I Pré-bióticos; 1II Estimulantes de imunidade; IV Acidificantes e preparadores do ambiente.
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Probióticos são produtos à base de organismos benéficos vivos, que por meio da colonização do trato intestinal dos animais promovem benefícios à saúde do mesmo. Por meio da colonização de sítios ainda não ocupados ou pelo equilíbrio das comunidades existentes, os probióticos promovem a estabilização dos processos biológicos do intestino e desta forma melhoram absorção de nutrientes por parte dos animais, além de minimizar desarranjos que atrapalham o tempo ideal de passagem dos alimentos. Pré-bióticos são componentes alimentares não digeríveis que estimulam seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no intestino (cólon), beneficiando o indivíduo hospedeiro dessas bactérias, ou seja, os animais de produção. Normalmente em forma de fibras, potencializam o tão necessário equilíbrio intestinal. Já os imunoestimulantes são moléculas que de alguma forma estimulam a resposta imunológica do organismo a algum processo infeccioso, inflamatório ou alérgico e desta forma, estes compostos quando usados preventivamente em momentos conhecidos acabam funcionando como inibidores de processos de quebra de resistência dos animais. Os acidificantes agem de forma a proporcionar o ambiente ideal para a microbiota desejável e assim diminuir os gastos energéticos para correção de desequilíbrios e a potencialização daqueles microrganismos benéficos à saúde do animal e dos processos de digestão e absorção de nutrientes. Com isso tudo, podemos perceber que as ferramentas hoje disponíveis no mercado para melhorar a eficiência no processo de transformação de proteínas vegetais e animais em proteína de pescado são muito variadas e assim a nutrição passa a evoluir não só em função dos nutrientes propriamente ditos, e sim em função do seu melhor aproveitamento também. Com a necessidade de produtividades cada vez maiores, não temos opção, a não ser a busca de processos mais eficientes.
NUTRIÇÃO AQUÍCOLA Artur Nishioka Rombenso CSIRO – Austrália IPEMAR – Brasil artur.rombenso@csiro.au *As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
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o mundo da nutrição aquícola existem alguns conceitos em relação às formulações. Geralmente, as formulações buscam identificar diferentes maneiras de combinar uma variedade de ingredientes com o intuito de atender as demandas e exigências nutricionais das espécies e assim promover crescimento, saúde e bem-estar das mesmas. Muitas vezes, no setor acadêmico, as formulações são desenvolvidas em função de um objetivo científico em que um ingrediente, geralmente classificado como alternativo, é adicionado em níveis crescentes na dieta substituindo um ingrediente chave como, por exemplo, a farinha e/ou o óleo de peixe. Já na indústria, as dietas são formuladas a partir de uma série de ingredientes complementares que irão atender as demandas e exigências nutricionais da espécie em questão e também assegurarão a viabilidade econômica das dietas. O intuito dessa última coluna é ressaltar essa diferença existente entre o setor acadêmico e a indústria e ao mesmo tempo promover o uso do conceito de formulação em relação a ingredientes complementares ao invés de ingredientes alternativos. Um dos maiores objetivos da pesquisa científica é produzir conhecimento e propriedade intelectual que sejam aplicados na indústria, promovendo um desenvolvimento sustentado por bases precisas. Infelizmente, essa não é a realidade de muitas frentes de pesquisas. O fato da maioria das pesquisas em nutrição aquícola estar baseada na identificação e/ou desenvolvimento de ingredientes alternativos não necessariamente assegura que os resultados serão aplicados dessa maneira na indústria. Isso se deve ao fato mencionado anteriormen-
te de que a indústria de alimentos aquícolas não utiliza apenas um ingrediente alternativo e sim uma variedade de ingredientes complementares. Dessa forma, o foco em ingredientes alternativos não é ideal para a realidade da indústria de alimentos aquícolas, sendo que muitos trabalhos publicados não são diretamente aplicados pelo setor produtivo. Essa falta de sintonia entre os setores científico e produtivo não é ideal. Não estou dizendo que pesquisas buscando identificar ingredientes alternativos sejam irrelevantes, estou sugerindo que essa maneira não é ideal frente à realidade da indústria. Toda pesquisa tem sua importância, porém nem toda pesquisa tem sua aplicação. Na indústria do salmão, bastante madura, temos um exemplo de uma maior sintonia entre pesquisas e aplicação de resultados. É natural notar a transição do conceito de ingredientes alternativos para ingredientes complementares e atualmente essa é uma forte tendência nas espécies chaves criadas mundialmente. Um artigo bastante interessante sobre esse tópico foi publicado recentemente por grandes amigos e mundialmente reconhecidos nutricionistas aquícolas, Turchini et al., 2018*, cuja leitura recomendo. Por fim, cada vez mais veremos pesquisas e trabalhos publicados envolvendo o conceito de ingredientes complementares. Espero que essa última nota de 2018 seja útil para abrir nossos olhos para as novas tendências no mundo da nutrição aquícola e que motive toda a nova geração a considerar essa linha de pensamento. Um bom 2019 a todos! * Turchini, GM et al. 2018. Thoughts for the future of aquaculture nutrition: realigning perspectives to reflect contemporary issues related to judicious use of marine resources in aquafeeds. North American Journal of Aquaculture.
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Ingredientes complementares vs ingredientes alternativos?
Genética Rodolfo Luis Petersen Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar Universidade Federal do Paraná - UFPR Pontal do Paraná, PR rodolfopetersen@hotmail.com
Melhoramento Genético L embrando a coluna inicial, um programa de melhoramento genético clássico envolve:
Seleção das populações base para a formação de uma população sintética; Definição da estratégia de melhoramento: seleção ou cruzamento; Estimar a resposta à seleção ou a heteroses; Controlar a endogamia e a variabilidade genética; Estudar correlações genéticas e fenotípicas entre as características zootécnicas de maior interesse; Verificar a possível existência de interação genótipo ambiente entre diferentes regiões de onde as larvas serão utilizadas; Estabelecer um programa de controle sanitário.
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Formação da população base
A primeira iniciativa de qualquer tipo de programa de melhoramento genético é identificar com precisão o que é que se quer melhorar e para qual sistema de cultivo. Tem que estar muito claro, não só a caraterística desejada, como também sua forma de MEDIÇÃO. A eficiência e a forma de medição serão essenciais para o cálculo preciso do valor genético de um animal ou família. A segunda iniciativa é selecionar as populações que formarão a população base, o seja, aquelas populações que serão inicialmente cruzadas para a formação de linhas ou famílias dependendo da estratégia do programa. A ideia é TENTAR obter um grupo de populações mais distantes geneticamente possível, para maximizar a variabilidade genética inicial do programa. Quanto maior for a variabilidade genética inicial, maior será a probabilidade de obter respostas significativas a seleção
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em cada geração. Uma ampla variabilidade genética inicial possibilita uma maior longevidade do uso da população baixo seleção sem a necessidade de incorporar novas populações. Optando por uma única população de baixa variabilidade genética ou por um grupo de populações semelhantes, a variância genética da população será rapidamente desgastada pelo efeito da seleção, impossibilitando a obtenção de ganhos genéticos. Na obtenção da população base podemos ter os seguintes cenários: 1) Iniciar um programa com uma espécie nativa que não existam linhagens domesticadas e melhoradas: neste caso devemos obter animais da natureza de todo o range de distribuição da espécie. De preferência, que existam estudos prévios de variabilidade genética que confirmem que as populações estão estruturadas, ou seja, que existem diferenças entre elas dentro de sua distribuição geográfica. Podem também ser incluídas populações de cultivo. 2) Iniciar um programa com uma espécie exótica. Aqui precisaremos realizar um estudo de distância genética entre as populações candidatas. As populações podem ser de diferentes regiões de cultivo dentro de um país ou mesmo do exterior. Marcadores microssatélites são os mais apropriados para este tipo de análise pelo seu elevado polimorfismo. Alternativamente ou concomitantemente, realizar uma análise criteriosa dos sistemas de cultivo que as populações candidatas estão sendo cultivadas e seus resultados zootécnicos. O respeito aos mecanismos legais e de biossegurança no transporte de material biológico entre estados e entre países é de vital importância com quarentenas e certificação de reprodutores eficientes e profissionais. Parece redundante, porém, já houve boatos no Brasil de introdução de larvas de camarão do Equador em garrafas de uísque, uma fantasia que foi amplamente fofocada no ambiente da indústria. Entre os maiores exemplos internacionais é a formação da população base da linhagem GIFT no WorldFish Center na Malásia, a qual foi formada por oito populações, quatro populações da África (Egito, Kenya,
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Gana e Senegal) e 4 populações de cultivo já utilizadas por produtores da Ásia (Israel, Singapura, Taiwan, e Tailândia). A UEM (Universidade Estadual de Maringá, PR) para a formação da população base de GIFT no Brasil introduziu 30 famílias elites do programa asiático. A partir desse material genético foi iniciado um novo programa de seleção para as condições brasileiras de cultivo. Já na área de carcinicultura houve várias introduções de populações realizadas no Brasil com o intuito de formar novas linhagens locais. Entre as mais divulgadas podemos destacar a realizada pela empresa Aquatec e a Genearch em dezembro de 2016, importando animais de quatro linhagens comprovadamente livre de patógenos (SPF). As populações foram importadas dos EUA com méritos genéticos variados, como alta taxa de crescimento e resistência ao vírus de Taura. Estas linhagens formaram parte da população base da Linhagem SPF da empresa.
