D Cidadania
Dog Parks
Parques para cães Por: Carla Cruz, Bióloga, Mestre em Produção Animal e Doutoranda em Ciência Animal Fotos: Shutterstock
Os cães têm cada vez maior visibilidade nos meios urbanos, onde fornecem companhia num mundo que promove o isolamento social das pessoas e actuam como catalizadores promovendo contactos entre estranhos. Porém, estes ambientes são bastante inóspitos para os animais, onde lhes é vedado o acesso a grande parte dos locais e infra-estruturas de recreio. Mas não tem de ser assim, e em vários países são cada vez mais comuns e populares os parques para cães.
O
s animais de companhia estão omnipresentes nas diversas sociedades humanas, assumindo uma especial relevância na civilização ocidental. Entre as diversas razões invocadas para a posse de um animal de estimação (amor incondicional que proporcionam, diversão, segurança e protecção, equiparação a um membro da família, vantagens para a saúde, etc.), a mais referida é a companhia que fornece, sobretudo no caso dos cães (indicada por 51 a 69% dos proprietários). Esta função assume presentemente uma particular relevância, dado que na sociedade actual há uma tendência crescente para o anonimato e individualismo, logo para a quebra dos laços sociais que normalmente se estabelecem numa comunidade.
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Vantagens de ter um animal de companhia
Diversos estudos têm sugerido as vantagens para a saúde que os animais de companhia proporcionam. Apesar de não se saber exactamente a razão destes benefícios, parecendo não haver uma relação causaefeito directa, pode-se realçar, por exemplo, que os cães, enquanto animais de companhia ou auxiliares de terapia, contribuem para: melhor auto-imagem e auto-estima de pessoas solitárias; aumentar as interacções sociais com estranhos, dado que pessoas estranhas estabelecem conversas mais facilmente com indivíduos que estão a passear os seus cães; reduzir a pressão sanguínea; diminuir o stress sofrido em situações traumatizantes, como a morte de um cônjuge;
aumentar a esperança de vida de pessoas que tenham sofrido ataques cardíacos; reduzir a incidência de diversos problemas de saúde menores; aumentar a empatia das crianças para com outros animais e pessoas; aumentar o sucesso de terapias em pessoas com problemas psicológicos; aumentar o nível de independência de pessoas portadoras de deficiências físicas e da sua integração na sociedade. Na Austrália, há uns anos foi estimado que os animais de companhia possibilitavam poupanças nos gastos com a saúde humana na ordem dos 790 milhões a 1,5 mil milhões de dólares, dos quais 68% revertem para o governo e 32% para as famílias que os possuem. Num inquérito realizado em cinco países europeus, em 2000, verificou-se que a taxa de posse de cães
dãos que gostariam de usufruir em pleno dos meios destinados ao resto da população – os proprietários de animais de estimação, em particular os donos de cães. Efectivamente, em praticamente todos os locais onde pode ocorrer concentração de pessoas é vedado o acesso a cães (com excepção dos cães-guia). Apesar de ninguém contestar a utilidade e importância da existência de parques infantis para as crianças ou diferentes tipos de campos de jogos para desportistas, por exemplo, é inegável que alguns grupos de interesse têm sido negligenciados no planeamento urbano. Este facto está a ser progressivamente reconhecido em diversos países, onde a filosofia relativamente aos animais de companhia tem vindo a evoluir, de forma a permitir a sua melhor integração nos espaços urbanos. Neste âmbito, o estabelecimento de parques para cães não constitui propriamente um conceito novo, mas algo que tem vindo a ser efectuado há vários anos em diversos países, como a Austrália, Canadá ou Estados Unidos da América, e, mais recentemente, na Europa.
O que é um parque para cães?
