Sentidos
Carla Cruz
Bióloga, Mestre em Produção Animal e Doutoranda em Ciência Animal (www.aradik.net) Fotos: Shutterstock
Fifi procura Bobi para relação séria Abrindo um qualquer site ou fórum dedicado a animais de companhia, os anúncios mais frequentes são os de pessoas que procuram um “namorado” para a sua cadela, para fazerem uma ninhada. Porquê?
É
uma ideia que está ainda muito entranhada na nossa cultura, o fazer-se uma ninhada porque sim, ou porque as cadelas devem fazer pelo menos uma ninhada na vida, mesmo que se queira esterilizar a cadela. Frequentemente, quando contactam um criador à procura de um macho para a sua cadela, às perguntas “então, mas porque quer fazer uma ninhada? Quais os seus objetivos?”, a resposta do outro lado da linha é… um longo silêncio. A maioria das pessoas não se apercebe, o que envolve criar uma ninhada conscienciosamente. Este artigo irá explorar algumas das razões normalmente invocadas para fazer uma criação “porque sim”, e aquilo em que deve pensar e planear muito seriamente antes de tomar uma decisão.
“Todas as cadelas devem ter pelo menos uma ninhada na vida, senão ficam deprimidas”
Este mito ainda está demasiado enraizado, mas não existem razões biológicas para tal, e deriva da nossa própria perspetiva enquanto pessoas. Por um lado, culturalmente há a ideia transmitida de geração em geração que o papel das mulheres é terem filhos e que uma mulher só se sente realizada quando é mãe. Há muito quem ache (e em alguns casos realmente acontece) que as mulheres passam o tempo a desejar ser mães em alguma altura futura, e que começam mesmo a ficar frustradas quando começam a sentir o relógio biológico a tocar e ainda não o foram. Por outro lado, enquanto pessoas, os nossos processos mentais permitem-nos a capacidade de pensar em acontecimentos passados e antecipar eventos futuros (daí a perspetiva do “gostaria de vir a ser mãe daqui a algum tempo”) – é a chamada memória episódica. Quando tentamos perceber a forma como os cães entendem o tempo, é praticamente inevitável transpor para eles a nossa própria conceção de tempo. Mas a investigação feita até à data, mostra que os cães (tal como a maioria dos animais) não têm esta capacidade de pensar e de relacionar tempos passados e futuros como nós a temos. Aliás, a maioria dos cientistas acredita que esta sim é uma das características que torna os humanos únicos. Naturalmente, os cães têm uma certa capacidade de aprender com base em experiências passadas e de, com base nisso, antecipar certos eventos num futuro imediato. Mas
Criar uma ninhada desde o nascimento até à saída para a sua nova família requer muito planeamento, tempo, trabalho e dinheiro. Tem a certeza que tem disponibilidade e conhecimentos para isso?
Ter um cão não é um direito, é uma responsabilidade. E criar ainda o é mais, está em jogo a vida da sua cadela, dos cachorros e das suas famílias humanas tanto quanto se sabe falta-lhes a capacidade de abstração de conseguir meditar em situações que aconteceram no passado ou de pensar “um dia gostaria que isto acontecesse”. Eles vivem, essencialmente, no presente. “Então – está com certeza agora a pensar – mas é claro que os animais conseguem antecipar necessidades e desejos futuros a longo prazo. Senão, porque é que os esquilos, por exemplo, guardam comida para o inverno? É porque sabem que vão precisar dela!” Bem, foram feitos estudos
em que se manipulou os stocks de comida armazenada, e verificou-se que isso não influenciava o comportamento de acumulação por parte dos esquilos – ou seja, é um comportamento instintivo, “mecânico”, e não dependente de uma qualquer capacidade de planeamento para o futuro. Tudo isto para dizer que, com base no conhecimento atual, não há qualquer base para pensar que os cães conseguem planear eventos num futuro alargado e sentir-se alterados quando a vida não lhes corre como “previsto”.
