5 Dicas para escolher um (bom) criador

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Criação

Carla Cruz

Bióloga, Mestre em Produção Animal e Doutoranda em Ciência Animal (www.aradik.net) Fotos: Shutterstock

5 Dicas para escolher um (bom) criador Um dos temas mais controversos quando se decide adicionar um cão à nossa família é onde o ir buscar? Optando-se por um cão de raça, a opção mais frequente é adquirir a um criador. E aqui começam as dificuldades...

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inguém quer certamente fomentar o negócio das fábricas de cachorros, que vende cachorros a baixo preço à custa das condições inadequadas em que os cães produtores vivem. Mas como saber escolher o criador certo? Para quem não está no meio (e por vezes para quem está), descobrir um bom cachorro num mar de criadores, criadeiros, produtores e puppy mills pode parecer uma meta inalcançável, tão difícil como tentar desembaraçar um novelo todo ensarilhado à procura de uma ponta onde pegar. A grande verdade é que… não é fácil, e exige trabalho por parte do futuro dono. Ele não se pode escusar a fazer o seu trabalho de casa, para encontrar a raça, o criador e o cão certo para a sua situação. Deixo-lhe aqui cinco dicas sobre como o fazer.

1. Procure o máximo de (bons) contactos possível

A primeira grande dificuldade: onde encontrar criadores da raça que quer? Um bom ponto de partida é pedir ao Clube Português de Canicultura (CPC) a listagem de ninhadas que têm para essa raça, no seu website (www.cpc.pt). Atenção, esta lista não é minimamente uma garantia de qualidade ou um selo de aprovação; é simplesmente a indicação das pessoas que tiveram ninhadas da raça nos últimos tempos e que as registaram no Livro de 26 Cães&Companhia

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Um bom ponto de partida é pedir ao Clube Português de Canicultura a listagem de ninhadas da raça escolhida Origens Português (LOP) ou no Registo Inicial (ou seja, ninhadas com “pedigree”). Qual a importância deste registo? É sinal que o criador se preocupa com a traçabilidade dos seus exemplares, e ajuda a conhecer os seus ascendentes e eventualmente a despistar problemas de saúde. Nenhum criador digno desse nome irá entregar cães de raça não registados. Se a raça que escolheu tiver Clube(s) de raça (pode encontrar os contactos destes Clubes no website do CPC), pode pedir-lhe(s) também os contactos de criadores sócios do(s) Clube(s). Uma vez mais, isto não é garantia de qualidade (até porque há bons criadores que, por razões diversas, optaram por não se associar a nenhum dos clubes existentes), mas dá-lhe mais uns nomes para a sua lista. Consulte também os media especializados (quer em papel como esta revista, quer online) à procura de anúncios de criadores das raças que pretende. Uma pesquisa num motor de busca da Internet também lhe irá revelar websites e blogues de criadores da raça que pretende. Atenção que websites muito bonitinhos não são necessariamente sinal de um bom criador, mas sim de um bom marketing.

Onde não recomendo a procura é nos websites generalistas de anúncios gratuitos. Apesar de, por vezes, se encontrarem lá anúncios de criadores sérios, a maioria dos anúncios são de criadeiros ou criadores mais ou menos imponderados, que fizeram uma ninhada “porque sim” e procuram uma forma rápida e inconsequente de “despachar” os cachorros antes que comecem a dar despesas.

2. Fale com vários criadores

Agora que esperançosamente já arranjou uma série de contactos, está na altura de se dedicar a fundo à sua seleção e começar a separar o trigo do joio. Fale com os diversos criadores, não apenas com um ou dois, e não apenas com quem tem ninhadas neste preciso momento ou quem fica mais perto de sua casa. Pode dar trabalho, e pode significar que vai ter de esperar por um cachorro, mas vai ver que a prazo esta é a opção que lhe dá maior segurança. Comece por lhes telefonar a inquirir sobre a raça. Apresente-se, diga o que está a pensar, porque está a ponderar esse tipo de cão, converse com o criador para em conjunto aferirem se é uma raça adequada para si ou não. Cães&Companhia 27

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Pergunte aos criadores o que acontece depois de entregarem um cachorro, que tipo de apoio dão ao futuro dono.

Veja o tipo de conversa da pessoa do outro lado da linha. Responde às suas perguntas? Coloca questões de volta, para tentar ver o seu estilo de vida e pretensões? Ou tem um discurso simplesmente mercantilista? A sua conversa inspira-lhe confiança, parece ser uma pessoa que sabe o que está a fazer e dizer? Ou revela-lhe inseguranças e falhas de conhecimento? As conversas telefónicas vão-lhe permitir riscar alguns nomes da sua lista de criadores. Fique-se pelos que lhe pareceram estar a fazer um trabalho sério e com conhecimento.

