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EDIÇÃO
ISSN 2525-3379
aquaculturebrasil.com
SETEMBRO/ OUTUBRO 2017
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Os avanços da EMBRAPA NO C U LT I V O D E PIRARUCU
AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Editorial R
efletindo sobre a coluna “Atualidades e Tendências na Aquicultura”, escrita sempre de forma magistral pelo amigo Fábio Sussel, nesta edição ele nos apresenta o tema “Negócios Aqua: Técnicas + Gerenciamento”. Para Sussel, 50% do sucesso de um negócio aquícola vem do gerenciamento, do empreendedorismo. E eu, humildemente, assino em baixo (se este percentual não for maior para o lado do “empreender”!). É preciso planejar, é preciso acreditar, é preciso perseverar! Aliás, e como o Fábio vem escrevendo bem, hein? Ou melhor, todos os nossos colunistas! Quanta riqueza de informações, opinião, visão e reflexões nas páginas da Revista Aquaculture Brasil! Sem dúvidas, temos o melhor time do Brasil, seja impresso ou online! Mas o Fábio para mim, em especial, é o grande nome da aquicultura brasileira em 2017. Por tudo que ele realizou neste ano. Se houvesse um prêmio “Personalidades da Aquicultura”, meu voto seria dele. Aliás, peraí... se houvesse...? Bora criar esse negócio!!! A partir do ano que vem, a Aquaculture Brasil premiará os destaques do ano na pesquisa, na extensão, nos negócios e em várias outras categorias deste ramo do agronegócio! Dei uma pausa aqui no editorial para entrar na GoDaddy e comprar o domínio personalidadesdaaquicultura.com (inventado nesse minuto!). Registro no INPI também! Pronto! Nosso prêmio já tem nome, depósito de patente e website! Juro para você, caro leitor, que esse “Real Time Editorial” é real mesmo! Agora é reunir o melhor time da aquicultura brasileira e pensar nos detalhes da premiação, votação online, buscar os parceiros, etc. Essa situação me lembra um outro tema bastante discutido atualmente: A zona de conforto! O dinamismo no mundo dos negócios hoje em dia é incrível! Novos produtos e processos surgindo a cada minuto. Não dá para fazer a mesma coisa, do mesmo jeito, por muito tempo. É preciso inovar. É preciso “aprender” a empreender. E nós aqui da redação aprendemos todo dia. Errando e acertando. E você, caro leitor, qual sua ideia de um novo negócio ou de uma nova forma de gestão do seu trabalho para amanhã?
Giovanni Lemos de Mello Editor
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Fala Gringo!
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!
Comitê Editorial
Já que não tenho do que falar, nem gritar, e muito menos reclamar, vou aproveitar este espaço para parabenizar, do fundo de meu coração e com imensa gratidão, a toda a equipe do AquaOnline pelo esforço colocado em um evento que superou as expectativas. A Aquaculture Brasil só está crescendo e mostrando compromisso com a aquicultura brasileira, evolução que se deve principalmente ao fato de que as pessoas envolvidas realizam seus trabalhos e colaborações com humildade e tesão. Como o título do livro de Roberto Freire: “SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO”. Aquaculture Brasil ou morte!
EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com EDITORA EXECUTIVA: Jéssica Brol jessica@aquaculturebrasil.com EDITORES ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores. Instrução aos autores: www.aquaculturebrasil.com/submissao-artigos
Rodolfo Luís Petersen Coeditor
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Bem-vindo últimos anos tive a oportunidade de viajar trabalho para diversos locais em diferentes N osacontinentes. Nessas ocasiões vi muitas coisas
surpreendentes em termos de estrutura, equipamentos, projetos de pesquisa e extensão, mas o que sempre me fascina são as pessoas (professores, profissionais da área, técnicos, estudantes, voluntários, entre outros). A oportunidade de aprender com essas pessoas é única, e sempre podemos aprender algo novo, sempre! E, da mesma forma que aprendemos, também ensinamos. Basicamente é uma troca de conhecimentos, experiências, técnicas, etc. No entanto, poucas pessoas se dão conta dessa troca, principalmente os estudantes.
Na semana passada visitei uma universidade na região central dos Estados Unidos, com a qual colaboro, e tive um encontro com os estudantes de graduação e de pós-graduação. Em determinado momento da conversa, comentei algo a respeito desse tema e os estudantes ficaram me olhando espantados. Ou seja, eles provavelmente nunca tinham pensado nesse aspecto. É claro que o professor, além de ensinar conteúdo, também orienta os estudantes. Visualizando a situação por esse ângulo, pode-se assumir que trata-se de uma via de mão única, mas é o feedback por parte dos estudantes que influencia e motiva diretamente o professor. Por exemplo, se algum estudante fizer uma pergunta sobre um tópico que o professor desconhece, isso irá motivá-lo a procurar a resposta. O que gostaria de ressaltar é que geralmente trata-se de uma via de duas mãos, ou seja, aquele que ensina também aprende, e isso é válido em todas as relações de trabalho. Uma ilustração recente no mundo empreendedor é o conceito de Mentoria Reversa, em que profissionais mais jovens são responsáveis por apresentar aos mais experientes novas perspectivas e visões sobre certos tópicos. Assim, se você é estudante, faça perguntas, questione, e não tenha receio de que sua dúvida ou curiosidade possa ser algo supérfluo, pois você estará contribuindo com a dinâmica educacional. E se você é professor, estimule seus estudantes a serem críticos e a questionar, pois isso irá motivá-los a ser um melhor profissional. Para os que não são nem estudantes nem professores, identifiquem nas suas relações de trabalho as situações nas quais você tem algo a aprender ou ensinar e tire proveito dessa enriquecedora troca de conhecimentos. Artur Nishioka Rombenso Coeditor
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Opinião Que venha a FENACAM 2017! inda no clima do 1o aniversário da Revista Aquaculture Brasil, nada melhor que seguir a celebração em um dos maiores eventos técnico-científicos da aquicultura nacional: a FENACAM! Seja nas palestras (sempre aplicadas e condizentes com o momento atual da atividade) ou nos stands e corredores da feira, será um imenso prazer rever amigos, professores e colegas de profissão neste belo evento! Este ano a capital potiguar nos espera! Apesar de um ano de retomada para a economia brasileira, o setor aquícola segue avançando com longas braçadas! E a FENACAM, na minha humilde opinião, sempre é um belo termômetro para medir o entusiasmo da atividade.
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Ainda refletindo sobre este 1o ano da revista, mas que ano! Quanta aprendizagem seja do ponto de vista de leitor (eu literalmente “devoro” como um carnívoro cada nova edição e seus belos artigos) ou do ponto de vista de colunista. Afinal a maioria de nós colunistas e coeditores estamos iniciando nesta “nova carreira”. E ainda se tratando dos artigos, algo que sempre nos chama a atenção é a qualidade técnica das informações e as lindas fotos! Parabéns a toda equipe da Aquaculture Brasil pelo compromisso e dedicação! Diego, Jéssica, Taiane, Carla e nosso querido editor Giovanni, saibam que com certeza todo este esforço e paixão podem ser visualizadas em cada página da revista! E para fechar com chave de ouro este primeiro ano, tivemos o AQUAONLINE, o I Congresso Brasileiro Online de Aquicultura, com palestras e palestrantes do mais alto nível! Aproveito para agradecer imensamente aos amigos palestrantes que aceitaram e acreditaram em mais esse projeto! O sucesso do evento só foi possível graças a vocês, a equipe de trabalho e as mais de 4000 pessoas que prestigiariam as 21 palestras e os 3 minicursos! O evento literalmente caiu no gosto do público e já estamos preparando mais surpresas para você seguidor da Aquaculture Brasil! Ótima leitura e nos vemos na FENACAM!
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Coeditor AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!
DIREÇÃO DE ARTE: Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO COMERCIAL: Diego Molinari diego@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Adriana Ferreira Lima, Alex Augusto Gonçalves, Ana Paula Oeda Rodrigues, Anízio Neto da Silva, Antonio Glaydson Lima Moreira, Bruno Ricardo Scopel, Carlos Eduardo Zacarkim, Dariano Krummenauer, Eduardo Sousa Varela, Emerson Giuliani Durigon, Gabriele Lara, Geraldo Fóes, Jéssica Brol, Julianna Stephanie Barbosa da Silva, Leopoldo Melo Barreto, Lucas Genésio Pereira da Silveira, Lucas Simon Torati, Luís Poersch, Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Patricia Oliveira Maciel, Plácido Soares de Moura, Renato Teixeira Moreira, Sara Mello Pinho, Tayna Sgnaulin e Wilson Wasielesky Jr. QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com QUER ASSINAR? aquaculturebrasil.com/assinatura assinatura@aquaculturebrasil.com QUER COMPRAR EDIÇÕES ANTERIORES? aquaculturebrasil.com/edicoes NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA: COAN gráfica Ltda./ coan.com.br Av. Tancredo Neves, 300, Tubarão/ SC, 88.704-700 A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379) www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC, 88.790-000 A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros. 7
SUMÁRIO
AQUACULTURE BRASIL
10 FOTO DO LEITOR 12 MÉTRICAS DA FANPAGE 14 Aquicultura ornamental de água doce Parte I 20 Construções de viveiros para piscicultura comercial - Parte ii 26 A utilização de berçários e raceways em fazendas de camarão marinho l itopenaeus vannamei no brasil
»»p.14
36 evolução dos sistemas de aeração nos cultivos intensivos e super intensivos em sistema bft 42 A produção do pirarucu em cativeiro 50 BIOFLOCOS E SEUS BENEFÍCIOS NUTRICIONAIS NA PRÉ-ENGORDA DE TILÁPIAS »»p.20
»»p.26
56 SOFTWARES E APLICATIVOS NA AQUICULTURA: FERRAMENTAS DISPONÍVEIS E TENDÊNCIAS FUTURAS 63 vIABILIDADE TÉCNICA PARA O APROVEITAMENTO DO DESCARTE (CONCHAS) DO PROCESSAMENTO DO MARISCO PEDRA a NOMALOCARDIA BRASILIANA 68 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 69 CHARGES »»p.36
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»»p.50
70 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
»»p.90
»»p.84
72 GREEN TECHNOLOGIES 73 empreendedorismo aquícola 74 nutrição 76 atualidades e tendências na aquicultura 78 aquicultura de precisão »»p.42
79 rANICULTURA 80 aquicultura latino-americana 81 piscicultura marinha 82 rECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 83 SANIDADE
»»p.56
84 tecnologia do pescado 86 DEFENDEU
»»p.63
88 entrevista - joão felipe moutinho sant’anna 93 NOVOS LIVROS 94 ELES FAZEM A DIFERENÇA 96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS 98 despescou AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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FOTO DO LEITOR
Cultivo de Arthrospira platensis em planta piloto do LCBA - UDESC (Laguna, SC)
Litopenaeus vannamei (Jaguaruana, CE) Autor: Hiago Moreira
Autor: Rafael Campos da Silva e Francihellen Querino Canto
Cultivos de Nannochloropsis spp. em diferentes estรกgios de crescimento (Caraguatatuba, SP) Autor: Naira J. Silva/ Nauplii Aquaculture
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Fazenda POTIGUAR (São Bento do Norte, RN) Autor: Bruno Scopel
Amostragem para biometria (Paraipaba, CE) Autor: Augusto César
Cascudo da espécie Acanthicus sp. (Porto Velho, RO) Autor: João Roberto
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.
redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Métricas Dia do Engenheiro de Aquicultura 11.377 Pessoas alcançadas 32 Comentários 38 Compartilhamentos 437 Curtidas
www.facebook.com/ aquaculturebrasil
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Piscicultura do Paraná: rumo as 100 mil toneladas!
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23.328 Pessoas alcançadas 35 Comentários 227Compartilhamentos 1.086 Curtidas
Banco de pele animal é inaugurado no Ceará .
21.855 Pessoas alcançadas 7 Comentários 71 Compartilhamentos 407 Curtidas
17 de julho
curta-nos no facebook:
14 de julho
14.772 Pessoas alcançadas 8Comentários 27 Compartilhamentos 890 Curtidas
10 de julho
05 de julho
Aquaculture Brasil no X Workshop de Sanidade e II FENAPIS
da Fanpage
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Preparação dos viveiros na Fazenda Barra de Mamanguape
29 de agosto
64.263 Pessoas alcançadas 6 Comentários 58 Compartilhamentos 340 Curtidas
16.012 Pessoas alcançadas 157 Comentários 109 Compartilhamentos 345 Curtidas
Resolução regulamenta a ART e o registro de profissionais de estabelecimentos que cultivam e mantêm organismos aquáticos
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10.905 Pessoas alcançadas 25 Comentários 215 Curtidas
AquaOnline Brasil 2017
27.217 Pessoas alcançadas 73 Comentários 229 Compartilhamentos 1.211 Curtidas
25 de agosto
05 de agosto
08 de agosto
Criação de peixes em caixa d’água nova moda entre iniciantes
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Artigo
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Aquicultura ornamental de água doce – Parte I Dr. Leopoldo Melo Barreto Professor Adjunto - Engenheiro de Pesca Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB) leopoldo.barreto@gmail.com
Pensar no setor da aquicultura, inserido na grande área de Recursos Pesqueiros, nos remete ao tema produção de pescado. Esse, notoriamente com intenção de fornecer alimento para a população, competindo com outras fontes, como a pecuária. Por outro lado, também inserido nesse setor, encontramos atividades que não focam na produção para alimentação humana, mas sim para outros fins, como a ornamentação. A FAO (2014) aponta que, em termos mundiais, alguns países reportaram a geração de mais de US$ 220 milhões em produção de pescado para fins não-alimentícios, seja para ornamentação ou usos decorativos, e nesses nem estão diretamente envolvidos os organismos aquáticos ornamentais. Quando se fala em organismos aquáticos ornamentais engloba-se não apenas peixes (mesmo esses sendo os principais), mas também crustáceos, moluscos, corais, plantas aquáticas, entre outros. Conhecer um pouco essa realidade nos abre possibilidades para a aquicultura, onde nessa sequência de três AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
A rentabilidade por hectare é muito maior no cultivo de peixes ornamentais do que em outras culturas. artigos, almejamos apresentar-lhes a Aquicultura ornamental de água doce, suas espécies, modelos produtivos, assim como o mercado potencial. Se torna óbvio que não conseguiremos aqui exaurir o tema, mas mostrar as potencialidades e meios com que alguns empresários já logram êxito. Assim sendo, surge uma primeira pergunta, do ponto de vista empresarial: Por que eu, possuindo uma “aguada ”, produziria o peixe ornamental ao invés do peixe de corte? A resposta está primeiramente ligada ao valor agregado do produto, uma vez que o quilo de peixe ornamental produzido pode alcançar 500% acima do valor do quilo de peixe de corte. Dessa forma,
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Peixe da família Characidae
a rentabilidade por hectare é muito maior no cultivo de peixes ornamentais do que em outras culturas, aumentando a procura entre empreendedores e a competitividade. Recentemente, muito se fala da Zona da Mata Mineira, a qual concentra cerca de 70% da produção nacional. Nesta região é praticado o cultivo em estufas ou em tanques escavados, modelo diferenciado da região Nordeste, a qual foca em tanques de alvenaria em ambientes semiabertos (trataremos melhor das estruturas de cultivo na Parte II). Uma segunda razão, que nos leva à criação de peixes ornamentais, se fundamenta na sustentabilidade do mercado, pois a pressão do extrativismo aplicado em diversas espécies já demonstrou levar à vulnerabilidade os estoques naturais. O fato é agravado pela forma que a captura vem sendo praticada, com baixa seletividade e alto índice de mortalidade no transporte, fazendo com que de cada 10 neons (Paracheirodon axelrodi) capturados, em média, apenas quatro cheguem ao aquário do consumidor final. Existem exceções, como a empresa H&K Ornamental Fish, que investe na pesca responsável (Cooper, 2012), promovendo a capacitação do pescador, idealizando melhores estruturas de manutenção, melhores formas
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ARTIGO
de transporte e aclimatação das espécies capturadas, até o momento da exportação. Tal preocupação promove uma menor necessidade de coleta, uma vez que a mortalidade é reduzida, elevando com isso a rentabilidade, inclusive do pescador. No entanto, infelizmente, são raras essas exceções, tornando a aquicultura um modelo que garante a produção sustentável e o suprimento ao mercado. Exemplo claro é visto nas grandes empresas exportadoras, do Norte do país, que até então embasavam a origem dos espécimes na coleta e agora investem também no cultivo. Comparando-se a pesca de peixe de corte com a pesca de peixe ornamental, podemos afirmar que a segunda é muito mais lucrativa em relação a primeira considerando-se o esforço de pesca, pois o valor do quilo do peixe ornamental é muito superior. No entanto a aquicultura concentra essas espécies em áreas determinadas, elevando o controle sobre a qualidade biológica (mesmo promovendo a baixa variabilidade genética), há melhor controle do estoque e garantia de fornecimento, sem pressionar os estoques naturais, além de outras vantagens, que nos leva a pergunta: vale a pena cultivar ao invés de coletar?
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Pesca x Aquicultura
© Fabrício Ramos
Figura 1. Juvenis de Acari Zebra (Hypancistrus zebra) reproduzidos em laboratório de pesquisa autorizado pelo IBAMA.
Nas últimas décadas, espécimes antes coletadas em ambientes naturais, como o Acará Disco (Synphysondon spp.), o Acará Bandeira (Pterophyllum spp.) e alguns Characídeos, já são comumente reproduzidas em cativeiro, inclusive gerando novas variedades, não encontradas na natureza e substituindo assim a necessidade de coletas. Até espécies que possuem protocolos reprodutivos mais complexos, como os bodós (Loricariidae), a exemplo o Hypancistrus zebra, já são reproduzidos em cativeiro (Figura 1), mesmo ainda estando proibida a comercialização (Ramos, 2016). Notamos que essas espécies endêmicas de grande valor agregado são as preferidas para grandes investimentos em pesquisas e em unidades produtivas comerciais. Mas também há produções com foco em espécies de menor valor, pois essas justificam-se pela fácil reprodução e grandes quantidades de alevinos por desova.
Por outro lado, apenas optar e promover a aquicultura ornamental sem levar em consideração questões sociais, seria um erro, pois sabe-se haver uma dependência socioeconômica de diversas regiões ao Norte do país, como a do entorno do Rio Negro, com a cidade de Barcelos, por exemplo, que é conhecidamente a cidade do peixe ornamental. De toda forma, o desenvolvimento de protocolos reprodutivos e melhora nas técnicas, podem levar consigo a capacitação de pescadores, tornando-os também (e por que não?) aquicultores. Esse pensamento aproxima à aquicultura de espécies nativas mas sabe-se há muito tempo que a grande variedade de espécies que nutrem o mercado nacional são exóticas, vindas do continente asiático, africano, dentre outros. Exemplo clássico é o famoso Peixe-de-briga (Betta splendens) e o Peixe-dourado (Carassius auratus), extensivamente reproduzidos nacionalmente, inclusive habitando diversos mananciais, mas sendo oriundos originariamente da Ásia. A preocupação com a origem dessas espécies para a aquicultura baseia-se na possível introdução dessas em ambientes naturais, causando desequilíbrios, como visto em diversas regiões do mundo. A exemplo temos o caso do Peixe Leão (Pterois volitans), introduzido na costa sudeste dos Estados Unidos, Caribe e Golfo do México, o qual pelas características, compete com diversas espécies endêmicas, promovendo prejuízos ambientais, econômicos e sociais. Nessa altura você pode estar pensando: mas o que um Guppy (Poecilia reticulata) pode provocar de dano no meio ambiente? Lembremos que o equilíbrio ambiental é delicado, fundamenta-se, por exemplo, em uma cadeia alimentar, a qual uma vez alterada por um “elo” diferente introduzido, pode desencadear grandes alterações.
© Leopoldo Barreto
Figura 2. Variedade de Kinguio denominado Telescópio.
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Assim sendo, pensar em Aquicultura ornamental, além de nos levar a um nível diferenciado de pensamento em relação à aquicultura tradicional, onde o conhecimento corrente que desenvolvemos na piscicultura é exigido em uma condição máxima, também nos remete a uma exigência legal singular. Segundo o IBAMA, para se cultivar peixes ou invertebrados aquáticos com finalidade comercial é necessário (IBAMA, 2017):
• Possuir a licença ambiental de operação para o empreendimento, ou a dispensa da mesma, emitida pelo órgão ambiental estadual ou municipal; • Ser aquicultor, devidamente inscrito e licenciado como tal junto ao Registro Geral da Pesca (RGP), do órgão competente; • Efetuar a inscrição junto ao Cadastro Técnico Federal (CTF) do IBAMA, na categoria “20-54 Exploração de recursos aquáticos vivos – aquicultura”; • Possuir documentação comprovando a origem legal das matrizes que serão utilizadas.
