Aquaculture Brasil - 10ª Edição.

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AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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Editorial Umas das coisas que mais fazem “brilhar os olhos” da equipe Aquaculture Brasil, sem dúvidas, é a inovação na produção de conteúdo. Desde a primeira edição de nossa revista impressa, homenageamos importantes nomes da aquicultura brasileira através da Seção Eles Fazem a Diferença. O feedback dos leitores sobre estas páginas é sempre dos melhores e os elegidos, igualmente, também se lisonjeiam ao participar. Nesta 10ª edição, foi a vez do Prof. Bernardo Baldisserotto (Prof. Titular da UFSM). Para nós uma baita homenagem! Além de ser um fã incondicional de seu trabalho e de seus diversos livros publicados, particularmente fiquei imensamente honrado quando ele aceitou o convite para colaborar com minha tese de doutorado, através da análise da expressão de algumas enzimas osmorregulatórias no robalo-flecha. Aliás, muito interessante um trecho onde o Prof. Bernardo comenta sobre como surgiu a ideia de editar livros que se tornaram tão conhecidos e importantes para a nossa aquicultura. Com toda a humildade que lhe é peculiar, ele diz: “Quando me propus a escrever a primeira edição do livro Fisiologia de Peixes Aplicada à Piscicultura, pensei: tem gente mais capacitada que eu para escrever um livro desses, mas já que essas pessoas não fazem, farei eu!”. E é exatamente esse o espírito aqui de nossa redação! Existem pessoas que se surpreendem pela “juventude” da equipe Aquaculture Brasil. Não sei, mas quem sabe exista até quem questione se seriamos nós os mais capacitados para liderar um projeto desta magnitude. Temos plena convicção que sim, e a melhor resposta, sem dúvidas é você leitor que sempre nos traz. Uma reflexão mais profunda sobre o assunto é a diferença entre ter uma ideia e executá-la. Você já parou para pensar qual o valor de uma boa ideia? Ou melhor, quanto vale uma ideia espetacular, que poderá mudar os rumos da aquicultura mundial? Sem medo de errar, posso lhes precisar o valor: ZERO. Você pode estar falando da melhor ideia do mundo, que revolucionará a aquicultura de toda a galáxia! Não importa, ela não vale nada, NADA. Se ninguém tiver coragem, ousadia e determinação para tirá-la do papel e executá-la, ela simplesmente permanecerá somente no papel e na imaginação. A Aquaculture Brasil foi uma ideia “desengavetada” em novembro de 2015... E então? Que tal colocar em prática aquela sua velha e boa ideia engavetada? A Aquicultura brasileira, sem dúvidas, espera ansiosa por ela!

Giovanni Lemos de Mello Editor

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Fala Gringo!

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!

Comitê Editorial

Fim de 2017: Minha mulher cansou e vou ficar com saudades de minha filha Soltou o stay de proa do mastro de meu veleiro e quase que tomo ele na cabeça Um governo corrupto e ilegítimo pior que o anterior Uma universidade sucateada

EDITOR-CHEFE: Giovanni Lemos de Mello redacao@aquaculturebrasil.com EDITORA-EXECUTIVA: Jéssica Brol jessica@aquaculturebrasil.com EDITORES ASSISTENTES: Alex Augusto Gonçalves Artur Nishioka Rombenso Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen

2018: O mar está flat, chove e faz muito calor Abriram as importações de camarão equatoriano A única coisa que acredito é No crescimento Da Aquaculture Brasil

COLUNISTAS: Alex Augusto Gonçalves Andre Muniz Afonso André Camargo Artur Nishioka Rombenso Eduardo Gomes Sanches Fábio Rosa Sussel Luís Alejandro Vinatea Arana Marcelo Roberto Shei Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Ricardo Vieira Rodrigues Roberto Bianchini Derner Rodolfo Luís Petersen Santiago Benites de Pádua As colunas assinadas e imagens são de responsabilidade dos autores. Instrução aos autores: www.aquaculturebrasil.com/submissao-artigos

Rodolfo Luís Petersen Coeditor

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Bem-vindo

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o início de janeiro ocorreu o Segundo Workshop Internacional de Seriola, em San Diego (Califórnia, EUA), promovido pelo escritório de Aquacultura da Agência Nacional Oceanográfica dos EUA (NOAA - National Oceanic and Oceanographic Administration). Para os leitores que não são familiarizados com peixes marinhos, Seriola é um gênero que possui 12 espécies de peixes marinhos carnívoros bastante apreciados pelo mercado consumidor, e que são produzidos em cativeiro em várias partes do globo. O exemplar mais famoso é o olhete japonês Seriola quinqueradiata. Esse evento reuniu a maioria dos membros da cadeia produtiva do Seriola: Austrália, Japão, México, Chile, Estados Unidos e países europeus. O destaque do evento foi a união de todo setor produtivo e acadêmico para analisar o que está em andamento, identificar os maiores entraves e dificuldades, e por fim unir esforços para buscar soluções. Interessante foi observar que os diferentes participantes ressaltaram dificuldades semelhantes. O fato de vários produtores estarem enfrentando as mesmas situações ou questionamentos indica que a aliança de todas as partes é fundamental para o fortalecimento da atividade como um todo. Quando uma iniciativa é bem-sucedida, aumenta a probabilidade de êxito dos outros membros da atividade e consequentemente de todo setor. É comum pensarmos que esse tipo de ação só acontece em países desenvolvidos, porém, no ano passado, a Aquaculture Brasil realizou algumas mesas-redondas com membros da cadeia produtiva de espécies-chave com o intuito de aprimorar a atividade através desse tipo de união entre os membros do setor produtivo e acadêmico. Não irei estragar a surpresa, mas preparem-se pois em breve traremos mais novidades para os leitores e seguidores da Aquaculture Brasil. Até lá, aproveitem essa edição e boa leitura.

Artur Nishioka Rombenso Coeditor

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Opinião Novos ciclos, novos desafios

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xistem pessoas movidas pelo “novo”. Por aquela sensação de “frio na barriga” intensa que ao invés de trazer o medo ou incertezas, impulsionam ainda mais a seguir adiante. Onde a rotina é “não ter rotina”. Onde cada dia parece ser um filme novo com desfechos diferentes. Pois é, talvez eu tenha certa afinidade com “mudanças”. No entanto, mudanças não são fáceis. Sair da zona de conforto é difícil e incerto. Pois bem, este editorial da Aquaculture Brasil tem um gostinho especial. Uma mistura de sentimentos que vão desde saudades a nostalgia. Apreensão a ansiedade. Curiosidade com uma boa dose de felicidade! Neste exato momento encontrome dentro de um avião rumo a Ásia! Uma missão científica na meca dos cultivos (que inclusive é tema da coluna “Green Technologies” desta edição). Em breve traremos muitas novidades e certo que novos ciclos trarão novos desafios. São momentos de nossas vidas que devemos vivenciar intensamente e que certamente lições preciosas serão adquiridas. Um verdadeiro “empreendedorismo” da sua vida pessoal e profissional. Neste sentido, não posso deixar de agradecer a todos pelo incondicional apoio nesta jornada e pelas energias positivas enviadas. Certo que ainda muita coisa boa está por vir.

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA BRASILEIRA!

DIREÇÃO DE ARTE: Taiane Lacerda taiane@aquaculturebrasil.com DIREÇÃO COMERCIAL: Diego Molinari diego@aquaculturebrasil.com COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Alex Augusto Gonçalves, Carlos Eduardo Zacarkim, Cesar Toshio Facimoto, Fabrício Menezes Ramos, Fernanda Juliane Alves de Paiva, Francisco das Chagas Medeiros, Henrique César Venâncio, Jéssica Brol, Leopoldo Melo Barreto, Rafael Garcia Lopes, Raimundo Lima da Silva Junior, Roberta Torres Chideroli, Roberto Bianchini Derner, Santiago Benites de Pádua e Ulisses de Pádua Pereira. QUER ANUNCIAR? publicidade@aquaculturebrasil.com QUER ASSINAR? aquaculturebrasil.com/assinatura assinatura@aquaculturebrasil.com QUER COMPRAR EDIÇÕES ANTERIORES? aquaculturebrasil.com/edicoes

Ótima leitura a todos! NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA: COAN gráfica Ltda./ coan.com.br Av. Tancredo Neves, 300, Tubarão/ SC, 88.704-700 A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação bimestral da EDITORA AQUACULTURE BRASIL LTDA ME. (ISSN 2525-3379) www.aquaculturebrasil.com Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC, 88.790-000

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano Coeditor AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

A AQUACULTURE BRASIL não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de terceiros.

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SUMÁRIO

AQUACULTURE BRASIL

10 FOTO DO LEITOR 12 MÉTRICAS DA FANPAGE 14 Aquicultura ornamental de água doce – Parte III 20 Cooperativa de pesca e aquicultura de goiás (COOPAQ): o início da caminhada 26 sISTEMA LAMINAR DE CULTIVO DE MICROALGAS- SLCA 32 a NOVA APOSTA DA AQUICULTURA BRASILEIRA: MUITO PRAZER, PANGA BR

»»p.14

40 CONSTRUÇÕES DE VIVEIROS PARA PISCICULTURA COMERCIAL PARTE iii 48 streptococcus agalactiae : UM VELHO E INDESEJÁVEL CONHECIDO RESSURGE COM NOVIDADES 54 KAFTA DE CAMARÃO: UMA ALTERNATIVA DE NOVOS PRODUTOS À BASE DE PESCADO »»p.26

»»p.20

60 BRASIL MARCANDO PRESENÇA NA SEAFOOD NORTH AMERICA 2018 64 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR 65 CHARGES 66 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS 68 GREEN TECHNOLOGIES 69 empreendedorismo aquícola »»p.40

»»p.48

70 nutrição 8

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»»p.86

»»p.92

72 atualidades e tendências na aquicultura 73 Ranicultura »»p.32

74 aquicultura de precisão 76 aquicultura latino-americana 77 piscicultura marinha 78 rECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS 79 SANIDADE 80 tecnologia do pescado

»»p.54

82 DEFENDEU 86 entrevista - DANIEL GARCIA DE CARVALHO MELO 91 NOVOS LIVROS 92 ELES FAZEM A DIFERENÇA 96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS 98 despescou »»p.60 AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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FOTO DO LEITOR

Bandeja de Alimentação (Jaguaribe, CE)

Camarão de água doce exemplar de 320g (Governador Lindenberg, ES)

Autor: José Junior

Autor: João Guilherme Schimith Schramm

Estrutura de Raceway com sacos de areia (Pedra Grande, RN) Autor: Alessandro Ferreira

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Pôr do Sol na Estação de Aquicultura (Rio Grande, RS) Autor: Bruno Medeiros

Despesca de sucesso (Paraipaba, CE)

Estrutura do Curso de Eng. de Aquicultura - IFES Campus de Alegre (Alegre, ES)

Autor: Augusto Cesar

Autor: Wendel Nascimento

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia e participe desta seção.

redacao@aquaculturebrasil.com AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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Métricas No aguardo da abertura da Feira Nacional do Camarão

22.881 Pessoas alcançadas 47 Comentários 141 Compartilhamentos 810 Curtidas

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Bem-vinda novamente SEAP

13.537 Pessoas alcançadas 7 Comentários 472 Curtidas

Um privilégio conhecer a Camanor Produtos Marinhos e seu incrível modelo de produção intensiva de camarões marinhos

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www.facebook.com/ aquaculturebrasil

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15.330 Pessoas alcançadas 16 Comentários 17 Compartilhamentos 1.404 Curtidas

25 de novembro

curta-nos no facebook:

15 de novembro

13.335 Pessoas alcançadas 9 Comentários 58 Compartilhamentos 449 Curtidas

03 de novembro

11 de novembro

Artigo Aeração em Aquicultura – Parte I


da Fanpage 14 de dezembro

12.052 Pessoas alcançadas 52 Comentários 76 Compartilhamentos 888 Curtidas

Laboratório de reprodução de peixes é inaugurado em Ilha Grande

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Piscicultura no Paraná ganha incentivo com redução de ICMS

26.784 Pessoas alcançadas 158Comentários 188 Compartilhamentos 1.039 Curtidas

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13.938 Pessoas alcançadas 3 Comentários 302 Curtidas

14 de dezembro – Dia do Engenheiro de Pesca

30.028 Pessoas alcançadas 63 Comentários 156 Compartilhamentos 2.289 Curtidas

06 de dezembro

05 de dezembro

06 de dezembro

Curso online a ao vivo – Como criar camarões marinhos em água doce

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Parte III

Aquicultura ornamental de água doce

Prof. Dr. Leopoldo Melo Barreto Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) leopoldo.barreto@ufrb.edu.br

Prof. Dr. Fabrício Menezes Ramos Instituto Federal do Pará (IFPA) fabricio.ramos@ifpa.edu.br

Nos dois primeiros artigos discutimos sobre o estado da arte da A alimentação é aquicultura ornamental de água doce, um fator muito confrontamos a pesca e a aquicultura, importante uma pincelamos sobre legislação (Edição nº 8), falamos sobre as estruturas de cul- vez que essa propicia, tivo utilizadas, as estratégias reprodu- além do fornecimento tivas e um pouco sobre qualidade de água (Edição nº 9). Nessa última parte, energético, o increiremos abordar sobre a alimentação na mento na coloração fase inicial das formas jovens (larvas/ natural das espécies. alevinos) de peixes ornamentais e apresentar algumas dicas sobre o crescimento chegando até o momento do transporte para comercialização.

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Alimentação Inicialmente podemos afirmar que a alimentação é um fator muito importante na manutenção, reprodução e crescimento dos peixes ornamentais, uma vez que essa propicia, além do fornecimento energético, o incremento na coloração natural das espécies. No entanto, às vezes passa despercebido que no ambiente natural esse alimento é “caçado” pelos peixes, mas que em ambiente confinado os peixes são inteiramente dependentes do fornecimento por parte do aquicultor, salvo quando o cultivo é praticado em sistema outdoor (ambiente aberto), o qual permite o florescimento planctônico natural. Na fase inicial, grande parte dos alevinos nascem com saco vitelínico, o qual garante energia na primeira etapa de vida. Logo em seguida, quando o alevino abre a boca pela primeira vez, já está apto a capturar alimento exógeno, porém em muitas espécies os órgãos dos sentidos são pouco desenvolvidos, possuindo um aparato bucal pequeno e apresentando natação reduzida. Fatores esses que dificultam a seleção, captura e busca do alimento exógeno. Assim, como afirmam Lopes, Senhorini e Soares (1994), a falta de alimento natural (alimento vivo) em quantidade e qualidade, bem como a ausência de uma alimentação industrializada (alimento inerte), adequada para substituir parte do alimento vivo, comprometem a produção final, inclusive na aquicultura ornamental.

Sobre alimentos vivos, há diferentes opções, sendo cultivados em separado e usando protocolos específicos, como por exemplo a Artemia salina (Artemia spp.), cladóceros como a Dáfnia (Daphnia spp.) e Moina (Moina spp.), rotíferos, paramecium (Paramecium caudatum) e enquitréias (Enchytraeus sp.). Cuidado a se tomar está relacionado ao tamanho do alimento vivo e o tamanho da boca do alevino, o qual devem ser condizentes. Precisamos também fornecer todos os nutrientes essenciais para o desenvolvimento dos alevinos, sendo importante lembrar que cada alimento tem uma composição específica, alguns sendo mais completos que outros, assim, exigindo que haja uma alternância dos alimentos ofertados, onde para espécies marinhas, por exemplo, pode-se proceder o enriquecimento prévio do alimento vivo, tornando-o mais eficiente em oferta única (ex.: artemia enriquecida com ácido graxo ou microalgas). Por outro lado, alguns alevinos já aceitam o alimento inerte no primeiro momento de vida, na forma de pó. A ração, uma vez de qualidade, contém um balanço nutricional ideal para o crescimento e desenvolvimento do peixe, apenas não agradando àquelas espécies que são conhecidamente predadoras, optando por presas vivas, como o jacundá (Crenicichla spp.), trairão (Hoplias lacerdae), peixe folha (Monocir-

Cada alimento tem uma composição específica, alguns sendo mais completos que outros, assim, exigindo que haja uma alternância dos alimentos ofertados.

rhus polyacanthus), etc. Além do balanço nutricional, outros fatores devem ser levados em consideração, como a digestibilidade da ração, caso contrário, ocorrerá aumento da excreção e consequente piora na qualidade de água do ambiente de cultivo, causando perda de eficiência produtiva do empreendimento. Nesses casos entra a máxima o barato sai caro; investir em alimento de qualidade eleva o potencial produtivo de matrizes, tanto por dispor de maior vitalidade e energia, como acelerando o crescimento dos alevinos, aptos à venda em menor tempo, além de apresentarem, ao final, melhores características zootécnicas. Em casos de má alimentação, sinais clínicos de desbalanço nutricional podem ser observados, como deformidades da coluna vertebral, nadadeiras e opérculos, e opacidade dos olhos. Ainda assim, dispondo-se de uma ração de qualidade, devemos observar que:

• Embalagens transparentes, permitindo a incidência de raios solares, influencia no teor vitamínico da ração, reduzindo-o; • A umidade prejudica a qualidade da ração, não devendo ser manuseada com mão úmida ou o uso de embalagens que não vedem bem o frasco; • Rações floculadas, guardadas em grandes quantidades, maceram (esmagam) os flocos que ficam na parte inferior, diminuindo a eficiência de acordo com o tamanho do peixe. Análise e equipamento MALDI-TOF

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Por fim, recomenda-se dividir o fornecimento da ração em diferentes momentos, não espaçando muito entre cada alimentação, por exemplo, fornecendo-se seis vezes ao dia para as fases iniciais de engorda e, ao final, duas vezes ao dia, considerando-se a biomassa estocada. Com o crescimento

dos alevinos, aumenta-se gradativamente o grânulo da ração, até o momento da venda. Destacamos que o crescimento das espécies está não só relacionado ao fornecimento de alimento, mas também à qualidade de água e ao espaço disponível. Para além, outros fatores podem

influenciar também, como a temperatura da água (quanto maior, mais célere é o crescimento, respeitando o limite para a espécie) e a frequência das trocas parciais de água (no caso do Acará disco Symphysodon spp. é essencial devido a um hormônio inibidor de crescimento secretado pelos alevinos).

Figura 1. Exemplar de Guppy apto para venda.

Comercialização “Em quanto tempo já posso comercializar os alevinos?” Essa pergunta não tem única resposta, pois há espécimes que em 60 dias já estão aptas à venda (mesmo com menor valor de mercado devido ao tamanho), enquanto outros requerem, no mínimo, 6 meses de vida para garantirem um valor razoável no mercado. Vale destacar que diferentemente da atividade de aquicultura de corte, que visa um crescimento rápido e maior quantidade de carne, na ornamental os animais são selecionados para apresentar um padrão

diferenciado, de cores e nadadeiras (Figura 1), por exemplo, desta forma primando-se pela qualidade dos fenótipos, uma vez que os animais são vendidos por unidade e não por peso; fator também desejado é aumentar a sobrevivência no cultivo, refletindo em maior lucro por área de produção. O comércio de peixes ornamentais no Brasil é uma atividade em franco crescimento, ocupando em 2015 o terceiro lugar do mercado mundial, atrás apenas dos

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Estados Unidos e Reino Unido, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET). Conforme Farias et al. (2016), a comercialização é dividida em mercado externo, importação e mercado interno. O mercado externo abrange animais capturados da natureza, exportados principalmente pelos estados do Amazonas e Pará (peixe de água doce), e Ceará (peixes marinhos), sendo necessário desenvolver noARTIGO

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vas variedades para manter-se competitivo no mercado mundial. Por outro lado a importação é um mercado pequeno, porém em crescimento, sendo necessário aos futuros empreendedores registrar um quarentenário nos diversos órgãos de Meio Ambiente e de Sanidade

Agropecuária. Para atuar no mercado interno como produtor, já comentamos na primeira parte (Edição nº 8) algumas necessidades legais, acrescentando-se aqui a necessidade de, na Agência Nacional de Águas (ANA), solicitar a outorga do uso da água da União caso utilizem-se rios e

poços, caso desnecessário se a aquicultura usar apenas água de abastecimento público, onde será pago mensalmente pelo consumo. Já para atuar no mercado interno como lojista, o empreendedor precisa, além dos documentos comuns a qualquer comércio, obter:

I. Licença de empresa que comercializa organismos aquáticos vivos, no MAPA; II. Inscrição no Cadastro Técnico Federal; III. Licenciamento Ambiental no órgão estadual ou municipal, caso necessário.