Um parque para cães é, simplesmente, um espaço onde os proprietários de cães podem desfrutar, com os seus animais de estimação em liberdade e em segurança, dos benefícios dos parques e jardins proporcionados pelos municípios aos seus cidadãos. Existem vários métodos para elaborar parques para cães. Um consiste em aproveitar os espaços verdes e/ ou praias existentes e determinar horários nos quais os animais podem ser passeados sem trela. No entanto, este processo tem a desvantagem de interferir com a normal utilização desses espaços por parte dos restantes utentes – os animais podem perturbar corredores, ciclistas, crianças, pessoas que não gostam de animais, etc. Adicionalmente, o facto de infelizmente existirem ainda proprietários que negligenciam o seu dever de recolher os dejectos dos seus animais contribui para uma imagem negativa da utilização partilhada de parques e jardins. Outra forma de estabelecer estes parques consiste em determinar que uma dada secção do jardim ou praia passa a ser para utilização exclusiva dos cães e seus donos. No entanto, o facto de não existirem barreiras físicas a separar as áreas pode levar a que os animais possam escapar para áreas que não lhes são destinadas, originando os problemas atrás mencionados. Assim, a situação mais adequada consiste na criação de uma área específica, delimitada e vedada, de preferência no interior ou na periferia de parques e jardins já existentes ou, em alternativa, recorrendo ao aproveitamento de espaços ainda não utilizados, onde os proprietários de cães possam usufruir de um jardim municipal de forma semelhante ao resto da população, mas na companhia dos seus cães.
Dimensão dos parques
era de 35% na França, 22% no Reino Unido, 18% na Alemanha, 26% na Espanha e 28% na Itália. Em Portugal, parecem não existir dados concretos sobre a presença de animais de companhia nos lares nacionais, mas parece lícito assumir que não deverá ser muito diferente da situação nos restantes países europeus, particularmente Espanha.
A recolha dos dejectos por parte dos donos deve ser obrigatória.
Nos EUA, têm sido elaborados parques com dimensões variando entre 1 e 32 ha. No entanto, considera-se que a área mais adequada é a partir dos 2-3 ha. Num parque de dimensões reduzidas, há uma maior probabilidade de haver confrontos entre os animais, devido à redução da margem de conforto entre dois Um parque para cães é uma zona delimitada e vedada onde cães e donos podem usufruir do espaço livremente e em segurança.
Infra-estruturas nas cidades
Pelo seu efectivo, e pelos benefícios que obtêm dos seus animais, os proprietários de cães constituem um grupo de interesses específicos, a par de outros, cujas necessidades particulares deveriam ser tidas em consideração aquando do planeamento de equipamentos e infra-estruturas de apoio à população. Porém, as infra-estruturas promotoras de interacção social em meio urbano são escassas, e, à parte talvez dos centros comerciais (os actuais “centros de peregrinação” da maioria das pessoas), são frequentemente destinadas a públicos específicos. Mesmo os locais sem público-alvo específico, como praias e jardins, estão frequentemente vedados a um grupo de cidaCães&Companhia 47
Os parques para cães permitem o desgaste, em segurança, das energias acumuladas ao longo do dia animais, criando situações de maior tensão nas interacções. Adicionalmente, tende a haver um desgaste mais rápido do piso, no caso de utilização de relva, devido à grande quantidade de cães e pessoas concentrados numa área relativamente pequena; num parque de maior tamanho, o mesmo número de visitantes pode repartir-se por uma área maior, pelo que cada zona não sofre tanta pressão. É necessário ter em atenção que as estimativas de utilizadores dos parques para cães são frequentemente inferiores ao número real de frequentadores. A forma do Parque é relativamente irrelevante, dependendo fundamentalmente do espaço disponível e da sua forma. Tem sido sugerido que quando a área é reduzida, deve ser privilegiado o comprimento, de forma a aumentar a extensão por onde se pode passear e correr.