Percebe-se que órgãos ambientais estaduais e municipais participam da legalização do empreendimento, assim sendo, essas exigências listadas são apenas a nível Federal, amarradas a outros documentos regionais. Além do mais, alguns quesitos revelam nuances, como por exemplo, a origem legal das matrizes pode ser a partir da pesca (e não apenas aquelas adquiridas comercialmente através de nota fiscal), desde que efetuada por embarcações, pescadores (profissionais ou amadores) ou aquicultores devidamente registrados. Para isso as espécies devem constar nas listas de espécies permitidas, de uma das Instruções Normativas, seja a IN IBAMA nº 202/2008, a IN IBAMA nº 204/2008 ou a IN Interministerial nº 01/2012. © Leopoldo Barreto
Considerações finais Desse modo, nesse primeiro artigo, viemos apenas provocar o leitor sobre as potencialidades da Aquicultura de peixes ornamentais de água doce, e no seguimento, abordaremos estruturas de cultivo, metodologias reprodutivas aplicadas e manejo do plantel (Parte II) e alimentação, Larvicultura, Crescimento, Comercialização e Legalização (Parte III). Buscando incentivar essa área que tanto cresce em nosso país, com o objetivo de suprir o mercado da aquariofilia, pois apesar da crise financeira que o país vem passando, o hobby cresce frente a outros,
principalmente no mercado pet, incentivado pela verticalização das moradias em grandes centros urbanos, pelos benefícios da prática do aquarismo, tanto para crianças, jovens ou adultos, ou até mesmo pela melhor organização do setor, que migra de uma invisibilidade frente aos órgãos competentes para uma visibilidade como cadeia produtiva. Assim esperamos vocês nas próximas edições para adentrarmos em detalhes e, quem sabe, lhes instigar a um futuro empreendimento ou expansão do já existente!
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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ARTIGO
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© Jéssica Brol
Artigo
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Con s truções de v i v e iros para p i scicultura comercial Parte II Prof. Dr. Carlos Eduardo Zacarkim Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura Universidade Federal do Paraná - UFPR/Setor Palotina zacarkim@ufpr.br
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Para além do problema da demanda hídrica de um projeto, conforme visto no artigo publicado na sexta edição desta revista (mai/jun 2017), alguns princípios construtivos devem ser observados no processo de planejamento para a construção de viveiros para piscicultura comercial intensiva. Sendo alguns:
• Escolha do local adequado; • Layout a ser empregado; • Tamanho, formato e profundidade dos viveiros; • Despesca; e • Movimentação de terra na construção dos mesmos. Neste sentido, este artigo apresentará alguns aspectos considerados relevantes a respeito da escolha do local para construção de viveiros de uma piscicultura comercial intensiva.
Escolha do local A escolha do local adequado para construção dos viveiros é um dos principais itens a ser observados no planejamento de qualquer empreendimento, seja ele de pequeno, médio ou grande porte. Este importante aspecto, apesar de ser relativo, pois nem sempre o melhor lugar para construção será o que estará disponível para execução do empreendimento aquícola, influenciará, entre outros fatores, no sucesso ou fracasso do projeto almejado.
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Disponibilidade e qualidade da água:
Conforme já comentado no artigo anterior, a água é o fator limitante de qualquer empreendimento que trabalhe com aquicultura ou processamento de pescado. Considerando que a água tenha qualidade razoável para implantação de um empreendimento, se a disponibilidade na área não atende à demanda hídrica do projeto almejado, o mesmo se torna inviável. Como as perdas por evaporação em viveiros escavados são praticamente impossíveis de controlar, restam duas alternativas ao profissional: redução das perdas de água por infiltração no solo e/ou alteração no manejo adotado. Neste sentido, as perdas de água por infiltração, apesar de reduzidas com o tempo de cultivo devido a lixiviação de nutrientes e consequente ocupação do índice de vazios (e), não são possíveis de quantificar com precisão. Desta forma, cabe ao profissional minimizar as perdas através da melhor compactação durante os processos de construção ou adotando geomembranas. Com relação a alteração no manejo adotado, pode-se utilizar a diminuição da estoca-
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São muitos os casos em que a área favorece, mas restrições construtivas como presença de laje (pedras), solo inadequado e/ou pouco resistente, relevo, oferta de água, restrições ambientais, custo de execução, etc., impossibilitam o engenheiro de executar o empreendimento naquele local, fazendo-o optar por outras áreas. Desta forma, excluindo as particularidades pontuais de cada área, na escolha do local o profissional deverá estar atendo para pelo menos quatro aspectos relevantes, a citar:
ARTIGO
gem nos viveiros (peixes/m2 ou peixes/m3) para aparente melhora na qualidade de água, utilização de profiláticos e corretores da qualidade de água ou mesmo adotando sistemas que promovam a recirculação, com bombas e filtros que possibilitem o reuso da água no sistema. O profissional poderá também buscar fontes alternativas de água, como implantação de bombeamentos em corpos hídricos de maior porte, dependendo da distância, derivação ou bombeamentos em propriedades vizinhas e/ ou utilização de poços, desde que devidamente autorizados e com anuência do órgão ambiental legal. Independente da alternativa a ser adotada deve-se observar que empregando qualquer medida paliativa, a redução da demanda hídrica terá um custo a ser contabilizado no projeto, seja pelo aumento da energia elétrica devido a instalação de bombas, gastos com máquinas para melhor compactação do solo, uso de profiláticos ou redução da lucratividade pela diminuição da densidade de estocagem.
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Terreno suave ondulado:
Terrenos que possuam declividade entre 2 a 6%, isto é, 2 a 6 metros de desnível a cada 100 metros de comprimento, são ideais para construção de viveiros. Em geral, este tipo de topografia indica solos transportados (aluviais ou eluviais), profundos e sem risco aparente de pedras (lajes), além de estarem, por conta da sua própria formação, em regiões de altitude (cota) mais baixa, o que possibilita na maior parte dos casos, água por declividade (derivação). Terrenos demasiadamente plainos, apesar de aparentemente serem melhores de trabalhar, o gasto com movimentação de terra é maior, comparado com terrenos levemente inclinados, pois a relação corte/aterro é otimizada. Nestes casos, a quantidade de material utilizada no corte, excetuando a limpeza da área, será a quantidade de material utilizada na construção no talude. Desta forma, desde que bem planejado, a movimentação de terra será mínima, sendo trabalhada no próprio raio de atuação da máquina durante a construção (Figura 1). Para terrenos demasiadamente plainos, apesar de não serem ruins para construção, deve-se observar alguns aspectos importantes com relação a execução do projeto. Por exemplo, a relação de corte/aterro, que deve ser de tal forma que o material retirado terá de ser o mesmo utilizado na construção dos taludes. Em geral, os viveiros são constituídos no sistema semi-escavado, ou seja, se
Figura 1. Vista em corte de uma piscicultura comercial.
corta uma parte suficiente para aterrar parte do talude. Neste caso, deve-se considerar dois aspectos importantes, a cota de captação de água e a cota zero, também chamada de cota limite para a despesca (Figura 2). Como será cortado uma parte do terreno e “levantada” outra parte, corre-se o risco da parte cortada ficar na cota inferior ao nível do próprio terreno e, neste caso, haverá problemas para realizar a despesca nos viveiros. Outra situação recorrente nesses casos é a da cota da captação de água dos viveiros impossibilitar a execução do projeto proposto, visto que se “levantou” o perfil do terreno para atender a relação corte/aterro. Assim, tanto no primeiro caso como no segundo, na tentativa de solucionar o problema da despesca ou da captação de água, a relação do custo de máquinas relativas ao corte/aterro irá aumentar, uma vez que ou se cortará mais do que o necessário para os taludes e o excesso de terra deverá ser destinado a outro terreno, ou por trazer terra de outro local para o aterro, visto que não se pode cortar o terreno para viabilizar a despesca. Além disso, terrenos com inclinações maiores que 6% podem ser viabilizados, entretanto, a relação de corte/aterro será maior e, consequentemente o custo da execução também será mais alto, cabendo ao profissional quantificar a relação custo do empreendimento e tempo de retorno do projeto planejado para o mesmo.
Figura 2. Vista em corte de uma piscicultura comercial.
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ARTIGO
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Mercado foco:
Unidades de processamento de pescado em geral possuem raio de atuação não superior a 100 km, portanto, empreendimentos que visam o mercado de engorda para abate em frigoríficos, antes de ser executado, o produtor ou o engenheiro deverá consultar a demanda existente com relação a distância do empreendimento, exigências legais, técnicas e de projeto requeridas pelo abatedouro na qual se pretende entregar o pescado. Conforme já comentado, viveiros destinados ao cultivo intensivo de peixes devem atender
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as demandas específicas relativas ao tamanho, controle, prevenção de doenças, manejo e padronização necessários a obtenção da uniformidade dos lotes de peixes demandados pelas unidades de processamento, que por sua vez, não sendo atendidas, podem inviabilizar a comercialização ou o sistema de integração comumente proposto pelos abatedouros. Caso o mercado pretendido seja a produção de alevinos/juvenis cabe o levantamento prévio da demanda local, se este está localizado próximo a insumos, equipamentos e ao próprio público a quem será destinada a produção.
Acesso as benfeitorias:
Em nada adianta construir um excelente projeto, bem planejado, com todas as questões técnicas e legais atendidas e não ter acesso rodoviário ao mesmo ou energia elétrica trifásica disponível. Elevadas distâncias em estradas rurais não cascalhadas ou que impossibilitem o escoamento da produção, assim como a ausência da energia elétrica local, podem inviabilizar o andamento do projeto. A simples mudança de padrão, monofásico para trifásico ou a transferên-
cia de uma rede elétrica para atender as necessidades do projeto planejado, dependendo do porte do empreendimento, podem ser responsáveis por 5 a 20% do custo total da obra. Não são raros os casos em que a simples mudança do layout do empreendimento visando atender acessos rodoviários para facilitar a despesca ou se utilizar de redes elétricas já instaladas, podem gerar reduções significativa no custo total do projeto.
© Carlos Eduardo Zacarkim
Desta forma, a escolha do local está na etapa de planejamento de um empreendimento, onde o produtor ou engenheiro responsável deverá estar atento as limitações e condicionantes impostos em cada área, devendo não apenas ser consideradas as necessidades produtivas que se pretende obter, mas também o custo geral de implantação deste projeto, considerando ao
menos, a demanda hídrica, perfil do terreno, mercado foco e utilização e acesso a benfeitorias já existentes. Para o próximo artigo iremos abordar as questões relativas ao layout, tamanho e formato, profundidade dos viveiros, questões de despesca e movimentação de terra para construção.
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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ARTIGO
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R
A utilização de berçários e raceways em fazendas de camarão marinho Litopenaeus vannamei no Brasil: III - Critérios para povoamento e engorda Bruno Ricardo Scopel
Eco Marine Aquicultura Phibro Aqua Int. scopel@ecomarinebr.com
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Anízio Neto da Silva
Aquacultura Integrada Ltda anizio@aquaculturaintegrada.com.br
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© Cacau Studio
Artigo
Nos dois primeiros artigos desta série sobre cultivo de Litopenaeus vannamei em berçários e raceways, publicados nas edições 4 (jan/fev de 2017, p. 14-18) e 5 (mar/abr de 2017, p. 14-18) da Revista Aquaculture Brasil, apresentamos temas como caracterização dos sistemas intensivos, tipos de estru-
tura e materiais utilizados na construção dos tanques, desinfecção/esterilização e técnicas de fertilização/ preparação da água para o cultivo. Neste terceiro artigo, abordaremos importantes estratégias para o povoamento e engorda de pós-larvas e juvenis de L. vannamei em berçários e raceways.
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Qualidade das pós-larvas A palavra do momento na carcinicultura marinha brasileira é o “enfrentamento” de doenças. Neste contexto, a qualidade das pós-larvas e, consequentemente, o seu desempenho nas fazendas têm sido um dos pontos de maior atenção e reflexão por parte do setor produtivo. Pós-larvas com baixa qualidade podem ser responsáveis por danos consideráveis nos cultivos, comprometendo seriamente a produção inicialmente planejada. Como exemplo, segundo Muthusamy (2013), pós-larvas com baixa qualidade foram associadas a 80% das ocorrências de AHPNS (Acute Hepatopancreatic
Necrosis Syndrome) e EMS (Early Mortality Syndrome) na criação de L. vannamei na Malásia. Atualmente existem diversas metodologias de avaliação à campo da qualidade das pós-larvas, todas de fácil e prática execução, podendo inclusive fazer parte da rotina operacional das fazendas (Tabela 1). Outros testes mais específicos para determinadas enfermidades podem ser realizados em laboratórios qualificados, aumentando, neste caso, o nível de biosseguridade do empreendimento.
Tabela 1. Exemplos de parâmetros de avaliação da qualidade das pós-larvas (Fonte: GAA, 2015). Tipo de
Parâmetro
avaliação Histórico no
Tamanho da PL/
Laboratório
Variação de tamanho
Inspeção
Atividade das PL´s
Exame
Músculo/ relação do
microscópico
intestino
Teste de estresse
Salinidade
Sobrevivência Natação contra corrente
Condição nutricional Estágio da PL
Estado sanitário Pigmentação/ melanização
Hepatopâncreas: Deformidades
Incrustações Tamanho e cor
Amônia
Temperatura
Formol
Neste contexto, a qualidade das pós-larvas e, consequentemente, o seu desempenho nas fazendas têm sido um dos pontos de maior atenção e reflexão por parte do setor produtivo.
Densidade de povoamento nos berçários e raceways A elevação das densidades de estocagem implica, majoritariamente, no aumento da oferta de ração nos tanques, refletindo diretamente em diversos parâmetros de qualidade da água, como:
Aumento de sólidos suspensos totais (SST); Queda do pH; Queda da alcalinidade; Aumento do consumo de oxigênio dissolvido; Elevação da produção de compostos nitrogenados tóxicos; Rápida elevação da amônia e, posteriormente, do nitrito e nitrato (principalmente em raceways, devido ao maior tempo de cultivo).
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Estas alterações, associadas à elevada biomassa estocada, podem causar estresse nos animais e um aumento da probabilidade de problemas zootécnicos e sanitários (patogenias). Monitorar e corrigir rapidamente os principais parâmetros de qualidade de água é fundamental para o sucesso da produção de juvenis em sistemas intensivos. Atenção total, 24 horas por dia, também são fatores determinantes (Figura 1). Densidades moderadas, por exemplo, de 1000 a 2000 PL´s/m³ (ou seja, 1-2 PL´s/L) possibilitam o alcance de pesos médios finais acima de 1,0 g em 30-35 dias, mantendo os níveis de sobrevivência acima de 85%, desde que o manejo seja adequado. Em berçários com densidades de estocagem elevadas, entre 5.000 PL´s/m³ a 20.000 PL´s/m³ (ou seja, 5-20 PL´s/L) e a partir de ciclos mais curtos (< 20 dias), o peso médio final se reduz consideravelmente, podendo
ficar em torno de 0,025 a 0,2 g (ou 40 – 5 PL´s/g) (Figura 2). Em resumo, sob densidades muito elevadas, o produtor gasta um bom tempo e investimento, além dos riscos associados a esta etapa inicial, mas acaba produzindo juvenis muito pequenos e provavelmente não “preparados” para os desafios das próximas fases de engorda. É importante ressaltar que além da densidade de estocagem, a biomassa final prevista (número de indivíduos x peso x sobrevivência/volume de água) deve ser levada em consideração. Biomassas finais em sistemas intensivos e superintensivos em raceways e berçários comerciais variam em torno de 1 kg/m3 até 5kg/m3 (Samocha, 2010). O adensamento sem um maior controle poderá resultar em juvenis sem qualidade e desuniformes (Figura 3), prejudicando a fase posterior de cultivo, ou seja, a engorda final dos camarões. © Giovanni Lemos de Mello
Figura 1. Observação de pós-larvas de L. vannamei recém chegadas a uma propriedade de carcinicultura. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Figura 2. Ganho de peso (g) de pós-larvas de Litopenaeus vannamei submetidas à diferentes densidades de estocagem, em um ciclo de 35 dias (Fonte: Garcia, 2014).
© Anízio Neto da Silva
Figura 3. Pós-larvas de L. vannamei desuniformes, provenientes de um cultivo com densidade acima de 5 PL´s/L, após 30 dias de recria.
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Relação Peso /Crescimento O crescimento dos camarões é verificado pelo peso médio dos indivíduos, em gramas. No caso dos berçários e raceways, essa avaliação pode ser feita semanalmente, através de biometrias, ou mesmo por um índice diário (por exemplo, GPD – Ganho de Peso Diário) devido ao reduzido período do ciclo (comparado aos viveiros de engorda). O ganho de peso está relacionado principalmente com a genética dos animais e a fatores como densidade, alimentação, manejo, qualidade de água, entre outros. Na Figura 4, apresenta-se a curva de crescimento de pós-larvas de L. vannamei em um raceway de 700
m³, construído no litoral de Pe r n a m b u c o , utilizando uma densidade moderada de 1.000 a 1.500 PL´s/m³, em sistema de estufa com controle de temperatura.
Biomassas finais em sistemas intensivos e superintensivos em raceways e berçários comerciais variam em torno de 1 kg/m 3 até 5kg/m 3 .
Figura 4. Ganho de peso (g) de juvenis de L. vannamei cultivados por 30 dias em um raceway de 700 m³, com densidade de 1.000 a 1.500 PL´s/m³, em sistema de estufa com controle de temperatura.
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Crescimento compensatório O crescimento compensatório de camarões marinhos da espécie L. vannamei em sistema intensivo foi relatado por Foes (2016) e também por diversos outros autores. A ideia seria manter os animais em densidades elevadas por um longo período inicial de cultivo (até 60 dias), onde a taxa de crescimento será apenas “moderada”. Numa segunda etapa, os juvenis são transferidos para outros tanques e/ou viveiros, onde encontram maior espaço e melhores condições, reduzindo-se consideravelmente a densidade inicial e a biomassa esto-
cada. A partir deste momento, os juvenis recuperariam o “crescimento perdido” na fase anterior. Essa alternativa vem sendo cada vez mais utilizada no Brasil, especialmente em raceways (Figuras 5, 6 e 7), para fins de ajustes nas programações de povoamento dos viveiros de engorda, antecipação dos cultivos posteriores e aumento do número de ciclos/ano. Entretanto, fica a dúvida se o crescimento compensatório se aplicaria para as diferentes linhagens disponíveis no Brasil.
Figura 5. Raceway para pré-engorda de L. vannamei, com volume de 500 m³ em sistema de estufa. © Anízio Neto da Silva
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© Bruno Ricardo Scopel
SobrevivÊncia A sobrevivência dependerá da qualidade das pós-larvas, da qualidade de água e do tipo de manejo empregado nos berçários e raceways. Pensando-se no mesmo tipo de sistema (por exemplo: BFT), a sobrevivência será inversamente proporcional à densidade de estocagem e também Figura 6. Raceway para pré-engorda de L. vannamei, com volume de 500 m³ em sistema de ao tempo de cultivo. Estudos realizados em estufa. Local: Fazenda Potiguar, São Bento do Norte/RN. um tempo de cultivo fixo de 35 dias (Figura 8), variando-se a densidade de estocagem, apontaram a possibilidade de se manter um bom nível de sobrevivência (acima de 85%) nas densidades de 2,0 a 4,0 PL´s/ L (Garcia, 2014). O aumento da densidade, no mesmo tempo de cultivo, reduziu consideravelmente as taxas de sobrevivência. Relatos indicam que produtores do México, em 2014, tendo em vista a chegada da EMS (Early Mortality Syndrome), modificaram a estratégia de produção nos raceways, reduzindo as densidades de estocagem para 1,5 PL´s/L e mantendo os © Bruno Ricardo Scopel juvenis de L. vannamei por cerca de 55 dias, visando atingir pesos médios superi- Figura 7. Raceway para pré-engorda de L. vannamei, com volume de 1000 m³ em sistema de ores a 4,5 g, com 80% de sobrevivência e, estufa e geomembrana. Local: Fazenda Vannamei, Aracati/CE. posteriormente, povoar os viveiros de engorda em baixa densidade (6- 7 juvenis/m²). Desta forma, estende-se a fase “biossegura”, nos raceways, e cultiva-se os juvenis até a despesca, a partir de 4,5 g, em sistemas mais extensivos e com menor risco.
Figura 8. Sobrevivência de pós-larvas de L. vannamei mantidas em raceway sob diferentes densidades de estocagem inicial, em um tempo médio de 35 dias (Fonte: Garcia, 2014). AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Variações nos diferentes sistemas de cultivo Existem diferentes manejos e estratégias que podem ser empregadas na fase de berçários e raceways e que são aprimoradas constantemente, a partir da experiência prática dos técnicos que estão à frente da operação. Convencionalmente, berçários intensivos são preconizados com taxas elevadas de trocas de água (530%/dia) a fim de controlar a rápida elevação dos sólidos suspensos totais (SST) e dos compostos nitrogenados tóxicos na água. Por outro lado, elevadas trocas de água implicam em maiores custos com bombeamento,
além de aumentar a possibilidade de contaminação. Neste sentido, estruturas em estufas e/ou sombrites (Figura 9) com manejos mais aprimorados visando a estabilidade e o controle dos parâmetros da qualidade de água, como os sistemas de bioflocos (BFT) ou de recirculação de água (RAS, na sigla em inglês) têm cada vez mais chamado a atenção dos carcinicultores brasileiros. Os sistemas de BFT ou RAS diminuem consideravelmente a necessidade de trocas de água e possibilitam uma maior biossegurança nos cultivos.
© Bruno Ricardo Scopel
Figura 9. Raceways circulares com sombrites para pré-engorda de L. Figura 10. Sistema de tratamento de água utilizando filtros de areia e U.V. vannamei. Local: Fazenda Tecnarão, Arês/RN. Projeto da empresa Altamar. Local: Fazenda Tecnarão, Arês/RN.
Considerações Finais Nos três artigos publicados desta série, tivemos a oportunidade de transmitir aos leitores da Revista Aquaculture Brasil as últimas tendências no cultivo intensivo de PL´s e juvenis de L. vannamei no Brasil e no mundo. Devido à necessidade constante dos carcinicultores em aprimorar seus cultivos, a fim de aumentar a biosseguridade, a estabilidade dos parâmetros de qualidade de água e, consequentemente, o aumento da
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produtividade, a aplicação das tecnologias aqui discutidas pode representar um passo importante para a recuperação da carcinicultura marinha brasileira. Esperamos que em breve novas páginas da aquicultura brasileira possam ser escritas, mostrando cada vez mais a aplicação de novas tecnologias para a produção sustentável não somente de camarões, mas também de peixes e outros organismos aquáticos.