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Maurício Gustavo Coelho Emerenciano CSIRO - Austrália Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC mauricioemerenciano@hotmail.com *As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo.
Aquaponia no Brasil: passado, presente e futuro!
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m pouco da história e uma breve reflexão sobre os rumos da aquaponia comercial no nosso país é o tema da coluna Green Technologies desta edição. Afinal, quando o assunto é aquaponia comercial, ou seja, uma atividade encarada como negócio e geradora de divisas, infelizmente são poucas as páginas desse livro no Brasil. Vale frisar que a história da aquaponia no mundo já foi narrada nesta coluna na edição n°11. Continuando com essa analogia, um “capítulo 1” desse livro seria quando as primeiras informações começaram a circular no nosso país. Os primeiros informes técnicos foram lançados no final dos anos 90 e início dos anos 2000, mas ainda com grande foco na aquaponia de pequena escala, ou seja, aquela praticada nos jardins das casas, na varanda dos apartamentos, entre outros. Com o aumento do interesse geral do público e com os bons resultados produtivos obtidos em fazendas aquapônicas no exterior, despertou o interesse pela academia brasileira na última década com destaque para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Alagoas (UFAL), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Universidade Estadual Paulista (UNESP), além da APTA-SP e a pioneira Embrapa Tabuleiros Costeiros, ambas com lançamento de manuais e diversos materiais técnicos sobre o assunto. Um capítulo 2 dessa história seria sobre a instalação das primeiras fazendas comerciais na última década. Atualmente o Brasil já conta com pelo menos dez bons
exemplos espalhados pelo nordeste e estados como SP, PR, MG e MS. E esses números, na minha humilde opinião, tendem a aumentar. Com o advento da crise econômica que abalou o nosso país nos últimos anos, muitos profissionais perderam ou abandonaram seus empregos e decidiram abrir seu próprio negócio. Nessa fatia, muitos partiram (e vão partir) para o agronegócio com pequenas fazendas e dedicando seus produtos para mercados nicho. Aí entra a aquaponia e o nosso “capítulo 3”, com as necessidades atuais e perspectivas futuras. Observando estas tendências e com olhar nos belos exemplos que estão ocorrendo em países europeus como Alemanha, Inglaterra, Holanda, Suíça, Noruega, além dos EUA e diversos países latino-americanos como México, Chile e Colômbia, a tendência que a aquaponia comercial no Brasil cresça e se profissionalize cada vez mais. A disponibilidade de informações técnicas (reais) e mais exemplos comerciais bem-sucedidos (não somente demonstrativos) serão fundamentais. Na internet, existe uma verdadeira enxurrada de vídeos e posts sobre aquaponia no Brasil, mas infelizmente a grande maioria com sistemas “enjambrados”, desenvolvidos sem nenhum ou pouco fundamento teórico. Como diz meu nobre colega e amigo Fábio Sussel, não podemos criar peixes em caixas d’água e ficar achando que isso é um modelo de negócio. Nada contra a criatividade de cada um, mas uma atividade séria precisa de pesquisas, conhecimento biológico
Figura 1. Aquaponia comercial no Chile e sua receita de sucesso: embasamento e assessoramento técnico, engenharia aplicada, uso de equipamentos específicos e simulações financeiras de acordo com a realidade local.© Maurício G. C. Emerenciano
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Green
TECHNOLOGIES (neste caso peixes e plantas), de engenharia especializada e de cálculos financeiros. Para um agronegócio dar certo, menos “achismos” e mais teoria fundamentada são pré-requisitos. Felizmente, hoje estão sendo formados graduandos, mestres e doutores especialistas na área e trazendo uma boa bagagem teórica para resolver os problemas da aquaponia comercial, o que no passado era inimaginável. Assim, com a implantação de fazendas comerciais que tenham suporte técnico, e que priorizem por produtos e equipamentos mais específicos com maior controle, previsibilidade e biossegurança na produção, este vai ser um marco para mais um novo capítulo da aquaponia no Brasil. É ver para crer!
Figura 2. Pesquisas de Aquaponia da UDESC e de muitas instituições de ensino e pesquisa do Brasil: formação de recursos humanos visando compreender e enfrentar os desafios da aquaponia comercial no Brasil.© Maurício G. C. Emerenciano
Visão aquícola Giovanni Lemos de Mello Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC Editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil Laguna, SC giovanni@aquaculturebrasil.com
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Prêmio Inovação Aquícola S
ozinho, você não chega a lugar nenhum. Outubro de 2017 e eu escrevia o editorial para a edição número 9, que circulou durante a Fenacam’17. Para ajudá-lo a relembrar desta edição, a capa foi uma foto do sistema AquaScience, da Camanor Produtos Marinhos. Nós da Aquaculture Brasil, em sintonia com alguns dos predicados da Camanor, estamos sempre buscando inovar. Sabe a seção “Defendeu”? Agora teremos também o “Defendeu Online” em nosso canal no YouTube. Você poderá acompanhar as defesas de TCC, Mestrado e Doutorado na área de aquicultura, no Canal da Aquaculture Brasil! Aliás, confere lá o primeiro defendeu de um orientado meu! (Só vou “puxar a sardinha” desta vez, prometo!! rsss...). Mas voltando ao editorial de 2017 (embora ainda falando sobre novidades e inovação...), enquanto escrevia aquele texto, surgiu a ideia... “Por que não criar um prêmio para a aquicultura brasileira?” Rapidamente, o batizei de Personalidades da Aquicultura. Ainda durante a elaboração do texto, resolvi escolher o amigo Fábio Sussel como o premiado de 2017! Somente algo simbólico, em tom de brincadeira, mas uma escolha séria, com todo mérito, evidenciando um profissional que elevou a aquicultura brasileira em alguns patamares em 2017, do ponto de vista da divulgação de nossa atividade em rede nacional. Muito obrigado Fábio! O ano de 2018 passou e compartilhei a ideia com três pessoas que tenho grande admiração. Marilsa Patrício e Émerson Esteves, organizadores da Aquishow Brasil e Ricardo Torres, editor-chefe da Seafood Brasil. Ideia inicial compartilhada, a várias mãos demos uma nova “roupagem” a ela, e assim surgiu o “Prêmio Inovação Aquícola”, com suas categorias, objetivos e regulamento. É uma baita satisfação desenvolver uma inovação desta magnitude ao lado desses grandes amigos e parceiros. E além de tudo, sem dúvidas, criamos algo que marcará a aquicultura brasileira daqui em diante! A cada ano, o Prêmio Inovação Aquícola reconhecerá as melhores iniciativas da aquicultura bra-
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sileira em cinco categorias: I) Academia; II) Produção; III) Beneficiamento; IV) Produto Final; e V) Políticas Institucionais. Após a seleção dos cases finalistas de cada categoria por um grupo de notáveis do setor, será aberta uma votação online, onde os internautas de todo o País escolherão as pessoas mais inovadoras da aquicultura brasileira em 2019. O resultado do Prêmio Inovação Aquícola será divulgado em uma cerimônia super especial, na noite do dia 15 de maio, durante o Aquishow Brasil 2019, em Santa Fé do Sul (SP). Novidades ainda surgirão com relação às premiações, empresas parceiras desta iniciativa, etc. Ainda não sabemos se conseguiremos para esta primeira edição, mas para as próximas, a ideia é premiar os vencedores com viagens internacionais para conhecer a aquicultura em outros países. Dizem que viajar faz bem e inspira, então faremos com que os nossos inovadores continuem se inspirando. Quem arregaça as mangas e contribui de verdadeira para o fortalecimento e consolidação da aquicultura brasileira merece esse reconhecimento. Quem sabe você não tem um case bacana para nos enviar? Acesse o site do prêmio e confira o regulamento!
