D Genética cipais desvantagens: a diminuição da variabilidade genética, viabilidade, fertilidade, vigor e capacidade produtiva dos indivíduos muito consanguíneos.
Cruzamento em linha (linebreeding)
Notas para criadores III
Tipos de cruzamentos Nos últimos meses, temos abordado alguns princípios conceptuais e práticos que o criador de animais deve conhecer e ter presentes ao planificar o seu trabalho a longo prazo. Falou-se dos diferentes métodos de selecção dos reprodutores e das vantagens e desvantagens do recurso à consanguinidade.
A
ascendência dos exemplares é um dos factores que tipicamente se tem em consideração num plano de criação, pois poderá dar-nos indicações do que poderemos esperar obter. Com base na informação relativa aos ascendentes dos indivíduos que iremos utilizar na reprodução, podemos considerar diferentes tipos de cruzamentos.
Cruzamentos consanguíneos (inbreeding)
A consanguinidade define-se como um sistema de acasalamento em que se produzem descendentes através de pais que estão mais intimamente aparentados do que a média da população da qual provêm. Ou seja, os progenitores usados no acasalamento possuem algum parentesco entre si 42 Cães&Companhia
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(possuem um ou mais antepassados comuns), superior ao parentesco médio entre os indivíduos da sua raça. Este assunto foi abordado em profundidade no mês passado, pelo que agora apenas se refere que a consanguinidade tem como principal vantagem a maior previsibilidade das características da descendência, fruto do aumento da homozigotia; e a detecção das características indesejáveis que estavam “camufladas” nos indivíduos heterozigóticos e que se manifestam em homozigotia. E como prin-
Por: Carla Cruz, Bióloga, Mestre em Produção Animal e Doutoranda em Ciência Animal • Fotos: Shutterstock
Tipicamente, falamos em cruzamentos consanguíneos quando os progenitores estão estreitamente aparentados, sendo o ancestral comum partilhado na primeira e/ou segunda geração – por exemplo, cruzamentos entre pais e filhos ou entre irmãos. Os cruzamentos em linha são uma forma particular dos cruzamentos consanguíneos. Neste tipo de cruzamentos, aplica-se a mesma definição geral – os cruzamentos em linha são um tipo de acasalamento em que o parentesco dos indivíduos se mantém tão próximo quanto possível a um ascendente na sua árvore genealógica. A principal diferença é que o parentesco relativamente ao(s) antepassado(s) é maior relativamente ao inbreeding estreito, pelo que o nível de consanguinidade obtido será menor (ver tabela); no entanto, não existe nenhuma distinção clara entre os dois tipos de cruzamentos. os efeitos genéticos são os mesmos em ambos os cruzamentos – aumentar a homozigotia, na descendência, dos genes em heterozigotia dos antepassados, bem como aumentar a probabilidade que os alelos que a descendência possui nos seus genes serem cópias herdadas do mesmo ancestral. Ou seja, as vantagens e desvantagens da consanguinidade irão também ocorrer no cruzamento em linha, embora potencialmente não tão rapidamente. No cruzamento em linha, pretende-se aumentar o grau de parentesco de um indivíduo em relação a um antepassado, que irá aparecer várias vezes na sua ascendência. É
normalmente preferido pelos criadores relativamente à consanguinidade, provavelmente porque não é tão intenso quanto esta, mas permite também a concentração na descendência das características de um dado reprodutor (tipicamente um macho, pois produz mais descendentes que as fêmeas, logo torna-se mais fácil avaliar o seu mérito enquanto reprodutor), procurando tentar evitar os efeitos negativos de uma consanguinidade estreita, pelo menos nas primeiras gerações. No entanto, tal como ocorre com o inbreeding, também o cruzamento em linha irá reduzir a variabilidade genética da população e, se praticada continuamente, levar eventualmente a problemas de depressão consanguínea. Este tipo de cruzamento é frequentemente utilizado no estabelecimento de raças novas ou de linhas dentro de uma raça, nomeadamente quando se identificou algum exemplar notável e que tenha dado pro-
Os animais produzidos nos cruzamentos abertos tendem a produzir descendência menos homogénea que no caso dos animais consanguíneos
Progenitores
Nível de consanguinidade
Pai / filha Mãe / filho
25%
Irmãos Avô / neta Avó / neto Meio-irmão / meia-irmã
12.5%
Tio / sobrinha Tia / sobrinho Bisavô / bisneta Bisavó / bisneto Meio-tio / sobrinha
6.25%
Meio-tia / sobrinho Primos directos Tabela – Níveis de consanguinidade de alguns tipos de cruzamentos, assumindo que não existe consanguinidade prévia entre nenhum progenitor
vas de transmitir bem as suas qualidades. É muitas vezes usado quando um dado ancestral já morreu, ou deixa de estar disponível para reprodução (ou a quem é negada a reprodução com determinados exemplares), pelo que se usa a sua descendência para tentar concentrar o seu potencial genético. Adicionalmente, um nome famoso num pedigree frequentemente faz com que as pessoas apenas considerem os feitos obtidos e transmitidos por esse exemplar, negligenciando os restantes indivíduos na ascendência.
Cruzamento aberto (outcross)
O cruzamento aberto é o acasalamento de animais da mesma raça não aparentados. Ou seja, qualquer um dos animais utilizados no cruzamento pode ter algum grau de consanguinidade; no entanto, se não partilharem ancestrais comuns entre si, o seu acasalamento é considerado um cruzamento aberto. Os efeitos genéticos são opostos aos da consanguinidade – enquanto a consanguinidade tende a aumentar a homozigotia dos genes, o cruzamento aberto tende a aumentar a heterozigotia. Isto, naturalmente, quando os progenitores possuem alelos diferentes. Por exemplo, se um progenitor for homozigótico para um dado alelo num gene, e o outro for homozigótico para outro, a descendência será heterozigótica. Quando diferentes linhas são homozigóticas para algum gene, com fixação de diferentes alelos em diferentes linhas, a quantidade máxima de heterozigotia será obtida na primeira geração de cruzamentos entre elas; este nível irá depois diminuir em ge-
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