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Evolução dos sistemas de aeração nos cultivos intensivos e super intensivos em sistema BFT Dariano Krummenauer
Laboratório de Ecologia de Fitoplâncton e Microorganismos Marinhos Instituto de Oceanografia Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Rio Grande (RS) darianok@gmail.com
Luís Poersch, Geraldo Fóes, Gabriele Lara, Lucas Genésio Pereira da Silveira, Plácido Soares de Moura & Wilson Wasielesky Jr. Laboratório de Carcinocultura Instituto de Oceanografia Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Rio Grande (RS)
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de camarões em sistemas O cultivo de Bioflocos já é uma realidade
para os produtores de camarão no Brasil, pois é um sistema que trabalha com mínima ou nenhuma renovação de água durante o ciclo de produção, minimizando a ocorrência de doenças nos cultivos. O sistema recebeu grande notoriedade, pois possibilita manter simultaneamente a boa qualidade da água nos sistemas de cultivo e através do desenvolvimento de uma comunidade microbiana, produzir alimento adicional para os organismos cultivados. Bioflocos são agregados de algas, bactérias, protozoários e outros tipos de material orgânico particulado, tais como fezes e sobras de ração. A formação dos agregados depende de interações físicas, químicas e biológicas e uma vez produzidos no sistema, os mesmos são consumidos pelos camarões, servindo como fonte adicional de alimento. No sistema BFT, as bactérias nitrificantes e heterotróficas são responsáveis pela remoção e/ ou assimilação do nitrogênio amoniacal do sistema. A eficiência desta remoção aumenta significativamente através do aumento da relação carbono (C): nitrogênio (N) para aproximadamente 15:1. O controle do nitrogênio inorgânico no viveiro de cultivo é baseado no metabolismo do carbono e nos processos microbianos de imobilização de nitrogênio e de transformação do mesmo em
proteína. As bactérias heterotróficas utilizam os carboidratos (açúcares, amidos e celulose) como alimento, para gerar energia e crescer, produzindo proteínas e novas células. Essa utilização dos carboidratos pelas bactérias é acompanhada pela imobilização de nitrogênio inorgânico. Na formação dos agregados microbianos no sistema BFT, as interações mecânicas geradas pelos sistemas de aeração são fundamentais para o bom desenvolvimento dos bioflocos, sendo a velocidade de formação destes agregados influenciada pelo tamanho das bolhas de ar fornecidas pelo sistema de aeração. Provavelmente, quanto menor for o tamanho das bolhas de ar fornecidas pelo sistema de aeração, mais rápido devem se formar os agregados, maturando os bioflocos mais rapidamente. Embora os camarões apresentem aptidão ao consumo de bioflocos de diversos tamanhos, o tamanho do biofloco tem influência direta no reaproveitamento de nitrogênio. Além disso, elevadas densidades de estocagem exigem uma maior concentração de oxigênio dissolvido no sistema. Sendo assim, torna-se imprescindível o desenvolvimento de dispositivos de aeração que sejam eficientes na formação dos agregados e capazes de manter a circulação e revolvimento da coluna de água para evitar a formação de zonas anóxicas (Figura 1).
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Dispositivos de aeração Aerador Propulsor
Aerador Chafariz
O aerador propulsor é composto por motor elétrico, um eixo oco que gira a alta velocidade (3450 rpm) e uma hélice acoplada à extremidade do eixo giratório. Em operação, o ar é forçado para baixo do eixo oco pela pressão atmosférica, gerando micro bolhas de ar que incorporam oxigênio na coluna de água. Os primeiros testes realizados em sistema BFT com este modelo de aerador não foram satisfatórios na formação dos bioflocos, pois a hélice destruiu os agregados comprometendo o desenvolvimento de uma comunidade microbiana saudável. Embora não sendo eficiente na formação dos bioflocos, o modelo vem sendo usado de maneira compartilhada com outros modelos de aeradores, principalmente no auxílio para incorporação de oxigênio, pois o princípio de funcionamento é similar ao dos injetores de ar (a serem abordados nesse artigo), tornando o dispositivo muito eficiente como aerador de emergência, principalmente em sistemas intensivos em viveiros.
O aerador chafariz consiste em um motor elétrico com uma hélice presa ao seu eixo, sendo o motor suspenso por flutuadores. Uma vez que o impulsor gira em alta velocidade cria o “efeito chafariz” e desta forma incorpora oxigênio na água. A exemplo do aerador propulsor, quando comparado com outros dispositivos, o aerador chafariz não apresentou desempenho satisfatório na formação dos agregados microbianos. Além disso, quando comparado com aeradores de pás (paddle wheels), apresentou menor eficiência na transferência de oxigênio para a água (SOTR).
© Dariano Krummenauer
Aeradores de pás (Paddle wheels) Os aeradores de pás são os dispositivos mais utilizados na aquicultura, pois são eficientes tanto na incorporação de oxigênio como na desestratificação dos corpos de água. Testes realizados na Estação Marinha de Aquacultura da FURG confirmaram o sucesso do aerador também na formação dos bioflocos nos sistemas intensivos realizados em viveiros revestidos, sendo assim os mais indicados para cultivos nesse modelo de viveiro. Dependendo do tamanho do viveiro, o mesmo pode causar acúmulo de matéria orgânica. Para evitar este acúmulo pode-se utilizar um conjunto de aeradores de pás nas extremidades dos viveiros (Figura 2) junto com um ou mais aeradores propulsores no centro, evitando assim os acúmulos. Uma alternativa testada com sucesso pela equipe da EMA/FURG foi criar um “efeito raceway” nos viveiros, sendo que esta última não apresenta acúmulo de matéria orgânica nos sistemas intensivos.
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© João Costa Filho Figura 1. Acúmulo de matéria orgânica no fundo de um viveiro, ocasionado pela baixa movimentação de água na área.
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Sistemas de ar difuso
Venturis
Sistemas de ar difuso são dispositivos que geralmente são supridos por sopradores tipo “blower” que geram grandes volumes de ar com baixa pressão, fornecendo este ar atmosférico para difusores no fundo do tanque. Existe grande variedade de difusores, tais como pedras porosas, mangueiras perfuradas, tubos de cerâmica porosa, entre outros. No sistema BFT, o mais indicado é a utilização de mangueiras microperfuradas que são acopladas em tubos de PVC e fixadas no fundo dos tanques de cultivo (Figura 3). Entre as vantagens das mangueiras microperfuradas se destaca a durabilidade, o fato de não apresentar entupimento (pode ocorrer após alguns anos de uso ininterrupto), bom custo benefício quando comparada com as pedras porosas e, principalmente, a facilidade de manejo entre as despescas.
Localizados no exterior do raceway, os injetores tipo “Venturi” atuam como um captador do ar atmosférico que é incorporado no sistema através de bicos injetores ou tubos perfurados que estão submersos no fundo do tanque (Figura 4). Apresentam uma relação superfície:ar de 0,5: 1. No sistema BFT, os tubos de venturi operam junto com outros dispositivos (aerotubes) e em alguns casos necessitam da utilização de oxigênio complementar.
Injetores de ar Alimentados a partir de uma bomba centrífuga, os injetores de ar são operados a partir do fundo do tanque e conectados a um “snorkel” que capta o ar atmosférico e incorpora no sistema através de nano bolhas. Apresentam uma relação ar:água 3: 1 (seis vezes mais eficiente que o Venturi), as nano bolhas geradas proporcionam uma alta taxa de transferência de oxigênio dissolvido na água, eliminando assim a necessidade de oxigênio puro que é comum em muitos casos nos sistemas BFT. Além disso, o forte fluxo gerado a partir das nano bolhas cria movimentos horizontais e verticais, mantendo os sólidos em suspensão na coluna d’água, característica imprescindível para o sucesso do sistema BFT (Figura 5, 6 e 7). Outro aspecto importante é em relação aos custos de produção que a partir da escolha pelos injetores, podem ser reduzidos pela metade uma vez que não tem a necessidade de investir em outros artefatos, como sopradores, mangueiras micro perfuradas e venturis. A bomba centrífuga é utilizada para recircular a água enquanto que o ar atmosférico é aspirado do ambiente através dos snorkels, ao retornar pelos injetores a água está enriquecida pelas nano bolhas.
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© Geraldo Fóes
© Dariano Krummenauer
Figura 2. Aeradores de pás em viveiro revestido, a Figura 3. Aspecto da distribuição de ar no tanque de cultivo com a utilização de mangueiras microperparede central dentro do viveiro junto com o direcio- furadas. namento dos aeradores auxilia a circulação da água, no detalhe da figura é possível observar as linhas antipássaros. © Tzachi Samocha
Figura 4. Injetor de ar tipo Venturi instalado na tubulação externa do raceway.
Conclusões A equipe da FURG vem testando diferentes dispositivos nos últimos anos, sendo que mais pesquisas continuam sendo desenvolvidas. Até o momento, para o sistema intensivo em viveiros revestidos o dispositivo mais eficiente na formação dos bioflocos é o aerador de pás (paddle wheel). Para os sistemas superintensivos em raceways se recomenda a uti-
lização dos injetores de ar, que são mais fáceis de gerir e em que os processo de assimilação/remoção dos nitrogenados ocorrem normalmente sem que haja acúmulos potencialmente tóxicos. Assim, os bioflocos podem se desenvolver mais rapidamente atingindo a estabilidade e predominância heterotrófica.
© Dariano Krummenauer
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio financeiro fornecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério de Aquicultura e Pesca (MPA), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Figura 5. Raceway super intensivo equipado com injetores de Amparo à Pesquisa do ar, o sistema promove a aeração e movimentação da água com Estado do Rio Grande alta eficiência. do Sul (FAPERGS). W. Wasielesky e L. Poersch são bolsistas de produtividade do CNPq. Agradecimento especial para All Aqua Aeration, Trevisan Equipamentos Agroindustriais, Centro Oeste Rações S.A. (GUABI) e AQUATEC pela doação dos injetores, aeradores, dietas experimentais e pós larvas respectivamente.
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos © Dariano Krummenauer Figura 6 e 7. Início do processo de formação dos Bioflocos em um Raceway superintensivo equipado com injetores de ar.
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© lib.noaa.gov ARTIGO 42 Chistofoletti © Jefferson
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A PRODUÇÃO DO PIRARUCU EM CATIVEIRO Adriana Ferreira Lima1* Ana Paula Oeda Rodrigues1 Eduardo Sousa Varela1 Lucas Simon Torati1 Patricia Oliveira Maciel1
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Pesquisadores Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas/TO adriana.lima@embrapa.br 1
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Introdução Há décadas, o pirarucu é tido como uma das espécies nativas de grande potencial para a aquicultura brasileira, devido ao rápido crescimento (10 kg/ano), rusticidade, respiração aérea obrigatória e filé claro, com sabor suave e ausência de espinhas; características que favorecem seu cultivo e aceitação pelo mercado consumidor. Apesar desse potencial, sua produção ainda
Figura 1. Livros publicados sobre a produção do pirarucu e disponíveis para download no site da Embrapa.
é tímida (8,6 mil toneladas em 2016) e reflete uma série de limitações tecnológicas. Ainda hoje, umas das maiores dificuldades para a produção em cativeiro é o baixo domínio da reprodução, que resulta em baixa oferta, produção irregular e alto custo dos alevinos. Recentemente, métodos para identificação sexual de reprodutores têm permitido o manejo para formação de casais, possibilitando aumento na oferta de alevinos e crescimento da produção. Esse crescimento expressivo na última década originou-se em Rondônia, estimulado principalmente por uma empresa de processamento, que adotou um modelo de integração vertical, no qual fornecia alevinos treinados, assistência técnica e garantia a compra do peixe para piscicultores, que, em contrapartida, realizavam a engorda. No entanto, com a descontinuidade desse modelo, a produção da espécie, que estava crescente e chegou a quase 12 mil toneladas em 2014, caiu e estabilizou nas atuais 8,6 mil toneladas. Isso demonstra que a comercialização também é um limitante, devido à baixa quantidade de indústrias de processamento do pirarucu. Em função do grande porte da espécie, a comercialização do peixe inteiro ou eviscerado é inviável. Portanto, a existência de indústrias que
beneficiem o filé do pirarucu é fundamental para viabilizar sua oferta no mercado e estimular o crescimento do seu cultivo. Além das dificuldades mencionadas acima, limitações tecnológicas e o pouco conhecimento sobre a biologia da espécie aplicado à piscicultura, contribuem para a baixa produção e o reduzido investimento tecnológico nessa cadeia e destacam a importância de investimentos em pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Em 2012, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), deflagrou uma série de ações de pesquisa e transferência de tecnologia para o pirarucu. Foram realizados 10 cursos na região Norte para capacitação em produção do pirarucu e que, posteriormente, geraram dois livros voltados para subsidiar a produção da espécie (disponíveis gratuitamente no site da Embrapa para download) (Figura 1). Um levantamento de como é realizada atualmente a produção da espécie também foi gerado e, com base nessas ações, apresentaremos um breve relato das fases que compõem a produção do pirarucu em cativeiro.
Reprodução O estágio recente de domesticação, a dificuldade na identificação do sexo e o manejo de peixes adultos são fatores que tornam a reprodução do pirarucu em cativeiro um desafio. A manutenção de elevado número de reprodutores sem uso efetivo ainda é prática comum e, somada à maturidade sexual tardia (após 4 anos), resulta em alto custo para manutenção dos plantéis. Em consequência do baixo
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planejamento na formação dos plantéis, alto vínculo genético com maiores riscos de acasalamentos consanguíneos é frequentemente observado. Tal fato pode contribuir à suposta ocorrência de alta mortalidade larval do pirarucu. Geralmente, as propriedades não fazem a gestão dos plantéis, o que implica na ausência de registros de origem, idade e parentesco genético, contribuindo para uma baixa e irregular
oferta de alevinos. A separação de casais por viveiros e a identificação dos reprodutores com PIT-tags são tecnologias disponíveis que aumentariam a eficiência reprodutiva dos plantéis. Porém, apenas o domínio de métodos de indução da reprodução poderia garantir a oferta de alevinos do pirarucu durante o ano todo.
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© Jefferson Chistofoletti
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© Jefferson 46 Chistofoletti
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Alevinagem Esta fase é marcada pelo treinamento alimentar dos alevinos com ração comercial. É realizada geralmente em laboratório, ponto mais crítico na produção de alevinos, onde podem ocorrer altas mortalidades e maior suscetibilidade a doenças. Além do treinamento, a qualidade da água, a densidade e o manejo frequente podem facilitar o desenvolvimento de parasitas, em especial, trichodinídeos, monogeneas e nematoides. O fato dos alevinos serem capturados diretamente nos viveiros contribui para que já en-
trem no laboratório com uma carga inicial de patógenos, devido ao contato prévio com os pais e o ambiente. Todos esses fatores fazem com que os índices de sucesso na alevinagem variem entre os produtores, refletindo no preço dos alevinos e na produtividade da fase de engorda. A realização do treinamento alimentar de forma intensiva e cuidadosa, com mão de obra tecnificada, alta frequência de alimentação, substituição gradual do zooplâncton por ração e classificações constantes dos alevinos, reconduzindo aque-
les não treinados à etapa inicial de treinamento, é uma prática que precisa ser adotada pelos produtores de alevinos e que melhoraria os índices produtivos nessa fase. Concomitantemente, o emprego de manejo sanitário nos lotes de alevinos, a realização de diagnóstico de doenças para definir tratamentos preventivos precoces, a desinfecção das estruturas e utensílios do cultivo e a manutenção da qualidade da água auxiliaria na redução das mortalidades.
atendam às exigências nutricionais da espécie, uma alta conversão alimentar (≥ 2:1) tem sido observada, impactando consideravelmente o custo final de produção. Apesar de recentemente terem sido observados problemas com inflamações intestinais (enterites) que podem resultar em mortalidades, problemas sanitários durante a engorda têm sido mínimos quando esta é iniciada com alevinos sadios e condicionados a
comer ração. O desenvolvimento de rações adequadas às exigências nutricionais é fundamental para otimizar sua produção em cativeiro e depende de pesquisas direcionadas para esse objetivo. Contudo, esse desafio só se tornará viável para as indústrias de ração quando a cadeia do pirarucu apresentar volume de produção significativo.
Engorda A engorda do pirarucu é comumente realizada em viveiros escavados e barragens, com algumas iniciativas de produção em tanques-rede e de lona vinílica. Em geral, é dividida em fase I, com duração de 90 dias, na qual peixes entre 10-15 cm (10-20 g) alcançam peso de 600 a 1000 g, e fase II, em que os peixes atingem aproximadamente 10 kg após 270-300 dias. Como ainda não existem rações que
Processamento e comercialização A maioria das indústrias de pescado no Brasil não possui linha de produção adaptada ao processamento de um peixe do porte do pirarucu, nem métodos de insensibilização e abate apropriados para a espécie.
O filé fresco, congelado ou salgado é o principal produto ofertado no mercado, sendo raro o aproveitamento de coprodutos, em especial, escamas e couro, que poderiam tornar o processamento mais lucrativo.
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O principal entrave nessa etapa de produção é o baixo volume e irregularidade na oferta da matéria-prima, o que dificulta a manutenção e abertura de novos mercados nacionais e internacionais.
ARTIGO
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© Jefferson 48 Chistofoletti
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Conclusão A produção de pirarucu em cativeiro começa a deixar de ser um potencial para se tornar uma realidade. No entanto, ainda são necessários o desenvolvimento da in-
dústria de processamento para absorver a produção e esforços conjuntos de instituições de pesquisa, desenvolvimento e assistência técnica com produtores a fim de viabilizar
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e disseminar soluções tecnológicas para os principais entraves que impedem o desenvolvimento desta cadeia produtiva.
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Bioflocos e seus benefícios nutricionais na pré-engorda de tilápias Emerson Giuliani Durigon* Tayna Sgnaulin
Jéssica Brol
Mestrandos em Zootecnia Programa de Pós-Graduação em Zootecnia Centro de Educação Superior do Oeste – CEO Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Chapecó/SC *emersom_durigon@hotmail.com
Sara Mello Pinho
Mestranda em Aquicultura Programa de Pós-Graduação em Aquicultura Centro de Aquicultura da UNESP – CAUNESP Universidade Estadual Paulista – UNESP Jaboticabal/SP
© Jéssica 50 Brol
Engenheira de Pesca Editora Executiva Aquaculture Brasil Laguna/SC
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano
Professor Orientador no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia Laboratório de Aquicultura – LAQ Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos – LANOA Centro de Educação Superior da Região Sul – CERES Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Laguna/SC
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Artigo
Frente aos constantes desafios que a atividade aquícola vem enfrentando, como escassez de água em regiões produtivas, alto custo das terras, necessidade de cultivos mais biosseguros e um destino correto para os efluentes, cresce o interesse por sistemas alternativos, considerados mais “verdes” e ambientalmente amigáveis. Neste contexto, a tecnologia de cultivo em bioflocos (ou “BFT” da sua sigla em inglês para Biofloc technology) vem sendo reconhecido por se enquadrar nestes moldes modernos de produção. Isto porque, é um sistema mais controlado, compacto (necessita de menos áreas), e fundamentado em um conceito ecológico de produção, ou seja, com menos impactos negativos sobre o meio ambiente. Neste sistema há o estímulo do crescimento de microrganismos que possibilitam uma série de benefícios ao cultivo, como por exemplo:
a) Manutenção da qualidade da água; b) Competição e exclusão de patógenos; c) Incremento nutricional, através do
consumo constante dos flocos microbianos pelos organismos cultivados. Tendo em vista tais benefícios, a aplicação do bioflocos no cultivo de tilápia vem ganhando adeptos no Brasil, com destaque para a fase de pré-engorda ou berçário. Atualmente este segmento é considerado um nicho de mercado e vem crescendo a passos largos no país. Ao adquirir o “alevinão” os piscicultores diminuem o período de engorda nas fazendas, maximizando as áreas produtivas e aumentando o giro de capital. Neste sentido, o presente artigo abordará os benefícios nutricionais do bioflocos, além de trazer informações das pesquisas inovadoras sobre o tema em desenvolvimento no Laboratório de Aquicultura (LAQ) e Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos (LANOA).