Transporte O transporte é um fator que deve ser considerado como elo final, uma vez que as espécimes devem chegar ao mercado com extrema qualidade, assim garantindo também a venda por parte do lojista ao consumidor final. Para tal, deve-se atentar à densidade de estocagem em cada saco plástico, respeitar a proporção de 1/3 de água e 2/3 de oxigênio (Figura 2), além de garantir a temperatura ideal durante o transporte, às vezes até se valendo

de caixas de isopor para tal. Desse modo os peixes chegarão com a mesma qualidade a qual foram produzidos. Oba, Mariano e Santos (2009) reportaram que o sucesso de qualquer atividade relacionada à aquisição e transporte de matrizes e formas jovens, está na compreensão dos conhecimentos básicos da fisiologia do estresse e das alterações ambientais a que esses animais estão submetidos, identificando as

condições adversas, então, desenvolve-se métodos que suavizem os seus efeitos na saúde dos animais. Há algumas sugestões prévias ao transporte, como impor um jejum (24h) aos peixes, minimizar o estresse na captura e, inclusive, utilizar profiláticos e/ou anestésicos durante o transporte, a depender das espécies, tempo de transporte e exigência do comprador, completando-se assim a etapa com capricho. © Aquaculture Brasil

Conclusão ART IGO Figura ornamentais embalados, aguardando AQUACULTURE o transporte. BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018 18 2. Peixes


Conclusão Deixamos em aberto a conclusão desse artigo, sabendo que a precisão da aquicultura ornamental requer continuamente estudos e pesquisas, a fim de melhor desenvolver o setor. Já galgamos diversos avanços, alguns aqui relatados, mas outros tantos existem para serem melhorados e potencializados, seja por meio de tecnologias, seja por meio de conhecimento aplicado, parte desse advindo da academia, outra parte advinda de

produtores e aquaristas profissionais. Portanto aqui findamos esta série de três artigos, confessadamente curtos para tamanha necessidade de informação que os aquicultores ornamentais desejam, mas colocando-nos completamente disponíveis para sanar futuras dúvidas, gerar parcerias e contribuir com o crescimento da aquicultura ornamental de água doce.

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos


Artigo

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Co o pe rativa d e Pes ca e Aq u i cu ltu ra d e G o iás (CO O PAQ ): o início da caminhada

Raimundo Lima da Silva Junior Biomédico, Mestre em Biologia Núcleo de Pesquisas Replicon, Escola de Ciências Agrárias e Biológicas, Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC,GO) Sócio Fundador da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ)

A história da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ) iniciou através de um acordo firmado entre a Prefeitura do Município de Nova Veneza (GO) e a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás. A Secretaria de Pesca e Aquicultura do munícipio foi criada em fevereiro de 2013. Nesta data nascia a primeira secretaria municipal com ação exclusiva em aquicultura e pesca no estado de Goiás. O objetivo inicial da Secretaria Municipal de Pesca e Aquicultura (SEPAQ) foi criar um abatedouro para os aquicultores da região e auxiliar na implantação de um Polo Industrial para o município. Logo em seguida, a Prefeitura criou a Lei nº 948/2013, que implementava o Programa Municipal de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Aquicultura Familiar. Em setembro deste mesmo ano, fui convidado a assumir a pasta da SEPAQ. A primeira ação frente à SEPAQ foi criar um Plano de Gestão Estratégico que pudesse direcionar ações técnicas e gerenciais para os produtores do município e região. Dois meses depois promovemos o I Fórum de Discussões Sobre Pesca e Aquicultura, no qual, apresentamos novas tecnologias aquícolas sustentáveis, como os sistemas RAS

(do inglês, Recirculating Aquaculture System), Aquaponia e BFT (do inglês, Biofloc Tecnology). Foi o primeiro evento do município, onde buscou-se reunir os aquicultores de toda a região (Figura 1). Infelizmente, apenas 12 produtores apareceram ao evento. Diante da baixa procura, iniciamos o primeiro trabalho de campo da SEPAQ, buscando conhecer o dia a dia dos produtores, e com isso, estudar soluções mais práticas. Neste período, com o auxílio do software Google Earth® foi possível identificar cerca de 35 represas e tanques escavados em toda a região, onde visitamos in loco, cada produtor. Nestas visitas percebemos quais seriam as reais ações que a SEPAQ poderia exercer. Na maioria das produções visitadas, não havia controle de gastos de produção, acompanhamento dos parâmetros físico-químicos ou quaisquer informações técnicas que eram fundamentais para iniciar um cultivo aquícola. Adicionalmente, buscamos uma alternativa de gestão que pudesse, ao mesmo tempo, reunir interesses mútuos e diminuir os custos de produção. O modelo de Cooperativismo tornou-se a nossa melhor opção, pelos inúmeros exemplos de sucesso em todo o país.

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Figura 1. Ações da SEPAQ. a) Capa do Plano de Gestão Estratégico da SEPAQ apresentado a Prefeitura Municipal de Nova Veneza (outubro/2013). b) Mapa Estratégico das Ações Planejadas pela SEPAQ. c) Convite de Abertura da COOPAQ (abril/2014).

Início da COOPAQ Em 04 de abril de 2014, realizamos a Primeira Reunião para a Implantação da COOPAQ, Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás. Vinte e três cooperados assinaram a lista de sócios fundadores na primeira reunião. O gerente de Negócios do Banco do Brasil S/A em Goiás, Giovanni Chaves, apresentou as linhas de crédito existentes para o setor aquícola e como a Cooperativa poderia buscar tais financiamentos. No mês subsequente os conselheiros para os Conselhos de

Administração, de Ética e Fiscal foram eleitos. Adicionalmente, Estatuto Social da cooperativa foi apresentado. A COOPAQ estava formada e com o propósito de produzir de forma sustentável em um sistema fechado, que permitisse menor impacto ambiental, maior produtividade e biossegurança. Dali em diante, iniciava a busca de uma assessoria técnica para produzir pelo sistema, até então desconhecido por todos.

Busca de informações Diante desta necessidade, o segundo trabalho de campo entrou em prática: conhecer sistemas produtivos sustentáveis e o processamento de pescado. Em junho do mesmo ano, participamos do Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva Goiana de Aquicultura, com a coordenação do SEBRAE-GO, Associação Goiana de Piscicultura (AGP) e demais entidades do setor. Diversos integrantes da pesca e aquicultura goiana se reuniram para formalizar um Caderno de Informações que direcionasse ações no setor aquícola, de 2014-2020. Em julho, visitamos o Frigorífico Netumar Pescados, em Fortaleza (CE), onde foi possível conhecer toda a estrutura e os custos de manutenção de

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ARTIGO

um frigorífico de pescado, que comercializava diversos produtos, dentro e fora do país. No mesmo mês, conhecemos a equipe da Secretaria Estadual de Agricultura do Espírito Santo (SEAG) e do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF), que trabalham de forma conjunta para desburocratizar, agilizar e fomentar a cadeia de carcinicultura de água doce no Estado do Espírito Santo. De lá, conhecemos a capital do camarão de água doce do país, São Domingos do Norte (ES), sede da CEAq (Cooperativa dos Aquicultores do Espírito Santo). Uma Cooperativa que contém um abatedouro, com 94 cooperados registrados, atendendo mais

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de 300 carcinicultores no ES. Conhecer a CEAq foi um indicador de que estávamos no caminho certo quanto ao modelo de gestão escolhido. Porém, os cooperados enfrentavam um grande entrave na produção: a baixa oferta de pós-larva do camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii). Já há alguns anos, a CEAq buscava finalizar um laboratório de pós-larvas, sob coordenação do Engenheiro de Pesca, José Nailton Canuto, do IFES (Instituto Federal do Espírito Santo). No IFES, orientados pelo Nailton, pudemos conhecer toda a cadeia da carcinicultura do camarão e da capacitação que era exercida na cidade de Colatina (ES) (Figura 2). No caminho de volta para casa, já no início de agosto, visitei o Laboratório de Aquacultura (LAQUA), localizado na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde conheci o Prof. Dr. Kleber Campos, que me mostrou uma nova proposta de produção (Figura 3). Com resultados já promissores para a época, a produção do camarão branco do pacífico (Litopenaeus vannamei) em

baixa salinidade, já era realidade. Surgia neste momento, nosso principal desafio na produção aquícola em nosso Estado: a ausência de produção e alta demanda para este tipo de camarão. No segundo semestre de 2014, realizávamos reuniões periódicas na COOPAQ para apresentar as informações até então coletadas e de como poderíamos executá-las. Firmamos uma parceria com uma empresa de assessoria de Pernambuco. Foram elaborados estudos de viabilidade econômica, projetos individuais e um projeto coletivo, para quem não possuía terra. Ao todo, 19 projetos em sistema Bioflocos foram elaborados a um custo bem menor do que o valor cobrado para a elaboração de licenças ambientais naquele período. A primeira característica do cooperativismo estava sendo adquirida: reduzir os custos por conta do coletivismo. Nossa primeira Licença Ambiental Simplificada (LAS) para o Sistema Bioflocos foi emitida em dezembro de 2015, no âmbito municipal (Pires do Rio, GO), e em dezembro de 2016, no âmbito estadual.

Figura 2. Instalações do Instituto Federal do Espirito Santo (IFES) (julho/2014). a) José Nailton Canuto, Engenheiro de Pesca, IFES e responsável técnico pelo Laboratório de Pós Larvas da CEAq. b) Raceways utilizados para pesquisa de reprodução e cultivo de peixes.

Capacitação e cooperativismo A capacitação dos cooperados foi iniciada em 2015, no nosso primeiro Curso de Capacitação Técnica (junho/2015) e de Cooperativismo (novembro/2015) (Figura 4), no qual, 35 cooperados foram instruídos com as noções básicas da piscicultura, com aulas teóricas e práticas. No mês seguinte, criamos um protótipo com estufa agrícola, visando aplicar os conhecimentos teóricos do sistema Bioflocos, na prática (Figura 5). Precisávamos dominar a técnica para iniciar a produção em escala comercial, e o controle dos parâmetros da água tornou-se o principal desafio. O primeiro floco microbiano demorou 23 dias para ser formado. Utilizamos esterco de gado (fonte de nitrogênio) e melaço de cana de açúcar (carbono orgânico) (Figura 6). Ainda não tínhamos dados de referência para comparar a evolução da formação

do Bioflocos e nem de como poderíamos controlar os dados zootécnicos em um cultivo não experimental. Nossa primeira tentativa de povoamento durou uma semana. Cinquenta peixes morreram por falta de oxigênio e acidose metabólica. A orientação técnica tornava-se imprescindível. Paralelamente, protocolamos pela SEPAQ quatro Propostas de convênios com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em agosto de 2015. Os projetos foram protocolados no MPA em um valor global de 21 milhões de reais, objetivando o fomento para diversas ações e infraestrutura e de fortalecer a cadeia no município de Nova Veneza e região. Entre as propostas cadastradas, foi apresentado um projeto para a construção de um terminal frigorífico no braço sul da ferrovia

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Figura 3. Instalações do Laboratório de Aquacultura (LAQUA) da UFMG (agosto/2014). a) Prof. Dr. Kleber Campos Miranda Filho (e). b) Instalações da Estufa de Cultivo em Bioflocos. c) Tanques suspensos de cultivo em BFT. d) Instalações do Sistema RAS (do inglês, Recirculating Aquaculture System).

Norte-Sul e a implantação de um Centro de Pesquisas e Tecnologias Aquáticas (CENTAQ) em Nova Veneza (GO), cuja Lei municipal já tinha sido aprovada. Pela COOPAQ, trocamos de assessoria técnica, por uma empresa de Goiás, fizemos outro curso de capacitação, mas tudo ainda não ultrapassava a barreira da teoria. Muito empirismo e nenhuma prática. Não tínhamos a segurança que necessitávamos para iniciar a produção da cooperativa. Em janeiro de 2016, pleiteamos a consultoria de um equatoriano, Sérgio Molina, para poder nos orientar quanto à produção de tilápia e camarão do Pacífico (Litopenaeus vannamei). A experiência de 18 anos em sistema Bioflocos, cultivando camarão do Pacífico em água de 1ppt de salinidade, nos mostrou a realidade da produção de camarão praticada no Equador. Era possível sim produzir em escala comercial no nosso estado, porém, a barreira da lín-

Figura 4. Curso de Cooperativismo realizado em parceria com o SENAR/GO em novembro/2015.

gua e o custo elevado da assessoria limitavam a contratação do técnico. Neste período, em nosso protótipo, a formação do bioflocos passou de 23 para 7 dias, utilizando os produtos nas concentrações e momentos corretos (Figura 7). Diante deste cenário, a segunda tentativa de povoamento, com uma densidade de 34 peixes por m³, durou mais tempo: 4 meses, com os peixes atingindo uma média de 300g e um FCA (fator de conversão alimentar) menor do que 1,0. Porém, o volume de sólidos produzidos pelo sistema tornou-se o nosso principal fator agravante. A busca por assessoria que tivesse dados reais de produção e com experiência no sistema BFT nos levou ao Ceará, o maior produtor de camarão do Pacífico em água de baixa salinidade. Uma comitiva de quatro cooperados visitou uma fazenda de produção no interior do Estado e a própria fazenda de produção da empresa pretendida. Os

Figura 5. Protótipo para estudo do sistema BFT em Nova Veneza, GO (julho/2014). a) Estufa agrícola. b1) 1º dia de cultivo do BFT. b2) 7º dia. b3) 14º dia. b4) 21º dia.

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Figura 6. Cone de sedimentação caseiro com bioflocos formados em 23 dias (agosto/2015).

clientes assessorados Estávamos pela empresa cearense diante daquilo produziam tilápia e camarão (em baixa que procurávasalinidade). O modelo mos: um sistema que do projeto, importado proporcionasse do México, utilizava cultivar tilápia e tanques suspensos re- camarão em tanques dondos, confeccionadiferentes, usando a dos com geomembrana mesma engenharia de PEAD e biofiltro. Estáprodução e vamos diante daquilo que procurávamos: tratamento de efluentes. um sistema que proporcionasse cultivar tilápia e camarão em tanques diferentes, usando a mesma engenharia de produção e tratamento de efluentes. Porém, tínhamos um problema a ser solucionado: qual projeto, qual animal a ser cultivado e quanto em escala comercial precisávamos para iniciar a produção? Nascia neste momento o Módulo Híbrido (MH) da COOPAQ, pois a proposta inicial foi criar tilápia (200m³) e camarão do Pacífico (1000m³), em tanques separados, usando a mesma estrutura de filtragem de sólidos. Os dados zootécnicos, os custos operacionais e os comerciais obtidos serviriam de suporte para avaliarmos os índices de viabilidade reais e posteriormente, tanto para expandir a produção no próprio MH e para os projetos individuais dos cooperados. No próximo artigo irei abordar como foi nossa primeira experiência no MH e como chegamos ao modelo BRASYS (do inglês, Biofloc, Recirculating and Aquaponics System). Até lá! Figura 7. Cone de Imhoff com bioflocos formados em 7 dias (janeiro/2016).

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SISTEMA LAMINAR DE CULTIVO DE MICROALGAS - SLCA Henrique César Venâncio Eng. de Aquicultura (UFSC) Estudante de Mestrado PPGAQI/UFSC henrcesar@gmail.com

Rafael Garcia Lopes

Biólogo (UFSC) Mestre e Doutor em Biotecnologia e Biociências (UFSC) rafael.lopes@ufsc.br

Prof. Dr. Roberto Bianchini Derner

Supervisor do Laboratório de Cultivo de Algas (LCA) Departamento de Aquicultura (AQI), Centro de Ciências Agrárias (CCA) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) roberto.derner@ufsc.br


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Š Roberto Bianchini Derner


As microalgas são a base de diversas cadeias tróficas nos ambientes aquáticos, e esta característica tem sido explorada em sistemas de produção aquícola voltados à reprodução, larvicultura e engorda de espécies de interesse comercial (peixes, camarões e moluscos, por exemplo). Visando atender esta demanda principalmente em relação à nutrição dos animais na etapa de larvicultura, mas também considerando a manutenção da qualidade da água nos tanques de cultivo -, a maioria dos empreendimentos executa seus próprios cultivos de microalgas. Salvo raríssimas exceções, nestes empreendimentos os tanques para o cultivo de microalgas foram implantados pensando em termos de volume de produção, enquanto deveriam ter sido usados conceitos de engenharia e de fotobiologia na construção destes sistemas, sempre visando alcançar elevadas produtividades e a otimização dos custos. Estes cultivos tradicionais têm sido

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desenvolvidos em diversos tipos de tanques (Sistemas Abertos), nos quais, quase que exclusivamente as culturas são mantidas em metabolismo fotoautotrófico e com aplicação do Método Estacionário, sendo que, estes podem ser considerados de baixa eficiência, uma vez que somente permitem que as culturas alcancem baixas densidades celulares (ou pequena biomassa), bem como demandam grandes volumes de água tratada e de nutrientes - que muitas vezes não são integralmente Qual a razão de não serem alcançadas elevadas densidades celulares nas culturas desenvolvidas nos sistemas tradicionais de cultivo de microalgas?

assimilados pelas microalgas. Além disso, por conta da escassa biomassa (baixa densidade celular), as culturas ficam mais vulneráveis à contaminação microbiana (bactérias, fungos, protozoários e até outras microalgas). Os nutrientes residuais do meio de cultura, bem como, os possíveis contaminantes microbianos, podem acarretar problemas aos animais que serão alimentados com estas culturas de qualidade discutível. A questão fundamental é: qual a razão de não serem alcançadas elevadas densidades celulares nas culturas desenvolvidas nos sistemas tradicionais de cultivo de microalgas? É importante ressaltar que diversos fatores físicos, químicos e biológicos interagem e influenciam o crescimento - e a composição bioquímica - das microalgas, mas, como se tratam de cultivos fotoautotróficos, a resposta mais precisa é: falta de luz para as células microalgais realizarem (individualmente) a fotossíntese com eficiência. O fato é que a maio-

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ria dos tanques tem profundidade, diâmetro, ou espessura (passo óptico) muito além daquela em que a luz pode penetrar na cultura. Fenômeno que é agravado quanto maior a densidade celular, uma vez que as células da superfície iluminada fazem sombra (autossombreamento) para aquelas células que estão (momentaneamente) no interior da cultura. Nos empreendimentos aquícolas é muito comum que os tanques iluminados por cima tenham profundidades até maiores do que 100 cm, ou que os cilindros ou bolsas plásticas, iluminados lateralmente, tenham até mais de 50 cm de raio. Neste caso, como a luz penetra somente alguns poucos centímetros, a maior parte da cultura – e consequentemente das células microalgais – se encontra em condições limitadas de luz e, em alguns casos até no escuro (zona afótica), assim a fotossíntese é limitada, e consequentemente o crescimento da cultura é pequeno ou inexistente, impossibilitando que seja al-

cançada elevada densidade celular ou biomassa. Cabe esclarecer que o aumento da irradiância e/ou da agitação das culturas têm pequeno efeito nestes sistemas tradicionais de cultivo. Visando o aprimoramento dos sistemas de cultivo de microalgas, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas, algumas particularmente focadas no estudo da relação da Superfície Iluminada pelo Volume da Cultura (Razão S/V). Para melhor compreensão, em um tanque cúbico com área superficial iluminada de 1 m2 e profundidade de 1 m temos um volume de 1 m3, assim, a Razão S/V é igual a 1, enquanto que em fotobiorreatores a Razão S/V pode chegar a 200, permitindo alcançar produtividades muito elevadas. É correto afirmar que o desenvolvimento destes sistemas de cultivo superintensivo implica em muitos estudos: engenharia, fotobiologia, dissolução dos gases e dos nutrientes na coluna d’água, fisiologia das microalgas etc.

Os resultados obtidos nas culturas desenvolvidas no SLCA da UFSC indicam a superioridade deste sistema de cultivo em relação à produção das microalgas em tanques.