premioinovacaoaquicola.com.br
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O que se produz da rã? - Parte II (Produtos não comestíveis)
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ando continuidade à coluna “O que se produz da rã? (Parte I)”, publicada na edição anterior, quando foram descritos os principais produtos comestíveis da rã, passaremos, neste momento, a tratar daqueles que não são utilizados na alimentação (principalmente humana), sendo comercializados de outras formas. Talvez um dos produtos não comestíveis da rã mais conhecidos seja a sua pele, que dá origem ao couro. Este produto é descrito como sendo extremamente macio, maleável e propício aos mesmos usos relacionados aos couros de outros animais de abate, sendo mais indicado aos climas tropicais, quando aplicado ao vestuário. De maneira geral, por ser pequeno, quando se pensa numa única pele animal, sempre foi muito utilizado em artesanato ou em detalhes de roupas, colares, brincos, entre outros (Figura 1). No início dos anos 2000, surgiu no mercado nacional um produto denominado de “manta de pele de rã”, que caracterizava-se por ser uma manta composta por vários couros soldados, possuindo 1 m de comprimento por 0,70 m de largura, possibilitando, assim, a confecção de peças inteiras, como casacos, calças, bolsas, botas e afins. A carne da rã, conforme descrição da coluna anterior, possui baixo índice de lipídeos, pois sua gordura fica armazenada num órgão específico denominado de “corpo adiposo”. Esse órgão, ao ser removido integralmente no abate, pode ser transformado num óleo, comumente utilizado na formulação de cremes, condicionadores e “shampoos”. O fígado pode dar origem a um patê, encontrado em alguns restaurantes especializados. No entanto, sua produção é totalmente artesanal, uma vez que não existem normas e padrões estabelecidos em legislação para a sua produção em escala comercial. É importante frisar que incluímos o fígado na categoria de não comestíveis, uma vez que não existem regulamentos que confiram segurança para o seu consumo. Juntamente com outras vísceras, como ovários, ovidutos, rins, baço, pulmões, coração e demais órgãos, podem ser triturados e utilizados na fabricação da farinha de vísceras de rã, nutricionalmente interessante para fábricas de rações para animais.
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Há um conceito, historicamente disseminado em publicações nacionais, que diz que da rã se aproveita até o coaxar, entretanto, na prática, não é o que se vê. Vários autores já descreveram que boa parte da lucratividade advinda do abate da rã é desperdiçada pela escassez ou pela não utilização dos produtos não comestíveis da rã, que representam cerca de 50% do peso de um animal pronto para o abate, hoje entre 250 e 300g. Na maioria dos casos, isso não ocorre devido à escala, que é muito pequena para que um desses produtos seja interessante para uma fábrica transformadora, como a de rações, por exemplo. Saudações ranícolas! Figura 1. Produtos produzidos por produtor mexicano, a partir do couro da rã. © Andre Muniz Afonso
Marcelo Shei Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos Santos, SP shei@altamar.com.br
Notas práticas sobre formatos de tanques em Sistemas de Recirculação A tualmente é possível encontrar diversas opções de materiais, formatos e tamanhos de tanques para cultivo de organismos aquáticos. Em um RAS a dimensão e o formato definirão diretamente o custo de instalação e operação. O objetivo é otimizar a área produtiva e ter o sistema que demande a menor manutenção possível. No geral, tanques circulares são excelentes, melhoram a uniformidade do ambiente de cultivo, permitem diversas possibilidades de velocidades estacionais para melhorar o estado de saúde e condição, rápida concentração e remoção de sólidos precipitáveis. Para sistemas de engorda, de forma geral, o melhor é utilizar menor quantidade de tanques maiores. Isso reduzirá o tamanho da área requerida, o custo de instalações hidráulicas, a quantidade de sensores de qualidade de água, alimentadores e mão de obra. Tanques menores são recomendados para larviculturas, sistemas de pesquisa e outras necessidades específicas. A relação entre o diâmetro e a profundidade em sistemas comerciais pode variar bastante, de 3:1 até
10:1, isso vai depender da área disponível, especificações do terreno, espécie, estrutura disponível, entre outras coisas. Quanto a entrada de água nesses sistemas maiores, o uso de injetores horizontais e verticais ao longo de toda a coluna de água permitem uma mistura e velocidades de água mais uniformes e boa eficiência na remoção de sólidos. Manter um fluxo rotativo facilita a sedimentação das partículas sólidas e também a homogeneização do ambiente. Quanto a saída de água, em densidades de estocagem elevadas o ideal é a utilização de sistema de dreno duplo nos tanques. Trata-se de uma pré-etapa de filtragem, utilizando uma saída no centro e outra posicionada na coluna de água, por onde passa a maior parte do fluxo de saída. Esse método é comum em sistemas comerciais e facilita a remoção dos sólidos sedimentáveis do sistema diretamente do fundo do tanque. A passagem dessas partículas por sistemas de bombeamento iria quebrá-las em unidades menores, ainda mais difíceis de remover do sistema.
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Figura 1. Fluxo de tanque circular com dreno duplo, adaptado de M.B. Timmons.
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Fábio Rosa Sussel Pesquisador Instituto de Pesca de SP - UPD Pirassununga Pirassununga, SP fabio@pesca.sp.gov.br
Produção da própria ração: solução ou problema?
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propósito inicial desta coluna é alertar aqueles que crescem os olhos em relação a grande oferta de equipamentos (extrusoras e peletizadoras) atualmente disponíveis no mercado. Com novas tecnologias e novas empresas atuando neste segmento é fato que estes equipamentos tornaram-se muito mais acessíveis. Claro que isto é bom e abre novas perspectivas... mas... “muita hora nesta calma”. Aproveitando o trocadilho, muitas horas fazendo conta e analisando muito bem tudo que encontra-se envolvido a nova ideia. Primeiro de tudo: quantos pequenos/médios aquicultores estão produzindo sua própria ração, com resultados satisfatórios, há mais de 1 ano? Este tipo de levantamento ajudará bastante na tomada de decisão. Feito tal análise, levar em consideração que ter condições financeiras para adquirir o equipamento não significa nem meio caminho percorrido. Diria que a aquisição do equipamento representa somente 20% de todo o contexto. Ter um amigo nutricionista ou contratar um consultor para fornecer uma fórmula, também não representa muita coisa. Ter fácil acesso a 2 ou 3 ingredientes, também não é tão vantajoso assim. Também não se devem iludir-se com a eficiência dos equipamentos, do tipo: “Uau, faz 5 toneladas por dia!!! Em 2 dias faço toda a ração do mês!!!”. É preciso pensar em logística de vários ingredientes, é preciso ter condições de mexer nas fórmulas a cada nova batida, alguém bem treinado para operar o equipamento e, principalmente, volumes que justifiquem investir na nova ideia. Há mais de 10 anos que costumo responder as investidas de alguns produtores com o seguinte valor referencial: tem que ter um consumo mensal de 200 toneladas, porém, tem que produzir 1.000 toneladas mês. Com a venda da diferença de 800 toneladas se consegue produzir uma ração de boa qualidade e com um custo bem reduzido para o uso próprio. Nos dias atuais, por uma séria de fatores, pode-se afirmar que estes valores referenciais caíram bastante. Talvez uma produção doméstica entre 80 a 100 to-
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neladas já seja viável. Quanto maior a produção, melhor poder de compra das matérias-primas e melhor otimização do equipamento. E ainda ter muito claro em mente que além de todos os “porém” de uma piscicultura/carcinicultura, ainda terá que gerenciar um novo negócio. Diria que envolve tanta dedicação quanto a criação do peixe ou do camarão. Atendido a todos os quesitos listados, o produto final precisa ser melhor e custar menos que as rações comerciais disponíveis. O que não é nada fácil! Devo registrar que já começo a ter um olhar diferente sobre produzir a própria ração. Sempre fui um grande defensor das fábricas. Sempre acreditei muito na qualidade de nossas rações. Tenho até episódio gravado que ainda não foi ao ar onde minha explanação técnica sugere que melhores resultados podem ser obtidos a partir de melhorias no manejo alimentar. O que é fato, continuo com esta opinião (é impressionante o desperdício de ração e erros de manejo que observo nas propriedades por onde passo!). Contudo, ao mesmo tempo, também por constatação prática, seja na minha unidade de pesquisa ou nas propriedades que visito, tenho a sensação que a genética está à frente da nutrição. Seja pra peixe ou camarão marinho. Não tenho constatação científica disso e nem tem sido foco das minhas pesquisas, mas tenho observado melhores resultados com formulações próprias. Quando digo que a genética está na frente da nutrição, não é porque faltam pesquisas no segundo item. Sabemos fazer boas dietas, temos ótimas matérias-primas, ótimos formuladores, equipamentos de ponta..., mas..., a concorrência
ção a qual implicará em maior produtividade, pode ser uma boa opção. Só que pra isto tem que ter registrado como era antes e como está sendo a partir da nova estratégia. Vale tanto para quem pensa em fazer a própria ração ou comprar uma customizada. Surpreendentemente, o que mais vejo é produtor não saber nem quanto custou o quilo do seu peixe ou camarão produzido, pensando em produzir a própria ração. Como vai saber se a nova estratégia é melhor ou pior? Em resumo, antes de mudar a estratégia alimentar da produção, primeiro é necessário corrigir os manejos e depois fazer conta e bem-feita. Se não tiver condições de comparar como era antes, deixe do jeito que está.
