Aquaculture Brasil - 3ª Edição.

Page 1

3

EDIÇÃO

aquaculturebrasil.com

novembro/ dezembro 2016

ISSN 2525-3379

Exemplo para o Brasil:

Integração universidade e empresa impulsiona a criação de atum


A melhor solução nutricional para camarões Chegou ao Brasil a linha de produtos mais completa para a nutrição de camarões. Produtos e serviços inovadores com qualidade e tecnologia mundial Skretting. www.skretting.com.br

2

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


BEM-VINDO!

2017 Feliz ano novo!

São os votos da equipe Aquaculture Brasil!

www.aquaculturebrasil.com

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

3


Editorial a FENACAM 2016, realizada entre os dias 21 a 24 de D urante novembro em Fortaleza (CE), gravamos uma série de entrevistas com a todos referia-se às suas perspectivas para a aquicultura brasileira em 2017. É impossível que todos estes especialistas tivessem ensaiado a mesma resposta. Um otimismo absoluto sobre o crescimento, recuperação de algumas culturas e consolidação da aquicultura nacional. Sabe quando o treinador determina o que seus jogadores devem falar para a imprensa nas entrevistas coletivas? Pois é, até pareceu isto. Mas não foi! As respostas eram dadas com aquele brilho no olhar, de quem acredita na aquicultura brasileira. O resultado destas entrevistas será divulgado a partir de janeiro de 2017 no portal online da AQUACULTURE BRASIL e também em nossas mídias sociais.

Paulo é um exemplo. Os frutos desta nova fase de maior sintonia entre os diferentes elos da cadeia produtiva aquícola brasileira serão despescados nos próximos anos. Aliás, já em 2017, cerca de 1.840 toneladas de peixes serão despescadas por dia no Brasil. Enquanto você lê este editorial, mais um tanque-rede foi “pescado”. Algumas pessoas nos perguntaram o porquê do nome AQUACULTURE BRASIL . A ideia, entre outras, é mostrar a aquicultura brasileira para o mundo. Inclusive, dois artigos desta edição serão disponibilizados integralmente em inglês no nosso portal online. Neste sentido vem muito mais novidades por aí... Por outro lado, também se faz necessário trazer informações relevantes e conhecimento técnico de outros países. Há muito o que se aprender “lá fora”. O resultado é o nosso artigo de capa. Integração universidade e setor produtivo no México. Uma das grandes lutas da PeixeBR (Associação Brasileira de Piscicultura) e atualmente questão essencial para o Brasil. As últimas palavras do último editorial de 2016 são de gratidão. Aproveito para agradecer a todos que acreditaram em nosso projeto, no portal online da AQUACULTURE BRASIL , em nossas mídias sociais, nos nossos cursos online e ao vivo, e em nossa revista. Obrigado de coração aos leitores, assinantes, colunistas, autores de artigos e de outras seções. Um agradecimento especial também às empresas parceiras. Sem vocês, nada disto seria possível. Um excelente 2017 a todos!!

Giovanni Lemos de Mello Editor

4

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Fala Gringo! uma retrospectiva da FENACAM 2016 F azendo (Feira Nacional do Camarão), em frente ao mar

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!

na Praia de Iracema (CE), consegui perceber a

EDITOR:

Como uma pequena molécula de RNA ou DNA pode nos impactar tanto? E como em tudo, o problema é dos outros até que vivenciamos na nossa própria pele. A FENACAM 2016 foi uma verdadeira festa de energia e motivação. Filas para obter informações nos stands sobre kits de análise de água, suplementos alimentares, geomembranas, aeradores, mangueiras micronizadas, blowers, etc. Raceways até uma grama (peso do juvenil de camarão marinho)

redacao@aquaculturebrasil.com

Giovanni Lemos de Mello

asiático? Intensivo moderado ou superintensivo? Larva livre? Larva robusta ou de crescimento rápido? A importância da temperatura e da alcalinidade. Pequenos pensando no manejo de fases. No fundo, tudo depende do tamanho do seu bolso e da sua capacidade de execução técnica, mas também de sua motivação. E o que não faltou na FENACAM 2016 foi motivação. O primeiro da fase moderna da carcinicultura marinha brasileira, o IMNV, me atingiu no ano de 2003. Pegou-me trabalhando no programa de melhoramento genético de uma grande empresa do setor, vendida na sequência a uma multinacional da genética de suínos. Voltei para o Sul visando terminar meu doutorado e assumi a gerência de produção de um importante e recentemente construído laboratório de produção de larvas, separando diferentes populações, e motivado no desenho de um pequeno programa de melhoramento local. O segundo vírus letal chegou arrasador em 2004: o WSSV. Esse aí me fez perder a casa. O IMNV tinha reduzido a mão de obra especializada no Nordeste. A crise de dumping americano e a falta de mercado interno hoje consolidado, somado a vários problemas pessoais que me ataram ao Brasil. Sofri. e em função do plano de expansão das Universidades do Governo Lula (REUNI), me candidatei a pesquisador e professor universitário. O atual Marco Legal de Ciência e Tecnologia permite e estimula professores universitários a ter relações estritas e parceria com empresas privadas. Uma saída do governo para a crise do orçamento em pesquisa e educação. Sobrevivi, outros, morreram. Depende da quantidade de matéria orgânica acumulada em nossa inspiração. Muitos de vocês passaram por situações semelhantes à minha,

COLABORAÇÃO:

Jéssica Brol jessica@aquaculturebrasil.com GERENTE COMERCIAL:

Diego Molinari diego@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO DE ARTE:

Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aedrian Ortiz Johnson, Alex Augusto Gonçalves, Artur N. Rombenso, Danilo Alves Pimenta Neto, David S. Francis, Denise Aparecida Andrade de Oliveira, Felipe Matarazzo Suplicy, Fernando Barreto-Curiel, Gabriel Fernandes Alves Jesus, Giovanni M. Turchini, Jessica A. Conlan, Jorge Chávez Rigaíl, Jose A. Mata-Sotres, José Luiz Pedreira Mouriño, Karen Hermon, Katt Regina Lapa, Lilian Viana Teixeira, Marco Shizuo Owatari, Maria T. Viana, Matthew Jago, Maurício Laterça Martins, Michael Lewis e Thomas Mock. Os artigos assinados e imagens são de responsabilidade dos autores. COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores.

QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com QUER ASSINAR? aquaculturebrasil.com/assinatura assinatura@aquaculturebrasil.com QUER COMPRAR EDIÇÕES ANTERIORES? aquaculturebrasil.com/ediçõesanteriores NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:

COAN gráfica LTDA. / coan.com.br

Av. Tancredo Neves,300, Tubarão/SC, 88704-700.

Motivação e empreendedorismo é importante, porém, com o pé Como a AQUACULTURE

BRASIL . Rodolfo Petersen Co-Editor AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379). www.aquaculturebrasil.com

Av. Senador Galotti,329, Mar Grosso, Laguna/SC, 88790-000.

A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros.

5


Bem-vindo É

com grande prazer que escrevo esta nota para a terceira edição da AQUACULTURE BRASIL. Quando recebi o convite do editor

gostaria de dar boas-vindas aos novos leitores e agradecer a todos leitores, autores e colaboradores da nossa revista. Atualmente existe muita informação disponível sobre todos os temas, e autêntico e o que é equivocado. É nesse contexto que surge um dos objetivos da AQUACULTURE BRASIL: complementar as fontes de informação atualmente área, empresas, empreendedores, ou seja, todos do setor aquícola sem nenhuma restrição, através de um conteúdo relevante, autêntico, inovador e didático, mas sem competir com outras revistas e jornais aquícolas. Nossa equipe (colunistas, autores e equipe editorial) compartilha da visão e opinião de que é importante o envolvimento do leitor de tal maneira que sinta estar adquirindo o valor e o conhecimento do conteúdo de nossa revista. Após a leitura de um artigo esperamos respostas como: “Bem interessante, preciso tentar isso”, “Vou buscar mais sobre esse assunto”, “Agora entendo como isso funciona”, “Essa abordagem poderia ser implementada no meu campo de trabalho” ou “Isso poderia aprimorar meu sistema economizando tempo e dinheiro”. Nessa terceira edição esperamos superar sua expectativa através de artigos e informações originais de diversos segmentos aquícolas, numa apresentação clara e bonita, e também com novas seções. Em caso de dúvida, comentário ou sugestão, peço que nos contate através de nossos e-mails pessoais ou da equipe editorial. Ideias para temas de colunas e artigos são sempre bem-vindas, e também encorajamos você a interagir e a colaborar com a AQUACULTURE BRASIL através das seções “Foto do Leitor”, “Pescado no Varejo”, “Defendeu”, “Artigos”, entre outras. Queremos e publicamos nossa revista.

AQUACULTURE BRASIL nasceu em um ano de profunda crise econômica e política em nosso país, e que nesses períodos de crise muitas vezes surgem novas ideias e soluções para AQUACULTURE BRASIL

em contribuir com todos os leitores, principalmente na atual realidade brasileira que precisa ser enfrentada com amplo conhecimento. Aproveito também para desejar a todos um Natal repleto de alegrias e um Novo Ano de muitas realizações. Boa leitura! Artur Nishioka Rombenso Co-Editor

6

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Opinião Desafios e superação: as palavras para 2017!

Q

ue a vida do aquicultor brasileiro não é fácil, isso já sabemos.

2016 foi atípico, particular e de muitas batalhas. O aquicultor tupiniquim vivenciou o aumento de diversos insumos utilizados na no Nordeste, tempestades torrenciais no Sudeste e até ciclones no Sul. Aqui no nosso querido Sul, por exemplo, foram mais de três episódios de ventos ultrapassando 120 km/h em menos de 45 dias! Cidades inteiras sem luz por dias e até nossa sofrida estufa experimental da UDESC, construída com muito suor, veio abaixo. São Pedro anda maluco lá em a exemplo do vírus da mancha branca que devastou a carcinicultura no Ceará. Não bastasse, bacterioses nas tilápias deram as caras em diversos estados e ainda endoparasitoses em peixes redondos não foram fatos isolados no Norte brasileiro. Nossa! Quanta coisa num só ano. tecnológica para vencer as doenças. Superação frente à crise hídrica. Superação econômica frente à recessão (aqui vale um parêntese: encontrar novos nichos de mercado e colocar todos os custos de produção minuciosamente na ponta do lápis serão tarefas contínuas para o aquicultor). Não prática, para empreendimentos pequenos, com áreas menores de 5 hectares?). Sem falar do tema mais que polêmico: a liberação da importação do camarão da Argentina. É meus amigos... temos que respirar fundo. Mas tenho a mais absoluta convicção que 2017 será um “divisor de águas”. Ano de nos reinventarmos e aprender com as lições do passado. Sou otimista. Sempre serei. Tenho certeza que será um ano de muito progresso para a aquicultura nacional! Feliz 2017 a todos!

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Co-Editor

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

7


SUMÁRIO AQUACULTURE BRASIL

10 FOTO DO LEITOR 12 MÉTRICAS DA FANPAGE 14 Soft Crab a partir do Callinectes sapidus : um oportunidade de mercado 22 NOVO PLANO ESTRATÉGICO POSICIONARÁ A MARICULTURA CATARINENSE PARA UM CICLO VIRTUOSO DE DESENVOLVIMENTO 28 Estudos nutricionais na deakin university

» p.14

34 HISTÓRIA, MITOS, VERDADES E DICAS EM ÉPOCAS DE MANCHA BRANCA 40 3 O high quality tilapia congress: desafios e oportunidades da aquicultura no brasil

» p.22

» p.28

42 INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE E EMPRESA IMPULSIONA Avanços nutricionais na CRIAÇÃO DE ATUM 48 mÍDIAS BIOLÓGICAS PARA SISTEMAS DE RECIRCULAÇÃO EM AQUICULTURA (ras) 52 avaliação da substituição da biomassa natural utilizada na alimentação de reprodutores de camarão ( LITOpenaeus vannamei ) pela dieta vitalis 2.5 da skretting

» p.34

» p.40

60 A fraude em pescado e o método de dna barcode para identificação de espécies 64 artigos para curtir e compartilhar

8

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


» p.84

65 charGes

» p.86

66 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 68 GREEN TECHNOLOGIES 69 empreendedorismo aquícola 70 nutrição 72 atualidades e tendências na aquicultura 74 aquicultura latino-americana » p.42

76 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 77 RANICULTURA 78 Aquicultura de precisão 79 Piscicultura MARINHA 80 TECNOLOGIA DO PESCADO

» p.48

82 SANIDADE

» p.52

84 defendeu 86 entrevista - Dr. Tzachi Samocha 91 NOVOS LIVROS 92 eles fazem a diferença 96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS » p.60

98 Pescado no Varejo - apresentando o pescado para o consumidor final

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

9


FOTO DO LEITOR Captura e engorda de atum (Algarve, Portugal) Autora: Jéssica Brol

Pesquisas com aquaponia (Laguna, SC) Autora: Tayná Sgnaulin

Mamãe camarão (Paraipaba, CE) Autor: Augusto César Bernardo de Albuquerque

10

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Comporta 4 em 1 (Parazinho, RN) Autor: Alessandro Ferreira

Despesca de tambaqui (Macapá, AP) Autor: Paulo Roberto Melem

Alimentando tilápias no doutorado (São Carlos, SP) Autor: Renato Almeida

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.

redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

11


Métricas d Cooperativa no Ceará produz biodiesel a partir de resíduos de peixes

8.201 Pessoas alcançadas 12 comentários 102 compartilhamentos 395 curtidas 1 amei 1 uau

24 de Setembro

14 de Setembro

Saiba como criar o pirarucu em tanques artificiais

14.895 Pessoas alcançadas 23 comentários 119 compartilhamentos 696 curtidas 13 amei 16 uau

Fonte: my.oceandrop

12

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

5.789 Pessoas alcançadas 18 comentários 79 compartilhamentos 301 curtidas 11 amei 5 uau

Microalgas: é de comer? Os segredos desse superalimento! .

Betinho Oliveira, da FishTV .

www.facebook.com/ aquaculturebrasil

21.047 Pessoas alcançadas 28 comentários 95 compartilhamentos 712 curtidas 19 amei

26 de Setembro

curta-nos no facebook:

21 de Setembro

Fonte: globo.com


da Fanpage 5.802 Pessoas alcançadas 47 compartilhamentos 313 curtidas 4 amei 1 uau

11.372 Pessoas alcançadas 19 comentários 61 compartilhamentos 517 curtidas 11 amei 90 HaHa

22 de Outubro

Reportagem: Como criar pintado-real?

01 de Outubro

9.900 Pessoas alcançadas 29 comentários 96 compartilhamentos 576 curtidas 12 amei 1 uau

..

Dica de terça: Preciso saber o pH do solo do meu viveiro, e agora?

11.357 Pessoas alcançadas 44 comentários 65 compartilhamentos 726 curtidas 19 amei 2 uau

Em breve, nas suas mãos!!

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

.

6.944 Pessoas alcançadas 4 comentários 56 compartilhamentos 312 curtidas 5 amei 1 uau

21 de Outubro

Fonte: globorural.com

27 de Setembro

26 de Setembro

II Seminário da Rede de Pesquisa do Camarão-daAmazônia

Charge do @nicanor Aproveitamento Integral de Pescado?

13


© Blueshell Brasil

14

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Soft crab a partir do Callinectes sapidus: uma oportunidade de mercado

Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC), Departamento de Ciências Animais (DCAN) Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) alaugo@gmail.com

Introdução crustáceos são cobertos por um O srígido exoesqueleto, ou cutícula, que

nova carapaça mole, e cresce dentro do seu novo corpo. Este momento em que o siri consiste num complexo quitina–proteína emerge da sua antiga carapaça é conhecido ou ou, impregnada por cálcio, que age como uma como (siri mole). [8, 15, barreira física ao meio ambiente, e para o animal crescer, é necessária a troca deste 21, 22, 30] exoesqueleto. A ecdise, ou seja, a troca do A facilidade relativa com que os exoesqueleto é feita periodicamente durante a vida da maioria dos artrópodes, in- siris podem trocar de exoesqueleto e o cluindo os crustáceos. O período de uma alto valor comercial do siri mole tem auecdise à outra é conhecido como ciclo de . [22] se da produção mundial de muda. [28] O método convencional da retirada de O portunídeo, Callinectes sapi- carne do siri apresenta um baixo rendidus , conhecido vulgarmente por siri-azul mento: 10-15% de carne fresca. A partir pode-se conseguir até 85(Figura 1), é um crustáceo de grande im- do portância comercial, ocorrendo desde 95% de aproveitamento da carne e por a nova Escócia (EUA) até o Rio da Prata este motivo seu cultivo vem crescendo (Uruguai) e o norte da Argentina. [3, 14, 20, 23, desde a década passada. A produção e 25, 35] Como todos os crustáceos, o siri-azul comercialização de (por exemplo, troca seu exoesqueleto pelo menos 18-20 vezes (fêmeas) e de 20-25 vezes (machos) vas no comércio mundial de pescado. [22, 23] ao longo de sua vida para crescer. O siri mole desprotegido, emerge, expande sua

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

15


Figura 1. Siri-azul, Callinectes sapidus (www.paleospirit.com).

Sistemas de cultivo do siri mole

Para a produção do crab deve-se tomar cuidado com o adequado suprimento de siris, todos no estágio de pré-muda, com o método de captura, sendo que um sem o outro poderá limitar a produção. Os siris são coletados em diferentes locais, separados por sexo (as fêmeas são descartadas) e transportados para os tanques de cultivo. Nesta etapa, os siris são separados manualmente, de acordo com o estágio de muda (Figura 2, 4) e colocados nos tanques até o momento da ecdise (muda). [9, 15, 18, 21, 33]

São utilizadas, hoje em dia, Entretanto, o custo de três diferentes maneiras de culti- construção e manutenção do sistema fechado de água pode ser grande. Além da necessidade contínuo de água e sistema de cir- do controle dos resíduos tóxicos culação fechada de água (Figura liberados pelos siris. [16,17,32] O siste3). O sistema mais utilizado é o ma de circulação fechada deve de circulação fechada oferecendo manter a qualidade da água em vantagens sobre os demais com níveis aceitáveis (Tabela 1) para que relação ao monitoramento dos fa- a operação de cultivo de tores ambientais: a salinidade pode seja feita com sucesso.[9,10,11,15,21,24,33] ser mantida a níveis constantes; a temperatura pode ser controlada nas diversas estações do ano; pode ser utilizada em qualquer local; etc. [7,22,31]

© Alex Augusto Gonçalves

[7]

16

.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


© Alex Augusto Gonçalves

[7]

.

Tabela 1. Níveis aceitáveis da qualidade de água no sistema de recirculação fechada de água para o cultivo de

.

[11,12,13,22]

Identificação do estágio de muda Os siris azuis na pré-mu-

semanas. Com o tempo de muda mais próximo, a linha indicadora inspeção visual. O método mais mudará de cor gradualmente, sen utilizado envolve uma mudança do que a linha rósea indica que o de coloração associada à formação siri mudará em uma semana; e a de uma nova carapaça. Estas mu- linha avermelhada, indica que o danças de coloração também in- siri mudará em três dias. [7,22,30] dicam o tempo até a muda. Assim que a muda se aproxima, o O último estágio da novo exoesqueleto do siri começa pré-muda é reconhecido pela a se formar e torna-se visível por condição física do exoesqueleto baixo do exoesqueleto duro. Este duro e não por um sinal colori novo exoesqueleto é mais visível, do. Uma ruptura desenvolve-se com uma linha (sinal) ao longo por baixo dos espinhos laterais e da extremidade dos últimos dois ao longo da extremidade posterisegmentos achatados do último or da carapaça. Neste ponto, o siri pereiópode, em forma de remo lar- é denominado buster e inicia-se a go (Figura 4).[21,22] muda propriamente dita, que pode ser completada em 2-3 horas, deNos estágios que precedem pendendo das condições do siri. a muda, a linha é branca, indi- Assim que a ecdise tenha iniciado, cando que o siri mudará em duas 15 a 30 minutos são necessários

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

para sair de sua antiga carapaça. Neste ponto, o siri é extremamente mole e frágil (Figura 5). Outros 30-60 minutos são requeridos para o expandir ao máximo, ou seja, o siri absorve água (incha) para aumentar de ta manho. Após atingir seu novo tamanho inicia-se o enrijecimento, sendo que sua nova carapaça se tornará rígida em 12 horas. O siri então começa a comer e adicionar peso dentro da nova carapaça. Entretanto, uma vez removido da água, o processo de enrijecimento cessa, devendo ser retirado em uma hora após a absorção de água e após a completa expansão. Caso contrário, o processo de enrijecimento continua, causando danos à [7,22,30] qualidade do

17


© Alex Augusto Gonçalves

(Sequência da esquerda para direita: mid-cycle, white sign, pink sign e red sign)1.