Árvores e sombras
Independentemente da escolha de material para a pavimentação do parque, é desejável que este disponha de diversas árvores e arbustos distribuídos por toda a sua área. Além de o tornarem esteticamente mais agradável e convidativo, este tipo de vegetação proporciona a sombra necessária no Verão e ajuda a fornecer um isolamento acústico à área.
Vedação
Normalmente é recomendado que a vedação do parque tenha pelo menos 1,5 m de altura, de forma a evitar que cães maiores saltem por cima dela para as áreas adjacentes, que pessoas entrem no parque sem ser pelos sítios adequados, e que os visitantes 48 Cães&Companhia
se sentem na cerca. A vedação deverá ter uma malha cerrada, para impedir que cães de pequena dimensão escapem por ela.
Acesso ao parque
O acesso ao parque deve ser feito através de um portão duplo. Este consiste numa pequena área com dois portões. O cão e o seu proprietário entram no parque por um portão, que é posteriormente fechado; a trela é retirada ao animal e o segundo portão aberto, dando acesso ao recinto. Isto permite evitar que algum cão no interior do parque fuja para a rua quando alguém entra. Adicionalmente, evita potenciais problemas de agressividade que podem ocorrer à entrada do parque, por um cão à trela (logo, sem possibilidade de fuga) se sentir ameaçado ao ser abordado por diversos cães soltos.
Espaço para os mais pequenos
É aconselhável a existência de pelo menos dois cercados – o recinto principal e um outro, de menores dimensões, destinados a cães de pequeno porte (menos de 15 kg). Isto permite evitar que os cães pequenos sofram inadvertidamente danos dos cães maiores, durante brincadeiras mais violentas ou por serem considerados uma presa potencial durante jogos de perseguição. A utilização deste recinto pelos cães de pequeno tamanho não é obrigatória, mas é recomendável, e constitui uma opção para que os seus proprietários possam beneficiar do parque em segurança, da mesma forma que os restantes utilizadores. Quando o cercado dos cães pequenos não está a ser
utilizado por estes, este pode ainda ser um recurso para que algum dos animais que, no recinto principal, esteja demasiado excitado e a perturbar os outros animais e pessoas, sendo aí mantido enquanto acalma, ou até o proprietário de um cão pequeno querer utilizar o recinto.
Estruturas e equipamentos
Relativamente a estruturas e equipamentos necessários ao bom funcionamento do parque, é recomendável que existam diversos distribuidores de sacos para recolha de dejectos. Deverão estar localizados por toda a área do parque e principalmente na entrada, de forma que os proprietários dos animais possam recolher os sacos necessários. Complementarmente, devem ser disponibilizados diversos caixotes de lixo para recolha dos sacos. Deverá existir um painel para avisos, onde poderá ser colocada informação mais detalhada sobre as regras do parque, folhetos informativos com conselhos de utilização, de saúde, de nutrição, etc. É desejável que existam bancos de jardim no parque, para que as pessoas possam descansar. Devem ser colocados afastados dos portões de acesso, para evitar a concentração de cães junto às entradas, o que pode aumentar a possibilidade de conflitos com outros cães que entrem no parque. É ainda aconselhável que exista um chafariz, que possibilite a distribuição de água a pessoas e aos animais. Porém, é de evitar a disponibilização de receptáculos comuns para a distribuição de água aos cães (ou seja, cada dono deve trazer uma gamela ou outro suporte para distribuir água ao seu cão), por serem um foco
potencial de transmissão de doenças entre os animais. O chafariz deve ser colocado numa zona impermeabilizada, de forma a evitar a criação de lama em seu redor.