No Laboratório de Cultivo de Algas - LCA, da Universidade Federal de Santa Catarina, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com foco na concepção e na implementação de cultivos superintensivos de microalgas, que poderão ser implantados em novos empreendimentos aquícolas ou em substituição aos sistemas de baixa produtividade. No LCA/UFSC foi implantado um Sistema Laminar de Cultivo de Microal-

© Roberto Bianchini Derner AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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gas (SLCA), adaptado de modelos europeus denominados “Thin-layer cascade systems”, onde a principal característica é a elevada Razão S/V. Desde os testes iniciais no SLCA, em 2016, foi comprovada a possibilidade de ser alcançada biomassa (ou densidade celular) de até 200 vezes superior àquela obtida nos tanques do próprio Laboratório. Para fins de comparação, culturas em tanques tradicionalmente empregados em aquicultura alcançam biomassa entre 0,05 e 0,1 g L-1 em peso seco e, isto corresponde a aproximadamente 150 x 104 cel. mL-1 de Chaetoceros muelleri, ou 2.500 x 104 cel. mL-1 de Nannochloropsis oculata. No SLCA, culturas de algumas espécies de microalgas têm alcançado até 3 g L-1 pela aplicação do método estacionário, e até 20 g L-1 em batelada alimentada. Em outras palavras, em termos do total do número de células na cultura, os 300 L do SLCA (pelo método estacionário) correspondem a 9.000 L de culturas

produzidas nos tanques. O SLCA implantado no Laboratório de Cultivo de Algas (Figura 1) consiste de duas plataformas inclinadas (vidro temperado), onde o fluxo da cultura é constante e regulado (bombas submersas com ajuste da vazão). O SLCA tem um sistema de monitoramento automatizado em tempo real (APEX - Neptune Systems) do pH, da temperatura e da radiação fotossinteticamente ativa (“PAR”) e que permite o controle do pH da cultura pela injeção de CO2 sob demanda. Além dos parâmetros medidos de forma automática, e visando a modelagem matemática e o estabelecimento das relações entre os fatores físicos, químicos e biológicos envolvidos no processo de cultivo, são amostrados diariamente: densidade celular (para determinar as distintas fases da curva de crescimento), biomassa, turbidez, oxigênio disolvido, clorofila (indicativo do estado fisiológico das células – fotoinibição, por exem-

plo) e concentração de N e P (para determinar a assimilação dos nutrientes e a reposição destes quando necessária). Os resultados obtidos nas culturas desenvolvidas no SLCA da UFSC indicam a superioridade deste sistema de cultivo em relação à produção das microalgas em tanques, sendo que estes também foram superiores a muitos resultados reportados na literatura em cultivos desenvolvidos em fotobiorreatores. As pesquisas realizadas no Laboratório de Cultivo de Algas estão em processo de publicação e os interesses estão voltados à implantação de outro SLCA, com maior volume, nos ajustes das condições no processo de cultivo, no estabelecimento e na comparação dos custos de implantação e de operação, bem como nos testes para identificar as espécies de microalgas que podem ser cultivadas neste sistema de produção.

© Roberto Bianchini Derner Figura 1. Sistema Laminar de Cultivo de Microalgas (SLCA) implantado no Laboratório de Cultivo de Algas - LCA, da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Muito prazer, Panga BR Jéssica Brol Aquaculture Brasil jessica@aquaculturebrasil.com

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“Panga BR” é o nome adotado para o pangasius que recentemente vêm sendo cultivado no Brasil. A espécie, Pangasius hypophthalmus, é a mesma criada de forma intensiva em cerca de dez províncias do Delta do Rio Mekong, Vietnã. No Brasil esse peixe tornou-se conhecido a partir de 2009, não pelo seu cultivo em terras brasileiras, mas quando o País começou a importar toneladas de filés do Sudeste Asiático. Atualmente importamos cerca de 70 mil toneladas de filés, enquanto a Europa importa outras 180 mil toneladas anuais. Com um preço acessível, além de uma carne macia e sem espinhos, o panga foi bem aceito não só no mercado nacional, mas também em centenas de outros países. A espécie vietnamita é exportada

para mais de 138 países, incluindo mercados exigentes como Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Austrália. Com uma área similar ao Estado do Maranhão (cerca de 331 mil km²), atualmente o Vietnã produz 1,2 milhão de toneladas de panga, 34% a mais do que todo volume produzido pela piscicultura brasileira em 2017 (791,2 mil ton.). Em 2016, a área de produção de panga no Vietnã era de 5.547 hectares. Estima-se para 2020 uma área entre 7.600 a 7.800 hectares, ou seja, a criação da espécie cresce de vento em popa nesse país. Do ponto de vista zootécnico, o panga é uma excelente espécie para aquicultura, em razão de algumas características:

• Não necessita de altos índices de proteína na ração, pois tem o hábito alimentar onívoro, assim como a tilápia, alimentando-se de todo o tipo de alimento (plânctons, frutos, pequenos invertebrados, entre outros); • Tem respiração aérea facultativa, diminuindo a dependência por oxigênio dissolvido na água e permitindo altas densidades de estocagem; • Em condições ideais atinge 1,0 kg em seis meses; • Possui alto rendimento de filé, de 35 a 45%. Tendo em vista todo este potencial, tanto de desempenho zootécnico da espécie quanto de mercado, a criação de panga despertou o interesse de produtores pelo Brasil. Ao final de 2016 o Estado de São Paulo foi o primeiro a regularizar o cultivo da espécie, através do Novo Decreto Paulista. Ressalta-se que a permissão é somente para cultivo em viveiros escava-

dos ou de alvenaria, ou seja, a espécie não pode ser criada em tanques-rede no Estado de SP. No âmbito do Novo Decreto Paulista, o panga entrou em uma lista de diversas espécies aquáticas exóticas, cultiváveis nas bacias do estado de São Paulo, divulgada pelo Instituto de Pesca (IP).

ABC Panga Após o Decreto Paulista, a união entre piscicultores do município de Araras, interior de São Paulo, em parceria com o Grupo de Estágios e Pesquisas em Monogástricos (GEPeM) da UFSCar/Araras e da empresa produtora de alevinos, Colpani Piscicultura, formou-se a Associação Brasileira dos Criadores de Pangasius (ABC Panga). A associação tem por objetivo fortalecer a cadeia produtiva do pangasius com trabalhos de pesquisa, divulgação de informações, assistência aos produtores e interessados. Neste contexto, já foram organizados um workshop, um dia de campo no estado de São Paulo e duas reuniões técnicas, uma em

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São Paulo e outra no Rio Grande do Norte, estado interessado em regularizar o cultivo da espécie. Outro objetivo da associação é aproximar o produtor dos interessados em adquirir o produto, como as grandes redes de supermercado, por exemplo. A associação defende que o panga cultivado no Brasil não irá interferir no mercado de outras espécies já cultivadas no País, uma vez que todo o ano entram toneladas desse peixe, importadas de outros países. Sendo assim, a espécie já está introduzida no mercado há cerca de 10 anos e a ideia é suprir o mercado da importação com o panga produzido nacionalmente.

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Figura 1. Resíduos dispostos em uma pilha de compostagem.

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Cultivos em São Paulo A equipe da Aquaculture Brasil viajou até Mococa, município da região Nordeste Paulista, para conferir como andam os trabalhos com o pangasius. Martinho Colpani, que atua na área da piscicultura desde a década de 80, é um dos produtores de alevinos e entusiastas do setor. Ele comenta que a produção de alevinos já é uma etapa tecnicamente dominada. Através de indução hormonal é possível fazer a reprodução da espécie de forma semelhante às demais do gênero. Atualmente o preço do alevino varia entre R$ 0,60 a R$ 1,20 a unidade. Entretanto, a intenção é reduzir este valor cada vez mais, a medida em que a demanda e o volume de venda/produção aumentem. Quanto a genética, Martinho explica que é um processo constante, desde que iniciaram com a alevinagem tem se buscado melhorar os lotes, separando e identificando através de chips os peixes de melhor de-

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sempenho. Os peixes Atualmente o utilizados como repropreço do alevino dutores foram obtidos varia entre R$ antes da portaria do 0,60 a R$ 1,20 a uniIBAMA proibir a imdade. Entretanto, a portação da espécie viva, uma vez que já intenção é reduzir este entrava no país para valor cada vez mais, a cultivo ornamental. medida em que a de Sobre o manda e o volume de interesse nesta nova venda/produção espécie, Martinho aumentem. Colpani, que também é vice-presidente da ABC Panga, estima que entre produtores e interessados, o número chega a 200 pessoas, somente no Estado de São Paulo.

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Dados zootécnicos Quanto ao crescimento, alevinos a partir de 20 g atinge 1,2 kg em 7 meses, através de uma conversão alimentar de 1,6:1. A produtividade ainda é baixa, de 10 a 50 toneladas/ha, quando comparada ao Vietnã, que produz até 600 toneladas/ha, mas já pode ser considerada satisfatória. Quanto à temperatura, Martinho comenta que a espécie tem sobrevivido em água com temperatura de até 15°C. O fato da espécie possuir respiração aérea facultativa permite que o uso de aeradores seja reduzido. Esse portanto, é um ponto positivo da espécie, sobreviver em níveis muito baixos de oxigênio dissolvido na água. Assim, caso haja algum problema no sistema elétrico

da propriedade e falte energia, o produtor não precisa se desesperar, pois teria entre 24 a 48 h para conseguir normalizar a situação, sem perdas no cultivo. Outra vantagem, é que a ração mais produzida no Brasil é justamente para peixes onívoros, com 28 a 32% de proteína bruta na formulação. Assim, o produtor que já cultiva outras espécies e está iniciando com o panga, não precisa procurar uma ração específica. No Vietnã se utilizam rações na fase de engorda com até 24% de proteína, dessa forma, o peixe acaba armazenando uma maior quantidade de gordura, como pode ser verificado nos filés importados.

Na gôndola O Panga BR já esteve presente nas gôndolas dos supermercados de São Paulo, entretanto não na forma de filé (corte comumente importado do Vietnã), mas vendido inteiro, in natura. A ideia é que o consumidor conheça a espécie, desmistificado um pouco da imagem desse peixe, que já sofreu com alguns mitos, especialmente os hoaxes divulgados pela internet. Posteriormente o panga BR também será oferecido no mercado na forma de filé. Contudo, o filé que chega ao Brasil sofre processos químicos para que seja clareado, deixando-o com a coloração mais branca. A associação comentou que o Panga BR não passará por esse processo químico, tornando-se um outro diferencial frente ao peixe importado.

O futuro

© Jéssica Brol

A intenção da associação, junto com a UFSCar-Araras é continuar produzindo conhecimento e gerando tecnologias produtivas para a espécie. Em breve deverão ser divulgados os resultados de alguns experimentos em andamento, incluindo a tolerância do panga à salinidade, demanda vinda do Rio Grande do Norte, que pretende utilizar a espécie nas fazendas de carcinicultura atingidas pela Síndrome da Mancha Branca, onde os produtores estão parados ou trabalhando em baixas densidades. Além disso, a ABC Panga está auxiliando a estruturação de uma cooperativa formada por pequenos produtores, com sede em Araras (SP). Esta cooperativa pretende ser uma ferramenta para otimizar a compra dos alevinos, ração e demais insumos a preços mais baixos, e também agilizar a logística de venda do produto final. Com algumas espécies já consolidadas na aquicultura brasileira, o Panga BR também pretende figurar entre elas, contribuindo para geração de renda ao pequeno, médio ou grande produtor. É uma nova aposta do “aquanegócio”, em um novo momento da aquicultura brasileira. Muito prazer, Panga BR

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Construções de viveiros para piscicultura comercial - parte III Prof. Dr. Carlos Eduardo Zacarkim Programa de Pós-graduação em Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura Universidade Federal do Paraná - UFPR/Setor Palotina zacarkim@ufpr.br

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Construção de Viveiros

Unidades de cultivo destinadas a produção intensiva de pescado devem apresentar características que facilitem predominantemente o manejo e a rotina das operações durante o ciclo de cultivo, por isso, alguns princípios devem ser observados na elaboração de novos empreendimentos aquícolas. A padronização dos lotes de cultivo é a palavra chave e o desejo das unidades de processamento, objetivando peixes com uniformidade de peso, tamanho, tempo de cultivo e sanidade. Tais características desejadas são independentes da variedade do peixe ou espécie cultivada, que podem mudar de acordo com cada

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região. Nos artigos anteriores foram abordados alguns aspectos considerados relevantes, como a quantidade de água necessária em projetos (demanda hídrica) e os elementos a serem observados na escolha de áreas para novos empreendimentos. Neste capítulo, iremos abordar questões relativas ao layout, tamanho e forma dos viveiros consideradas pertinentes, com foco na padronização e uniformidade dos lotes de cultivo e que podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso, ou melhor, entre o lucro e o prejuízo dos novos projetos.

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Layout

Por definição, layout é compreendido como uma “forma” ou “formato” da área a ser construída. Trata-se, portanto, não apenas de um simples “desenho” da área, mas do planejamento do espaço físico com a finalidade de obter acessibilidade e facilitar as rotinas de produção com a espacialização das unidades produtivas, como viveiros, galpões, silos, alimentadores, redes de alta e baixa tensão e sua circulação durante o ciclo produtivo. O planejamento do layout de uma piscicultura

comercial visa assegurar a máxima utilização do espaço, além da diminuição dos locais de áreas obstruídas, aumento da eficiência da mão de obra, redução de custos de implantação, durabilidade da estrutura e contínua segurança do pessoal e da produção do pescado. Desta forma, excluindo-se as particularidades pontuais de cada área, no layout de um empreendimento o profissional deverá atentar para pelo menos, 4 aspectos a serem observados:

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Melhor aproveitamento da área

Parece óbvio em um empreendimento cujo objetivo é a maior produção de pescado, que quanto maior for a área em lâmina de água, maior será o lucro obtido. Entretanto, é relativamente comum encontrar projetos inexecutáveis, ou seja, projetos em que não é permitido a construção do que está proposto no papel devido as falhas no planejamento. No emprego do layout planejado, rotineiramente são “esquecidos” os espaços para alimentação dos peixes, operações de despesca e manejo, angulação e inclinação dos taludes, inclinação e construção de canais de drenagem e abastecimento, lagoas de decantação, entre outras áreas que, por vezes, ficam limitadas sua expansão pelas áreas de preservação permanente ou de reserva, fazendo com que a proposta original do projeto seja alterada na implantação. Conforme já mencionado, a padronização da unidade produtiva é fundamental, observado claro, as devidas particularidades. Neste sentido, quanto mais uniformes ou “iguais” forem os viveiros, melhor e mais fácil a sua operacionalização. Se todos os viveiros em uma unidade produtiva forem exatamente iguais em tamanho, formato e profundidade, excetuando-se alguma demanda específica da unidade de processamento de pescado, iguais também serão a densidade de estocagem, quantidade de alimentação diária, forma de manejo e controle sanitário. Neste raciocínio, se todos os viveiros forem iguais em tamanho, densidade de estocagem e alimentação, a conversão alimentar teoricamente também será, assim como a calagem, profiláticos, controle da qualidade de água etc., desde que trabalhados com a mesma espécie. A padronização dos viveiros implicará na redução das falhas no processo produtivo, visto que o funcionário terá uma única rotina de tratamento e controle sanitário para todo o empreendimento, facilitando inclusive a visualização rápida de possíveis distorções ou queda de produtividade em ganho de peso ou conversão alimentar em algum viveiro, visto que na “teoria” todos eles serão iguais. Evidente que o layout depende em primeiro lugar do tamanho e formato da área disponível para a implantação do projeto, pois cada área tem suas particularidades e cada projeto é singular. Dessa forma, independentemente do tamanho da área ser igual de uma propriedade para outra, nem todos os empreendimentos podem receber o mesmo tamanho de viveiro ou uma unidade considerada “padrão”, pois além do formato da área, os aspectos topográficos do relevo, o tipo de solo e a demanda hídrica, podem gerar algumas restrições relativas a construção e implantação do projeto, como por exemplo, tamanho dos viveiros e largura das taipas que devido a mecânica dos solos (compactação, resistência, coeficiente de percolação etc.) diferem em cada caso.

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Aproveitamento da infraestrutura existente

Conforme comentado no artigo anterior, a simples transferência de uma rede elétrica para atender as necessidades do projeto planejado, dependendo do porte do empreendimento, podem custar de 5 a 20% do custo do total da obra. Na concepção do layout de um empreendimento o profissional deverá atentar para a infraestrutura existente como estradas, redes de alta e baixa tensão, além da dinâmica do próprio terreno para instalações de silos, depósitos etc., evitando gastos desnecessários com movimentação de terra ou relocação de estruturas.

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As restrições ambientais

O licenciamento ambiental de novos empreendimentos que permitirão a instalação e construção dos viveiros e demais estruturas destinadas ao cultivo, podem ter a área disponível alteradas ou mesmo reduzidas devido a restrições do órgão legislador. Estas limitações podem ser na forma de captação de água, como a impossibilidade de barramento para elevação do nível da água (alteração da cota de captação), acesso para instalação de bombas ou canais de derivação ou mesmo instalação e ampliação de lagoas de decantação obrigatórias em alguns estados. Árvores e bolsões de vegetação nativa mesmo que “isolados”, também podem impossibilitar a ampliação da área de cultivo ou mesmo alterá-la drasticamente. Desta forma, no planejamento do layout o profissional deverá ater-se não só a área disponível para confecção do projeto, mas aos aspectos legais do mesmo, tomando como base o código florestal e demais portarias e instruções normativas vigentes no âmbito da aquicultura que podem mudar de acordo com cada estado.

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Segurança

Em uma situação ideal e desejável esta não seria uma preocupação para novos empreendimentos, entretanto, não é a realidade. Unidades produtivas próximas a estradas principais ou secundárias ganham em logística, mobilidade e facilidade de acesso, mas perdem com os riscos de roubo e vandalismo. Não são raros os casos de furto de peixes cujo o acesso é facilitado por veículos de carga, visto que os peixes já estão treinados e mansos com a rotina de alimentação diária e a sua captura torna-se facilitada. Neste caso, cercas e telas de proteção devem ser previstas na instalação do empreendimento, assim também é possível evitar a presença de possíveis predadores indesejáveis como jacarés, ratos de banhado, lontras e outros roedores.

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© Carlos Eduardo Zacarkim

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Tamanho e forma dos viveiros

Conforme mencionado, em empreendimentos aquícolas dificilmente podemos replicar uma unidade produtiva considerada padrão ou modelo a ser seguido, visto as particularidades de topografia, solo e água mudarem de área para área, pois o custo de implantação seria elevado ou mesmo impraticável em alguns casos para reproduzir o mesmo projeto em outra área com características diferentes. Neste sentido, compete ao profissional no planejamento do layout ajustar as características relevantes da unidade padrão, para a realidade da área a ser construída, observando as particularidades e as ajustando a luz da legislação vigente. Mas então qual seria o tamanho ideal para viveiros em uma piscicultura comercial? Este certamente é um ponto de controvérsia entre os profissionais e que dificilmente gerará consenso, mas penso não ter um tamanho ou área ideal para viveiros comerciais. A lógica na engenharia do processo é balizar os projetos primeiramente pela topografia e de forma secundária, mas não menos importante, pelas rotinas de alimentação e operacionalização. Assim, a topografia é a base do processo, pois considerando viveiros com uma mesma área, mas com formatos diferentes, como por exemplo 50m x 160m e 40m x 200m, podem gerar diferenças em movimentação

de terra, dependendo do perfil e inclinação do terreno de até 100%, fazendo com que o custo da obra seja significativamente elevado. O criterioso estudo do terreno e o emprego dos cortes e seções com base no layout proposto são fundamentais para o bom profissional e a redução dos custos de implantação do projeto. Desta forma, se a área não é padrão em viveiros comerciais, o formato pode ser variável, sendo norteado pelas rotinas de alimentação e operacionalização. Pela matemática pura e simples, quanto mais próximo do formato quadrado, menor será o perímetro do viveiro, portanto, menor o volume de terra necessário a ser movimentado. Viveiros menores geram maior movimentação de terra devido ao aumento no número de taipas e, consequentemente, tornam-se mais caros e com redução da lamina de água. Neste sentido, a forma de alimentação empregada no projeto pode balizar o formato do viveiro. Se no empreendimento se planeja trabalhar com alimentadores automatizados, sejam instalados na tomada do trator ou flutuantes no viveiro, em geral o raio de lanço da ração é de 30 metros. Neste caso, de nada adianta construir um viveiro de 70 metros de largura, se o alcance da alimentação será de 60 metros. Se a alimentação não é uniforme no viveiro, dificilmente o crescimento também será. Logo, independente da área, viveiros muito largos não só dificultam a alimentação, como também o manejo e a despesca, visto que se a despesca for manual, demandará um aumento no número de pessoas envolvidas. Em geral, equipes de despesca cobram entre R$ 0,10 a R$ 0,30 centavos por quilograma (kg) despescado, dependendo do número de pessoas envolvidas e o tempo necessário para tal tarefa. Para uma piscicultura comercial o ideal é ter todos os viveiros iguais, independentemente do tamanho ou forma, mas caso a padronização de toda área não seja possível em virtude do formato da área da propriedade, deve-se ao menos, padronizar a largura dos viveiros. Se todos os viveiros possuírem a mesma largura, o mesmo número de pessoas na despesca e os mesmos equipamentos (tralhas/redes) serão utilizados. Isso reduz custo com equipes extras de despesca e facilita o manejo ao longo do cultivo (Figura 1). Desta forma, o emprego do layout pode ser planejado pelo objetivo a ser alcançado no empreendimento, seja engorda, alevinagem ou misto, sendo norteado pela topografia e rotinas de operação como alimentação e despesca. Para o próximo artigo, iremos abordar os aspectos construtivos em empreendimentos aquícolas, como movimentação de terra e sistemas de abastecimento e drenagem.