Produção e mercado Os são considerados como um item alimentar altamente valioso e, com isso, o desenvolvimento de tecnologias de cultivo, com sucesso, tem encorajado a expansão desta indústria. Muitos dos estados americanos localizados na costa do Atlântico Sul e Golfo do México expandiram o cultivo de devido ao retorno econômico, à grande demanda e o esforço promocional do mesmo. [21,22,27]

longo da costa leste dos EUA (da Baía de Chesapeake até Texas), fornecendo milhões de toneladas de e ainda milhões de dólares para os criadores a cada ano, sendo que Maryland, Virginia e Louisiana são os maiores produtores. [2,21,22,32]

para avaliar o potencial das regiões ao redor da Lagoa dos Patos e sistemas lagunares, para o estabelecimento de uma pesca direcionada ao siri-azul (C. sapidus). Este concluiu que deveria ser dada maior ênfase no desenvolvimento da indústria de carne de siri tradicional, A produção comercial de por ser mais fácil e exigir pessoas no mercado nacional não sem experiência e, posteriormente existe, talvez pela falta de mão-de- a produção de , que requer obra especializada e/ou a falta de mais experiência e treinamento na interesse por parte das indústrias coleta, manuseio e durante a muda processadoras de pescado. Alguns do siri. Algumas iniciativas de A indústria do empreendimentos iniciaram já na processar carne de siri foram feitas década de 90, porém, experimen- no início da década de 90, mas hoje (EUA) no ano de 1870, e atualmente talmente. Em 1989, Michael J. Os- o cenário é outro. é uma indústria multimilionária ao terling [18,20] visitou o sul do Brasil,

© Alex Augusto Gonçalves

Figura 5. Sequência do processo de muda AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 18 (http://azharzul.com/auuww-ketam-lembut.html).


Processamento Os siris azuis são comercializados de cinco formas: fresco inteiro, cozidos inteiros, carne fresca picada, carne pasteurizada pica [29,34] da e na forma do Os são removidos do tanque de cultivo, limpos individualmente (Figura 6), sendo que o fronte (rostrum), as brânquias, os pedúnculos

rada da carne manualmente, além cuidados especiais durante o pro de necessitar cuidados higiêni - cessamento do siri: co-sanitários, o rendimento é muito baixo (10-15%). A carne é vendida fresca ou congelada, e ( a ) Condições sanitárias no pasteurizada, para aumentar sua setor de retirada da carne; vida-de-prateleira. Com isso, a comercialização deste produto ( b ) O processo de cozimento e pode ser feita durante 6 a 12 meses. pasteurização; As pinças ou quelas dos siris de- ( c ) Integridade da embalagem; do intestino, e o abdômen, devem vem ser picadas manualmente ou ser retirados antes de embalados e por máquinas, embaladas e vendi - ( d ) Controle de tempo/temacondicionados em freezer.[22,26,29] das frescas ou pasteurizadas.[23,29,34] peratura. [23,29,34] O destinado à exportação (vivos) deve ser apenas resfriado, O siri azul nunca é conIndústrias comerciais de embalado sob refrigeração (gelo), sumido fresco, cru (in natura), “carne de siri” contam com 10coberto com algas marinhas, e pois carrega muitas bactérias na 15% de rendimento, sendo que os comercializado. cavidade visceral, podendo causar demais 85-90% (carapaça, víscera doenças ao homem, quando con - e carne não picada) são moídos e O processamento tradi- sumido sem um tratamento térmi- adicionados ao alimento (ração cional do siri azul envolve a reti- co (cozimento prévio). Deve haver animal). [7]

© Alex Augusto Gonçalves

Va l o r nutricional A carne de siri tem aproximadamente 80% de umidade, 16% de proteína e há poucos dados publicados dos constituintes nutri cionais de , mas sabe-se que o conteúdo de proteína destes (Tabela 2) é menor do que ohard crab, devido a pequena proporção de tecidos musculares. A perda de proteína é balanceada pelo aumen to do conteúdo de água, a qual é ati vamente absorvida para a expansão na nova muda. Há também mais cinzas resultante da alta proporção de tecido destinado a elaboração do novo exoesqueleto. Quanto ao conteúdo lipídico, não há diferença [24]

embalado.[7]

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

19


Tabela 2. Composição centesimal do siri azul nas formas

e hard .

Marketing e consumo do soft crab maneira temos: Mediums (34,0253,87 g); Hotels (53,87-73,71 g); Primes (73,71-85,05 g); Jumbos (85,05-150,26 g); eWhales (superior a 150,26g). [22]

do à comercialização de outras formas, sendo o congelado (-17,7°C) o mais utilizado, pois mantém sua qualidade por 6-8 meses, sendo que a embalagem, a limpeza e o congelamento individual deterOs vivos estão minarão sua qualidade. [19,21,22,30] A associados ao seu grau de fres- prática comum do varejo é estocar cor, e com isso o produto vivo o pré-embalado congelatem alto preço, o que tem levado do (-18°C) ou fresco (4,2°C). ao aumento desse tipo de comercialização. Se mantido sob-rePodem ser processados de frigeração (4,4°C), possui uma diversas maneiras, tais como: emvida-de-prateleira de aproxima - panado e frito, temperado e cozido, Enquanto que os damente 7 dias. Entretanto, como e na forma de bolinhos com os têm sido comercializados tradi- o pico de produção de é crabs cionalmente pelo tamanho, há determinado pela estação do ano tre outros. [4] (Figura 8). um grande interesse em comer- (primavera-verão), a necessidade cializá-los pelo peso. Da mesma de preservar este produto tem leva-

O , da mesma maneira que muitos outros produ tos marinhos são comercializados por dúzias, e não pelo peso, e ainda são distribuídos por tamanho. Nomes tradicionais são designados de acordo com os diferentes tamanhos: Mediums (8,9-10,2 cm); Hotels (10,2-11,4 cm);Primes (11,4-12,7 cm); Jumbos (12,7-14 cm); e Whales (>14 cm). Os mais comercializados são os mediums e hotels. [5,21,22]

© Giovanni Lemos de Mello

20

Figura 7.

prontos para comercialização. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


© Blueshell Brasil

Figura 8. Algumas formas de preparo do

Conclusões O siri azul (Callinectes sapidus) é um crustáceo de grande importância comercial, porém em sua forma fresca (hard crab ) apresenta baixo rendimento, pelo método convencional de aproveitamento da carne (apenas 15 a 30%), enquanto que com o pode-se conseguir até 85 a 95% de rendimento. A captura do poderá representar uma impor tante fonte de recursos extras para o setor pesqueiro, desde que se res-

Shedder, Maryland (USA), 1(1): 1-4, 1985. 11. HOCHHEIMER, J. Water quality in crab shedding - Part II. Optimal ranges for good water

1. BLUE CRAB INFO – Blue Crab Archives. Disponível em: http://www.bluecrab.info/ siana Sea Grant College Program, 1993. 3. CASTRO, K.M. et al. Resource assessment of Res., 7(3): 413-419, 1988. Inc., 1996.

(Perry, H. M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA),1985. cean molt cycle and hormonal regulation: Its Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 7. GONÇALVES, A. A. Utilização de siri mole: uma oportunidade. Revista Aquicultura & Pesca, 32: 36-42, 2008. 8. HALL-JÚNIOR, W. R. Delaware’s blue crab. Marine Advisory Service Bulletin, Delaware (USA), 1989. 9. HOCHHEIMER, J. Water quality conversation Series, Maryland (USA), 1: 1-7, 1985. 10. HOCHHEIMER, J. Water quality in crab shedding - Part I. What is good water quality?

peite a época de captura da espécie. devido à facilidade de obtenção, à grande demanda e, principalmente O sistema de cultivo ao retorno econômico. mais indicado é o de circulação fechada de água, oferecendo alA produção nacional de gumas vantagens com relação crab ainda que artesanalmente (não aos fatores ambientais: a salini- existe comercialmente), talvez pela dade pode ser mantida a níveis falta de mão-de-obra especializada constantes; a temperatura pode e/ou a falta de mercado consumiser controlada nas diversas es- dor e interesse por parte das intações do ano; pode ser utilizada dústrias processadoras de pescado, em qualquer local; dentre outras. pode se tornar promissora, princi Existe um mercado no exterior palmente pelas vantagens oferecipara este produto e a produção das pelo cultivo, processamento e mundial está em plena expansão comercialização deste crustáceo.

-

1986. shedding. Crab Shedders Workbook Series, Maryland (USA), 2: 1-6, 1988(a) 13. HOCHHEIMER, J. Diluting water quality sambook Series, Maryland (USA), 3: 1-3, 1988(a). Options and Opportunities. Baton Rouge (USA): Louisiana Sea Grant College Program, 1992. 15. MALONE, R.F.; BURDEN, D.G. Design of recirculating blue crab shedding systems. Baton Rouge (USA): Louisiana Sea Grant College Program, 1988. 16. MALONE, R. F.; MANTHE, D. P. Chemical

Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 17. MANTHE, D.P.et al. Elimination of oxygen used in closed recirculating aquaculture systems. Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. crab Industry: Sources and Solutions. Gloucester Point (USA), Virginia Sea Grant Marine Resource Advisory, no 6, 1982.

Sea Grant Marine Resource Advisory, no 7, 1983. evaluation. Gloucester Point (USA), Personal Communication, 1989. VIMS, 1993. 22. OESTERLING. M.J. Manual for handling and shedding blue crabs (Callinectes sapidus). Gloucester Point (USA), Special Report in Applied Marine Science and Ocean Engineering, 271: 1-91, 1995. crab industry in Venezuela, Ecuador and Mexico. Gloucester Point (USA), Virginia Sea Grant Marine Resource Advisory Program, n. 1, 1995. 24. OTWELL, W.S.; KOBURGER, J.A. Microbial (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 25. PAUL, R.K.G. Observation on the ecology and distribuition of swimming crabs of the genus Callinectes (Decapoda, Brachyura, Portunidae) in the Gulf of California, Mexico. Crustaceana, 42(1): 96-100, 1982.

Shelled Blue Crab Fishery (Perry, H.M. & Malone, R.F. eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 28. RUPPET, E.D.; R.D. BARNES. Zoologia dos Invertebrados. 6ª Ed. Livraria Roca, 1029 p., 1996. 29. VIMS - Virginia Institute of Marine Science. Crab Processsing. Gloucester Point (USA): Virginia Marine Resource Bulletin, 24(3/4): 12-14, 1992. Raleigh (USA): UNC Sea Grant College Publication, 1: 1-32, 1984. well water system. Raleigh (USA): BluePrints, no1, 1988. BluePrints, no 2, 1991. 33. WHEATON, F. Design considerations in marine aquaculture systems. In: National Symposium & Malone, R.F.eds.), Gloucester Point (USA), 1985. 34. WHEATON, F.W. & LAWSON, T.B. Processing aquatic food products. New York: John Wiley & Sons, inc., 1985. genus Callinectes (Decapoda: Portunidae). Seattle (USA): Fishery Bulletin, 72(3): 685-798, 1974.

Bay Blue Crab Industry. Gloucester Point (USA), Virginia Sea Grant Marine Resource Advisory Program, n. 49, 1994. closed blue crab shedding systems in the Gulf

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

21


Novo Plano Estratégico posicionará a maricultura catarinense para um ciclo virtuoso de desenvolvimento Felipe Matarazzo Suplicy, Ph. D. Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca – CEDAP/Epagri felipesuplicy@epagri.sc.gov.br

© Felipe 22Matarazzo Suplicy

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


o expressivo crescimenC om to da aquicultura a nível

ordenação e a comunicação entre as partes interessadas; adotar uma abordagem participativa; aprender com exemplos de outros países onde esta atividade se encontra mais desenvolvida; e aceitar tam-

Em todo o mundo, grandes grupos que comercializam frumundial, o planejamento de seu tos do mar desejam garantir o desenvolvimento vem se tornanacesso às cadeias de suprimentos do cada vez mais importante. Um planejamento apropriado pode tentáveis. Atender à crescente deestimular e guiar a evolução do manda do mercado e o interesse setor através da provisão de incen- e levar à tomada de decisões difíceis. do setor privado no fornecimento tivos e garantias, atraindo o investimento e acelerando o seu desenOs aspectos centrais do uma grande oportunidade para os volvimento. Mais do que isto, um planejamento bem-sucedido no países em desenvolvimento prepabom planejamento assegura a setor de aquicultura são a coerên- rados para investir na melhoria da sustentabilidade econômica, social cia no processo de planejamento e gestão da aquicultura sustentável. e ambiental do setor em longo pra- a ênfase na interdisciplinaridade Isto é conseguido pela construção zo e contribui para o crescimento através da contribuição institucio - de capital social e pelo reforço econômico e redução da pobreza. nal, desenvolvimento de capacidade humana e participação. O tores fundamentais para a ob Um bom plano de desen- tenção de uma qualidade de vida volvimento precisa reconhecer tegra, coordena e gerencia todos os melhor para todos, sem exclusão. quando surge uma oportunidade esforços de desenvolvimento, re- Um desenvolvimento econômico adequada para a adoção de uma duzindo riscos, informando todos série de mudanças, como o atual os envolvidos, estabelecendo con- humano com respeito às comuni dades locais e ao meio ambiente. processo de ocupação ordenada das áreas aquícolas; assegurar a co-

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

23


Não só o crescimento desta atividade, mas sua própria sustentabilidade depende da adoção de um planejamento estratégico de desenvolvimento orientado por

cado e uma capacidade de atender a esta demanda. O planejamento integra as dimensões social, ambiental e econômica, já reconhecidas como os três pilares da sustentabilidade e indispensáveis não só para atingir como para assegurar os objetivos conquistados pela estratégia de

desenvolvimento. Esta estratégia considera a maricultura de uma forma abrangente, integrada e de maneira estruturada, em uma abordagem ecossistêmica de planejamento e de gestão praticável e implementável para promover um desenvolvimento harmonioso e coerente. O Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável da Maricultura Catarinense prevê objetivos e ações para um período de dez anos, e contempla todos os aspectos econômicos, sociais e ambientais relacionados ao desenvolvimento sustentável da maricultura catarinense. O planejamento analisa em detalhes como a maricultura catarinense funciona, com uma abordagem multidisciplinar e coletiva para interpretar corretamente as propriedades econômicas, sociais e ecológicas, bem como as relações e feedbacks entre estas propriedades. Em um mercado globalizado, os produtos da maricultura catarinense precisam ser competitivos para assegurar seu mercado interno e abrir novos mercados, por isto, a mecanização dos cultivos com associada redução do custo de produção e rastreabilidade de lotes produzidos são componentes importantes da estratégia de desenvolvimento para a próxima década. A minuta de plano estratégico é formada por seis capítulos organizados da seguinte forma:

© Felipe Matarazzo Suplicy


1 2 3 4

Introdução, explicando a sua motivação, propósito e importância; Diagnóstico da situação atual nos aspectos sociais, econômicos e ambientais; Estratégia com visão de futuro e objetivos; Plano de ação, com uma abordagem ecossistêmica da cadeia produtiva (aspecto social, econômico e ambiental);

5

Mecanismos de inserção dos pequenos produtores, que apresenta opções para inclusão dos maricultores na cadeia formal de comércio e opções para adoção do cultivo mecanizado;

6

Considerações finais.

O documento propõe uma visão de futuro, uma meta a ser alcançada coletivamente, e apresenta uma estratégia e um plano para inserir a maricultura na agenda de desenvolvimento do estado. A visão sugerida na minuta do plano é: “Reconhecimento internacional na produção sustentável de moluscos com alto valor agregado”. O plano de ação para realizar esta visão de futuro foca nos passos que precisam ser dados para implementar a estratégia, isto é, ele aponta claramente como as metas serão atingidas, quais as ações necessárias, quem são os atores diretamente envolvidos e quando estas atividades serão realizadas. Além disto, durante o processo de discussão e validação do plano de onde sairão os recursos para execução de cada atividade apontada. Outro ponto central do plano estratégico é a consolidação e fortalecimento da marca “Moluscos de Santa Catarina”,

aproveitando o reconhecimento já conquistado por Santa Catarina como o estado produtor de excelentes moluscos cultivados. Esta marca deverá ser adotada e apoiada por todos os produtores e processadores, que estarão continuamente recebendo treinamento e capacitação para cumprirem com todas as exigências sanitárias e atingirem os padrões de qualidade e sustentabilidade da marca coletiva.

de plano de desenvolvimento está sendo apresentada aos atores da cadeia produtiva para discussão e aprimoramento, antes de sua implementação. Santa Catarina conta com um Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Cederural - criado pela Lei Agrícola Estadual nº 8.676, para prover um fórum deliberativo e propositivo da sociedade e do governo, na formulação das políticas ligadas ao desenvolvimento da agricultura, A participação do setor pecuária e pesca em Santa Cataprodutivo, através das empresas processadoras, associações de prioridades do setor e os recursos pequenos produtores, e das insti- a serem aplicados nas áreas agrícotuições governamentais e do setor de pesquisa e extensão é essencial ainda, os critérios de aplicação das para assegurar que todos os en- verbas do Fundo de Desenvolvivolvidos com a atividade estejam mento Rural. O Cederural conde acordo quanto à estratégia de ta com câmaras setoriais que são desenvolvimento elaborada e dis- comissões formadas por represencutida coletivamente. Apesar do tantes dos setores organizados da processo participativo de planeja- cadeia produtiva - consumidores, mento ser mais trabalhoso e cus- produtores e indústrias - formantoso, ele favorece o engajamento do uma paridade com instituições e comprometimento dos diversos governamentais, que se reúnem atores facilitando enormemente para analisar, discutir e propor a sua aceitação e implementação. soluções relativas aos principais produtos e atividades das áreas Com este intuito, a minuta agrícola, pecuária e pesqueira ca-

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

25


em nível local e regional. Todos os órgãos que possuem interface com a maricultura catarinense participarão do processo de discussão do plano estratégico de forma a idenpoderão contribuir com as metas e objetivos do plano, evitando assim duplicação ou sobreposição de esforços, e ações descoordenadas com desperdício de recursos huPara os leitores que tiverem interesse e quiserem conhecer mais sobre esta iniciativa, a minuta do plano estratégico pode ser solicitada diretamente ao autor do artigo.

tarinense. A Câmara Setorial de Maricultura do Cederural, portanto, é o fórum onde esta minuta de plano de desenvolvimento está sendo discutida e aprimorada antes de ser adotada por todos os envolvidos com a atividade.

26

© Felipe Matarazzo Suplicy

Um aspecto básico reconhecido nesta proposta é que as instituições são potencialmente capazes de apoiar e fomentar decisivamente as inter-relações, favorecendo a cooperação e as sinergias

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

27


© David S. Francis

28

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Estudos nutricionais na Deakin University Conheça o Nutrition and Seafood Laboratory (NuSea.Lab) da Deakin University: realizadores de pesquisa e desenvolvimento de ponta para a indústria aquícola global David S. Francis, Jessica A. Conlan, Karen Hermon, Matthew Jago, Michael Lewis, Thomas Mock & Giovanni M. Turchini NuSea.Lab – Nutrition and Seafood Laboratory, School of Life and Environmental Sciences, Deakin University, Warrnambool - Victoria – Australia. http://lab.org.au d.francis@deakin.edu.au

and Seafood Laboratory da Deakin University - Austrália, ou NuSea.Lab O Nutrition como é mais conhecido, é amplamente reconhecido por suas pesquisas aquícolas aplicadas tanto nacional quanto internacionalmente. Estabelecido em 2007 pelo Professor Giovanni Turchini e pelo Dr. David Francis, sua visão consiste em “contribuir positivamente para o aprimoramento da sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica e responsabilidade social dos setores de nutrição e pescado (frutos do mar)”, com uma

como soluções para os setores de nutrição e pescado através de novas ideias, experimentação minuciosa e publicação dos resultados obtidos”. O NuSea.Lab reúne mais de 35 anos de experiência direcionada à pesquisa e desenvolvimento, culminando em uma reputação excepcional com a indústria da aquicultura e também em um reconhecimento global por suas contribuições para a sustentabilidade aquícola. A grande experiência do NuSea.Lab em nutrição de peixes é respaldada por instalações aquícolas de última geração, dois laboratórios totalmente equipados e dedicados a análises nutricionais e uma planta de fabricação de alimentos aquícolas de pequena aplicados e teóricos, abrangendo uma variedade de tópicos pertinentes à aquicultura e uma variedade de espécies que vão desde corais, pepinos do mar e abalone até salmão do atlântico, robalo asiático, lagostins, enguias e algas marinhas. Além de oferecer pesquisa de ponta, o NuSea.Lab é também um centro de pós-graduação de primeira linha e atualmente conta com seis candidatos ao doutorado. As atividades de pesquisa do NuSea.Lab são extensivas, incluindo investigações sobre a substituição de farinha e do óleo de peixe nos alimentos aquícolas, metabolismo sequente utilização de novos ingredientes para a próxima geração de alimentos aquícolas e a elucidação das exigências nutricionais das novas espécies aquícolas. As seções a seguir fornecem um breve panorama dos atuais projetos do NuSea.Lab, que incorporam o en volvimento de estudantes de doutorado e o subsequente treinamento dos futuros líderes na pesquisa de nutrição aquícola. Recomenda-se que futuros estudantes e pesquisadores com interesses colaborativos procurem informações de contato no site do NuSea.Lab (www.lab.org.au). AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

29


P revisão do teor d e Ô meg a-3 no sal mão do Atl ânti co ( Salmo salar ): A nutrição de peixes é inerentemente complexa e, por extensão, a previsão da composição de ácidos graxos e a qualidade do produto associa do requer a consideração de inúmeras variáveis. Potencialmente, o método mais promissor para prever variáveis nutricionais em peixes, como o conteúdo de n-3 LC-PUFA (do inglês “longchain polyunsaturated fatty acids ” – ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa da família n-3) e, em última instância, a otimização da inclusão de óleo de peixe nos alimentos aquícolas, tem sido através do desenvolvimento de modelos nutricionais. O principal objetivo da

© David30 S. Francis

pesquisa deste projeto é criar e ambiental e econômica do setor testar um modelo nutricional clusão do óleo de peixe nas dietas de n-3 LC-PUFA do Salmão do aquícolas. Além disso, um modelo Atlântico de tamanho comercial, em resposta à mudança da com - cessidade de experimentos aliposição nutricional das dietas, mentares dispendiosos e demora dos para avaliar as consequências ácidos graxos. Os objetivos deste nutricionais da substituição de projeto serão alcançados através óleo de peixe em dietas aquícode uma série de abordagens, en- las. O modelo abrangerá fatores volvendo em primeiro lugar uma primordiais inter-relacionados meta-análise da literatura publi conhecimento atual e o subsequente preenchimento dessas la cunas de conhecimento por meio de testes de alimentação adaptados. Os resultados deste projeto melhorarão a sustentabilidade

salmão do Atlântico, incluindo: das dietas aquícolas, atividade metabólica e temperatura da água.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Novas tecnologias para a rápida avaliação de alternativas à farinha de peixe: Os subprodutos da indústria de animais terrestres são derivados do processamento dos descartes considerados inadequados para o consumo humano, mas de composição nutricional notável. Como tal, a utilização desses subprodutos é de interesse para os fabricantes de alimentos, dada a sua pronta disponibilidade e favorável composição de aminoácidos. No entanto, esses subprodutos estão sujeitos a uma elevada variação na digestibilidade, em grande parte atribuída a métodos de processamento inconsistentes e à qualidade das matérias-primas recebidas. A qualidade da farinha desses subprodutos, portanto, difere de lote para lote, exigindo uma avaliação contínua através de experimentos de alimentação para determinar a digestibilidade da mesma para a subsequente formulação de alimentos que irão ocasionar um desempenho ideal do animal. Esses experimentos consomem tempo e são logisticamente

de digestibilidade “laboratorial” in vitro para a rápida avaliação da farinha. As abordagens in vitro oferecem potencialmente uma variedade de benefícios em relação aos métodos de avaliação mais tradicionais, incluindo desenhos experimentais mais simples, rendimento mais rápido, custos mais baixos e a rápida avaliação de uma ampla gama de parâmetros

do rastreio de uma variedade de matérias-primas. Usando extratos testino, a câmara de digestibilidade permite que as matérias-primas sejam digeridas em um ambiente idêntico ao estômago “ácido” e às fases “alcalinas” da digestão intestinal das espécies de peixe-alvo. As farinhas são digeridas e divididas continuamente a partir da fase de digestão e removidas da câmara

Usando esta tecnologia inovadora, o pH ambiental, a temperatura, a duração do processo de digestão e a quantidade de enzimas que estão sendo usadas podem ser controladas...

