Guimarães 2012
arqa104 ARQUITETURA E ARTE
nov|dez 2012 | €11,00
arqa
Ano XIII – novembro|dezembro 2012 €11,00 (continente) – €16,00 Espanha
Guimarães 2012 Gabriela Vaz-Pinheiro
Nuno Grande Jordão Jordã Pedro Jordão Pedro Gadanho Inê In ês Moreira Inês P. Bandeira + P. Catrica Godofredo Pereira Paulo Mendes Marta de Menezes M. Lewandowska + C. Fournier Carlos Bunga Joã Jo ão Mendes Ribeiro João Dantiope Grilo, Foyedo, Pinho, Tavares, Sepú Sep úlveda, Brito Sepúlveda, Grupo IUT LIKEarchitects + Ricardo Dourado Pedrita + Ricardo Jacinto Christian Boltanski Maria Manuel Oliveira Pitá Pit ágoras Pitágoras [A] ainda arquitectura Neiva+Areias Gabriela Gomes
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ISSN: 1647- 077X
Guimarães 2012
arqa104 ARQUITETURA E ARTE
Propriedade:
nov|dez 2012 |��11,00
matérias
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Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores
Gabriela Vaz-Pinheiro
Nuno Grande Jordão Jordã Pedro Jordão Pedro Gadanho Inê In ês Moreira Inês P. Bandeira + P. Catrica Godofredo Pereira Paulo Mendes Marta de Menezes M. Lewandowska + C. Fournier Carlos Bunga Joã Jo ão Mendes Ribeiro João Dantiope Grilo, Foyedo, Pinho, Tavares, Sepú Sep úlveda, Brito Sepúlveda, Grupo IUT LIKEarchitects + Ricardo Dourado Pedrita + Ricardo Jacinto Christian Boltanski Maria Manuel Oliveira Pitá Pit ágoras Pitágoras [A] ainda arquitectura Neiva+Areias Gabriela Gomes
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ISSN: 1647- 077X
JOÃO MENDES RIBEIRO - INSTALAÇÃO LAB. CURADORIA, GUIMARÃES
R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com
Foto: do mal o menos
ÍNDICE
Ano XIII – novembro|dezembro 2012 �11,00 (continente) – �16,00 Espanha
Guimarães 2012
Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com
arqa
A R Q U I T E T U R A
007 010 014 020 022 024 034 044 046 052 056 062 066 072 076 080 084 088 098 108 112 114 116 120 124 128 132 140 145 146 148 152 004
Angola
E
A R T E
www.revarqa.com – futurmagazine@gmail.com
Info - Boletim Informativo da Ordem dos Arquitetos de Angola (0A)
News
Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com
Atualidades e agenda
Conversa Sandra Boloto – Conversa com RCR arquitectes
Editorial Luís Santiago Baptista – Guimarães 2012
Projetos / Entrevistas / Depoimento Biografias Maria Manuel Oliveira / CE-EAUM – Renovação Urbana Praça do Toural Pitágoras – Plataforma das Artes e da Criatividade [A] ainda arquitectura – Projeto expositivo Coleção José de Guimarães NAAA: Neiva+Areias – CAAA Centro para Assuntos da Arte e Arquitectura Gabriela Gomes – Shelter ByGG, Guimarães Entrevista – Gabriela Vaz-Pinheiro, Programação Arte e Arquitetura Guimarães 2012 ReaKt – M. Lewandowska + C. Fournier; Carlos Bunga Depoimento – Gabriela Vaz-Pinheiro, Laboratório de Curadoria João Mendes Ribeiro – Instalação Laboratório de Curadoria, Momento #2 Entrevista – Nuno Grande, Nuno Portas: O Ser Urbano Entrevista – Pedro Jordão, Archigram: Experimental Architecture 1961-1974 Entrevista – Pedro Gadanho, Performance Architecture Performance Architecture – Dantiope; Grilo, Foyedo, Pinho, Tavares, Sepúlveda, Brito; Grupo IUT; LIKEarchitects + R. Dourado; Pedrita + R. Jacinto Entrevista – Inês Moreira: Devir Menor; Edifícios & Vestígios Entrevista – P. Bandeira + P. Catrica, Missão Fotográfica: Paisagem Transgénica Entrevista – Godofredo Pereira, Objetos, Práticas e Territórios Entrevista – Marta de Menezes, Emergências 2012
Crítica Gonçalo Furtado – Agenciamento: Ou o estado da arte da Arquitetura
Design Carla Carbone – Instituto de Design de Guimarães
Artes David Santos – Christian Boltanski: Memória e representação Sandra Vieira Jürgens – CCC: Collecting, Collections and Concepts
Itinerâncias Luís Santiago Baptista – Bienal de Arquitetura de Veneza 2012 Paula Melâneo – De Fora No Interior: Espaços Efémeros e Performativos
Fotografia Fernando Guerra – FG+SG: Sede Arriva, Guimarães
Livros Mário Chaves Materiais fornecidos pelas marcas Fórum Sanitop’12 / Prémio Secil Eng. Civil’11
arqa novembro|dezembro 2012
Paginação e Imagem Raquel Caetano Bruno Marcelino (desenhos) Edição Digital Ricardo Cardoso Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo - cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete Tiragem 10.000 Exemplares Periodicidade Bimestral ISSN: 1647- 077X
Marketing Mais Mercado
Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design), David Santos (Artes), Gonçalo Furtado (Crítica), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros), Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes)
ICS: 124055
Apoio:
Depósito Legal: 151722/00
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NEWS
atualidades
PAULA MELÂNEO|apmelaneo@gmail.com
Zaha Hadid vence novo Estádio Nacional do Japão Zaha Hadid Architects venceram o concurso internacional para construção do novo Estádio Nacional do Japão, em Tóquio. Este atelier, autor do Centro Aquático dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, foi selecionado entre 45 participantes internacionais, dos quais UNStudio, SANAA e Toyo Ito. O anúncio foi feito por Tadao Ando, presidente do júri do qual também faziam parte Richard Rogers e Norman Foster. Ando elogiou a fluidez e inovação do projeto, de como complementa a paisagem de Tóquio e referiu “O desenho da entrada, dinâmico e futurista, incorpora a mensagem que o Japão gostaria de transmitir ao resto do mundo”. Hadid referiu “O estádio vai tornar-se num elemento integrante do tecido urbano de Tóquio, envolvendo diretamente a paisagem urbana circundante, ligando e esculpindo as formas elegantes do projeto. A estrutura única é leve e coesa, definindo uma silhueta que se integra na cidade. O perímetro do estádio será uma ponte habitada: um espaço de exposição permanente que cria uma nova e emocionante experiência aos visitantes.” O regulamento do concurso exigia um estádio com capacidade para 80.000 pessoas, uma cobertura retrátil, ser ambientalmente eficiente e um complemento para a paisagem envolvente. Deverá estar construído em 2018 para acolher a Taça do Mundo de Rugby no ano seguinte. O orçamento para esta construção de 290.000m2 é de 130 biliões de yen (US$1.62 biliões). www.zaha-hadid.com
Neil Denari vence projeto para porto na Ilha Formosa O concurso internacional para os novos serviços portuários de Keelung, em Taiwan (Ilha Formosa), foi ganho por Neil Denari (NMDA). O porto de Keelung serve hoje 10.000 cruzeiros por dia, sendo o maior porto de entrada em Taiwan. A cidade de Keelung fica na costa norte de Taiwan, a 23 km nordeste de Taipei, nas encostas nebulosas das Montanhas Keelung. Conhecida como porto chuvoso, Keelung com o seu clima húmido tem uma envolvente verde exuberante em torno dos seus 350.000 habitantes. Para NMDA, as especificidades do sítio, tanto local como regionalmente, influenciaram o projeto, a sua massificação, materiais e cores. A necessidade de faseamento ditou que o terminal, que entrará em construção em 2013, estará localizado numa zona de 1ª fase de construção, de 55m de profundidade. Isto levou a uma organização linear do terminal, um conjunto complexo de programa portuário em níveis, distribuído por 3 andares principais. O extremo norte do terminal, vertical, suporta um restaurante em balanço, que se torna numa ponte para a 2ª fase de construção de escritórios. Abaixo, a Torre Gateway é um passeio chamado “laço” que faz um loop/rotunda de ligação a outras direções no nível do passeio. Na zona da rua/estrada, o edifício de escritórios principal irá abrigar a autoridade portuária, polícia, instalações de correios, estação meteorológica e diversos gabinetes de apoio, tem 53.000m2 e 70m de altura. É um edifício tipo pátio, de forma distorcida e perfurada, consoante vistas e ventos. Os pisos inferiores, do lado da rua/acesso, são a parte mais maciça do edifício, com núcleos verdeamarelo e azulado, criando uma alternância de formas. Uma grande praça pública ocupa a cobertura. A praça está ligada a caminhos em torno do edifício de escritórios e do terminal que liga com o passeio à beira-mar. www.nmda-inc.com
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Rivas y Urena ganham projecto em La Rioja, Espanha O Concurso Internacional de Paisagem ARQUIDEAS, Arquitetura e Vinho para um local em La Rioja, Espanha, foi ganho pela dupla madrilena Isabel e Javier, dos recentemente formados Rivas y Urena Arquitectos. O projeto funciona como catalisador, gerando novas experiências culinárias para visitantes, habitantes locais e jovens cozinheiros. Afastando-se da abordagem usual de construção em âmbito paisagístico, Rivas y Urena pretendem trabalhar em harmonia com o ambiente natural. Explicam: “A geometria do projeto resulta da interpretação do padrão da paisagem e do programa proposto. Todos os requisitos estão satisfeitos nesta solução, respeitando a topografia do solo, mas diluindo-se nele.” Também a sustentabilidade desempenha um papel importante em todo o projeto. Sugerem usar uma matriz de ripas de madeira de pinho local, numa grelha diagonal, para garantir uma baixa pegada de carbono para esta estrutura robusta e durante os vários anos de intensa utilização. As estruturas de fachada devem ter 30cm a 100cm de profundidade para garantir proteção à luz do sol escaldante espanhol, com videiras entrelaçadas, oferecendo uma cobertura mais eficiente. A água da chuva será coletada para reutilização dentro da propriedade. Rivas y Urena propõem uma série de plantações de 40cm de altura, que também são assento para os visitantes. As espécies de vegetação, introduzidas no novo desenvolvimento, foram alvo de grande estudo, com um grande número de árvores nativas - algumas em risco - e uma série de trepadeiras, desde videiras tradicionais a hera e uvas selvagens.