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por preços tem levado a melhor contra a concorrência por qualidade. E ficaria imensamente feliz e agradecido se alguém apresentasse opinião contrária a respeito. Uma alternativa bastante interessante que surgiu recentemente no Nordeste é a customização da própria ração. Ou seja, surge a opção de comprar ração por fórmula e não por nível de proteína bruta. Além de ser uma alternativa ao invés de investir em extrusora ou peletizadora, certamente dará uma sacudida no mercado de rações para organismos aquáticos. Claro, desde que os aquicultores façam a conta certa. Em tempos de crise a lógica é reduzir custos. Mas... nem sempre é o melhor caminho. Aumentar o custo de produção pagando maior valor por uma ra-
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Eduardo Gomes Sanches Instituto de Pesca / APTA Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br
A precisão da aquicultura em ajudar a natureza
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esta coluna venho sempre abordando a expansão do conceito de precisão. Tenho procurado trazer aos leitores a possibilidade de “pensar” diferentes conceitos e assuntos, muitas vezes convidando a todos a uma reflexão. Em tempos de elevada intensidade de comunicação, acelerada pela disponibilidade da internet, acredito que um pouco de “pensar” poderia ajudar nossos leitores a observar as coisas por outros ângulos. Desta vez vou abordar uma visão totalmente oposta a tudo que vem sendo falado da aquicultura. Não vou abordar a questão dos impactos ambientais e muito menos os benefícios incontestáveis de nossa atividade de cultivo de organismos aquáticos e produção de alimento de alto valor nutricional. Vamos conversar sobre como a aquicultura pode ajudar a natureza. Estive lendo diversos artigos que avaliaram a aquicultura como instrumento para a conservação de espécies. Imaginem o cenário: um ambiente natural sofre um expressivo impacto e diversas espécies são extintas, ou o ambiente vem sendo sistematicamente destruído ao longo dos anos, ou a espécie em questão vem sofrendo uma forte pressão da pesca. Convenhamos que estes cenários não são improváveis. Pelo contrário, são ilustrados diariamente pelos meios de comunicação. Como a aquicultura poderia ajudar? Estudos tem demonstrado que, desde que apoiado por ferramentas científicas adequadas, a reintrodução de espécies produzidas em cativeiro pode contribuir para ajudar a natureza a se recuperar dos impactos causados por ações naturais ou pelo homem. Querem um exemplo? Olhem o título sugestivo deste artigo: “Farming the reef: is aquaculture a solution for reducing fishing pressure on coral reefs?”. Tradução literal: Cultivando os recifes: é a aquicultura a solução para a redução da pressão de pesca nos recifes de coral? Os autores (Pomeroy et al., 2006) comprovaram que o cultivo de corais pode ser uma alternativa ao extrativismo, reduzindo o risco de des-
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truição dos ecossistemas e a extinção de diversas espécies associadas aos ambientes de recifes de coral. Projetos mais recentes têm abordado a possibilidade de reintrodução na natureza de corais produzidos em cativeiro. E não são somente os invertebrados que vêm sendo pesquisados. Algumas instituições de pesquisa, é o caso da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvem tecnologia e produzem espécies de peixes marinhos ornamentais ameaçados de extinção, contribuindo para a preservação tanto das espécies como do ecossistema a que estão associadas. O Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca, em Ubatuba-SP, vem a mais de dez anos pesquisando espécies de peixes marinhos ameaçadas de extinção. A espécie atual que recebe nossos esforços é o mero Epinephelus itajara. Em breve escreverei um artigo sobre este trabalho. Mas sempre defendemos que o cultivo de espécies ameaçadas poderia vir a se tornar em uma importante ferramenta de conservação. E estas idéias já chegaram na iniciativa privada. A Redemar Alevinos em Ilhabela/SP vem produzindo a garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus e trazendo propostas inovadoras em propor programas de repovoamento da espécie. Outro estudo interessante que recomendo a leitura por apontar os riscos e prover soluções relacionadas ao repovoamento é “A utilização de baixo número de matrizes em piscicultura: perda de recursos genéticos para programas de repovoamento” (Souza et al., 2006). Estes autores abordaram a complexidade do repovoamento, os riscos associados e afirmaram que os mais recentes avanços genéticos, tais como a utilização dos marcadores moleculares, oferecem novas possibilidades no monitoramento do impacto genético de peixes cultivados em estoques naturais. Existem diversos outros estudos que poderíamos citar, mas acho que o objetivo de fazer todos refletirem sobre como a aquicultura de espécies ameaçadas pode contribuir para a preservação da natureza já ficou registrado.
Não acredito que nenhuma ação isolada, por melhor que seja, resolva toda a complexidade que a expansão humana causa no planeta. A ciência tem demonstrado, para cada solução apresentada, a complexidade e os riscos envolvidos. Entretanto, é muito bom saber que o esforço de inúmeras pessoas, em
trabalhar com espécies ameaçadas, pode contribuir com a preservação da natureza e ilustrar mais uma faceta da aquicultura que poucos conhecem. A precisão da aquicultura em ajudar a natureza. Afinal, nem só de tilápias e camarões vive a aquicultura no Brasil. Até a próxima coluna.
Mero Epinephelus itajara.
Lutjanideo mantido em cativeiro.
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Corais sendo comercializados.
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Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA Mossoró - RN alaugo@gmail.com
Embutido de pescado curado: inovação, agregação de valor, e nova oportunidade para o setor C
em Matino (província de Lecce, sul de Puglia, Itália), a 10 km da costa do mar Jônico (Mediterrâneo). Ao entrar em contato com essa empresa, fui recebido de portas abertas pelos sócios proprietários Danilo Romano, Pamela Romano, e Valerio Romano, bem como pela Silvana Santos, uma brasileira que está colaborando com o excelente trabalho da “Offishina” (www.offishina.it). Pode-se dizer que a “Offishina” é um laboratório que produz embutidos a partir do filé (lombo) de peixe. O melhor peixe é transformado do estado cru (fresco) ao maturado através de fermentação, secagem e maturação prolongada que permite o aumento da vida de prateleira para mais de 18 meses, conservados apenas com sal de mina e outros conservantes naturais (especiarias mediterrâneas). São livres de corantes, conservantes químicos, glúten e lactose; fonte de ácidos graxos ômega 3 e 6, cálcio, selênio, iodo, fósforo, potássio, zinco, vitaminas A e B, e baixo valor calórico; e indicados para vários tipos de dieta (nutrição esportiva, crianças e idosos).