“Na natureza as cadelas iriam criar”
“Ah, pronto, está bem, elas até podem não se sentir deprimidas por não terem uma ninhada, mas na natureza elas iriam criar no 34 Cães&Companhia
seio das suas matilhas, não é? Por isso em casa também devem criar.” Antes de mais, é importante ter a noção que os cães domésticos não existem “na natureza”, não existem enquanto espécie selvagem. Sim, existem cães assilvestrados, e cães párias que vivem e morrem sem qualquer associação com pessoas, mas todos eles vivem nas margens de ambientes humanos, e dependem deles para a sua sobrevivência. Ao contrário do que acontece com os lobos, em que as alcateias são formadas pelo casal reprodutor estável e pelos seus filhos, as matilhas de cães assilvestrados são unidades fluídas, transientes, de cães de várias idades – agora podem ter esta composição, daqui a um mês ou dois podem ter uma composição totalmente diferente. Não há assim a entreajuda na criação dos cachorros que ocorre numa alcateia, e há uma mortalidade extremamente elevada dos cachorros – um estudo em Itália reporta que de 40 crias observadas, apenas duas sobreviveram até à idade adulta. Se se partisse do pressuposto que os cães conseguem, tal como nós, reviver episódios passados e ter desejos para o futuro, esta taxa de mortalidade deixaria uma cadela bem mais deprimida que o pensar em ser mãe, não? Isto significa também que, na “natureza”, a sua querida cadelinha, deitada no sofá ao seu lado, provavelmente nem teria sobrevivido. Pense nisso…
Porquê criar?
Ok, mesmo sabendo que não é necessário para a cadela viver feliz, está a pensar em ter uma ninhada da sua cadela. A primeira, e mais importante, questão que deve colocar e refletir muito bem sobre ela é “porque é que eu quero fazer uma ninhada?”. Cães&Companhia 35
Numa ninhada, além do cachorro que quer para si, nascem mais 3 a 10. Está mesmo preparado para lhes encontrar as casas certas?
nhada toda – ou morrer! Ou pode ter problemas de parto e requerer uma cesariana – ou morrer! A cadela pode apanhar uma infeção pós parto e requerer cirurgia – ou morrer! Pode ter problemas de leite – ou morrer – e você terá de criar os cachorros à mão, dando-lhes de mamar a cada duas horas, seja dia ou noite, estimulá-los para que urinem e excretem, mantê-los quentes, etc. É extremamente trabalhoso e exigente, e totalmente incompatível com um trabalho das 9h às 17h ou noites dormidas. Mesmo que a cadela não tenha problemas de saúde graves em consequência da gravidez e parto, os cachorros podem ter problemas de saúde ou alguma doença, ou a mãe ter alguma doença que leve a que rejeite algum cachorro ou toda a ninhada, e irá ver os cachorros a morrer um a um… Isto não é ser pessimista, tudo isto são riscos muito reais na criação, e que, mais tarde ou mais cedo, já aconteceram a toda a gente que faz criação. Está mesmo preparado para isto?
Os despistes de saúde para doenças hereditárias não são uma opção, são uma obrigação de qualquer pessoa que queira fazer uma criação responsável, seja com cães de raça, seja com cães sem raça ou cruzamentos de raças.
Despistes de saúde
Há muitos argumentos para criar – para ficar com um cachorro para si, para dar aos amigos, porque está à procura do cão certo para uma determinada atividade, porque a cadela é tão bonita, porque é de raça, etc. – mas a realidade é que deve haver sempre um objetivo que se procura alcançar. Se tem um cão de raça, poderá ser para melhorar o aspeto, o caráter ou a saúde da raça; se tem um cão para desempenhar uma função, poderá ser para tentar obter um ainda mais eficaz… Mas se apenas procura um cão de companhia não específico, será que os refúgios não estão já cheios de cães perfeitamente aptos a isso, sem ser necessário colocar mais no mundo? Nos artigos “Então… quer ser criador?” e “Objetivos na criação”, publicados na revista “Cães & Companhia” nº 181 e 182, respetivamente, exploro esta questão em mais detalhe.