EDITORIAL
temático
Guimarães 2012: Arte e Arquitetura Práticas espaciais para um contexto territorial em mutação
LUÍS SANTIAGO BAPTISTA|lsbaptista@revarqa.com
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Ao longo de todo o ano de 2012, Guimarães foi Capital Europeia da Cultura, um evento internacional de dimensão considerável e alcance significativo. Num programa de Arte e Criação com múltiplas frentes, compreendendo as Artes Performativas, o Cinema e Audiovisual e a Música, interessa-nos naturalmente o campo específico da Arte e Arquitetura. A programadora desta secção, a artista e investigadora Gabriela Vaz-Pinheiro, delineou um programa que nos parece fundamental dar a conhecer no seu todo, de uma perspetiva ampla e crítica. A consciência da grande relevância deste programa, com a sua extensa equipa de curadores, artistas e arquitetos envolvidos, levou-nos a propor uma parceria editorial com a Guimarães 2012, que compreendeu, primeiro, 3 dossiers de 8 páginas editados pela equipa da secção de Arte e Arquitetura, inseridos na revista arqa (edições #101, #102, #103), correspondentes aos 3 ciclos de eventos planeados; segundo, a edição de um número da revista temático, dedicado ao programa apresentado (a presente edição #104) e coordenada com total liberdade e independência pela equipa redatorial da arqa. O que nos propusemos fazer foi, respetivamente, servir de veículo de divulgação da programação e possibilitar uma perspetiva crítica pós-evento de todo o programa, complementando as exposições, conferências e catálogos realizados pela própria Guimarães 2012. Interessa-nos inquirir a programação de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012, convocando para a presente edição uma série alargada de eventos, compreendendo grande parte das exposições, conferências e publicações realizadas. Adotámos como modelo privilegiado a entrevista, porque essa é a forma mais direta e produtiva de confronto de ideias e diálogo sobre todas as questões que envolvem os diversos eventos. Entrevistámos a programadora, para uma visão panorâmica da programação e primeiro balanço das atividades, e os comissários de cada evento, para uma compreensão não só dos conteúdos temáticos apresentados mas igualmente das estratégias curatoriais e decisões expositivas que os veicularam. Projetos de instalações arquitetónicas e urbanas realizadas no âmbito da programação, depoimentos sobre programas curatoriais considerados estruturantes e ensaios sobre temas fundamentais ou artistas participantes expandem e pontuam a forma dialógica que privilegiámos ao longo desta edição especial. Por outro lado, saindo da esfera da programação de Arte e Arquitetura, publicamos os principais projetos urbanos e arquitetónicos realizados para esta Capital Europeia da Cultura, não só pelo seu vínculo ao campo disciplinar da arquitetura, mas igualmente porque estes foram os palcos ou cenários onde aconteceram alguns dos eventos da referida programação. Por fim, resta-nos agradecer a disponibilidade e colaboração inestimáveis da equipa da programação de Arte e Arquitetura, em especial à sua programadora Gabriela Vaz-Pinheiro, sem a qual este número especial da arqa não teria sido possível.
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A programação de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012 desenvolveu uma leitura crítica do lugar, no caso a cidade de Guimarães e o território mais alargado do Vale do Ave. De facto, Gabriela Vaz-Pinheiro refere essa centralidade da ideia de contexto na sua abordagem curatorial: “O Programa de Arte e Arquitetura acima de tudo inscreveu-se e foi construído a partir das práticas culturais encontradas no contexto, sempre mantendo sob escrutínio a sua ressonância num contexto mais alargado, europeu e mundial. Julgo
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que, nos tempos que vivemos, só assim se poderá verdadeiramente falar de urbanidade.”1 Importa pois interpretar a ideia de contexto explorada na programação, que esteve na base dos diversos projetos desenvolvidos, nessa intenção de entrecruzar das práticas artísticas e arquitetónicas com o contexto que as motiva, adotando estratégias analíticas, críticas ou propositivas. Essa ideia de contexto assume então uma crítica à conceção visualista e materialista que normalmente lhe está associada. O lugar é aqui uma realidade simultaneamente material e imaterial, local e global, ou seja, “pensar o contexto na base daquilo que se vê, quando na verdade o contexto é também formado por muitas invisibilidades, sendo que, muitas delas, não têm nada a ver com esta localização geográfica.”2 Neste sentido, o contexto é aqui algo mais híbrido e fluído, uma estrutura de realidades físicas, mais ou menos conectadas, atravessadas por redes e camadas das mais diversas ordens, sejam elas de natureza infraestrutural, legislativa, política, económica, social, cultural, simbólica, etc. Um lugar é assim a conjugação aberta e dinâmica da sua realidade física e suas representações reais ou ficcionais com tudo aquilo que a estrutura, determina e influencia. É neste âmbito que podemos enquadrar a programação de Arte e Arquitetura, com a sua intenção estruturante de interpretar as realidades urbanas e territoriais existentes e estimular e criar os vínculos com esse conjunto específico de lugares. Aqui se percebe a exposição focada no percurso de Nuno Portas, arquiteto e urbanista incontornável da nossa cultura arquitetónica contemporânea. Não só Portas trabalhou sobre o território do Vale do Ave, como é alguém que compreendeu a natureza mutável e dinâmica das estruturas territoriais e urbanas e o papel ordenador mas limitado, estruturante mas aberto, do planeamento e do projeto. Sintomaticamente, o comissário Nuno Grande caracteriza as investigações recentes de Portas, derivadas em parte da sua análise do Vale do Ave, através da figura do “hipertexto”, resumindo em novos moldes todo seu percurso anterior, com a “derradeira saída explicativa para o labirinto pós-metropolitano e pós-industrial”: “Essa saída «hipertextual» passou a conter todas as outras que apontamos ao longo de cinco décadas de trabalho e reflexão – aceitando o «organicismo» no crescimento (sub)urbano; encontrando sentido «meta-projetual» nas novas redes de comunicação e transporte; percebendo a lógica «processual» na apropriação híbrida dos espaços; procurando uma adaptação flexível da «normativa» a um território em permanente mutação; aproveitando «estrategicamente» as incertezas e as oportunidades não previstas de «fazer cidade».”3 Este é um território estruturalmente fragmentado e difuso, em transformação e mutação constantes, compreendendo desde centros históricos minuciosamente preservados até paisagens indefinidas hibridamente industriais e rurais. De facto, como ponto de partida para uma abordagem contextual ao território de Guimarães, a presença de Nuno Portas na programação é tão evidente quanto pertinente. As exposições Missão Fotográfica, comissariada por Paulo Catrica e Pedro Bandeira, com os seus 4 pontos de vista desse território definido por Álvaro Domingues como “transgénico”, e principalmente a surpreendente exposição Edifícios & Vestígios, “projetoensaio” comissariado por Inês Moreira e Aneta Szylak, com a sua desafiante perspetiva simultaneamente documental e ficcional, arqueológica e artística, museológica e performativa, de “reflexão multidisciplinar sobre espaços
Importa pois interpretar a ideia de contexto explorada na programação, que esteve na base dos diversos projetos desenvolvidos, nessa intenção de entrecruzar das práticas artísticas e arquitetónicas com o contexto que as motiva, adotando estratégias analíticas, críticas ou propositivas. Essa ideia de contexto assume então uma crítica à conceção visualista e materialista que normalmente lhe está associada.
Laboratório de Curadoria, Fábrica Asa • ReaKt - Lewandowska; Fournier, Open Cinema • Performance Architecture - LIKEarchitects + R. Dourado, Fountain Hacks
e edifícios pós-industriais”, haveriam de operar abertamente sobre essas conceções da urbanidade que atravessam aquela estrutura de lugares.