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om as recentes festividades gastronômicas de Natal e Ano Novo, nada melhor do que encerrar esse ano com mais uma novidade no que se refere a produtos inovadores. Talvez para alguns leitores o produto em questão não seja inovador, pois são produtos tradicionalmente conhecidos na área de produtos cárneos de animais terrestres, mas ao mesmo tempo, são pouco conhecidos na área de produtos à base de pescado - os produtos curados embutidos (salames, presuntos e copas). Os produtos cárneos curados tradicionais são aqueles conservados por tempo mais prolongado, adicionados de sal, nitratos e/ou nitritos, açúcar e condimentos, resultando na melhora das propriedades sensoriais, como sabor e aroma mais agradáveis e coloração vermelha ou rósea atraente. Ao navegar pela internet em busca desses produtos inovadores, encontro a “Offishina”, cujo nome originário é de um verdadeiro jogo de palavras entre o italiano “officina” e o inglês “fish”. A “Offishina” está localizada
© Offishina
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sabor e do aroma. O produto assume assim as características sensoriais elevadas devido a ação de mofos e leveduras, os quais estão presentes no invólucro durante a maturação que confere aromas ao produto, estabiliza a produção de histamina e preserva os atributos nutricionais e sensoriais, todos, demonstrados nas análises laboratoriais. Esses processos ocorrem muito lentamente e ao final do ciclo de maturação, o excesso de mofo é retirado, embalado à vácuo, e armazenados. O processo tecnológico é semelhante aos tradicionais salames, copas e presuntos curados, o que exige controle de temperatura e umidade relativa ao longo do processo de cura, e principalmente, na fermentação e posterior maturação, para que o produto final seja perfeito em sua característica sensorial. As boas práticas de higiene e fabricação, bem como a escolha de matéria prima em excelente grau de frescor, a segurança e qualidade dos ingredientes e o controle de qualidade ao longo do processo são indispensáveis para a obtenção de um produto de excelência. NOV/DEZ 2018
As espécies utilizadas são atum e espadarte (meca), e os produtos obtidos são: peixes temperados (lembra o tradicional presunto ou copa) e salames obtidos por fermentação, maturação e secagem. O produto final tem valores de pH~5 e atividade de água entre 0,8 e 0,83 que contribui positivamente para estabilidade do produto (sob ponto de vista microbiológico), principalmente no que diz respeito à multiplicação dos microrganismos anaeróbicos, como o Clostridium botulinum. No teste de vida de prateleira (18 meses), análises microbiológicas (Clostridium botulinum, Listeria monocytogenes e Salmonella sp.) são monitoradas a cada 3 meses e comprovaram a qualidade microbiológica e estabilidade do produto. Os embutidos de peixe assumem uma cor vermelha e as poucas gorduras são suficientemente protegidas da oxidação. Paralelamente ocorre a hidrólise de proteínas e gorduras, a partir das próprias enzimas do peixe, em parte, por enzimas microbianas. O produto fermentado utiliza o crescimento controlado de microrganismos selecionados, resultando na modificação da textura, do
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Defendeu! Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas informações para nossa aquicultura. Nome do acadêmico: Leone de Souza Medina Orientador: Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Título do trabalho de conclusão de curso: Influência da temperatura e do manejo alimentar na préengorda de Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) em sistemas de recirculação de água.
Introdução: o cará (Geophagus brasiliensis) é um ciclídeo bastante similar à tilápia (Oreochromis sp.) quanto a aspectos morfométricos e reprodutivos, entretanto, não há registros de sua produção comercial no Brasil. Sua principal utilização é no mercado de ornamentais.
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© RS Discus Aquários
Objetivo: O objetivo deste trabalho foi avaliar o de-
sempenho zootécnico da espécie em três diferentes temperaturas (24,3±0,8, 28,1±1,0 e 31,7±0,9 °C) e dois manejos alimentares (saciedade e 4% da biomassa) durante 72 dias, além de descrever os índices organossomáticos e principais aspectos do comportamento reprodutivo da espécie quando cultivada em sistema fechado.
Materiais e métodos: o delineamento constituiu-
-se de um experimento bifatorial (3 x 2), tendo seis tratamentos, com três repetições cada. Utilizou-se um conjunto de seis sistemas de recirculação de água idênticos (um para cada tratamento), compostos por três
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tanques circulares (volume útil de 200 L/cada), além de um filtro mecânico e biológico. O peso médio inicial foi de 6,8±1,1 g e o comprimento inicial foi de 7,5±0,5 cm. Os peixes foram alimentados três vezes ao dia, utilizando-se ração comercial para peixes onívoros (32% de proteína bruta e 6% extrato etéreo). Diariamente foram monitorados os principais parâmetros de qualidade de água (oxigênio dissolvido, temperatura e pH).
Resultados e Discussão: a taxa média de sobrevivência foi de 97% sem diferenças estatísticas entre os tratamentos. O ganho de peso foi superior nas temperaturas de 24,3 °C e 28,1 °C respectivamente. Da mesma forma, a taxa de crescimento específico (TCE) apresentou piores resultados na temperatura 31,7 °C. A melhor TCE, em números absolutos, foi de 1,3%.dia-1 , para o tratamento de 24,3 °C, arraçoados até a saciedade. Observou-se uma tendência de melhores resultados nos tratamentos até a saciedade aparente. A melhor conversão alimentar (CA) foi em 24,3 °C alimentados sob taxa de 4% da biomassa com valor de 2,3:1. Em 31,7 °C, peixes alimentados com 4% da biomassa a CA foi de 3,1:1, sendo a mais alta. Os principais aspectos reprodutivos observados dizem respeito ao diferencial de tamanho entre machos e fêmeas, observando-se uma forte tendência de que os machos cresçam mais. Avaliou-se também a fecundidade relativa e influência da temperatura sob o desenvolvimento ovariano, obtendo melhores resultados quando cultivados em temperaturas mais baixas.
Conclusão: em princípio, pode-se concluir que a espécie apresenta melhor desempenho zootécnico em temperaturas mais baixas (comparando-se à temperatura de 31,7 °C), nas condições testadas, o que pode sugerir bons desempenhos em temperaturas tíO trabalho foi defendido em: picas de regiões subtropicais, a exemplo da região 22/11/2018 Sul do Brasil.
*Este “Defendeu” irá inaugurar outra novidade para os leitores e seguidores da Aquaculture Brasil: o “Defendeu Online”. Acesse o nosso canal do YouTube e confira a apresentação completa do acadêmico Leone! Fique de olho que outras defesas de TCC, mestrado e doutorado também serão divulgadas em nosso canal.
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Figura 1. Desempenho zootécnico de Geophagus brasiliensis cultivados em diferentes temperaturas de água durante 72 dias. (S) = saciedade e (B) = 4% da biomassa.
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Um dos médicos veterinários mais competentes da aquicultura brasileira e, em particular, um amigo de longa data. Entrevistamos o paranaense Rodrigo Zanolo, gerente de mercado da MSD Saúde Animal. AQUACULTURE BRASIL: Como a Aquicultura entrou na vida do Médico Veterinário Rodrigo Zanolo?
uma universidade que já tinha uma área de aquicultura bem desenvolvida e assim foi dado o pontapé inicial.
Rodrigo Zanolo: Entrei na Medicina Veterinária em função do contato com os animais, tanto animais de comAQUACULTURE BRASIL: Quais foram as vantagens de panhia como cachorros e gatos, que sempre tive em você ter atuado na produção, antes de assumir na MSD? minha residência, assim como equinos e bovinos do peRodrigo Zanolo: Vivenciar a produção realmente é uma queno sítio de meu pai. Naturalmente, quando ingresexperiência única. É uma oportunidade que nós temos sei na Medicina Veterinária na Universidade Estadual de para entender a rotina do dia a dia de um piscicultor ou Londrina (UEL) a aquicultura nunca passou pela minha carcinicultor. Os desafios produtivos ali presentes, sejam cabeça como uma possibilidade de trabalho. Quando eles associados a questões zootécnicas ou sanitárias. A eu estava no quarto ano do curso, confesso, um pouoportunidade e a quantidade de informações que adquico perdido, porque realmente não havia me encontrarimos na produção, nos possibilita do em nenhuma das áreas, embora ter uma visão muito mais macro e gostasse de tudo, mas não havia ne360° de “approach” e de entrega nhuma área que eu realmente tivesde soluções a esse produtor rural se me apaixonado, um professor de quando estamos na indústria. Seja fisiologia, Dr. Julio Hermann, o qual Vivenciar indústria de insumos veterinários, foi um dos primeiros professores a que é, por exemplo, o meu caso, a produção realmente é realizar um doutorado com a revermas que pode ser na indústria de são sexual de tilápia na UNESP/Jabouma experiência única. insumos de nutrição, equipamenticabal, me despertou a curiosidade tos entre outros. Ter vivenciado É uma oportunidade que para a aquicultura. Nós conversaefetivamente e ter a oportunidamos sobre pescarias, uma coisa que nós temos para de de enxergar com uma visão ele gostava bastante e eu também, mais macro, resultou na entrega e até marcamos uma pescaria jun- entender a rotina do dia a de soluções que nós acreditamos tos. E nisso ele falou “Rodrigo, por dia de um produtor. que melhor vão se encaixar ao que você não trabalha com aquiculprodutor: essa é a grande vantatura, que pode ser uma atividade gem! bastante interessante futuramente?”. Eu achei interessante e a partir daAQUACULTURE BRASIL: Como foi quele momento comecei a entrar sua contratação na MSD Saúde no mundo da aquicultura. Fiz o meu trabalho de con Animal? clusão de curso na Universidade Estadual de Maringá,
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Rodrigo Zanolo
O médico veterinário, Rodrigo Zanolo, assim como muitos dos que já foram entrevistados aqui, não tinha ideia de que fosse entrar profissionalmente para a área da aquicultura. Porém, assim como os demais, Zanolo, junto com a empresa para qual trabalha, é um dos grandes nomes da aquicultura nacional, revolucionando a produção de tilápia com a introdução da primeira vacina para peixes, contra estreptococoses.