A colaboração do NuSea. Lab com o parceiro do setor industrial, a Ridley Aquafeed, e a Universidade de Almeria – Espanha, permitiu o desenvolvimento de câmaras de digestibilidade in vivolvimento de novas metodologias tro personalizadas para o rápi-

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

tecnologia inovadora, o pH ambiental, a temperatura, a duração do processo de digestão e a quantidade de enzimas que estão sendo usadas podem ser controladas, permitindo uma “imitação” do processo de digestão. Com a pesquisa contínua, o objetivo principal é avaliar uma

calibrar uma Espectroscopia de infravermelho próximo (em inglês “ Near-Infrared-Spectroscopy ”) que irá escanear as matérias-primas recebidas e prever a digestibilidade sem nenhuma avaliação adicional.

© David 31 S. Francis


© David S. Francis

I mpactos amb ientais saz onais so b re a saúde e o estado nutricional do sal mão do Atl ân ti co de cultivo: A criação de salmão do Atlântico na Tasmânia – Austrália biente adjacente que ditam as cir-

não representam inteiramente o ciclo de produção e as condições enfrentadas pelas coortes de peixes. Como tal, as decisões relativas aos requisitos nutriciopeixes se encontram. Os extensos nais e de saúde do salmão do períodos de temperatura eleva- Atlântico em cativeiro requerem da da superfície do mar (>20˚C) uma compreensão aprofundada são condições ambientais desa- das condições ambientais de curto (diárias) e longo (sazonais) prazos que são encontradas. de salmão do Atlântico, incluinEste projeto está do o crescimento e a saúde dos examinando o desempenho do organismos. Embora as tendências salmão do Atlântico em uma sazonais de crescimento, função produção de crescimento total, a metabólica e qualidade do pro- partir de um tamanho de aproxi madamente 100g até o tamanho sejam conhecidas, muito poucos de despesca de 5kg. Três coortes estudos analisaram as tendências de peixes de fazendas comerciais sazonais de longo prazo, em um ambiente comercial, expostas às monitoradas e amostradas duran mudanças ambientais reais. Uma te o período de aproximadamente série de estudos de qualidade de 13 meses de crescimento, em concordância com o registro de dados de um único ponto em diferentes de seu ambiente adjacente, forépocas para comparação, porém necendo um quadro para decisões muitas vezes compara-se o ta- adaptativas comercialmente relemanho do peixe na despesca e não vantes a serem tomadas por uma é feita análise das mudanças sa- gama de empresas produtoras de zonais no metabolismo, qualidade salmão. Essas informações, juntanutricional ou estado de saúde. mente com o estado nutricional e Embora as informações desses de saúde do salmão do Atlântico, estudos sejam inestimáveis, elas fornecerão uma base sólida para 32

tomar decisões de manejo, alimentação, tratamento, tempo de despesca e qualidade esperada do produto. Além disso, os dados emanados deste monitoramento serão utilizados para estabelecer correlações entre os parâmetros ambientais e os marcadores nutricionais e de saúde, bem como o status do salmão do Atlântico da Tasmânia. Em última análise, os principais resultados desta pesquisa abrirão caminho para uma in tervenção mais orientada respala formulação de dietas adaptativas sob medida para as necessidades sazonais dos peixes. A capacidade de otimizar as dietas para o metabolismo alterado durante o período de crescimento apri morará a conversão alimentar, di minuirá a produção de nitrogênio e melhorará a saúde dos peixes. os principais resultados desta pesquisa abrirão caminho para uma intervenção mais orientada e permitirão a formulação de dietas adaptativas sob medida para as necessidades sazonais dos peixes.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


© David S. Francis

Co mpreen são e o timiz ação da saú d e e d o estado nutri cional dos corai s em cativei ro: Além da produção de alimentos aquícolas, o NuSea.Lab está empenhado em explorar as perspectivas de novos candidatos para a aquicultura. Em particular, a aquicultura de corais é promissora para avaliar a degradação dos recifes de coral através da produção em massa de propágulos de corais para a reabilitação dos recifes e aquarismo. Instalações de engorda em terra têm o potencial de melhorar drasticamente a sobrevivência do coral, eliminando estressores naturais dentro de um ambiente controlado de temperatura ideal, fotoperío-

de alimentação subsequente para o coral em cativeiro,

© David S. Fr an cis

crescimento, bem como a capacidade para enfrentar, reagir e recuperar-se quando confrontado com vários estressores. Isto está sendo alcançado através da implementação de uma série de experimentos de alimentação e nutrição realizados em colaboração com o Australian Institute of Marine Science. A experimentação abrangeu uma série de estágios de vida relevantes e incorporou intervenções nutricionais. Isso elucidará as principais demandas e exigências para de coral ainda está amplamente em fase experimen- lipídios e ácidos graxos, e proteínas e aminoácidos em tal devido a grandes obstáculos como mortalidade corais e, ao mesmo tempo, determinará um veículo ideal de fornecimento de uma dieta de coral “proncessidades nutricionais dos corais continua sendo uma ta” que promova a saúde ideal e sobrevivência em das principais tarefas na manutenção e reprodução cativeiro. dos corais em cativeiro. Portanto, o objetivo deste projeto é elucidar uma dieta ideal e um regime

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

33


© Giovanni Lemos de Mello

História, mitos, verdades e dicas em épocas de mancha branca Jorge Chávez Rigaíl, Biólogo jorgechavezrr@hotmail.com A NTECEDENTES indústria mundial de cultivo de camarões marinhos tem se desenvolvido aceleradamente nos últimos 10 anos, já que desde seu início (anos 60), a produção de camarão em fazendas passou de níveis artesanais para uma indústria com milionários ingressos econômicos, provendo trabalhos diretos e indiretos a inúmeras pessoas no mundo todo.

A

Os sistemas de cultivo até essa data eram relativamente simples, se usavam altas taxas de renovação de água e muito pouco alimento balanceado. As medidas de biossegurança eram mínimas ou não existiam, pois nessa épo34

ca se conhecia muito pouco sobre qualidade da água, doenças do camarão e quase nada dos mecanismos de defesa humoral e celular contra os agentes virais. Também não era dado atenção ao manejo da variável solo.

tos balanceados com determinada cadeia de aminoácidos, enzimas, etc”.

Os problemas do início, na realidade seguem sendo os mesmos hoje em dia, pois a capacidade de fazer análises e diagnósticos no Paralelamente, outro setor setor aquícola é muito limitada gravemente afetado com a enfer- em função da falta de especialistas midade da mancha branca foi a neste ramo do conhecimento. indústria dos alimentos balanceados para camarão. A mesma se Desde 1989, com o aumenviu obrigada a atualizar-se para to explosivo da indústria camapoder crescer, com mudanças roeira em nosso continente, se fez exigidas pela crescente demanda necessário produzir de forma mais nacional ao “alimento melhorado”. Atualmente se fala muito de sultados. "alimentos balanceados compensados com balanço iônico, alimenNo início de 1999, os

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


efeitos negativos do vírus da mancha branca (WSSV), obrigou os produtores a mudar a origem da pós larva que comumente era utilizada para povoar as fazendas, pois a partir destes anos o produtor passou a depender 100% de pós-larvas de laboratório a partir de reprodutores maturados em cativeiro. As pós-larvas passaram por um melhoramento genético, e os laboratórios a oferecerem um produto de melhor qualidade. Em virtude disso, ao longo dos anos, as pós-larvas equatorianas passaram a ter uma boa aceitação e um reconhecimento a nível internacional, já que se obtiveram melhoras na resistência sobre as enfermidades 10 anos depois de terem iniciado.

Igualmente durante o ano de 1999, vários países asiáticos iniciaram a substituição das principais populações domesticadas de Penaeus monodon , e Penaeus japonicus , pelo camarão branco do Litopenaeus vannamei, sendo competência direta de nossa produção, gerando nova pressão ao produtor latino-americano, que em todos os sentidos, para seguir sendo competitivo em escala internacional.

melhoramento genético para estas espécies. No Equador, a partir do ano de 2003, por pressões ambientais, se resolve por legislação, a restrição no uso de antibióticos, transformando a aquicultura em uma atividade mais responsável e amigável com o meio ambiente. Esse fato exigiu ao setor novas e

rança para os sistemas de produção e como resultado dessas mudanças, além de boas práticas de maneNa atualidade, Tailândia, jo (BPM) orientadas a reduzir as Vietnã, Malásia, Índia, Coréia, condições de estresse dos cultivo, China, Sumatra, Austrália e Nova tivemos: Caledônia, contam com vários programas de domesticação e

· Redução da densidade de estocagem (12/ m²); · Redução do consumo de antibióticos; · Otimização das práticas de fertilização, relação 18N:1P; · Desenvolvimento e utilização de probióticos - produção massiva de Lactobacillus spe Bacillus sp, · Desenvolvimento e aplicação de biorremerápida, melhorando a qualidade e o controle técnico da variável solo; · A utilização das normas do balanço iônico, que apesar de ser uma das ferramentas mais antigas era pouco usada, marcando uma importante mudança e sendo uma das ações mais importantes nas “soluções” que permitiram a muitos produtores sair à frente dessa gravíssima patologia, cujo momento mais crítico, afetou 100% da produção nacional; · Auxílio do melhoramento genético nas pós-larvas; · Correto uso dos probióticos; · Melhorias na qualidade dos alimentos concentrados e peletizados; · Constantes manejos feitos nas fazendas de modo a corrigir o desequilíbrio iônico do meio.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Jorge Chávez Rigaíl

35


OS

MITOS

Com a enfermidade da mancha branca se desenvolvendo no Equador, uma indústria paralela, baseada em “utopias – sonhos” também surgia, se incrementando no mercado os “técnicos – sábios – assessores – laboratórios de análises” todos preparados para evitar e erradicar o vírus com os mais diversos produtos. Criaram até sabonetes contra a mancha branca. Porém, mente mitos, e de alguma forma os produtores equatorianos provaram quase todos os produtos do mercado que prometiam eliminar o vírus. No início dos surtos houveram morconhecidas pela expressão “o evento”, pois todos os produtores falavam do “evento de mortalidade” que ocorria em um dia determinado. Para muitos coincidia com o dia 28, para outros com o dia 30, outros com o dia 40, 90, ou o dia 100. Mesmo sem ter claro o panorama, o quadro abaixo foi um dos primeiros esquemas que se publicou no ano 2000, e de alguma forma auxiliou os técnicos e pesquisadores a entender e compreender a enfermidade de outra ótica, já que pouco a pouco a doença começou a ceder espaço. O evento ocorria mais cedo se existisse um solo muito deteriorado, uma água de má qualidade e um povoamento com pós-larvas de qualidade duvidosa. Este era batizado como “O evento de mortalidade do dia 29”, mas que não ocorria em todas as fazendas no dia exato, meshavia algo bastante em comum, a primeira mortalidade era mais forte (50%-60%) que a segunda (20%-30%) e esses eventos se repetiam 40/50 dias após o primeiro surto.

36

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


© Jorge Chávez Rigaíl

AS

VERDADES

Os casos típicos comprovados de WSSV tinham uma característica importante, de que sempre havia uma repetição, tendo dois eventos de mortalidade mais ou menos fortes, entre os dias 30-40 e os dias 80-90. O manejo do solo e a incansável série de produtos milagrosos foram uns dos itens mais explorados durante os surtos da mancha branca. O consumo de cal hidratada cresceu exponencialmente já que o solo era um dos parâmetros menos trabalhados, e onde se faziam grandes alterações com a aplicação dos proAo estudarmos esta patologia com mais atenção, encontramos que não tratava-se de uma enfermidade “biológica”, mas que é na verdade uma enfermidade “ecológica” onde coexistem algumas variáveis de cultivo, e que só com o domínio destas variáveis se obtém êxito dos cultivo. Compreendida a razão, sabíamos agora porque é necessário conhecer com antecedência “Qual é o dia exato?”, “Como se ativa?”, perguntas básicas que podem se aplicar a esta ou qualquer outra patologia, pois conhecendo estes detalhes, é possível realizar um manejo diferenciado em cada um dos ...não tratava-se de viveiros, convertendo-se na garantia de um cultivo exitoso. uma enfermidade O manejo diferenciado a cada tanque, sig-

“biológica”, mas que é na verdade uma enfermidade “ecológica”...

por protocolos” (exemplo; Ao dia X coloque tantos quilos de A; Ao dia Y coloque tantos quilos de B), uma vez que não existe somente uma variável, são várias variáveis que atuam e se mostram de formas diferentes na maioria dos casos, e o conjunto delas pode mostrar-se de diferentes formas. Nossos produtores usaram muitos produtos do mercado, como ácidos orgânicos, antibióticos, vitaminas, enzimas, colesterol, etc, que eram incorporados nas rações e se converteram na receita conhecida como “O protocolo”, para atenuar o evento, quando na realidade, esta receita funcionava bem para combater outras patologias oportunistas do meio. Esta fase de ensaios foi o tempo empregado para desenvolver estratégias ao bom manejo da enfermidade, que ao longo de vários anos (por volta de 10) atingiu o setor produtivo do país. Se fez, se provou, e se utilizou quase tudo que era conhecido para o mercado do camarão, e o que mais ajudou, foi a existência dos chamados “agentes ou parâmetros detonantes das mortalidades” e que a biologia de campo as denominou de “gatilhos”, que devem ser monitorados e corrigidos o mais breve possível, e que não há uma data certa, podem apresentar-se em qualquer momento do cultivo. Outro produto usado com êxito foram os ácidos orgânicos, embora há muitos e de muitas marcas, sua ação se dava contra as bactérias oportunistas, patógenos típicos da doença. O segredo consistia em conhecer as porcentagens de pureza de cada elemento, já que quanto mais puro melhor a ação contra as bactérias. Resgatando o melhor destas épocas, me permito sugerir algumas dicas que auxiliaram vários carcinicultores ao longo de nossa América Latina. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

37


D ICAS O desenvolvimento de todas estas tecnologias se baseia principalmente no conhecimento de “QUE? COMO? E QUANDO?” se ativa a enfermidade e iniciam-se as mortalidades. Evita-las é a meta de todos os aquicultores e pesquisadores que a fazem atualizando seus conhecimentos técnicos, permitindo compreender e interpretar da melhor maneira a relação: água – camarão – solo. novos e antigos métodos de cultivo: principal gatilho desta en- 7. A utilização dos probióticos 12. 1. Ofermidade é a qualidade da Lacto-

água. A correta interpretação das análises semanais permite conhecer como está se comportando o sistema. O parâmetro mais básico e mais viável economicamente chama-se “pH”, e deve ser medido as 06:00 e as 17:00h do mesmo dia.

2.

bacillus sp, como alimento para ajudar contra as bactérias patogênicas.

dos Bacillus sp. para 8. Utilização degradar a matéria orgânica

dos sedimentos, acelerando o processo com a mistura das bactérias Nitrosomonas sp, Nitrobacter sp, Azotobacter sp, formando assim os “Consórcios Bacterianos remediadores do

A interpretação da alcalinidade, primeiro da maioria dos problemas chamados “eventos” ou “síndromes”, e portanto o principal indicador, possuí para cada fase de cultivo valores ideais: para a fase naúplio 100; misis 120; pós-lar- facultativas requerem a condição vas 140; para raceways 150 e para de estarem vivas no momento de engorda 120 mg/L de CaCO3. serem aplicadas ao viveiro.

Com esta nova sequência de controles na produção aquícola, os cultivos de

dos, marcando o início do êxito da indústria camaroeira latino-americana. Realizar rotina semanal

13.

dade de cada viveiro, priorizando: qualidade da água, análise da microbiologia, patologia, e ao mentos básicos. A Mancha Branca é uma enfermidade viral, portanto não existe antibiótico que controle ou elimine o vírus.

14.

utilização indicada para A mistura de 7/10 ppm de 3. Asistemas intensivos ou race- 9. ácidos orgânicos na ração, 15. ways, na fase inicial de povoa-

resultou em uma técnica muito mento é de 35/40 PL12/L, até 18 conhecida e aplicada no auxílio dias de cultivo, e a transferência de juvenis de 0,015 mg à engor- contra bactérias oportunistas do tipo Vibrio sp. da. A utilização de métodos A utilização da densidade nos que permitam desenvolver sistemas semi-intensivos para naturalmente os carotenos como agentes estimuladores venis/ha. do sistema imunológico e dos carotenoides, como agentes estimuUtilização de sistemas de re- ladores do crescimento, atingido circulação bem desenhados das diatomáceas com a e calculados exatamente para as através correta fertilização dos tanques diferentes fases do sistema: de(18N:1P:0,1Si). suspender, e recondicionar a Melhores sobrevivências e água usada. melhores crescimentos no

Tem relação direta com qualidade do solo + qualidade da água + qualidade da larva.

16.

Obter o diagnostico no campo será muito mais fácil para determinar qual a ferramenta de controle utilizar, poder avalia-la diariamente se funciona ou não, e se devemos optar por outra alternativa de controle, conseguindo desta forma trabalhar sob uma trilogia bastante justa: Seguridade – Ordem – Rapidez. Sugestão: nunca tratem de “curar” um problema, primeiro analisem qual é a caucultivo são apoiados com a adequa- sa desse problema, qual a origem O monitoramento da temda relação “Cálcio:Magnésio:Potás- desse problema, e trabalhando peratura é muito importante, principalmente quando as os- sio”, e que a relação (1 – 3 – 1), não sobre essas respostas, seus diagcilações entre as horas do dia e se aplica, porque a densidade de nósticos serão sempre mais prenoite são maiores do que 5°C. cisos. O ideal é manter o cultivo por muito diferente da densidade de poDado que: não existe os volta de 30°± 2°C, com a menor voamento de seu viveiro. variação possível. “eventos de mortalidade” por mancha branca, o que existe Informação do Autor: Jorge Chávez Rigaíl; Biólogo graduado na Universidade de Guayaquil, Facultad de Ciencias Naturales, 1985; Secretário Geral da Fundação Sociedade Latino-ameri- é: um parâmetro fora de controle, cana de Aquicultura SLA; Autor de vários manuais sobre o critério biológico na interpretação que não foi analisado em tempo

4.

10.

5.

11.

17.

6.

18.

de análises de qualidade de água; Patologia em fresco; Microbiologia de campo; Análises para

* “Não existe patologia alguma que não inicia-se de um desequilibro iônico do meio” J.Chávez R, 2005.