“Mas eu quero um filho como ela”
Em paralelo com o mito de ser necessário ter uma ninhada, há frequentemente o desejo de se ficar com um cachorro como a mãe/pai. Apesar de ser fácil de entender a motivação isto tem dois problemas grandes. Por um lado, cada indivíduo é o resultado da interação entre os seus genes e o ambiente em que o animal vive (durante a gravidez e desde que nasce). Ou seja, nem quando se faz clonagem dois indivíduos são exatamente iguais e irão apresentar exatamente o mesmo comportamento, pois irão ter vivências diferentes que irão moldar o seu caráter. No caso de animais de raça, apesar de poder haver alguma previsibilidade quanto aos traços gerais, os aspetos físicos e comportamentais variam frequentemente bastante, mesmo dentro da mesma ninhada. 36 Cães&Companhia
afinal não é o certo para a família a quem o entregou? Ou que deixou de o poder ter? Seguramente você, o responsável por esse cão ter nascido, não vai querer que o animal que criou com tanto amor e carinho, vá parar a um refúgio, certo? Pessoalmente, já teria um rico pé-de-meia se tivesse um euro por cada telefonema que já recebi de pessoas a perguntar-me se posso ficar com o cachorro deles – que arranjaram porque um amigo teve uma ninhada e lhes deu um, mas eles não se aperceberam do trabalho que dá criar um cachorro, e afinal não têm vida para isso, ou não sabem lidar com o feitio do animal, e pronto, como até faço criação poderia estar interessada nele para isso…
Ok, já refletiu muito bem em tudo, e está mesmo decidido em avançar com uma ninhada, preparado e mentalizado para todos os riscos que podem haver. Passamos agora à fase de preparação. Nenhum cão devia ser posto em reprodução sem fazer os despistes de saúde próprios para a sua raça/tipo racial. “Ah, mas eu fui ao veterinário e ele disse que a minha cadelinha estava bem de saúde, tem as vacinas em dia e é muito bonita, por isso está tudo bem!” Pois, e ainda bem, é importante que ela esteja de boa saúde, para maximizar a probabilidade de levar a gravidez a bom termo. Mas não é disso que se fala aqui. Os despistes de saúde são testes e exames que se fazem previamente, para minimizar a probabilidade de se passar algum problema genético à descendência. São exames para averiguar a existência de displasias da anca e do cotovelo, atrofia progressiva da retina, cardiomiopatias, luxação da patela, etc. Em muitos casos, tratase de problemas de saúde debilitantes, mas cujos sintomas não podem ser diagnosticados a olho nu e/ou que muitas vezes só se manifestam mais tarde na vida (a menos que sejam particularmente graves), depois de terem sido reproduzidos e os genes transmitidos à descendência. Seguramente que, querendo criar, não quer transmitir doenças aos seus cachorros, certo? Por isso irá fazer tudo o possível para o minimizar, fazendo os testes necessários antes – que até lhe são úteis para saber como gerir melhor a vida futura da sua menina. Mas… os testes são caros! Por exemplo, consoante o sítio onde seja feito, só o despiste de displasia da anca pode chegar a custar 300€.
Criar é um risco para a cadela
“Mas os rafeiros são saudáveis!”
Está preparado para o tempo, esforço e dinheiro que implica criar uma ninhada? E para se substituir à mãe se for necessário? Se a resposta for não a alguma destas questões, reconsidere a criação! No caso de se cruzarem dois animais sem raça, o que vai nascer é uma verdadeira lotaria, e dificilmente será semelhante ao qualquer dos progenitores – quer a nível morfológico, quer a nível comportamental.
Cada ninhada tem vários cachorros
Apesar disto, não deixa de ser natural o desejo de se ter um descendente do nosso querido cão de companhia. Mas… já se lembrou que além desse que deseja irão nascer mais 3 a 10 cachorros? O que lhes irá fazer? “Ah, não tem problema, eu dou aos amigos, ou ponho um anúncio num site de anúncios. De certeza que alguém os vai querer”. Mas está preparado pra fazer uma triagem dos potenciais futuros donos? Não basta dizer que se quer o cão, é preciso analisar bem se o tipo de cão se adequa àquela pessoa ou família. Nem todas as pessoas estão preparadas para ter um cão de uma determinada raça/tipo, muitas não se apercebem do trabalho que dá criar o cachorro com que ficaram “só para dar o jeito”, é preciso conjugar os feitios individuais de cada cão com os donos certos (uma família atlética nunca irá ficar feliz com um cão mais molengão, e vice-versa). Está preparado para receber de volta um cão que
Pensamos sempre num mundo perfeito, em que temos uma gravidez simples, um parto fácil e muitos cachorrinhos com que brincar até se irem embora. E de facto muitas vezes é assim. Mas se queremos em consciência fazer uma ninhada, temos que estar preparados para o pior. Entre o mais simples, pode ser a cadela apanhar uma doença sexualmente transmissível ou um tumor venéreo. Mas a cadela pode fazer uma infeção uterina durante a gravidez e perder a ni-
“Mas a minha cadelinha não é de raça, é uma rafeirinha, e toda a gente sabe que os rafeiros são mais saudáveis que os cães de raça, por isso não preciso de me preocupar com isso”. Errado! Não são só os cães de raça que têm doenças genéticas! Certo, sendo populações relativamente fechadas, há uma maior probabilidade de algumas doenças se manifestarem, mas muito do frenesi sobre problemas genéticos das raças tem sido amplamente exagerado por programas
Designer dogs O termo designer dog diz respeito ao cruzamento intencional de cães de duas raças diferentes, que são depois apregoados como mais saudáveis e vendidos a preços exorbitantes. Nada de mais errado. O argumento principal de marketing – o suposto vigor híbrido devido ao cruzamento de animais muito diferentes – apenas ocorre quando se cruzam espécies diferentes (por exemplo, no caso das mulas ou dos machos); no caso de animais da mesma espécie o efeito é negligenciável. Simplesmente, esta técnica é usada como “desculpa” para não se fazerem os despistes de saúde necessários, argumentando que ao cruzar-se raças diferentes se eliminam focando-se em alguns casos marginais (já ouviu falar no “paga o justo pelo pecador?), mas também muito pelo foco dos criadores responsáveis em insistirem e divulgarem a realização de testes genéticos – precisamente para reduzir o risco de transmissão de problemas à descendência.