Figura 1. Projeto de viveiros para piscicultura comercial.

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© Jéssica Brol

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Streptococcus agalactiae:

um velho e indesejável conhecido ressurge com novidades Cesar Toshio Facimoto Roberta Torres Chideroli

Universidade Estadual de Londrina

Santiago Benites de Pádua

Aquivet Saúde Aquática

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Ulisses de Pádua Pereira

Professor adjunto do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva Coordenador do Laboratório de Bacteriologia de Peixes-LABBEP Universidade Estadual de Londrina upaduapereira@gmail.com

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A estreptococose é uma doença que afeta pisciculturas de todo o mundo, causando perdas econômicas devido aos altos índices de mortalidade. Trata-se de uma “velha conhecida” de quem trabalha com a produção de tilápias no Brasil, pois seus primeiros relatos no país surgiram por volta de 2004. A doença geralmente se manifesta em peixes na fase de engorda, período em que o produtor já investiu muito em alimentação e manejo dos animais. Surtos com elevada mortalidade estão relacionados com elevação da temperatura da água (o que caracteriza-a como uma doença de maior frequência no verão), alta densidade e a não vacinação dos animais. O tratamento com antibióticos é uma alternativa usada apenas em último caso (emergencial) e pode auxiliar na redução dos prejuízos dos produtores. Contudo, o uso indiscriminado de antibióticos é totalmente não recomendado. O ideal é sempre trabalhar com medidas preventivas de manejo, vacinação e produtos que estimulem o sistema imune dos peixes, como por exemplo, pré e probióticos. Adicionalmente, existem dúvidas se o tratamento com antibióticos são 100% eficazes, pois apesar de geralmente cessarem a mortalidade,

existe a chance da bactéria continuar viva no organismo dos peixes e/ou ficar aderida às estruturas das gaiolas e fundo dos tanques, o que chamamos de biofilme. Bactérias que produzem biofilme se aderem à superfícies sólidas podendo permanecer vivas por longos períodos e com isso, após o término do tratamento com antibiótico, infectar novamente os peixes fazendo a mortalidade voltar (Figura 1). A formação de biofilme dificulta a desinfecção das instalações e equipamentos, pois o biofilme protege as bactérias de produtos desinfetantes através de formação de camadas de microrganismo, com isso, algumas dessas bactérias não são alcançadas pelo produto. Essa habilidade da nova cepa de Streptococcus agalactiae do sorotipo III (descrita no Brasil pela primeira vez por nossa equipe, sendo o tema central deste artigo) justifica a recorrência da doença mesmo após o vazio sanitário e desinfecção dos tanques. Além disso, faltam protocolos para o tratamento desta doença, assim como estudos com informações de monitoramento de todo o país mostrando que os dados de resistência aos antibióticos já encontrados são escassos. Em casos recorrentes, o produtor deve realizar programas sanitários, como por exemplo, vazio

O tratamento com antibióticos é uma alternativa usada apenas em último caso (emergencial) e pode auxiliar na redução dos prejuízos dos produtores. Contudo, o uso indiscriminado de antibióticos é totalmente não recomendado.

sanitário por maior período, com remoção e limpeza dos tanques, lavagem e desinfeção dos equipamentos e repovoamento (adquirindo formas jovens de produtores que monitorem com frequência por meio de diagnóstico laboratorial o plantel). Fatores como qualidade da água, nutrição e manejo incorreto também podem favorecer a instalação da doença. Para evitar que a doença retorne ou entre em um criatório, medidas prevetivas como a vacinação e a aquisição de alevinos monitorados por diagnóstico laboratorial são essenciais. Contudo, atualmente são poucos os larvicultores que realizam frequentemente o monitoramento laboratorial.

Figura 1. Microscopia eletrônica para visualizar a formação de biofilme de Streptococcus agalactiae do sorotipo III (a) e do sorotipo Ib (b).

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Novo sorotipo de S. agalactiae Em dezembro de 2016, um surto de estreptococose em seis pisciculturas em tanques-rede no nordeste brasileiro, revelou um novo sorotipo de S. agalactiae, nunca encontrado no Brasil. No mundo todo, dez sorotipos já foram identificados em humanos, bovinos, peixes, dentre

outros hospedeiros. Neste surto especificamente, a bactéria isolada foi caracterizada como sorotipo III. Com o aparecimento desse sorotipo surgem questionamentos a respeito da forma como este novo sorotipo entrou no país e como esta situação é alarmante:

© Santiago Benites de Pádua

Os peixes tiveram contato com a bactéria de outros animais (principalmente aves migratórias e animais aquáticos selvagens) ou ser humano e esta conseguiu infectar/adaptar aos peixes;

Falhas nas barreiras sanitárias (diagnóstico laboratorial rotineiro nos criatórios de alevinos) em polos produtores permitiu a entrada da bactéria em locais onde ela não estava presente;

A falta de controle e/ou monitoramento deste novo sorotipo pode levar a sua disseminação para outras regiões causando prejuízos econômicos e para a saúde pública, pois esta bactéria multirresistente a drogas pode vir a infectar o ser humano.

Deve-se lembrar que este novo sorotipo de S. agalactiae foi identificado por nossa equipe apenas em uma região do país e até o momento esta bactéria não foi encontrada em outros polos produtores de tilápia. A vacina atualmente comercializada no país não protege contra este sorotipo da bactéria, sendo portanto fundamental o monitoramento por diagnóstico laboratorial da estreptococose em todo o país. O sorotipo III é de grande importância para a

Figura 2. Peixes infectados com Streptococcus apresentam exoftalmia (uni ou bilateral) com panoftalmite purulenta (a), e exoftalmia com hemorragia ocular (b ).

saúde animal e humana. No homem, a sua manifestação tende a ser bem severa principalmente em recém nascidos e idosos. Estudos já demonstraram que este sorotipo pode infectar diferentes espécies, podendo ser transmitida de humanos ou bovinos infectados, para peixes. Esta plasticidade característica do sorotipo III leva a suspeitar que este agente esteja causando doença em peixes nativos e em animais nas redondezas do tanque-rede, que por sua vez, ajudam a espalhar a doença.

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Métodos de tratamento O tratamento para S. agalactiae no Brasil ainda possui muitas limitações, sendo apenas dois antimicrobianos (florfenicol e oxitetraciclina) liberados para o uso na tilapicultura. A oxitetraciclina ainda tem o uso controverso no tratamento da estreptococose, pois alguns estudos afirmam que este antimicrobiano só promove a cura clínica durante o tratamento, mantendo ainda o estado de carreador assintomático em tilápias infectadas. Essa variante isolada no nordeste apresentou um perfil de resistência para uma vasta maioria de antimicrobianos conhecidos, como: norfloxacina, ampicilina, aminoglicosideos, fluorquinolona, sulfametazole

com trimetroprim e tetraciclina. Neste mesmo teste, o florfenicol, antimicrobiano geralmente utilizado para o tratamento de estreptococose, foi um dos antimicrobianos que este sorotipo novo da bactéria foi sensível (Tabela 1). A vacinação dos peixes é uma estratégia de prevenção de doenças na piscicultura, incluindo a estreptococose. Entretanto, ainda faltam informações a respeito da proteção múltipla para vários sorotipos de S. agalactiae, pois a vacina atual contém apenas sorotipo Ib (mais prevalente no Brasil). Portanto, mesmo com a vacinação dos peixes contra estreptococose, a propriedade pode

ainda estar vulnerável a outros sorotipos de S. agalactiae. Como é o caso do surto ocorrido no nordeste, onde os animais foram vacinados com a vacina disponível comercialmente no país (que protege apenas contra o sorotipo Ib) e mesmo assim tiveram a infecção pelo sorotipo III. Neste caso, seria importante desenvolver uma vacina para os produtores dessa região que utilize a mesma variante isolada neste surto. Além disso, avaliar a viabilidade da produção de uma vacina bivalente, ou seja, uma vacina que proteja contra ao menos estes dois sorotipos de S. agalactiae (sorotipo Ib e III).

Tabela 1. Susceptibilidade aos antibióticos das amostras de S. agalactiae do sorotipo III isoldas de 6 fazendas de tilápias no nordeste do país.

´

G

F

F

F

P F

* S – sensível, R – resistente.

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F

F

F


cONCLUSÃO Surtos de doenças na piscicultura devem ser melhor monitorados, com acompanhamento de técnicos competentes os quais sempre poderão tomar as medidas mais adequadas para reduzir os prejuízos dos produtores. Tratamentos com antibióticos sem a indicação de um técnico es-

pecializado devem ser evitados, pois somente um profissional capacitado saberá da viabilidadade, dosagem e instruir corretamente o produtor. Além disso, é importante que os técnicos de campo enviem amostras para diagnóstico laboratorial, para que seja possível manter um monitoramento

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epidemiológico constante das doenças recorrentes. Assim, é possível saber de forma mais rápida quando uma bactéria mais resistente a antibióticos ou uma nova bactéria surgir, causando prejuízos a produção nacional de peixes.

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Kafta de camarão:

alternativa de novos produtos à base de pescado

Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC) Centro de Ciências Agrárias (CCA) Departamento de Ciências Animais (DCA) Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com

O abastecimento mundial de pescado tem crescido constantemente nas últimas décadas, superando o crescimento da população mundial; e com o aumento gradativo da população mundial, a necessidade em desenvolver novos produtos à base de pescado tornou-se uma atividade cada vez mais explorada. Como alternativa para fa-

Fernanda Juliane Alves de Paiva Engenheira de Pesca, LAPESC/DCA/CCA/UFERSA Mossoró, RN, Brasil fernandajuliane.paiva@hotmail.com

vorecer o consumo e atribuir a importância do pescado na alimentação, a cada dia, novos produtos estão sendo elaborados usando como matéria-prima, o pescado. E, um modo de estimular esse consumo, é inovando em novos produtos e inserindo-os no mercado consumidor de forma estratégica, como a kafta de camarão, objeto do

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presente estudo, que trata-se de um produto alimentício de influência árabe, que evidencia a intensidade em seus condimentos (característico desse produto), e inclui um tipo de pescado com aceitação de mercado bastante ampla, como o camarão marinho de cultivo.

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Materiais e métodos Desenvolvimento da kafta tradicional e kafta de camarão Como grande parte dos consumidores desconhecem ou não tem o hábito de consumir a kafta, decidiu-se desenvolver a kafta tradicional e a kafta de camarão (Figura 1) como forma de comparação na análise sensorial. A primeira etapa consistiu na pesagem da carne bovina (cálculo do rendimento), seguido da moagem e refrigeração (5ºC). Os camarões (Litopenaeus vannamei), obtidos na empresa Pescados Litoral Leste, localizada em Aracati (CE), foram acondicionados em caixas isotérmicas (gelo 1:1), transportados para o Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC/UFERSA) em

Mossoró (RN), lavados, pesados, descascados, lavados novamente, realizada a moagem, embalados a vácuo, e mantidos sob refrigeração (5°C) até o início do desenvolvimento do produto. Na segunda etapa foi feita a separação e pesagem dos condimentos (sal, cebola, alho, salsa, hortelã, azeite, pimenta síria, tripolifosfato de sódio e glutamato monossódico). Em seguida, as carnes moídas foram misturadas primeiramente com NaCl (extração das proteínas miofibrilares, solúveis em solução salina e as principais responsáveis pela liga da carne, firmeza e estabilidade à massa) seguido dos demais ingredientes até a completa

A

homogeneização. A terceira etapa consistiu no descanso da massa sob refrigeração (5ºC – 8h), seguido do porcionamento (100g), moldagem (cilíndrica no palito) e armazenamento sob refrigeração (5ºC) até o momento das análises físico-químicas e sensorias. A quarta etapa consistiu do teste de cozimento (tempo de cozimento) em forno (230°C) por 30 minutos (até atingir a temperatura interna de 75°C - Figura 2).

B

Figura 1. Etapas do desenvolvimento da kafta tradicional (a) e kafta de camarão (b).

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Figura 2. Teste do cozimento e preparo das kaftas (tradicional e camarão) para a análise sensorial.

Análises Os camarões foram pesados após cada etapa do processamento (inteiro, descabeçado, descascado, moído), após a incorporação dos ingredientes, e durante o porcionamento da kafta, para o cálculo do rendimento. Amostras do camarão in natura, da massa da kafta crua e da kafta assada, foram avaliadas físico-química e microbiologicamente de acordo com metodologia oficiais. As kaftas foram também avaliadas sensorialmente com provadores não treinados (n=

50), utilizando o Teste de Diferença do Controle ABNT-NBR 13526 para avaliar se existe diferença entre a kafta de camarão quando comparada a kafta tradicional. Utilizou-se também o Teste de Aceitação Global com escala hedônica estruturada em nove pontos que variam desde “gostei muitíssimo” até “desgostei muitíssimo” para avaliar a aceitação da kafta de camarão. O índice de aceitabilidade foi calculado considerando como 100% o máximo de pontuação alcançada

pelas diferentes formulações testadas na pesquisa e o critério de decisão para o índice ser de boa aceitação é no mínimo de 70%. Foi avaliada ainda a intenção de compra em relação ao produto desenvolvido (kafta de camarão) utilizando o Teste de Escala de Atitude estruturada em sete pontos que variam de “compraria sempre” até “nunca compraria”. Por final, foi feita a análise de custo baseado nos valores comerciais de cada ingrediente.

de 5 kaftas com 100g. Os custos com a matéria-prima e insumos foram calculados de acordo com seus valores comerciais. A estimativa de custos sobre o camarão foi de R$ 20,84/kg de produto pronto, indicando um baixo custo de produção, R$ 2,08/kafta contendo 100g cada, sendo esta uma boa porção individual por pessoa, viabilizando assim sua comercialização. Os resultados das médias da análise físico-química do camarão in natura e da kafta crua e da kafta assada estão representados na (Tabela 1). Observou-se variação significativa no teor de umidade entre todos os tratamentos. A proteína apresentou-se maior no camarão in natura (24%), do que na kafta crua (11,49%) e na kafta

assada (13,53%). Quanto aos teores de cinzas, o camarão in natura obteve um valor inferior de 1,05%, quando comparado com a kafta crua com 4,3% e a kafta assada com 4,52%, observando aqui um aumento na quantidade do mesmo, devido à incorporação principalmente de sais (NaCl) durante a produção da kafta. Os lipídios não obtiveram variação significativa, apresentando 3,36% no camarão in natura, 3,91% na kafta crua e 5,33% na kafta assada. Na análise dos cloretos, entre os tratamentos apenas o camarão in natura apresentou uma diferença significativa com menor valor de 0,029%, em relação a kafta crua com 0,209% e a kafta assada com 0,169%, sendo justificado pela adição de NaCl durante o desenvolvimento do produto kafta.

Resultados e discussão O descabeçamento do camarão gerou 36,5% de resíduo (rendimento de 63,5%). Isto é esperado principalmente devido a anatomia do camarão, pois suas vísceras estão localizadas na cabeça, sendo o corpo composto apenas de músculo. A etapa do descasque apresentou rendimento de 83,5%, maior que o descabeçamento, em que nesta etapa há a retirada do exoesqueleto, que somados os dois processos serão gerados 47% de resíduos (média encontrada na literatura ~50%). Na etapa de moagem o rendimento foi de 82,1% (perda de 9,5% - carne retida no equipamento de moagem). O produto final (kafta) apresentou um ganho de peso de 117,2 % devido à incorporação de ingredientes na massa, com rendimento final

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Nas análises de frescor (pH, N-BVT e TMA), não houveram diferenças significativas entre os resultados nos diferentes produtos (camarão in natura, kafta crua e kafta assada), estando de acordo com os limites exigidos pela legislação brasileira, demonstrando alto frescor. A legislação brasileira não indica limites para contagem de mesófilos e psicrófilos para o pescado, porém a presença desse tipo de microrganismo serve como referência para mostrar a capacidade de deterioração microbiana de pescado, que reduz a sua vida útil, mesmo a baixas temperaturas. Valores superiores a 106 UFC/g na carne do pescado são considerados críticos com relação ao grau de qualidade, e a população de microrganismos aeróbios no pescado destinados ao consumo humano não devem ser superiores a 107 UFC/g. Os valores de mesófilos com 200 UFC/g presentes na amostra de kafta crua, está dentro dos padrões estabelecidos. Todos os valores encontrados para coliformes termotolerantes, Staphylococcus e Salmonella no camarão in natura, na kafta

crua, estão abaixo dos limites estabelecidos pela legislação. Dessa forma, os resultados das análises microbiológicas só comprovam que o produto desenvolvido, kafta de camarão, durante as etapas de sua produção seguiu devidamente todos os processos e obtenção de qualidade das matérias-primas utilizadas para elaboração da mesma, inserindo as boas práticas de fabricação, oferecendo assim, um produto final com qualidade e segurança alimentar para o consumidor. Na análise realizada pelo teste de diferença do controle, 12% afirmaram que a kafta de camarão estava extremamente melhor comparada ao controle, 68% relataram que o produto de camarão era muito melhor que o controle, e 8% afirmaram que este era regularmente melhor que o controle, e 10% que a kafta seria ligeiramente melhor que o controle, apresentando um grau de aceitabilidade bastante variável e com resultados elevados. Foi extremamente baixo o percentual de rejeição, com apenas 2% dos julgadores considerando este produto ligeiramente pior que o controle, e as demais opções

de rejeição como regularmente, muito pior e extremamente pior que o controle não apresentaram nenhum valor percentual. No Teste de Aceitação Global (aceitabilidade da kafta de camarão) os resultados das notas não apresentaram diferença significativa entre os sexos, em que o maior valor médio foi o feminino (7,79 ± 0,71) e o menor médio foi masculino (7,42 ± 0,97), em relação à média de nota atribuída pelo sexo masculino, na qual se tratavam de 42% de julgadores do sexo feminino e 52% do sexo masculino. Apenas 2% dos julgadores declaram que provavelmente não comprariam este produto, e 10 % enfatizam que talvez compraria/ou não compraria, totalizando 12% de incerteza quanto a intenção de compra e consumo deste produto, embora demonstrando ainda que a aceitabilidade e intenção de compra foi superior com 34% declarando que provavelmente comprariam o produto e 54% afirmando que certamente comprariam o produto, somando assim 88% de aceitabilidade de uma forma geral, o que pode ser confirmado pelo índice de aceitabilidade (IA = 84,4%) do produto.

Tabela 1. Resultados da análise físico-química do camarão in natura e do kafta de camarão crua e assada (média ± desvio padrão; n = 3).

Componentes (n = 3) Umidade (%) Proteína bruta (%) Lipídio (%) Cinzas (%) Cloretos (%) pH N-BVT TMA

Camarão in natura 77,76 ± 0,05a 24,74± 3,51a 3,36± 0,03a 1,05 ± 0,08b 0,029 ± 0,006b 6,92 ± 0,21a 2,13 ± 0,37a 0,47± 0,30a

Kafta crua

Kafta assada

74,72 ± 0,02ab 11,49 ± 3,38b 3,91 ± 0,59a 4,13 ±0,07a 0,209 ± 0,038a 6,87 ± 0,81a 1,9 ±0,62a 0,56±0,12a

72,17 ± 0,12b 13,53 ± 3,36b 5,33± 2,04a 4,52 ± 0,03a 0,169 ± 0,062a 7,01 ± 0,32a 2,1±0,72a 0,57 ±013a

N-NBT: Bases voláteis Totais; TMA: Trimetilamina; Letras diferentes na mesma linha indica diferença significativa (p<0,05).