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Mas a programação de Arte e Arquitetura também propôs uma perspetiva crítica da arquitetura e das suas práticas espaciais. Propôs para isso uma relação mais estreita com a produção artística e uma relação mais intensa com o espaço público, Não vindo da área da arquitetura, mas mantendo com ela uma longa relação pela investigação da relação das práticas artísticas com o espaço público, Gabriela Vaz-Pinheiro convocou a arquitetura a partir de uma perspetiva diferente daquela que vai dominando a disciplina. Tradicionalmente, a arquitetura é entendida como a instauração material e física do perene, a instituição daquilo que permanece no tempo, algo que parece estar nos antípodas da natureza de um grande evento cultural e mediático de carácter efémero. Nestes termos, no âmbito de um evento por natureza transitório, a arquitetura só poderia entrar como forma de referência ou representação dessa ideia disciplinar de permanência. A exposição da perenidade seria a única forma de resistir à efemeridade do evento. Diríamos que a grande relevância da programação no campo da arquitetura estará em se ter partido da perspetiva inversa. A arquitetura mais do que uma determinada realidade material tornou-se ato no espaço público. Uma arquitetura que atesta o efémero, como prática espacial que expande os horizontes da sua ação. Não para negar essa permanência da arquitetura, mas para procurar novas valências e possibilidades arquitetónicas. De resto, referimo-nos aqui especificamente à arquitetura, porque as práticas artísticas têm já meio século de história na investigação desse campo. Neste sentido, a perspetiva adotada entende que a arquitetura não passa exclusivamente pela idealização e construção de edifícios, mas que esta pode ser entendida como uma prática espacial, que reage e responde às práticas sociais e culturais existentes. Intensifica-as ou transforma-as através de dispositivos espaciais, tanto materiais como imateriais, tanto locais como globais, tanto permanentes como efémeros, tanto utilitários como culturais. A relevância da programação de Arte e Arquitetura tem que ser compreendida no âmbito deste reposicionamento do potencial da arquitetura. Um campo de possibilidades aberto pela estruturação de um programa para o delinear e testar, para o
investigar e experimentar. Esta ideia embrionária de uma outra arquitetura, mais efémera, infraestrutural e especulativa, emerge desde logo da fantástica exposição do grupo inglês Archigram, comissariada por Dennis Crompton e Pedro Jordão. Uma arquitetura desenhada que cruza desmaterialização arquitetónica, invenção tecnológica, intensificação consumista, expansão sensorial, interiorização mental, revolução social, etc. Se a arquitetura nos anos 60 e 70 já tinha efetuado essa crítica à perenidade, os últimos anos têm intensificado estratégias que procuram uma relação mais direta e espontânea com o espaço público. Uma arquitetura tornada mais processual do que projetual. Desde logo, a reativação do conceito de performatividade associado à arte, levado a cabo por Pedro Gadanho e testado no concurso Performance Architecture, sugere alternativas de intervenção na realidade urbana. Nas suas palavras: “Porém, de facto, as condições de mudança do mundo contemporâneo implicam que a arquitetura seja não só vista como firmitas – ou algo que se afirma no domínio da construção pura e dura – mas também como uma prática especializada capaz de gerar ideias e conceitos efémeros, ideias e conceitos que respondem a uma noção cada vez mais expandida da mobilidade nas sociedades contemporâneas.”4 Por outro lado, o conceito de “prática espacial”, desenvolvido por Inês Moreira, vai no mesmo sentido de mudança de registo da objetualidade para o uso, tal como se manifestou em Devir Menor, sobre as práticas espaciais na Ibero-América. Como sobre as práticas espaciais, “a abertura a esta dimensão permite abranger os aspetos informais, a fugacidade e efemeridade das práticas.”5 Finalmente, o projeto ReaKt e o Laboratório de Curadoria, coordenados por Gabriela Vaz-Pinheiro, exploram o potencial da intervenção artística e arquitetónica no espaço expositivo e no espaço público, procurando ativar os lugares de intervenção com projetos criativos e críticos de natureza efémera. Ver entrevista a Gabriela Vaz-Pinheiro neste número da arqa. Gabriela Vaz-Pinheiro, «Entrevista», in Dédalo #7: Re:Place, AEFAUP, 2010, p.67. 3 Nuno Grande, «Um Ser Urbano no Labirinto de Espelhos», in O Ser Urbano: Nos Caminhos de Nuno Portas, Guimarães 2012 / INCM, 2012, p. 103. 4 Pedro Gadanho, «Arquitectura como Performance», in Dédalo #2: Movimento, Porto, 2007.AEFAUP, p. 26. 5 Inês Moreira, «Mapa de Jovens Práticas Espaciais», in Arquitectura 21: Mapa de Jovens Práticas Espaciais, Lisboa, 2010, p. 21. 1 2
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PROJETOS
Portugal
proj. 1
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Maria Manuel Oliveira / CE-EAUM Renovação Urbana Praça do Toural, Guimarães
Arquitetura: CE-EAUM - Maria Manuel Oliveira Colaboradores: João Rosmaninho DS, Sofia Parente e André Delgado Coordenação: Centro de Estudos da Escola de Arquitectura da Univ. do Minho | CE-EAUM, Maria Manuel Oliveira (C. Técnica); Miguel Nery (Proj. Execução); Associação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento – TECMINHO (C. Administrativa e Financeira) Arquitetura Paisagista: Maria João Cabral, Daniel Monteiro (Estudo Prévio) Projeto de Arte Pública: Ana Jotta Especialidades: afaconsult - Paulo Silva (Coordenação); Paulo Silva com colaboração de Ana Rita Castro (arruamentos e resíduos da construção); Paulo Silva (Coordenação); Paulo Silva com colaboração de Ana Rita Castro e Marisa Fernandes (hidráulica); Raúl Serafim com colaboração de Ricardo Pereira e Vasco Sampaio (elétricidade e iluminação); Raúl Serafim (luminotecnia); Raúl Serafim Ricardo com colaboração de Pereira e Vasco Sampaio (Telecomunicações); Paulo Silva com colaboração de Pedro Pereira (Segurança e Saúde) Consultorias: Jorge Correia (História da Arquitectura e da Cidade); André Fontes (Ambiente Pedonal nas Cidades); António Babo (Mobilidade - GNG.APB); Paulo Lourenço (Conservação e trasladação de Fontes e Cruzeiro - DEC UM) Fiscalização de obra: CMG - Margarida Pereira e Gilberto Fernandes; Adão Ribeiro (fiscal) Construtor: Alberto Couto Alves, S.A. Localização: Alameda de São Dâmaso e Rua de Santo António, Guimarães Cliente: Câmara Municipal de Guimarães Data: Abril 2009 - Março 2012 Área: 38.930m2 Custo: 6.437.320,00 € Texto: Maria Manuel Oliveira Fotografia: CE-EAUM; Rita Burmester; António Amaro das Neves
Implantação
A Rua de Santo António, a Praça do Toural e a Alameda de São Dâmaso - conjunto ao qual se adossa o Convento de S. Francisco – constituem uma sequência de espaços em enfilade dispostos ao longo da implantação da muralha medieval, conformando um importante segmento da área intersticial entre o Centro Histórico e as zonas que, ao longo dos séculos, se têm estabelecido extramuros. Colocando em evidência muitas das polaridades da intervenção em tecidos urbanos com valor patrimonial – uso citadino quotidiano versus turístico e sazonal; reinterpretação do património versus musealização; memória versus tradição – o projeto pensou o espaço público como ágora aberta a uma sociedade progressivamente híbrida e multicultural. O desenho da Rua de Santo António redefiniu o seu perfil transversal, privilegiando a área destinada ao peão e dando legibilidade à Rua enquanto elemento integrante do anel que envolve a muralha. À Praça do Toural – trabalhada como espaço desimpedido entre as fachadas que a moldam – pretendeu-se conferir inquestionável
contemporaneidade e realçar aspetos relevantes da sua sedimentação histórica; associou-se, nesse sentido, o regresso do chafariz quinhentista ao local de origem a um projeto de arte pública. Ambos, favorecem novos usos e apropriações. Transformar a Alameda de São Dâmaso num Bosque significou atribuir-lhe um elevado nível de porosidade e adotar uma organização informal do piso e do mobiliário, configurando, assim, um moderno passeio público. O projeto ambicionou, ainda, nobilitar a presença urbana do Convento de S. Francisco através da materialização de um terreiro - que acolhe um cruzeiro quinhentista, pré-existente, e um banco corrido, uma linha branca sobre o granito -, chão de suporte à eloquente retórica que o edifício oferece. Espera-se que o absorvimento desta intervenção - e das intrínsecas ruturas a ela associadas - no contexto altamente qualificado do centro de Guimarães, signifique um novo passo na contínua fábrica da memória e da representação coletiva da cidade.