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A pescaria aproximou Zanolo do professor que lhe incentivou a entrar na área da aquicultura.
Rodrigo Zanolo: A minha contratação se deu de uma forma bem interessante, porque na época, isso há 13 anos atrás, uma indústria farmacêutica veterinária desejava adentrar no mercado brasileiro, lançando uma linha inédita de produtos veterinários, cujo portfólio estaria orientado para a carcinicultura e piscicultura. Eu já tinha o mestrado na área de peixes, mas para me encaixar, faltava algo com camarões. Na época, essa empresa veterinária, que no caso era a MSD Saúde Animal, faria a contratação dentro de um ou dois anos. Dessa forma, me preparei estrategicamente para essa oportunidade e fui para Santa Catarina fazer estágio na fazenda Yakult, pertencente à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que era referência na área. Ali eu tive a oportunidade de me aprofundar na carcinicultura, vivenciar e trabalhar como um técnico na área, aprendendo muito com meus colegas de Santa Catarina, dentre eles o meu colega Giovanni Mello e outros colegas, como o médico Veterinário Albertino Zamparetti, da EPAGRI. Com isso, uma vez que eu tinha tanto a visão de piscicultura quanto da carcinicultura, além de ter estudado inglês, isso me proporcionou um diferencial competitivo para abraçar essa vaga. E para minha felicidade, fui contratado e atualmente sou gerente de mercado da MSD Saúde Animal.
primeira espetada, literalmente, em um peixe no Brasil”. O posicionamento das vacinas foi uma contribuição tecnológica que agregou muito ao nosso setor. Contribuiu de forma expressiva para a diminuição do uso de antibióticos, para incremento de produtividade e eficiência produtiva, bem estar animal e sustentabilidade dos projetos, fazendo o gerenciamento preventivo através de vacinação. Sem dúvidas a Aquavac Strep Sa, foi realmente um marco para a aquicultura brasileira, especificamente para produção intensiva de tilápias. O destaque principal é dos programas de vacinação, porém, não posso deixar de citar o posicionamento do primeiro antimicrobiano especificamente desenvolvido e focado em piscicultura, especificamente em tilápias, que trouxe informações técnicas relevantes, do ponto de vista de dosagens, do período de carência. Isso contribuiu muito para o gerenciamento das enfermidades e junto com esses dois produtos, a entrega de informações, de agregação de valor, de plataforma de sanidade, ou seja, serviços técnicos, plataformas de diagnóstico, capacitação técnica de produtores, palestras técnicas. Tudo isso contribuiu significativamente e são também pontos muito relevantes. Mas a vacinação de fato, foi o grande avanço, e hoje temos praticamente 50% do plantel brasileiro de tilápias imunizado.
AQUACULTURE BRASIL: Quais as principais inovações e soluções para a aquicultura brasileira que você ajudou a desenvolver no Brasil junto a MSD?
AQUACULTURE BRASIL: O quanto o Brasil ainda está distante da piscicultura do Chile, em termos de tecnologias voltadas à sanidade? Onde estão nossas principais carências e dificuldades?
Rodrigo Zanolo: Sem dúvida nenhuma a inovação de maior relevância foi a primeira vacinação injetável comercial de peixes no Brasil. Eu brinco que “foi a
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Rodrigo Zanolo: Do ponto de vista sanitário, acredito que existam três pilares principais. O primeiro é a bios-
AQUACULTURE BRASIL: Há 15 anos atrás se produzia mais camarões marinhos do que peixes de água doce no Brasil. Hoje, o volume da piscicultura é 10 vezes maior do que o da carcinicultura. Onde a cadeia produtiva da piscicultura acertou e qual foi o principal entrave do cultivo de camarões marinhos?
Rodrigo Zanolo: Em relação a esse fato, eu destaco dois pontos. Certamente existem vários outros a serem ponderados, mas na produção de peixes o primeiro ponto que eu destaco o crescimento da produção, sem dúvida nenhuma, foi pela produção de tilápia em tanques-rede. Esse foi um marco muito importante da expansão da piscicultura, um crescimento altamente agressivo pela liberação de áreas em águas da União, aliada a possibilidade de implementação rápida de projetos, instalação de gaiolas na água. Este modelo de piscicultura consiste
em um sistema superintensivo que qualquer médio ou até mesmo pequeno produtor, produz em tanques-rede um volume bem significativo com poucas gaiolas na água. Acredito que esse foi o marco principal da piscicultura no Brasil. Associado a isso, um pacote tecnológico bastante claro. Hoje conhecemos muito sobre nutrição, genética, manejo e sanidade. Esses pacotes conferem muita segurança para esse crescimento sustentável da produção de peixes, em especial da tilápia. No caso dos peixes nativos, o tambaqui é um peixe fantástico também, que a tecnologia foi dominada e proporcionou um crescimento bastante interessante em termos de produção. Por ser um animal bastante rústico, com certa facilidade de produção em águas verdes e que acabou aproveitando uma oportunidade de mercado, onde o tambaqui de extrativismo já não era suficiente para abastecer a população, a aquicultura aproveitou essa oportunidade de mercado interno, favorecendo também a produção de tambaqui em fazendas. Quanto ao camarão, não porque sou médico veterinário, mas sabemos que as questões sanitárias tiveram impacto extremamente forte para o setor. Posso citar Santa Catarina, que vivenciei como técnico, na própria pele, as doenças virais impactando fortemente o setor. Acabou sendo uma atividade de maior risco, com oscilações de produtividade, que traz uma certa insegurança ao produtor. Acredito que a questão sanitária foi uma barreira muito grande para um crescimento sustentável cada vez maior do camarão. Claro que existem questões mercadológicas, algumas questões ambientais envolvidas, mas particularmente eu destacaria esses itens na minha visão. AQUACULTURE BRASIL: O Brasil será o país da tilápia, assim como o Equador é o País do camarão?
Rodrigo Zanolo: Com certeza. Dentro das devidas proporções, não temos como comparar o Brasil com a China, Indonésia e Egito, por exemplo, que são hoje os maiores produtores globais. Porém, o Brasil será sim o país da tilápia. Isso porque, a entrada para esse mercado das duas cooperativas de referência ao país, do oeste do Paraná, que já trabalhavam com avicultura e suinocultura em sistema de integração, tem sido um marco substancial para a produção nacional. Empresas de capital multinacional, tendo o Brasil como radar, tanto em áreas de genética, como empresas de engorda e processamento de tilápia, e empresas de capital nacional também com crescimento bastante agressivo. Assim como somos um país tradicionalmente produtor de aves e suínos, o peixe, com destaque para a tilápia, caminha na mesma direção. Os pacotes tecnológicos que estão chegando proporcionarão aos investidores mais segurança para se investir cada vez mais nesse segmento. E sim, temos
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seguridade. Estamos começando a dar uma importância maior a biosseguridade como um todo. O segundo ponto é a compartimentalização ou a setorização, ou seja, muitas vezes você chega nas fazendas e encontra a alevinagem, a engorda e a recria todos em uma mesma área. Do ponto de vista epidemiológico isso é péssimo, porque a doença vai sendo transferida de tanque para tanque e vai passando de uma fase do animal para outras fases. Temos evoluído bastante e rapidamente nesse sentido, já temos quem é especializado em produzir alevinos, outros que fazem a produção de juvenis e outros que tem o papel de engorda e terminação da tilápia. Talvez estejamos quatro ou cinco anos atrás nesse quesito quando comparado a salmonicultura do Chile. Por último, o terceiro pilar consiste nos programas de prevenção, que são os portfólios de vacinas. Estamos também distantes da salmonicultura, mas acredito que dentro de quatro ou cinco anos nós teremos vacinas combinadas e multivalentes. Dentro de dois a três anos, teremos o lançamento de vacinas bi e tetravalentes para tilápias, vacinas combinadas de diferentes enfermidades dentro de uma mesma vacina. Para o salmão já existem vacinas heptavalentes. A MSD por exemplo, possui uma vacina na Noruega, que é a Aquavac PD7, com sete diferentes enfermidades, que fez este país produzir aproximadamente 1,2 milhões de toneladas com uma quantidade mínima de antibióticos. Esse fato trouxe uma sustentabilidade e um posicionamento incrível para o país. No Chile não é diferente, são mais de 50 diferentes vacinas e combinações de vacinas disponíveis para atender as necessidades diversas dessa indústria. Esses são os três pilares principais. No quesito biosseguridade estamos bem distantes desses países, enquanto que a setorização/compartimentalização e o portfólio preventivo de vacinas, estamos um pouco mais próximos.