Conclusão Os resultados permitiram afirmar que a kafta de camarão se mostrou um produto de grande potencial (alto índice de aceitabilidade), que acompanha as mudanças do consumidor contemporâneo. A kafta de camarão apresenta-se como um produto com alto valor nutricional, inovador, e principalmente,

prático e rápido em seu preparo, tonando-se mais uma alternativa de produto à base de pescado, que pode atuar quanto ao incentivo de consumo do mesmo, atraindo o consumo por ser um produto novo, diferenciado dos demais existentes no mercado e por possuir influências de outras culturas, nesse caso, a árabe.

O custo estimado da kafta de camarão indica que sua elaboração pode ser viável, necessitando de um estudo de viabilidade econômica mais aprofundado, a fim de que futuramente esse produto possa ser comercializado.

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos

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B r a s i l m arc a ndo pr e s ença n a Seafood North America 2 0 1 8 Francisco das Chagas Medeiros Diretor Presidente Peixe BR peixando@gmail.com A Seafood North America é sem dúvida o maior evento de promoção e comercialização de pescado das Américas. Um encontro que apresenta dois protagonistas principais: o comprador norte-americano e o vendedor asiático. No meio disto surge todos os demais países que participam, principalmente com expectativa de “abocanhar” um naco deste imenso mercado. A feira a cada ano apresenta formato similar, praticamente com a participação das mesmas empresas, porém, com sutis diferenças de um ano para outro. Este ano alguns pontos são mais gritantes: O tema sustentabilidade;

O tema “sustentabilidade” é apresentado tanto pelas empresas do segmento da pesca, onde é inclusive mais forte, mas também na aquicultura, com um número cada vez maior de empresas com diversas certificações voltadas à temática. Observa-se que a preocupação com a sustentabilidade é uma tendência e o consumidor norte-americano já está valorizando a empresa que consegue transmitir esses valores no momento da compra. A Colômbia está em uma forte campanha de certificação de toda sua produção de tilápia. O país conseguiu observar esse movimento, tornando-se uma política pública e privada quase que obrigatória.

Pouca oferta de panga.

Redução do consumo de panga? No ano de 2017 houve uma redução das importações de panga pelos norte-americanos em decorrência de ações mais rigorosas do FDA e isso foi sentido na feira. Pouquíssimas empresas apresentaram em seus folders a oferta de panga, entretanto, intensificaram a oferta de catfish (Ictalurus punctatus), demonstrando a capacidade dos asiáticos em perceber tendências e tomar decisões, haja vista que o catfish é um peixe americano, ou seja, mesmo produzido na Ásia pode soar melhor ao ouvido do norte-americano comum. Lembrando que o catfish compõe um segmento de filé barato, muito similar ao panga.

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Nos supermercados visitados na região de Boston é significativa a redução do panga nas prateleiras, porém o filé de tilápia continua como destaque nas gôndolas. Essa redução do panga e aumento de catfish pode criar uma janela de oportunidade para o nosso pintado, mas para isso, teríamos que reduzir o custo de produção afim de que esse peixe pudesse chegar ao frigorífico no máximo a R$ 5,50 por kg, um desafio nada fácil, mas não impossível. Isso sem contar as questões de escala, logística, drawback e por aí vai o dever de casa.

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Participação brasileira Este ano em função de uma ação da Peixe BR junto a APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, do Governo Federal), houve a instalação de um pavilhão do Brasil com a participação de sete empresas associadas à Peixe BR: Copacol, Geneseas, Piracema, Peixe Brasil, Friocenter, Tilabrás e Royal Fish. O produto principal ofertado foi a tilápia, mas também oferecemos pintado, pirarucu e tambaqui. O pirarucu continua sendo o peixe que impressiona os chefes de cozinha nos Estados Unidos, contudo, impressiona mais os chefes do que o consumidor nos supermercados. Entretanto, para a esta espécie, continuamos com o velho problema de escala, regularidade e qualidade. Escutamos reclamações de compradores norte-americanos que colocaram o peixe em seu cardápio e não conseguem ter uma oferta regular, lembrando que trata-se de um nicho de mercado, nada de grandes compras, mas de pequenas e regulares aquisições que podem em um futuro apresentar a venda de um container/mês. A nossa tilápia continua a ter uma forte concorrência dos vendedores como Colômbia, México, Equa-

dor, Honduras, etc., que oferecem um filé fresco mais barato, porém, nossos empresários têm mantido o mercado para poder aproveitá-lo logo que se apresente mais rentável.

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Conclusões A Seafood North America é uma feira voltada para o mercado norte-americano, o qual possui maior poder aquisitivo. Em função disto, verifica-se um número muito grande de produtos porcionados e prontos para consumo, com destaque para os empanados e defumados. A APEX nos proporcionou todas as condições para um bom ambiente de negócios, com um stand moderno e assistência impecável. Nas próximas semanas serão consolidados os negócios efetivados pelos vendedores brasileiros, mas houve um crescimento significativo, ou seja, colocamos os pés no mercado norte-americano!

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Voltando para casa nos deparamos com as dificuldades de sempre, com uma máquina governamental que insiste em nos atrapalhar a produzir de todas as formas, principalmente a falta de ação da Secretaria de Pesca e Aquicultura na liberação das cessões de águas da união e do MAPA nos proibindo de exportar para União Europeia. Existe um mundo para ser conquistado e a largada já foi dada, como crescemos em empresas e negócios com relação a feira de 2017, tenho certeza que cresceremos mais ainda em 2019.

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Artigos

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eggs in a single application

A criopreservação de sêmen (congelamento em nitrogênio líquido) é uma técnica que pode trazer inúmeros benefícios, não somente para a conservação da biodiversidade, como também auxiliando a aquicultura através dos programas de melhoramento genético.

Um artigo no formato de short communication publicado em 20 de fevereiro de 2018 na revista Aquaculture (Amsterdam), intitulado “Cryopreserved rainbow trout semen can be used for the fertilization of up to 8000 eggs in a single application”, demonstrou eficiência na fertilização de ovos de truta utilizando sêmen criopreservado. Segundo o manuscrito, a criopreservação do sêmen da truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) resultou em alta mobilidade dos espermatozoides pós-descongelamento (~ 70%). Apesar da grande variabilidade na capacidade de fertilização (29 a 92%), o estudo demonstrou que uma única aplicação de sêmen criopreservado pode fertilizar até 8000 ovos. No Brasil algumas instituições já possuem banco de sêmen de espécies nativas, como a Embrapa Pesca e Aquicultura. O Instituto de Pesca de São Paulo é a única instituição no Brasil a manter um banco de sêmen de peixes marinhos, preservando sêmen de peixes como a garoupa-verdadeira, por exemplo.

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h a r g e s

Fertilizando o vizinho

Piscicultura nas alturas!

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BIOTECNOLOGIA DE ALGAS

Sistemas de Cultivo de Microalgas – Parte III Dr. Roberto Bianchini Derner Laboratório de Cultivo de Algas Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC roberto.derner@ufsc.br

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ontinuando o assunto sobre os métodos de cultivo (autotrófico) usualmente empregados nos laboratórios de aquicultura, além do Método Estacionário ou Batelada (Coluna Biotecnologia de Algas, Aquaculture Brasil, ed. 9, nov.-dez 2017, p. 66-67), alguns laboratórios têm desenvolvido cultivos com a aplicação dos Métodos Semicontínuo ou Contínuo. Em ambos os casos, é indispensável que seja previamente conhecida a máxima densidade celular possível de ser alcançada nas culturas pela aplicação do Método Estacionário, uma vez que assim será possível estabelecer a comparação entre os métodos em termos da densidade celular, biomassa e produtividade volumétrica, considerando as mesmas condições de cultivo (tanque, meio de cultura, temperatura, iluminação etc.). Tanto no Semicontínuo quanto no

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Contínuo, as culturas devem ser iniciadas da mesma maneira do que no Estacionário, porém, uma vez que é alcançada determinada densidade celular (ou biomassa) é feita a diluição da cultura - geralmente realizada na porção final da Fase Exponencial (antes que o autossombreamento tenha efeito pronunciado e/ou possa ocorrer falta de nutrientes, causando limitação no crescimento da cultura e algum estresse). No Cultivo Semicontínuo, em determinado momento do dia é verificado que a cultura alcançou a população adequada para a diluição e, uma parte (20 – 30% do volume, por exemplo) é retirada e é imediatamente reposto o mesmo volume com meio de cultura (água + nutrientes), assim, as células seguem em sucessivas divisões mitóticas. Dependendo da taxa de crescimento da cultura (divisão celular), as diluições são repetidas em intervalos regulares de tempo (2 – 3 dias, por exemplo). A diferença do Cultivo Contínuo é que neste a cultura é diluída permanentemente, ou seja, ocorre durante as 24 horas do dia, sendo mantido um equilíbrio dinâmico entre a constante retirada de cultura e a adição de meio nutriente. Nestes métodos, não existe um prazo predeterminado para a finalização do cultivo, uma vez que nunca é alcançada a Fase Estacionária – as culturas são mantidas permanentemente em Fase Exponencial. O cultivo somente deve ser descontinuado no caso de ocorrer alguma contaminação biológica (bacFigura 1. Curva de ccrescimento (teórica) de uma cultura de microalgas em cultivo do Tipo/Método Semicontínuo. térias, protozoários etc.). Em

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de algum dos nutrientes, respectivamente, sejam relacionados ao Método Contínuo. Nestes equipamentos, um sistema de automação é programado para acionar o processo de diluição pela entrada de meio de nutriente e saída da cultura (por transbordamento), assim, a diluição ocorre somente naqueles momentos em que o sistema de automação considerar adequados para que seja feita a diluição (a cada intervalo de tempo), portanto, discordando de diversos autores, o Turbiostato e o Quimiostato são sistemas de cultivo operados de forma automatizada, porém, pela aplicação do Método Semicontínuo. É fato que poucos laboratórios têm infraestrutura apropriada e pessoal capacitado para o desenvolvimento de cultivos semiFigura 2. Curva de crescimento (teórica) de uma cultura de microalgas em cultivo do Tipo/Método Contínuo. contínuos ou contínuos, porém, existe uma variação do cultivo Estacionário ou Batelaambos os métodos, o volume da cultura retirado a cada intervalo de tempo (Semicontínuo), ou permanentemente da que pode ser facilmente executada e que proporciona (Contínuo), pode ser utilizado para a alimentação dos or- uma considerável melhora da produtividade volumétriganismos cultivados ou pode ser transferido para outros ca naqueles sistemas de cultivo onde não há limitação do recipientes e servir para iniciar novas culturas. A soma crescimento das culturas por conta da iluminação deficido volume das diluições é muito maior do que o volume ente. O método conhecido como Batelada Alimentada original da cultura, bem como, uma vez que a cultura per- (“fed-batch”) é semelhante ao Batelada, porém, a cada inmanece em Fase exponencial, a composição bioquímica tervalo de tempo são adicionados os nutrientes e, em razão da biomassa não sofre grande alterações como ocorre no da manutenção da concentração dos nutrientes no meio, é Método Estacionário, portanto é mantido o valor nutricio- possível alcançar maior densidade celular ou biomassa, e consequentemente uma maior produtividade volumétrica. nal para as espécies a serem alimentadas. Ciente de que as mudanças nos tiram da nossa Cabe esclarecer que a contaminação microbiana também é menos frequente nestes tipos de cultivo, vis- zona de conforto, espero viver o suficiente para visitar alto que a elevada densidade celular resulta na inibição do guns laboratórios que deixaram no passado as “receitas de desenvolvimento de outros micro-organismos. É comum bolo” e investiram na melhoria dos seus sistemas de prona literatura que os equipamentos denominados Turbiosta- dução de microalgas. to e Quimiostato, que monitoram continuamente o crescimento da cultura através da turbidez e da concentração AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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G r e e n Te c h n o l o g i e s Bioflocos para camarões na Ásia:

O que o futuro nos espera? Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano UDESC/ CSIRO - Austrália mauricioemerenciano@hotmail.com

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mista, uma utilização ainda maior de biorremediadores e de suplementos minerais para água e solo por meio de um leque maior de produtos, emprego em maior escala de alimentadores automáticos, melhorias na nutrição com o uso de dietas mais específicas, intensificação do manejo da qualidade de água (principalmente no que se refere ao manejo de sólidos e soluções sobre drenagem de lodos residuais a exemplo dos “shrimp toillets”), reuso da água com aplicação de conceitos da recirculação, maior automação (principalmente na parte da alimentação), entre muitas outras. Obviamente que essas tecnologias não estarão presentes em todas as fazendas asiáticas, mas com a pressão cada vez maior de órgãos ambientais e dos mercados consumidores por meio das certificações, certamente muitas mudanças irão ocorrer a curto e médio prazo. Outro avanço certamente será relacionado a novas linhagens com a criação já em curso de novos “breeding centers”. A escola asiática é rápida e não para. Certamente muita evolução ainda está por vir e por que não se espelhar nos bons exemplos? É ver para crer.

© Maurício G.C. Emerenciano

em sombra de dúvidas a Ásia é o maior berço da carcinicultura mundial. Como costumamos brincar seria análogo ao “Vale do Silício californiano” das startups para o nosso setor no mundo. É o “olho do furação” quando o assunto é produzir camarões marinhos de maneira competitiva e em escala. Mas afinal, em relação aos cultivos em bioflocos, o que esperar desta “meca” para os próximos anos? Quais lições ainda virão de nossos amigos asiáticos? Muita bagagem já trouxemos de lá quando o assunto é o sistema BFT em grande escala. Desde nomenclaturas diversas até o emprego em maior escala das famosas geomembranas, uso de suplementos minerais para água e solo, aplicações mais rotineiras de biorremediadores e probióticos, emprego de viveiros mais profundos, construção de barreiras físicas, uso de peixes como biocontroladores, entre outras aplicações. Mas e o futuro? O que esperar dele? É certo que grandes gargalos exigem grandes soluções. Neste sentido, muitas lições ainda virão do oriente e minhas apostas são no tocante a uma maior compreensão do uso da aeração

Figura 1. Fazenda super-intensiva de camarões marinhos na Indonésia utilizando a tecnologia de bioflocos.

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Empreendedorismo Aquícola Raio-X André Camargo Escama Forte andre@escamaforte.com.br á algum tempo se fala sobre H a deficiência da aquicultura brasileira em relação a seus

números, pois estes nunca foram confiáveis e pouco nos víamos à vontade para falar que realmente representavam nosso setor. Muitas foram as palestras ao redor do Brasil em que grandes autoridades em peixes, camarões, moluscos, etc. citavam a estatística disponível e logo após diziam: “Não sei se este número nos representa”. Planejar sem ter conhecimento exato do que aconteceu é praticamente impossível em qualquer instância, seja em um país, em uma empresa ou até mesmo no ambiente familiar. Portanto, nós aquicultores, sempre lutamos e cobramos dos representantes públicos a tão sonhada “estatística confiável”. Uma vez não vendo movimento concreto para este delineamento pelo setor público, eis que surge a ideia dentro do próprio setor para gerar seus próprios números, assim como já faziam os criadores de camarão. Nasce então a estatística da Peixe BR – Associação Brasileira de Piscicultura. Com a segunda edição do “Anuário Peixe BR da Piscicultura”, mesmo apresentando alguns problemas em sua metodologia, a associação mostra para a sociedade brasileira o número mais aproximado que o Brasil já teve de sua cadeia de piscicultura, um verdadeiro Raio – X. A Peixe BR então, em seu processo de consolidação como grande entidade representativa da piscicultura brasileira, traz a informação para toda a sociedade brasileira e mundial a respeito de nossas ações, premia os piscicultores com os excelentes números publicados e ainda presenteia o poder público, dando-lhes as bases para as tomadas de decisão e construção das políticas públicas setoriais.

Sermos o quarto maior produtor mundial de tilápia é realmente um prêmio, vemos no rosto de todos aqueles que derramam seu suor em cima de escamas, um sorriso sincero quando se deparam com a capa do anuário e vibram com a informação. Uma atividade que produziu mais de 690 mil toneladas de peixe no ano de 2017, que cresceu mais de 8% neste último ano e que vem fazendo com que o brasileiro tenha a possibilidade de consumir mais esta proteína de alta qualidade, merece o respeito de todos os brasileiros. Sabendo que ainda temos muito por fazer devemos neste momento coroar a Peixe BR por seu trabalho e ainda nos empenhar cada vez mais para que todo o setor da piscicultura brasileira esteja junto com ela. Uma associação forte faz a diferença e traz forças aos produtores, indústrias e todos os envolvidos com a produção de peixes em aquicultura. Parabéns Peixe BR e todos que fizeram acontecer o segundo anuário, vocês detonaram!

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NUTRIÇÃO

Soja: herói ou vilão? Dr. Ar tur Nishioka Rombenso Laboratório de Nutrição, Instituto de Oceanografia, Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México. artur.nishioka@uabc.edu.mx

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esta coluna abordarei um tema bastante relevante na nutrição aquícola: ingredientes. Essa será a primeira de muitas colunas sobre o assunto. Conforme mencionei na coluna publicada na 1a edição (jul/ago 2016) da Revista Aquaculture Brasil, “É sustentável a indústria de alimentos aquícolas?” A farinha de peixe é um dos principais ingredientes utilizados na nutrição aquícola. Por ser oriundo da pesca de pequenos pelágicos, é um ingrediente com produção limitada e com preço elevado e instável. Dessa forma, é utilizado de forma criteriosa e seu nível de inclusão nas dietas diminui com o avanço das pesquisas nutricionais. Atualmente existe uma grande variedade de ingredientes alternativos, principalmente de origem vegetal, com preço competitivo e grande

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disponibilidade, para substituir e/ou eliminar a farinha de peixe das formulações aquícolas. A farinha de soja é um dos principais, senão o principal ingrediente proteico alternativo utilizado nos alimentos aquícolas devido ao elevado conteúdo proteico, perfil de aminoácido favorável, preço comparativamente baixo e vasta disponibilidade. Em espécies herbívoras e omnívoras a farinha de soja é utilizada em níveis de inclusão elevados, podendo em alguns casos substituir por completo a farinha de peixe sem afetar o crescimento. O mesmo não é válido para os organismos carnívoros, onde níveis mais agressivos de substituição podem causar redução do desempenho zootécnico e afetar a competência fisiológica dos mesmos. Isso ocorre devido à presença de fatores antinutricionais tais

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como inibidores de tripsina, antígenos, lectina, saponinas e oligossacarídeos, que resumidamente afetam a digestibilidade de proteínas e lipídios (Tabela 1). As respostas frente a esse fatores podem variar de espécie para espécie, com algumas delas sendo mais sensíveis e outras mais resistentes a certos tipos de fatores antinutricionais. Diversas pesquisas são realizadas com a finalidade de buscar estratégias para reduzir e/ou eliminar os fatores antinutricionais presentes na farinha de soja. O concentrado e o isolado de soja são exemplos de produtos tratados onde a maioria dos fatores antinutricionais são minimizados e/ou eliminados. Nas próximas colunas irei tratar esse tema com maior detalhe. Vale lembrar que esses ingredientes são apoiados por uma indústria global bastante agressiva e robusta. O que quero ressaltar é a importância de prestarmos mais atenção no estado de saúde

e bem estar dos organismos criados, pois focarmos apenas em crescimento não é suficiente. Assim, recomendo refletir sobre as seguintes perguntas: será que meu peixe e/ou camarão utilizam a farinha de soja de maneira eficiente? Será que apesar do bom desempenho zootécnico meus organismos estão saudáveis? Qual o nível de farinha de soja nas dietas que utilizo? Será que posso otimizar o nível de inclusão de farinha de soja? Qual a finalidade da farinha de soja na formulação da minha dieta, será que existe uma melhor alternativa? Quero deixar claro que não defendo e nem apoio a farinha de soja. O intuito dessa coluna foi introduzir fatos e informações para um melhor conhecimento desse ingrediente tão relevante na nossa indústria. Agora, recomendo que busquem saber o que contém nas suas dietas para não ter surpresas.