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Bioflocos, microbiologia e nutrição Recentemente a tecnolo- Tabela 1. Estudos realizados no Laboratório de Aquicultura da UDESC (Laguna/SC), com ênfase na nutrição de juvenis de tilápias em sistema de bioflocos. gia de bioflocos vem sendo amplamente discutida nos fóruns Objetivo Tratamentos Resultados Referência ou aquícolas. Resumidamente, o situação sistema permite cultivos inten- Diferentes densidades de Duas linhagens: tilápia-do- O desenvolvimento da tilápiaBrol et al. 2017. sivos com trocas mínimas ou nu- estocagem para diferentes Nilo e vermelha. Duas do-Nilo (O. niloticus) linhagem las de água, exige grande aeração linhagens de tilápia. densidades: 800 e 400 GIFT, foi superior a linhagem e movimentação da água durante peixes/m³. vermelha em ambas as todo o período de criação. Ainda, densidades. Utilizando-se a é fomentado o crescimento de uma densidade de 800 peixes/m o microbiota através de um balanço desempenho zootécnico não foi de nutrientes, principalmente com prejudicado. base nas relações C:N e N:P. Estes Privação alimentar. Quatro manejos alimentares: O sistema de bioflocos para Trabalho de conclusão microrganismos desempenham pai) alimento fornecido todos os juvenis de tilápia-do-Nilo de curso, Eng. de péis fundamentais na água, através dias da semana; ii) alimento possibilitou realizar a privação Pesca/UDESC, 2016. do sequestro e transformação dos fornecido seis dias por alimentar de até 3 dias da Artigo submetido à compostos nitrogenados, e consemana; iii) alimento semana, sem perdas de publicação. versão em proteína microbiana de fornecido cinco dias por desempenho produtivo e com alta qualidade, disponível 24 horas semana; iv) alimento redução de até 42% dos custos por dia. fornecido dia sim e dia não. com arraçoamento. Para que se tenha o real Níveis de inclusão de Cinco níveis de inclusão da Níveis de inclusão até 10% com Dissertação, Programa benefício nutricional ao aplicar a farinha de Tenebrio farinha de tenébrio e barata: tenébrio e 15% com baratas não de Pós-graduação em tecnologia de bioflocos na aqui- molitor e de barata cinérea 0, 5, 10, 15 e 20%. prejudicaram o Zootecnia - UDESC, cultura, alguns fatores importantes Nauphoeta cinérea. desenvolvimento dos juvenis de 2017. Artigos devem ser considerados como a tilápia em BFT. submetidos. adaptação da espécie ao sistema e o manejo microbiano visando um adequado perfil e composição dos A inclusão de até 20% de Trabalho de conclusão microrganismos do BFT. Um bom Níveis de inclusão de Seis níveis de inclusão: 0, 20, 40, 60, 80 e 100%. resíduo de pizzaria não afetou o de curso, Eng. de manejo da microbiota do início ao farinha de resíduo de pizzaria em dietas desempenho zootécnico e ainda Pesca/UDESC, 2017. fim é fundamental neste sistema. comerciais. reduziu custos com Artigo em processo de Em relação a espécie, as alimentação. submissão. tilápias possuem características específicas que favorecem o cultivo neste modelo, como por exemplo Efeito de diferentes Resultados apresentados a seguir. o hábito alimentar onívoro, com salinidades, níveis aparatos morfológicos adaptados proteicos e relação energia para aproveitar os agregados, posdigestível:proteína sibilitando uma melhora na condigestível. versão alimentar e na composição centesimal dos peixes. Além disso, são resistentes a altas densidades de cultivo, com baixa sensibilidade a níveis elevados de NH4 e NO2 e tolerantes aos sólidos suspensos. A composição microbiana está diretamente relacionada às condições ambientais (salinidade, temperatura, pH, entre outros), ao tempo de cultivo e aos nutrientes adicionados e mantidos no sistema. Uma alta relação C:N, principalmente no início dos cultivos, deve ser mantida entre 12 a 20:1, e posteriormente reduzida ao longo do tempo. Em conjunto com uma forte aeração e movimentação da água, a correta relação C:N propicia o crescimento de bactérias heterotróficas, favorecendo o aproveitamento da “alça microbiana”, e também de bactérias quimioautotróficas (as famosas “nitrificantes”). Além disso, é constantemente relatado altas concentrações de outros organismos planctônicos como microalgas, rotíferos, cladóceros e protozoários, itens alimentares naturais dos peixes. A riqueza e diversidade dos microrganismos presentes na água refletem na composição nutricional do floco disponível. Normalmente, os agregados microbianos são ricos em proteínas, lipídios, vitaminas e aminoácidos essenciais, representando uma importante fonte completar destes nutrientes para os organismos cultivados, principalmente aqueles que “naturalmente” conseguem aproveitá-los, como é o caso das tilápias. Neste sentido, ao levar em consideração esse complemento nutricional, estudos voltados ao manejo alimentar (como restrição), substituição das fontes de proteína e correta relação proteína:energia vem sendo desenvolvidos. 3
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Pesquisas do Laboratório de Aquicultura (LAQ/UDESC) Considerando todas as vantagens supracitadas, desde 2013 o LAQ e LANOA/UDESC possui uma linha de pesquisa específica para estudos de nutrição de juvenis de tilápias em sistema de bioflocos. Os experimentos realizados com manejo alimentar e exigências nutricionais possibilitaram o desenvolvimento de artigos científicos, formação de recursos humanos (tanto de alunos da graduação quanto de pós-graduação) e disseminação dos resultados em diversos cursos e palestras no Brasil e no exterior. Na Tabela 1 estão sintetizados os principais resultados encontrados, todos com tilápia na fase de pré-engorda (berçário) utilizando a tecnologia de bioflocos. Dentro dessa linha de pesquisa, foi aprovado em novembro de 2013, sob coordenação do Prof. Dr. Maurício G. C. Emerenciano, um projeto multidisciplinar (CNPq Universal Nº 14-2013), em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (RS) e Universidade Nilton Linz (AM), com o título: “Berçário de tilápias em sistemas de bioflocos: Efeito de diferentes salinidades, níveis proteicos e relação energia:proteína no desempenho zootécnico, aspectos bioquímicos, hematológicos e parasitológicos”. O objetivo geral foi avaliar os parâmetros sanguíneos, composição bromatológica e desempenho produtivo de juvenis de tilápias na fase de berçário, em sistema de bioflocos, alimentados com dietas contendo diferentes níveis de proteína digestível (22, 26 e 30% de PD) e energia digestível (3000, 3150 e 3300 kcal de ED/kg). Este projeto foi desenvolvido em três experimentos:
A
B
C
I. Tilápias vermelhas em sistema de bioflocos com água doce; II. Tilápia-do-Nilo em sistema de bioflocos com água doce; III. Tilápia-do-Nilo em sistema de bioflocos com água salobra (10 ppt de salinidade). Figura 1. Produtividade de tilápias na fase de berçário cultivadas em sistema de bioflocos em três experimentos, avaliando diferentes níveis proteicos e energéticos.
Como principais resultados, nos três experimentos não houve diferença para a conversão aliminúsculas indicam diferença entre o mesmo nível de energia com diferentes níveis de proteína mentar e sobrevivência. Observou-se que é possível (teste de Tukey P<0,05). reduzir os níveis proteicos com a manipulação da relação energia:proteína, em dietas para juvenis de tilápias criados em sistema de bioflocos. No primeiro experimento foi observado que os níveis de proteína digestível não interferem no desempenho da tilápia vermelha, e que com 22% PD e 3300 kcal de ED elas apresentaram desempenho estatisticamente igual aos níveis de 26 e 30% PD (Figura 1A). Os mesmos resultados foram encontrados no experimento II, cuja produtividade (kg/m3) não foi afetada pelo nível de proteína digestível (Figura 1B). Já no experimento III, com tilápias-do-Nilo criadas em água salobra, foi observado que o nível de 26% PD apresentou resultado de desempenho produtivo semelhante a 30% PD. Para a produtividade não houve interação entre os níveis de proteína e energia avaliados (p>0,05) (Figura 1C). Estes resultados comprovam que as tilápias, na fase estudada (~1-20g), aproveitam-se das fontes proteicas presentes nos flocos microbianos do sistema, possibilitando a redução destes níveis proteicos das rações. Letras maiúsculas indicam diferença entre o mesmo nível de proteína em diferentes níveis de energia e letras
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Perspectivas futuras A pré-engorda de tilápias em sistema de bioflocos representa uma forma de otimizar a produção e aumentar a eficiência desta fase, sendo possível utilizar menores níveis de proteína comparados aos sistemas tradicionais. Neste sentido, com a produção em larga escala do “alevinão” no Brasil, o setor produtivo certamente irá se beneficiar das informações produzidas pela academia, e assim ambos podem contribuir para alavancar ainda mais este promissor segmento da aquicultura nacional.
Figura 2. Uma das salas para desenvolvimento das pesquisas na Universidade do Estado de Santa Catarina, LAQ/UDESC.
Figura 3. Elaboração das dietas utilizadas no experimento “Berçário de tilápias em sistemas de bioflocos”.
Figura 4 e 5. Trabalhos desenvolvidos com tilápia-do-Nilo e tilápia vermelha.
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Softwares e aplicativos na Aquicultura: Ferramentas disponíveis e tendências futuras Prof. M.Sc. Antonio Glaydson Lima Moreira
Coordenador do Laboratório de Aquicultura Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE Campus de Morada Nova
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Prof. D.Sc. Renato Teixeira Moreira Coordenador de Pesquisa e Extensão Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE Campus de Morada Nova drrtm234@gmail.com
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A aquicultura é o setor da produção de alimentos que mais cresce no cenário mundial. A produção aquícola global tem apresentado crescimento contínuo nas últimas cinco décadas, de acordo com informações contidas na publicação “Estado Mundial da Aquicultura”, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2016), que apresenta as estatísticas da produção mundial para o ano de 2014. Estimativas realizadas em estudo recente do Banco Mundial previam que no ano de 2030, a aquicultura seria responsável pela metade da oferta de pescado do planeta (World Bank, 2013). Conforme informam os dados da FAO (2016), o pescado como fonte alimentar no período de 1961 a 2013 cresceu a uma taxa média anual de 3,2%, enquanto o crescimento populacional mundial esteve em torno de 1,6% no mesmo período. Isso significa que a taxa média anual de produção de pescado foi o dobro da taxa de crescimento populacional. Para efeito de comparação em relação à demanda de pescado no mundo, o consumo per capita por pescado passou de 9,9 kg em 1960 para 18,5 kg em 2010, com estimativas preliminares para além de 20 kg no ano de 2014. No cenário nacional, segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), a produção total da piscicultura brasileira foi de 483,24 mil toneladas, representando um aumento de 1,5% em relação ao ano anterior e gerando mais de R$ 3 bilhões, que significa 69,9% (R$ 2,7 bilhões) do valor levantado pela aquicultura nacional. Com o avanço da tecnologia e o aumento da demanda por proteína animal, a aquicultura tem ocupado cada vez mais um espaço no cenário mundial, se consolidando como a atividade que mais cresce no agronegócio (FAO, 2016). A aquicultura como atividade produtiva, deve implementar novos sistemas de produção com melhor suporte tecnológico, que por sua vez já existem e apareceram para dar ao setor um novo status. A atividade aquícola passa a interagir com modernos sistemas de automação e controle por softwares, bem como melhorias promovidas por sistemas de monitoramento remoto que realizam controle de lotes e parâmetros de qualidade de água. Na atualidade, saber planejar, manejar e controlar qualquer empreendimento é de fundamental importância. A seguir são apresentadas algumas ferramentas já presentes na aquicultura nacional, cujas informações extraídas são relevantes e podem ser um grande aliado do produtor no dia-a-dia da fazenda.
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Softwares e aplicativos A Embrapa (2014) destaca que foi crucial para o produtor rural perceber as vantagens das tecnologias desenvolvidas por instituições públicas e privadas, e incorporar tais tecnologias ao sistema produtivo, dando ao país destaque em produções. Embora tal afirmação seja destinada às produções da agricultura nacional, esta também se aplica à aquicultura, uma vez que tal atividade faz parte do agronegócio. Todo o aporte de inovação tecnológica, principalmente do ano de 2010 até a atualidade, contribui de forma significativa para que a aquicultura se consolide, gerando enormes somas em receitas, distribuídas nas mais diversas atividades do ramo. A forma como estão disponíveis hoje as ferramentas tecnológicas, quanto a custo e facilidade de desenvolvimento, quando comparado, por exemplo, com o início da atividade aquícola no país, é gigantesco. Neste sentido é apresentado uma lista de softwares e aplicativos* desenvolvidos para a aquicultura (Tabela 1), onde
em suas bases de dados encontram-se formas de gestão aquícola, observação e diagnóstico de enfermidades e parâmetros de qualidade de água e até glossários. Todos visando facilitar a execução da atividade. A grande dificuldade do gerenciamento de empreendimentos aquícolas é gerar e administrar os dados de produção, controle de lotes, biometrias e parâmetros de qualidade de água. A problemática gira em torno da concepção e alimentação de planilhas e gráficos, uma vez que, nem todos possuem expertise para criar tais ferramentas, portanto a solução é anotar em um caderno, que geralmente se perde, suja ou molha, devido à proximidade com a água. A maioria dos softwares e aplicativos são desenvolvidos com o intuito de auxiliar o produtor no controle de produção e no monitoramento de parâmetros ambientais e zootécnicos, pois já oferecem planilhas e gráficos prontos, bastando apenas a inserção dos dados observados.
A maioria dos softwares e aplicativos são desenvolvidos com o intuito de auxiliar o produtor no controle de produção e no monitoramento de parâmetros ambientais e zootécnicos.
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© Jéssica Brol
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Tabela 1. Softwares e aplicativos destinados ao auxílio de produção aquícola.
*Todos os softwares e aplicativos citados estão disponíveis nos seus respectivos domínios ou na plataforma Google Play para download.
A
B
Figura 1. Interface dos aplicativos DocFish (a), Maximum Converter (b) e Aquarium (c).
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C
Um pouco mais sobre as ferramentas O software Aquisys v.1.3, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente, está disponível online (www.cnpma.embrapa.br/aquisys), como é sugerido no próprio sítio eletrônico, sua funcionalidade é voltada para direcionar às boas práticas de manejo e gestão ambiental da aquicultura. O software consiste basicamente de três “abas” principais: (i) avaliação do sistema de produção, (ii) informações relacionadas à aquicultura e (iii) apoio à gestão ambiental da aquicultura. Sua funcionalidade é completamente intuitiva, consiste em formulários preenchidos online, após responder estes formulários, a plataforma emite imediatamente uma resposta (Resultado da Avaliação), onde sugere as medidas a serem adotadas no empreendimento. Embora necessite de conexão com a internet, a plataforma é bastante prática, fácil de usar, gratuita, fornece sugestões e disponibiliza uma série de circulares técnicas que podem auxiliar bastante o produtor. Os demais softwares apresentados são todos voltados à gestão do empreendimento, com planilhas prontas e fornecimento de gráficos ao final do preenchimento das lacunas, podendo ou não ter conexão com a internet. O Aquaweb, da FCA Tecnologia, é um exemplo de aplicativo que realiza o gerenciamento e armazenamento de dados da produção, com planilhas e gráficos prontos, as mesmas características do software. Os aplicativos Aquímetro, AquipescaApp, BlueAqua, AGA e PondGuard
são exemplos de aplicativos que realizam cálculos rotineiros do cotidiano nos ambientes de cultivo, tais como: cálculo de conversão alimentar, concentração de compostos nitrogenados, taxa de sobrevivência, dentre outros. Dentre os citados, destaque para o Aquímetro, pois, além da possibilidade de utilizar tanto para piscicultura como carcinicultura, possui uma boa quantidade de parâmetros em sua base de dados e o idioma utilizado é o português. Já o aplicativo Acqua.Farm é uma plataforma de interação para a compra e venda de pescado, basicamente é uma “rede social” de oferta de produtos. Embora não componham a lista, os aplicativos DocFish, Maximum Converter e Aquarium, são exemplos de como essas tecnologias auxiliam o produtor. São aplicativos que realizam o diagnóstico de enfermidades, conversão de unidades e glossário com um grande número de termos técnicos usados na aquicultura. Existe uma grande oferta de aplicativos gratuitos, pagos e em português, para aparelhos celulares de plataforma Android, entretanto, para plataforma IOS, a quantidade de aplicativos é limitada e a maioria tem o inglês como idioma. Tal fato se deve a facilidade de desenvolvimento para Android e de programação livre, bem como ao custo de aquisição do aparelho com sistema operacional Android ser menor quando comparado ao IOS.
Conclusões O campo da tecnologia, de desenvolvimento web e mobile ainda está em ampla expansão. Para o Brasil, em um horizonte próximo, embora já frequente em outros países, os sistemas aquícolas, em sua maioria, serão controlados remotamente com o envio de dados dos viveiros para produtores e técnicos realizarem a interpretação dos dados e tomar medidas preventivas afim de evitar perdas de produção.
É prudente salientarmos também que todos os aplicativos e softwares citados e desenvolvidos, por melhores que sejam, não eliminam a presença de um técnico especializado no ambiente de cultivo, na verdade estas tecnologias são ferramentas de apoio e não a solução para todos os problemas apresentados.
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
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Viabilidade técnica para o aproveitamento do descarte (conchas) do processamento do marisco pedra Anomalocardia brasiliana Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC Centro de Ciências Agrárias - CCA Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com
Julianna Stephanie Barbosa da Silva Engenheira de Pesca - UFERSA Mossoró, RN, Brasil juliannastephanie@hotmail.com
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Figura 1. Marisco pedra (Anomalocardia brasiliana). © Alex Augusto 63
No Brasil a família Veneridae (Bivalvia) conta com 38 espécies distribuídas em 17 gêneros, sendo o marisco pedra, Anomalocardia brasiliana (Figura 1) a espécie com mais ampla distribuição. Na região litorânea do município de Grossos (RN), parte das comunidades sobrevivem do extrativismo de moluscos e crustáceos, e o marisco pedra faz parte da dieta familiar da maioria dos pescadores da região, além de ser uma importante fonte de renda.
No entanto, vale ressaltar que a exploração deste marisco não conta com procedimentos tecnológicos eficientes, além da desinformação das comunidades, principalmente com relação ao descarte dos resíduos gerados no processamento (em média 120 kg de conchas/dia), o que contribui para o aumento deste problema. Tais materiais são descartados de forma imprópria, em terrenos da comunidade ou no mar, e consequentemente podem vir a causar
grandes danos (Figura 2). Buscando transformar esta situação, sugeriu-se uma estratégia para o aproveitamento de resíduos gerados pelo processamento do marisco na região de Grossos (RN), de forma sustentável, articulando comunidade local (marisqueiras) com vistas à geração de valor, à elevação da renda dos trabalhadores e a melhores condições de vida da população.
© Alex Augusto
Figura 2. Coleta do descarte (conchas) do processamento do marisco pedra (A. brasiliana).
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Objetivos
Metodologia
O objetivo deste trabalho foi estudar a viabilidade técnica da utilização comercial das conchas do marisco Anomalocardia brasiliana descartadas pelas marisqueiras, vinculadas a Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs do Município de Grossos (RN).
As conchas do marisco pedra (A. brasiliana) foram coletadas na Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs (Figura 2) na comunidade artesanal da região do Município de Grossos (RN), e transportadas ao Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC). Foram realizadas pesagens em cada etapa a fim de possibilitar a realização dos cálculos de rendimento (Figura 3). As conchas foram imersas em solução de hipoclorito de sódio 1% durante 24 horas, e posteriormente submetidas à secagem em estufa (105°C por 24 horas) e resfriadas por 3 horas à temperatura ambiente em dessecador. A remoção da fração orgânica presente nas conchas foi feita através do forno mufla (600°C por 1 hora). As conchas na temperatura ambiente foram trituradas e
moídas em moinho faca e martelo (Marconi), em média de três minutos por batelada (1500 g). Após a moagem, o pó obtido foi tamisado (peneirado) em agitador eletromagnético com peneiras granulométricas (diâmetros de 4,75 mm, 1,70 mm, 1,18 mm, 1,00 mm, 0,425 mm, 0,250 mm, 0,075 mm e 0,045 mm) durante dez minutos no nível de vibração 7. O pó resultante da tamisação foi esterilizado em estufa à temperatura de 105°C durante duas horas. A quantificação do carbonato de cálcio presente nas conchas foi feita através da metodologia utilizada por Petrielli (2008) para conchas de ostra. As amostras foram pesadas antes e depois de serem submetidas a pirólise (1000°C/10 min.), i.e., transformação do carbonato de cálcio (CaCO3) em óxido de cálcio (CaO).
Resultados
Os dados sobre a flutuação de extração do marisco ao longo de três anos, bem como o total de descarte das conchas mostraram um acréscimo na exploração desse recurso (marisco pedra), e consequentemente um aumento no descarte das conchas (em média 18 toneladas de conchas descartadas no meio ambiente ao ano), o que auxiliou no estudo de viabilidade econômica. Em reunião com as marisqueiras, as mesmas comentaram que não haveria outro local para o despejo (hoje feito no terreno da própria Associação, Figura 3) – pensaram até em deixar na beira mar, mas acabaram não fazendo por falta de transporte. Grande parte dos impactos relacionados ao descarte inadequado das conchas (geração AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
de odores ofensivos; veiculação de doenças infectocontagiosas; geração de efluentes [líquidos percolados]; perda da qualidade estética do local) é de curto prazo e reversível, o que é positivo, pois com a mudança de atitude, principalmente no sentido de aproveitamento desses resíduos, os impactos ambientais relacionados a esta prática serão amenizados ou desaparecerão. Uma alternativa que as marisqueiras estão encontrando é o uso de uma pequena parte das conchas para artesanato, mas que ainda precisa ser aprimorado. Com o peso resultante da calcinação foi possível realizar o cálculo da perda de massa e verificou-se que as conchas possuem em média 71% de carbonato de cálcio em sua composição. ARTIGO
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Os valores de rendimento da tamisação foram: 76% (peneira 0,15 mm), 69,44% (0,12 mm), 82,7% (0,07 mm), e 84,92% (0,03 mm). Após a pirólise os rendimentos obtidos foram: 60,68% (peneira 0,15 mm), 61,34% (0,12 mm), 75,65% (0,07 mm) e 85,88% (0,03 mm). Através dos dados de rendimento após pirólise pôde-se estimar a quantidade de carbonato de cálcio (CaCO3) presente nas conchas de Anomalocardia brasiliana em média 71%. O produto resultante da pirólise (calcinação) foi o óxido de cálcio (CaO), popularmente conhecido como cal virgem e, combinado com água, transforma-se em cal hidratada (Ca(OH)2). Estes produtos podem ser facilmente comercializados e requerem apenas as conchas como matéria prima. A criação de novos produtos no mercado do agronegócio, na construção civil, e na indústria farmacêutica e cosmética (produto orgânico) pode ser viável pela otimização e redução do volume de resíduos sólidos que apresentam problemas sérios, sem soluções em curto prazo, de poluição e depósito no meio ambiente. Esses produtos
também podem oferecer vantagens sob os aspectos econômico-sociais pela imediata incorporação da mão-de-obra e geração de emprego e pelo surgimento de alternativas tecnológicas com valor agregado. Os produtos obtidos do descarte (conchas) do processamento do marisco pedra – carbonato de cálcio e o óxido de cálcio (cal virgem e cal virgem hidratado) apresentam processos de produção simples e semelhantes, e são muito utilizados na construção de estrada (como filler para misturas betuminosas), na pasta de papel (substituindo em parte a matéria-prima vegetal), no mármore compacto para pavimentos e revestimentos, em adubos e pesticidas, em rações (alimentos compostos para animais), na indústria da cerâmica (matéria-prima para cerâmica de pasta calcária), na indústria de tijolos, na indústria de tintas, em espumas de polietileno, na produção de talco, na produção de vidros, na indústria de cimento, na produção de vernizes e borrachas, na correção de solos (calagem), em medicamentos e como carga em polímeros.