condições ambientais e temos muita água, fronteiras aquícolas, uma vez que a matriz energética brasileira é formada por hidroelétricas. Temos mais de 5 milhões de hectares de lâmina d´água, a expansão e legalização da tilápia em áreas emergentes, como Tocantins e Mato Grosso, tudo isso irá contribuir. É verdade que já somos reconhecidamente o país da tilápia, como o quarto maior produtor, mas com certeza iremos nos tornar ainda maiores e referências no mercado da tilápia mundial. AQUACULTURE BRASIL: Quais soluções a MSD poderia elucidar para o tratamento ou convivência com o vírus da síndrome da mancha branca?
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Rodrigo Zanolo: A MSD é uma empresa com soluções e tecnologias principalmente para a piscicultura. Tínhamos projetos de pesquisa focados em peixes marinhos, como barramundi, seriolas, atuns, pargos, entre outros. Entretanto, chegou num momento que tivemos que tomar uma decisão, porque são muitas as espécies que são produzidas mundialmente. Como posicionamento estratégico da empresa, atualmente somos uma companhia orientada no desenvolvimento de tecnologia para duas espécies: salmão e tilápia. Nesse momento, o foco da companhia é ser líder e referência na entrega de tecnologia para essas duas espécies. E somos líderes mundiais nesses dois
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segmentos. São duas espécies de produção global, de exportação e importação entre diferentes países, portanto não temos um foco em P&D sobre camarões marinhos, mas acreditamos bastante no potencial desse mercado. Sabemos também da complexidade que é o desenvolvimento de soluções para crustáceos, um animal que tem particularidades em relação ao sistema imunológico, em relação às questões fisiológicas, que acabam dificultando o desenvolvimento de novas tecnologias. Contudo, o camarão marinho está no radar da MSD e acredito que em breve teremos novidades e alguma notícia mais relevante na área de gestão sanitária para Litopenaeus vannamei. AQUACULTURE BRASIL: Você acredita mais na diversificação da aquicultura brasileira do ponto de vista da utilização de várias espécies, ou o foco em poucas espécies, bem desenvolvidas e com pacote tecnológico de ponta?
Rodrigo Zanolo: Particularmente acredito que não devemos diversificar a quantidade de animais. Acredito em uma aquicultura de poucas espécies, com pacote tecnológico muito bem definido e de ponta. Ou seja, temos que colocar na mesa da família brasileira um produto de baixo custo e competitivo frente a outras proteínas. Acredito muito nesse posicionamento para que nossa aquicultura realmente chegue a patamar de grandes volumes, para que sejamos grandes exportadores, assim como é a indústria de aves e suínos, e mais do que isso, que tenhamos capacidade de produzir em larga escala, com redução de custo e ao mesmo tempo produzindo peixes de forma sustentável, proporcionando o bem estar animal, reduzindo os antimicrobianos etc. E isso se faz com pacotes tecnológicos em genética, em nutrição, em saúde animal, e essa combinação traz uma produção, mesmo em grandes volumes, de forma responsável. A diversificação da piscicultura será para pequenos produtores ou para nichos de mercado específicos, como por exemplo os produtores de trutas em regiões serranas,
AQUACULTURE BRASIL: Em suas viagens internacionais a trabalho, o que mais lhe chamou a atenção da aquicultura de outros países, e que poderia servir de modelo para o Brasil?
como consultores e ter a possibilidade de trabalhar efetivamente com os animais, gerenciando fazendas e colaborando com a produção propriamente dita. Mas meu recado aqui é para que os estudantes abrissem os olhos para as oportunidades de trabalho na área da aquicultura, relacionadas ao setor comercial, como vendas de insumos por exemplo, ração, medicamentos, equipamentos, entre outros. O nosso trabalho comercial em aquicultura é um trabalho bastante técnico, em que existe a possibilidade de entrega de soluções para o piscicultor ou carcinicultor e contribuir significativamente para que esse consiga atingir níveis de produtividade maiores. E essa é uma área que emprega muito bem. É importante que esses profissionais se preparem com gestão de pessoas, com cursos de oratória, na área de comunicação, a fim de se preparar e ver o mercado comercial como uma ótima oportunidade de trabalho também.
Rodrigo Zanolo: Todas as minhas viagens internacionais se deram exclusivamente com foco em visitação de produção de peixes, particularmente em tilápias. Tudo o que eu vi de produção de tilápia, nada me chamou muito a atenção. Por isso mesmo acho que o Brasil é referência em manejo, apesar de ter muito que evoluir, conforme comentei sobre aqueles três pilares. O Brasil é hoje referência Meu recado em produção de tilápia. Nossos AQUACULTURE BRASIL: Para produtores absorvem a tecnologia. aqui é para que os finalizar, o que você diria para Nós temos tecnologia de produção um grupo de empresários estudantes abram de tilápia em tanques escavados com que pretende investir na alta eficiência, muito bem organizado, os olhos para as aquicultura no Brasil? temos ótimos profissionais, ótima oportunidades de trabalho qualidade em relação a genética, Rodrigo Zanolo: Para os bom estado sanitário e de forma na área da aquicultura, empresários que pretendem geral, o Brasil hoje é referência em entrar no mercado de relacionadas ao setor produção de tilápia. Não vejo um aquicultura, eu diria que modelo produtivo que realmente comercial... nós estamos no momento me chamasse a atenção na América certo e no local ideal para Central por exemplo, ou em países investir. Esse é o momento da Ásia, como Tailândia, Indonésia… de se investir na aquicultura na tilápia, hoje nós estamos muito brasileira! O mercado está bem! A não ser, as gaiolas de grande volume, que cada vez mais organizado, nossas associações estão sempre me chamaram muita atenção. Projetos que cada vez mais preparadas para romper alguns marcos fazem 30 mil toneladas e tenham despesca de 80 regulatórios, de legalização ambiental. Temos pacote toneladas/dia de tilápia. As gaiolas de grande volume tecnológico definido para algumas espécies, em nos trazem uma possibilidade muito interessante de particular para tilápia. E temos um mercado muito produção em grandes volumes e isso poderia ser cada interessante para explorar, tanto interno quanto externo vez mais utilizado aqui no Brasil. Seria esta, portanto, a com a tilápia. Além, obviamente, do camarão marinho, única consideração. um produto de altíssimo valor agregado, que se um grupo tiver poder de investimento, com as tecnologias AQUACULTURE BRASIL: Um recado para os estudantes hoje de modelos fechados e mais biosseguros, de da área de aquicultura no Brasil... altíssima produtividade, existem ótimas oportunidades e possibilidades de retorno sobre o investimento. Como Rodrigo Zanolo: Vou deixar um recado da área exemplo, vemos os diferentes grupos e cooperativas, comercial. Quando se é técnico ou estudante, muitas que quando fazem um trabalho profissional tem vezes se está sempre olhando para a possibilidade de se destacado e crescido financeiramente, com trabalhar como técnicos, como gerentes de produção, rentabilidades muito interessantes.
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de carpas, produtores de peixes para comercialização em feiras, para pesca esportiva entre outros. Porém, a aquicultura com a missão de colocar proteína no mercado, com uma população que cresce a cada dia, sem dúvida que o foco está em poucas espécies com pacote tecnológico bem definido.
Geraldo Kipper Fóes Demorou para o Prof. Dr. Geraldo Fóes ser o homenageado desta seção, afinal, trata-se de uma das figuras mais queridas, simpáticas e comprometidas da aquicultura brasileira! Bem-vindo Geraldão! Sem dúvida, nossos leitores agradecem imensamente a sua participação!