Tabela 1. Exemplos de fatores antinutricionais presentes na farinha de soja e suas consequências nos organismos aquáticos.

Fator antinutricional

Consequências

Inibidores de tripsina

Redução da digestibilidade de proteínas e lipídios

Antígenos

Resposta alérgica e danos intestinais

Lectina

Mudanças morfológicas intestinais afetando absorção de nutrientes

Saponinas

Afetam a palatabilidade do alimento e alteram funções intestinais

Oligossacarídeos

Afetam a utilização de certos nutrientes Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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ATUALIDADES & TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA

PEIXE BR X ABCC Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.; Pesquisador científico da Apta - UPD Pirassununga, SP. sussel@apta.sp.gov.br

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uas entidades que admiro e respeito muito, nasceram com o objetivo de defender os interesses do setor que representam. E assim estão fazendo. Porém, ainda não falam a mesma língua quando os interesses são da nossa aquicultura como um todo. Com um agravante: politicamente atuando em diferentes frentes. Enquanto ABCC defende a criação da nova SEAP/PR, a Peixe BR defende a permanência (ou retorno) no MAPA. Em meio a isto temos o MDIC. Como não bastasse tantas siglas e tantos órgãos para “cuidar” da nossa atividade, todos nos confundem (ou misturam) com pesca extrativa. Assunto polêmico, assunto delicado. Meu lado prudente diz que é melhor não escrever sobre isto. Mas, quem acompanha e conhece meu recente histórico de envolvimento com organismos aquáticos, sabe bem que meu interesse é um só: desenvolvimento da aquicultura brasileira. Exceto quando “puxo a brasa para o meu lambari” (espécie a qual pesquiso), todas minhas ações, meus discursos, .... são voltados, sem qualquer viés e muito menos ideologia política, para o estímulo da produção sustentável de proteína aquática. Além disso, ando intensamente e em igual proporção, tanto pelo universo da carcinicultura quanto o da piscicultura. Converso constantemente tanto com Peixe BR quanto com ABCC. Então, não é que alguém me contou ou recebi informações através de grupos do WhatsApp. Tenho algum conhecimento de causa por constatação própria. Entre o risco de escrever sobre um assunto delicado e esperar pacientemente um desenrolar da situação, prefiro a primeira opção. Alguém me dê uma resposta convincente do por que devemos continuar aceitando este vínculo com pesca extrativa? Se quando converso com as duas entidades representativas ambas são contrárias a isto, por que nenhuma ação concreta é feita? Sendo que este desmembramento da pesca não necessariamente precisa acontecer de modo oficial junto ao ministério que eventualmente estivermos vinculados. Apenas precisamos ter identidade própria! Além de já termos plenas condições pra isto, é algo que só depende nós! E o que

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precisamos para termos identidade própria? Simplesmente sermos reconhecidos como AQUICULTORES. Por incrível que pareça, ao levarmos nossas reivindicações como piscicultores ou carcinicultores, causamos uma grande confusão na cabeça de nossas lideranças políticas. Talvez nem seja pelo fato de eventualmente não saberem a diferença entre um e outro, mas sim pelo fato de haverem tantos interesses envolvidos que simplesmente confundem as coisas. E isto é facilmente notado nos discursos. Portanto, cabe a nós mesmos desenvolvermos ações para deixarmos claro o que é aquicultura. Agora o que me deixa inquieto realmente é o fato de termos duas entidades fortes, devidamente respeitadas por seus associados, porém, traçando diferentes estratégias de políticas públicas para o setor. Por que não uma só voz, por que não uma só entidade representando a aquicultura como um todo. Se não somos tão bem organizados e unidos como deveríamos ser, ao menos deixemos isto entre nós. Mas na hora de pleitearmos nossos anseios, uma só voz é fundamental. Neste sentido, propõe-se uma Associação Brasileira de Aquicultura, com os respectivos conselhos de piscicultura e carcinicultura, bem como os representantes estaduais de cada atividade. Conforme se justificar a entrada de outras atividades de criação de organismos aquáticos, julga-se a pertinência de novos conselhos. Simples? Aparentemente sim, mas na prática tenho alguma noção do quanto pode ser complexo. O fato é que da forma como está, não tem lógica. Ainda com certo desconforto em abordar assunto delicado como este, resta-me a segurança de já ter conversado informalmente com os presidentes de ambas as associações sobre isto. Enquanto um se mostrou favorável e disposto em colocar a ideia em prática, o outro não foi contrário. Ou seja, dialogar é o passo seguinte. No anseio que o primeiro passo seja dado, coloco-me a disposição para colaborar. Só, se vai mais rápido. Juntos, vamos mais longe...

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RANICULTURA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA: FATORES FÍSICOS Dr. Andre Muniz Afonso Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR. andremunizafonso@gmail.com

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ando sequência ao tema “Qualidade da Água” vamos abordar um dos fatores que interferem diretamente na criação de rãs, os parâmetros ou fatores físicos. Eles são assim denominados por possuírem relação direta com as características físicas, ainda que os fatores químicos e os bióticos ou biológicos tenham relação direta com eles. Na verdade, são essas relações que fazem do ambiente aquático algo bastante dinâmico. Os fatores físicos de destaque são: temperatura, transparência e turbidez. A temperatura da água é dos parâmetros mais importantes para a criação de organismos aquáticos. Por serem pecilotérmicos (ectotérmicos ou de sangue frio), os animais possuem estreita relação com a mesma. Normalmente sua temperatura está cerca de dois graus acima daquela apresentada pela água. Dessa forma, todo seu metabolismo está em sintonia com o clima. Se a água está fria a tendência é que apresentem menos atividade, se está quente mais atividade. Os animais pecilotérmicos, por não possuírem mecanismos anatomofisiológicos que consigam reter/controlar a temperatura, bailam conforme a música... ou seja, poupam energia no frio e podem até entrar num estado de leve torpor ou mesmo de hibernação, enquanto que no calor aproveitam para se alimentar, acasalar e se desenvolver (principalmente girinos, chegando mais rápido ao final do processo metamórfico). Cabe lembrar que, os hormônios endógenos envolvidos no processo são os tireoidianos (T3 ou tri-iodotironina e T4 ou tiroxina), também conhecidos como pró-metabolismo, mais produzidos e liberados na circulação sanguínea nos períodos de calor e o hormônio do crescimento (GH ou somatotropina), mais produzido e liberado nos períodos de frio. Na prática, podemos dizer que os girinos crescem mais e retardam sua metamorfose no frio enquanto que no calor crescem menos e metamorfoseiam rápido. Rãs em processo de engorda comem mais e atingem o peso de abate mais rápido no calor, já no frio, seu interesse pelo alimento diminui e podem levar mais tempo para finalizarem este processo. Os reprodutores, como já tratado em outras colunas, aproveitam o calor da primavera e do verão para o acasalamento e deixam o outono e o inverno para o repouso reprodutivo. A transparência pode ser definida como a capacidade da água em permitir a penetração da luz. Muitas vezes confundida com a turbidez, ela está ligada diretamente à produção do plâncton, principalmente de origem

vegetal (fitoplâncton). Portanto, a medida que as algas se proliferam na água, esta vai se tornando cada vez menos transparente (mais esverdeada, normalmente). Por essa razão alguns autores consideram a transparência como sendo um fator biótico. Quanto mais algas mais alimento disponível para o zooplâncton (plâncton de origem animal) e para os animais filtradores, como o próprio girino da rã-touro, que possui hábitos onívoros. Os girinos, ao nadarem, vão filtrando a água em suas brânquias e recolhem tudo que está em suspensão. Tanques com transparência intermediária tendem a propiciar melhor qualidade de vida aos girinos. Para animais pós-metamorfoseados este parâmetro possui pouca importância. Prima-se por água transparente para imagos, rãs e reprodutores. O mesmo vale para a turbidez, que interfere mais na vida do girino e pode ser definida como a concentração de sólidos em suspensão na água. Trata-se de um fator Figura 1. Recipientes com amostras de água mais físico do provenientes de três tanques de girinagem que biológico. O distintos. Notar a diferença em relação à transmelhor exemplo parência da água. é o da água barrenta, quando vemos as partículas de argila suspensas modificarem a coloração da água. Se a água fica em repouso a tendência é que a mesma clareie, pois estes sólidos decantam e permitem, assim como na transparência, maior passagem da luz. Águas turvas são indesejáveis, pois podem provocar entupimento de brânquias nos girinos, impedindo, assim, sua respiração branquial (cabe lembrar que mantém a respiração cutânea). Os valores dos parâmetros recomendados podem ser obtidos diretamente da publicação gratuita “Manual Técnico de Ranicultura”, de Cribb et. al (2013). Para obtê-la basta acessar o site www.pescadoemrede.com.br e preencher o cadastro na plataforma da Embrapa.

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SAUDAÇÕES RANÍCOLAS!

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Aquicultura de Precisão Novos desafios

Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca / APTA/SAA, Ubatuba, SP esanches@pesca.sp.gov.br

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espertou minha atenção uma propaganda na TV há algum tempo atrás com a frase: “O desafio é o que nos move”. Sempre penso nisto em minha rotina diária de pesquisa, ensino e extensão. Foi neste sentido que, após treze anos liderando o Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto de Pesca, em Ubatuba/SP, resolvi aceitar um novo desafio em minha vida profissional e assumir a direção do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Marinho, do Instituto de Pesca, em Santos/SP, no início de dezembro do ano passado. O Centro do Pescado Marinho é um dos quatro centros de pesquisa do Instituto de Pesca, reunindo pesquisadores da instituição que desenvolvem pesqui© Eduardo Sanches

sas no litoral do estado de São Paulo. São colegas da área de pesca, maricultura e tecnologia do pescado que trabalham buscando gerar conhecimento científico e disponibilizar isto para a transformação social e econômica da cadeia produtiva. Este centro de pesquisa possui ramificações para atender os arranjos produtivos locais do Litoral Norte e Sul paulista, com sedes em Ubatuba (onde eu trabalhava) e Cananéia. Por estar localizado em Santos, cidade que abriga o maior porto da América Latina, e rodeado de uma extensa área estuarina, dá para imaginar as intensas interfaces com usos múltiplos e recorrentes impactos ambientais. Os pesquisadores são constantemente demandados para propor ações, utilizando o conhecimento científico, para tentar conciliar o desenvolvimento portuário com as atividades de pesca e maricultura. O centro ainda conta com o Museu de Pesca, uma excelente atração turística (a segunda mais visitada da cidade) que reúne um acervo temático que tem como principal destaque um esqueleto de mais de 21 metros de uma baleia fin ( Ba laenoptera physalus).

Figura 1. Museu de Pesca de Santos, SP.

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Figura 2. O laboratório de piscicultura marinha possui exemplares do mero Epinephelus itajara.

E porque estou falando tudo isto nesta coluna? Ao assumir este cargo me imaginei entrando em um mundo burocrático, sem atrativos, algo como um mal necessário, uma espécie de rito de passagem na carreira de pesquisador. Ledo engano. A direção deste centro de pesquisa é muito dinâmica, possibilitando interações com diferentes linhas de pesquisa, o que tem me proporcionado um grande aprendizado. Por outro lado, percebi que graças à equipe de pesquisa que “cultivei” ao longo dos anos, tenho mantido e até ampliado meus projetos de investigação científica, agora com um enfoque muito mais moderno e estratégico. Percebi que podemos ser agentes na mudança de nossa realidade e na mudança do ambiente que nos envolve.

A ciência e as instituições de pesquisa não vivem seu melhor momento. Restrições orçamentárias e perda de pessoal qualificado são comuns a este ambiente. Não fomos preparados na universidade para empreender ou fazer gestão inovativa. Mas sempre existe a oportunidade de aprender. Apesar do pouco tempo no cargo, este tem sido meu grande objetivo por aqui. Inovar na gestão de um centro de pesquisa, buscar lideranças e incentivar uma nova abordagem na geração de ciência: a ciência aplicada, direcionada aos problemas da cadeia produtiva. E tenho ficado surpreso com tanto conhecimento disponível e tantas idéias boas que simplesmente estavam esperando serem ouvidas. Dizem que nossos professores devem nos incentivar não pelo ensino mas pelo exemplo. Acredito que estou podendo proporcionar isto aos meus alunos. O exemplo em aceitar desafios, em aceitar mudanças e em acreditar que podemos mudar a realidade por nossas ações. E a precisão??? Não deveria ser o tema da coluna??? Meus caros, como já falei anteriormente, a precisão é um conceito muito amplo. Precisão é fazer mais com menos. Precisão é otimizar os recursos disponíveis. Precisão é inovar, abordar o problema por outras frentes. Precisão é acreditar que a cadeia produtiva do pescado tem muito a crescer no Brasil e que se cada um aceitar desafios, podemos em breve ter o pescado como o principal produto agropecuário do país. E aproveitando nossa diversidade, os arranjos produtivos locais podem gerar “plataformas gastronômicas” que deixarão o mais exigente consumidor com lembranças inesquecíveis! (o termo “plataformas gastronômicas” aprendi recentemente com um colega, o pesquisador Luiz Miguel Casarini). Quem quiser nos fazer uma visita, conhecer um lindo museu e um centro de pesquisa de referência, o endereço é: Av. Bartolomeu de Gusmão, 192. Ponta da Praia, Santos/SP. Até a próxima coluna.

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Aquicultura Latino-americana Aquicultura na Argentina: potencial de cultivo de tilápia

D r. R o d o l f o L u í s P e t e r s e n U n i v e r s i d a d e Fe d e r a l d o P a r a n á (UFPR), Pontal, PR. rodolfopetersen@hotmail.com

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onsiderando o crescimento do cultivo e o mercado de tilápia no mundo conversei com o Dr. Juan Carlos Mallo e sua equipe. Juan é coordenador científico da Universidade Tecnológica Nacional de Mar del Plata, diretor do Laboratório de Aquicultura da Universidade Nacional Mar del Plata (LACUI) e Pesquisador da Comissão de Investigações Científicas da província de Buenos Aires (CIC). O Laboratório realiza pesquisas visando o cultivo de tilápia em sistemas de recirculação (RAS). Na Argentina a produção aquícola no ano de 2016 chegou a 3303,99t, liderada pelo Pacu (Piaractus mesopotamicus) 1946,70t e a truta Arco Iris (Oncorhynchus mykiss) 963,47t. A produção de Tilápia (Oreochromis niloticus) foi de só 62,20 t. (Panné Huidobro, 2017). Existe potencial para o cultivo de tilápia na Argentina? Dr. Juan: Sim, realmente existe. Nosso país possui diferentes caraterísticas climáticas na zona norte e centro que permitiriam realizar cultivos em diferentes sistemas de produção. Podemos destacar que a Argentina produz farinhas animais e vegetais possibilitando a elaboração de rações a baixos custos. Em quais regiões? Dr. Juan: A Argentina possui um clima quente subtropical na região norte com uma rede aquífera muito ampla, compreendida pelos rios Pilcomayo, Paraguai, Uruguai, e Paraná. Nesta região predomina o sistema semi-intesivo e extensivo. Já nos estados do Centro (Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé) o cultivo se realiza em estufas no sistema RAS. Todos os cultivos ainda em fase experimental. O Laboratório de Aquicultura da FRMDP (Universidade Tecnológica Nacional) localizado em Médanos, ao sul do estado de Buenos Aires (LS 38º50´37,04´´- LW 62º 44’ 21,66´´), utilizando águas termais da Empresa Covitur S.A., obteve um peso médio final de 500 gramas em 120 dias de cultivo em tanques-rede. Esta experiência resultou no registro de cultivo desta espécie na latitude mais austral do mundo. E as principais limitações? Dr. Juan: A principal limitante é a legislação atual. Cada estado tem sua regulamentação com relação ao uso de espécies exóticas.

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Misiones permite seu cultivo em qualquer sistema, já em Corrientes é proibido seu cultivo. Outra limitante é a distância da região nordeste aos grandes mercados nacionais como Buenos Aires, Rosário e Córdoba encarecendo o produto final. O que você sugere aos agentes de fomento da aquicultura na Argentina? Dr. Juan: Maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Menor carga tributária para as pequenas empresas e facilidades de financiamento. Campanhas públicas para incentivar a aumento de consumo de pescado, e fundamentalmente, programas nacionais e estaduais que incentivem a prática da aquicultura de forma sustentável. Concluindo: é certo que o volume de produção de aquicultura na Argentina é irrisório, porém, existe um potencial de crescimento pela existência de excelentes corpos de água, áreas planas e disponibilidade de insumos para a fabricação própria de alimentos balanceados. O Laboratório de Aquicultura (LACUI) é dirigido pelo Dr. Juan C. Mallo com uma equipe de pesquisadores assim como por Técnicos Superiores em Aquicultura e Técnicos Superiores em Pesca: Med. Vet. Julio C. Imeroni, Lic. Maria Prario, Lic. María Marta Persico, Tec. Sup. Aldo Nahuel Zanazzi, Tec. Sup Federico Alcides Cecchi, Tec. Pesq. Arturo Asiain, Tec. Pesq. Paula Wallmann.

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Piscicultura Marinha Como avaliar a qualidade das desovas de peixes marinhos pelágicos de desovas múltiplas Dr. Ricardo Vieira Rodrigues Estação Marinha de Aquicultura (EMA) Universidade Federal do Rio Grande (FURG) vr.ricardo@gmail.com em uma rede de pesquisa com vários R ecentemente pesquisadores de renome Iberoamericanos (LARVAPlus) surgiu uma pergunta “aparentemete sim-

ples” e que deu origem ao tema dessa coluna. Quais são os critérios para avaliar a qualidade dos ovos de peixes marinhos com ovos pelágicos de desovas múltiplas? Logo acima chamei esta pergunta de aparentemente simples, pois qualquer pessoa que tenha realizado reprodução de peixes marinhos poderia citar vários aspectos que são considerados importantes para determinar a qualidade dos ovos. Porém, quais são os principais critérios que devem ser utilizados? Os mesmos critérios podem ser utilizados para todas as espécies utilizadas na aquicultura? Dentre os critérios aplicados, o primeiro é o número de ovos flutuantes, pois os ovos de peixes que possuem desovas pelágicas quando fertilizados flutuam, e os ovos que afundam não estão fertilizados. Alguns laboratórios usam como critério de qualidade que as desovas tenham 80% de ovos flutuantes, enquanto em outros laboratórios é utilizada uma taxa de 60%. Outro critério utilizado é a porcentagem de ovos segmentados dentre os ovos flutuantes. Para estimar esse método, uma amostra de ovos é retirada e levada ao microscópio estereoscópico (lupa) para determinação da taxa de ovos

© Marcelo Okamoto

segmentados. A princípio, assim como a taxa de ovos flutuantes, quanto maior é a taxa de ovos segmentados melhor é a qualidade da desova. Em termos gerais, os laboratórios de producão de juvenis utilizam apenas esses dois índices (quando se utilizam de algum índice para determinar a qualidade de desovas). De forma geral, é utilizado as desovas que ocorreram, muitas vezes por pressão de produção, sem se preocupar com a qualidade. Contudo, vários outros índices podem ser utilizados para a caracterização da qualidade das desovas. Por exemplo, o tamanho dos ovos e o tamanho da gota de óleo. Quanto a esses índices, quanto maior o ovo e maior a gota de óleo, melhor qualidade tem as larvas quando eclodirem. Quanto a avaliação das larvas, o tamanho das mesmas e o volume do vitelo ao eclodirem são aspectos fáceis de avaliar. Com o somatório de todos esses índices de fácil obtenção, torna-se mais preciso determinar a qualidade das desovas e se estas devem ser utilizadas para a larvicultura ou se devem ser descartadas. Uma informação que me parece determinante sobre qualidade das desovas é a sobrevivência das larvas após a absorção do vitelo, período em que começa a alimentação exógena. Quando após a absorção do vitelo, se a desova apresentar uma baixa mortalidade, esse é um excelente índice de qualidade. Uma forma prática de realizar a taxa de segmentação, eclosão e a taxa sobrevivência após a absorção do vitelo é utilizar placas plásticas de 96 poços, onde são colocados os ovos individualizados. De fato, o que é necessário é a realização de um banco de dados sobre a qualidade das desovas e acompanhar a sobrevivência ao final das larviculturas, com realização de taxas de sobrevivência e de má formação das larvas. Um banco com tais informações está disponível para poucas espécies. Assim, se compiladas ao longo dos anos facilitará os produtores a determinar se a desova deve ser utilizada na larvicultura ou se deve ser descartada. Essas tomadas de decisões são importantes para minimizar os custos de produção e o fornecimento de juvenis de qualidade. Nessa coluna comentei apenas aspectos práticos de avaliação da qualidade das desovas, pois avaliações bioquímicas podem ser utilizadas para esse fim, porém não são aspectos baratos, muitas vezes inacessíveis a produtores.