esses problemas. Acha mesmo que é assim? Se está a cruzar dois cães de duas raças com elevada propensão de displasia, acha que ela vai miraculosamente desaparecer? Ou irá aumentar a probabilidade de a descendência vir a padecer disto? Se está a cruzar duas raças, cada uma afetada por um gene diferente de atrofia progressiva da retina que se manifeste na forma dominante, está efetivamente a duplicar a probabilidade de os cachorros virem a ser afetados. Ao cruzar duas raças diferentes tem mesmo é de investir nos despistes necessários para ambas as raças, não enterrar a cabeça na areia à espera que ocorra um milagre! Enquanto em diferentes raças de cães se sabe quais os problemas que as afetam – graças aos esforços de criadores e clubes empenhados, que patrocinam estudos científicos – quantos rafeiros não morrem ou se andam a “arrastar pelos cantos” sem que se preocupem em saber o porquê? Cães&Companhia 37
Muitas pessoas ficam com um cachorro para “fazer o jeito” ao amigo, e não apercebem do esforço e dedicação que exigem. Por esta razão, muitos cães acabam por ser abandonados. Está preparado para retomar os seus cachorros se for caso disso? Ou vai deixar que vão parar a um refúgio?
Doenças em cães com e sem raça
Um estudo publicado em 2013 comparou a incidência de 24 doenças em cães com e sem raça, recorrendo a mais de 27.000 animais diagnosticados com uma doença hereditária. Mais de metade das doenças (13) ocorriam com igual frequência nos cães de raça e nos rafeiros – incluindo as mais comuns, como displasia da anca, hipo e hiperadrenocorticismo, cancros, luxação da lente e luxação da patela. 10 doenças ocorriam com maior frequência em cães de raça (atenção que “maior frequência” significa que também ocorrem em cães sem raça) – incluindo cardiomiopatia dilatada, displasia do cotovelo, cataratas e hipotiroidismo – enquanto que os cães sem raça tinham eles próprios maior incidência de rutura do ligamento cranial cruzado. Já um estudo de 2014, comparando a incidência das 20 doenças mais frequentes (independentemente de terem ou não base genética) em quase 149.000 cães apenas detetou diferenças entre cães com e sem raça em 3 delas – otite externa, obesidade e lesões de pele; não foram detetadas diferenças para doenças comuns como sopros cardíacos, problemas articulares ou problemas dos dentes e gengivas. Aliás, constatou-se mesmo uma ligeira maior tendência dos cães sem raça sofrerem de problemas degenerativos das articulações – algo frequentemente imputado aos cães de raça. Se em muitas raças de cães os despistes de alguns problemas de saúde são facilitados por se conhecerem os genes envolvidos – há doenças, como a atrofia progressiva da retina, que são causadas por genes diferentes em diferentes raças – no caso dos cães sem raça isso normalmente não acontece – qual o gene certo a procurar? – pelo que é necessário recorrer a testes de despiste de sintomatologia. Mas isso não deve ser razão para não se fazerem os despistes, muito antes pelo contrário! 38 Cães&Companhia
“Mas eu não sou criador, não vou ter influência na raça”
Esta é provavelmente a desculpa mais utilizada para se escusar às responsabilidades de fazer os despistes de saúde: “Eu não sou um criador, só vou ter esta ninhada, não tenho influência na raça, por isso não preciso de fazer os testes”. Nada de mais errado! Por um lado, uma grande maioria dos cães de uma dada raça (sobretudo nas mais populares), já para nem falar em virtualmente todos os cães sem raça, são criadas por “não-criadores”, pessoas que fazem ninhadas pontuais. Portanto, todas elas contribuem e são importantes para a evolução (ou não!) da raça. Por outro lado, mesmo que fosse verdade que a sua ninhada não tem impacto a nível da raça, seguramente tem impacto a nível da qualidade