38

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

39


© www.msd-saude-animal.com.br

Pelo terceiro ano consecutivo MSD Saúde Animal reúne grandes nomes nacionais e internacionais do setor

À

medida que necessitamos atender a crescente deman da mundial de alimentos, uma maior atenção e importância têm sido atribuídas à aquicultura como uma fonte futura de produção de proteína saudável e sustentável. No início deste ano, o Rabobank publicou um artigo intitulado “A ascensão do frango aquático”, destacando o crescente mercado da tilápia e sua oportunidade para suprir a cadeia global de proteína, além do potencial de produção junto aos países latino-americanos como futuros candidatos em abas40

tecer o mercado doméstico, assim como o mercado mundial, em particular o grande mercado consumidor norte-americano. Estes temas foram a base do 3º High Quality Tilapia Congress realizado pela MSD Saúde Animal entre os dias 5 e 6 de outubro na cidade de Campinas, São Paulo. Estiveram presentes os principais produtores de tilápia do Brasil, Costa Rica, Colômbia, Equador, Honduras, México e também pro dutores do continente Africano. A equipe de aquicultura da MSD Saúde Animal convidou líderes de

opinião nacionais e internacionais para palestrar sobre 3 diferentes temas, sendo eles: Mercado global da tilápia; Marketing com ênfase em aquicultura e Boas práticas de produção. Não foram apenas palestrantes oriundos do setor de aquicultura, mas sim, especialistas de outras cadeias de produção de proteína intensiva, como aves e suínos, por exemplo, que vieram compartilhar suas experiências com os produtores de tilápia. Lívia Machado, da Asso ciação Brasileira dos Criadores de

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Suínos (ABCS), compartilhou a estratégia de marketing da associação, que ajudou a impulsionar um crescimento de 10% no consumo doméstico de suínos nos últimos cinco anos. Estes resultados foram alcançados através de uma abordagem de marketing estratégica em diferentes canais que abrangeram consumidores, restau rantes, varejos e chefes de cozinha, por exemplo. Joe DePippo, que anteriormente trabalhou como vice-presidente sênior da empresa de alimentos Tyson, compartilhou uma visão geral do mercado Norte Americano de proteínas, destacando as principais tendências do mercado e oportuni que até 90% do pescado consumido nos EUA (5,6 bilhões de libras ou 20,2 bilhões de dólares em 2014) são importados. Com consumidores cada vez mais exigentes, há uma oportunidade para que nossos produtores latino-americanos ex plorem esse potencial de mercado contando a “história” de como sua tilápia foi produzida de forma sustentável e focada em qualidade ao saúde e bem-estar dos peixes. Silvio Romero Coelho explorou e compartilhou com os pro dutores a importância da rastre diferencial

competitivo

futuro

de alcançar e penetrar em novos mercados de exportação, além da agregação de valor. Outra palestra de destaque foi proferida por Jose Luiz Tejon, umas das 100 maiores personalidades do agronegócio brasileiro. Tejon explicou a im-

portância estratégica das ações de Tilápia Congress a MSD Saúde marketing para promover a carne Animal demonstra todo seu com de tilápia junto ao consumidor prometimento com o avanço e desenvolvimento sustentável da incomo o piscicultor terá que ser dústria da tilápia em nível mundial”, - complementa Rodrigo Zanolo, gerente de mercado de Aquicultura viver de forma competitiva. Outros palestrantes de des- da MSD Saúde Animal. taque do evento foram: Meg Caetano Felippe (grupo GPA) discor- Sobre a MSD Saúde Animal rendo sobre a comercialização de Hoje a MSD é a líder tunidades; Dalton Casaletti (BRF) mundial em assistência à saúde, discorrendo sobre excelência na trabalhando para ajudar o mun cadeia de produção intensiva de do a viver bem. A MSD Animal proteína; Fernando Oyarzún Al - Health, conhecida como Merck barracin (Open Blue) discorrendo Animal Health nos Estados Unidos e Canadá, e como MSD Saúde Animal no Brasil, é a unidade de negócios global de saúde animal da MSD. Através do seu compromisso com a Ciência para Animais mais Saudáveis™, a MSD Saúde Animal oferece aos veterinários, fazendeiros, proprietários de animais de estimação e governos a mais ampla variedade de produtos sobre processamento de pescado farmacêuticos veterinários, vacie a excelência no produto; Os- nas e soluções e serviços de gerenler Desouzart (OD Consulting) ciamento de saúde. A MSD Saúde abordando o tema mercado global Animal se dedica a preservar e de proteínas e as oportunidades melhorar a saúde, o bem-estar e o para tilápia em níveis regionais e desempenho dos animais, investinglobais, entre outros palestrantes do extensivamente em recursos de pesquisa e desenvolvimento amde renome. O evento também contou plos e dinâmicos e em uma rede de com uma atividade de integração suprimentos global e moderna. A entre os participantes, onde pro - MSD Saúde Animal está presente dutores de diferentes regiões e em mais de 50 países, enquanto países tiveram a oportunidade de seus produtos estão disponíveis em interagirem entre si, trocando ex - 150 mercados. periências e aumentando seus con- Para mais informações visite: dade de integração houve uma ação www.msd-saude-animal.com.br social, com montagem de bicicletas Fanpage no Facebook: que foram destinadas para crianças www.facebook.com/ na cidade de Campinas. msdsaudeanimal “Com investimentos em eventos como o High Quality

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

41


42

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Integração universidade e empresa impulsiona avanços nutricionais na criação de atum Maria T. Viana, Artur N. Rombenso, Jose A. Mata-Sotres, Fernando Barreto-Curiel Universidade Autônoma de Baja California – Ensenada – México viana@uabc.edu.mx | mtviana.com

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

43


é uma das espécies de O atum peixes mais apreciadas mundialmente e vem despertando o interesse no desenvolvimento de sua aquicultura, que está cada vez mais aprimorada. Embora a produção de juvenis seja incipiente, a engorda em tanques-rede com juvenis selvagens capturados já é realizada em vários países como Austrália, Espanha, Grécia, Japão e México, com uma produção anual de aproximadamente 50 mil toneladas (Wijkstrom, 2012). Os atuns são na sua maioria alimentados com peixes pelágicos frescos ou congelados de espécies como sardinha e cavalinha, resultando em uma conversão alimentar elevada entre 10:1 - 17:1. O uso de peixes pelágicos inteiros como alimento aquícola é uma prática bastante criticada em termos de sustentabilidade e não deve ser estimulada pois:

Esse alimento poderia ser utilizado para consumo humano; Aumenta a incidência de patógenos na criação;

Existe variabilidade nutricional entre lotes de alimento e épocas do ano; Eleva a quantidade de perda de nutrientes (nitrogênio e fósforo) para o ambiente adjacente; Fomenta a pressão pesqueira sobre os estoques naturais dessas espécies alvo.

Assim, o desenvolvimento de uma dieta formulada é essencial para garantir a sustentabilidade da aquicultura de atum. A região da Baja Califórnia no México (Figura 1) é propícia para o desenvolvimento da maricultura, principalmente a piscicultura marinha, devido às características geomoroferecem locais profundos com boa circulação de água e próximos à costa, à proximidade com os Estados Unidos que é um dos maiores mercados consumidores mundiais de pescado, e à presença de centros de pesquisa e universidades desenvolvendo tecnologia e conhecimento que fazem desta região uma opção viável para o desenvolvimento aquícola. As espécies de peixes marinhos mais importantes criadas na região são o olhete (Seriola dorsalis), a totoaba (Totoaba macdonaldi ), a corvina (Scianoeps ocellatus ( ). Atualmente existem cinco fazendas ativas de engorda de atum (Figura 2). Resumidamente, o processo de engorda consiste em:

© Artur Nishioka Rombenso

Figura 1. Região de Baja Califórnia, México.

44

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


1

2

Captura de juvenis selvagens e transporte para os locais de engorda;

Durante a engorda (Figura 3), que dura entre 18-24 meses, os peixes são alimentados com sardinha e cavalinha uma vez ao dia até a saciedade aparente e, carte mencionados anteriormente, a utilização desse tipo de alimento poderia parecer economicamente viável já que a maioria das empresas (fazendas marinhas) possuem suas próprias embarcações para peixes pelágicos, porém sua captura representa um custo elevado para a sustentabilidade da pesca e da produção de alimentos para consumo humano. Nesse contexto, o FeedAqua - Laboratório de Nutrição e Fisiologia da Universidade

Engorda em tanques-rede;

3 Despesca e comercialização para mercados internacionais, em particular o mercado japonês.

Autônoma de Baja Califórnia Latina, com o objetivo de desen(UABC), que desde 1990 trabalha volver pesquisa e tecnologia em formulações e em dietas extrusadas de organismos aquáticos, decidiu para organismos aquáticos, facilicontribuir para o desenvolvimen- tar o estabelecimento de convênios to de dietas formuladas para atum. e parcerias com a indústria aquícoDesde 2007 uma série de projetos são realizados para entender em quantidades menores para emmelhor as enzimas digestivas e a presas em desenvolvimento. Nosso absorção de aminoácidos em atum laboratório é equipado com uma extrusora Extrutech E325 (Figura ra et al., 2007; Rosas et al., 2008; 4) capaz de produzir até 400 kg/h, Martínez-Montaña et al., 2010, um secador de gás horizontal 2011, 2013; Román-Gavilanes et (Figura 5) e outros equipamentos al., 2015; Castillo-Lopez et al., para preparação e fabricação 2016; Rueda-López et al., 2016). de alimentos formulados. Em seguida foi desenvolvido o projeto LINDEAACUA que consistiu na construção de um laboratório piloto para produção de alimentos, único da América

© Diane Rome Peebles

Figura 2. Ilustração de atum

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

45


Fotos: © Artur Nishioka Rombenso

Figura 3. Fazenda Baja Aqua Farms.

Desafios para a fabricação de uma dieta para atum Assim como em muitas esPelo fato de não existir uma pécies aquícolas, existe uma carên- dieta formulada para atum, muitos cia de informação e conhecimento aspectos da própria dieta estão inFigura 4. Extrusora Extrutech do laboratório Feed Aqua.

Figura 5. Secadora de gás horizontal do laboratório Feed Aqua.

lação e fabricação de uma dieta. Além disso, a obtenção desses organismos é complexa devido ao ciclo produtivo dessa espécie não estar completamente dominado e talvez ainda mais difícil seja sua manutenção em cativeiro devido à exigência de grandes estruturas e investimento elevado. Portanto, apenas um número reduzido de centros de pesquisa e empresas no mundo todo podem realmente trabalhar com essa espécie. ça por parte dos produtores de que o alimento “natural” seja o único que o atum aceite, fato que

Figura 6. Dieta formulada para Atum

46

e desenvolvimento de dietas formuladas uma vez que os pesquisadores têm que primeiro quebrar essa barreira e em seguida convencer os produtores da importância de experimentação em campo com essas dietas formuladas.

drico, retangular, redondo) e o tamanho do pellet (3, 5, 10, 15 cm). processo de extrusão: como extruir um alimento tão rico em proteínas e lipídios que mantenha a forma, a textura e as características físicas desejadas? Esse

cenário

desa-

lecimento de uma integração universidade-empresa, através de um projeto de pesquisa e desenvolvimento disponível pela agência nacional de pesquisa do México. Resumidamente, o laboratório FEED-AQUA, com sua linha de pesquisa LINDEAACUA, aprimora a formulação e fabricação de dietas para atum e a empresa LITGO SA de CV patrocina o desenvolvimento. Um dos grandes benefícios desse tipo de parceria é a possibilidade de desenvolver esse alimento para ser validado nas fazendas marinhas de atum.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Desenvolvimento de dietas e Patente Formulação

sorção de água, perda de óleo, en- experimentais em tanques-retre outros. de serão realizados nos próximos anos. O processo de formulação foi baseado nos seguintes aspec- A l i m e n t a ç ã o c o m tos: nível de carnivoria da espéConsiderações finais cie, hábito de alimentação, com- d i e t a s f o r m u l a d a s posição de suas dietas naturais e Esses experimentos perCom o intuito de valicomposição proximal corporal da espécie. Em seguida, buscou-se o dar os processos de formulação de dietas formuladas para engorda uso de ingredientes disponíveis no e fabricação de alimentos aquíco- de atum e que isso pode se tornar mercado mexicano que atendesforam alimentados com as die- realidade por meio de pesquisas e aprimoramento de protocolos de da formulação. Como existe uma tas formuladas em experimentos fabricação de alimentos aquícolas, indústria regional de engorda de pontuais. Em todas as ocasiões os e da integração universidade-ematum, é muito importante a bus- peixes aceitaram as dietas de ime- presa, juntamente com o apoio das ca por matérias-primas que sejam diato, comprovando que é possível fazendas de engorda e mercado regionais e nacionais, disponíveis o uso de dietas formuladas na en- consumidor. Esse tipo de parcedurante todo o ano, e com preço gorda de atum. Porém, vale ressal- ria já é bem sucedida e pode sertar que isso é apenas um pequeno favorável. passo para o desenvolvimento de vir de modelo para outros locais, uma dieta comercial. Como re- principalmente aqueles em que a O projeto sultado desses experimentos, um aquicultura ou setores da mesma registro de patente já está em anda- se encontram em fase inicial de consistiu na mento e projetos para a validação desenvolvimento. construção de um das dietas formuladas em sistemas laboratório piloto

para produção de alimentos, único da América Latina.

Fabricação Para a fabricação da dieta (Figura 6) foi selecionada uma forma cilíndrica com tamanho entre 5-15 cm com o intuito de simular o alimento natural. Porém, foi necessária uma série de experimentos com diversas formulações e ingredientes e com diferentes conaté obter uma dieta satisfatória. Para a avaliação da qualidade dos pellets foram analisados os seguintes parâmetros: densidade, code afundamento, estabilidade em água, índice de penetração, índice de absorção de óleo, índice de ab-

Figura 7. Alimentação com dietas formuladas.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Artur Nishioka Rombenso

47


Mídias biológicas para sistemas de recirculação em aquicultura (RAS) Marco Shizuo Owatari1, 2*, Gabriel Fernandes Alves Jesus2, Katt Regina Lapa1, Maurício Laterça Martins2, José Luiz Pedreira Mouriño2. 1 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Departamento de Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias - CCA. 2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Departamento de Aquicultura, – Laboratório de Patologia e Sanidade de Organismos Aquáticos - AQUOS. *owatarimarco@hotmail.com a FAO (2014), o númeS egundo ro de pessoas que dependem

da pesca e da aquicultura como fonte de renda e alimentação é cada vez maior, estimando que cerca de 10 % a 12 % da população mundial dependam diretamente dessas atividades. No Brasil o consumo per capita de produtos derivados do pescado deve aumentar nas próximas décadas, fazendo com que o setor seja cada vez mais dependente da aquicultura. Contudo, as ingerências dos recursos ambientais ameaçam a sustentabilidade da atividade, especialmente no uso da água e na devolução da mesma sem tratamento ao ambiente.

alternativo de produção surgem os sistemas de recirculação para aquicultura, conhecidos pela sigla em inglês, RAS – “Recirculating Aquaculture Systems” – os quais possibilitam atingir altos índices de produção, minimizando os impactos ao meio ambiente, podendo ser modelados de muitas maneiras e utilizando-se vasta gama de componentes em sua estrutura para remoção dos resíduos indesejáveis na água, como o nitrogênio amoniacal. Segundo Timmons & Ebeling (2010), os sistemas convencionais de aquicultura se tornarão insustentáveis a longo prazo...

Segundo Timmons & Ebeling (2010), os sistemas convencionais de aquicultura se tornarão insustentáveis a longo prazo, tanto por problemas ambientais como por biosseguridade. Dessa forma, No campo da aquicultura, para aumentar a produção de alimentos em uma mesma dimensão os processos biológicos são os mais importantes para o tratamento de águas residuais, destacando-se o pactos ambientais. Nesse modelo 48

rações de RAS) pode ser afetada por uma série de fatores, tais como o tipo de material suporte (conhecido também por mídia, utilizada como suporte biológico para bactérias), concentração de oxigênio dissolvido, quantidade de matéria orgânica, temperatura, pH, alcalinidade, salinidade entre outros. biológicos e dos processos de nisistema estão diretamente relacionados com os tipos de mídias utilizadas como suporte biológico para adesão de bactérias. É importante que as mídias utilizadas ofereçam maior crescimento bacteriano por unidade de volume das mídias do tos nitrogenados. O tempo de vida útil das mídias alternativas para uso em

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 © Marco Shizuo Owatari


AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

49


© Marco Sh izu o O wat ar i

© Marco Shizuo Owatari

vado levando em conta a composição do material empregado. Mídias como lascas de madeiras, por exemplo, podem ser utilizadas, contudo têm vida útil reduzida quando comparada às mídias plásticas, podendo entrar em decomposição e causar problemas secundários no sistema, como alterações nos parâmetros físico-químicos da água. Em RAS, uma série de suportes biológicos

tantos outros). Existem muitos tipos de mídias que são comumente utilizadas como suportes biológicos em sistemas de recirculação, dentre elas podemos destacar: A escolha dos componentes do RAS, assim como das mídias a serem utilizadas, pode influenciar diretamente nos custos de mesmo.

Argila expandida: é um produto de argila, seco e expandido, em formato de pequenas esferas. Alguns relatos na literatura indicam que argila expandida varia entre 500 e comparada a outras mídias. A argila expandida é um material de baixo custo de implantação, sendo gem física e biológica. Bobes de cabelo: a busca por alternativas para aquicultura nos fez chegar ao uso desse material para suporte biológico em sistemas de recirculação de baixo custo. O bobe de cabelo pode ser considerado uma adaptação da mídia do tipo bioesfera e pode ser utilizado

Bioesferas: estruturas em poais, não tóxicos, são utiliza- lietileno com formato de elipse conhecidas como bioballs, muito devem favorecer o crescipercoladores (conhecidos também cantes (RIDHA & CRUZ, 2001). como ou biorreator por gotejamento). Na produção A escolha dos componen- aquícola o alto custo de implan- cantes sobre sua superfície. O uso tes do RAS, assim como das mí- tação pode ser um fator limitante de aeração constante nos biorredias a serem utilizadas, pode inatores contendo esse tipo de mídia ladores devido à necessidade de mesmo. Por exemplo, a construção mídias com grandes áreas super-

mersos, quando comparados aos

a vantagem de poder reduzir em de custos, uma vez que necessita- até dez vezes o volume necessário remos de menor espaço físico para montá-los. (BLANCHETON, 2007), sendo uma alternativa viável. Porém a A escolha da mídia deve ser uma tomada de decisão que submersos deve ser condicionada respeite as características de fun- ao uso de aeração para agitação constante das esferas evitando o contraremos situações distintas acúmulo de matéria orgânica na superfície da mídia e a necessidade de lavagem. 50

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Marco Shizuo Owatari


minimiza o risco de obstrução dos poros pelo acúmulo de matéria orgânica.

Tendo em vista essa grande variedade de mídias biológicas, torna-se indispensável entender a interação entre os parâmetros

Espuma de poliuretano: fabricada com material sintético e re- tros com as mídias, sendo essa sistente é muito utilizada no ramo uma etapa muito importante para fácil manutenção. Proporciona a retenção de partículas sem a interou biológica.

sionamento, layout e manutenção É fundamental salientar que estudos para

© Marco Sh izu o O wat ar i

são complexos devido à fabricada para uso doméstico com grande quantidade de material sintético e de grande du- parâmetros que devem rabilidade, podem ser utilizadas ser monitorados e controlados. Além disso, é preliminares realizados pelo gru- imprescindível o desenpo de pesquisas do laboratório volvimento de protocolos AQUOS – Sanidade de Organismos Aquáticos/UFSC, sob a orientação do professor José Luiz com informações como Pedreira Mouriño e coordenado capacidade de suporte e pelo professor Maurício Laterça cinéticas de degradação de Martins, indicaram que o material compostos nitrogenados para que funciona como um tapete, no qual a indústria possa fazer uso dessas tecnologias na cadeia produtiva ponibilizada em pequenos volumes com maior planejamento para sua da mídia, otimizando a área para

single pass and reuse systems. Aquacultural Engineering and Environment, p. 21-47, 2007.

mis niloticus L. reared in a simple recirculating system. Aquacultural Engineering, v. 24, n. 2, p. 157-166, 2001. TIMMONS, M. B., EBELING, J. M., 2010. Recirculating Aquaculture, 2nd edition. Cayuga Aqua Ventures, Ithaca, NY.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

51


© Aedrian Ortiz Johnson

Avaliação da substituição da biomassa natural utilizada na alimentação de reprodutores de camarão (Litopenaeus vannamei) pela dieta Vitalis 2.5 da Skretting Aedrian Ortiz Johnson Shrimp Technical Manager, Skretting Marine Hatchery Feeds aedrian.ortiz@skretting.com

52

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Tradicionalmente, de forma global, os setores de maturação das larviculturas de camarão alimentam seus reprodutores com alimentos frescos a 25-30% da biomassa. Esta técnica busca satisfazer a demanda nutricional otimizando o número de acasalamentos, desova e produção de náuplios. A utilização de alimentos frescos para reprodutores a base de lula, poliquetas, moluscos, ostras e também artêmia normalmente resultam nas seguintes médias de produção:

· 15% - 20% de acasalamentos/dia; · 150.000-200.000 náuplios/fêmea; · Taxa de eclosão entre 60% -90%; · Taxa de mortalidade de fêmeas menor que 3%.