Principais benefícios dos parques para cães
A existência de parques para cães apresenta diversos benefícios, quer a nível dos seus utilizadores directos, quer relativamente à comunidade em geral. Para os cães Benefícios dos parques para cães para os animais são, por exemplo: D Constituírem um local onde podem passear e fazer exercício à solta em condições de maior segurança, sem correrem o risco de fugirem, serem atropelados, importunarem outras pessoas ou destruírem bens; D Contribuírem para uma maior socialização dos cães, devido ao facto de permitirem o encontro de diversas pessoas e animais, actualmente cada vez mais reduzido; D Permitirem que os cães se mantenham mais calmos, uma vez que permitem o desgaste das energias acumuladas ao longo do dia e constituem um escape físico e psicológico à rotina diária. Para os donos Relativamente aos proprietários dos animais, algumas das vantagens dos parques são: D Permitirem o prazer de desfrutar dos espaços verdes proporcionados pela autarquia com os seus animais, em liberdade e segurança; D Contribuírem para o aumento das interacções com outras pessoas, actualmente cada vez mais reduzidos e mesmo, por vezes, activamente evitados. Diversos estudos têm realçado que pessoas com animais de companhia são mais facilmente abordadas por outras pessoas. Assim, a existência de um local que permite a congregação de diversos proprietários de cães promove contacto com outras pessoas; D Contribuírem para aumentar o nível de exercício físico e de actividades ao ar livre, devido ao facto de estimularem passeios mais prolongados.
cada um – os parques e jardins públicos são frequentemente vedados aos cães devidos aos potenciais ou reais conflitos que podem ocorrer entre cães em liberdade e outros utilizadores esses espaços, como desportistas, ciclistas ou crianças. Estruturados adequadamente, estes parques podem, de facto, beneficiar quem prefere não estar perto de cães, pois as vedações separam estes animais das áreas do parque utilizadas para outras actividades; adicionalmente, estas pessoas tenderão a encontrar menos cães na via pública (soltos ou de trela), dado que os seus proprietários tendem a ser atraídos pelo parque para cães; D Contribuindo para reduzir conflitos entre os proprietários de cães e os seus vizinhos, frequentemente causados pelo excesso de barulho provocado pelo cão. De facto, os latidos em casa são frequentemente provocados pelo aborrecimento/frustração dos animais devido à falta de estímulos, o que é minorado pelo escape físico e mental proporcionado pelos parques; D Contribuindo para um maior sentido de comunidade, ao aumentarem as interacções entre as pessoas; D Contribuindo para uma maior responsabilização para os deveres dos proprietários de cães para com a sociedade (como, por exemplo, a recolha dos dejectos dos seus animais e manutenção dos espaços públicos); D Constituindo um local privilegiado para a realização de acções de sensibilização e formação relativamente a questões ligadas aos animais e ao ambiente, contribuindo para aumentar o bemestar dos animais e a responsabilidade cívica das pessoas.
Principais críticas aos parques para cães
Quando se aborda o tema destes parques, levantamse normalmente várias dúvidas e preocupações relativamente ao seu funcionamento e segurança, frequentemente infundadas. Indicam-se em seguida as críticas mais comuns, bem como as principais refutações.
