D Genética
Genética das cores
nos cães
Uma questão peluda IV
Nos últimos meses vimos quais as bases genéticas das cores do pelo nos cães, o que já se descobriu e o que ainda está no estado teórico quanto à regulação da distribuição e intensidade da pigmentação no pelo e na pelagem. Mas, como todos sabemos, por vezes os cães não têm cor em todo o corpo, há zonas brancas ou bastante mais claras misturadas com as zonas de cor. Porquê?
o desenvolvimento embrionário) impede que a cor seja exibida.
Gene S – Spotting (Malhado de branco)
Este gene determina se um cão irá ou não apresentar manchas brancas no corpo, e a sua extensão. Classicamente, assumiu-se a ocorrência de um gene com 4 alelos. Com o alelo dominante S, a pelagem seria integralmente colorida, sem manchas brancas com base genética. O alelo seguinte, si determinaria o padrão ir-
landês (assim denominado pela linha de ratos em que foi primeiro detetado), com manchas brancas na cabeça, garganta e/ou pescoço, peito, ventre, extremidade dos membros e ponta da cauda (os Collies são um bom exemplo deste padrão de malhas, apesar de noutras raças as manchas frequentemente não serem tão extensas). Seguir-se-ia o alelo sp (piebald), que determinaria uma pelagem com malhas mais extensas, como por exemplo a do Landseer. Finalmente, o alelo mais recessivo seria o sw (extreme white), que determinaria uma pelagem quase toda branca, só com algumas malhas no corpo e/ou cabeça.
Cachorro Landseer com marcação piedbald.
Por: Carla Cruz, Bióloga, Mestre em Produção Animal e Doutoranda em Ciência Animal • Fotos: Shutterstock
A
enorme diversidade de cores e padrões que os cães apresentam é significativamente aumentada quando se pensa que estes, por vezes, se misturam com áreas brancas de maior ou menor extensão, com margens mais ou menos definidas. Elas afetam a forma como nos apercebemos da cor nos cães, criando belos padrões bicolores (coloridos e brancos) ou tricolores (quando o cão é afogueado e malhado de banco). Este mês vamos ver quais os genes que controlam a ocorrência de manchas brancas e os que regulam como o branco e a cor interagem entre si.
O branco não é uma cor
Antes de mais, é importante esclarecer que o branco não é uma cor! O branco é a ausência de cor. Como vimos anteriormente, a cor é devida a um pigmento depositado no pelo (e pele), a melanina. Existem dois tipos de pigmentos, a eumelanina (pigmento preto/castanho) e a feomelanina (pigmento amarelo/vermelho). Quando o pelo não tem pigmentação, será branco. Quando um cão apresenta zonas do corpo brancas, é porque o pelo nessas áreas não tem pigmento. Apesar de as células conterem informação genética para a cor que essa zona “deveria” apresentar – afinal, todas as células em todo o corpo possuem a mesma informação genética –, algo (outro(s) gene(s) e/ou ação ambiental durante 36 Cães&Companhia
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O Westie é “branco” por ser amarelo recessivo ee muito claro.
Quadro 1: Gene S
Estes alelos não seguiriam uma ordem de dominância e recessividade estrita. O alelo S seria totalmente dominante relativamente a si (ou seja um cão Ssi apresentaria uma cor sólida, sem malhas) mas os restantes alelos seriam co-dominantes, permitindo a variação quase contínua que pode ocorrer na área das malhas brancas. Adicionalmente, um indivíduo com um alelo mais dominante e um mais recessivo poderia apresentar um fenótipo intermédio, como ocorre nos Boxers (ver caixa). A identificação deste gene nos cães tem sido difícil. Procurou-se descobrilo com base nos genes já identificados em outros animais, mas este processo é complicado porque o mesmo aspeto fenotípico (malhas brancas) em espécies diferentes pode ser causado por genes distintos. Na maioria dos casos não se conseguiu encontrar uma associação entre alterações nesses genes já identificados e padrões de malhado nos cães. O primeiro gene que se conseguiu provar que estava associado ao malhado foi o MITFF (microphthalmia associated transcription factor), um gene que desempenha uma ação crítica na via
O Dogue Argentino é branco por ser muito malhado.
de produção de pigmentação, afetando a sobrevivência embrionária das células que irão originar o pigmento. Este gene seria responsável pelo animal apresentar uma pelagem sólida, malhada de tipo piebald e malhado de tipo irlandês em algumas raças (este será devido ao genótipo heterozigótico). Assim, apesar de no caso do malhado parecer haver uma discrepância entre a teoria e o gene, a realidade é que ainda não se conseguiu associar este gene a todos os padrões de malhado de branco que os cães podem apresentar. Certamente os próximos anos irão apresentar novos desenvolvimentos nesta área.
Há branco e “branco”
Atenção, é importante não confundir os cães brancos por serem muito malhados (por exemplo, o Dogue Argentino) com os cães que são “brancos” por serem amarelos recessivos ee muito claros (como o Pastor Branco Suíço ou o West Highland White Terrier). Nestes últimos, há uma produção normal de melanina no pelo (e pele) em todo o corpo, mas o pigmento é tão claro que parece branco. No caso dos cães muito malhados, não há produção de melanina em grandes áreas do corpo, e o pelo é branco por ausência de pigmento. No caso desta ausência ocorrer na zonas das orelhas e ouvidos, há uma elevada probabilidade de o animal ser uni ou bilateralmente Cães&Companhia 37
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