Ensaios comerciais demonstraram que reprodutores em maturação alimentados com a dieta seca Vitalis 2.5 somada a 5% de alimento fresco (lulas ou poliquetas) obtiveram equivalentes parámetros de produção aos organismos alimentados exclusivamente com alimentos frescos (lula, poliquetas, moluscos, ostras e também artêmia salina). branca (WSSV), Síndrome de Taura (TSV), Infecção Hipodermal e Necrose Hematopoiética (IHHNV), Bacterioses por Vibrio harveyi e Vibrio parahaemolyticus , são A maioria destas doenças pode ser transmitida através dos alimentos frescos. Por muitos anos, esse tipo de alimento têm sido o principal componente da alimentação dos reprodutores no setor de maturação dos laboratórios de produção de larvas de camarão.

alimento fresco são: onte de in gredientes de or igem m ar in h a - com o o con su m o hu m an o dest as 1.Fespécies e a disponibilidade é limitada, esse tipo de alimento torna-se mais caro e com uma logística complexa; 2.Poliquetas - são fontes difíceis de serem encontradas em alguns países devido à sobrepesca; 3.Biosegurança - As doenças representam o principal risco para os reprodutores utilizados na maturação, bem como para sua prole (náuplio). A maioria destas fontes de alimentos é de origem marinha, o que as torna um possível vetor de doenças para o camarão, causando, por exemplo, WSSV e bacterioses por Vibrio Harvey ou Vibrio parahaemolyticus . Mesmo quando provenientes de países onde não possuem criação de camarão, o risco de introdução de novos agentes patogêni-

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

53


Vitalis 2.5 é um alimento granulado macio, extrusado a frio. É formulado e produzido no centro de excelência de dietas de incubação da Skretting na França. A fórmula é baseada em um nível elevado de componentes proteicos marinhos, algas, ácidos graxos poliinsaturados (DHA / EPA), vitaminas e minerais. A dieta é formulada com um elevado teor proteico para promover a elevada fecundidade e frequência de desova, possui 2,5 mm de diâmetro e aproximadamente 5,0 mm de comprimento. Protocolo com a dieta seca Vitalis 2.5:

%Peso Vivo* – Total de oferta de alimento para o camarão por dia (total =8%) A metodologia e resultados dos ensaios comerciais que têm sido realizados em laboratórios no México e no Brasil são descritos a seguir:

MÉXICO no México. Em operação desde 1992, a empresa localiza-se em Mazatlán, Estado de Sinaloa. Desde o início de suas operações tem desfrutado de uma localização privilegiada, dando-lhe acesso ao mercado, clima favorável, boa qualidade da água e possui uma capacidade de produção de 500 milhões de pós-larvas por mês. No momento, conta com um núcleo genético e um centro de incubação, que consiste em: maturação, larvicultura, berçário, engorda e um laboratório de diagnóstico.

Metodologia O ensaio foi dividido em uma população controle em tanques de maturação alimentados com a dieta tradicional e uma população teste alimentada com o seguinte protocolo:

54

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


www.7siusa.com

Os tanques de maturação foram estocados com oito reprodutores por metro quadrado, com uma proporção de 1: 1 entre machos e fêmeas. A renovação de água foi de 200% ao dia, com temperatura e salinidade média de 28°C e 35 ppt, respectivamente. O peso médio das fêmeas foi de 40 e 32,8 gramas para o grupo controle e teste, respectivamente. A alimentação diária foi dividida em cinco frequências alimentares.

Resultados

Nota: O número de ovos e náuplios foram calculados como taxa de biomassa.

Vitalis 2.5 + poliquetas teve uma produção 4% maior de náuplios por fêmea. O estudo também mostrou que os animais mudaram livremente a ingestão entre alimentos frescos e formulados sem qualquer restrição. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

55


BRASIL No Brail, o expêrimento foi realizado em um dos maiores laboratórios do País, líder do mercado nacional, localizado no Rio Grande do Norte, com capacidade de produção de 250 milhões de pós-larvas por mês.

Metodologia O experimento foi dividido em dois grupos, o controle, que foi alimentado com a dieta tradicional de maturação e o grupo tratado com a dieta teste (3% Vitalis 2.5 + 5% lula), conforme tabela abaixo.

Os tanques de maturação foram estocados com oito reprodutores por metro quadrado, na protura e salinidade média de 28 ° C e 35 ppt, respectivamente. O peso médio inicial das fêmeas do grupo controle foi de 53,5 gramas enquanto as fêmeas do tratamento Vitalis 2.5 tinham 51,2 gramas. Os animais foram alimentados com as dietas experimentais em cinco frequências diárias.

Resultados

56

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


experimental Vitalis 2.5 + lula resultou em apenas 10% menos número de náuplios por fêmea. redução da mortalidade das fêmeas e na redução da necessidade de renovação de água, quando comparado ao tratamento controle.

Conclusão Após vários ensaios, observou-se que a dieta seca Vitalis 2.5 pode ser utilizada como ingrediente principal na alimentação da maturação apresentando excelentes números de produção. Portanto, a dependência das dietas frescas com várias fontes, que representam um perigo para a saúde na primeira fase Ambas as combinações: Vitalis 2.5 + lula e Vitalis 2.5 + poliquetas mostraram resultados similares, tanto no Brasil quanto no México. Seguindo diferentes protocolos os resultados foram estatisticamente dieta Seca Vitalis 2.5 está em uso em ambos os países, utilizando 3% dieta seca + 5% de lulas mostrando os mesmos resultados.

© Aedrian Ortiz Johnson

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

57


Anuncie sua empresa na A Q U A C U LT U R E B R A S I L . Sua marca merece estar em destaque no maior portal da aquicultura brasileira. publicidade@aquaculturebrasil.com

58

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


NOSSOS CURSOS “Parabéns pessoal. Ótimo curso de bioavançado!!!” - Ruanito Andr “Fiz o curso de BFT básico. Gostei muito. Prof. Maurício super gabaritado e com ótima didática. Leva o curso numa boa crescente. Parabéns.” - RibaeWal Carvalho

Cu rsos p ara o pri mei ro bimestre de 2017:

“ ticipativo, o curso conseguiu sintetizar em apenas 6h um conteúdo atual, global e muito interessante sobre o panorama e potencial da produção no sistema de Aquaponia, seja como hobby ou intuito comercial. Parabéns aos realizadores!”- Rodrigo Baldin

Janeiro

CULTIVO EM BIOFLOCOS MÓDULO BÁSICO

AQUAPONIA MÓDULO BÁSICO

18 e 19 de janeiro

25 e 26 de janeiro

POLICULTIVO DE TILÁPIAS E CAMARÕES MARINHOS 08 e 09 de fevereiro

Fevereiro

CULTIVO EM BIOFLOCOS MÓDULO AVANÇADO 15 e 16 de fevereiro

Invista em você e na sua carreira! Inscrições e maiores informações: c u r s o s @ a q u a c u l t u r e b r a s i l . c o m AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

59


© University of Michigan School of Natural Resources & Environment

A Fraude em pescado e o método de DNA Barcode para identificação de espécies Danilo Alves Pimenta Neto¹*, Denise Aparecida Andrade de Oliveira² e Lilian Viana Teixeira³ ¹Analista no Laboratório de Genética Animal da Escola de Veterinária-UFMG ² Professora do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária-UFMG ³Professora do Departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal da Escola de Veterinária-UFMG *danilo.evufmg@gmail.com 60

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Mercado do pescado

C om captura de peixes relativamente escultura tem mostrado ainda mais sua importância no mercado do pescado. Em 2015 com 77,3 milhões de toneladas no mundo (FAO, 2016).

de 392 mil toneladas em 2013, para 483 mil toneladas em 2015, tendo um aumento de 18,8% (IBGE 2013; 2014; 2015). O peixe que mais é produzido no Brasil é a tilápia, com 219,33 mil toneladas.

Dados da FAO (2013; 2014; 2016) mostram que, com o crescimento da popuA aquicultura bra- © Giovanni Lemos de Mello lação, o consumo de proteísileira continua em crescina animal, principalmente mento, com todos os 27 do pescado, vem aumentanEstados apresentado dado também. No Brasil, o dos sobre essa atividade, pescado é em sua maioria e sua produção gerando comercializado inteiro, fresem 2015, mais de R$ 4,39 co ou refrigerado congelabilhões, sendo quase 70% do, e uma pequena parce(R$ 3,64 bilhões) proveniente da criação de peixes (IBGE, 2015). Desde 2013, Na América do Sul, o o IBGE começou a comconsumo de quilos de pescaputar os dados da aquicultura em suas es- do por habitante ao ano é menor do que o tatísticas, entre elas está a produção de recomendado pela OMS, que é de 12 quilos. peixes, bem como de camarões; alevinos; No Brasil, o consumo chega a 14,50 quilos larvas e pós-larvas de camarões; ostras, vie- por habitante/ano de acordo com o levantairas e mexilhões. A produção de peixes saiu mento feito em 2013 (FAO, 2014; 2016).

O código de barras do DNA A diversidade de sequências de DNA como um código de barras. é reconhecidamente uma ferramenta para distinção entre espécies. Cerca de 40 anos A idéia é a mesma do código de barras universal de produtos do mercado varepela eletroforese de proteínas em gel de ami- jista, que emprega 10 números alternados em do. A abordagem com DNA mitocondrial 11 posições para gerar 100 bilhões de identipassou a predominar na sistemática molecular nas décadas de 1970 e 1980 (Avise, 1994). pode haver até quatro possibilidades de nucleotídeos (adenina, citosina, guanina e timiSegundo Hebert et al., (2003) na ten- na) em cada posição, mas com uma cadeia de tativa de padronizar o marcador utilizado na sítios mais longa que 11 posições (Figura 1). A combinação de apenas 15 dessas posições em 2003, pesquisadores da Universidade de de nucleotídeos, por exemplo, criaria um Guelph (Ontário, Canadá) propuseram a bilhão de códigos únicos, um número muicriação de um sistema diagnóstico universal, to maior do que o de espécies conhecidas, baseado em um fragmento de aproximada- que é de aproximadamente 15 milhões. Isso mente 650 pares de bases (pb), a partir da base 58 da extremidade 5’ do gene COI. Esse apresentar uma sequência única de DNA marcador foi denominado DNA Barcode, Barcode (Hebert et al., 2003). pois sequências desse gene funcionariam AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

61


Figuras: © Danilo Alves Pimenta Neto

Análise Foi criado um banco de sequências do DNA Barcode para todas as espécies existentes. Preferencialmente utilizando amostras depositadas em mudas por taxonomistas (Ratnasingham e Hebert, 2007). Esse banco de dados, denominado de BOLD (Barcode of Life Data System) permite associar outros tipos de dados às amostras tais como: fotos do espécimen ( voucher); informações, como ponto, data da coleta e coletor; número do espécimen e instituição na qual foi depositado; dados taxonômicos; informações moleculares, como eletroferogramas das sequências, Figura 1. Demonstrativo do código de barras do varejo e do DNA. quais primers depositadas no BOLD; em seguida é feita uma busca sequenciamento (BOLD, 2013). das 100 sequências mais similares com aquela de inAlém disso, no BOLD é possível realizar aná- teresse; uma árvore de Neighbor-Joiningé construída lises das sequências depositadas, como por exemplo, a espécie é atribuída àquela da sequência mais proteínas) de parada inesperados e ambiguidade na similar a ela (Frézal e Leblois 2008). Segunsequência (Ratnasingham e Hebert, 2007). da espécie de insetos, aves e mamíferos só pode ser aceita se é realizada pela comparação de uma sequência de in- houver similaridade com alguteresse com sequências lá depositadas. Primeiramente ma sequência do BOLD maior a sequência de interesse é alinhada com as sequências do que 97%, 98% e 98%, respectivamente.

DNA Barcoding na indústria do pescado Existem dois tipos de erro de rotulagem em pescado: a substituição acidental e a intencional. A substituição acidental pode ocorrer devido à semelhança morfológica de espécies (Cawthorn et al, 2012), mas também porque algumas espécies poAtualmente o comércio de pescado é regulado dem receber diferentes nomes comerciais dentro ou por barreiras tanto econômicas, quanto sanitárias. A fora do país (Triantafyllidis et al., 2010), tornando a

ovos a adultos - e seus produtos é importante para diversas áreas e pode viabilizar, por exemplo, a detecção de fraude ou substituição de espécies em transações comerciais (Smith et al., 2008).

uma ferramenta importante para detecção de substituições ou fraudes intencionais frequentemente encontradas na forma de substituições por produtos de maior disponibilidade e menor valor comercial (CEPAL, 2005). As fraudes por adulteração de alimentos podem ser realizadas intencionalmente com o intuito de mascarar más condições do produto, ludibriar o consumidor com produtos de menor valor comercial ou até mesmo esconder questões sanitárias. 62

cada. Já a substituição intencional pode ser utilizada com espécies que normalmente seriam descartadas por não serem atrativas (Huxley-Jones et al., 2012) ou mesmo para vender espécies ameaçadas de extinção ou sobre-exploradas (Rasmussen e Morrissey, 2008). Há também casos de espécies de alto valor comercial sendo substituídas por outras de baixo valor comercial (Cawthorn et al., 2012). Substituições de pescado têm sido relatadas em vários países como o Canadá e Estados Unidos

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


da América (Wong e Hanner, 2008), Japão e Coreia (Baker, 2008), Itália (Barbuto et al., 2010, Filonzi et al., 2010), Grécia (Triantafyllidis et al., 2010), Egito (Galal-Khallaf et al., 2014), África do Sul (Cawthorn et al., 2012) entre outros. No Brasil, um exemplo da aplicação do uso de análises de espécies, foi feita no Laboratório de Genética da Escola de Veterinária da UFMG que constatou a substituição do surubim comercializado na ci- Tabela 1. Espécies com diferentes nomes comerciais dentro ou fora do país. dade de Belo Horizonte (Pseudoplatystoma corruscans ) (Carvalho et al., 2011) e também em diversos outros peixes, comercializados no Sudeste, por espécies de menor valor comercial (Pimenta Neto, 2013; MGTV, 2013). No Brasil, algumas empresas que comercializam pescados tem um grande interesse por esse Estadual de Florestas de Minas Gerias (IEF) (Jornal Nacional, 2009).

Agradecimento Agradecemos ao CNPq (INCT 573899/2008-8) e

Avise, J.C. Molecular Markers, Natural History and Evolution, Chapman Hall, 1994. wildlife trade. Molecular Ecology, 17(18), 3985–3998, 2008. Barbuto, M., Galimberti, A., Ferri, E., et al. DNA barcoding reveals fraudulent spp.). Food Research International, 43(1), 376–381, 2010. Carvalho, D.C., Neto, D.A.P., Brasil, B.S.A.F., et al. DNA barcoding unveils a high DNA, 22(S1), 97–105, 2011.), 30–40, 2012 analisando apenas características externas. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

63


A RTIGOS

PA R A C U R T I R E C O M PA R T I L H A R

E COLOGICAL ENGINEERING P OTENTIAL FOR INTEGRATED IN MARINE

OFFSHORE

IN AQUACULTURE MULTI - TROPHIC SYSTEMS

AQUACULTURE

(IMTA)

Cientistas renomados na temática da aquicultura (Troell, Chopin, Neori, entre outros), de seis diferentes países, reuniram-se para escrever este excelente manuscrito publicado originalmente em setembro de 2009 na revista “Aquaculture”.

P OR

Longlines de kelp ( Saccharina latissima) cultivada próximo a gaiolas de salmão do Atlântico (Salmo salar) em AMTI na empresa Cooke Aquaculture Inc., na Baía de Fundy,

QUE DESENVOLVER

MULTITRÓFICA

INTEGRADA

A AQUICULTURA

(AMTI)?

ponível em: www2.unb.ca/chopinlab/S...S...S/

Nos últimos anos houve um aumento expressivo no interesse por informações sobre sistemas de cultivo que combinem espécies que se alimentam de ração (ex.: peixes), com espécies extrativas inorgânicas (ex.: algas) midades.

(macroalgas, ostras, lagostas, pepinos-do-mar, etc). , entre eles, a exposição da Saiba mais acessando o artigo completo em www.journals.elsevier.com/aquaculture.

64

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


C C AMARÃO

H A R G E S A PREÇO

DE OURO

H IDROMASSAGEM

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

65


Po d e rá o co nce nt rado substi tui r a pro duçã o l ocal ( “ on-site ”) de mi c roalgas? Dr. Rober to Bia nchini Derner - rober to.derner@ufsc.br

Laboratório de Cultivo de Algas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC. dos animais produzidos M uitos em aquicultura dependem

das microalgas para sua nutrição. Reconhecidamente, a quantidade de microalgas consumida (tanto cultivadas quanto provenientes do ambiente natural) é muito maior do que a quantidade de pescado produzido, levando em conta o somatório da produção mundial de peixes, camarões e de moluscos. Desta forma, as microalgas não devem ser consideradas meramente como alimentos naturais, mas sim como um setor de produção e, na verdade, o maior em volume.

© http://reedmariculture.com/

66

Geralmente, maior atenção tem sido dada à produção de microalgas na etapa de larvicultura destes animais, uma vez que, em nível comercial não é possível a substituição das microalgas por redução dos índices (parâmetros) zootécnicos (sobrevivência, ganho em peso, resistência à doenças, etc.). Para suprir esta demanda, os laboratórios de larvicultura precisam desenvolver seus próprios cultivos de microalgas (produção local ou “on-site ”), sendo que, diversas questões devem ser consideradas: o setor de produção de microalgas implica num grande investimento em infraestrutura; tem elevado custo de operação, considerando a necessidade de mão de obra especializada e os insumos, bem como, os sistemas de baixíssima produtividade; a produção das culturas pode ter variações em volume (épocas do ano, contaminação etc.) e na qualidade da bio-

que, quando menor o laboratório mais complicada e dispendiosa será a produção local de microalgas. Diversos laboratórios em outros países têm empregado concentrados (ou pasta) de microalgas como uma alternativa, ou de forma complementar, à produção “on-site ”. Visando esta demanda, algumas empresas oferecem estes concentrados como um produto comercial: InstantAlgae® e EasyAlgae®, por exemplo. Estes produtos têm sido empregados, principalmente, no cultivo de larvas e juvenis de moluscos, na larvicultura de camarões marinhos, e na produção de organismos forrageiros (copépodes, rotíferos e artêmia) para uso na alimentação de larvas de peixes marinhos.

Na literatura internacional, diversos estudos dão conta de que o emprego da pasta de microalgas não causa redução nos índices zootécnicos em comparação ao uso das culturas (frescas) de microalgas. Mesmo assim, alguns pontos devem ser considerados: existe uma demanda por parte dos co das células, valor laboratórios brasileiros, entretannutricional); além dis- to, a aquisição depende de imporso, nem sempre a pro- tação, ou seja, não existe produção dução das culturas de comercial no Brasil e, por falta de microalgas está alinha- regras de importação e de conheda à demanda, assim, ora faltam microalgas, enquanto noutros mo- na alfândega e/ou sob condições mentos as culturas são inadequadas de conservação; outro desperdiçadas. Cabe esclarecer fato que desestimula o uso das pas-

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


BIOTECNOLOGIA DE ALGAS

© Roberto Derner

culturas podem ser concentradas de diferentes formas:

tas são as altas taxas de importação, tornando a aquisição do concentrado inacessível para muitos produtores. Assim, são raros os laboratórios nacionais que têm alguma experiência no uso deste produto.

por exemplo; sendo que somente a centrifugação é aplicada comercialmente.

Visando suprir esta lacuna, no Laboratório de Cultivo de Algas da UFSC estão sendo desenvolvidas pesquisas relacionadas aos processos de produção, de armazenamento e de utilização da pasta de microalgas. Inicialmente, as pesquisas têm como objetivo o desenvolvimento de um pacote tecnológico para a produção da pasta da microalga Nannochloropsis oculata, que é uma espécie amplamente usada em laboratórios de larvicultura de peixes marinhos, entretanto, outras espécies já estão sendo avaliadas.

Além disso, cia no processo de separação, são potencialmente tóxicos para os organismos que serão alimentados. Quanto à estocagem (tempo de prateleira), a pasta de microalgas pode apresentar variações na composição bioquímica e, consequentemente, perda na qualidade nutricional.

Com o tempo, e/ou má conservação, pode haver proliferação microbiana e degradação dos compostos, principalmente dos ácidos graxos poli-insaturados, carboidratos e proteínas. Assim, A produção da pasta de mi- faz-se necessária uma série de estucroalgas tem algumas limitações, dos focada na produção e na concomo o emprego de sistemas de servação da pasta de microalgas, a cultivo de baixa produtividade

ta a separação das células algais produto nacional. do meio de cultura, seja pela baixa Esta matéria contou sumo de energia, demanda de mão com a colaboração do acadêmico Rafael Sales, doutorando do de obra, etc. PPGAQI/UFSC. Para a obtenção da pasta, as

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

67


G r e e n Te c h n o l o g i e s Carbono:nitrogênio, a “doce” relação empregada nos sistemas de bioflocos Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano - UDESC, Laguna, SC mauricioemerenciano@hotmail.com

“Green Technologies” desta edição aborda um tema que intriga muitos produtores e técniA coluna

© Sara Pinho

carbono:nitrogênio (C:N) e o motivo de utilizarmos “açúcares” ou fontes de carbono externo, como melaço Como já sabemos, a “essência” do sistema de to? Correto! E essa riqueza é devido essencialmente pelas trocas de água mínimas ou nulas, que concentram os nutrientes no ambiente de cultivo, ambiente este que possui constante aeração e movimento (turbulência) de água. Mas não basta somente concentrar estes nutrientes, eles tem que estar presentes de uma maneira balanceada. Em outras palavras, com uma relação C:N adequada (ou “mais elevada”), geralmente entre 12-20:1, fomenta-se o crescimento de microrganismos desejáveis do sistema: degradadores de matéria Além disso, e não menos importantes, grupos se desenvolvem paralelamente por encontrar um amtivo, onde gradualmente se reduz a incorporação do carbono externo, este grupo representará cerca de 2/3 da transformação do nitrogênio amoniacal. Mas vale ressaltar um ponto extremamente importante: estas bactérias não degradam a matéria orgânica. Não é seu papel, sua natureza. E sim oxidam a amônia em nitrito e nitrito a nitrato, utilizando carbono inorgânico para seu metabolismo, que é considerado mais lento, e que demoram em colonizar o ambiente de cultivo. Para fomentar e manter esses grupos estáveis é fundamental um pH mais neutro, alcalinidade acima dos 100mg/L e concentrações elevadas de oxigênio dissolvido.

