Disfunção Cognitiva Canina

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Cães Seniores Sinais clínicos

Carla Cruz Mestre em Produção Animal

Fotos: Shutterstock

Disfunção Cognitiva Canina Um problema pouco conhecido por muitas pessoas, frequentemente descartado como “sinais de velhice”, são os problemas cognitivos, com sintomas semelhantes à demência ou Alzheimer humano. É a chamada Disfunção Cognitiva Canina.

A

terceira idade é uma fase da vida aguardada com alguma angústia por quem gosta de alguém – seja pessoa ou animal. Tal como ocorre com as pessoas, muitos cães vivem longas vidas na fase idosa sem problemas de maior. Lembro-me do meu primeiro cão, o Top, que aos 14-15 anos tinha uma energia e vitalidade tais que, mesmo com o focinho mais branco, a maioria das pessoas pensava que ele tinha menos de metade da sua idade. Mas, e também como acontece com as pessoas, alguns cães começam a sofrer de maleitas variadas à medida que vão envelhecendo, sejam físicas ou mentais, e podem mesmo apresentar sinais de demência. Apesar de estarem associados à idade e não terem cura, é possível atrasar o seu aparecimento, e propiciarlhes uma evolução mais lenta.

Disfunção Cognitiva Canina Um problema relativamente comum em cães idosos é a disfunção cognitiva canina (DCC). Esta é uma doença neurodegenerativa relacionada com a idade, que se carateriza por um declínio cognitivo gradual e aumento de ocorrência de problemas cerebrais. À medida que o cão vai envelhecendo, começa a acumular-se no seu cérebro a proteína beta-amilóide, criando depósitos chamados placas. Com o tempo, ocorre a morte das células nervosas, e o 14 Cães&Companhia

fluído cerebrospinal acumula o espaço vazio deixado por estas células. A perda dos neurónios leva também a atrofia cerebral, através de diversos processos. Podem também ocorrer alterações nos sistemas neuroquímicos. Todas estas alterações levam aos sinais clínicos primários da DCC, como perda de memória, alterações na orientação espacial e alterações no sono REM.

Os sinais clínicos da DCC incluem coisas que os donos frequentemente descartam como sendo típicos da idade ou de senilidade, “comportamento de cão velho”, como por exemplo: • Desorientação, não saber onde está, mesmo em locais familiares; • Aumento dos períodos de sono, especialmente durante o dia; • Interações alteradas com a família (como assustar-se quando é mexido inesperadamente, tentar interagir cada vez menos ou, pelo contrário, revelar-se cada vez mais carente) ou com os outros cães (querendo interagir cada vez menos com eles), por vezes com sinais de agressividade (provavelmente por se assustarem com algum movimento inesperado); • Dificuldades em reconhecer pessoas familiares e locais habituais; • Perda da higiene (não, o cão não está a urinar e defecar em casa por amuo, frequentemente ele já nem se apercebe que está a fazê-lo); • Agitação; • Choraminguice por tudo e por nada; •Menor vontade ou perda de vontade de fazer as atividades preferidas, mesmo que seja um simples passeio;

Prevalência A DCC afeta cerca de 14 a 22% dos cães com mais de 7 anos de idade. Estudos têm mostrado que 28% dos cães com 11-12 anos e 68% dos cães com mais de 15-16 anos apresentam um ou mais sintomas deste problema. Não existem diferenças de prevalência entre raças, mas como os cães pequenos tendem a ter maior longevidade que os cães grandes, é tipicamente possível identificar neles mais sintomas. Apesar de não se conhecer a causa da DCC, há sinais que fatores genéticos podem contribuir para este problema Cães&Companhia 15


• Deixar-se ficar a um canto; • Ladrar a objetos inanimados ou quando eles não se “comportam” como esperado, etc. Há variabilidade individual nestes sintomas, nem todos os cães os apresentam todos.

Diagnóstico de DCC Apesar de vendo os sintomas listados parecer ser fácil identificar este problema, o seu aparecimento subtil e gradual ao longo do tempo leva a que não seja fácil detetá-lo logo nos seus inícios. Adicionalmente, vários sintomas ocorrem também noutros problemas crónicos e noutras doenças que também afetam o estado mental. Infelizmente, não existe um diagnóstico preciso para a DCC, nem marcadores que identifiquem clara e objetivamente este problema; chega-se a essa conclusão por exclusão de partes. É assim ainda mais importante a realização de check-ups veterinários regulares nos cães idosos, e uma atitude pró-ativa por parte do médico veterinário no seu historial do paciente, pois muitos donos, considerando os sinais que veem parte de um envelhecimento normal, nem se lembram de os relatar na consulta.

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atualmente, impedir o aparecimento da DCC, há algumas coisas que se podem fazer para atrasar o aparecimento dos sintomas, e retardar o seu desenvolvimento. Por exemplo, uma dieta rica em antioxidantes ajuda a atrasar a perda de funções mentais e, em cães idosos, ajuda na capacidade em aprender tarefas cada vez mais complexas. Existe também medicação e suplementação que, de diferentes formas, ajudam os cães idosos a compensar a perda de capacidades. Fale com o seu médico veterinário sobre o que pode fazer para ajudar o seu companheiro; não se limite a descartar os sintomas como “sendo próprios da idade”, muitos deles podem ser melhorados ou retardados. Além de que alguns são devidos a outros problemas crónicos que, quando resolvidos, melhoram substancialmente.

o animal é totalmente alheio, não estão sob controlo. A constante choraminguice deixa uma pessoa doida (até porque é extremamente frustrante não saber o que fazer para ajudar), sobretudo quando ocorre de noite, pois a alteração dos ciclos de sono leva a que os cães muitas vezes acordem confusos e desorientados neste período – acordando o dono no processo. É crucial lembrar-se que nada disto são

comportamentos voluntários ou conscientes por parte do seu cão, ele não tem escolha no que está a fazer. Seguramente é tão ou mais confuso para ele que para si. Atualmente é fácil encontrar comunidades, nas redes sociais, de mais pessoas que lidam diariamente com a DCC. O simples facto de sabermos que não estamos sozinhos, que o nosso cão não está “a ser teimoso”, que acontece a mais cães e há mais pessoas a passar por isto, ajuda a conseguirmos encarar esta doença de uma forma mais positiva – pelo nosso cão e por nós. Sim, é necessário ajustar a nossa rotina para acomodar as necessidades no nosso sénior, e sim, as nossas horas de sono ficam seriamente reduzidas, e sim, vai ser preciso andar a limpar a casa mais vezes e/ou aprender a usar fraldas no nosso cão, mas… depois de toda uma vida do nosso cão totalmente dedicada a nós, é o mínimo que podemos fazer, não?

Algumas ideias A DCC é uma doença irreversível, mas podemos retardar o seu desenvolvimento. No artigo “Quem pensa, seus males espanta”, também publicado nesta edição, indico algumas atividades que se podem fazer para ajudar o nosso companheiro a lidar com este problema. n

Conviver com um cão com DCC Conviver com um cão com DCC pode ser bastante duro. A desorientação e confusão manifestadas e a perda de vontade em fazer as coisas “normais” deixa muitos donos perplexos. A perda de higiene, e a falta de sinalização de necessidade de ir à rua, é um fator que irrita muita gente, mas a que

Atrasar os sintomas Apesar de não ser possível, pelo menos 16 Cães&Companhia

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