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Recirculating Aquaculture Systems

SEDIMENTADORES Dr. Marcelo Shei Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos shei@altamar.com.br www.altamar.com.br

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ndependente da espécie cultivada, a remoção das partículas sólidas é a demanda primária e uma das mais exigentes em um sistema de recirculação de água. Lembrando o que já foi abordado em outras oportunidades, essas partículas são provenientes basicamente das fezes e restos de alimento não consumidos. A divisão ocorre por faixa de tamanho entre sólidos sedimentáveis (maiores) e suspensos (menores). O melhor método para a remoção das partículas maiores, é a sedimentação. Ela deve ser feita como primeira etapa de tratamento e sempre por gravidade. O uso de motobombas, aeração e outros métodos de agitação da água, irão quebrar as partículas em tamanhos menores, dificultando a sua remoção.

© Altamar

Figura 1. Motobombas plásticas, com motores blindados e de baixa rotação instaladas em paralelo.

Um filtro sedimentador permite que as partículas maiores sejam depositadas e posteriormente removidas. Isso ocorre com a diminuição da velocidade da pas-

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sagem da água, de modo que essas partículas precipitem. Os desenhos mais antigos, de formato horizontal, utilizam áreas maiores e demandam mais mão de obra para a sua limpeza. Os modelos mais atuais, são mais compactos, geralmente cilíndricos e de base cônica. A sua operação consiste na entrada do efluente em um tubo central do sendimentador. A água é direcionada lentamente para o fundo do reservatório, que possui o formato cônico. Através da desaceleração, as partículas se depositam no fundo cônico. A água filtrada flui para a parte superior, externa ao centro do filtro e transborda por gravidade para saída lateral. A partir desse ponto, a água pode ser direcionada para outros processos necessários para o sistema. Trata-se de um método que não demanda manutenção ou substituição de partes móveis. A sua rotina é basicamente a remoção diária dos sólidos concentrados através de uma válvula de purga (que pode ser automatizada) e limpeza periódica das paredes do filtro. A sua eficiência se dá pelo fato de não utilizar bombeamento direto para a sua operação, somente com a passagem de água por gravidade. Testes em sistemas de recirculação demonstram um índice de remoção de sólidos sedimentáveis próximos a 78%. Esse método pode ser aplicado no efluente de diferentes demandas, com vazões de poucos m³/h, até sistemas comerciais de grande porte. A Altamar possui capacidade de dimensionar e fornecer sistemas sedimentadores. Atendimento e Assistência em todo o território nacional.

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SANIDADE Columnariose:

estratégias de prevenção Columnariose é uma mos desde o uso de aditivos alimentares, melhorias nos doença bacteriana procedimentos de manejo, uso de sal na água, além de causada principal- minerais que promovem o sequestro da bactéria premente pelo bastonete sente na coluna d’água. Por outro lado, quando temos a Gram negativo Flavo- ocorrência de um surto de mortalidade, o uso de antibibacterium columnare. oticoterapia se torna necessário. A seguir, listamos alguEsta bactéria está pre- mas dicas para prevenir a ocorrência de columnariose sente na microbiota de viveiros de criação, bem como em sua produção, podendo ser utilizada isoladamente na superfície corporal dos animais saudáveis. Trata-se ou em conjunto: de um patógeno secundário, oportunista em situações • Vitamina C: o uso desta vitamina em doses elevadas de manejos e estresse agudo, tais como captura com rede (> 600 mg/kg) é uma prática muito útil, uma vez que de arrasto, classificação, contagens e transporte; sendo estimula os mecanismos de defesa dos peixes, além de estes, portanto, os principais fatores de risco para ocor- ser essencial no processo de cicatrização. No entanto, rência desta doença. Em adição, a presença de uma alta antes de incluir a vitamina C por conta própria, consulte carga de ectoparasitos, especialmente de protozoários seu fornecedor de ração para verificar a dosagem que tricodinídeos e vermes monogenéticos, contribui para a está inclusa na formulação; ocorrência desta doença de forma crônica especialmente na alevinocultura. • Melhorias no manejo: para as principais espécies Entre os animais que formam o principal grupo tropicais é importante evitar a manipulação dos animais de risco para esta enfermidade temos os alevinos e ju- em horários quentes do dia (>30º), bem como quando venis, uma vez que são frequentemente submetidos aos a temperatura da água ainda estiver baixa (<23ºC), pois manejos de rotina nas fazendas de criação, bem como, nestas condições o sistema imunológico diminui sua caconstituem-se nas principais fases que sofrem com a pacidade de defesa; infestação pelos ectoparasitos. A infecção pela bactéria é facilitada quando os animais perdem o muco de • Uso de sal: a aplicação de 3 a 6 g/L de sal na água de proteção, ou quando sofrem lesões que levam a perda de manejo estimula a produção de muco pelos animais e escamas; enquanto a ação de ectoparasitos causa abrasão minimiza o efeito negativo do estresse, desta forma, o sobre o tegumento, que por sua vez favorece a fixação e bastonete de Flavobacterium terá grandes dificuldades colonização bacteriana. para se fixar e colonizar o tegumento dos animais; Em situações de manejo facilmente temos animais submetidos ao estresse, que por sua vez limita • Uso de minerais para adsorção: atualmente temos a a produção de muco protetor. Desta forma, o bastonete disponibilidade no mercado de um produto composto de Flavobacterium encontra condições propícias para de minerais inertes naturais (AKUAPRO®, Imerys) que evadir os mecanismos de defesa e se fixar, colonizar e promovem o sequestro do bastonete de Flavobacterium proliferar sobre a pele ou brânquias dos animais. Este disponível na água, diminuindo sua capacidade de fixar processo ocorre dentro de poucas horas, podendo levar e colonizar o tegumento dos animais. a um surto de columnariose em menos de 24 horas. A principal manifestação clínica desta doença é a ocorrência de manchas esbranquiçadas sobre o corpo dos animais, havendo podridão das nadadeiras e desprendimento da pele dos peixes infectados, sem a ocorrência de hemorragias; ao passo que denominamos este quadro de dermatite bacteriana não hemorrágica. © Santiago Benites de Pádua Como estratégias 1. Sinais clínicos da columnariose. (a) Alevino de tilápia exibindo perda de escamas e manchas esbranquiçadas pelo corpo. (b) Juvenil de prevenção contra a ocor- Figura de pacu exibindo corrosão de nadadeiras, perda de escamas associadas com machas acinzentadas pelo corpo. rência da columnariose, te-

Dr. Santiago Benites de Pádua AQUIVET Saúde Aquática, São José do Rio Preto, SP.

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TECNOLOGIA DO PESCADO

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS: Sistema de Embalagem MultiFresh™ Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA Mossoró, RN, Brasil alaugo@gmail.com

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tualmente os consumidores estão se preocupando cada vez mais com sua saúde, e assim tendem a adquirir produtos orgânicos, pescado cultivado de forma sustentável, pratos preparados com ingredientes naturais, dentre outros. Aliado a isso e a necessidade de embalar esses alimentos de forma atraente e que possam ser preservados pelo maior tempo possível, os fabricantes de alimentos e o setor de varejo intensificaram o uso de novas embalagens. Neste contexto, surgiu a embalagem “skin” à vácuo (MultiFresh™), com apresentação atrativa e máxima durabilidade. Essa embalagem assemelha-se a uma pele (“skin”) sobre o alimento onde o produto é selado sobre uma película inferior estável ou uma bandeja pré-moldada com uma película (“skin”) especial. Durante a embalagem, a folha superior do recipiente é colocada sem tensão em torno do produto como uma segunda pele, de modo a não perder o formato original ou sua disposição, mantendo dessa forma sua aparência natural. Com este processo, mesmo produtos com componentes rígidos ou cortantes (ossos, espinhas exoesqueleto, ou conchas), podem ser embalados com segurança. Além disso, o vácuo também prolongará a durabilidade do produto. Uma vez que as folhas superiores são soldadas em toda a sua superfície com a folha inferior ou com a bandeja, o produto é impedido de perder a suculência. O alimento é fixado firmemente na base da bandeja e, portanto, não se desliza (pode ser apresentado no ponto de venda na vertical [pendurado] ou horizontalmente). No caso de produtos congelados, os filmes à vácuo também os protegerão, de forma confiável, contra as queimaduras pelo frio durante o armazenamento em freezer. Para a fabricação dessas embalagens são utilizadas máquinas MULTIVAC especialmente desenvolvidas para o processo, assim como materiais inovadores, e graças à combinação perfeita entre máquina e material o resultado são embalagens “skin” a vácuo atrativas e de elevada qualidade.

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As embalagens MultiFresh™ são especialmente adequadas para produtos de elevada qualidade, como carnes, aves, pescado, refeições prontas, queijos e massas. Os produtos com tendência para liberar líquidos também podem ser embalados com MultiFresh™, assim como alimentos com uma data de validade mais exigente. A variedade de filmes MultiFresh™ oferece soluções para um amplo espectro de aplicações tais como:

Filmes MultiFresh™ com função de pele rígida são usados para embalar produtos dos quais o líquido pode escapar e onde o produto e a qualidade da embalagem são reduzidos por lixiviação líquida, como ocorre na carne fresca. Aqui, a camada de vedação (sealing layer) da face inferior (lower web) é selada firmemente à camada de vedação (sealing layer) da face superior (upper web). Isso garante que nenhum líquido do produto possa ficar entre as camadas superiores e inferiores. A embalagem é aberta por meio de uma ruptura entre as camadas firmemente seladas da banda superior e inferior.

Filmes MultiFresh™ com função de pele macia

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são particularmente adequados para embalar produtos secos, como fatias de presunto, salame ou queijo. Filmes MultiFresh™ para produzir película da embalagem com face inferior (lower web) elaborada com monomateriais (i.e. APET - Politereftalato de Etileno Amorpho, PVC - policloreto de polivinila, ou PP – Polipropileno). A variedade da face superior (upper web) também inclui materiais, capazes de serem selados em mono filmes com grande benefício, particularmente no que diz respeito à reciclagem de embalagens.

Filmes MultiFresh ™ para embalagem de produtos com arestas afiadas, ou seja, carne com ossos, camarão inteiro, lagostas, etc. As faces superiores (upper webs) com propriedades mecânicas aumentadas são usadas para esses produtos. Os filmes MultiFresh™ com alto nível de permeabilidade ao oxigênio são usados principalmente para a embalagem de peixes frescos. Concluindo, o uso da embalagem MultiFresh™ possui inúmeras vantagens às embalagens tradicionais (e a vácuo), destacando-se que a qualidade, o frescor, a cor e a estrutura do produto sejam apresentadas de forma natural e que os produtos sejam embalados sem tensões. Graças à selagem de toda a superfície, reduz-se de forma eficaz a perda de líquidos do produto. A embalagem pode ser facilmente aberta através da integração de um canto de fácil abertura. A embalagem MultiFresh™ pode ser elaborada de forma atrativa e informativa através da coloração, metalização, estampagem e etiquetagem. Por fim, o prazo de validade do produto pode ser substancialmente prolongado.

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018

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DEFENDEU!

N o v i d a d e s e m T C C ’s , t e s e s e d i s s e r t a ç õ e s Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação e pós-graduação contribui com novas informações para nossa aquicultura.

Acadêmica: Lyzandra Laís de Almeida Lemos Orientador: Dr. Alex Augusto Gonçalves, Pesquisador e Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC) – UFERSA. Programa: Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA), Centro de Ciências Agrárias (CCA), Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA) Título da dissertação: “O potencial hidrogeniônico (pH) como parâmetro indicador do uso abusivo do aditivo alimentar fosfato em pescado.” A água é encontrada em grande proporção na porção comestível do pescado, e como componente principal, tem influência nos atributos sensoriais, na qualidade e na sua vida de prateleira. No entanto, imediatamente após a captura, uma série de alterações microbiológicas, bioquímicas e sensoriais, ocorrem na superfície e no interior da porção comestível do pes-

cado, reduzindo sua qualidade e podendo gerar a diminuição em até 80% da capacidade natural de retenção de água no tecido muscular. Ciente dessas preocupações, práticas comerciais (nacionais e internacionais) têm envolvido o controle, a adição e a retenção da umidade do pescado durante o processo de captura, processamento, distribuição, estocagem e a sua preparação.

Objetivo:

Considerando o uso abusivo de agentes umectantes no processamento de pescado congelado e uma

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Porém, a excessiva adição de água pode levar a adulteração, resultando em fraude econômica para o comprador, enquanto que a perda de água pode comprometer a qualidade, a vida-de-prateleira e a aceitação do produto pelo consumidor.

possível relação entre o parâmetro pH e o aditivo fosfato, o objetivo do presente estudo foi avaliar se existe correlação

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entre o pH da carne do atum e diferentes concentrações e tempo de contato com o aditivo alimentar fosfato.


Materiais e métodos: Os filés de atum (média de 225 g) foram imersos em soluções refrigeradas (5 oC) de tripolifosfato de sódio (TPF) e mistura de fosfato ( blend ) nas concentrações 3, 5 e 10% (proporção filé:solução de 1:1; p:v), por 30, 60 e 120 minutos. Como grupo controle utilizou-se água destilada. Após a imersão, as amostras foram drenadas, pe-

sadas (cálculo de rendimento), congeladas em ultrafreezer (-35 oC por 24 h) e armazenadas (-35 oC) por 15 dias. Após esse período, as amostras foram descongeladas (5 oC, 24 horas), drenadas por 5 minutos e pesadas (cálculo de rendimento). Após o descongelamento, as amostras foram grelhadas (200 oC por 3 minutos em cada lado) e pesa-

das (cálculo do rendimento). Amostras foram retiradas após cada etapa (imersão, descongelamento e cocção) e submetidas às análises de pH, fosfato (P 2O 5), umidade e proteína. O ganho ou perda de peso foi determinado pelo peso das amostras antes e após os tratamentos (imersão, descongelamento e cocção).

Figura 1. Na sequência: filé de atum, processo de imersão, drenagem, análise de pH e mufla.

Resultados:

Todos os aditivos alimentares utilizados no presente estudo (TPF e Blend ) demonstraram sua eficácia na retenção de água após imersão, descongelamento e cocção. Observou-se um aumento gradual dos teores de umidade (após imersão em soluções de TPF e Blend ), e consequente aumento na relação umidade/proteína que sugere um novo parâmetro a ser considerado como indicativo uso de agentes umectantes no pescado. Observou-se um aumento gradual do pH e do fosfato residual (P 2O 5) em todos os tratamentos, e ainda permaneceram abaixo dos limites estabelecidos pela legislação nacional (pH) e internacional (P 2O 5). Observou-se correlação linear entre os valores de pH e fosfato (P 2O 5) o qual pode se tornar um parâmetro a ser considerado como indicativo uso de agentes umectantes (fosfato) no pescado.

Conclusão: A partir dos resultados dos experimentos, sugerimos uma revisão crítica sobre o tema, e que possíveis mudanças possam ser avaliadas

nos parâmetros oficiais como indicadores de uso abusivo do aditivo fosfato em pescado e combater uma fraude econômica nos produtos congelados. Res-

salta-se que essas sugestões devem ser o foco do estudo colaborativo para sua validação.

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PROJETOS E SERVIÇOS EM AQUICULTURA E MEIO AMBIENTE EQUIPE EQUIPE MULTIDISCIPLINAR MULTIDISCIPLINAR COM AMPLA AMPLA COM EXPERIÊNCIA EXPERINÊNCIA COMPROVADA COMPROVADA

KNOW-HOW COMPROVADO NOS NOVOS MODELOS INTENSIVOS DE PRODUÇÃO

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© Aquaculture Brasil

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Daniel Garcia de C a r va l h o M e l o Para a 10° edição (jan/fev) o entrevistado é uma pessoa que apesar de não ter iniciado profissionalmente com aquicultura, atualmente tem tido significativa participação no avanço deste setor no estado do Mato Grosso. Daniel Garcia de Carvalho Melo é produtor e atualmente o Presidente da Associação dos Aquicultores do Estado d e M a t o G r o s s o ( A Q U A M AT ) .

AQUACULTURE BRASIL: Daniel, comente um pouco sobre qual a sua formação e como entrou no segmento da aquicultura. Daniel Melo: Sou formado em Relações Internacionais, pela Universidade Católica de Brasília e posteriormente fiz um curso de especialização em Gestão do Agronegócio pela FGV. Logo que terminei a faculdade retornei a Cuiabá, pois sempre acreditei no agronegócio e nas oportunidades que o Estado de Mato Grosso oferece. Atuei por 10 anos na comercialização de algodão para o mercado interno/exportação e importação de micronutrientes do Chile para lavouras de algodão. Com a crise em 2008, fui desligado da multinacional em que trabalhava e daí em diante decidi iniciar uma atividade própria no agronegócio. Com mais um sócio abri uma empresa para prospecção de oportunidades de investimentos no Agro e dentre várias alternativas elencadas a mais interessante foi a piscicultura em tanque-rede. Acreditando que o consumo de peixe viria a aumentar e sabendo que o Mato Grosso tem um enorme potencial hídrico, grande produção de grãos, principal matéria prima da ração, decidimos começar um projeto de produção de peixes em tanque-rede. Em 2009 protocolamos uma solicitação para área aquícola no Ministério da Pesca e após três anos e meio de uma agoniante espera, recebemos nossa outorga e licença ambiental e iniciamos a produção de Pintado. AQUACULTURE BRASIL: Atualmente você é presidente da Associação dos Aquicultores do Estado

de Mato Grosso (Aquamat). Conte-nos como foi criada esta associação, qual o papel que ela desenvolve e quais as principais metas desta gestão?

Hoje somos 400 associados e desenvolvemos um trabalho junto ao governo do Estado e Assembleia Legislativa no intuito de regulamentar a criação peixes no estado.

Daniel Melo: Em 2001 muitos piscicultores que cultivavam peixes híbridos em suas propriedades estavam sendo intimados e alguns até presos, já que nessa época a criação não era regularizada. Tendo em vista esse cenário, alguns produtores solicitaram junto à ALMT(Assembleia Legislativa de Mato Grosso) uma solução para essas questões. Alguns deputados se comprometeram em colaborar, foi convocada uma reunião com os demais produtores para promover a criação de uma associação para tratar de seus interesses e nessa reunião compareceram cerca de 150 pessoas. Nesse mesmo ano em 12 de Outubro de 2001 foi assinada a 1ª (primeira) ata de criação da associação, mas só veio de fato a ser criada em 2005. Hoje somos 400 associados e desenvolvemos um trabalho junto ao governo do Estado e Assembleia Legislativa no intuito de regulamentar a criação peixes no estado, trabalho

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© Embrapa

©ABCC

que tem dado resultado, haja vista a criação da lei que disciplina a atividade da Piscicultura em 2006 e posteriores alterações. A Aquamat atua também em parceria com o Sebrae de Mato Grosso na realização de eventos voltados a piscicultura tais como palestras, seminários, cursos, dias de campo além de promover a piscicultura no Estado. Para 2018 temos já firmado junto ao Sebrae um projeto de Assistência Técnica dedicada aos piscicultores, também estaremos atuando no objetivo de implementar o uso de novas tecnologias nas pisciculturas tais como aeração nos viveiros, utilização de probióticos, implementação de silos para armazenamento de ração e a criação de um centro de recebimento e distribuição de peixes. No âmbito

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político administrativo, estamos criando um grupo de trabalho da Piscicultura dentro da SEMA (Secretaria de Meio Ambiente do MT) a fim de debater junto de representantes da SEMA, Universidades, IBAMA, Secretaria da Pesca, Embrapa entre outros participantes todas questões relativas ao impacto ambiental e sócio econômico da piscicultura. AQUACULTURE BRASIL: E como é ser presidente de uma associação tão importante para o aquanegócio do estado e também do País, já que segundo os dados relativos ao ano de 2017 da Associação Brasileira de Piscicultura – Peixe BR, o estado do Mato Grosso é o 4° maior produtor de pescado?