68

Figura 1 . Uso de fontes de carbono devem ser sempre acompanhado do monitoramento periódico dos sólidos no ambiente de cultivo.

Mas se a tarefa é controlar e diminuir eventuais picos de nitrogênio amoniacal em um ciclo já em andamento (em virtude, por exemplo, de uma novamente utilizar a “doce relação” até que a mesma se reestabeleça. No entanto, deve-se empregar uma relação mais baixa (ou 6:1; proposto por Ebeling et al. 2006) que leva em consideração os valores de nitrogênio amoniacal total presente na água de cultivo. Mas prudência e controle criterioso são a chave do sucesso! O excesso da adição destes açúcares tendem a aumencomo resultado pode ser observado uma diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido, redução do pH e novos picos de amônia e nitrito no sistema. A tarefa não é fácil. Cautela, monitoramento e muita observação são palavras que não devem ser esquecidas. Mãos a obra!

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Empreendedorismo Aquícola D i n â m i c a E s t á t i c a

X

André Camargo Escama Forte andre@escamaforte.com.br

C

ontrariando sempre as leis da física a aquicultura apresenta componentes biológicos, climáticos e humanos que a tornam uma ciência inexata. Inexata a ponto de empresarialmente causar reviravoltas de grande porte neste setor pujante do agronegócio brasileiro. O exemplo de fascínio que exploraremos agora é a carcinicultura brasileira, a qual passa por um momento histórico e decisivo em sua história. Depois de anos de convivência com o vírus da mancha branca no país o mesmo atinge o maior estado produtor do país, o Ceará. Tal fato, somado à seca e falta de água, incidem sobre este importante produtor nacional, elevando mortalidades a níveis nunca antes vistos, assustando os produtores e levando cerca de noventa por

como Rio Grande do Norte e Paraíba entre outros, que por anos sofreram com a tal “mancha branca” e aos poucos aprenderam a conviver com ela, gerando números aceitáveis e remuneradores, sem falar naqueles projetos que investiram em novos processos tecnológicos que protegem suas criações das infecções e trazem produtividades que batem qualquer grande número ao longo do mundo. Neste momento então a dinâmica venceu a estática, os produtores que aprenderam a conviver com a doença, os produtores que investiram em novas tecnologias e as empresas que acreditaram no potencial de produção de nossa gente, venceram. Se tivessem camarote mais um caso de sucesso da aquicultura brasileira.

Caso de sucesso este que hoje traz ao perseverante um preço excelente e que remunera sua produção Por outro lado, os de forma justa e honrada, mercados consumidores sucesso este que a pouco brasileiros, que se habituaram tempo não era imaginado a consumir o camarão de nem pelo mais otimista dos criação pressionaram a oferta carcinicultores que tinham restrita e ativaram a famosa lei “mancha branca” em suas da “Oferta e Demanda”, como conclusão temos hoje os áreas. Cabe agora ao carcinicultor cearense, arregaçar preços praticamente duplicados nos centros urbanos as mangas, seguir os passos de boas práticas de manejo quando comparamos com o início do ano de 2016. necessárias para vencer o vírus e com certeza em breve voltar ao topo da aquicultura cearense e brasileira. Esta auto-regulação do mercado vem a premiar e estimular aqueles produtores de outros estados, Figura: © André Camargo

vazios por no mínimo precaução.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

69


IÇÃO R T U N

O valor dos carboidratos na nutrição aquícola

Dr. Ar tur Nishioka Rombenso Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México. arturnr@yahoo.com.br

carboidratos são macronutrientes encontrados O snaturalmente, sendo compostos por carbono, hi-

de apenas proteínas e lipídios, sem contar o custo altíssimo dessa dieta, e a garantia da qualidade drogênio e oxigênio em proporções que geralmente do pellet seguem a fórmula CH2O. Esses nutrientes são uma estabilidade em água, etc.) conforme o desejado; ótima fonte de energia (17 kj/g) e estão amplamente Os carboidratos auxiliam na estabilidade fecal e

4

dos quanto à complexidade de sua composição química, baseada no número de monossacarídeos (açúcares simples) existentes na cadeia da molécula e em como eles são conectados. Compostos simples como os monossacarídeos (glucose, frutose) são prontamente utilizados. O mesmo é válido para os dissacarídeos (sucrose, lactose) e alguns oligossacarídeos (amido), porém compostos mais complexos como os polissacarídeos (celulose e quitina) são mais difíceis de digerir. Diferentemente das proteínas e dos lipídios, os carboidratos não são exigidos nutricionalmente por peixes e camarões, pois eles podem sintetizar, de que não sejam carboidratos, como por exemplo, os aminoácidos. Estudos relatam que esses organismos podem viver felizes e saudáveis quando alimentados com dietas sem carboidratos. Então, por que os carboidratos são incluídos nas dietas aquícolas? E por que existe tanta pesquisa aplicada buscando compreender o metabolismo desses nutrientes? No processo de formulação, após satisfazer as exigências nutricionais por aminoácidos, ácidos graxos, vitaminas e minerais, é comum a inclusão de carboidratos, pois: Os carboidratos são disponíveis globalmente e constituem uma fonte barata de energia; Em termos de energia disponível para os organismos, os carboidratos podem ser utilizados no lugar das proteínas e dos lipídios (processo conhecido em inglês como “protein- and lipid-sparing ”), possibilitando formulações mais

1 2

gastrointestinal. O ambiente aquático é rico em proteínas e lipídios, porém pobre em carboidratos. Dessa forma, é esperado que os organismos aquáticos possuam certas limitações para utilizar esses nutrientes. Porém, devido à grande variedade de organismos aquáticos, certas espécies utilizam melhor os carboidratos como fonte nutricional (energética) através de determinacategoriza em três grandes grupos os multi-fatores que que inclui hábitos de alimentação, exer1 Biologia, cício e genótipo; Dieta, que inclui fonte de carboidrato (origem 2 botânica, complexidade molecular e estado físico), nível de inclusão e regime alimentar, e interação de nutrientes; Ambiente, que inclui temperatura, salinidade, estresse e fotoperíodo (Kamalam et al., 2016).

3

pécies menos carnívoras) e que vivem em ambientes menos salinos utilizam os carboidratos de maneira

pela temperatura, as espécies de águas tropicais são

nutrientes funcionam como ligantes, pos3 Esses sibilitando a peletização e extrusão das dietas,

comparadas com espécies subtropicais e temperadas. pois seria impossível a fabricação de dietas à base Além disso, uma espécie criada na extremidade supe70

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


rior de seu intervalo térmico (intervalo de temperatura ideal de criação) irá digerir carboidratos mais prontamente do que a mesma espécie criada na extremidade inferior do seu intervalo térmico. Em segundo lugar,

de água doce também utilizam melhor os carboidratos do que espécies marinhas. Uma tentativa de generalizar a utilização de carboidratos em peixes consistiria em:

Carpa capim

>

>

> Carpa comum

>

Tilápia

Olhete

Salmão

Figura: © Artur Nishioka Rombenso

Hábito alimentar

O intuito desse artigo foi relatar, em termos gerais, a importância dos carboidratos na nutrição

Temperatura

Fatores Biológicos

Fatores Ambientais Estresse

Genótipo

mente quanto em termos de fabricação dos alimentos, e também ressaltar que existem vários grupos de pesquisa focados na nutrição de carboidratos, embora o enfoque ainda seja menor do que em relação às proteínas e lipídios.

Salinidade

o od

Us

Exercício

Origem botânica

O

CH

Complecidade Molecular

Fatores Nutricionais

Fotoperíodo

Outros nutrientes

Processamento

and future strategies. Aquaculture, in press. Doi: 10.1016/j.aquaculture.2016.02.007

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

__

71


Atrelado ao novo decreto cial do estado, em 1º de dezembro de 2016, uma lista das espécies permitidas para criação. Tal lista foi elaborada pelo Instituto de Pesca de São Paulo em consenso com o setor produtivo. Num primeiro momen Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.; to esta publicação contempla uma séria de espécies alóctones, exótiPirassununga, SP. sussel@apta.sp.gov.br cas e híbridas que possuem algum potencial econômico e zootécniegalização dos projetos aquíco- co pra serem cultivadas. A cada 2 las. Sem sombra de dúvidas anos esta lista será revista e aquelas este é o maior desejo de todos espécies que não apresentarem os aquicultores do Brasil. Recente- relevância econômica/zootécnica mente o estado de São Paulo deu serão retiradas da lista. um importante passo para isto, já que em 1º de novembro de 2016 o governador do estado assinou

L

processo de licenciamento, redução das taxas e regras a serem cumpridas, é o resumo e é o que se espera, na prática, deste novo decreto. Os aquicultores terão o prazo de 1 ano para se adequarem às novas regras.

demonstrar na prática que podemos sim produzir alimentos sem prejuízos ao meio ambiente. ”

responder a altura este novo desa-

Na coluna da edição passada escrevi que “cultivamos água, não peixe ou camarão ou moluscos...”. Fazendo alusão a necessidade de cuidarmos ainda mais do nosso bem mais precioso. Sem perder este foco, sugiro um olhar diferente para a atividade: “cultivamos água para produzirmos proteí na animal”. Sem qualquer vaidade em relação a espécies ou sistemas de cultivo. Sem vaidades, mas com responsabilidade! Não tenho dúvidas que temos condições técnicas e viabilidade econômica para nos anteciparmos de futuros problemas ambientais. Mais do que qualquer outra atividade agropecuária, a aquicultura depende de um ambiente de qualidade e em equilíbrio. Então, por que esperar

Ainda sem usufruirmos dos 30% de ganho em produtiviO mesmo é fruto de um Em poucas palavras, foi isto dade que o melhoramento genético trabalho árduo de pelo menos 3 que ocorreu nos últimos meses no anos que envolveu várias reuniões estado de São Paulo. Quer dizer que e a nutrição proporcionam, a aqui entre setor produtivo, lideranças agora esta fácil criar peixes, inclupolíticas, Secretaria de Agricul- sive exóticos e híbridos, em águas de se produzir proteína animal. E tura e Secretaria do Meio Ambi- paulistas? Não, muito pelo con- temos plenas condições de também ente do Estado. O que resultou em trário. A responsabilidade sobre o sermos a forma mais sustentável. Para tanto, é urgente a necessidade decisões maduras e equilibradas no que se refere à necessidade de Até porque, a partir do regramen - de pensarmos em planos de conproduzirmos alimentos com res - to, os órgãos ambientais passarão tenção para evitar escapes, bem como na reutilização da água de peito ao meio ambiente. “descarte” das pisciculturas em tanques escavados. maior. E o setor produtivo precisa

72

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


ATUALIDADES & TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA

Os trâmites para se chegar ao novo decreto

entre setor produtivo e governo, contando sempre com o apoio do Dr. Orlando de Melo Castro, diretor geral da APTA, José Fontes, A construção deste novo assessor técnico da Secretaria de decreto se deu a partir de um tra- Agricultura e Alberto Amorim, balho árduo envolvendo as partes secretário-executivo das Câmaras interessadas. Considerando que Setoriais. o mesmo pode servir de modelo para que os outros estados da federação também criem seus próprios decretos, vou tentar resumir as etapas envolvidas. Acho importante citar alguns nomes tanto para deixar claro como a questão avançou quanto também uma forma de reconhecimento ao excelente trabalho realizado por estas pessoas. Mesmo que eu cometa a injustiça de deixar algum nome de fora, acho importante relatar isto. Inicialmente, várias reuniões entre setor produtiDo lado do setor produti- vo, Secretaria de Agricultura vo, houve a liderança dos piscicul- e Secretaria do Meio Ambiente tores Martinho Colpani e Emerson do Estado. Em seguida, buscou-se Esteves. O primeiro na condição apoio político para que as disde presidente da Câmara Setori- cussões ganhassem status de deal do Pescado e o segundo como creto. E aí os deputados estaduais presidente da Associação Peixe Sebastião Santos, Barros Munhoz e SP. Outros produtores deram in- Itamar Borges se comprometeram condicional apoio, mas estes dois em apoiar a causa. foram além e não mediram esforços para lutar pela causa. EsPor parte da Secretaria do tes produtores tiveram o apoio do Meio Ambiente, o secretário Ridiretor do Instituto de Pesca de cardo Salles teve a sensibilidade SP, Dr. Luiz Ayroza, que prontade ouvir e discutir com sua equipe mente abraçou a causa e foi peça técnica as demandas do setor profundamental para fazer a ligação

dutivo. Do lado da Secretaria da Agricultura, o secretário Arnaldo Jardim, o qual teve como premissa que os piscicultores são os maiores interessados em cuidar do meio ambiente e dos recursos hídricos, também foi peça chave para o desenrolar deste novo decreto. Setor produtivo unido, com objetivos claros, texto amplamente discutido e debatido entre as partes envolvidas, proposta devidamente lastreada com o apoio de lideranças políticas, culminou na sensibilização do governador Geraldo Alckmin que, em seu discurso no dia da assinatura do decreto, demonstrou grande conhecimento sobre o assunto e grande segurança sobre o ato. Em resumo, a aquicultura paulista alcançou o objetivo e a sensação é que deu-se um imé demonstrar na prática que podemos sim produzir alimentos sem prejuízos ao meio ambiente. E volmas que com bom senso e usando de tecnologias já disponíveis, po-

Figura: © Imprensa Itamar Borges

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

73


Aquicultura Latino-americana Tra n s gê n i co s n a A m é r i ca d o S u l : Vo cê é a fa v o r o u co n t ra a l i b e ra çã o d o s a l m ã o t ra n s gê n i co? Dr. Rodolfo Luís Petersen - Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontal, PR. rodolfopetersen@hotmail.com A Argentina sempre foi o campo de testes de tudo. Só faltou a bomba nuclear. Em outubro, na minha última viagem ao país vizinho, a televisão só comentava a crise com a Inglaterra porque o país do Norte iria fazer uns testes de armas pela região das Ilhas Malvinas no Atlântico Sul. Os argentinos também lideraram no passado os testes da soja transgênica. Os testes deram certo. Hoje a Argentina produz milhões de toneladas e transformou-se em um dos maiores produtores do planeta. Uma notícia bombástica circulou numa importante lista de discussão da aquicultura brasileira (16/09/2016) mais ninguém deu muita importância, até porque todos acharam que não era verdadeira. Para introduzir nas terras tupiniquins um lote de animais exóticos que se cultivem normalmente no país é uma novela, alevinos transgênicos seria impossível. Participei como professor em outubro de um curso de Piscicultura Marinha no INIDEP (Instituto Nacional de Desenvolvimento Pesqueiro – Mar del Plata - Argentina) ministrando um par de aulas de genética. Na minha segunda participação dissertei sobre ferramentas aplicadas ao melhoramento genético, onde mergulhei no melhoramento clássico, manipulações nalizar com os transgênicos. Apresentei alguns slides com o constructo do transgênico do salmão, a região meu último slide a notícia da internet e deixei no ar:

“Estão sendo realizados testes no Estado de Santa Cruz, na Patagônia, em condições de biossegurança”. Perguntei-lhe: dução dos alevinos? ” E sem titubear mais uma vez respondeu: “Montamos uma comissão de biossegurança que analisou a proposta da empresa canadense em parceria com uma empresa argentina e aprovamos”. Assim como estava participando o secretário, haviam também alunos de muitas instituições de pesquisa e universidades, inclusive do Brasil, Uruguai e Peru. Quando comentava com meus amigos fora do âmbito acadêmico me comentaram: “Macri e suas equipes estão fazendo isso. Não negócio topam sem vacilar e sem consultar a ninguém”. Os ictiólogos argentinos conservacionistas não sabem nada. Os poucos aquicultores tampouco sabem. Os organizadores do curso de piscicultura marinha tampouco sabiam. Os alevinos canadenses já pousaram em território sul-americano. Pareceu-me entender do secretário que há algumas empresas chilenas envolvidas no negócio.

Vo cê é a fa v o r o u co n t ra o s t ra n s gê n i co s?

S e rá v e rd a d e? Na turma de alunos estava o Secretário de Pesca e Aquicultura da Argentina, que tinha ido abrir o curso com uma palestra introdutória do status da aquicultura no país, sendo que na ocasião de sua fala não mencionou nada dos testes com os peixes geneticamente

74

“De repente, o secretário nos possa dar uma luz sobre a veracidade da Notícia”

Como tudo depende de tudo, em princípio, sou a favor!

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2016

75


Recirculating Aquaculture Systems

Chegou a hora de retenção de sólidos em RAS

Dr. Marcelo Shei - Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos. Santos, SP. shei@altamar.com.br www.altamar.com.br

Figura: © www.altamar.com.br

A

remoção de sólidos é uma das principais etapas em um sistema de recirculação de água (RAS). Como é previsível, os sólidos presentes em um RAS são provenientes basicamente de restos de alimentos e fezes. A decomposição dessas partículas na

Filtro Bag

e na produção de grandes quantidades de amônia nitrogenada, o que torna a remoção desse material uma prioridade em um RAS. Quanto a divisão, os sólidos são divididos em três diferentes categorias: sedimentáveis (SS), suspencessitam da nossa atenção são os SS e os suspensos. Os SS são os maiores, possuem uma faixa de tamanho de cerca de 100 micras, sendo os mais fáceis de manejar e, por isso, devem ser removidos dos tanques rapidamente. O uso da saída de água dos tanques pelo fundo e a utilização de padrões de circulação e de tanques com formatos arredondados e sem agitação, tornam a tarefa mais fácil. Com isso, após se acumularem, os SS podem ser removidos diretamente do tanque através

manho de partículas e esquecem que após a remoção dos sólidos dos tanques de cultivo, estes precisam ser removidos do sistema, o que mantém o problema descrito no primeiro parágrafo sobre o consumo de oxigênio e da produção de nitrogenados no sistema.

mentação com passagem lenta.

É muito comum encontrar sistemas que utilizam toneladas de brita, cascalho ou areia como meio

Sistemas para aquicultura, geralmente re- nam a tarefa de remoção dos sólidos acumulados movem sólidos até a faixa de 50 micras. Para essa faixa de partículas, os métodos mais utilizados são as mídias granulares, telas e hidrociclone pressurizado. Atualmente existe uma gama crescente de soluções para a remoção de sólidos da água. Alguns tamanho (<30 micras) normalmente são removidas manualmente com válvulas que fazem com que a limatravés de protein skimmers ou utilização de ozônio, peza seja feita em questão de minutos e sem qualquer tipo de sujeira ou risco de um banho inesperado. A mas isso será tema em outra oportunidade. seleção de métodos e equipamentos adequados torO que tenho observado é que os centros de nam um sistema fácil de operar, mantém os níveis de pesquisa e produção que visito no Brasil ainda estão qualidade de água estáveis, com baixo consumo de repetindo metodologias antigas, iniciadas pelos pro- energia elétrica e principalmente, de água. fessores dos professores. Muitos dos sistemas geralmente não levam em consideração as faixas de ta76

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


A RANICULTUR SERÁ A ESPECIALIZAÇÃO O CAMINHO?

A

Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR. andremunizafonso@gmail.com

ranicultura é uma atividade zootécnica por essência e seu ciclo produtivo pode ser dividido em 3 fases distintas – reprodução, larvicultura ou girinagem e engorda. A atividade completou 80 anos de existência no Brasil em 2015. Muitos modelos de produção foram criados, uns em uso, ainda que aprimorados, outros completamente abolidos. A alimentação também continua sendo motivo

transformam em juvenis são pequenos. A falta de padrão se dá pela ausência de no que tange a esse segmento. Reprodução e engorda acontecem ainda que o produtor erre, mas a girinagem não. Ela é um grande gargalo.

maior percentual de custo da produção, além disso, seu desenvolvimento resulta em melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta e menor descarga de dejetos. Porém, o ranicultor ainda desenvolve todas as etapas de criação. Um ranário clássico é conhecido por desenvolver a ranicultura integral, onde todas as suas fases estão representadas. Devemos manter esse formato ou seguir o exemplo de outras cadeias produtivas, como as do frango, dos suínos e dos peixes? Será a especialização o caminho? Para respondermos é necessário entender primeiro cada etapa do ciclo produtivo. A reprodução é composta por animais que, desejavelmente, devem possuir características zootécnicas interessantes e baixa consanguinidade, de modo a obter-se o máximo de heterose possível aliada às características de produção cia, rendimento de carcaça, entre outras. Devido à não especialização, hoje os ranários não possuem reprodutores selecionados, muitas vezes são consanguíneos e não existe marcação dos animais, logo não se pode traçar um esquema de cruzamentos favoráveis, nem tampouco conhecer sua história reprodutiva. Como a reprodução é o berço de qualquer atividade de criação, a falta de conhecimento e investimento nessa etapa provoca uma A fase seguinte, representada pela criação dos girinos, é realizada em tanques de dimensões diversas, por materiais de cobertura diversos, com densidades animais diversas, ainda que existam orientações relacionadas a esses detalhes. Por que isso ocorre? Normalmente porque se superdimensiona a reprodução e se subdimensiona a larvicultura, logo são obtidas muitas desovas e o produtor, por não querer desperdiçá-las, acaba por adensar taxas de mortalidade se e os animais

ele v a m que se

Figura 1. Instalações de laboratório de reprodução de um ranicultor especializado na produção de juvenis (Afonso, 2013).

subdividida em inicial (criação dos imagos ou juveseu peso e tamanho são inferiores ao padrão ideal. Pode ocorrer maior mortalidade e mais ração será empregada no sentido de conduzir o animal ao o custo de produção. Após 50 gramas passamos a chamá-los somente de rãs e sua criação é extremante fácil, ainda que desenvolvida de diferentes maneiras. Agora podemos responder que manter o formato atual não é o melhor caminho, portanto somos favoráveis à especialização. Ela pode promover uma mudança conceitual na forma como se produzem as rãs. e permite a concentração de esforços e investimentos.