Tabela 1. Extração do marisco e produção dos descartes de conchas.
Figura 3. Sequência do processamento das conchas do marisco pedra (A. brasiliana).
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Conclusão
De modo geral, sabe-se que pesquisas que contribuam para dar destino adequado aos resíduos (descartes) do processamento de mariscos são de fundamental importância, dadas as condições de crescimento da atividade, e consequentemente, da quantidade de conchas que estão sendo tratadas como rejeito. As conchas descartadas podem ser beneficiadas e transformadas através de um processo relativamente simples (viável tecnicamente). Para produzir carbonato de cálcio é necessário retirar a matéria orgânica e moer a concha na granulometria desejada. Para a produção do óxido de cálcio é necessário calcinar as conchas a uma temperatura de 1.000°C e através da hidratação deste, pode-se chegar ao hidróxido de cálcio. Como benefícios econômicos pode-se dizer que as Figura 4. Descarte (conchas) do processamento do marisco pedra (A. brasiliana).
perspectivas de melhores condições socioeconômicas na região de Grossos (RN) estarão diretamente relacionadas com o conhecimento desses resultados, por meio do desenvolvimento de pesquisas tecnológicas adequadas. A possibilidade de aproveitamento integral do molusco A. brasiliana poderá se transformar em realidade na medida em que estas espécies subvalorizadas possam ser utilizadas convenientemente como alimento (parte comestível) e ainda uma saída economicamente rentável destes recursos através do descarte de forma adequada do material processado (conchas). Como benefícios sociais pode-se dizer que o projeto vai fortalecer a Associação das Mulheres Pescadoras e Artesãs do município de Grossos (RN), a partir da mobilização do seu potencial, visando o aumento em pelo menos 50%
do número de pessoas associadas. Tudo dependerá das ações e investimento por parte das marisqueiras no prosseguimento do projeto. Como benefícios ambientais a aplicação dessas novas tecnologias passa a ser de vital importância para o aproveitamento racional e integral deste recurso, através do conhecimento científico da matéria-prima a ser utilizada, como formas alternativas rentáveis aos empreendimentos que atuam na elaboração de produtos pesqueiros, agregando valor ao pescado pela diversificação da produção e o aproveitamento de resíduos. E como benefícios tecnológicos a introdução de técnicas para o processamento de conchas vai ser um diferencial para a Associação, onde poderão maximizar o aproveitamento do marisco pedra.
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
© Alex Augusto
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Artigos
pa r a c u r t i r e c o m pa r t i l h a r É
possível cultivar corais ?
A aquicultura de corais surge como uma alternativa frente a extração no ambiente natural para o comércio de ornamentais, além de potencializar a restauração dos recifes e permitir a preservação da biodiversidade. Nesse contexto, os autores Jonathan A. Barton, Bette L. Willis e Kate S. Hutson publicaram na revista científica “Reviews in Aquaculture” (v. 9, ed. 3, p. 238-256, set/2017) um artigo de revisão denominado “Coral propagation: a review of techniques for ornamental trade and reef restoration”.
Um dos objetivos da revisão foi apresentar as vantagens e desvantagens da utilização de fragmentos provenientes de origem assexuada versus o uso de propágulos de origem sexuada, e também comparar as fases de berçário in situ versus ex situ, pensando-se no comércio de ornamentais e a na restauração dos recifes naturais.
Confira os resultados do trabalho e o artigo completo no link: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/raq.12135/full
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C
h a r g e s
“Pré-povoamento” de viveiros
Sistema antipássaro
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BIOTECNOLOGIA DE ALGAS
Sistemas de Cultivo de Microalgas – Parte I Dr. Roberto Bianchini Derner Laboratório de Cultivo de Algas Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC roberto.derner@ufsc.br
comercial de microalgas – para a obA produção tenção de biomassa e/ou de compostos bioativos
– tem sido desenvolvida por inúmeras empresas em alguns países e, para tanto, são empregados diferentes sistemas de cultivo, os quais, dependendo da finalidade têm vantagens e desvantagens que devem ser consideradas. Por convenção, e considerando cultivos fotoautotróficos, os sistemas podem ser classificados como abertos ou fechados. Em Sistemas Abertos, as culturas são desenvolvidas, principalmente, em tanques (cilíndricos, retangulares com fundo elíptico ou tipo raceway, por exemplo), tanto em ambiente aberto (exterior ou outdoor), quanto em ambientes fechados (interior ou indoor). São denominados sistema abertos porque parte da cultura (superfície) está em contato com o ar atmosférico. Quase como regra, os sistemas abertos são pouco sofisticados, sendo os cultivos desenvolvidos sob condições naturais e com baixo ou nenhum controle dos parâmetros ambientais (luz, temperatura, pH etc.). Os tanques são geralmente pouco profundos (0,3 – 1,0 m), construídos em concreto, fibra de vidro ou policarbonato, por exemplo, e ainda, em maior escala, muitas empresas empregam tanques com fundo de terra, revestidos com material plástico. Os siste-
mas abertos são de baixo investimento e de relativamente fácil operação, entretanto, apresentam diversas limitações, sendo as mais impactantes a escassa biomassa alcançada (0,05 – 0,5 g.L-1) e a consequente baixa produtividade volumétrica, como resultado da eficiência limitada na utilização da luz. É interessante comentar que os tanques para o cultivo de microalgas foram desenvolvidos pensando em termos de volume de produção, enquanto deveriam ter sido usados conceitos de engenharia e de fotobiologia na construção destes sistemas, sempre visando alcançar elevadas produtividades e voltados à otimização dos custos (menor uso de água, de nutrientes, de mão de obra etc.). Nos cultivos em ambiente externo, outras dificuldades são as variações diárias e sazonais na iluminação (natural) e na temperatura - que implicam em variações no crescimento das culturas e na composição bioquímica da biomassa -, bem como, a maior vulnerabilidade a contaminações (outras microalgas, bactérias, fungos, protozoários, insetos etc.). Usualmente, os cultivos em tanques são desenvolvidos para a obtenção de produtos de menor valor, a exemplo das culturas empregadas na alimentação dos organismos de aquicultura ou para a ob-
© Roberto Bianchini Derner Figura 1. Sistemas de cultivo aberto - LCA/UFSC: a) Tanque de fibra de vidro, com fundo elíptico, 2.500 L; b) Raceway revestido com manta plástica, 10.000 L
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Figura 2. Sistemas fechados de cultivo de microalgas - LCA/UFSC: a) Fotobiorreator plano, 25 L (Photon Systems Instruments); b) Fotobiorreator plano vertical, 150 L
tenção de biomassa para a produção de biocombustíveis. Cabe esclarecer que, quando os tanques estão dispostos em ambientes fechados como estufas (casa de vegetação ou greenhouse), e mesmo em ambientes com iluminação artificial, continuam sendo considerados como sistemas abertos. Em Sistemas Fechados, convencionalmente denominados Fotobiorreatores (“PBR”), as culturas são desenvolvidas visando alcançar elevadas biomassas (>1,0 g.L-1.d-1) e produtividade volumétrica, o que é possível por conta da elevada razão entre a superfície iluminada e o volume da cultura. Diferente dos tanques, nos fotobiorreatores a área superficial da cultura não tem contato com o ar atmosférico, daí a denominação de sistemas fechados. Diversos tipos de fotobiorreatores têm sido empregados para o cultivo de microalgas, entretanto, os tipos mais comuns são os cilindros verticais, os painéis verticais ou horizontais de forma achatada (flat panel) e os fotobiorreatores tubulares (serpentinas verticais ou horizontais), construídos com tubos de plástico, vidro ou policarbonato. Nos fotobiorreatores as culturas podem ser monitoradas, possibilitando o controle das condições de cultivo (densidade celular ou biomassa, concentração de nutrientes, temperatura e pH, dentre outras). Outras vantagens incluem o controle das condições hidrostáticas da cultura (fluxo de ar e água, dissolução dos gases etc.), a redução da vulnerabilidade a contaminações e a utilização eficiente dos nutrientes do meio de cultura. Por conta dos elevados custos de implantação e de operação, os fotobiorreatores têm sido desenvolvidos visando à produção de biomassa rica em produtos de elevado valor comercial, empregada
como matéria-prima para as indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética, por exemplo. Assim, a escolha do sistema de cultivo a ser implantado deve ser feita levando em consideração o produto a ser obtido e a sua aplicação. Particularmente para a alimentação de alguns dos organismos de Aquicultura, diversos estudos dão conta de que a produção de microalgas pode representar entre 20% e até mais do que 50% dos custos de produção de sementes de moluscos e de pós-larvas de camarões marinhos, portanto, é imperativo o estudo voltado à melhoria dos sistemas tradicionais de cultivo, bem como, o desenvolvimento e a aplicação de novos sistemas de cultivo e de processos de alta eficiência na produção de microalgas.
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G r e e n Te c h n o l o g i e s Aquaponia:
produzindo minha salada e muito mais! é de hoje que a Aquaponia é considerada uma na forma de produzir alimentos. Este modelo N ãorevolução de cultivo que integra peixes, crustáceos e diferentes espécies de plantas caiu no gosto de diversas pessoas em muitos países, tanto no âmbito de hobby ou como negócio! Este modelo integrado, que aproveita nutrientes oriundo dos efluentes dos peixes e crustáceos para produzir diversas espécies de hortaliças, frutas, forragens e até mesmo flores, é foco de diversos programas de pesquisa e de desenvolvimento alimentar em muitos países. No Brasil o interesse vem crescendo a cada dia graças a maior quantidade de informações disponíveis nas mídias sociais, cursos ofertados, entre outros.
Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano UDESC, Laguna, SC mauricioemerenciano@hotmail.com
exemplo, com temperos como salsinha e cebolinha? Uma bela opção seria transformar em produtos de alto valor agregado como temperos secos, comercializados em pequenos frascos ou embalagens (Figura 2). Isso possibilitaria ao produtor um maior período de comercialização, diversificando seus produtos ofertados! A cada dia a Aquaponia surpreendendo você e eu!
© www.ecofilms.com.au
Figura 1. As hortaliças folhosas como as diferentes variedades de alface são destaque na Aquaponia.
© www.livingaquaponics.com
Mas afinal, quais são as principais plantas produzi- © www.dreamstime.com das na Aquaponia? Sem sombra de dúvidas são as hortaliças folhosas como alfaces e suas diferentes variedades, e temperos como salsinha e cebolinha (Figura 1). Os motivos são a rusticidade, menor exigência em nutrientes comparada a outras espécies, fácil adaptação e ótima disponibilidade de mudas no mercado. Por estas razões que sempre que sou questionado eu recomendo essas espécies principalmente a iniciantes. No entanto, rúculas, chicória, almeirão, hortelã, manjericão e agrião também vem sendo produzidos com sucesso. Tomates, pepinos, abóbora, pimentões, pimentas e morangos são mais exigentes e necessitam de maiores cuidados. Ainda se tratando das plantas produzidas, vale uma reflexão. Em alguns países, como EUA, as plantas produzidas neste sistema são consideradas orgânicas!! Em outras palavras: agregação de valor! Do ponto de vista biológico, os nutrientes oriundos das rações dos peixes e crustáceos (não orgânicos) são transformados naturalmente por uma série de microrganismos (bactérias, fungos, protozoários, etc) em nutrientes absorvíveis pelas plantas. Este processo literalmente imita o que ocorre na natureza, como margens de rios, lagos, entre outros, onde densas vegetações crescem em contato com as águas ricas em nutrientes. Fantástico não? Mas se em Figura 2. Excedentes da produção de cebolinhas e salsinhas na Aquaponia determinada situação houver excedente nas produções? Por podem se transformar em produtos de alto valor agregado.
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Empreendedorismo Aquícola Terra do peixe André Camargo Escama Forte andre@escamaforte.com.br om os dados apresentados pela prefeitura de C Maripá – PR, através do seu Engenheiro de Pesca, Cleiton Manske, temos a certeza de proximidade da
© André Camargo
completa eficiência. Com o trabalho conjunto da Prefeitura Municipal, Emater-PR, produtores rurais e demais empresas do setor, o município se destaca a cada ano com a produção de tilápias em viveiros escavados. Com um total de 133 hectares alagados, os noventa e quatro produtores de tilápia maripaenses produziram 7.120 toneladas em 2016. Números estes que levam Maripá ao topo da produção aquícola nacional quando falamos em produtividade. Os impressionantes 53,53 ton./hectare por ano de média provam que somente a organização pode trazer a eficiência. Tal organização é capaz de viabilizar economicamente a produção de 75 toneladas por produtor rural. Realidade de uma região que consegue mostrar ao Brasil e ao mundo que o agronegócio também funciona baseado na pequena e média produção rural, bastando organizar a cadeia produtiva como um todo. A região respira tilápia e mostra viabilidade econômica com muita competitividade. Destaque especial para o trabalho das cooperativas e organizações locais de produtores na viabilização deste modelo produtivo. Em relação à venda, hoje os produtores da
região recebem os menores preços relativos do Brasil, porém mostram-se extremamente satisfeitos, ganham sua fatia no processo produtivo, continuam investindo e desta forma garantem a continuidade e sustentabilidade deste importante segmento, que é modelo e serve de exemplo para todo Brasil. Do ponto de vista produtivo, merecem destaque na região a aeração, o uso de probióticos e a terceirização de etapas do processo de produção, como por exemplo a despesca e outros manejos. Responsáveis pelo sucesso do modelo, qualidade de água e baixo custo de mão de obra continuam sendo o grande diferencial deste sistema de produção. Outro ponto de destaque é o grande número de pequenas indústrias que processam tilápia na região. Desta forma, todos aqueles que gostam de ver um sistema de produção aquícola eficiente, devem visitar Maripá e o oeste paranaense. Lá é possível ver a produção remunerando todos os elos da cadeia, é possível ver excelente interação entre produtores rurais e os demais atores da cadeia e ainda, você pode ver o prazer do homem em estar fixado no campo, o que em outras regiões do país parece difícil. Para finalizar, ninguém pode sair de Maripá sem contemplar as orquídeas espalhadas pela árvores da cidade, deixando o município ainda mais atraente.
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NUTRIÇÃO
Manejo alimentar Parte I: Frequência alimentar Dr. Ar tur Nishioka Rombenso Laboratório de Nutrição, Instituto de Oceanografia, Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México. artur.nishioka@uabc.edu.mx
O
sucesso da criação de qualquer espécie aquícola, em particular de peixes, depende em parte de dietas adequadas que atendam as exigências e as demandas nutricionais e de manejos alimentares otimizados. Já conversamos bastante sobre a importância de dietas balanceadas e formuladas especificamente para cada espécie, e nas duas últimas colunas ressaltei a importância do processo de alimentação. Hoje vou apresentar o conceito de manejo alimentar e focar na frequência alimentar. As diferentes práticas de manejo alimentar, como a frequência alimentar e a taxa de arraçoamento, podem maximizar a eficiência de alimentação, o crescimento e consequentemente a produção. Além disso, elas são importantes para determinar o consumo total de alimento e a eliminação de resíduos, e também influenciam a composição corporal e o valor nutricional associado. Apesar da grande relevância para o sucesso produtivo e da baixa complexidade científica dessas práticas, existem poucos estudos publicados buscando a otimização das estratégias alimentares nas diferentes espécies, tamanho de peixe, fase do ciclo de vida, fases e sistemas de criação e de produção, e tipo de ração. Vale ressaltar ainda que existe uma sinergia entre a frequência alimentar e a taxa de arraçoamento. Assim, ambas devem ser consideradas simultaneamente para obtenção de um resultado sólido e preciso (Tabela 1). Irei abordar cada uma isoladamente por motivos didáticos, mas ressalto que o manejo alimentar adequado consiste na otimização da frequência alimentar e da taxa de arraçoamento. A frequência alimentar consiste no número de alimentações ofertadas durante um período de tempo, geralmente em um dia. A quantidade de ração diária ofertada não se altera em função da frequência alimentar. Apenas a quantidade de ração ofertada em cada alimentação varia em função da frequência alimentar. Tomemos como exemplo uma criação de peixes em que a oferta diária é de 120 kg de ração por viveiro. Se utilizarmos uma 74
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frequência alimentar ao dia estaremos fornecendo toda a quantidade diária de ração (120 kg/viveiro) em apenas uma alimentação. Com duas frequências alimentares ao dia teremos duas alimentações com quantidades iguais de alimento (60 kg/viveiro), e que juntas totalizam a quantidade diária de ração ofertada (120 kg/viveiro). Se utilizarmos três frequências alimentares ao dia, serão três alimentações de 40 kg de ração por viveiro, totalizando 120 kg de ração/viveiro/dia. E assim por diante. Nesse exemplo ficou claro como funciona a frequência alimentar e, se traçarmos um paralelo com a alimentação humana, podemos entender ainda mais esse conceito. Analisando quantas vezes comemos por dia, podemos associar que baixas frequências alimentares geralmente não são adequadas, pois é complexo ingerir a mesma quantidade de alimento diário em apenas uma alimentação comparado com três ou mais alimentações, além de ter que lidar com o grande volume de alimento a ser digerido. Elevadas frequências alimentares, no entanto, podem resultar em insuficiente quantidade de alimento para satisfazer o apetite de um organismo e obter uma digestão adequada. Ou seja, a frequência alimentar influencia o consumo de alimento e sua utilização. Então, podemos nos perguntar: Qual é a melhor frequência alimentar? Podemos também assumir que frequências alimentares maiores que 1 devem obter melhores resultados. Como a frequência alimentar é espécie-específica e também varia de acordo com o tamanho do peixe, a fase do ciclo de vida, o sistema de criação, a densidade de estocagem, o tipo e a composição da ração, a resposta mais adequada seria “Depende”. O ideal é contextualizar para saber qual a frequência alimentar mais adequada para sua espécie, tamanho de peixe, ... etc. Até o momento é sabido que as frequências alimentares podem variar de 1 a mais de 12 vezes ao dia dependendo da espécie, tamanho do peixe, fase do ciclo de vida, etc.
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Espero ter esclarecido o conceito da frequência alimentar e também motivado você produtor a verificar se as frequências alimentares utilizadas durante o ciclo de produção são adequadas para o objetivo de sua fazenda. Caso não sejam, consulte um especialista e busque na literatura algo a respeito.
Espero também ter motivado você profissional da área de nutrição e produção a fornecer essa importante informação para os produtores e assim contribuir para a eficiência produtiva e a expansão da atividade.
Tabela 1. Sinergia entre a frequência alimentar e a taxa de arraçoamento. Manejo alimentar Alimentação esporádica e baixas taxas de arraçoamento
Frequência Taxa de alimentar arraçoamento Baixa Baixa
Resultado - Redução de crescimento; - Aumento da fome; - Aumento de agressividade; - Aumento de canibalismo; - Aumento da heterogeneidade de classes de tamanho.
Alimentação frequente e altas taxas de arraçoamento
Elevada
Elevada
- Desperdício de alimento; - Deterioração da qualidade de água; - Redução da produção; - Aumento dos custos de produção; - Alteração da composição corporal.
Otimização da frequência alimentar e da taxa de arraçoamento
Otimizada
Otimizada
- Redução do desperdício de alimento; - Melhoria da qualidade de água; - Maior homogeneidade nas classes de tamanho; - Otimização da nutrição do organismo; - Aumento da produção; - Otimização dos custos de produção.