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Mais de 2 décadas de aquicultura... “Desde o período da minha graduação no Curso de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), na cidade do Rio Grande, RS, tinha interesse na área aquícola e estagiei no Laboratório de Carcinocultura, no qual era responsável o Professor Marcos Marchiori, que hoje não se encontra mais entre nós. Após me formar, retornei à minha cidade natal, Paranaguá, PR, com o objetivo de lá permanecer. Paranaguá é uma cidade localizada na Baía de Paranaguá, a segunda maior do Brasil e com uma riqueza biológica incalculável. No início de 1996, através de uma indicação do Professor Antônio Ostrensky, da Universidade Federal do Paraná, comecei a trabalhar na Fazenda Borges, a qual operava na época com as espécies nativas Farfantepenaeus paulensis e Litopenaeus schmitti. Nesse período casei com minha esposa Verônica e em seguida nasceu nossa filha Verena. No momento a Verena estuda Biologia e é estagiária no Laboratório de Piscicultura Marinha e Estuarina da FURG. “Por enquanto, a fruta está caindo próxima a árvore”. Experiência na Fazenda YAKULT/UFSC “Quando eu saí da Fazenda Borges, em 1999, fui convidado para trabalhar na Fazenda Experimental Yakult pelos Professores Edemar Andreatta e pelo saudoso Elpídio Beltrame, fazenda esta pertencente à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nessa época, a espécie cultivada já era o Litopenaeus vannamei. Como essa é uma “Fazenda Escola”, tive oportunidade de auxiliar em vários trabalhos científicos e também em treinamento de alunos e estagiários da iniciativa privada. Com isso, além da necessidade de aumentar o conhecimento, aprendi a didática para conviver e repassar conhecimentos para os alunos daquela Instituição e de outras”.
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Família Fóes : esposa Ve Verena e Ge rônica, a filha raldo
A pós-graduação “Em 2006 entrei no Mestrado em Aquicultura, na FURG. O Professor Mano foi meu orientador e meu experimento foi a utilização de berçário e engorda de L. vannamei. Além do mestrado, eu o auxiliei em outros serviços, tais como manutenção das instalações, projetos construtivos e licenciamentos ambientais de empreendimentos aquícolas, pesquisas por demanda, produção de pós-larvas de espécies nativas, entre várias outras atividades. Em 2008 entrei para o Doutorado em Oceanografia Biológica, também na FURG, também orientado pelo Professor Mano, com o tema desta vez sendo a utilização do Sistema de Bioflocos para o camarão-rosa F. paulensis. Concluí o Doutorado no final do ano de 2011. De 2011 até o momento do concurso, em 2017, fui bolsista de Pós-Doutorado”.
Prof. Man o e Gerald o
Experiências nacionais e internacionais “A vida acadêmica me deu oportunidade de fazer viagens às quais não imaginaria ocorrerem em minha vida. Por exemplo, já fiz três viagens para os EUA, participando de Congressos e visitas a Centros de Pesquisa. Tive a oportunidade de participar de um Congresso sobre Sistema de Bioflocos no Vietnã, com os maiores especialistas mundiais do assunto. Participei de congressos no Equador, Colômbia, viagens para Uruguai e Argentina. Além de conhecer vários estados brasileiros. Devo isso ao Programa de Pós Graduação em Aquicultura e ao Projeto Camarão da FURG, no qual faço parte e contribuo com meus serviços”. Dia a dia “Desde o ano de 2017, sou professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande. Faço parte do Programa de Pós Graduação em Aquicultura, como professor e pesquisador e dou aula para os Cursos de Graduação em Oceanologia e Biologia. Trabalho junto ao Laboratório de Carcinocultura em pesquisas relacionadas a cultivos semi-intensivos, intensivos e superintensivos tanto de espécies nativas (F. paulensis e F. brasiliensis) e principalmente com o L. vannamei. Além disso, trabalhamos com projetos de implantação de empreendimentos, licenciamento ambiental e pesquisas sob demanda para a iniciativa privada e órgãos públicos. O nosso Laboratório possui várias salas experimentais, três estufas de produção e mais nove viveiros escavados revestidos. Conta também com sala de maturação de camarões, sala de desova, setor de larvicultura, sala de produção de fitoplâncton, de Artemia e laboratórios anexos”.
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Do setor produtivo para a academia “No ano de 2004 fui trabalhar em uma fazenda no litoral norte de Santa Catarina. No final daquele ano, houve o aparecimento do vírus da mancha branca no sul do Estado. A doença se manifestou no local em que eu trabalhava em meados de 2005. Tentamos por vários meses operar a fazenda mudando técnicas de preparo de solo e água e reduzindo as densidades. Tudo em vão... Então, casado e pai de família, fiquei desempregado, como também muitos outros colegas e trabalhadores. Eu digo que somos os “órfãos da mancha branca”, pois a atividade simplesmente foi varrida do mapa naquele Estado. Fui então convidado pelo Professor Wilson Wasielesky Jr. (Mano), que tinha sido meu colega na graduação a auxiliá-lo, através de uma bolsa de trabalho no Laboratório de Carcinocultura do Instituto de Oceanografia da FURG. Assim recomeçou minha vida acadêmica. Minha entrada tardia na Pós Graduação me trouxe dificuldades e vantagens. Dificuldades, pois tive que trabalhar ao mesmo tempo em que estava estudando. Porém, a idade nos dá uma visão mais nítida dos problemas. A forma de tentar resolver uma dúvida, que acaba sendo o questionamento principal da pesquisa e a maneira de solucioná-lo ficam mais simples de serem entendidos, para assim responder da melhor maneira possível. Para o ingresso como professor na FURG, depois de um longo período me preparando e fazendo outros concursos, houve uma luta feroz, pois estava rodeado de colegas extremamente inteligentes e tão ou mais preparados que eu”.
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Geraldo Kipper Fóes Próximos passos... “Minha tarefa principal será disseminar os conhecimentos adquiridos, através do Ensino, Pesquisa e principalmente pela Extensão, que será reverter este conhecimento adquirido para a sociedade, honrando o que ela nos repassa em recursos através dos impostos pagos e que são utilizados em nossas pesquisas. Espero também conseguir repassar essa mistura de conhecimento teórico com a minha experiência profissional que obtive trabalhando em empreendimentos aquícolas por mais de 10 anos”.
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Como você vê a aquicultura brasileira daqui há 30 anos? “Eu a vejo muito mais intensificada, principalmente em pequenos empreendimentos, próximos a centros urbanos. Imagino também bastante tecnificada, com várias espécies sendo cultivadas ao mesmo tempo, aproveitando o chamado “efluente” como uma fonte alimentar para esses organismos. Acredito também que seremos grandes exportadores de tilápia e grandes exportadores dos peixes amazônicos. Nós possuímos 10 % da água doce da Terra e uma costa marítima com 8.000 km de extensão. Nosso destino é sermos um dos maiores produtores mundiais de produtos aquícolas, disso não tenho a menor dúvida!”. E onde encontraremos o Geraldão daqui há 30 anos? “Se Deus quiser, vivo!!! Provavelmente, me encontrarão em um cantinho à beira mar, preparando meu material de pesca para o dia seguinte! É isso que para mim seria o ideal para o final de carreira!”
Saudações Aquícolas a todos!!!
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Ano passado publicamos um “despescou” digamos “caseiro”, a partir dos resultados da Fazenda Rollin, uma de nossas propriedades de produção de camarões marinhos, localizada em Laguna (SC). Algumas edições depois, chegou a vez de mostrar uma parte dos resultados da Fazenda Lampião, vizinha à Rollin, nossa mais nova aposta. Importante destacar que os números abaixo são resultado da dedicação e comprometimento do time de sócios e colaboradores, uma verdadeira equipe de ouro!
Fazenda:
Lampião
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Data do povoamento: 10/10/2018 Quantidade de PL estocadas: 510.900 Área: 3,72 ha Densidade: 13,73 cam/m² Data da despesca: 16/01/2019 Dias de cultivo: 98 Peso final : 16,74 g Biomassa final: 6.937,3 Kg Produtividade: 1.864,86 Kg/ha Sobrevivência: 81,11% Total de ração: 5.758,69 Kg Conversão alimentar: 0,83:1
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e Diego, sócios Sorriso, GiovanniLa da Fazenda mpião
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