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Centro Histórico, Património Mundial UNESCO | 2001 Castelo
Paço dos Duques de Bragança Rua de Sto. António
Alameda de S. Dâmaso Convento de S. Francisco
Muralha Torre da Alfândega
Praça do Toural
Foto: CE-EAUM
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PROJETOS
Portugal
Pitágoras
Plataforma das Artes e da Criatividade, Guimarães
Arquitetura: Pitágoras Arquitectos - Fernando Seara de Sá, Raul Roque Figueiredo, Alexandre Coelho Lima, Manuel Luís Vilhena Roque Colaboradores: João Couto, Marlene Sousa, Carla Guimarães, João Carvalho, Fernando Torres, Mariana Santos, André Malheiro (arquitetos); Francisco Oliveira, Hélio Pinto (desenhadores) Fundações e Estruturas: Projegui Lda.- António Castro, Marco Vieira, Carlos Dias Hidraúlicos: Projegui Lda.- António Castro, Marco Vieira, Vânia Machado, Ivone Carneiro Acústica e Higrotérmica: Vasco Freitas, Diogo Mateus, Marília Angélico AVAC e Térmica: G.E.T. Lda.- Raul Bessa, Raul Almeida, Ricardo Carreto Redes: Feris, Lda.- Cruz Fernandes Arranjos Exteriores: Pitágoras Arquitectos - Jorge Maia Modelação 3D e Sinalética: João Andias Carvalho Fiscalização: Câmara Municipal de Guimarães - Joaquim Carvalho, Gonçalo Fernandes, Tiago Costa Construtor: Casais – Engenharia Construção, S.A. (direção de obra) Rui Ribeiro, Victor Moço, Tiago Carvalho, João Ferreira Texto: Pitágoras Arquitectos Fotografia: João Morgado
proj. 2
Implantação
Os edifícios do Mercado Municipal e o espaço por eles definido, designado como “a praça” são elementos caracterizadores da paisagem urbana de Guimarães. O recinto do antigo mercado dispunha de uma localização privilegiada, excelentes acessos e muito próximo da Praça do Toural e do centro histórico. Este projeto de transformação em espaço multifuncional dedicado à atividade artística, cultural e económico social, no âmbito da Capital Europeia da Cultura 2012, concretizou a recuperação de uma área fundamental da cidade, reintegrando-a física e funcionalmente na malha urbana. Além disso, a operação estendeu-se aos terrenos anexos, possibilitando a requalificação do espaço interior do quarteirão, descaracterizado devido à ocupação anterior. O programa previsto definia três grandes áreas programáticas: 1. Centro de Arte: acolhimento da coleção permanente (Coleção José de Guimarães), área de exposições temporárias, espaço polivalente, serviços complementares e pequeno parque de estacionamento automóvel. 2. Laboratórios Criativos (gabinetes de apoio empresarial): destinados à instalação de atividades relacionadas com indústrias criativas. 3. Ateliers Emergentes de Apoio à Criatividade: espaços de trabalho de vocação criativa e destinados a jovens criadores. Por último, previa-se recuperar o edifício existente, para instalação de atividades comerciais complementares, potenciando a criação de um espaço dedicado a atividades culturais multidisciplinares. A estrutura, seria complementar aos equipamentos existentes na cidade, e aos que estão em desenvolvimento, no âmbito da Capital Europeia da Cultura. Na interpretação do programa procuramos concretizar a possibilidade de funcionamento de cada uma das suas componentes de forma independente e simultânea, garantindo o acesso de cada uma delas aos diversos serviços e espaços de apoio, mas também aos espaços exteriores da praça e jardim. A intervenção passa pela recuperação do edifício existente a nascente,
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mantendo materiais e texturas, mas reformulando o interior, ao nível do piso 0. Na ala norte, recupera-se o alçado sobre a Avenida, que caracteriza o edifício, optando-se, no que respeita ao seu interior e alçado da praça, pela sua quase integral demolição. Embora se pretenda manter a escala e as relações formais existentes, propomos uma nova solução para o edifício que potencia uma forte relação com a praça e acentua a relação desta estrutura com o espaço exterior. O edifício assume uma linguagem radicalmente diferente, por contraste com a envolvente, quer pela sua expressão e imagem, descontínua e repetitiva, quer pela sucessão de volumes, com cheios e vazios, acentuados pela justaposição de superfícies contrastantes. Os revestimentos utilizados – grelha de perfis metálicos em latão e superfícies de vidro cromatizado, em fachada ventilada – acentuam a variação de texturas, mais opaca e densa na maioria das faces, no caso da estrutura metálica, e veladamente transparente nas superfícies de vidro, dissimulando as poucas aberturas do edifício. Esta sucessão de volumes e elementos dissonantes, resultantes da decomposição do volume inicial, foi originada pela necessidade de criar uma multiplicidade de espaços expositivos, criando uma tensão evidente na volumetria do edifício e na relação com a praça, tornando-se a principal característica do seu desenho. Para a praça propôs-se um desenho mais asséptico e revestimento em grandes lajes de betão, como contraponto dos edifícios envolventes, caracterizando-se como a grande zona de receção e reunião multifuncional, traduzindo-se numa plataforma física, sintetizando a sua vocação de espaço público por natureza. Será uma área pouco equipada, com as árvores de grande porte a nascente preservadas, introduzindo alguma vegetação junto ao edifício a norte, mas deixando a maioria dos espaço livre para o desenvolvimento de atividades, espontâneas ou organizadas. Também o mobiliário urbano utilizado na praça é constituído por elementos moveis, por forma a que possa ser mais versátil na sua utilização.
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PROJETOS
Portugal
[A] ainda arquitectura
Projeto expositivo Coleção José de Guimarães, Plataforma das Artes, Guimarães
Desenho Expositivo: [A] ainda arquitectura – Luís Tavares Pereira Colaboração: Diogo Paradinha, Hugo Cruz e Tiago Costa Comissário: Nuno Faria Desenho de Luz: Jorge Costa Consultores: Eglantina Monteiro (Coleção de Arte Tribal Africana; María Jesús Jiménez Díaz (Coleção de Arte Pré-Colombiana; Rui Oliveira Lopes (Coleção de Arte Chinesa Antiga; F. Marques Penteado (Núcleo Mole) Organização Curatorial: Nuno Faria, Sandra Guimarães Produção: A Oficina CIPRL Produção Executiva: João Covita, Pedro Silva Atelier José de Guimarães: Maria Castel-Branco, Luís Castel-Branco Marques, Miguel Marques Registo e Conservação: 20|21 – Conservação e Restauro de Arte Contemporânea Data: 2012 Texto: Luís Tavares Pereira Fotografia: Vasco Célio / Stills
proj. 3
“Para além da História” é a exposição inaugural do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), pensado para acolher obras da coleção José de Guimarães na nova Plataforma das Artes. O desenho expositivo procura articular os objetivos programáticos e conceptuais do comissário Nuno Faria, a natureza e escala dos objetos, e a escala, espacialidade e arquitetura do contentor. O CIAJG junta 3 coleções de José de Guimarães – arte tribal africana, pré-colombiana, arqueológica chinesa –, obras da autoria do artista e de outros artistas contemporâneos e objetos do património popular, religioso e arqueológico de Guimarães. “Para Além da História” está organizada em 4 blocos – A Origem, Emergência, Núcleo Mole e A Festa – que se subdividem em núcleos organizados de forma mais ou menos aberta. Neles, os objetos circulam livremente procurando relações insuspeitas ou naturais. Nem a relação entre as peças da coleção ou a obra de José de Guimarães é única, nem a relação com objetos de outras origens é fixa, diluindo-se a distinção entre exposição permanente e temporária. Uma contínua rotação de peças, sugerindo sucessivas transformações na organização do espaço, e nas estruturas expositivas, obriga, a garantir um nível importante de flexibilidade e autonomia entre o conceito expositivo e o contentor. Adotou-se, para isso, o conceito de “ilha”, em que as paredes permanecem intactas, mantendo a leitura do espaço existente na sua espacialidade original, concentrando no centro do espaço, os novos elementos expositivos a construir. As Ilhas, constituídas de múltiplos fragmentos – com alturas, dimensões e materialidades diversas (Valchromat preto, betão, vidro, leves, pesadas, transparentes, opacas) – recebem as peças da exposição inaugural e as seguintes, e recombinam-se em sucessivas configurações e nexos. Tratando-se da exposição inaugural e, iniciado o estudo do projeto ainda na fase de construção da obra, foi possível, em colaboração com o atelier Pitágoras alterar alguns aspetos a nível de iluminação e alimentação de energia, de forma a garantir maior flexibilidade na disposição interior dos espaços, nomeadamente, aumentando a capacidade de “oferta” de iluminação no centro no espaço, em complemento às paredes.
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Planta e corte sala 3
Planta e corte sala 7
Planta e corte sala 2
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PROJETOS
Portugal
NAAA – Neiva + Areias
CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura, Guimarães
Arquitetura: NAAA Arquitectos Associados – Ricardo Bastos Areias e Maria Luís Neiva Colaboração: Ana Lello Especialidades: José Sampaio (Eng. Electrotécnico) Cliente: Associação Cultural CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura de Guimarães. Data: 2010-2011 Texto: NAAA Fotografia: NAAA
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Diagrama urbano
Diagrama programático
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O CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura é uma instituição cultural sem fins lucrativos que tem como missão apoiar e estimular a criação artística e a aplicação de novos métodos de produção, promovendo a interação entre as mais diversas áreas de manifestação artística – artes visuais, design, cinema, literatura, multimédia e artes do espetáculo – e arquitetura. O CAAA é uma estrutura de produção e divulgação que foi criada por um grupo de arquitetos e artistas das mais variadas áreas com a intenção de gerar a discussão e colaboração entre as diversas plataformas artísticas e tecnológicas, tanto através da partilha de um espaço físico como no envolvimento na programação cultural. Localização O CAAA ocupa uma antiga fábrica têxtil no centro da cidade de Guimarães, que estava abandonada há já vários anos e que foi intervencionada com recurso a materiais e sistemas construtivos de baixo custo, tal como instalações elétricas à vista em caminhos de cabos, ou paredes revestidas a aglomerado de OSB. A opção de recorrer à cor cinza utilizada no exterior, parte de duas interpretações do contexto em que se insere: uma sociológica, que remete para o luto da indústria têxtil na região do Vale do Ave, quase um cliché contemporâneo; e outra que remete para uma das cores das antigas construções do centro histórico de Guimarães, o “Terra Preta”.