3. Vá visitar vários criadores

Agora que fez uma primeira seleção, ponha as pernas a caminho e vá visitar os criadores que passaram no primeiro crivo de seleção. Veja a sua recetividade, a forma como falam dos seus cães e respondem às suas perguntas, as condições que têm, o estado de saúde dos cães (se parecem estar saudáveis e alegres, sem problemas visíveis) e, sobretudo, a relação que os cães têm com eles. Esta última diz-lhe mais sobre o tipo de pessoas que são, e o seu empenho, que muitas palavras. Classicamente é aconselhado que se apareça à porta do criador sem avisar, para ver como a situação realmente é no dia-a-dia. Isto é um erro! A maioria dos bons criadores dedicam-se à criação como um hobby, têm empregos reais no dia-a-dia, e compromissos e responsabilidades familiares. Mesmo os que se dedicam à criação profissionalmente têm diferentes afazeres, e nem sempre poderão ter disponibilidade para o receber quando deseja. Lembre-se que está a entrar na casa de outra pessoa, por isso seja cortês e combine antecipadamente a melhor ocasião. Não se preocupe, não é por marcar com tempo que o que vai ver será necessariamente uma “operação de charme”. Até podem haver cuidados extra por parte do criador, mas há uma coisa que não se con-

segue modificar nos 2-3 dias desde que marca até que aparece – a relação com os animais. Daí este ser um dos aspetos mais importantes a considerar, a par da competência apercebida. Naturalmente, fuja se o criador rejeitar sistematicamente a possibilidade de visita ou apenas lhe sugerir um território “neutro”, fora de casa, para se encontrarem. Desconfie ainda de quem não lhe permite ver as condições em que os cães estão, e apenas os vai buscar a um sítio desconhecido para lhos mostrar num mais agradável. Pergunte-se o que se passará para que não possa ver como os animais são mantidos!

4. Questione as motivações dos criadores

Naturalmente, durante as conversas que terá com os criadores, uma boa parte do tempo vai ser gasta analisando a sua situação específica. Mas pergunte-lhes também sobre o interesse e

atividade que têm na raça. Porque escolheram essa raça? Quais os seus objetivos, o que pretendem alcançar na criação? O que fazem para isso? Que despistes de saúde fazem? Que tipo de avaliação comportamental e morfológica fazem? Com que frequência têm ninhadas, e por que razão? O que acontece depois de entregarem um cachorro, que tipo de apoio dão ao futuro dono. Com este tipo de questões, tente determinar se é um criador que se envolveu na raça por paixão, que tem objetivos específicos, ou meramente por lhe parecer ser uma raça vendável cruzando apenas a Fifi com o Bobi ad eternum.

5. Demore o seu tempo a decidir

Depois de visitar os vários criadores da sua lista, pondere bem os prós e os contras de cada um. Pense no que lhe dá mais garantias de apoio

Fuja se o criador rejeitar sistematicamente a possibilidade de visita ou apenas lhe sugerir um território “neutro”, fora de casa, para se encontrarem

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futuro (e, se optar por este, peça-as por escrito, para segurança de ambos). Pense no que lhe demonstrou maior competência e saber-fazer. Pense no que lhe mostrou maior paixão pelo meio. Qual o melhor criador? Não há uma resposta certa, ou única. Tudo depende dos objetivos pretendidos, daí ser fundamental visitar vários e depois usar o bom senso para decidir.

Não recomendo a procura em websites generalistas de anúncios gratuitos, pois a maioria dos anúncios são de criadeiros ou criadores mais ou menos imponderados.

Um animal é para a vida

Atualmente, as pessoas gastam mais tempo a decidir qual o modelo de carro ou de telemóvel que vão adquirir – objetos inanimados trocados ao fim de poucos anos – do que qual o cão que vão adicionar à sua família – um ser vivo com sentimentos e emoções que irá durar 10 ou mais anos. Mas a aquisição de um animal não deve – não pode – ser tomada de ânimo leve! Quanto melhor for o início de vida do cachorro antes de chegar até si, quanto maior for o apoio que tiver em qualquer fase da vida do animal, maior a probabilidade de vir a ter um companheiro alegre e saudável que lhe irá proporcionar anos de prazer. Daí que seja fundamental visitar diferentes criadores, para se aperceber do que se passa no meio da raça e poder tomar uma decisão informada.

Não se precipite. Quando se toma a decisão de aumentar a sua família com um animal de estimação, pode parecer custoso ter de esperar alguns meses até encontrar o cachorro certo, ou ele até pode ser mais caro que o

inicialmente previsto (porque uma criação de qualidade e saudável tem custos elevados), mas isso será mais que sobejamente compensado pelos anos de alegrias partilhadas que terão! n

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