Possibilidade de confrontos agressivos entre os cães
Quando existem vários cães juntos, há sempre a possibilidade de a actividade se tornar excessiva e poder haver alguma agressão. No entanto, existem diversos factores que reduzem esta possibilidade. Muitos dos confrontos agonísticos entre cães ocorrem por razões territoriais; uma vez que os parques para cães tendem a constituir território neutro (ou seja, que não é encarado pelos cães como parte do seu território), a probabilidade de ocorrer lutas por esta razão é inferior à que existe quando os cães são passeados perto de casa. Outra das razões que leva que os cães mordam é o facto de, quando estão à trela, a possibilidade de se afastarem de outro cão que os esteja a importunar é-lhes negada, o que aumenta o nível de medo, ansiedade e/ou stress em situações de contacto social. Se o cão estiver solto, como ocorre nestes parques, tem a hipótese de decidir afastar-se de outro que o esteja a importunar, reduzindo a ocorrência de comportamentos agressivos. Uma das regras básicas de funcionamento de qualquer parque para cães é que os animais de-
Os parques para cães, bem utilizados, constituem excelentes oportunidades para os cães sociabilizarem e aprenderem a conviver com outros cães e em sociedade, além de propiciarem um ponto de encontro de destaque para pessoas que partilham um interesse comum
Para a comunidade Os benefícios dos parques para cães não estão limitados apenas aos seus beneficiários directos. Directa ou indirectamente, podem também beneficiar a comunidade onde se inserem, de várias formas: D Contribuindo para aumentar a reduzida taxa de licenciamento dos canídeos nos municípios apenas aos cães devidamente registados deverá ser autorizado o acesso, pelo que as pessoas vêm um benefício directo do licenciamento; D Contribuindo para aumentar a segurança da comunidade – pelo facto de contribuírem para a socialização dos cães, os parques aumentam as oportunidades para os cães aprenderem regras de conduta e o que lhes é ou não permitido fazer; assim, ajudam a reduzir a probabilidade de ataque a outra pessoa ou animal, quando na via pública; D Permitindo que diferentes grupos de interesse possam usufruir dos espaços verdes municipais sem confrontos e sem infringir os direitos de Cães&Companhia 49
Ao propiciarem o encontro entre diferentes cães em território neutro e em liberdade, os parques para cães propiciam óptimas oportunidades para a aprendizagem da “etiqueta” canina.
vem estar sempre sob controlo dos seus proprietários. Quando um animal se torna excessivamente agressivo para com os outros, deve passar para um cercado que não esteja a ser utilizado por outros cães ou ser retirado do parque. Naturalmente, cadelas em cio não devem ser levadas ao parque durante esse período, não só porque irão suscitar confrontos entre os machos como existe um risco sério de uma gravidez indesejada.
Possibilidade de os cães morderem pessoas
Todas as actividades recreativas envolvem algum nível de risco. Uma das regras essenciais de funcionamento dos parques para cães é que as pessoas que frequentam os parques fazem-no por sua conta e risco. Trata-se de áreas onde se agregam diversos cães desconhecidos, pelo que devem ser abordados de forma correcta. Esta é a principal razão porque o acesso ao parque deve ser restringido a crianças. Torna-se muito difícil conseguir controlá-las eficazmente, sobretudo porque frequentemente elas não sabem como se comportar de forma correcta com cães, principalmente cães estranhos. 50 Cães&Companhia
Há que ter em atenção que este tipo de parques é destinado aos proprietários de cães e seus animais, não a crianças, que têm à sua disposição de diversos recintos adequados às suas necessidades. No entanto, é de realçar que, nos diversos parques para cães americanos (bastante mais de 1 milhar), os casos de pessoas mordidas por cães são extremamente raros.
Possibilidade de transmissão de zoonoses
Esta é efectivamente uma possibilidade real. Quando existem diversos animais em contacto mútuo, há sempre a probabilidade de haver transmissão de doenças entre eles e às pessoas. Porém, um controlo de
acesso ao parque adequado, exigindo uma profilaxia adequada e especificada, permite reduzir este risco. É da responsabilidade de cada proprietário assegurar-se que o seu animal é mantido em boas condições higieno-sanitárias, recorrendo a um programa de vacinação e desparasitação adequado. Quando um animal está doente, não deve ser levado ao parque, para evitar a propagação da doença pelos outros animais. Adicionalmente, uma vez que nos parques para cães deverá ser exigida a recolha dos dejectos dos animais, a probabilidade de transmissão de zoonoses por esta via é significativamente minorada, ao contrário do que acontece na via pública, onde muitos proprietários não apanham ainda as fezes dos seus animais e não há informação sobre os cuidados de saúde profilácticos dos animais.