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PROJETOS
Portugal
Gabriela Gomes Shelter ByGG, Guimarães
Projeto: Gabriela Gomes (autoria e direção artística) com Sérgio Bessa (arquitetura) Colaboradores: Luísa Braga (arquitetura), Renata Santos (consultoria) Marketing e Parcerias: Carolina Bastos Construção: Abel Alves Integração de sistemas energéticos sustentáveis: CeNTI Vídeo: Hugo Amaral e Nuno Loureiro Imagens 3D: Real Light Produção: ID–L Tradução: Priscila Ferreira Texto: Gabriela Gomes Fotografia: João Morgado
“Dormir numa Escultura sustentável e itinerante” “Shelter ByGG”, um projeto da autoria de Gabriela Gomes traz para o espaço público um objeto escultórico habitável apresentado no âmbito da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Esta ideia vai de encontro à linha de trabalho da autora que tem como marca característica “converter objetos escultóricos em objetos de design”, transformando-os em produtos do quotidiano. Com “Shelter ByGG”, Gabriela Gomes cria um módulo habitável, convidando-nos a dormir numa escultura instalada no espaço público. O módulo tem um quarto duplo com WC integrado, pensado para o conforto e a privacidade dos utilizadores. A componente estética não fica esquecida e é um dos pontos fortes deste projeto. Trata-se de um objeto experimental que cruza a escultura, o design e a arquitetura, desafiando novas experiências de espaço e questionando relações de fruição artística e de habitação. Espera-se obter com este projeto uma manifestação artística que proporcione uma experiência inovadora e inesperada enquanto espaço de alojamento, associado a soluções ecosustentáveis e à mobilidade. Na sua construção e funcionamento estão as preocupações ambientais: a sustentabilidade pela utilização de materiais não poluentes e recicláveis (madeira, cortiça e OSB) e a ecoeficiência energética pelo uso de painéis fotovoltaicos e iluminação com tecnologia LED. A mobilidade, torna-o um “objeto itinerante”, a sua deslocação num TIR permite que circule por outros lugares sem necessidade de infraestruturas. O site do projeto: www.shelterbygg.com
proj. 5
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ENTREVISTA
programa
Gabriela Vaz-Pinheiro
A programação de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012
LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO
arqa: Como Programadora da secção de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012, quais são a linhas gerais da sua programação? Como se cruzam e contaminam os quatro ciclos propostos, Sobre Audiências, Escalas e Territórios, Modos de Produção e Novas Linguagens e Espaço Público? GVP: A programação foi desenvolvida tendo em vista um conjunto de questões que, sendo do meu interesse há muito tempo, considerei pertinente trazer ao programa e explorar no contexto da Capital da Cultura e no Concelho de Guimarães. Não me interessou elaborar uma listagem de artistas ou exposições, mas sim debater a formação e o envolvimento das audiências, o próprio conceito de público; contribuir para posicionar as práticas artística e arquitetónica nas relações entre o local e o global, o menor e o maior; refletir sobre os modos como as disciplinas se influenciam mutuamente ao mesmo tempo que recebem dos condicionalismos do
Obra de Papel, Matt Mullican, 2012.
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tempo múltiplas influências que afetam a sua forma e a sua produção; e finalmente gerar um conjunto de projetos que disseminassem as linguagens artísticas por um espaço que é cada vez mais público porque cada vez mais incontido, mesmo para a obra de arte. As contaminações entre estes Ciclos são inevitáveis em muitos sentidos, porque todos se cruzam de forma tanto intrínseca através das práticas disciplinares que neles se inscrevem como no próprio contexto onde operam. Qualquer projeto gera e questiona as audiências com que cruza, por exemplo. O que esperei foi que cada Ciclo contribuísse com uma parte do debate programático por forma a que estes cruzamentos pudessem ser sair enriquecidos. arqa: Tendo em conta a aposta num modelo mais interventivo e participativo no espaço público e no território e com forte incidência na experiência, no transitório e no efémero, como tem sido a relação dos eventos programados com a cidade e a população? Como se tem manifestado a programação na vida da cidade? Que ideia de urbanidade lhe está subjacente ou poderá daqui emergir? GVP: A minha programação lida com a dimensão imaterial da Capital da Cultura. O seu território operativo pôde por isso pensar de forma intrínseca as questões que a pergunta coloca e que sumariam de forma bastante pertinente grande parte das questões da arte e mesmo da arquitetura atuais. O Programa de Arte e Arquitetura acima de tudo inscreveu-se e foi construído a partir das práticas culturais encontradas no contexto, sempre mantendo sob escrutínio a sua ressonância num contexto mais alargado, europeu e mundial. Julgo que, nos tempos que vivemos, só assim se poderá verdadeiramente falar de urbanidade. Guimarães viveu um ano absolutamente extraordinário em que as pessoas foram convocadas a um envolvimento de pendor participativo, embora não só. E é muito claro em todas as esquinas da cidade, que as pessoas tomaram propriedade da Capital por vezes de formas inesperadas. Os artistas que andaram pela cidade e arredores fazendo perguntas e imiscuindo-se no quotidiano das pessoas, as peças que foram intercetando o espaço público, os espectadores que tímida mas curiosamente foram visitando exposições ou inscrevendo-se em ações do serviço educativo, demonstram que o legado do meu programa, mas também da Capital no geral, é, por isso, um legado que, verdadeiramente, apenas o tempo tornará passível de ser aferido, mas que é já visível na forma com que um sentido inquisitivo se tem revelado transversalmente nas nossas audiências. arqa: Existe uma abordagem estruturante nas suas propostas curatoriais essencialmente site-specific. De facto, diferencia o site-specific do situation-specific, do place-specific ou mesmo do context-specific. Num tempo mediatizado e espetacular de grandes eventos culturais, como se pode afirmar a especificidade do lugar, com as suas diversas escalas e territórios, com as suas diferentes dimensões artísticas, culturais e sociais? GVP: Como sabem é um assunto que procuro esclarecer e investigar há muito tempo. Na verdade, segundo a prática site-specific tradicionalmente
Fotos: SĂŠrgio Rolando
Michelangelo Pistoletto, GuimarĂŁes 2012.
PROJETOS
Portugal
Marysia Lewandowska + Colin Fournier Open Cinema, ReaKt, Guimarães
Projeto: Marysia Lewandowska e Colin Fournier Características da obra: cortiça e outros materiais; projeção vídeo; dimensões variáveis; instalação performativa Localização: Largo Condessa do Juncal Data: 2012 Texto: Marysia Lewandowska e Colin Fournier Fotografia: Marysia Lewandowska e Colin Fournier
O projeto “Open Cinema” teve a curadoria de Gabriela Vaz-Pinheiro, como parte de Olhares e Processos, inserida no Programa de Arte & Arquitetura de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, que consistiu na apresentação de 11 intervenções em espaços públicos e privados em Guimarães e zona envolvente à cidade. “Open Cinema” é um novo edifício radical, projetado pelo arquiteto Colin Fournier, parte de uma colaboração com a artista Marysia Lewandowska. De maneira lúdica e elegante precisão, este projeto estabelece uma ligação com a cultura cinéfila local, do Cineclube de Guimarães, e também com o contexto fabril do concelho. O novo cinema apela à participação, promovendo generosidade e uma grande abertura. Uma escolha eclética de excertos de filmes é projetado diariamente, num loop de 45 minutos, incluindo clássicos como Amarcord, Citizen Kane, Le Mepris, La Dolce Vita, etc... no Largo Condessa do Juncal, no centro da cidade, oferecendo uma experiência cinemática pouco usual a todos os que desejarem entrar na “caixa mágica”, suspensa entre imaginário e real, a projeção e o corpo.
proj. 6
Esquisso e renders
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PROJETOS
Portugal
Carlos Bunga
Projeto Ramada, ReaKt, Guimarães
Projeto: Carlos Bunga Curadoria: Gabriela Vaz Pinheiro Características da obra: cartão e fita cola; dimensões variáveis; instalação de exterior Localização: Praça do Instituto de Design, Couros Texto: Gabriela Vaz Pinheiro Fotografia: Sérgio Rolando
proj. 7
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A obra de Carlos Bunga gera formações que são como uma metarquitetura. Respondendo ao espaço de que partem, de uma forma profundamente processual, a sua fragilidade evoca uma precariedade iminente da condição humana. A sua obra referencia a arquitetura e as instituições que nela, e através dela, se fazem representar. Neste contexto, pela primeira vez, o artista trabalha fora da instituição museológica, intervindo numa praça pública coberta.
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DEPOIMENTO
laboratório
Gabriela Vaz-Pinheiro
Laboratório de Curadoria, Arte e Arquitetura, Guimarães 2012
GABRIELA VAZ-PINHEIRO
Impressões de curadoria: espaço, discurso, audiência “Um público é o espaço social criado pela circulação reflexiva de discurso. (...) Nenhum texto único pode gerar um público. Nem pode uma voz única, um único género, nem mesmo um único medium. Todos são insuficientes para criar o tipo de reflexividade a que chamamos público, já que um público é entendido como um continuado espaço de encontro para o discurso.”1
Foto: Sérgio Rolando
Um dos pressupostos do Laboratório de Curadoria foi, desde o início da sua conceção, procurar gerar modelos de discussão como prática, encarando o domínio discursivo como plataforma. Este modelo pretendia permitir o contacto com os processos de produção de pensamento, de investigação e também de produção espacial e editorial em regime experimental e dinâmico. O projeto é por isso primeiro que tudo uma ideia que coloca em jogo outras ideias, a saber: testar processos de trabalho coletivos e em cruzamento disciplinar (da arquitetura ao design gráfico, à arte ou à performance); dar visibilidade aos processos artísticos, de produção de pensamento e educativos associados à prática artística; procurar criar condições para gerar empoderamento de audiências ao mesmo tempo questionando os próprios conceitos de audiência e de público. A estrutura do Laboratório supõe um entrecruzamento de três dimensões: conceção espacial, um projeto editorial e uma residência coletiva, estrutura que se repete nos seus três momentos entregue a profissionais diferentes. A partição 3 e 3 serviu por isso como forma de, por um lado, articular com a pulsação do calendário do Programa de Arte e Arquitetura, e, por outro, procurar uma relação de produção entre as disciplinas envolvidas e aquilo que se começava a desenhar como áreas críticas que o programa deveria vir a debater, e para cujo desenvolvimento e coordenação de implementação chamei a curadora Lígia Afonso. As primeiras reuniões de trabalho, com a presença de cerca de duas dezenas de profissionais, envolveram a equipa que inicialmente foi chamada a pensar
Conferência de inauguração do Laboratório de Curadoria, Fábrica ASA, Guimarães 2012.