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Negócios Aqua:
Técnicas + Gerenciamento
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ão faz sentido gastarmos energia pesquisando espécies e modelos de produção viáveis tecnicamente. Êxito em qualquer atividade do agronegócio é a somatória do que chamo “50% + 50%”, ou seja: 50% é dominar a nobre arte de produzir bem, produzir com eficiência e 50% é gerenciamento do negócio, empreendedorismo. Portanto, por mais viável tecnicamente, economicamente e mais sustentável que determinado modelo de produção ou espécie apresente-se ser na teoria, na prática estes resultados não aparecerão se o negócio não for bem conduzido. Paralelamente ao apresentado acima existe uma outra questão muito importante: resiliência. Traduzindo: capacidade de “guentar o tranco”. Nenhum resultado positivo acontece dentro da nossa zona de conforto. A “mágica” acontece sempre que nos dispomos a trabalhar em situação desafiadora. Ou seja, se não tiver disposição para passar longos períodos fora de nossa zona de conforto, nenhum resultado expressivo acontecerá. Porém é necessário ter muito cuidado para não confundir: atuar fora da zona de conforto X carregar pedra. Diz o velho ditado que quem cedo madruga Deus ajuda,
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mas acordar cedo para ficar movendo pedras de um canto para outro... não vai dar certo. Tem que ter disposição para atuar fora de nossa zona de conforto, mas com objetividade onde realmente é importante nossa dedicação ao negócio. Quando o assunto é políticas públicas relacio-
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ATUALIDADES & TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA
Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.; Pesquisador científico da Apta - UPD Pirassununga, SP. sussel@apta.sp.gov.br
nadas a agricultura familiar, assentamentos rurais, enxergarmos uma empresa urbana. A pecuária é um quilombolas, entre outros, não precisamos mais de exemplo clássico! Foi-se o tempo (por sinal, há muito extensionistas agrônomos, zootecnistas, veterinários, tempo) que simplesmente engordar um boi a pasto (sem engenheiros de pesca e etc... Precisamos de sociólo- qualquer manejo de pastagem) era lucrativo. A atividade gos, administradores, educadores... Alternativas, seja continua sendo lucrativa, mas passou por várias transrelacionadas a modelos de produção ou espécies, com formações. Algumas no âmbito da eficiência produtiva, pacote tecnológico definido, onde a viabilidade técni- mas principalmente no que tange ao gerenciamento do ca e financeira foi comprovada cientificamente, temos negócio. um monte! De lambari a pirarucu, passando por tilápia Com isto, a decisão para continuar ou não na e camarão, seja em água doce ou salgada, em tanques pecuária é muito simples: o arrendamento para cana ou escavados ou em recirculação de água, já dispomos de soja me paga X e a engorda de bois (com todos os riscos) inúmeras tecnologias definidas. me deixa Y. Ou seja, não é toneladas por hectare que Portanto, o que criar e como define qual atividade tocar. E sim R$/ criar, de norte a sul do Brasil, não é a Já se foi o tempo que o pecuarista O ano de 2017 ha. questão. E sim, como gerenciar! Em se orgulhava em ter o boi mais pesaficará marcado do de toda a vizinhança. Eficiência tempos modernos o “nome do jogo” é: gestão, gerenciamento e planejapela transição produtiva + financeira, é o nome do mento. Via de regra, o que se obserda Aquicultura para jogo. va no campo é foco nas técnicas de Mas no caso da aquicultua Aquicultura cultivo. Aí, após produzir um lindo ra ainda é muito complicado este Empresarial ou produto, vende a preço de banana negócio de R$/ha, pois as receitas (com todo respeito a esta cultura que Industrial. obtidas ainda oscilam muito! Pois movimenta mais que a aquicultura é, tais oscilações não estão relaciono Brasil) ou a conta não fecha, pois, nadas aos índices de produtividade as estratégias de produção adotadas e sim a administração do negócio. É não justificam. Isto vale para grande fato que existem algumas peculiarie vale para pequeno. dades regionais, porém, são facilmente identificáveis. Ainda o que mais se escuta no campo é: GPD, O ano de 2017 ficará marcado pela transição CA e Ton./ha. Claro, são índices importantes e direta- da Aquicultura para a Aquicultura Empresarial ou Inmente relacionados a eficiência do negócio. Mas muito dustrial (como preferirem). Não está sendo e nem será pouco se fala em: R$/ha. O que é mais viável financeira- nenhuma espécie ou sistema de produção o responsável mente por m2, lambari ou pirarucu? Preferem começar por esta transformação. E sim a gestão e o gerenciamento a produzir pirarucu a fazerem uma continha simples dos modelos e das espécies que já criamos. É necessário como esta! o entendimento que apenas produzir bem, não basta. Lógico que se não tiver produção negócio Via de regra, 50% da possibilidade de êxito no negócio nenhum prospera. Então, pesquisas e melhorias rela- está relacionado a administração do mesmo. cionadas as técnicas de produção são importantes sim. Porém, ainda falta olharmos para um negócio rural e
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Aquicultura de Precisão “Imprecisão ???”
Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca / APTA/SAA, Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br
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este espaço sempre falamos de aquicultura de precisão. Falamos de tecnologia, equipamentos e até de conceitos mais amplos de aquicultura de precisão, como por exemplo na coluna passada, quando abordamos a questão dos nishikigois e dos cuidados no melhoramento genético que os produtores realizam. Desta vez, entretanto, vou abordar um assunto espinhoso que sempre é “varrido para debaixo do tapete”. Sempre é mais fácil dizer que o limitante para o crescimento de nossa aquicultura marinha está ligado diretamente à cadeia produtiva, tais como disponibilidade de alevinos, sementes, ração, equipamentos e tecnologia. Outros podem apontar a questão sanitária, as doenças ou baixa disponibilidade de profissionais capacitados. Alguns relatam o desafio do “pós-porteira”, ou seja, a questão da comercialização e da agregação de valor. Raramente, entretanto, vejo discussões que coloquem a “culpa” de um crescimento tão pífio no arcabouço legal de se obter uma cessão de área aquícola no mar e em se conseguir o licenciamento ambiental do empreendimento. Porque estou falando disto? Nos últimos anos muito recurso público e privado foi investido em pesquisa e inovação em piscicultura marinha. Observamos a modernização de laboratórios em universidades e instituições de pesquisa e alguns empreendimentos privados surgiram, atraindo a atenção para a criação de peixes marinhos. Por outro lado, nos dias atuais, somente dois empreendimentos (um em São Paulo e um no Rio de Janeiro) permanecem na água produzindo bijupirás (Rachycentron canadum). Em 2016 os outros empreendimentos que haviam se instalado no litoral paulista foram alvo de uma fiscalização ambiental e encerraram suas atividades. Todos haviam solicitado junto ao poder público federal suas respectivas áreas aquícolas (alguns a mais de sete anos) mas não obtiveram retorno de seus pleitos e portavam apenas um protocolo. Que fique claro que ninguém se opõe a fiscalização ou esteja incitando o descumprimento da lei, mas será que é justificável uma demora desta monta para se obter uma cessão de área aquícola? A lei é clara no tocante a que, somente após a obtenção da cessão de área e do devido licenciamento ambiental (com a emissão das respectivas licenças de implantação e operação), é que os empreendimentos podem funcionar. Agora é razoável um empreendedor, disposto a produzir alimentos no mar, a dar entrada em seu pedido de cessão de área e aguardar um prazo de tempo não mensurável? Como estimular a criação de peixes marinhos, atrair investidores
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e recursos, sem estabelecer um prazo adequado para regularização do empreendimento? Você amigo leitor colocaria seu suado dinheirinho em uma atividade com este grau de incerteza? Esta resposta é fácil e é exatamente o que estamos observando na piscicultura marinha no Brasil. A meu ver este é um dos maiores desafios que a piscicultura marinha enfrenta no Brasil e de nada adianta dispormos de insumos, tecnologia e profissionais se cada vez que um investidor se mostrar interessado na atividade ficar sabendo que o prazo para que obtenha a autorização para implantar seu cultivo será imprevisível. Neste sentido esta coluna gostaria de abordar a “imprecisão” que vem sendo a obtenção da cessão de áreas aquícolas no litoral do Brasil e o resultado catastrófico que esta situação acarreta em termos de desestímulo a investimentos na criação de peixes marinhos. Não pretendo esgotar este assunto em uma pequena coluna, mas apenas expor o ponto de vista de um pesquisador que reconhece o potencial da atividade e busca tentar entender o que realmente limita o crescimento da mesma. Apesar do tema polêmico, precisamos aproveitar este espaço para estimular os leitores a uma reflexão. Será que meu entendimento é isolado ou outros também estão enxergando isto? Em caso positivo, está na hora de aprofundarmos nossa discussão sobre este desafio. Reforçando o objetivo desta coluna, não podemos restringir o conceito de aquicultura de precisão apenas a equipamentos e tecnologias. Tem muita precisão acontecendo na aquicultura, mas tem muita imprecisão no processo de regularização dos cultivos que tentam produzir proteína em nosso litoral. Até a próxima coluna! © Eduardo Sanches
Figura 1. Piscicultores marinhos brasileiros estão “recolhendo” suas estruturas da água. Restam apenas duas fazendas no Brasil...
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RANICULTURA INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA CADEIA RANÍCOLA – PARTE III: INOVAÇÕES EM INSTALAÇÕES E MANEJO NA ENGORDA
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Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR. andremunizafonso@gmail.com
e as “Inovações Tecnológicas na Cadeia Ranícola” voltadas à Girinagem sempre foram tímidas, é na Engorda que elas aparecem com força total! A grande variedade de sistemas produtivos para rãs é destinada aos dois momentos existentes na engorda: Recria, ou engorda inicial; e a Terminação, ou engorda final. Além disso, outras inovações também se voltaram a forma como as rãs devem ser alimentadas, pois, por serem estritamente carnívoras após a metamorfose, só aquilo que apresenta movimento as atrai. Podemos, inicialmente, definir os sistemas de criação de imagos e rãs em alagado ou inundado e semissecos (Figura 1). Nestes últimos, como o termo sugere, preconizou-se destinar uma área da baia para que os animais tivessem livre acesso à água, sendo esta área denominada de piscina. É importante frisar que o contato direto com a água é pré-requisito para o bem-estar das rãs, uma vez que se hidratam e respiram pela pele (além das respirações pulmonar e bucofaríngea), bem como defecam e urinam na água também. A área seca é destinada, normalmente, à colocação do alimento e, em certos modelos como o anfigranja, podem possuir uma pequena casa protegida da luz, denominada de “abrigo”. No sistema inundado (Figura 2) os animais permanecem em contato permanente com a água, não existindo distinção entre áreas. A altura da lâmina d’água é menor quando comparada aos sistemas semissecos, pois deve permitir que a rã fique em estação, com a cabeça e as narinas emersas. Este modelo possui uma outra particularidade, i.e., como não há cocho, o alimento é servido diretamente na água e por tratar-se de ração extrusada, permanece boiando até que seja apreendido pelos animais. Esta característica de alimentação foi um divisor de águas na criação de rãs. Trazido em 1995 da Ásia para o Brasil, o sistema inundado revolucionou a forma de ofertar ração as rãs.
© Andre Muniz Afonso
Antes disso, um estudo inovador realizado em 1984 por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (MG), sistematizou a criação da larva da mosca doméstica (Musca domestica) em cativeiro, de forma higiênica e econômica, sendo possível fornecer as rãs um alimento que se movia. A alta produtividade dessa espécie, aliada à sua característica de fotofobia, permitia que fossem servidas sobre a ração no cocho. Ao moverem-se para baixo da ração, mobilizavam todos os péletes e isso despertava o interesse das rãs. O advento das larvas permitiu a introdução da ração na alimentação de imagos e rãs e, em seguida, outros modelos foram criados, sendo o mais comum chamado de “co© Andre Muniz Afonso cho vibratório”, caracterizado por uma estrutura (ar- Figura 2. Baia inundada com reprodutores de rã. mação) de madeira ou metal, revestido por uma tela, onde se depositava a ração e com o auxílio de um pequeno motor, que vibrava, permitia um certo grau de movimentação a mesma. Modelos de criação vertical também foram desenvolvidos com o intuito de economizar espaço e permitir a criação de rãs em áreas, inclusive, urbanas. Poucos criadores adotam estes modelos atualmente, em virtude do custo de aquisição e manutenção serem altos, e o manejo mais trabalhoso. Recentemente estudos voltados à alimentação automática vêm apresentando bons resultados e tudo leva a crer que será o futuro do Setor de Engorda de rãs. Setor este que apresenta menor taxa de mortalidade, mas por englobar o período de maior crescimento do animal, é o mais importante dentro do planejamento econômico do ranário. SAUDAÇÕES RANÍCOLAS!
Figura 1. Baia semisseca com rãs em processo de engorda. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Aquicultura Latino-americana Relação Universidade X Empresa
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onsultei uma série de colegas latinos para obter um apanhado de opiniões no que se refere a relação universidade & empresa, mas poucos responderam. Todos conhecem a C. Boyd, S. Moss, C. Browdy, T. Samocha, P. A. Sandifer, J. Scarpa, D. Lightner, T. Fregel, R Doyle, J. Lester etc etc etc. Mas o que estes nomes têm em comum? São pesquisadores, principalmente norte-americanos, que têm uma estrita relação com empresas privadas latino-americanas, no México, Equador, América Central e no Brasil. Desenvolvedores e vendedores de tecnologias! A pergunta é: Qual a relação universidade & empresa no nosso continente? Como está organizada? Tenho certeza que 90% das assessorias realizadas por pesquisadores brasileiros são informais, ou seja, sem o pagamento de impostos. Por quê? O volume de documentos a apresentar é grande e o processo é burocrático. A papelada tem que tramitar no mínimo por três diferentes Pró-Reitorias, apresentando-se negativas disso e daquilo. Temos que pensar em duas situações: 1) Na assinatura de um convênio de pesquisa envolvendo contratos grandes (acima de 100.000 dólares/ano), com a participação de alunos, doação de equipamentos à Universidade etc.; ou
2) Pequenas assessorias pontuais.
Para grandes contratos existe o caminho relativamente claro e que valeria a pena o trâmite burocrático, entretanto, para os pequenos relacionamentos não existem “simplificações” administrativas. E mais, para ambos os casos a taxa a recolher é de, no mínimo, 20 % do valor recebido, 10 % para a Universidade e outros 10 % para a fundação de apoio. No caso daquelas instituições que têm uma forte parceria com as fundações de apoio o procedimento até pode ser mais simples, já que o recurso não precisa passar pelos cofres da universidade, porém, com a roubalheira dos últimos anos, assim como algumas fundações no foco das operações contra corrupção, a situação complicou por conta de uma meia dúzia de funcionários corruptos. Quando cheguei ao Brasil fui funcionário de Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU), vinculada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Meu mestre e coordenador do projeto geria um laboratório de produção de pós-larvas de camarão como se fosse uma empresa privada. O impacto que tinha o projeto na sociedade como ferramenta de desenvolvimento tecnológico e inclusão social
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D r. R o d o l f o L u í s P e t e r s e n U n i v e r s i d a d e Fe d e r a l d o P a r a n á (UFPR), Pontal, PR. rodolfopetersen@hotmail.com
foi violento. Quando viajávamos a diferentes países da América Latina os pesquisadores ficavam boquiabertos da eficiência do nosso sistema em trabalhar junto ao setor produtivo. Pena que essa fase acabou... Segundo a pesquisadora argentina Anália Fernandez Gimenez, da Universidade Nacional de Mar del Plata (Argentina) e pesquisadora do CONICET (Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas): “Como acadêmica e pesquisadora graduada numa Universidade Estatal, considero que é uma responsabilidade moral transferir os conhecimentos, em prol de gerar-se benefícios aos diversos setores da sociedade. Neste sentido, nos últimos anos desenvolveram-se políticas de Estado com intuito de facilitar este processo, através da vinculação de pesquisadores a empresas privadas. Porém, esta última etapa que estamos vivendo atualmente tem se intensificado e, na minha visão, de forma exagerada. É importante considerar que não é possível conseguir avanços científicos se as pesquisas são financiadas exclusivamente pelo setor privado, uma vez que os interesses deste setor, por inúmeras vezes, não se refletem em benefícios para os setores sociais. É importante fazer ciência em colaboração com empresas, mas também é indispensável o respaldo do Estado para obter-se um avanço responsável nas pesquisas”. A pesquisadora ressalta que para pequenas assessorias a porcentagem arrecadada para a universidade é 17 % do valor da assessoria ou projeto (somando Universidade e o CONICET), sem burocracia, através do rápido preenchimento de um pequeno formulário. Para o pesquisador peruano e professor da Universidade Nacional de San Marcos (Lima, Peru) Guillermo Alvarez: “A relação universidade & empresa é uma necessidade para a solução de problemas de produção específicos, mas requer que o Estado estimule esta união ou ação conjunta. Também acredito que deva existir uma parcela do Estado no financiamento, já que uma solução que leve a incrementos na produtividade aquícola, aumentará também o Produto Interno Bruto (PIB) do País”.
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Piscicultura Marinha O que sabemos sobre a produção do linguado Paralichthys orbignyanus?
Dr. Ricardo Vieira Rodrigues Estação Marinha de Aquicultura (EMA) Universidade Federal do Rio Grande (FURG) vr.ricardo@gmail.com espécies de linguado são produzidas comercialmente a nível mundial. Na Ásia temos o linguado jaD iversas ponês Paralichthys olivaceus, na Europa os linguados
Scophtalmus maximus e Solea senegalensis, na América do Norte os linguados Paralichthys lethostigma e Paralichthys dentatus. Destas 5 espécies citadas, 3 são do gênero Paralichthys, o mesmo da espécie estudada para produção aqui no Brasil, Uruguai e Argentina, o Palichthys orbignyanus. P. orbignyanus distribuí-se do Rio de Janeiro até a Argentina. Essa espécie vem sendo estudada na FURG, na Universidad de la República em Montividéu (Uruguai) e no Instituto Nacional de Investigación y Desarrollo Pesquero da Argentina (INIDEP). É uma espécie eurialina com grande capacidade osmorregulatória, podendo ser produzida inclusive em água doce. É euritérmica, podendo ser produzida em temperaturas de até 26ºC (isso limita sua produção em regiões tipicamente tropicais), porém tolera temperaturas abaixo de 10ºC. É tolerante ao ambiente ácido e elevadas concentrações de compostos nitrogenados. Outro aspecto importante é que esta espécie pode ser produzida em elevadas densidades de estocagem, na verdade deve ser produzida assim, pois isso reduz o estresse destes peixes. Atualmente, os estudos referentes a sua reprodução estão bem avançados, e a reprodução em cativeiro já é dominada. Sua desova pode ser realizada de forma induzida ou natural, pela estimulação fototermal. As taxas de fertilização e eclosão em ambos os processos geralmente superam os 85%. Quanto a larvicultura, já se tem certa estabilidade na sobrevivência, com resultados que variam de 20 até próximo aos 40%. É uma espécie com metamorfose bastante acentuada, quando a larva passa a ser demersal. A larvicultura dura em média 50 dias, quando as larvas já estão completamente adaptadas ao alimento inerte. Nota-se que a reprodução e a larvicultura são bem estudadas, dessa forma, o que falta conhecer sobre a espécie? Um aspecto bastante importante: a fase de engorda. Os poucos estudos conduzidos sobre a engorda na FURG e no © Marcelo Okamoto
Figura 1. Juvenil de Paralichthys orbignyanus.
© Marcelo Okamoto
Figura 2. Juvenis de Linguado em elevada densidade de estocagem.
INIDEP apontam para um crescimento de 500g em um ano. Se considerarmos 500g em um ano, parece um crescimento muito pequeno, contudo, quando comparamos ao linguado S. senegalensis, que cresce aproximadamente 450g em 18 meses e é produzido comercialmente, vemos que é uma espécie com potencial. Mas pouco se conhece sobre o manejo adequado da engorda e praticamente nada sobre os aspectos nutricionais do P. orbignyanus. Dessa forma, a engorda tem potencial de ser bastante maximizada. Um aspecto importante é que estudos preliminares indicam que os tanques de engorda devem ser mantidos com pelo menos 100% do fundo ocupado (como espécie demersal, o que importa é a área do fundo ocupada). Porém já mantivemos em laboratório 200% do fundo do tanque ocupado (literalmente um peixe em cima do outro), isso estimula a alimentação e consequentemente o crescimento dos peixes. Por fim, ainda existem muitos aspectos a serem determinados para a concretização das informações referentes ao P. orbignyanus. Questões relacionadas a má formação no final da larvicultura (migração errática do olho, má formação do opérculo, má pigmentação do comporto). São necessários estudos referentes a nutrição, manejo... Porém é uma das espécies marinhas brasileiras com o maior número de informações relacionados a sua produção, é extremamente resistente a vários parâmetros de qualidade de água e manejo e ótima para produção em elevadas densidades de estocagem.
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Recirculating Aquaculture Systems
OZÔNIO EM SISTEMAS DE AQUICULTURA Dr. Marcelo Shei Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos shei@altamar.com.br www.altamar.com.br
As instalações que envolvem produção de formas jovens (reprodução, incubação de ovos e larvicultura), produção de fito e zooplâncton ou que permitem altas densidades de estocagem, como os sistemas de recirculação, são as que exigem um maior controle quanto a qualidade de água e a presença de organismos patogênicos. Para esses casos, métodos de desinfecção são altamente recomendados a fim de manter níveis controlados desses organismos indesejados. © Altamar
Para redes de abastecimento, um dos métodos mais populares e tradicionais, é a utilização de cloro. O cloro é um oxidante de fácil acesso, utilizado amplamente à décadas. No caso da água de abastecimento, seu uso exige a instalação de um ou mais reservatórios para que a água a ser tratada seja “clorada” por um período (normalmente horas) à uma concentração determinada e posteriormente “desclorada” para que possa ser utilizada. Os métodos mais atuais utilizam a radiação por Ultra-Violeta (abordada na última edição) ou gás ozônio (O3), que permite fazer esse processo de forma rápida, contínua e nos próprios sistemas onde são mantidos os animais.