Figura 2. Técnico aplicando hormônio indutor da reprodução em macho de rã-touro americana (Afonso, 2014). AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

77


Aquicultura de Precisão Robôs na piscicultura marinha: uma realidade chilena

Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br no Chile em outubro visitando a AquaSur E stive (uma das maiores feiras de aquicultura) e

remota. Na prática, são pequenos submarinos aproveitando para conhecer o que nossos colegas com câmeras e braços que fazem diversas atividades chilenos andam fazendo em piscicultura marinha. subaquáticas. Foram quase vinte dias de viagem. Saímos do sul do Chile (Puerto Montt, local da AquaSur) e rodaAtualmente diversas operações de rotina mos mais de 2.000 km até Caldera (norte do Chile). na piscicultura marinha (inspeção das panagens e Visitamos diversos empreendimentos e conhecemos das estruturas de fundeio, retirada de peixes mordesde cultivos de trutas e salmões até um cultivo tos, coleta de água e sedimentos) são realizadas de olhetes (Seriola lalandi) em tanques-rede sub- por mergulhadores. Estes trabalhos trazem uma série de riscos não sendo raro a ocorrência de acidentes, mo e o grau de tecnologia que é adotado pela pisci- muitas vezes fatais. A atividade de mergulho possui cultura marinha chilena. alto grau de incidência de problemas laborais. Preocupados com isto algumas empresas no Chile trabalham com o desenvolvimento e a implementação da tecnologia robótica visando automatizar e potencializar os manejos submarinos nos empreendimentos de piscicultura marinha. Já existe em testes até um ROV que costura panagens! E engana-se quem acha que os ROVs vão tirar o emprego dos mergulhadores. Os mini-submarinos fazem o “trabalho duro” indicando exatamente onde os mergulhadores devem realizar suas tarefas, poupando horas de submersão em inspeções perigosas e possibilitando uma ação “cirúrgica” sobre os © Eduardo Gomes Sanches pontos que demandam ações de correção.

© Eduardo Gomes Sanches

Poderia escrever muito sobre tudo que vi mas nesta coluna vou contar sobre o que mais me chamou atenção. A utilização de ROVs. O que é isto ? Rovs (Remote Operated Vehicle) são pequenos veiculos submarinos (40 a 50 kg) impulsionados por motores elétricos e operados de forma 78

P u d e operar um destes ROVs na AquaSur (e confesso que apesar das minhas limitadas habilidades até que me saí bem) e conhecer o potencial desta tecnologia de precisão. Nas próximas colunas vou contar mais sobre as diversas tecnologias de precisão que os piscicultores marinhos chilenos utilizam. Quem sabe um dia não veremos ROVs inspecionado cultivos de bijupirá no Brasil!

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Piscicultura Marinha PORQUE A PISCICULTURA MARINHA PRODUZ APENAS ESPÉCIES CARNÍVORAS?

Dr. Ricardo Vieira Rodrigues - vr.ricardo@gmail.com Estação Marinha de Aquicultura (EMA) Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS de investir em um juvenil de elevado valor. podemos observar é que a piscicultura O que marinha de peixes de corte a nível mundial é No Brasil, espécies como a tainha basicamente direcionada para espécies carnívoras. Mugil liza e a carapeva Eugerres brasilianus Como exemplo temos o salmão, as diversas espécies estão sendo estudadas. Além dos entraves de linguado e mais recentemente o bijupirá e o atum. que citei previamente, a tainha é uma espéDiferentemente, na piscicultura dulcícola o que pocie que apresenta desova total ainda possui demos observar é a grande dominação e expansão elevado custo para sua indução hormonal, da produção de espécies onívoras. Apenas como enquanto a carapeva possui uma acentuaexemplo as duas principais espécies produzidas na da mortalidade possivelmente atribuída ao piscicultura brasileira são a tilápia e o tambaqui, diminuto tamanho da larva. A mortalidade na que juntas representam 70% da produção nacional. larvicultura da carapeva pode também estar associada a alguma etapa da sua metamorfose, como por exemplo a formação da sua boca Em termos gerais a larvicultura de peixes marinhos não é realizada de forma extensiva, pois para as espécies carnívoras apresenta baixas taxas de sobrevivência e praticamente sua totalidade de juvenis produzidos é realizado em sistema intensivo, o que vem sendo copiado para as espécies onívoras marinhas. A larvicultura intensiva, além de ser trabalhosa é bastante longa, durando de 30 a 60 dias para a maioria das espécies e possui um elevado custo. Esses custos estão relacionados principalmente com a produção do alimento vivo que é extremamente elevado. A nível mundial o zooplâncton que é crucial na alimentação das larvas desses peixes está baseado nos rotíferos e nas artêmias, que possuem um custo de produção muito elevado. Esses aspectos supracitados resultam em um juvenil de peixe marinho com elevado custo de produção. Por exemplo, um juvenil de bijupirá vendido no Brasil hoje custa de 3 a 5 reais. Esse valor de juvenil seria impraticável para juvenis de peixes onívoros, que produzidos em sistema intensivo não possuem um valor de mercado muito mais baixo que espécies carnívoras. A grande questão é que espécies carnívoras apresen-

nutricional do alimento ofertado. Contudo, saliento que para ambas as espécies as informações disponíveis ainda são muito escassas. De qualquer forma, essas espécies são promissoras para novos estudos. Para a tainha eu aponto a necessidade de investir em estudos que reduzam os custos com indução hormonal, que são elevados, porém a espécie apresenta boa sobrevivência na larvicultura. E para a larvicultura de ambas as espécies seria importante investir em produção de uma espécie de alimento vivo de menor custo, principalmente em substituição a artêmia (algo que já vem se tentando a algum tempo, mas ainda sem sucesso). Outra possibilidade para redução dos custos seria avaliar larviculturas de forma extensiva para essas espécies, assim como é realizado para algumas espécies de peixes de água doce. De qualquer forma ainda é necessária uma demanda para essas espécies no mercado nacional. O tema dessa coluna foi sugestão do meu grande amigo Gabriel Passini que em breve defenderá seu doutorado em aquicultura na UFSC, em piscicultura marinha. Figura: © Gabriel Passini

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

79


O PH DO PESCADO: UM PROBLEMA QUE MERECE SER ESCLARECIDO

Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA) Mossoró, RN alaugo@gmail.com Nos últimos anos, a Coordenação Geral de Inspeção (CGI), do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) têm intoneladas de pescado importados (ou não) estão sendo apreendidas e de imediato lavrado o auto de infração por estarem em desacordo com Art. 443, Item 2 (As determinações físicas e químicas para caracterização do pescado fresco são: pH de carne externa < 6,8 e da interna < 6,5 nos peixes) do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA. Alguns containers de pescado estão sendo apreendidos, devolvidos e infelizmente outros estão sendo incinerados, por estarem, segundo a CGI/DIPOA/ MAPA, impróprios para o consumo. Diante dessa situação lamentável, o parâmetro pH está causado polêmica tanto no meio reconhecido internacionalmente que variação de pH na carne do pescado somente pode indicar que houve alguma alteração (bioquímica ou microbiológica), porém, não pode ser tratado como um único parâmetro para julgar a qualidade do pescado, ou até mesmo o considerá-lo como impróprio para o consumo. Já é sabido que opescado é um produto perecível, sua vida útil e integridade durante armazenamento em condições de refrigeração (resfriamento ou congela-

80

mento) e transporte (nas mesmas condições) é crobiológicas; técnicas adequadas para manter sua qualidade e frescor fazem-se necessário. A rapidez com que se desenvolvem cada uma dessas alterações depende de como foram aplicados os princípios básicos de conservação, higiene, manutenção da cadeia do frio, assim como as espécies capturadas e os métodos de captura. O potencial hidrogeniônico (pH) tem a função de indicar a acidez ou alcalinidade ou neutralidade do músculo do pescado em um meio aquoso. A determinação do pH representa um dado importante na avaliação da qualidade de diversos alimentos, como o pescado. Este é considerado um alimento de baixa acidez, ou seja, tem pH maior do que 4,5. A concentração dos íons-hidrogênio é quase sempre alterada quando se processa a decomposição hidrolítica, oxidativa ou fermentativa de seu músculo. Quanto mais elevado o pH maior a atividade bacteriana. No entanto, não é conclusivo como único parâmetro para avaliação do grau de frescor do pescado, devendo ser realizadas também análises química, microbiológica, microscópica nos resultados. Dependendo de como foi o processo desde a captura, armazenamento a bordo, desembarque, processamento, congelamento e armazenamento, o pH poderá ser alterado, sem mesmo que o pescado tenha perdido sua qualidade inicial, uma vez que no post-mortem do pescado inúmeras reações químicas e bioquímicas se desencadeiam.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


TECNOLOGIA DO PESCADO

pH, e num recente estudo elaborado pelo MAPA, e publicado no Ofício Circular No. 02/2016/CGI-DIPOA/SDA/GM/MAPA pécies da família Merluccidae, o pH pode apresentar valores ligeiramente maiores em relação à legislação brasileira vigente (RIISPOA) sem rejeição sensorial, e dessa forma, determinaram que para os peixes congelados da família Merluccidae, que fosse adotado o pH 7,0 como limite máximo para efeito de condenação, o que comprova a divergência nos valores de pH entre as espécies, e que a legislação brasileira (i.e., o RIISPOA, e mais recente o Regulamento Técnico sobre a identidade e requisitos mínimos de qualidade que deve atender o peixe congelado - Portaria N° 136, de 15 de Dezembro O que diz a legislação? OCodex Alimentarius (ou o código alimentar) é o ponto de referência Dúvidas ainda persistem no meio acadêmiglobal para os consumidores, produtores e processadores de alimentos, agências nacionais de con- do valor do pH da carne do pescado e o possível trole de alimentos e do comércio internacional de uso do aditivo alimentar fosfato (umectante). O uso alimentos. Todos os países são signatários do Codex deste aditivo antes do congelamento deve ser visAlimentarius , e se baseiam em suas legislações, tande garantir melhor qualidade sensorial e extensa vida-de-prateleira. Além disso, não existe nenhum No Codex Alimentarius – para Filés existente entre o uso de fosfato (ou misturas de pode peixes congelados; na Legislação Brasileira – portanto não Portaria No. 185, de 13/05/1997– RTIQ Peixe Fresco (Inteiro e Eviscerado); na Legislação da União da neutralidade, indique que o mesmo foi exclusivaEuropeia mente tratado com polifosfatos. dutos da pesca; na Legislação Americana – USFDA – Procedimentos para o processamento seguro e Ao mesmo tempo, um pH muito alto pode sanitário, e importação de pescado e derivados; e indicar processo deteriorativo. No entanto, um na Legislação Canadense – CFIA – Padrão geral para pequeno aumento do pH na ordem de 0,1-0,4 uniproduto fresco e congelado (peixe magro) – Não dades poderia estar relacionado com a produção de consta a análise de pH como índice de frescor do pes- um álcali, e no tecido muscular este deve ser pela cado ou que este parâmetro enquadre o pescado como produção de amoníaco ou uma amina biogênica, impróprio para consumo. Apenas na Legislação Ar- comprovado pelo aumento do teor de N-BVT (desgentina – Código Alimentar Argentino– enquadra de que esteja no limite). o pescado como impróprio para consumo quando o pH > 7,5 e teor de nitrogênio amoniacal superior Para maiores informações e referênque 125 mg/100g de matéria seca, e características sensoriais anormais. matéria na íntegra nas próximas edições da revista AQUACULTURE BRASIL. Baseado nas divergências de valores de Figuras : © Alex Augusto Gonçalves

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

81


SANIDADE Estreptococoses na tilapicultura Dr. Santiago Benites de Pádua AQUIVET Saúde Aquática, São José do Rio Preto, SP. santiago@aquivet.com.br

A

pacto no período de primavera e verão. Geralmente a infecção por esta bactéria ocorre em temperaturas acima de 28 ºC, além disso, altas densidades de estocagem, baixos níveis de oxigênio dissolvido na água e más condições de limpeza das telas dos tanques-resando impactos econômico, social e ambiental com a de são fatores adicionais que aumentam o risco de ocorrência de surtos de mortalidade. Entre os agentes emergência de surtos pelos estreptococos. O principal etiológicos, três espécies de estreptococos se desta- grupo de risco para esta doença na tilapicultura são cam, sendo Streptococcus agalactiae, Streptococcus iniae e Streptococcus dysgalactiae, os agentes cau- les que tornam o tratamento com antibioticoterapia sadores destas enfermidades. No Brasil, temos a ocor- mais oneroso. rência das três espécies de estreptococos como cauNos últimos anos, temos observado algumas sadores de infecção em tilápia, no entanto, S. agalactiae é a bactéria que apresenta maior prevalência e possui variações nestes padrões da doença, onde os animais mais jovens, muitas vezes juveampla distribuição territorial, nis com menos de 30g, ou até sendo detectada em praticamesmo alevinos, manifestando mente todos os polos de tilapia doença de forma clássica. cultura estabelecidos no Brasil. Além disso, já detectamos sua ocorrência durante os dois úlTradicionalmente, a intimos invernos, causando surfecção pelo Streptococcus spp. tos importantes com temperaocasiona infecção sistêmica, contura da água na faixa de 19,5º C tudo, este agente possui tropismo a 23ºC. Estas observações nos pelo sistema nervoso central, o levam a acreditar na adaptabique leva ao quadro de meningoencefalite bacteriana, com a Figura 1. Tilápia do Nilo infectada naturalmente por lidade do agente infeccioso em toda a cadeia de produção, com evolução de sinais clínicos neu- Streptococcus agalactiae potencial risco de transmissão a rológicos (nado em rodopio) e partir do plantel de matrizes. – Figura 1); podendo ainda haver pericardite supuratiPara contenção de surtos agudos de estreptoo que por sua vez pode se tornar uma efusão celomáti- cocos, a melhor estratégia é a partir do uso de ração ca (acúmulo de líquido na cavidade celomática). A medicada com antibióticos. Para mortalidades de manifestação clínica da doença pode variar conforme menor proporção, pode-se fazer o uso de algumas sua fase, virulência da estirpe bacteriana e fatores de estratégias de manejo que são responsivas, tais como riscos associados. Na fase aguda da doença observa- cessar o arraçoamento temporariamente, uma vez que mos principalmente sinais clínicos neurológicos e a infecção por esta bactéria ocorre via trato gastrointestinal. A redução da densidade de estocagem para observamos caquexia, efusão celomática, bem como períodos de altas na temperatura da água também é uma estratégia que auxilia a reduzir o impacto pela enfermidade. No entanto, a ferramenta mais efetiva para musculatura dos animais infectados. tualmente as doenças bacterianas são os principais proble-

O principal fator de risco associado à infecção ativa das formas jovens, com uso de vacina injetável pelos estreptococos é o aumento da temperatura da que atualmente já se encontra disponível no mercado água, sendo, portanto, uma doença de maior im- nacional. Figura : © Santiago Benites de Pádua

82

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


10

ano

s n nac o me ion rca do al

AQUACONSULT

AQUICULTURA E MEIO AMBIENTE

Projetos e Serviços em Aquicultura e Meio Ambiente

Á reas de atu aç ão: Elaboração de Projetos Dimensionamento de sistemas intensivos de produção Consultorias técnicas em geral Licenciamento ambiental Cursos, palestras e treinamentos

Equipe multidisciplinar com ampla experiência profissional

Know-how comprovado nos novos modelos intensivos de produção (bioflocos, entre outros).

Agende uma consultoria: (48) 99805-2704 aquicultura.meioambiente@gmail.com


DEFENDEU!

Novidades em teses e dissertações

Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de pós-graduação contribui com novas informações para nossa aquicultura.

Acadêmico: Ademir Heldt Orientador: Dr. Eduardo Luis Cupertino Ballester Coorientador : Dr. Alexandre Leandro Pereira Programa: Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável – UFPR – Setor Palotina – Palotina - PR

Título da dissertação:

Contribuição de diversas fontes alimentares para Macrobrachium amazonicum © Eduardo Bellester

Entre as espécies nativas brasileiras de camarões de água doce oMacrobrachium amazonicum é a que apresenta maior potencial para produção em cativeiro. A avaliação do espectro alimentar de uma dada espécie pode ser efetuada através da análise de conteúdo estomacal e complementada com estudos no ambiente e sobre um dado organismo a utilização da técnica de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio (δ13C e δ15N) tem

O BJETIVO :

Este trabalho teve como objetivo utilizar a técnica de isótopos estáveis para estimar a contribuição das diversas fontes alimentares presentes em ambientes semi-controlados para ganho de biomassa do M. amazonicum.

M ETODOLOGIA : Foram realizados dois experimentos. O primeiro foi realizado para determinar o foram avaliados 4 tratamentos com diferente disponibilidade de fontes alimentares:

84

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


T1 Os camarões estocados em tanque sem substrato de terra, com

fornecimento de ração (POTIMAR 40J - GUABI®). Nesse tratamento

suspensão (plâncton) e material orgânico precipitado; T2 Era composto dos mesmos elementos do Tratamento 1, sem a adição de ração; T3 Camarões alojados em tanque contendo substrato de terra com Elodea sp. bem como o desenvolvimento de organismos bentônicos como possíveis fontes alimentares aos camarões e fornecimento de ração; T4 Delineado nas mesmas condições do T3 sem a adição de ração.

© Eduardo Bellester

R ESULTADOS : de cada fonte alimentar para os camarões em cada tratamento. Todas as análises de isótopos estáveis foram realizadas no Laboratório de Ecologia Isotópica do CENA - ESALQ-USP (Piracicaba, SP). Os resultados do primeiro experimento indicaram um fracionamento isotópico de 0,57±0,07 para carbono e 2,14±0,18 para nitrogênio, os quais foram aplicados no experimento 2. Os resultados de contribuição das fontes alimentares encontrados no segundo experimento, considerando sua disponibilidade e estimativa de contribuição para o ganho de biomassa, reforçam as conclusões de estudos anteriores sobre a onivoria dos camarões e da sua plasticidade no uso das fontes alimentares. Merecem destaque a contribuição de organismos bentônicos e o fornecimento de ração que, nas condições experimentais, foi fundamental para o melhor desempenho zootécnico dos juvenis deM. amazonicum quer seja pelo seu consumo direto ou pelo enriquecimento na qualidade das outras fontes de alimento disponíveis. Por outro lado, nos tratamentos onde não houve disponibilidade de organismos bentônicos e ração, a contribuição das comunidades de microrganismos presentes

Figura 1. Variação do sinal isotópico de carbono dos camarões

Figura 2. Variação do sinal isotópico do nitrogênio dos camarões

experimento (D1 a D30).

experimento (D1 a D30).

TABELA

DE

DESEMPENHO ZOOTÉCNICO

Experimento 2

A GRADECIMENTOS : CNPQ, FINEP e MEC-PROEXT

85

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016 © Nicator


E N T R E V I S TA

© Diego86 Molinari

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Tzachi M at z l i ac h Samocha De Israel para o mundo Visitando o Brasil a convite da organização do I Workshop Sul Brasileiro de Bioflocos, realizado pelo Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o israelense Tzachi Matzliach Samocha, considerado um dos precursores e maiores especialistas mundiais na tecnologia de bioflocos, ministrou palestras em SC e também concedeu uma e n t r e v i s t a e x c l u s i v a p a r a a A Q U A C U LT U R E B R A S I L . S a m o c h a é p r o f e s s o r n a Te x a s A & M A g r i L i f e R e s e a r c h Mariculture Laboratory at Flour Bluff, C o r p u s C h r i s t i , Te x a s ( E U A ) .