Daniel Melo: É uma honra e grande responsabilidade poder representar produtores de um estado com relativa importância na produção de alimentos no Brasil. As atribuições são inúmeras, pois é importante estar presente nos eventos, reuniões e debates junto as instituições públicas e privadas a fim de promover e levar ao conhecimento da sociedade a importância da piscicultura na geração de emprego e renda e na proteção do peixe do rio. Conciliar essas ações com as nossas atividades particulares e principalmente a presença junto da família as vezes não é fácil. No entanto, conto com uma equipe no conselho administrativo de enorme capacidade e dedicação que faz esse trabalho dar resultados. A Aquamat está sendo uma verda-

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deira escola para mim. AQUACULTURE BRASIL: Com um dos maiores potenciais hidrelétrico do Brasil, agora o estado de Mato Grosso poderá utilizar estas áreas para criação de peixes exóticos em tanques-rede, possibilitada por uma alteração na lei 10.669, em janeiro deste ano. Daniel, como você vislumbra as mudanças na piscicultura do estado a partir desta liberação? Daniel Melo: O Mato Grosso já tem instaladas 121 hidrelétricas e/ ou PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) em águas estaduais e da união. Só o lago da Usina de Manso são 42.000 ha de lâmina de água sendo que 1% ou 420 ha, segundo estudo do Ministério da Pesca, são destinados a atividade de piscicultura. Acreditamos que as pisciculturas em tanque-rede deverão crescer consideravelmente em Mato Grosso, podendo o estado em pouco tempo voltar a ser o maior produtor do Brasil, gerando oportunidade para pequenos, médios e grandes produtores, além da geração de emprego e renda. Entretanto, em paralelo a esse crescimento é de fundamental importância estarmos atentos a implementação de assistência técnica nas pisciculturas, atuar junto às indústrias para se instalarem em nossa região e principalmente utilizar dos protocolos de produção para que tenhamos um crescimento ambientalmente sustentável. AQUACULTURE BRASIL: A lei número 10.669 também isentou os piscicultores com até 10.000 (dez mil) metros cúbicos de água em tanque-rede do licenciamento am-

biental e outorga, bem como o pagamento de taxas de registro e outorga de água. Dessa forma, como está ou ficará essa distribuição para a concessão das áreas aquícolas? Daniel Melo: O Parque Aquícola de Manso, por exemplo, está em águas da União, dessa forma a distribuição das concessões nesses parques permanecem inalteradas. Já os reservatórios em águas estaduais se enquadram na nova lei 10.669. AQUACULTURE BRASIL: Quantos parques aquícolas possuí o estado? Daniel Melo: Temos oito Parques Aquícolas, todos dentro do Lago do Manso. Este lago também possui 42 áreas aquícolas outorgadas que foram concedidas por meio de solicitação dos interessados. AQUACULTURE BRASIL: Em 2017 o governo também prorrogou por mais 10 anos a lei que permitia a isenção de ICMS para a venda de pescado para fora do estado. Este incentivo certamente trará novos investidores para a piscicultura de Mato Grosso. Certo? Daniel Melo: Sim. A isenção do ICMS é um incentivo dado para praticamente todas as cadeias do agronegócio que estão iniciando. O objetivo da isenção é para que as cadeias se estruturem no que tange aos processos de produção, tecnologias, logística e mercados. Com menos impostos os empresários se sentem motivados a investir fazendo a cadeia se estruturar, é o que está acontecendo com o médio norte do estado, aonde produtores de soja,

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Conto com uma equipe no conselho administrativo de enorme capacidade e dedicação que faz esse trabalho dar resultados. A Aquamat está sendo uma verdadeira escola para mim. milho e algodão estão se tornando também piscicultores. AQUACULTURE BRASIL: O estado de Mato Grosso é o maior produtor de grãos do país. Isso pode influenciar o preço das rações fabricadas dentro do estado? Seria uma alternativa aos produtores, fazer a própria ração? Daniel Melo: A enorme produção de grãos no Mato Grosso é sim um diferencial para nossa piscicultura. Com a grande oferta de grãos próximo das fábricas de ração, por exemplo, a indústria pode comprar o milho direto do produtor nos períodos de início de colheita, quando normalmente o preço é menor e armazená-lo, protegendo-se das variações de preço. Com esse diferencial há margem para a fábrica se tornar mais competitiva e reduzir o preço final da ração, porém essa é uma política interna da cada empresa. A produção de ração pelos produtores é uma alternativa que está sendo testada em várias propriedades. Até o momento os resultados evidenciam que para se tornar viável produzir a própria ração é necessária uma demanda muito superior ao que os produtores normalmente con-

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E N T R E V I S TA somem em suas propriedades. Entretanto, podemos ter novidades em pouco tempo, pois nos grupos de debate vemos com frequência novas descobertas que logo poderão estar sendo implementadas. AQUACULTURE BRASIL: No ano passado a Aquamat se encontrou com a Embrapa para viabilizar parcerias em aquicultura. Qual a importância dessa instituição e como a mesma pode auxiliar a piscicultura do estado de Mato Grosso? Daniel Melo: A Embrapa é uma empresa de fundamental importância para Piscicultura. Com um centro de pesquisa moderno em Palmas, TO poderá apresentar estudos e pesquisas que vão ser determinantes para o crescimento da piscicultura. Em setembro a Aquamat em parceria com a Frente Parlamentar do Agronegócio esteve na sede da Embrapa Pesca e Aquicultura para levar as demandas dos produtores de Mato Grosso. Nós fomos recebidos com muita atenção por mais de 15 pesquisadores que ficaram por dois dias atentos as nossas solicitações na área de nutrição, sanidade, variabilidade genética das espécies e manejo. Apesar da escassez de recursos presente nas instituições públicas em todo o Brasil conseguimos firma parceria para dois projetos iniciados já em 2017. Em setembro recebemos três pesquisadoras que visitaram propriedades e ministraram palestras sobre a prevenção de doenças tais como a Perulernae e Acantocéfalo e sanidade nas pisciculturas. Outro trabalho importante também iniciado em novembro de 2017 foi o Projeto Qualificação do Banco de Germoplasma. Esse trabalho objetiva certificar pureza das matrizes de produção dos alevineiros (produtores de alevinos). Desta forma a Embrapa, após análise do material genético de cada uma dessa matrizes, vai poder informar ao produtor de alevinos quais peixes do seu plantel são realmente puros e com melhor qualidade genética a fim de produzir um alevino de melhor qualidade. AQUACULTURE BRASIL: Como anda o pacote tecnológico para as espécies nativas e os híbridos cultivados no estado? Com a entrada da tilápia, pode ocorrer uma baixa na produção das espécies nativas, como o Tambaqui e os híbridos? Daniel Melo: A Embrapa está atuante no estudo das espécies nativas e também temos uma grande empresa em Mato Grosso já investindo no pacote tecnológico do tambaqui com resultados muito animadores. Acreditamos que com aumento da produção de tilápia em tanques-rede mais empresas virão investir e certamente não se abdicarão de estudar as espécies nativas e seus híbridos que apresentam o forte apelo mercadológico com demanda crescente no Brasil e no exterior. A tilápia poderá trazer um grande impulso na produção de nativos trazendo novas tecnologia e investimentos para o setor. AQUACULTURE BRASIL: Por fim, qual a expectativa para o setor aquícola de Mato Grosso para este ano de 2018? Daniel Melo: Estamos bastante otimistas! Temos a consciência do potencial de produção do Estado de Mato Groso. Com a aprovação da Lei 10.669 e um claro sinal de melhora do cenário econômico brasileiro acreditamos que novos investimentos virão para o setor. O mercado consumidor está em expansão na busca de alimento saudável e o peixe da piscicultura se encaixa perfeitamente nessa nova visão dos consumidores. Para atender essa demanda estamos trabalhando fortemente para ampliar o acesso a assistência técnica nas propriedades, implementar as novas tecnologias de produção e se aproveitar desse mercado.

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NOVOS LIVROS Sustainable Aquaculture Editores: Faisal I. Hai, Chettiyappan Visvanathan, Ramaraj Boopathy Editora: Editora Springer Idioma: Inglês – 327 páginas Lançamento: março de 2018.

Este livro permite ampliar a compreensão sobre aquicultura sustentável, abordando relevantes e recentes tópicos sobre práticas de sustentabilidade na aquicultura. São abordados capítulos sobre os aspectos da alimentação na aquicultura e um foco especial foi dado à avaliação socioeconômica e ambiental das práticas de aquicultura e análise da pegada de carbono sob um regime de cultivo intensivo. Os efeitos do uso de fármacos para prevenção de doenças em peixes também gera preocupação, e uma discussão crítica sobre os efeitos dessa prática no ambiente marinho circundante, também está incluída no livro. Além de métodos para evitar a dispersão e remoção (tratamento) dos resíduos orgânicos e nutrientes liberados pelas fazendas de peixes.

Cultivo de mexilhões: Sistema contínuo e mecanizado Autor: Felipe M. Suplicy Editora:Publicação EPAGRI Idioma:Português – 123 páginas Lançamento: dezembro de 2017

A mecanização no cultivo de mexilhões é uma antiga reivindicação do setor produtivo em Santa Catarina. Na obra, é explanado o que é o negócio da mitilicultura (cultivo de mexilhões): os cuidados e aspectos que o produtor precisa considerar na seleção de locais para começar o seu negócio; apresentação do sistema contínuo de cultivo, como meio de aumentar o aproveitamento e a produtividade das áreas aquícolas; seleção e dimensionamento de equipamentos e insumos; técnicas para a captação natural de sementes e engorda dos mexilhões; sistema de cultivo em meia água para locais mais profundos e expostos; riscos e ameaças comuns ao negócio; aspectos relacionados à segurança a bordo das embarcações com mecanização do cultivo; opções de arranjos produtivos entre produtores e entres estes e as indústrias de processamento; e uma análise econômica de empreendimentos desta natureza. Além disso, o livro é ricamente ilustrado com 96 figuras. Interessados em adquirir o livro podem entrar em contato com seu autor, Dr. Felipe Suplicy, através do e-mail felipesuplicy@epagri. sc.gov.br.

Aquaculture Systems and Engineering Autor: Olando Martin Editora: Syrawood Publishing House Idioma:Inglês – 241 páginas Lançamento:fevereiro de 2018.

A prática da aquicultura inclui o cultivo de peixes (piscicultura), algas (algicultura), ostras (ostreicultura), dentre outros organismos aquáticos. Os novos métodos de cultivo incluídos na aquicultura são os sistemas aquapônicos e aquicultura multitrófica integrada. Esses sistemas são tidos como mais sustentáveis. A necessidade de práticas sustentáveis no campo da aquicultura aumenta à medida que os níveis de poluição aumentam. Este livro inclui alguns dos trabalhos vitais realizados em todo o mundo, em vários tópicos relacionados à aquicultura. Isso ajudará os leitores a atualizar-se e acompanhar as rápidas mudanças neste setor.

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Eles fazem a diferença! do Nordeste (edição 09 – nov/dez de 2016), a seção “Eles S aindo Fazem a Diferença” desta edição vai agora para o Sul do País

homenagear o professor, pesquisador e mais recentemente editor, Bernardo Baldisserotto. Quem é da área aquícola certamente já ouviu falar ou teve contato com o livro “Fisiologia de Peixes Aplicada à Piscicultura” o primeiro e um dos seus mais divulgados livros. Baldisserotto é especialista em Fisiologia e Farmacologia aplicada à Aquicultura, trabalhando principalmente com espécies nativas. Formou-se em Oceanografia Biológica pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG (1983), fez mestrado (1987) e doutorado (1991) em Fisiologia Geral pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e realizou um pós-doutorado (2001) pela MacMaster University, no Canadá. Desde 1988 é professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), gerenciando o Laboratório de Fisiologia de Peixes (LAFIPE), sendo agora Professor Titular. Logo após defender o doutorado começou a ministrar aulas e orientar no Programa de Pós-graduação em Zootecnia e mais tarde nos programas de Pós-graduação em Biodiversidade Animal e Farmacologia. Em 2013 recebeu o prêmio Pesquisador Gaúcho 2013 – área Ciências Biológicas, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul. Por alguns anos foi membro do Comitê de Aquicultura e Recursos Pesqueiros do CNPq e até o momento publicou e editou seis livros.

A experiência de um pós-doutorado fora do país “Primeiramente o pós-dourado me trouxe o contato com equipes de pesquisa de alto nível, laboratórios bem equipados e interação com pesquisadores de diferentes países. Considero que meu grande aprimoramento em termos de pesquisa foi justamente no pós-doutorado, que realizei na MacMaster University, no Canadá, em 2001-2002. Meu contato com o Dr. Chris Wood foi excelente para melhorar minha capacidade de redação de trabalhos científicos”.

Dentro das áreas do curso de Oceanografia, foi na Fisiologia que Baldisserotto se encontrou e a considera essencial para o desenvolvimento da aquicultura. “Eu considero a fisiologia essencial, pois não há como aprimorar o cultivo de uma espécie se não sabemos como ela responde às condições físico-químicas da água, situações de estresse e como ocorre a digestão dos alimentos ingeridos, por exemplo. Para que possamos entender porque uma determinada situação proporcionou melhores resultados, precisamos entender como ela alterou a fisiologia do animal (ou da planta, pois essa ideia também se aplica aos vegetais)”.

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O Brasil investe pouco em pesquisas com peixes nativos? “Na verdade, boa parte dos recursos das entidades financiadoras, como CNPq e fundações estaduais, é direcionado a peixes nativos. Nosso problema é o pequeno valor disponível para a maioria dos pesquisadores, ainda mais nos últimos dois anos. A pulverização dos recursos também ocorre porque temos muitas espécies nativas com potencial para a piscicultura, o que leva a pesquisas com várias espécies”.

Como surgiu a ideia de editar livros que se tornaram tão conhecidos e importantes para a aquicultura? Quando me propus a escrever a primeira edição do livro “Fisiologia de Peixes aplicada à Piscicultura”, pensei: tem gente mais capacitada que eu para escrever um livro desses, mas já que essas pessoas não fazem, farei eu! E sigo com o mesmo princípio... A minha ideia é sempre ter um foco em algo específico – fisiologia, farmacologia, cultivo de espécies, e não juntar capítulos aleatórios de diversos temas.

Figura 1. Comemoração ao prêmio FAPERGS.

Vem novos livros por aí? No final do ano passado saiu o livro “Farmacologia aplicada à aquicultura”, pela Editora da UFSM, o qual editei juntamente com os Dr. Levy Gomes, Berta Heinzmann e Mauro Cunha. O Dr. Levy e eu estamos organizando a terceira edição do livro “Espécies nativas para piscicultura no Brasil”, também pela Editora da UFSM. Em colaboração com os Dr. José Cyrino e Elizabeth Urbinati, estamos organizando uma versão atualizada em inglês do livro “Biologia e Fisiologia de Peixes Neotropicais de Água Doce”, a ser publicada pela Elsevier. Em breve também terei de arranjar um tempo para trabalhar na quarta edição do livro “Fisiologia de Peixes aplicada à Piscicultura”.

Os projetos atuais “Tenho trabalhado basicamente na utilização de óleos essenciais de plantas e compostos isolados dos mesmos na anestesia de animais aquáticos, bem como no crescimento de peixes e camarões. Meus alunos também têm focado em experimentos relacionados com o uso desses óleos e compostos como antibacterianos e antiparasitários. Pretendo fazer mais alguns trabalhos relacionados com qualidade da água e osmorregulação do jundiá, com ênfase na utilização de análise de biologia molecular. Só falta o recurso!”

Cooperação é fundamental Se consegui realizar alguma coisa na minha vida profissional, certamente foi porque sempre contei com o apoio da minha família em todas as minhas atividades. Felizmente também tenho grandes colegas na UFSM e em outras instituições de pesquisa, bem como alunos de graduação e pós-graduação que colaboram intensamente comigo, e sem eles eu não teria feito muita coisa. Tenham sempre em mente que na pesquisa o trabalho em equipe é fundamental.

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© Alex Alves dos Santos

Kappaphycus alvarezii Uma das macroalgas mais cultivadas no mundo é a espécie Kappaphycus alvarezii. Esta macroalga é importante comercialmente, por ser a principal matéria-prima para produção de carragenana, um hidrocolóide com diversas aplicações nas indústrias

alimentícia, farmacêutica, têxtil e de cosméticos, entre outros. No Brasil a macroalga foi introduzida em 1995 no estado de São Paulo. Como uma espécie exótica, a introdução teve por objetivo avaliar sua biologia, possíveis impactos ao ambiente e viabili-

dade de cultivo. Posteriormente passou a ser cultivada na Baía da Ilha Grande e na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Em Santa Catarina estudos também demonstraram o potencial desta macroalga, tanto em monocultivo, como integrado com moluscos.

Enquadramento taxonômico

Divisão Rhodophyta Ordem Gigartinales Família Solieriaceae Gênero Kappaphycus Espécie Kappaphycus alvarezii

Sistema de cultivo mais utilizado

Os sistemas de cultivo mais utilizado é o de long-lines em estacas fixas ao substrato ou em balsas flutuantes. Em cada long-line, os propágulos são amarrados um por um, em um sistema conhecido como “tie-tie”, que atualmente vem sendo gradualmente substituído por redes tubulares, similares as utilizadas em cultivo de moluscos.

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Figura 1. Cultivo da Kappaphycus alvarezii em balsas flutuantes.

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© Alex Alves dos Santos

Obtenção de mudas

Os cultivos são baseados em propagação vegetativa, ou seja, para cada colheita, é separado uma parte da planta, denominado de propágulo, que servirá para o próximo ciclo de plantio. Por ser uma espécie introduzida, a obtenção de mudas e os cultivos devem seguir a legislação vigente (IN 185 IBAMA/2008).

Produtividade em biomassa

Em Santa Catarina, onde é possível estabelecer ao menos 5 ciclos de cultivo entre primavera e outono, a produtividade chega a 7 kg por metro linear de rede tubular, a partir de um plantio inicial de 1,15 kg por metro linear. No litoral fluminense, a macroalga cresce cerca de 5% ao dia, o ciclo de produção varia de 45 a 60 dias (até oito ciclos anuais) e cada balsa (45 m²) produz em média 2,5 t de alga fresca por ciclo.

Figura 2. Detalhe da Kappaphycus alvarezii nas redes tubulares.

Condições ótimas de cultivo Temperatura: 23 a 30°C Salinidade: 23 a 38 ‰

Principais usos da macroalga

Produção no Brasil

O principal uso desta macroalga é para extração de carragenana, um polissacarídeo utilizado como agente estabilizante e espessante principalmente pela indústria alimentícia, farmacêutica e têxtil. O Brasil atualmente ainda importa carragenana para uso nas indústrias, em 2014 foram 2.343 t, totalizando US$ 21.096.892 dólares.

O Rio de Janeiro é o único estado brasileiro que produziu macroalgas em escala comercial. Atualmente, não existem cultivos em escala comercial, mas sim em escala artesanal e experimental.

ENTRAVES E DESAFIOS

CARACTERÍSTICAS POSITIVAS

O principal desafio ainda está na burocracia e na demora para obtenção de licenças de cultivo. Por ser uma espécie introduzida, a licença e o constante monitoramento ambiental são de extrema importância, mas a morosidade desses processos impede o crescimento, investimento e estabelecimento comercial da atividade.

A espécie é extremamente fácil de ser cultivada e pode ser utilizada junto com cultivo de moluscos, diversificando a atividade aquícola. Possui grande importância econômica e ambiental, uma vez que pode competir com microalgas por nutrientes, melhorando a qualidade de água e minimizando o efeito de florações.

AQUACULTURE BRASIL - JANEIRO/FEVEREIRO 2018 Leila Hayashi e Alex Alves dos Santos Colaboração:

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DESPESCOU! Certamente quem era produtor de camarão ou mesmo envolvido na aquicultura, no início dos anos 2000, deve ter ouvido falar na alta produção de camarão marinho (Litopenaeus vannamei) na região Sul de Santa Catarina, mais precisamente no município de Laguna. Contudo, um surto de mancha branca em 2004 resultou no fechamento das mais de 90 fazendas ao entorno do complexo lagunar. Cerca de 14 anos depois a atividade começa a tomar fôlego novamente em Laguna. Confira a despesca realizada na fazenda Rollin, em viveiro escavado e sistema monofásico de produção.

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