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O ozônio é um oxidante bastante poderoso, muito mais forte do que o cloro. Gerado no local a partir do oxigênio atmosférico, o O3 tem uma vida média bastante curta, com duração de apenas alguns minutos, retornando rapidamente para O2. Normalmente, a produção ocorre através de um processo chamado descarga corona, onde ar ou oxigênio puro passa através um campo elétrico de alta voltagem. Menos difundido, o O3 também pode ser produzido por um tipo específico de luz UV-C. Assim como a desinfecção por UV-C, o dimensionamento deve ser feito através do cálculo de dosagem. A maioria dos patógenos são removidos com doses de 0,1 - 1,0 mg/L com tempo de contato de 0,5 a 10 minutos, variando de acordo com a espécie. A medição da concentração do O3 pode ser feita através de análise química da água, no entanto, o mais comum é a medição indireta, através do potencial de óxido-redução (ORP), utilizando uma sonda para a leitura do nível de oxidação na água. Nesse caso, a dose de desinfecção pode ser definida através de uma relação entre o nível de ORP e o tempo de contato. A aplicação pode ser feita através de um venturi, no entanto a eficiência é maior quando realizada no Protein Skimmer ou um tanque de dissolução dedicado. Quando dissolvido na água da-se início a duas reações, a oxidação direta de substâncias orgânicas pelo O3 e a formação de radicais livres de hidroxila (OH-). O ozônio age através da danificação das membranas celulares e do ácido nucleico, quebrando cadeias moleculares longas em formas simples, e consequentemente inativando os microorganismos. A Altamar possui capacidade de dimensionar e fornecer geradores e métodos de dissolução de Ozônio que podem ser aplicados em sistemas de recirculação e estações de tratamento de diversas capacidades. Conheça.
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SANIDADE Doenças virais na tilapicultura brasileira: O que teremos pela frente?
Doenças virais são despertado preocupação pelo setor produtivo, mas sim responsáveis por o TiLV, sigla do ortomixovírus denominado Tilapia Lake grandes prejuízos Virus, também conhecido como vírus da hepatite sincina aquicultura ao cial da tilápia, que já circula em países da América Latiredor do mundo, na, África e Ásia. Até o momento, não temos registros sendo também mo- oficiais de TiLV em território brasileiro, porém isso não tivo de preocupação significa que de fato estamos livres desta enfermidade. em todas as atividades de criação animal, bem como Há pelo menos três anos que casos de mortalipara a população humana. Nos últimos anos, têm sido dades crônicas, muitas vezes associadas com infestações descritos agentes virais na tilapicultura asiática, afri- mista por ectoparasitos, bem como infecções múltiplas cana e latino-americana, sendo alguns deles associados bacterianas, ainda com lesões histopatológicas suspeitas a grandes impactos para o setor. No Brasil em específi- de infecções virais, tem sido registradas em diferentes co, temos poucos registros de doenças virais. Contudo, polos de tilapicultura no Brasil. Entre estes casos, alguns este assunto foi e tem sido negligenciado por boa par- não apresentaram resposta ao tratamento a diferentes te do setor produtivo, moléculas de antibióticos, ou a © Santiago de Pádua condição de morbidade reincidia uma vez que ainda não conhecemos as em poucos dias após o término dimensões do impacda intervenção terapêutica, uma to que determinada vez que a causa primária da enferdoença poderia causar midade não tenha sido eliminada a curto, médio e lonpor estas ações. Vale salientar que go prazo para todo o o uso de antibióticos é recomensetor. dado somente para controle de At u a l m e nt e infecções bacterianas, não tendo a tilápia do Nilo é a efeito contra parasitos, tampouco principal espécie utisobre vírus. Logo, percebemos que lizada para criação estamos lidando com outro desafio comercial no Brasanitário que ainda não foi comsil, sendo objeto de pletamente diagnosticado, sendo inúmeros projetos de negligenciado até então. expansão aquícola em Doenças virais já fazem parte diversos estados. De Figura 1. Histopatologia de tilápia do Nilo criada em tanques-rede no Brasil. da realidade da tilapicultura brafato, as doenças bacte- Observa-se um quadro de hepatite dissociativa, com presença de infiltrado sileira, no entanto, ainda não sabeperivascular, degeneração hidrópica dos hepatócitos (asterisco), mos se elas se consolidarão como rianas, principalmente inflamatório hepatócitos necróticos (setas pontilhadas) e hepatócitos com dois ou vários àquelas causadas por núcleos (setas contínuas). um entrave real ao crescimento do Streptococcus spp., setor. De fato, os países que possão responsáveis pelas suem registro oficial de TiLV não principais perdas até então registradas. Contudo, desde encerraram a atividade de tilapicultura, pelo contrário, o ano de 2014 têm sido relatadas doenças virais na ti- buscam soluções para minimizar o impacto pela doença lapicultura brasileira, com diagnóstico de Ranavirus e e conter sua dispersão. Para tanto, o diagnóstico e o esBetanodavirus associados a episódios de mortalidades tudo sobre os agentes virais e sua patogenia é a base para pontuais no nordeste do país. Observou-se nos anos elaboração destas medidas. Caso perdure a negligência seguintes que Ranavirus apresenta maior distribuição destes problemas, inevitavelmente ficaremos na “lanterterritorial, sendo ainda pouco elucidado seu potencial na” na busca destas soluções. Desta forma, os prejuízos patogênico. ao setor produtivo certamente poderão ser ainda mais No entanto, nenhum destes agentes virais tem severos.
Dr. Santiago Benites de Pádua AQUIVET Saúde Aquática, São José do Rio Preto, SP.
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TECNOLOGIA DO PESCADO
PEIXE VOADOR (HIRUNDICHTHYS AFFINIS): ESPÉCIE DESVALORIZADA COM GRANDE POTENCIAL Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com
O
s peixes-voadores, pertencentes à família Exocoetidae, estão amplamente distribuídos em águas tropicais e subtropicais, são epipelágicos e habitam as águas superficiais de oceanos abertos. As nadadeiras peitorais expandidas lhes permitem emergir rapidamente da água e planar por longas distâncias, estando este comportamento relacionado com sua fuga quando atacado por predadores. No Oceano Atlântico são encontrados oito gêneros da família, sendo seis deles encontrados no Brasil. Entre as espécies que ocorrem no Brasil, Cypselurus cyanopterus e Hirundichthys affinis merecem destaque por serem as mais abundantes. O peixe-voador, Hirundichthys affinis apresenta corpo alongado com a nadadeira peitoral bastante longa (60% a 70% do comprimento padrão), com apenas o primeiro raio não ramificado. As nadadeiras pélvicas são longas e alcançam além da origem da nadadeira anal. A coloração apresenta-se escura dorsalmente e clara ventralmente. A nadadeira caudal é uniformemente cinza com traços pretos e as nadadeiras peitorais são de cor cinza escuro com um triângulo basal claro e uma margem estreita branca. O peixe-voador é explorado comercialmente apenas no estado do Rio Grande do Norte, sendo sua pesca a principal atividade econômica de alguns núcleos de pesca artesanal, como em Diogo Lopes, mas principalmente no município de Caiçara do Norte onde é realizada durante o ano todo, com maiores capturas entre os meses de abril e agosto, correspondendo ao pico da desova da espécie. Os pescadores da Colônia de Pescadores Z-1 em Caiçara do Norte (RN) reclamam do preço do peixevoador que é muito baixo, e os mesmos já não pensam mais em pesca-lo, uma vez que falta comprador (embarcações podem chegar do mar com a produção de 10 a 14 mil peixes). Por isto, no período da safra o preço cai bas-
tante chegando a R$ 50,00/milheiro, e na entressafra conseguem comercializar por até R$ 130,00/milheiro. No entanto, não é por falta de oportunidades em se aproveitar o peixe voador, no desenvolvimento de novos produtos, além daqueles tradicionais (salgado) que já fazem. Na década de 70 (agosto/1971), o Prof. Dr. Masayoshi Ogawa, da Universidade Federal do Ceará (UFC, Fortaleza, CE) desenvolveu um excelente trabalho visando o aproveitamento integral do peixe-voador, em face da potencialidade para incremento das capturas na região de Caiçara do Norte (RN) e do processamento “primitivo” ao qual eram submetidos os peixes voadores. O trabalho foi desenvolvido mediante processos industriais tradicionais e houve, na época, uma preocupação em adaptar a tecnologia já existente na região. Os processos envolvidos foram salga seca, salga úmida, defumação, sucedâneo de caviar e ova seca. Em 2017, após 46 anos, ainda não existe diversidade de produtos com o peixe-voador. Tradicionalmente este é comercializado, por unidade (inteiro) ou processado (eviscerado e descamado). Alguns consumidores pedem para filetar e outros ainda compram somente as suas ovas. Dentre as formas de produtos desenvolvidas pela comunidade, destaca-se o peixe salgado-seco (ao sol), sem nenhum conhecimento de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Higiene (BPH), o que causa grande preocupação. Iniciativas já foram realizadas nos últimos dois anos, via SEBRAE/RN e Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN) sob a coordenação do Prof. Dr. Rodrigo Antonio Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, na qual confirmaram que essa espécie tem um grande potencial no desenvolvimento de novos produtos. No Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC/UFERSA) já iniciamos
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas
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um estudo preliminar para a análise de rendimento em cortes e verificou-se que essa espécie possui características intrínsecas positivas para seu aproveitamento em diversos produtos (inteiro eviscerado temperado, inteiro eviscerado/ descabeçado temperado, filés com pele, filés sem pele, espalmado, postas, salgado seco, salgado úmido, marinado, defumado, fermentado (aliche), empanados, em conservas (enlatado), o aproveitamento integral para produção de carne mecanicamente separada (CMS – já desenvolvida pelo Dr. Rodrigo Carvalho da EAJ/UFRN) para produção de produtos reestruturados (bolinhos, hambúrguer, nuggets, linguiça, salsicha, patê, etc.) e o resíduo do seu processamento em subprodutos, como a farinha, silagem, aproveitamento das ovas, e quiçá o curtimento da pele. Finalizando e vislumbrado com o grande potencial que essa espécie desempenha no desenvolvimento de novos produtos, o aproveitamento integral dessa espécie, que hoje está sendo desvalorizada, certamente vai oferecer a opção de atender a demanda dos consumidores e pescadores artesanais por produtos de alta qualidade, bem como atender a demanda nacional e local no que se refere a formação de mão de obra especializada (pescadores e processadores artesanais), e a oportunidade para alunos de graduação e pós-graduação ingressarem na área pouco investida, como a de Tecnologia do Pescado.
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© sandiegoreader.com
© myrokan.com
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DEFENDEU!
Novidades em teses e dissertações
Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de pós-graduação contribui com novas informações para nossa aquicultura.
Acadêmico: Marco Antonio de Lorenzo Orientador: Prof. Walter Quadros Seiffert, Dr. Coorientador: Prof. Felipe do Nascimento Vieira, Dr. Programa: Programa de Pós-graduação em Aquicultura, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, SC.
Título da tese:
“Tecnologia de bioflocos na larvicultura do camarão Litopenaeus vannamei”.
A larvicultura tradicional do camarão marinho L. vannamei requer um grande aporte de recursos naturais, energéticos, equipamentos e instalações além de mão de obra capacitada para que índices de sobrevivência considerados bons (acima de 60%) sejam alcançados. O presente trabalho buscou desenvolver estratégias de manejo onde a ausência da renovação de água reduza custos e/ou mitigue efeitos negativos relativos a captação, desinfecção, neutralização, aquecimento e bombeamento de água para as larviculturas, consequentemente reduzindo o impacto ambiental e aumentando a biossegurança do cultivo.
Objetivo:
Figura 1. Sala experimental.
• Avaliar a viabilidade do uso da fertilização orgânica de melaço e dextrose para formação de bioflocos microbianos na larvicultura do camarão marinho Litopenaeus vannamei a partir do estágio de mísis; • Avaliar o controle da amônia durante a larvicultura do camarão marinho L. vannamei, a partir do estágio de mísis, com uso de níveis de fertilização pré-estabelecidos (relações C:N de 10:1, 12,5:1 e 15:1) de carbono orgânico; • Avaliar diferentes densidades de povoamento (200, 250, 300 e 350 M1/L) sobre o desempenho de larvas de L. vannamei cultivados em sistemas superintensivos com bioflocos de acordo com os dados obtidos nas etapas anteriores.
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Principais resultados:
• Resultados semelhantes em termos de qualidade da água e de desempenho foram obtidos a partir do sistema convencional de produção e com a adição de fontes de carbono orgânico, e o sistema sem renovação consumiu apenas 12% do total de água utilizada no sistema convencional; • Os valores médios dos parâmetros zootécnicos e de qualidade de água avaliados foram apropriados para esta fase de produção com todas as relações avaliadas. No entanto, as relações 12,5:1 e 15:1 mantiveram níveis mais baixos de amônia; • Os valores médios dos parâmetros de qualidade de água foram adequados para esta fase de produção em todos os tratamentos. Os dois tratamentos com maior densidade obtiveram maiores produtividades, com consumo limitado a 8% da água utilizada pelo sistema convencional.
Perspectivas de trabalhos futuros:
A partir dos resultados do presente trabalho concluímos que o sistema de cultivo com bioflocos microbianos e o aprimoramento de sua técnica e utilização para sistemas de produção de larvas de L. vannamei apresenta potencial para contribuir com um conjunto de respostas necessárias ao desafio do aumento da demanda por alimentos sob a perspectiva da aquicultura visando altos níveis de produtividade, baixo consumo de recursos naturais (água e energia, principalmente), diminuição do impacto ambiental e aumento da biossegurança no processo de produção. Ainda sob o ponto de vista deste trabalho destacamos a possibilidade de aumentar ainda mais a densidade de estocagem com base nos resultados de qualidade de água e desempenho zootécnico, uma análise de custos em comparação ao sistema de larvicultura convencional para uma maior precisão em termos do potencial econômico real, além da utilização de ferramentas para análise de impacto ambiental como perspectivas futuras.
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JOaO FELIPE MOUTINHO SANT’ANNA
T E C N O M E R C - Te c n o l o g i a A n i m a l / B I O F I S H E ’ S Biotecnologia para Vida
Assim como a piscicultura do Estado do Paraná vem se destacando nos últimos anos, o mesmo podemos dizer do nosso entrevistado da 8ª edição. Durante uma tarde de outubro batemos um papo super agradável com o biólogo João Felipe Moutinho Sant´Anna, paranaense de Curitiba e apaixonado pela aquicultura.
AQUACULTURE BRASIL: João, nossa pergunta de praxe, conte-nos um pouco da sua carreira de graduação e como a aquicultura foi fazendo parte da sua vida. João Moutinho: Tenho muita honra e satisfação em dizer que a Aquicultura é minha grande paixão de vida pessoal e profissional. Essa atividade entrou muito cedo na minha vida, uma vez que a relação com a pesca e aquicultura começou logo a partir dos meus 5 ou 6 anos de vida, me envolvendo com as pescarias como hobby e depois passando a questionar as relações ecológicas, as diferentes iscas para diferentes tipos de peixes, enfim. Dos 12 aos 15 anos me dediquei muito a pesca esportiva, não somente pescando, mas estudando e trazendo muita informação de fora do país, principalmente dos Estados Unidos. Essa relação com a pesca, além dos investimentos que estavam ocorrendo na época, a exemplo da instalação da empresa Mar e Terra, no Norte do país, me levaram a pensar em cursar Aquicultura. Juntamente com meu pai, já achávamos que esta era uma zona promissora de trabalho e justamente em uma área que eu me identificava. O fato se encaixou naquele ditado “Faça do teu trabalho um lazer, para que você possa fazê-lo bem todos os dias”. Prestei vestibular para Biologia e Oceanografia, passando nas duas, mas decidi cursar Biologia por ser na cidade em que morava, Ponta Grossa/PR. Fiz parte da primeira turma de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (2002/2005). Na época não havia nenhum professor ligado diretamente com a Aquicultura, somente o Prof.
Dr. Roberto Ferreira Artoni que se dediTenho muita cava a citogenética de peixes. Na graduação honra e fiz estágio em outras áreas, mas nenhuma satisfação em dizer me despertava mui- que a Aquicultura é to interesse. Por fim, minha grande decidi trabalhar nesse paixão de vida laboratório, embora minha vontade fosse pessoal e de trabalhar na ecolo- profissional. gia da produção, compreender sistemas, entre outros. Tive a felicidade de trabalhar com isso no meu TCC, onde desenvolvi o trabalho intitulado “Levantamento rápido de peixes em uma lagoa Marginal do rio Imbituva na bacia do alto rio Tibagi, Paraná, Brasil”. Nesse trabalho coletamos em torno de oito espécies e uma delas inédita ainda na bacia do rio Tibagi, a Mimagoniates microlepis, vulgarmente conhecido como lambari tetra azul. Saindo da graduação decidi que queria focar em aquicultura. AQUACULTURE BRASIL: Então optou pelo mestrado? João Moutinho: Sim, escolhi o CAUNESP e fui conhecer o centro em busca de um laboratório que pudesse me oferecer uma oportunidade de estágio. Ali conheci uma pessoa bastante especial, o Prof. João Batista, do Laboratório de Peixes Ornamentais e Pesquisa com Nu-
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trição em Tilápias. Apresentei a ele meus objetivos, com o que gostaria de trabalhar e prontamente o Prof. João me ofereceu a oportunidade de realizar um estágio, não remunerado, mas onde eu poderia ter a experiência de montar um Laboratório de Peixes Ornamentais que começava a ser estruturado. Aceitei a proposta e fiquei no ano de 2006 morando em Jaboticabal por cerca de oito ou nove meses. Como não tinha bolsa, realizava alguns trabalhos paralelos, como garçom em pizzaria, afim de me manter na cidade e trabalhando com o que gostava, que é aquicultu-
ra. A ideia era fazer mestrado nesta instituição, contudo, em virtude de alguns fatores, a data de ingresso foi adiada em dois meses. Já estava desanimado com o fato de não saber se iria conseguir permanecer lá ou não e nesse período surgiu uma vaga para trabalhar em um projeto de Produção e Reprodução de Peixes Marinhos e Ostras no Litoral do Paraná, no CPPOM, e fui convidado a participar, pelo Prof. João Batista, que ficou sabendo da vaga. De imediato aceitei a proposta, indo morar em Guaratuba/PR. Fiquei responsável pelo setor de produção
AQUACULTURE BRASIL: E quando ingressou no mercado profissional? João Moutinho: Nesse período os segmentos da produção. Até 2010 (2007/2008), empresas de grande fiquei focado em aquicultura e após, porte começaram a ter interesse no fui destinado, por uma estratégia da setor aquícola, a exemplo da Bayer, empresa, para a área de suínos e aves, primeira empresa multinacional na onde permaneci por mais um ano. qual trabalhei. Fiquei responsável Foi um grande aprendizado, uma vez pela região sul do país, com objeti- que tive o contato com outras emvo de abrir mercado e comercializar presas de grande porte (BRF, JBS), o primeiro ectoparasiticida regis- reuniões com fundo corporativo e trado no Brasil, o Masoten. A em- técnicos com larga experiência. Em presa tinha somente um produto 2012 tive uma passagem rápida pelo específico para a aquicultura e uma grupo InVivo, na área de Aquicultulinha de biossegurança focada no ra, estando como supervisor técnico controle de pragas e higienização. do setor Aqua da região norte do Desde 2008 já se falava em higieni- país. Porém, quando na Bayer, tive zação de equipamentos e estruturas uma relação grande com os profisde laboratório, como incubadoras, sionais Rodrigo Zanolo e Leonardo além de tanques-rede, etc. Na época Cericato, que trabalhavam com um era muito difícil falar isso ao pro- projeto de vacinas para peixes. E dutor e mostrar a necessidade da essa relação estava desenhada para biossegurança, mas o tempo veio que quando eles necessitassem de mostrando que realmente esse fator um profissional nesta área, nós contem grande importância em todos versássemos. E justamente neste
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de fitoplâncton, e na época o projeto era novo, existia a estrutura, mas não tínhamos ainda protocolos definidos. Estudamos muito, nos conectamos com pesquisadores fora do Brasil para poder produzir. Nosso objetivo era produzir juvenis de robalo para fazer repovoamento da baía de Guaratuba e sementes de ostras para os pescadores artesanais cultivarem. Assim, minha responsabilidade era grande, porque estava na base dessa cadeia produtiva. Fiquei no projeto por quase um ano, quando senti a necessidade de avançar, buscando me aperfeiçoar com a realização de um mestrado. Conversei com o coordenador do projeto, que também achou interessante e então fui fazer mestrado em Biologia Evolutiva, na UEPG, trabalhando com meu antigo orientador da graduação, o Prof. Roberto Artoni. Desenvolvemos um projeto com uma espécie endêmica do Rio Iguaçu, o Steindachneridion melanodermatum conhecido como monjolo ou surubim do rio Iguaçu. Fizemos um trabalho de ontogenia, desenvolvimento embrionário e análise qualitativa e quantitativa do sêmen do animal, que foi muito importante para estudos sobre a reprodução da espécie, que tinha por fim o repovoamento dos rios.
período surgiu essa oportunidade, e a vacinação era algo que considerava fantástico, inovador, enfim, algo com o qual eu queria muito trabalhar. Assim, acabei aceitando a proposta e indo trabalhar na MSD Saúde Animal, local no qual aprendi muito e tenho imenso orgulho em ter passado por essa empresa.
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AQUACULTURE BRASIL: Dentro da MSD, quais atividades você desenvolvia? João Moutinho: Fiquei responsável pelas áreas com produção de tilápia na região Sul e Sudeste, indo morar em Santa Fé do Sul/SP e permanecendo por dois anos neste segmento de sanidade. Trabalhávamos no entendimento da importância do controle bacteriano, a ferramenta da vacina em si e como ela interagia com o animal, e também quais eram as responsabilidades do
produtor para que esse manejo também tivesse resultado. Foi um trabalho envolvendo todos os pilares da aquicultura e conscientização dos produtores do por que vacinar, quando deveria ser vacinado, enfim. Além da oportunidade em conhecer pesquisadores de fora do Brasil, que me trouxe uma bagagem muito grande.