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coletivamente a implementação do Laboratório e foram expressão da primeira ideia. O espaço foi gerado a partir dos pressupostos trazidos pelos artistas que iriam fazer a residência coletiva; o projeto editorial foi desenhado procurando em cada momento responder às temáticas e dinâmicas específicas; e todos eles se foram entrecuzando, entre si e com os temas críticos em jogo. Nas metodologias experimentadas nas diferentes fases do projeto cumpre-se por isso o seu primeiro âmbito, que assim permite abrir possibilidades e formas de trabalho que respondem com mais premência às condições atuais do exercício das diversas profissões, profundamente dependente da cooperação e da contaminação mútua. Assim, o Laboratório de Curadoria já existia, e exercitava os seus pressupostos, antes mesmo de existir enquanto espaço físico e enquanto projeto comunicável. A sua real identidade nasceu de um processo intensamente participado que, trabalhando sobre a estrutura conceptual do projeto, pôde viabilizá-lo nas suas múltiplas dimensões. A segunda ideia, cumpre a função de plataforma discursiva do Laboratório, procurando gerar oportunidades para, através da função crítica e poética da arte, permitir testar modos de dar visibilidade, como atrás foi dito, aos processos artísticos, educativos e de produção de pensamento associados à prática artística. Enquanto plataforma, o Laboratório não pretendeu tornar os discursos, as performances ou os artefactos produzidos em simples objetos contempláveis, não tendo nunca estado em causa estabelecer uma formulação modular de apresentação. Nem o espaço, nem o programa, tenham embora algumas formas reconhecíveis de apresentação (um conjunto de cadeiras disposto perante uma mesa de oradores com um ecrã de projeção atrás, um formato em alinhamento de conferência ou um concerto, por exemplo), pretenderam cristalizar tais fórmulas. O que esteve em causa foi criar condições, talvez de uma forma sem precedente, para tanto a prática artística como de produção de pensamento poderem testar o potencial de transformação dos seus discursos, do impacto do trabalho dos agentes envolvidos tanto nos seus pares como nos públicos que por lá circularam. Não creio que a aferição da mudança política ou social de um projeto com os objetivos do Laboratório de Curadoria seja tangível no imediato, mas acredito que as centenas de profissionais e estudantes, de arte, curadoria, arquitetura e design, que dele usufruiram foram de alguma foram afetados pelos seus processos e contacto humano. Na dimensão da audiência foi possível envolver diferentes públicos, por vezes acidentais, por vezes dedicados, por vezes participativos. Em processos de investigação continuada sobre o território em que o Laboratório operou, da dimensão industrial e processos de desindustrialização, ao posicionamento da Fábrica ASA, onde foi construído, no próprio tecido urbano e social do concelho de Guimarães, procurou-se que o projeto entendesse o seu contexto local respondendo às suas idiossincrasias e, ao receber agentes de todo o mundo, o confrontasse com um mais vasto domínio da produção das disciplinas chamadas a expressar-se. Enquanto auditório aberto, a Arena permitiu uma movimentação, contacto e expressão seguramente menos acessíveis num auditório fechado. A noção de empoderamento discursivo testou também o próprio conceito e relevância dos formatos em que tais discursos acontecem, por tradição
Foto: Sérgio Rolando
Laboratório de Curadoria por EXYZT/ConstructLab (coordenação de Alex Roemer), Fábrica ASA, Guimarães 2012.
secular; testou a própria noção de público, fluido e irregular, de recetividade e fidelidade (em vários momentos questionáveis), mas permitiu também, na sua escala possível, tocar e envolver algumas pessoas que de outra forma não teriam tido contacto com tais experiências. Espaço: um novo situacionismo? Para uma prática espacial, a oportunidade para lidar com a noção de situação2, por oposição às dimensões mais habituais do planeamento urbano ou dos requisitos do cliente, parece suscitar uma possibilidade de expansão inusual. Espaço, entendido na linha lefebvriana de uma produção social, pôde assim ser testado com um sentido simultaneamente gerado a partir e gerador de comportamentos e práticas sociais, nas quais se incluem, por exemplo, as próprias residências artísticas. Para o Laboratório de Curadoria, que naturalmente necessitava de um espaço físico que o albergasse, só fazia sentido que a produção espacial (hesito
em utilizar a palavra arquitetónica) também partilhasse dos pressupostos conceptuais em causa, desde a noção de dinâmica social, à ideia de temporalidade, passando pelo entendimento do processo construtivo como parte de um outro que também se assumisse como discursivo. EXYZT por Alex Roemer, João Mendes Ribeiro e Inês Botelho pensaram este espaço em cada um dos três momentos, que no entanto não aconteceram de forma estanque, existindo em cada um deles uma pontuação que prenunciava os restantes, acumulados ao longo do ano. O primeiro momento foi construído num workshop de residência coletiva ao qual se candidataram alunos de arte e arquitetura. O colectivo EXYZT liderado por Alex Roemer instalou-se no primeiro elemento construído para o efeito e que, em conjunto com a cápsula para uma rádio temporária construída por Cláudia Martinho, viria a albergar as residências do Momento #1. Durante as três semanas que precederam a abertura ao público, habitaram-no e utilizaram-no como espaço de encontro, de trabalho e social. A restante
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PROJETOS
Portugal
João Mendes Ribeiro
5.
Instalação Laboratório de Curadoria, Momento #2, Fábrica ASA, Guimarães 6.
2.
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1. LAB#2 TORRE 2. LIVRARIA 3. INFOPOINT 4. CAFÉ (ALEX ROEMER+EXYZT) 5. ARENA (ALEX ROEMER+EXYZT) 6. LAB#1 (ALEX ROEMER+EXYZT)
IMPLANTAÇÃO 4. 4.
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6. 5. 5. 6. 6.
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O segundo momento do Laboratório de Curadoria (Documentação e Discurso) é marcado pela construção de um dispositivo que procura criar um jogo entre estrutura e movimento, entre escala e materialidade. Trata-se de um espaçocontentor que habita em altura o edifício existente e que é constituído por uma estrutura de madeira, autónoma, aparentemente estática, que encerra o movimento de uma escada. A espessura dos elementos estruturais permite transformá-lo numa imensa estante/arquivo contínua, que se desenvolve na vertical. O objecto é um arquivador de movimentos na vertical. É um espaço dentro de um espaço, que acumula diferentes momentos ao longo dos vários níveis: o espaço de leitura – a mesa; o espaço de deslocação e contaminação – a escada; os espaços de documentação - a estante/vitrine; o espaço de permanência no topo - a varanda. O dispositivo é ocupado, alterado ou reinterpretado pelas residências artísticas do Colectivo Embankment [Aida Castro, Jonathan Saldanha e Maria Mire], Sara & André e LiMAC (Museu de Arte Contemporânea de Lima). A residência do Colectivo Embankment é a primeira a instalar-se e a encenar “uma caverna a partir da verticalidade”. O espaço-contentor é também repensado na publicação resultante desta residência e da colaboração entre o Coletivo Embankment, o designer Pedro Nora e o ilustrador Daniel Silvestre da Silva.
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Arquitetura: João Mendes Ribeiro Colaboração: Catarina Fortuna, Inês Lourenço, Joana Brandão Curadoria: Gabriela Vaz-Pinheiro Requerente: Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura Ilustração: Daniel Silvestre da Silva, com coletivo Embankment [Aida Castro, Jonathan Saldanha e Maria Mire] e Pedro Nora Estruturas: Artur Feio Data: 2011-2012 Texto: João Mendes Ribeiro Fotografia: João Mendes Ribeiro, do mal o menos, Ségio Rolando, Lígia Afonso
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Planta e corte transversal
1. LAB#2 TORRE 2. LIVRARIA 3. INFOPO
1. LAB#2 TORRE 2. LIVRARIA 3. INFOPOINT 4. CAFÉ (ALEX ROEMER+EXYZT) 5. ARENA (ALEX ROEMER+EXYZT) 6. LAB#1 (ALEX ROEMER+EXYZT) IMPLANTAÇÃO 1. LAB#2 TORRE 2. LIVRARIA 3. INFOPOINT 4. CAFÉ (ALEX ROEMER+EXYZT) 5. ARENA (ALEX ROEMER+EXYZT) 6. LAB#1 (ALEX ROEMER+EXYZT) IMPLANTAÇÃO IMPLANTAÇÃO
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Fotos: João Mendes Ribeiro - Arquitectos
Ilustração: Daniel Silvestre da Silva
IMPLANTAÇÃO
Foto: do mal o menos
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ENTREVISTA
exposição
Nuno Grande
Nuno Portas: O Ser Urbano
LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO
arqa: Como comissário da exposição Nuno Portas: O Ser Urbano, quais as intenções e objetivos da sua proposta curatorial para a Guimarães 2012? NG: O objetivo central foi o de dar a conhecer uma figura incontornável da cultura portuguesa dos últimos 50 anos – Nuno Portas –, cujo trabalho atravessa, transversalmente, diferentes áreas do pensamento – da crítica à investigação, do ensino à política, da arquitetura ao urbanismo –, e várias geografias – Portugal, de Norte a Sul, mas também Espanha, Itália, França, Brasil, … Conhecendo a obra de Nuno Portas, conhecemo-nos melhor a nós mesmos, enquanto portugueses, cidadãos, e seres políticos, isto é, enquanto seres integrados na Polis.
