Genética do Pelo

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Genética do pelo

D Genética

Uma questão peluda I O meu cão tem um longo pelo sedoso, que tenho de escovar todos os dias para manter o seu belo aspeto. A minha vizinha tem um cãozito de pelo curto que não lhe dá trabalho nenhum, mas que está sempre a largar pelo. Já do outro lado da rua há um cãozito com umas barbichas giras e um pelo áspero que não cai e não suja a casa, mas que tem de ser arranjado regularmente. Um pouco mais à frente, o cão de guarda do armazém ao fundo da estrada tem um pelo mesmo denso, deve ser por isso que gosta de estar sempre a vigiar tudo mesmo quando chove! Por: Carla Cruz, criadora com o afixo "Aradik"• Fotos: Shutterstock

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e pertencem todos à mesma espécie, porque é que há tantas diferenças entre os cães no que diz respeito ao tipo e cor da sua pelagem? É o que vamos ver neste e nos próximos artigos, agora que vimos bem repousados das férias e com a cabeça fresca para mais facilmente abordarmos temas mais “densos”.

A base genética

Porque é que o conhecimento das bases genéticas que justificam a variabilidade da pelagem nos cães é importante? Porque, além dos grandes traços morfológicos, esta é uma das primeiras características que as pessoas usam para distinguir diferentes raças e, individualmente (e, por vezes, de forma inconsciente), para escolher o seu companheiro, de raça ou não. Sob o ponto de vista do cão, o conhecimento correto do seu tipo de pelo permite uma melhor perceção do que é uma pelagem saudável e influencia os cuidados que o dono deve prestar ao cão, para uma boa higiene do pelo e da pele.

A pelagem nos animais selvagens…

Nos animais selvagens, a variabilidade de tipo e cor de pelagem entre animais da mesma espécie é tipicamente muito mais reduzida do que a que ocorre nos animais domésticos. Isto porque, na natureza, a pelagem tem funções muito específicas. Por exemplo, serve de isolamento térmico, e será relativamente mais curta ou mais comprida e/ou mais ou me12 Cães&Companhia

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nos densa consoante a espécie viva em ambientes mais quentes ou mais frios. Serve de camuflagem, permitindo que o animal passe desapercebido no ambiente em que vive devido à cor semelhante ao meio envolvente ou a um padrão de pelagem que leva a que a sua silhueta seja “quebrada” – como ocorre, por exemplo, com as riscas das zebras, que levam a que ao longe não se consiga perceber bem quantos animais existem no grupo. Pode auxiliar na escolha de parceiros reprodutivos – há espécies em que os machos que apresentam uma pelagem mais exuberante (pense-se na juba dos leões, por exemplo) são escolhidos face a outros com uma pelagem não tão desenvolvida, pois se os animais são capazes de sobreviver bem com algo que à partida é tão obviamente uma desvantagem é porque terão maiores capacidades de sobrevivência e logo de cuidar da prole. Frequentemente, animais que apresentem características de pelagem que se desviem muito da norma para a sua espécie acabam por ter uma esperança de vida mais reduzida, pois tornam-se mais visíveis para predadores e competidores.

… e nos animais domésticos

Em contrapartida, os animais domésticos não estão sujeitos a uma seleção natural tão agreste. As suas necessidades de comida, água, espaço, reprodução, etc., são controladas pelas pessoas, pelo que não precisam de passar tão desapercebidos no ambiente. Assim, um animal que nasça com um tipo ou cor de pelagem diferente do Cães&Companhia 13

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