Incómodos devido ao barulho dos animais
Os cães normalmente ladram quando estão excitados e a brincar activamente. No entanto, este tipo de latidos é diferente do ladrar repetitivo de um cão frustrado ou stressado, sozinho em casa; este pode ser, aliás, minorado com o aumento de actividade. Uma dimensão adequada do parque para cães e suficiente vegetação (árvores e arbustos, que contribuem para “filtrar” o ruído), aliada à pressão que os fre-
quentadores do parque exercem uns com os outros para impedir que os cães ladrem excessivamente, levam a que esta questão normalmente não constitua um real problema nos parques para cães.
Possíveis danos ambientais causados pelos dejectos e urina
Apesar de a matéria fecal constituir uma importante fonte de poluição não localizada, as principais fontes são sistemas sépticos residenciais problemáticos e escoamentos de produções pecuárias. Os parques para cães devem exigir que os dejectos dos cães sejam recolhidos e colocados em receptáculos apropriados, pelo que entram num sistema de tratamento adequado; pelo contrário, os dejectos deixados em jardins, quintais ou ruas acabam por chegar aos lençóis freáticos. Relativamente à urina, o risco ambiental é mínimo devido à pequena quantidade de líquido; adicionalmente, é filtrada à medida que se desloca através do solo, pelo que lençóis freáticos ou sistemas de abastecimento de água potável não são contaminados.
Ocupam o espaço dos parques normais
A necessidade de os proprietários de cães terem um local onde possam desfrutar de um jardim onde possam também exercitar os seus animais em liberdade é tão legítima como a necessidade de as crianças terem parques destinados ao seu usufruto ou a dos desportistas de terem campos adequados, sobretudo
considerando a proporção deste grupo de interesses na população urbana. Por outro lado, a existência de parques autorizando cães em liberdade leva a que os seus proprietários tendam a levá-los preferencialmente para esses locais específicos, em vez de utilizarem os parques normais, onde muitas vezes nem estão autorizados a estar.
Gasto desnecessário do dinheiro dos contribuintes
Nenhuma pessoa beneficia plenamente de todos os equipamentos e infra-estruturas sociais e de lazer postos à disposição das pessoas pelas autarquias, tipicamente direccionados para diferentes tipos de público-alvo. Os parques para cães constituem simplesmente mais uma das infra-estruturas deste tipo disponibilizadas à população, fornecendo oportunidades recreativas para as pessoas, possibilitando que elas socializem com outras.
Em resumo
Apesar de serem comuns nos espaços urbanos, os animais de companhia, e os cães em particular, raramente dispõem nestes de condições que permitam que sejam passeados em liberdade de forma segura e legal. Porém, nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, começam a surgir respostas que permitem a sua melhor integração nestes ambientes. Uma das que mais se tem destacado é a criação de parques para cães, locais onde estes animais podem desfrutar de
um sentimento de liberdade em condições de maior segurança. Naturalmente, e tal como ocorre em qualquer outra situação, a utilização de infra-estruturas e equipamentos colectivos acarreta sempre benefícios e riscos por parte do utilizador, e em qualquer situação, o bomsenso de utilização deve imperar. No caso concreto dos parques dos cães, a sua implementação não só iria responder às necessidades específicas e reivindicações de um grupo populacional de crescente importância nos meios urbanos, como iria contribuir para o benefício da comunidade em geral, através da possibilidade destas pessoas poderem desfrutar plenamente de infra-estruturas municipais destinadas aos seus interesses (e diminuindo assim os potenciais ou reais confrontos entre os proprietários de animais e os seus detractores) e da criação de um espírito de comunidade, através do contacto reforçado entre pessoas que partilham um interesse comum. Porém, a criação de um parque para cães deve ser uma decisão cuidada e ponderada, de forma a proporcionar aos seus utentes os reais benefícios de um parque ou jardim; não deve ser considerado apenas como uma forma de aproveitar espaços considerados inadequados para utilização por parte de outras pessoas. D
Projecto Para mais informações sobre parques para cães, pode consultar em português, por exemplo, http://www.aradik.net/consulting/ downloads/ParqueCaes-Projecto.pdf
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