arqa: A estruturação da exposição por 6 núcleos temáticos, abertamente organizados de forma cronológica, revelam o espectro de intervenção muito alargado de Nuno Portas. O que fundamenta especificamente todas essas áreas temáticas? O que liga e relaciona todas estas vertentes da sua obra? NG: É difícil estabelecer uma lógica linear a partir da heterodoxia latente na vida e na obra de Nuno Portas. Por isso, a exposição é como o próprio autor: simultaneamente reticular e rizomática, estruturalista e metabólica, devedora do legado dos planeadores do século XIX e do imaginário aberto pelo Team X. A ligar todos esses momentos, estão 6 temas – 6 títulos, frases ou slogans produzidos pelo próprio Nuno Portas – que vão marcando, década a década, o seu percurso: 1) A Cidade para Hoje, título do seu primeiro livro, de 1964, e que define o núcleo inicial da exposição dedicado aos primeiros projetos concebidos no atelier Teotónio Pereira, mas também aos primeiros textos publicados na revista Arquitetura; 2) A Cidade como Arquitetura, título do seu segundo livro, de 1969, e que define o núcleo dedicado à descoberta da cidade como “molde” da (sua) arquitetura, questão que Portas investiga também no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que debate nos Pequenos Congressos Ibéricos;
Fotos: Sérgio Rolando
arqa: Esta é uma exposição retrospetiva de uma obra diversificada que “atravessou os momentos fulcrais da cultura urbana portuguesa do último meio século”, como refere, de um “ser urbano” que não é só “substantivo”, mas também “verbo”. Qual o papel fundamental de Nuno Portas no contexto da arquitetura e urbanismo em Portugal? NG: Nuno Portas esteve presente em todas as mudanças recentes de paradigma cultural, no que diz respeito à arquitetura e à cidade portuguesas, tornando “nosso” o debate interdisciplinar que ocorria no resto da Europa e do mundo. Nesse sentido, acompanhou e internalizou, ainda muito jovem, a revisão crítica ao Movimento Moderno – com posições muitos próximas das defendidas nas reuniões do Team X, onde, curiosamente, nunca esteve – chamando a atenção para o contributo português (dele próprio, com Teotónio Pereira, mas também, entre outros, de Fernando Távora, de Manuel Tainha ou de Álvaro Siza); debateu o Habitat espontâneo e informal durante a luta pelo “direito à cidade” antes e depois do 25 de Abril – acompanhando as visões de Henri Lefebvre ou de Manuel Castells – e que lhe serviram de referência para o lançamento do Programa SAAL; ajudou a reforçar o poder local democrático e os seus instrumentos de planeamento (veja-se a figura do PDM), a partir dos
exemplos que ia conhecendo no resto da Europa; interveio criticamente na criação dos grandes Projetos Urbanos, tendo desenvolvido o Projeto do Campus Universitário de Aveiro, o primeiro plano para a Expo’98, dois planos centrais para o Rio de Janeiro, mas também para Roma ou Argel, em colaboração com o atelier RISCO; por fim, e de modo pioneiro, analisou e percebeu a “cidade difusa”, para lá dos centros históricos, a partir do exemplo do Vale do Ave e de Guimarães em particular. É pois possível dizer que, nas suas qualidades e nas suas contradições, “Nuno Portas é a cidade portuguesa”.
Visita guiada de Nuno Portas, Exposição Nuno Portas: O Ser Urbano, Fábrica Asa, Guimarães, 2012.
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Foto: Sérgio Rolando
Exposição Nuno Portas: O Ser Urbano, Fábrica Asa, Guimarães, 2012.
3) O processo também desenha, frase que utiliza em prol de uma arquitetura participada pela população, presente no núcleo da exposição dedicado aos antecedentes e aos impactos do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), por si lançado enquanto Secretário de Estado de Habitação, em 1974; 4) As novas políticas urbanas, implementadas, estudadas ou defendidas por Portas ao longo do processo de democratização do poder local, com especial destaque, neste núcleo, para a figura do Plano Diretor Municipal;
5) A cidade como “obra aberta”, tema que Portas busca em Umberto Eco para caracterizar o processo “aberto” do Projeto Urbano, que ele próprio experimenta, enquanto projetista, em exemplos presentes neste núcleo: Aveiro, Lisboa, Rio de Janeiro, Roma e Argel; 6) O hipertexto urbano, referência final a François Ascher com quem Portas privou, e com quem partilhou esse fascínio pela “cidade difusa” também presente no Norte de Portugal, região de eleição da sua investigação no Centro de Estudos da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
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ENTREVISTA
exposição
Pedro Jordão
Archigram: Experimental Architecture 1961-1974
LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO
arqa: Como co-comissário da exposição Archigram: Experimental Architecture 1961-1974, quais as intenções e objetivos da vossa proposta curatorial para a Guimarães 2012? PJ: Antes das intenções, houve a oportunidade de trazer a Portugal uma exposição ímpar sobre um dos mais vitais episódios da arquitetura contemporânea que não podia ser perdida. Entendeu-o também a programadora de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012, Gabriela VazPinheiro, e não o negaria eu, que há muito tenho os Archigram como referência de muitas horas. Mas para além da sua importância dentro da disciplina, que não só não foi esmorecendo como foi crescendo e que aqui se confirma de modo inequívoco, estava desde o início inscrito nesta exposição o potencial de dialogar com diferentes públicos e não apenas o mais especializado. É paradoxal, mas apesar de se tratar de um corpo de trabalho experimental, radical nos processos como nas propostas, interpela mais facilmente o público. Porque o que ali se apresenta não são edifícios, mas um processo de interrogação de uma realidade comum a todos, vivida diariamente. A exposição não é tanto um momento de divulgação quanto uma provocação e uma reflexão partilhada com o público. arqa: Tendo em conta o comissariado conjunto com Dennis Crompton, um dos elementos dos Archigram, como foi a experiência de trabalhar os Archigram Archives? Tendo em conta esse impressionante arquivo, que material é que a exposição de Guimarães apresenta de novo? PJ: Estamos a falar de um corpo de trabalho extraordinário também na sua dimensão. São catorze anos de atividade de um coletivo prolífico e com uma orgânica pouco habitual, onde se produziam em simultâneo diversos trabalhos em conjunto e individualmente, sempre com uma atuação multidisciplinar que frequentemente extravasava a arquitetura. O espólio, que inclui desenhos, maquetes, modelos em escala real, colagens, vídeos, séries de slides ou a revista Archigram, é avassalador na quantidade e na diversidade. A exposição e os seus conteúdos foram por isso adaptados aos três pisos da galeria do Palácio Vila Flor em estreita colaboração com Dennis Crompton, o membro que assume correntemente a gestão dos Archigram Archives. E diga-se que sendo sempre fascinante acercarmo-nos dos nossos heróis, é-o ainda mais quando se nota hoje ainda a mesma energia e o mesmo espírito inquisitivo da realidade que lhes imaginávamos em décadas que já entraram na história. Muito do material exposto será inédito para a maioria, mesmo para os mais informados sobre o trabalho dos Archigram, já que não está publicamente disponível. Acima de tudo, não é uma exposição que meramente se visite, é uma experiência, de que a Arena, o centro multimédia da exposição com vários vídeos e projeções de slides, é um bom exemplo. Não há como substituir a visita. arqa: Os Archigram participam num contexto das múltiplas propostas utópicas e visionárias das décadas de sessenta e setenta, de Yona Friedman a Constant, dos metabolistas aos Superstudio e Archizoom, dos Coop Himmelblau e Haus Rucker Co a Rem Koolhaas e Elia Zenghelis. Mas a produção dos Archigram parece fazer a síntese delirante das grandes questões daquele período muito intenso: a exploração espacial,
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a exacerbação tecnológica, a sociedade de consumo, a sociedade de comunicação generalizada, a ação libertária, a arte pop, a banda desenhada, a cidade evento, o individuo nómada, a contracultura hippie, a lsd, etc. De que forma podemos colocar os Archigram no centro ideológico deste período? PJ: Para além de terem precedido vários desses nomes e de terem assumidamente influenciados outros, penso que os Archigram são únicos na síntese das novas condições contemporâneas que então se insinuavam. Tiveram um impacto mediático que me parece indiscutivelmente maior, afirmando-se então como a principal referência de entre as propostas especulativas que tanto se estranhavam, criaram um universo visual que ainda hoje é de imediato reconhecível e que influenciou muitos outros criadores, muito para além da arquitetura, mas o que os torna únicos é de facto o modo como fizeram todas as perguntas certas e especularam meticulosamente sobre a resposta que, se nem sempre pareceu realista, também nunca pareceu vaga. Não só não se ficaram por princípios genéricos nem pela grande escala, como o detalhe a que chegavam nos seus projetos era mais do que uma resposta arquitetónica, era a reflexão sobre novos modos de vida, sobre o que é habitar, sobre o que é fazer cidade e ocupar um território. E da mobilidade às novas tecnologias, da sociedade do consumo e do espetáculo às contraculturas, das novas ordens sociais à demografia, não falharam um desafio. Nunca foram futuristas, como nunca foram funcionalistas – mas foram sedutores incomparáveis. De resto, a reflexão foi sempre radical mas centrada no presente, num desejo de transformação do tempo próximo, e nunca se limitaram a uma resposta funcional, propondo novas formas e tendo uma ligação à noção do corpo que só pode ser classificada como sensual. Mas em comum, todos os nomes referidos tinham premente uma necessidade que hoje se mantém: a de romper com uma disciplina em piloto automático, estabelecendo uma nova forma de pensar que responda a novas realidades. arqa: Sendo fundamentalmente documental, a exposição procura explorar uma dimensão ambiental, em sintonia com a abordagem do trabalho dos próprios Archigram e das suas exposições originais. Como foi pensada na exposição essa relação entre o material de arquivo e a sua forma de exibição? PJ: Não é de facto uma exposição convencional, no sentido em que não se limita a dispor material num espaço mas antes o transforma, procurando criar um ambiente que transmita o universo muito próprio dos Archigram, o que inclui o seu sentido lúdico, a sua sabotagem dos modelos estabelecidos, a sua dinâmica de reflexão e produção aceleradas, o seu caos organizado, a sua exploração de novas linguagens e tecnologias. Está lá tudo. Desde o momento em que se entra, a imunidade torna-se impossível. A exposição inclui uma enorme variedade de suportes, o que ajuda a definir o espaço como uma proposta multissensorial, e existem momentos, como quando estamos imersos numa confusão apenas aparentes de sons e imagens em pequenas salas escuras, em que o corte com o exterior controlado de onde viemos parece ser total. Digamos que a exposição garante uma “experiência Archigram”.