produção de cães) não se ganha dinheiro, normalmente perde-se muito dinheiro em cada ninhada. Mas adiante, independentemente de ir dar ou vender os seus cachorros, antes de engravidar a sua cadela, assegure-se que tem uma boa conta no banco. Porque vai precisar de muito dinheiro. Ora vá fazendo as contas: • Na segunda metade da gravidez e durante o aleitamento, as cadelas precisam de uma alimentação de grande qualidade e em grandes quantidades (pode chegar a triplicar as quantidades normais), pois é uma fase de grandes gastos energéticos. E as rações adequadas a este estado fisiológico (gravides/aleitamento) são caras! • Desde que são desmamados até poderem ir para as suas novas casas, os cachorros também comem e muito! E obviamente, precisam de uma alimentação específica para esta idade e de boa qualidade – logo, cara, para crescerem saudáveis. E não, não podem ir para as novas casas assim que são desmamados pelas 4 semanas, não só por questões de saúde, como as primeiras 8-12 semanas são fundamentais para eles aprenderem a interagir com outros cães, com a sua mãe e com os irmãos, conhecerem os básicos da linguagem canina, aprenderem a inibição de mordida, etc. (Veja o artigo “Desenvolvimento comportamental dos cães. Do nascimento à idade adulta” na revista “Cães & Companhia” nº 162, para mais informações) Durante este período, a quantidade de comida que os cachorros devoram consegue por vezes parecer verdadeiramente assustadora. • As desparasitações são frequentes. A mãe precisa de ser desparasitada antes da gravidez e perto do fim e, tanto ela como os cachorros, quinzenalmente desde que o parto. • Os cachorros precisam de ser vacinados antes de irem para as suas casas novas. Enquanto estão a mamar, recebem anticorpos da mãe, mas com o desmame perdem estas defesas, que só são reforçadas com as vacinas, que devem ser dadas antes de mudarem de casa, caso contrário poderão contrair alguma doença no novo
Criar é uma atividade que envolve riscos para a fêmea, seguramente irá encontrar um patudo para vos fazer companhia no mesmo sítio onde a adquiriu, num bom criador ou num refúgio, sem comprometer a integridade da sua menina de vida dos cães produzidos e das suas famílias. Certamente que não quer criar cães com patologias sérias, só porque não quis ter o trabalho de as despistar antes, correto?
“Eu não quero ganhar dinheiro”
Este é outro dos argumentos frequentemente usados: “eu quero fazer uma ninhada porque sim, mas não é para vender, não quero ganhar dinheiro como os criadores”. Em primeiro lugar, aqui está uma novidade que talvez seja uma grande surpresa para muitos – com a criação séria e responsável (em oposição à mera
ambiente, mas que só podem ser dadas a partir das 6/7 semanas de idade (antes disso, o sistema imunitário não está suficientemente desenvolvido). Seguramente não esteve a criar os seus cachorros com tanto amor e carinho para se arriscar a que morram ao saírem de sua casa demasiado cedo e sem vacinas, certo? Pergunte ao seu veterinário quanto custa vacinar uma ninhada! • Os cachorros precisam de muita estimulação física e mental, e de vários tipos de brinquedos específicos para cachorros – adequados aos seus dentes sensíveis e que não lhes causem danos por se partirem. Também não são baratos.