AQUACULTURE BRASIL: Como foram AQUACULTURE BRASIL:Após oito anos seus primeiros anos de trabalho em Israel?

trabalhando em Israel, você se mudou para os Estados Unidos. Inicialmente para um sabátiSamocha: Comecei minhas pesquisas com car- co, entre 1988 e 1989, em Corpus Christi. O que cinicultura em 1974 na Universidade de Tel Aviv. Em 1980 mudei-me para uma cidade na parte país? sul de Israel, onde trabalhei 8 anos como chefe do programa do centro de pesquisa nacional de Samocha: Quando me mudei para os EUA tinha camarão de marinho. Neste centro realizamos o objetivo de continuar minhas pesquisas iniciainúmeros trabalhos acerca dos diferentes aspec- das durante os primeiros anos em Israel e tamtos relacionados ao cultivo do camarão marinho, bém ministrar aulas na Universidade Texas A&M com ênfase nos camarões do gênero Penaeus. Tra- Corpus Christi. Quanto às pesquisas, estava focabalhamos com Penaeus japonicus, Penaeus semi- do principalmente no cultivo de camarões na fase sulcatus e Penaeus vannamei , desenvolvendo es- de berçário, desde a formulação de dietas para tudos sobre as necessidades nutricionais, indução pós-larvas até o desenvolvimento de sistemas de à maturação e diferentes aspectos relacionados ao produção. Logo depois começamos a estudar ascultivo destas espécies. pectos relacionados à maturação, em parte devido à evolução das dietas destes animais. Também AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

87


E N T R E V I S TA © Diego Molinari

começamos a estudar sobre a engorda em viveiros intensivos, sem troca de água durante o ciclo de cultivo. uma comunidade biológica nos ajudaria a gerenciar a sem a necessidade de troca de água. Com sucesso chegamos a essa comunidade biológica, Esta comunidade capaz de converter os biológica (bactérias), metabólitos tóxicos além de melhorar a para o camarão em memanutenção da qualidade tabólitos menos tóxicos, de água, pode servir como permitindo a produção complemento alimentar de uma alta biomassa depara os camarões, devido mais de 9 quilos de ca-ao seu elevado valor marão por metro cúbico nutricional. sem troca de água. Esta comunidade biológica (bactérias), além de melhorar a manutenção da qualidade de água, pode servir como complemento alimentar para os camarões, devido ao seu elevado valor nutricional.

AQUACULTURE BRASIL:Recentemente, um AQUACULTURE BRASIL:Você acredita que no vídeo divulgado nas redes sociais trouxe um questionamento sobre o porquê os EUA exploram tão pouco o potencial da sua aquicultura. Para um país com tanta tecnologia, poder aquisitivo, clima, terra e água em abundância, os norte-americanos produzem muito pouco (comparado, principalmente, com alguns países asiáticos). Esta questão é estratégica do país, ou seja, os Estados Unidos preferem importar pescado a um custo mais baixo do que produzir? Você acredita que este panorama pode mudar, ou seja, poderemos ver, no futuro, os Estados Unidos entre os principais produtores aquícolas mundiais?

futuro essa situação possa mudar nos EUA?

Samocha: Eu realmente não consigo ver o desenvolvi-

mento desta atividade em grande escala nos EUA, comparando-se com outros países. O fator climático é muito limitante para nós. Precisamos manter a temperatura alta no sistema de produção, e isso é muito custoso. Nos EUA podemos ver claramente o desenvolvimento de indústrias de produção de camarão intensivo, mas em pequena escala, onde é possível controlar os parâmetros, como oxigênio dissolvido da água e, principalmente, a temperatura. Mesmo assim é difícil ver esse tipo de indústria com um crescimento

são mais propícias para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia do que para o cultivo em si. Os EUA não são propícios para esse tipo de atividade por conta do alto custo de produção, por exemplo, relacionado ao custo de mão-de-obra. Parece muito mais fácil desenvolver a tecnologia e exportá-la ao invés de produzir o camarão em solo norte-americano. Se cultivarmos o camarão nos EUA o custo de produção seria maior comparando-se com outros países. Entre outras razões, além da mão de obra, eu destacaria ainda questões ambientais, entre outras. Portanto, é preferível desenvolver o cultivo na América Central, América do Sul ou Sul da Ásia, do que nos EUA. 88

Equipe Aquaculture Brasil e Samocha

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Diego Molinari

Samocha: Para a maior parte dos EUA as condições duzindo camarões de alta qualidade para um nicho


petir com o camarão importado. Esta indústria espe-

Samocha: Sim, alguns peixes têm demonstrado um

como a tilápia, por exemplo. Vários estudos hoje já congelado, e com isso você tem um preço mais eleva- comprovam o sucesso desta espécie nesse tipo de do em comparação com o camarão importado. sistema. Para outros peixes esse sistema ainda não é o mais adequado. Sei que aqui no Brasil há muitos AQUACULTURE BRASIL:Como a tecnolo- trabalhos realizados por pesquisadores em diferentes estados, avaliando-se diferentes espécies de peixes nativos de sua região e suas respectivas capacidades de

Samocha: Basicamente surgiu ao longo dos anos me parecem muito promissores, então a resposta é através da necessidade de se desenvolver práticas mais sustentáveis para o cultivo do camarão. Iniciei com pesquisas em conjunto com a iniciativa privada e mais tarde nosso centro de pesquisa da Texas A&M viu a possibilidade de cultivar camarões com troca zero ou mínima de água e demos foco neste tipo de pesquisa.

AQUACULTURE BRASIL:No futuro, os bio-

sempre tentar introduzir novas espécies e avaliar sua capacidade de crescer de maneira sustentável, com limitada ou nenhuma troca de água.

AQUACULTURE BRASIL:Qual a sua visão a respeito da aquicultura brasileira? O Brasil será um gigante na aquicultura mundial? O que nos falta?

camarões marinhos? Se sim, você acredita que Samocha: Eu acredito que a aquicultura brasileira tem um grande potencial, desde que as esta inversão ocorrerá daqui a universidades trabalhem em conjunto com quantos anos? Parece muito mais o setor privado. O Brasil tem tudo para fácil desenvolver a ser um dos maiores produtores de pescaSamocha: Acredito que a tectecnologia e exportá-la do, uma vez que tem clima favorável, disponibilidade de água e um bom número de a evoluir, mas em sistemas indoor , ao invés de produzir o camarão em solo pessoas para trabalhar. Vejo que a parceria controlados, onde por exemplo se norte-americano com as indústrias pode trazer um maior pode cultivar 9 quilos de camarão desenvolvimento de tecnologia, que é o que por metro cúbico, enquanto que em mais precisamos, especialmente devido a sistemas convencionais são produzidos de 2 a 3 quilos difícil situação na qual os brasileiros estão ende camarão por metro quadrado. E tudo isso sem a frentando, com o vírus da mancha branca em cultivos troca de água, o que dá maior biosseguridade e conde camarão. Novamente, esse tipo de pesquisa e cotrole sobre o sistema, diminuindo assim a incidência operação com as indústrias penso ser essencial para de doenças. minimizar os efeitos causados por doenças, e aí sim, tornar o Brasil um país com grande potencial em terAQUACULTURE BRASIL: mos de uma aquicultura sustentável. Várias espécies de peixes têm demonstrado potencial para o culOs peixes, de fato, poderão no futuro serem igualmente cultivados em como os camarões marinhos?

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Diego 89 Molinari


E N T R E V I S TA E x p e r i ê n c i a s p r o f i s s i o n a i s d o D r. T z a c h i S a m o c h a D r . T z a c h i S a m o c h a , s e a p o s e n t o u r e c e n t e m e n t e d o Te x a s A & M A g r i L i f e R e s e a r c h M a r i c u l t u r e L a b o r a t o r y , e m C o r p u s C h r i s t i , n o Te x a s . A o logo de sua carreira trabalhou com diversas linhas de pesquisa em diferentes laboratórios. 2002-2016: Christi, Texas. Suas atuações incluíam: Realização de pesquisas com camarão cultivados emraceways e viveiros, desenvolvendo novos conceitos em sistemas intensivos de berçários e engorda. Trabalhos de extensão, com transferência de tecnologia de setor aquícola para produtores comerciais e empresas. Sintetização de pesquisas programas de pesquisa e pós-graduação. 2 0 0 2 - 2 0 0 6 : Professor na Texas A & M University - Corpus Christi (TAMU-CC), Corpus Christi, lecionando nos cursos de pós-graduação e orientando alunos de pós-graduação. 1 9 9 2 - 2 0 0 2 : Professor associado da Texas Agricultural Experiment Station (TAES), Shrimp Mariculture Research Facility (SMRF), Corpus Christi, Texas and TAMU-CC. 1 9 8 9 - 1 9 9 2 : Pesquisador visitante, TAES-SMRF, Corpus Christi, Texas. 1 9 8 8 - 1 9 8 9 : Sabático, TAES-SMRF, Corpus Christi, Texas. 1 9 8 0 - 1 9 8 8 : Cientista Sênior, Chefe da unidade de pesquisa com camarões do Oceanographic and Limnological Research (IOLR) - National Center for Mariculture (NCM), em Israel. Responsável pela realização de pesquisas com maturação induzida, reprodução, larvicultura, berçário e engorda de camarão marinho. Trabalhou com toxicidade de metabólitos, nutrição e doenças. Realizou pesquisas visando o desenvolvimento de uma indústria comercial de cultivo de camarão em Israel. Buscou integrar a academia com os setores privados que trabalhavam com cultivo de camarão. Participou de programas de educação de estudantes de pós-graduação da Universidade de Tel Aviv em Israel. 1 9 8 8 - p r e s e n t e : Consultoria ao setor privado: assistência técnica, avaliação de locais, elaboração de projetos conceituais e treinamento de pessoal para realização de maturação induzida, cultivo de larvas de camarão e de microalgas, sistemas de viveiros intensivos e de engorda para camarão peneídeo.

© Diego Molinari

90

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


NOVOS LIVROS Tilapia in Intensive Co-culture Editores: Peter Perschbacher e Robert R. Stickney Editora:Wiley-Blackwell Idioma: Inglês - 368 páginas Lançamento: 14 de dezembro de 2016 Co-cultivos intensivos de tilápia referem-se à produção comercial de várias espécies de tilápia em conjunto com uma ou outras espécies que apresentem potencial de mercado (aquaponia ou policultivos, por exemplo). As tilápias são utilizadas neste sistema em razão do seu potencial para melhorar a qualidade de água, especialmente em viveiros de carcinicultura, através do consumo de plâncton e detritos, além de propiciarem uma redução nas populações de bactérias patogênicas do sistema.

Echinoderm Aquaculture Editores: Nicholas Brown e Steve Eddy Editora: Wiley-Blackwell Idioma: Inglês - 384 páginas Lançamento:Setembro de 2015 Não só de peixes, camarões, moluscos e algas vive a aquicultura! Echinoderm “ Aquaculture ” aborda em seus primeiros capítulos os conceitos de ecologia básica e biologia de ouriços-do-mar e pepinos-do-mar. Uma revisão geral do emprego destes organismos como fonte de alimento e compostos bioativos também é apresentada. Os capítulos subsequentes abordam as espécies de interesse comercial para distintas regiões

Dietary Nutrients, Additives and Fish Health Editores: Cheng-Sheng Lee, Chhorn Lim e Delbert M. Gatlin III Editora: Wiley-Blackwell Idioma: Inglês - 376 páginas Lançamento: Junho de 2015 Este livro apresenta uma ampla revisão sobre os nutrientes das dietas, fatores antinutricionais, toxinas, aditivos alimentares, além dos seus efeitos na performance dos peixes e na funcionalidade do sistema imunológico, bem como na saúde dos animais em geral.

DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL! redacao@aquaculturebra sil .com AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

91


Eles fazem a diferença! U movido

a

Com reconhecido destaque em sua área de atuação, o Prof. Dr. Ronaldo Olivera Cavalli abrilhanta as páginas de nossa terceira edição apresentando um pouco de sua história aos leitores da AQUACULTURE BRASIL. Agrônomo formado pela UFRGS (Porto Alegre/RS), a aquicultura entrou em sua vida no quinto e último ano do curso: “Me apaixonei pela disciplina de aquicultura”.

Por ser uma atividade ainda pouco conhecida no Brasil, mas uma realidade em outros países, principalmente os asiáticos, vislumbrei uma tremenda oportunidade de crescimento e trabalho. Foi também no último ano da faculdade que fiquei sabendo de um colega que havia ganhado uma bolsa de estudos para estudar no Japão. Não tive dúvidas: fui atrás. Um ano depois estava aprendendo japonês em Nagoya como bolsista do Monbusho, o então Ministério da Educação daquele país. Fiz o mestrado em piscicultura marinha na Universidade de Mie e em 1990 voltei ao Brasil. Como sempre fui um cara de sorte, fiquei pouco tempo desempregado. Em março de 1991 comecei trabalhando como professor-substituto no Departamento de Oceanografia da FURG, e em novembro daquele ano passei no concurso para professor assistente. A FURG havia acabado de construir um laboratório na praia do Cassino, a Estação Marinha de Aquacultura – EMA. Na EMA/FURG, aprendi, com o Prof. Marcos Marchiori e vários outros colegas, sobre carcinicultura, área que acabei trabalhando apesar de não ter nenhuma experiência prévia.

92

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Após o Mestrado no Japão, chegou a vez de doutorar-se na Bélgica © Ronaldo Olivera Cavalli

Na época do doutorado (Ghent, Bélgica)

“Depois de 5 anos na EMA/FURG, No doutorado, tive a senti a necessidade de me aperoportunidade de vivenfeiçoar. Como queria trabalhar com ciar o jeito “europeu” de se a interação nutrição/reprodução, aca- fazer pesquisa, baseado bei optando em fazer o Doutorado na não só em procurar resposGhent University, Bélgica, sob a orien- tas a questões de cunho tação do Dr. Patrick Sorgeloos, que contava também com a preocupação com uma equipe de altíssimo nível. em atender as demandas do No doutorado, tive a oportunidade de setor produtivo. vivenciar o jeito “europeu” de se fazer pesquisa, base-

preocupação em atender as demandas do setor produtivo. Ter a oportunidade de estudar fora do país foi um diferencial na minha vida acadêmica, já que me abriu muitas portas. Outro diferencial foi o estudo do inglês, que só aconteceu por ter rodado na minha primeira prova, ainda no ensino fundamental... Se não fosse isso, talvez a minha história tivesse sido diferente. Hoje em dia, quando seleciono um estagiário ou bolsista, sempre pergunto, e recomendo fortemente sobre o inglês”.

Após uma carreira consolidada como professor efetivo na Universidade Federal do Rio Grande – FURG (1991 a 2007), o que motivou você a Sul para trabalhar com piscicultura marinha em Pernambuco? dade o Nordeste do Brasil, queria fazer algo novo, e Pernambuco oferecia tudo isso. Óbvio que morar em Recife, uma cidade

Ronaldo e sua equipe do Laboratório de Piscicultura Marinha da UFRPE (2013)

era uma mudança extremamente interessante. Lá tive a oportunidade de começar uma linha de trabalho nova, pois, apesar da UFRPE ter o mais antigo curso de Engenharia de Pesca do Brasil, não havia a disciplina de Piscicultura Marinha. Consequentemente, haviam muito poucos trabalhos nessa área.”

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

93


Eles fazem a diferença!

com seu retorno para a FURG? “Por razões familiares, nesse momento da minha vida, voltar ao RS e estar próximo da família foi à escolha mais sensata. À medida que a idade avança, deixamos de ser tão egoístas e nos preocupamos ainda mais com os que estão a nossa volta. ainda há muito que fazer. Tudo está sendo diferente. A FURG mudou e eu também. Hoje tenho mais experiência e novos interesses.”

“Por exemplo, estamos organizando um livro sobre a aquicultura do beijupirá, que será uma síntese dos trabalhos da REPIMAR – Rede de Piscicultura Marinha, financiada pelo extinto MPA e CNPq. Também estou coletando material para escrever um livro sobre a história da aquicultura no Brasil. O livro do beijupirá sairá em 2017, mas o outro deverá ser lançado em 2017 ou 2018”.

Principais projetos desenvolvidos na carreira: Em ordem cronológica, o trabalho do Doutorado, quando tive a oportunidade de sentir na pele o que é trabalhar em um ambiente que oferece todas as condições para que se possa desenvolver o potencial. E não estou falando de infraestrutura ou de, por exemplo, ter os reagentes que precisas imediatamente à tua disposição. Me refiro principalmente à clareza de objetivos. Tudo isso certamente faz a diferença no nosso trabalho. Também ressalto o trabalho da equipe da EMA/FURG no desenvolvimento de um “pacote tecnológico” para a criação do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis, incluindo reprodução, larvicultura, berçário, engorda em diferentes sistemas, nutrição, genética, etc. Em Recife, tive a oportunidade de coordenar uma fazenda experimental de criação de beijupirá em mar aberto, o projeto “Cação de Escama”. Foi um tremendo desafio. Imagine instalar e operar uma fazenda com quatro tanques-rede de 1.200 m³ instalados a 6 km da linha de costa dentro de uma universidade pública, em que tudo depende de licitações e outras burocracias? Conseguimos, mas infelizmente o projeto acabou sepultado pela política da terra arrasada, em que um novo ministro assume e resolve que somente as suas “prioridades” devem ser apoiadas. 94

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


© Ronaldo Olivera Cavalli

Tanques-rede do Projeto Cação de Escama (Recife/PE)

No âmbito da piscicultura marinha, onde o governo deveria apostar suas fichas? apoiando o que está sendo feito em SP e RJ. Ali estão sendo construídas experiências, e se aprendendo com os insumos (alevinos, rações, etc.) e entendendo o mercado consumidor. Sempre gosto de lembrar que as cadeias do camarão e da tilápia não surgiram de um dia para o outro. Por que a do peixe marinho seria diferente?

E os planos para o futuro? Onde vamos encontrar o Ronaldo Cavalli daqui há 10 ou 20 anos? Daqui a 10 anos ainda estarei na volta, provavelmente dando aula, orientando alunos e participando dos eventos da área de aquicultura. Há 20, certamente aposentado. Espero que com saúde e uma mochila nas costas dando uma volta pelo mundo...

Para finalizar, deixe uma mensagem para os leitores da AQUACULTURE BRASIL, muitos dos quais te conhecem e admiram bastante o seu trabalho. Na minha sala acabei de colocar um cartaz que diz: “Work hard & be nice to people”. Meu lema nessa nova fase da vida. AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

95


© Fábio Rosa Sussel

Camarão Gigante da Malásia Macrobrachium roseMbergii

Nativo da região Indo-Pacífica, o cultivo de M. rosembergii se espalhou pelo mundo, sendo considerada a espécie de camarão de água doce mais empregada em cultivos comerciais. No Brasil foi introduzida pelo Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, em 1977 e se difundiu principalmente nos estados do Maranhão,

Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Em meio natural o M. rosenbergii é uma espécie tropical com hábito bentônico, presente em rios, lagos e reservatórios que possuem comunicação com águas salobras. As fêmeas já maturas migram para estes estuários onde completam o desenvolvimento larval até a eclosão.

Aparência fêmeas menores e com garras menos desenvolvidas, apresentam diferenças morfológicas entre si, sendo possível distinguir três grupos de machos adultos: SM (Small Male) - forma menor e mais translúcida OC (Orange Claw) - tamanho intermediário, cor laranja dourada BC (Blue Claw) - é o maior, com pereiópodos azuis e extremamente grandes

96

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

© Fábio Rosa Sussel


Alimentação

Reprodução

Fase larval: naúplios de artemia. Fase inicial (juvenil): Ração comercial com 35% de proteína bruta. Fase final: ração comercial com 32% de proteína bruta.

As fêmeas estão prontas para reprodução com 15-20g. Depois da cópula ocorre a fertilização externa e os ovos são transferidos para debaixo do abdômen da fêmea, por cerca de 3 semanas, quando ocorre a eclosão. As fêmeas produzem entre 80 e 100 mil ovos que são de cor laranja até 2-3 dias antes de eclodir, quando passam a cinza-escuro.

Principais países produtores

Faixa de Temperatura ideal A temperatura ideal para o cultivo é entre os 25 e 31°C. Temperaturas mais baixas já ocorre uma redução no crescimento.

Densidade de estocagem: Sistemas extensivos: 1-4 PL ou juvenis/m² Sistemas semi-intensivos: 4-20 PL ou juvenis/m² Sistemas intensivos: > 20 PL ou juvenis/m² Pode ser cultivado em sistema de policultivo com tilápia, cuja densidade é de um camarão para até dois peixes. Os viveiros são bem menores que os de camarão marinho (em média 10x100m ou 20x50m), o que facilita o manejo.

Volume mundial produzido: 216 856 toneladas em 2014 (FAO)

Entraves/desafios na produção para a espécie. Atualmente na região nordeste utiliza-se ração para camarão marinho, ou de peixe carnívoro, com 40% de proteína bruta.

Características positivas

-A maior vantagem do cultivo desses animais é o baixo custo de produção; -Alto ganho de peso com uma conversão alimentar por volta de 1,2:1; -Boa aceitação e valorização no mercado.

Preço de mercado No varejo o preço varia muito, de R$ 60 até 120 o kg. Fontes: acesse www.aquaculturebrasil.com - Consulta Técnica: Edson Pereira dos Santos AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016

97


P e s c a d o no Va r e j o

1 2

3

Banda de Pintado

Pintado Inteiro

Filé de Pintado

1 - Filé do Lombo; 2- Filé da costela e 3- Umbigo/Asa de Pintado

Filé de Tilápia

Salmão Chileno

Autores: Daniel Garcia de Carvalho Melo (Chapada dos Guimarães, MT); Ângelo de Oliveira Orechio (Belo Horizonte, MG).

98

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2016


Sistemas de Aquecimento e Resfriamento Sistemas experimentais Tanques para larvicultura e alimento-vivo

Ferramentas

Alta mar

www.altamar.com.br contato@altamar.com.br facebook.com/aquaaltamar (13) 3877-3610 Santos - SP



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.