D Cidadania ausência de reprodução não as afeta. Adicionalmente, qualquer gravidez em qualquer espécie, é sempre um stress e risco adicional que pode efetivamente comprometer a sua qualidade e esperança de vida. Adicionalmente, tanto quanto se sabe, os cães não são capazes de momentos de retrospetiva, não são capazes de olhar para o seu passado ou futuro mais ou menos distantes e pensar: “Oh, como gostaria de ser mãe/pai!”.
morfológica, comportamental e/ou funcional, na frequência de reprodução, na idade em que os cachorros são vendidos, etc. Mais do que “criadores”, talvez fosse mais correto chamá-los “produtores”. Depois há quem crie porque tem uma cadela (ou cão) e, por qualquer razão ou desculpa, em qualquer fase da sua vida ou regularmente, decide fazer uma ninhada, sem que tenha uma razão definida para o fazer ou um objetivo a alcançar. Finalmente, há os verdadeiros Criadores, aqueles dignos dessa designação. São frequentemente pessoas que nem sequer planearam vir a sê-lo. São pessoas que se apaixonaram por uma raça, que adquiriram alguns exemplares antes de mais para seu prazer, que se empenham a estudar a fundo tudo o que puderem sobre ela – comportamento, funcionalidade, problemas de saúde e/ou genéticos, linhas de criação, etc. –, frequentemente que foram “mordidas pelo bichinho” da canicultura enquanto hobby (provas de beleza e/ou práticas). São pessoas para quem criar vem como uma extensão natural desta sua paixão e do conhecimento sobre a raça que foram adquirindo ao longo dos anos, na tentativa de a melhorar e de obter exemplares cada vez melhores. Quando criam, fazem-no como um ato muito ponderado, e com o intuito de obterem um ou mais exemplares para si; a venda de cachorros é essencialmente um “subproduto” desta demanda. Investem muito nos seus exemplares e nas ninhadas, e raramente (se é que alguma vez!) obtêm, no cômputo geral, lucro através da criação.
O “milagre” da vida
Um dos argumentos mais frequentemente ouvido por quem cria com a sua cadela sem um objetivo definido é o de que é importante para os seus filhos assistirem ao “milagre” do nascimento e da vida. Bem, espero que estejam também preparados para ensinarem aos seus filhos o “milagre” da corrida de emergência para o veterinário se algo correr durante o parto. E para lhes ensinarem o “milagre” da morte – porque mesmo que não se passe nada de errado durante o parto e a cadela não morra (é sempre um risco a ponderar!), é comum que um ou mais cachorros morram nos primeiros dias após o parto, por razões várias.
O que fazer aos cachorros?
As cadelas (e cães) devem criar pelo menos uma vez na vida?
Então... quer O ser criador?
que é ser um criador? Será que se “quer ser criador”, como se quer ser professor, médico, etc.?
O que é um criador?
No seu Regulamento do Livro de Origens Português e do Registo Inicial, o Clube Português de Canicultura define o “criador” simplesmente como “o proprietário da cadela na ocasião do parto”. Isto é, naturalmente, uma definição ampla e objetiva, mais do que suficiente para o seu papel na emissão de registos. Porém, nada nos diz sobre o intuito dos criadores, que é no fundo a primeira diferenciação entre eles.
Há algum tempo fui contactada por uma pessoa que me fez inúmeras perguntas sobre os meus cachorros e o maneio dos meus cães. Eu sou a primeira pessoa a encorajar os potenciais donos dos meus cachorros a fazerem todo o tipo de questões que lhes ocorra, mas algo me soou estranho. Quando lhe perguntei sobre a razão para determinado tipo de questões respondeu-me que estava a fazer essas perguntas para aprender porque gostaria de ser criadora. Isto deixou-me a pensar sobre o assunto... Por: Carla Cruz, criadora com o afixo "Aradik"• Fotos: Shutterstock 34 Cães&Companhia
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Ainda é muito persistente o mito que os cães (e cadelas) devem criar pelo menos uma vez na vida, para não ficarem infelizes/frustrados/loucos! Esta ideia será talvez devida ao facto de, à medida que os cães vão crescendo e alcançando a maturidade, ser comum vê-los a tentar montar cadeiras, sofás e mesmo as pernas das pessoas, sejam ou não os seus donos. Isto não significa, como muitos pensam, que o cão precisa de acasalar ou que está a querer dominar o dono. Significa simplesmente que os vários comportamentos relacionados com a sexualidade se estão a começar a integrar e coordenar numa cadeia coerente e funcional. Quanto às cadelas, basta pensar que, nos canídeos sociais em estado selvagem, em alcateias estáveis, a maioria das fêmeas defere a reprodução em favor da fêmea dominante, para constatar como a
Criar é uma atividade que exige tempo e dedicação, para que os cachorros tenham o melhor início de vida possível
Se está a criar porque quer um cachorro da sua cadela/do seu cão, o que fazer aos restantes cachorros? Porque dificilmente irá nascer só um... Criando porque “é importante que as crianças saibam como ocorre um nascimento”, o que fazer depois aos cachorros? Quantos de nós não recebemos já, por e-mail ou nas redes sociais, mensagens reencaminhadas de amigos bem intencionados, dizendo que “X cachorrinhos da raça Y precisam de encontrar dono na próxima semana senão serão abatidos”? Se não tem destino previamente preparado para os seus cachorros, porquê criar? Está preparado para explicar aos seus filhos porque é que lhes mostrou o “milagre” do nascimento e depois largou os cachorros num sítio qualquer ou os mandou abater porque ninguém quis ficar com eles e não tem espaço, condições e/ou dinheiro para ficar com mais cães?
Tipos de criadores
Por um lado, temos quem crie com um intuito declaradamente comercial, com o objetivo de obter o seu rendimento através da produção de cachorros para venda. Pragmaticamente, nada há nada de fundamentalmente errado com isto, desde que os animais sejam mantidos em condições adequadas. No entanto, muitas vezes, para maximizar o rendimento, fazem-se “atalhos” pelo caminho, nomeadamente no maneio higieno-sanitário, na qualidade da alimentação, na realização de despistes de saúde, na verificação prévia da aptidão Cães&Companhia 35
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