Custos reais de uma ninhada
Nenhuma pessoa que faz criação deveria entregar um cachorro à sua nova família antes das 7/8 semanas no mínimo, e das primeiras vacinas. Se nas primeiras semanas de vida os custos parecem mínimos, na segunda metade deste período, os custos aumentam exponencialmente! Numa ninhada de porte médio, facilmente poderá gastar 250-300€ por cachorro (veja o artigo “Quanto custa criar um cachorro?”, na revista “Cães & Companhia” nº 183, para uma análise mais detalhada dos custos de criação). Adicionalmente, lembre-se que os itens referidos dizem respeito a um mundo perfeito, em que a gravidez, o parto e o crescimento decorrem sem problemas – e não incluem os custos dos testes de saúde. Mas corre sempre o risco de ter de fazer uma cesariana – por os cachorros serem demasiado grandes, por estar algum entalado, por a cadela ter um tipo morfológico que a predispõe a isso – ou de ter de medicar e/ou suplementar a mãe ou os cachorros, por uma qualquer razão, isto já sem falar de uma possível infeção pré ou pós-parto que requeira cirurgia e esterilização.
Criar ou não criar?
Leu o artigo todo e pensa que nada disto se aplica a si e à sua cadela, que não precisa de se preocupar com nada e logo se vê? Só lhe posso desejar que lhe corra tudo bem, pois quando as coisas correm mal, não se deseja isso nem a um inimigo. Leu o artigo com atenção e ficou a pensar se efetivamente vale a pena o risco de fazer as coisas bem? Parabéns, está no bom caminho para tomar uma decisão mais informada. Não é objetivo deste artigo dizer-lhe se deve ou não criar, ou que essa tarefa deve ser deixada aos “profissionais”. Deixando ainda muitíssimas coisas por dizer, quero simplesmente alertá-lo do que significa realmente criar uma ninhada de forma consciente e procurando minimizar riscos para a cadela e para os cachorros. Criar é uma atividade que envolve riscos para a
Bobi procura Fifi para relação séria Tão ou mais frequentes são os anúncios de machos que procuram fêmeas para acasalar. Costumam começar a ser colocados quando os cães entram na adolescência, pelos 1018 meses. Os donos vêm-nos a começar a montar tudo à vista – pernas, sofás, cadeiras, outros cães, mesmo do mesmo sexo – e pensam que o cão está a ficar desesperado e que precisa de atividade sexual para se aliviar. Nada de mais errado! Ao contrário do que acontece com as pessoas, a monta e os movimentos pélvicos não têm a ver apenas com atividade sexual; nos cães, são um indicador importante de que o animal está demasiado excitado, entusiasmado ou stressado. A adolescência é um período de grandes alterações comportamentais e hormonais, que levam frequentemente a picos de excitação (não sexual), que os animais exibem através de uma diversidade de comportamentos descontextualizados, entre os quais o ato de montar. Acasalar um cão nesta fase e com estes comportamentos não irá necessariamente resolver esta questão; aliás, muitas vezes piora-a. Adicionalmente, também se costuma pensar que a única responsabilidade do macho padreador é a de cruzar com a cadela, e que tudo o resto relacionado com a atividade de criação é da exclusiva responsabilidade do dono da fêmea. Mas diga-me sinceramente…
fêmea, valerá a pena correr o risco de a perder, quando seguramente irá encontrar um patudo para vos fazer companhia no mesmo sítio onde a adquiriu, num bom criador ou num refúgio, sem
sentir-se-ia bem se soubesse que cachorros que nasceram por sua responsabilidade (afinal, são precisos dois para fazer um filho… mesmo que as ninhadas possam ter mais que um pai) foram parar a um refúgio, quando podia – e devia – ter feito algo para o evitar? Ou pior, que uma cadela teve problemas de saúde mais ou menos sérios só porque se lembrou que queria um cão mesmo igualzinho ao seu? Ou que os cachorros nasceram com problemas, ou virão a tê-los no futuro, só porque não se deu ao trabalho de fazer os despistes de saúde adequados antes de decidir criar com o seu cão? Criar é uma responsabilidade dividida por dois.
comprometer a integridade da sua menina? Criar envolve uma responsabilidade quanto aos cachorros produzidos, quer a nível de maximizar a sua qualidade de vida, quer a nível de lhes encontrar famílias adequadas, quer a nível de retomar os cães em qualquer fase da sua vida, por uma qualquer razão que leve a que a sua família já não o possa ter. Criar envolve custos elevados. Quer dê, quer venda os cachorros, irá necessitar de bastante dinheiro à partida, para investir nos cuidados de saúde e de educação necessários. Ter um cão não é um direito, é uma responsabilidade, e criar ainda o é mais. Criar ou não criar… Tenha uma razão objetiva para o fazer. Tome uma decisão informada. A sua cadela não merece menos que isso! n
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