A aquicultura vai crescer se não dois dígitos, perto disso, nos próximos 30 anos.
AQUACULTURE BRASIL: Você saiu da MSD, que sem dúvida é uma grande empresa, para seguir o próprio negócio com a BIOFISHE’S. Como foi esse processo e qual sua situação profissional atualmente? João Moutinho: Na metade de 2015 para ingressar nesse projeto, que é da por dois sócios fundadores e que tive a oportunidade de conhecer um a criação da empresa BIOFISHE’S - atua na prestação de serviços e dismundo diferente, que é a parte de Biotecnologia para Vida. Permaneci tribuição de produtos, inclusive já biotecnologia, através de uma em- como consultor e representante de atuavam na distribuição de produtos presa que trabalhava com organomi- vendas até final de 2016, e no início da Phibro na linha de suínos e aves, nerais. Contudo, o produto era de 2016 passei por um segundo de- e logo demonstraram interesse tamtotalmente voltado para a agricul- safio, com a BIOFISHE’S, que foi o bém pelos produtos da aquicultura. tura, e eu via ali um potencial para de ser consultor da Phibro no Bra- Nesse sentido, fomos convidados a aquicultura. Dessa forma, acabei in- sil. A Phibro é uma multinacional participar de uma nova unidade de gressando junto, em uma parceria, americana do setor de aves, suínos e negócios da empresa, onde hoje faço pensando no conceito de ecologia agora aquicultura. Há dois anos atrás a parte da gestão, em conjunto com produtiva. O objetivo é usar o adu- adquiriu uma empresa de Israel, o diretor comercial, elaborando um bo organomineral, junto de bactérias prestadora de serviços no setor de plano de negócios a nível de Brasil, com princípios probióticos, adicio- aquicultura, chamada AquaVet. No mas focado especialmente na região nadas no produto, e dentro de um Brasil a empresa ainda não conhe- do Mato Grosso, Tocantins, entre único produto ser possível atender o cia o mercado, portanto fizemos outros. Hoje então faço parte, com cliente. Dar o start ao viveiro com a um trabalho de apresentação e in- a BIOFISHE’S da equipe da Tecnoprodutividade primária, através dos trodução dos produtos da Phibro merc, em um trabalho de consultoria organominerais, e manter estável o tanto da parte sanitária quanto nu- e gestão técnica-comercial, com diambiente para diminuir o estresse tricional. Durante este trabalho, versas empresas, inclusive a Phibro, dos animais, mantendo o ambiente que se estendeu até julho deste ano, fazendo a distribuição dos produtos. de cultivo padronizado. Foi aí então conhecemos uma empresa no Mato que acabei me desligando da MSD Grosso, chamada Tecnomerc, geriAQUACULTURE BRASIL: Quais ferramentas existentes hoje no Brasil para ampliar a biosseguridade e a prevenção de enfermidades na aquicultura que você destacaria? João Moutinho: Para o segmento da fonte de proteína vegetal (não total, carcinicultura, com toda certeza, se- mas de forma parcial). É necessário riam os sistemas intensivos e contro- olhar um pouco mais para a relação lados (temperatura, análise de água, dos animais com o seu meio natural relação de micro e macronutrientes). e assim teremos condições de substiCom isso se cria um sistema padrão tuir os componentes que favoreçam e biosseguro, evitando oscilações. E essa questão. A parte ambiental tamnos peixes, a vacina, creio que é a fer- bém é um aspecto importante, como ramenta mais estratégica. Claro que dizem, precisamos cultivar água, ao aditivos e uma nutrição adequada invés de peixes e camarões. Buscar também são ferramentas essenciais. entender e deixar o ambiente o mais Inclusive acredito que teremos uma propício possível para estes organisrevolução muito grande na área de mos. nutrição de organismos aquáticos, como por exemplo, alteração por AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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E N T R E V I S TA AQUACULTURE BRASIL: A piscicultura brasileira vem batendo recordes anuais de produção. Por outro lado, dados do IBGE mostraram que a carcinicultura marinha fechou 2016 com a menor produção em mais de 10 anos. Quais motivos deste, digamos, paradigma? Há lições da piscicultura brasileira que a carcinicultura poderia se espelhar? João Moutinho: Não da mancha branca. Mas vejo com acredito que a piscicultu- bons olhos o que tem acontecido no ra tenha lições para dar Nordeste. Num espaço de dois anos a carcinicultura, porque se revolucionou a forma de pensar, são organismos diferentes, abriu-se para as novas tecnologias e com capacidades de defe- isso é muito importante. As grandes sas diferentes. Assim, es- civilizações só evoluíram depois de ses organismos estão na um momento de catástrofe natural mão de pessoas que fazem ou provocada por guerras, momento essa relação de ambiente x este que faz as pessoas pararem para animal, do quanto posso reavaliar a forma de fazer as coisas explorar disso, e as vezes e também de se unir. Dessa forma, por uma ambição natu- acredito que a mancha branca serviu ral, positiva muitas vezes, para isso. A piscicultura talvez não extrapolam densidades, tenha levado um “baque” tão forte e deixam a desejar no mane- por isso deu espaço para esse sucesjo e torna-se gradativo o so, quando comparada a carciniculprocesso de favorecimen- tura. Mas não há como comparar, to do desenvolvimento de na carcinicultura há uma situação enfermidades, chegando pontual e específica, que tem que ser ao ponto de desenvolver a trabalhada. patogenia. Como foi o caso AQUACULTURE BRASIL: Como estará a Aquicultura brasileira daqui 20 ou 30 anos? João Moutinho: Vejo cenários muito positivos, no mínimo para os próximos 30 anos. É uma atividade que vai crescer se não dois dígitos, próximo disso, nos próximos 30 anos. Temos bons exemplos, como a própria Noruega, com um setor muito organizado, com políticas claras, e
que só temos a nos espelhar. A partir de 2020 acredito que o Brasil vai estar exportando tilápia e muito bem. Todo o canal que grandes empresas já utilizam para exportação de outros produtos, será sem dúvida aproveitado também com os produtos da aquicultura.
A exemplo da C.Vale que inaugurou recentemente o novo frigorífico. Tem uma legião boa de pessoas envolvidas, pessoas que já lutavam a um bom tempo e agora tem orgulho de ver tanta coisa acontecendo. Muita coisa saiu do papel e só das palavras e está sendo praticada.
AQUACULTURE BRASIL: Gostaria de dizer algo para finalizar? João Moutinho: Gostaria de parabe- editor da revista, que é uma pessoa nizar a toda a equipe da Aquacul- extraordinária e com uma visão ture Brasil, em especial ao Giovanni, muito bacana. Me identifico muito
com ele, suas perspectivas, e desejo que continuemos por esses 30 anos que comentei, juntos.
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NOVOS LIVROS Climate Change Impacts on Fisheries and Aquaculture: A Global Analysis Editores: Bruce F. Phillips e Monica Perez-Ramirez Editora: Wiley-Blackwell Idioma: Inglês - 1048 páginas Lançamento: novembro de 2017
Este trabalho constitui-se na primeira revisão dos efeitos atuais e futuros das mudanças climáticas sobre as operações mundiais de pesca e aquicultura. O livro explora os impactos das alterações climáticas nos recursos haliêuticos globais e na aquicultura marinha. Além disso, oferece sugestões de especialistas sobre possíveis práticas e adaptações que reduzam estes impactos.
Handbook of Seafood Quality, Safety and Health Applications Editor: Bruno Augusto Amato Borges Editora: Delve Publishing Idioma: Inglês Lançamento:2017
O consumo de frutos do mar aumenta a cada ano em todo o mundo, haja visto que o pescado, do ponto de vista nutricional, é um dos mais completos alimentos para a saúde humana. Apesar da relevância em termos nutritivos, cuidados devem ser tomados no manuseio e processamento destes produtos, devido à sua alta perecibilidade, comparando-se a outras fontes de proteína animal. O objetivo principal deste livro é apresentar diversos conhecimentos sobre o manuseio do pescado, visando o bem-estar e a segurança do consumidor e a qualidade dos frutos do mar que chegam à mesa do consumidor.
Use of Probiotics in Aquaculture Editor: Preethi Kartan Editora:Delve Publishing Idioma: Inglês Lançamento: 2017
Os probióticos são considerados promotores positivos de crescimento, sobrevivência e saúde dos animais aquáticos. Na aquicultura, intestinos, brânquias e o muco dos animais (por exemplo), como também o próprio ambiente onde estão sendo cultivados, podem ser fontes interessantes e apropriadas para a extração e isolamento de futuras cepas de probióticos.
DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL! redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Eles fazem a diferença! “Eles fazem a diferença” desta edição é dedicada a uma personalidade que fez e faz a diferença, A seção em especial, na carcinicultura brasileira e mundial.
Nascido e criado em uma cidade do interior da Paraíba, egresso da primeira turma de Engenharia de Pesca do Brasil, Itamar de Paiva Rocha, ocupa hoje o seu 11° mandato como presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão – ABCC.
“Entrei no curso por acaso. Conclui o Curso Agrotécnico e na hora de entrar para a Faculdade, tomei conhecimento do 1º Curso de Engenharia de Pesca do Brasil. Contudo, nem gostava de peixes ou camarões, inclusive, fui tomar meu primeiro banho de mar aos 18 anos de idade. Mas enxergando um mar de oportunidades, resolvi fazer a inscrição em Engenharia de Pesca... Minha família nem acreditou !!!”. Com o tempo, Itamar logo descobriu que a carcinicultura era sua paixão. Seu Trabalho de Conclusão de Curso foi com cultivo de camarões marinhos com rações. Posteriormente ele seguiu fazendo pesquisas na universidade, especializando-se e visitando outros países, como Israel, Hawaii/ USA, Taiwan e China, grandes potências da aquicultura mundial.
A história com a ABCC
“Entrei na associação em 1984, logo quando a entidade foi criada e era somente para produtores. Como eu não era produtor, acabaram me colocando como Diretor Técnico e ali fiquei por muitos anos. Até que me coube o desafio de assumir a ABCC, como presidente. Ser presidente da ABCC é um cargo pesado, pois as demandas são múltiplas e sempre exigem urgentes posições, por isso, poucos estão dispostos a encarar”.
Os principais legados da ABCC
“Hoje a ABCC está muito bem organizada, conseguimos estabelecer um fundo de recursos, proveniente do Fundo de Ração. Dessa forma, todo produtor que adquire ração para seus cultivos, destina um percentual de 1% do valor bruto às associações, sendo que 50% vai para a associação estadual e os outros 50% para a associação nacional. Outra conquista foi tirar o Brasil do dumping dos EUA, porque contratamos um advogado próprio para a Associação. Além disso, sempre demos atenção especial à capacitação. Esse sem dúvida é um dos grandes legados que caracteriza minha administração. Sem falar, evidentemente, nos códigos de conduta para laboratórios, fazendas, fábricas de ração e indústrias de processamento. Também tentamos fazer as certificações do camarão brasileiro, contudo esbarramos na generalizada falta de licenciamento ambiental, exatamente, pela difi-
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culdade na obtenção das licenças no nosso país. Mas mesmo assim, o camarão do Brasil, devido a sua alta qualidade, ganhou respeito internacional. Isso tem muito a ver com as capacitações que sempre fazemos”.
Carcinicultura é como casamento, se você não cultivar ele logo se acaba.
Boas práticas de manejo e biossegurança são extremamente importantes, para evitar ou conviver com seus permanentes problemas, as doenças virais e bacterianas”.
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Como surgiu a FENACAM? “Em 2003, nós enquanto ABCC participamos da promoção e organização, junto com a WAS, da edição do Congresso Mundial de Aquicultura (WAS’03), no Brasil (Salvador/BA). Este foi o maior evento da aquicultura mundial já ocorrido! Com isso, nos despertou a atenção sobre a necessidade de continuar a mobilizar todo esse carente público, mas desta vez para fazer um evento específico da carcinicultura. Assim, em 2004, nasceu a primeira FENACAM. Sendo que desde 2007, passamos a incluir a Aquicultura e, hoje estamos na 14° edição, contando com 58 palestrantes, 250 trabalhos técnicos e 90 empresas expositoras”.
O otimismo no setor é marca registrada de Itamar Rocha, que grava com precisão todos os dados de produção da atividade
“O setor vai se recuperar. Produzimos 76 mil toneladas em 2015, em seguida veio a mancha branca no Ceará e Piauí, derrubando a produção para 60 mil toneladas. Este ano (2017), iremos alcançar, no mínimo, 70 mil toneladas. Este número já demonstra a recuperação! Com os investimentos que fazemos hoje em fazendas de ponta, com controle de temperatura, berçários cobertos e, alguns empreendimentos com viveiros de engorda cobertos com estufa, obtendo produtividades de 100 a 200 t/ha/ano de camarões (18g), certamente isso demonstra que o setor está encontrando o caminho da sua recuperação”.
Mas é cauteloso quando o assunto são sistemas intensivos “Sem dúvida o sistema intensivo veio para ficar. Entretanto, não pode ser generalizado a todos os produtores. Só deve entrar nesse sistema quem tiver um mínimo de conhecimento técnico e comercial. Assim como o biofloco, ele não serve para a maioria dos empreendimentos, pois exige um apurado conhecimento técnico para sua operacionalização. Ou seja, quem tiver conhecimento, compromisso e souber fazer, pode adentrar no intensivo. Mas não pode ser algo de aventura, na empolgação e sem conhecimento técnico, porque não vai dar certo. É muito risco e muito dinheiro aplicado. Por isso que não são todos... é possível contar nos dedos. Diria que é para 1% dos produtores”.
Você já está preparando um sucessor para a ABCC? “A ABCC tem muita demanda, mas até março de 2018 eu ainda estarei por aqui. Tenho pensando nos últimos anos em criar uma Diretoria Executiva para a FENACAM, para não ficar tudo para a ABCC, assim eu ficaria só com a feira. Mas por hora, não vou abandonar o barco. Enquanto tiver apoio setorial, continuarei lutando e brigando pelo setor”.
Uma mensagem para os estudantes de Engenharia de Pesca, seus futuros colegas de profissão “Eu sempre falo aos estudantes: que não tem profissão mais brilhante que essa. Não é simplesmente um futuro de emprego, mas é um futuro para você ser dono do próprio negócio! Claro que tem toda a questão de experiência, porque a experiência é vivenciada e não comprada, mas conheço resultados que com tanques de 244 m³ no intensivo, já é possível tirar por volta de R$ 3 mil por mês, líquido. Assim, depois de 43 anos de formado, posso assegurar que não iria nem “pestanejar” e escolheria Engenharia de Pesca novamente. É a carreira de um futuro promissor, desde que, evidentemente, haja um efetivo despertar para a solução das suas prioritárias demandas!”. AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017
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Litopenaeus vannamei
© Giovanni Lemos de Mello
É uma espécie endêmica da costa oriental do Oceano Pacífico, com distribuição desde o Peru (região de Tumbes) até o México (região de Sonora). O Litopenaeus vannamei apresenta grande destaque na carcinicultura nacional e internacional devido as suas características zootécnicas, como excelente crescimento e conversão alimentar, rusticidade, alta taxa de sobrevivência, além de um pacote tecnológico já desenvolvido, fatores importantes na consolidação de uma “espécie aquícola”. No Brasil foi introduzido em 1981, atingindo seu auge de produção no ano de 2003 (90.190 t), principalmente na região Nordeste (Estados do CE, RN entre outros). No Sul do Brasil também houve uma produção expressiva do L. vannamei até meados de 2004-2005, quando em razão do Vírus da Síndrome da Mancha Branca (WSSV), as fazendas foram atingidas e dizimadas, em especial as propriedades localizadas na região Sul de Santa Catarina.
DADOS DE PRODUÇÃO
Comparando-se a outras espécies aquícolas globais, a produção de L. vannamei é bastante recente, como pode ser observado na Figura 1. Nos últimos 10 anos (2006 a 2015), a média de crescimento anual foi de 9,03%. A espécie, com o passar do tempo, foi mostrando suas qualidades e literalmente “ganhando território” em várias partes do mundo, onde outras espécies cultivadas foram sendo gradativamente substituídas pelo vannamei. Um exemplo clássico foi a substituição do Penaeus monodon pelo L. vannamei na Ásia. Atualmente, cerca de 80% de todo o camarão marinho produzido no mundo é da espécie que foi escolhida para esta seção da 8ª edição da Revista Aquaculture Brasil.
Figura 1. Evolução da produção mundial de Litopenaeus vannamei (Fonte: FAO - Global Aquaculture Production 19502015).
REPRODUÇÃO E LARVICULTURA As técnicas para reprodução e produção de pós-larvas de L. vannamei estão bem consolidadas em todo o mundo, inclusive no Brasil, que dispõe de dezenas de laboratórios de produção de náuplios e pós-larvas.
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CUSTOS DE PRODUÇÃO
COMO CULTIVAR?
Apesar de as enfermidades virais terem acometido os cultivos em diversos países, o principal modelo de produção ainda é o sistema semi-intensivo, ou seja, em viveiros de terra. Entretanto, nos últimos anos, sistemas intensivos e biosseguros de produção de L. vannamei têm surgido em vários países, incluindo o Brasil. No País, ressalta-se os esforços de universidades como a FURG, que através do “Projeto Camarão” fomenta o desenvolvimento e repasse destas novas tecnologias para o setor produtivo.
Os custos de produção dependem fundamentalmente do sistema adotado (extensivo, semi-intensivo, intensivo/mixotrófico, bioflocos, etc), além do porte da fazenda, localização (distância dos insumos e mercado), etc. Considerando uma faixa média de custo de produção por quilo, apenas para contextualizar, este valor estaria entre R$ 12 a R$ 16,00, dependendo das questões elucidadas acima. Na edição 2016 da FENACAM, Werner Jost, proprietário da empresa Camanor Produtos Marinhos, relatou em sua palestra um custo de produção de R$ 12,50/kg para os camarões produzidos no sistema “Aqua Science” desenvolvido pela empresa do RN.
PREÇO DE COMERCIALIZAÇÃO Devido à falta de produto no mercado, o preço do camarão marinho no Brasil é o mais alto da história (Tabela 1).
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO Assim como as demais espécies de peneídeos, o L. vannamei é classificado como onívoro, alimentando-se de fito e zooplâncton nos estágios larvais e pós-larvais. A espécie aceita bem a ração artificial já a partir dos estágios iniciais. Sua exigência proteica na engorda varia em torno de 35 a 40%. Comparando-se com as rações para peixes de água doce (amplamente utilizadas no Brasil), a dieta para camarões requer formulações mais específicas, contendo alguns ingredientes de custo mais elevado, como a farinha o óleo de peixe, por exemplo.
ENTRAVES E DESAFIOS
Preço (R$/kg) Preço Preço(R$/kg) (R$/kg) 23 23 23 24 24 24 25 25 25 26 26 26 27 27 27 28 28 28 29 29 29 30 30 30 31 31 31 32 32 32 33 33 33 34 34 34 35 35 35 36 36 36 37 37 37 38 38 38
Tabela 1. Preço do quilo do camarão marinho (L. vannamei),
dependendo do peso médio, sugerido para comercialização na fazenda pelos carcinicultores da região Nordeste do Brasil, em 04 de setembro de 2017.
CARACTERÍSTICAS POSITIVAS
Ótimo preço de venda; Altíssima demanda e baixíssima oferta no País; Rações e pós-larvas disponíveis para comercialização em todo o Brasil; A espécie não é territorialista; Pode ser cultivado em água doce; Possibilidade de integrar com outras espécies em policultivos (por exemplo, com tilápias) ou consórcios (por exemplo, aquaponia em água doce/oligohalina AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017 com hortaliças).
Enfermidades virais; Ameaça da abertura do mercado para importação do produto; Conhecimento ainda não consolidado sobre os novos modelos de produção; Falta de mão de obra técnica qualificada no caso dos sistemas intensivos e biosseguros.
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Fonte: Giovanni Lemos de Mello
© Cacau Studio
Peso (g)Peso Peso(g) (g) 5 55 6 66 7 77 8 88 9 99 10 10 10 11 11 11 12 12 12 13 13 13 14 14 14 15 15 15 16 16 16 17 17 17 18 18 18 19 19 19 20 20 20
DESPESCOU! A seção “Despescou” desta edição foi parar nos viveiros de Alto Santa Fé, no oeste do Paraná. Os produtores são o casal Ivete S. Beck e Ricardo Beck, que trabalham com engorda de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) há 8 anos. Com muito bom humor e hospitalidade, o casal recebeu a equipe da Aquaculture Brasil em sua propriedade. Nosso muito obrigada! Confira a despesca!
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Área (m 2 Data ) d alev e pov oam inos ento Núm dos ero 10.0 d e 00 alev Den sida inos de i nicia 22/n Peso l (pe ov/1 inici 6 ixes al (g / 2 m 100. ) Biom ) 000 assa inici Data 1 al (k 0 de d g) espe Dias sca de c 2 Peso u fina ltivo l (g) 200 Biom assa 20/o fina Prod ut/1 l (kg utiv 7 idad ) 3 3 Sob 2 e (to reviv n /ha) ênci 1.00 Tota a (% 0 l de ) 8 r a 5 ç . Con 000 ão ( vers kg) 85 ão a lim enta 85 r 153. 000 1,8: AQUACULTURE BRASIL - SETEMBRO/OUTUBRO 2017 1
Dieta de saúde completa, funcional e equilibrada. Desenhada para fortalecer e proteger o camarão, antes e durante os desafios ambientais e bacterianos.
SUPORTE
EQUILÍBRIO
DEFESA