Fotos: Jo達o Peixoto
ENTREVISTA
concurso
Pedro Gadanho Performance Architecture
LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO
arqa: Como comissário do concurso internacional Performance Architecture, quais as intenções e objetivos da sua proposta curatorial para a Guimarães 2012? PG: O objetivo principal foi o de utilizar o formato de concurso – e portanto o acolhimento de propostas de várias origens em resposta a um repto da programadora de Arte e Arquitetura, Gabriela Vaz Pinheiro – no sentido de comprovar que os arquitetos dispõem de novas abordagens no que diz respeito à ativação do espaço público e ao convite à sua utilização por parte de um público alargado. Daí o conceito de Performance Architecture como parte essencial do briefing do concurso – ou seja, o recurso a uma ideia emergente de que a arquitetura contemporânea está a utilizar estratégias que, sendo reminiscentes de algumas práticas de performance art, requerem o retorno do utilizador ou destinatário como ativadores fundamentais da arquitetura. Nada como o espaço público – e um evento da natureza de uma capital da cultura – para, de forma lúdica e participativa, testar ideias sobre a potencial capacidade performática destas abordagens arquitetónicas.
forma. Daí a recorrer aos ditos protagonistas como elementos de um júri internacional foi um pequeno passo lógico – já que esses não só seriam ideais para avaliar a qualidade de propostas que envolvem uma certa dimensão de performance urbana, como sugeririam também sintonias e referências – não necessariamente a emular, mas quiçá a superar... Nesse sentido, o júri correu em perfeita sintonia e foi relativamente rápido chegar a um consenso sobre as propostas cujo carácter performativo era mais estimulante. arqa: Tem trabalhado desde há alguns anos esta ideia da relação entre performance e arquitetura, salientando os seus aspetos de efemeridade, ação, participação, etc. De que forma é que as propostas vencedoras do concurso refletem essa ideia de performatividade? PG: Transformar fontes em piscinas, através de dispositivos simples e objets trouvés, é um ato aparentemente simples – e pode-se até questionar se é arquitetónico. No entanto, as Fountain Hacks que foram realizadas no âmbito do concurso constituem justamente uma ação que envolve várias camadas de significado – desde a necessidade de participação para completar o sentido do projeto até à dimensão política de questionar o espaço institucional que, por excelência, se pode rever nas fontes de uma cidade histórica como Guimarães. Como outras intervenções – que envolveram outros tipos de “performance” ao nível da sua construção, como a recolha e reciclagem de peças de roupa para criar espaços de encontro, ou ao nível da sua utilização, como a necessidade do público pedalar para fabricar o seu próprio mobiliário urbano – é um projeto muito bem sucedido a envolver a comunidade local numa reflexão lúdica e crítica sobre o espaço coletivo da cidade, algo que eu associo às características mais importantes da chamada performance architecture.
Foto: Sérgio Rolando
arqa: O júri do concurso integrou um corpo significativo de arquitetos e coletivos diferenciados, com amplo trabalho realizado na área da performatividade, como Didier Fiúza Faustino, Raumlabor, OSA, A77 e o próprio Pedro. Foi a constituição deste júri a tentativa de juntar massa crítica em torno do tema da performance e arquitetura? Como correram os trabalhos do júri? PG: No fundo, pensou-se que mais do que fazer uma exposição retrospetiva de autores que podiam ser reconhecidos como protagonistas desta “viragem performativa” da arquitetura, seria interessante perceber até que ponto o conceito tinha eco entre outros arquitetos, e até nãoarquitetos. Em vez do trabalho já (re)conhecido, poder-se-ia assim deparar com novas respostas que confirmariam ou não a emergência de uma linguagem mais virada para o performativo, mais do que para a pura
Júri do Concurso Performance Architecture, Fábrica ASA, 2012.
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arqa: O aspeto central de Performance Architecture parece ser a ativação e intensificação do espaço público, algo que se insere estruturalmente na programação de Arte e Arquitetura. Como podem estas intervenções efémeras assumir hoje um papel crítico e afirmativo? Até que ponto estas propostas questionam as nossas noções instituídas de espaço público? PG: Parece-me que, de algum modo, já ilustrei este aspeto, mas diria também que, hoje, qualquer intervenção efémera, particularmente quando baseada em reciclagem como é muitas vezes o caso, pode funcionar como uma crítica potencial a um sistema de consumo e regulação que, no campo da arquitetura, nos conduz à ilusão de que fazer edifícios mais caros, complexos e “sustentáveis” nos pode ajudar a resolver qualquer tipo de problema. Neste momento da nossa história, prefiro uma intervenção efémera que nos obrigue a pensar a nossa condição, mais do que outro “belo” edifício. arqa: Existe uma certa proximidade conceptual nas propostas vencedoras que impelem à participação da população, mas não criam propriamente vínculos mais profundos com a realidade social em
Foto: João Octávio Peixoto
Exposição Performance Architecture, CAAA, Guimarães 2012.
que se inserem. Foi isto uma opção curatorial ou uma necessidade estratégica na elaboração e definição dos termos do concurso? Não teme que essa situação possa estreitar a conceção de performatividade em que tem trabalhado? PG: Temos que perceber que estes projetos foram realizados no contexto de um evento efémero e que, dados os orçamentos disponíveis, não era possível conceber estruturas mais duráveis – que pudessem garantir um envolvimento mais continuado das populações. Nesse sentido, é evidente que prefiro situações como a dos Raumlabor no
Cantiere Barca, nos subúrbios de Torino. Aí, a construção de natureza efémera tem, apesar de tudo, a capacidade de gerar vínculos mais duradouros entre a população, quer enquanto função urbana – um centro comunitário –, quer enquanto projeção simbólica – o reforço da identidade coletiva local. De resto, todo o tipo de intenções podem ser “recuperadas” (num sentido adorniano) ou perder o seu sentido radical inicial – e a performance certamente mede o seu maior impacto no momento em que é experienciada – mas será que por isso devemos abandonar a exploração do seu potencial crítico? No fundo, trata-se de
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DESIGN
ensaio
Instituto de Design de Guimarães Desenhar para a Indústria - Inovação e Transdisciplinaridade
CARLA CARBONE|carlacarbone@yahoo.com
Portugal precisa, mais do que nunca, de se demarcar na sua cultura, de se definir na sua identidade. Com mais veemência, com mais assertividade. Talvez a conjuntura que estamos a atravessar ajude a essa urgência na construção do que é verdadeiramente nosso, daquilo que nos distingue, da cultura que outros países não podem nem conseguem reproduzir ou copiar. O Instituto de Design de Guimarães parece ter nascido para dar resposta a essa urgência. Mais ainda porque essa urgência vai alicerçar-se numa investigação de topo na área da ciência e da tecnologia. O objetivo é experimentar, experimentar com o recurso a novos materiais e a novas tecnologias. Experimentar e experienciar transdisciplinarmente. Ferrie Van Hattum é o Diretor do curso de Design de Produto do Instituto de Design de Guimarães. Professor de Engenharia do Departamento de Arquitetura da Universidade do Minho, Hattum pretende que o curso se desenvolva numa matriz multidisciplinar. Também procura que o seu plano de estudos se concretize numa
atividade plena de inovação tecnológica e conhecimento, com vista a não perder a contemporaneidade e o contacto com o tecido produtivo e empresarial da cidade. Assim se compreende a “interação da Universidade do Minho com a indústria”, como sugere o programa do curso, “interação que já resultou na criação de quatro unidades de interface no Campus de Azurém (Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros - PIEP, Centro de Computação Gráfica - CCG, Centro de Valorização de Resíduos - CVR e a TecMinho) e numa intensa atividade de investigação em desenvolvimento de produtos, realizada através dos centros de investigação ligados aos Polímeros - IPC, Mecânica - CT2M, Têxtil - 2C2T e Eletrónica”. O curso de design de produto ocupa um velho edifício industrial, outrora uma antiga fábrica de couros, Fábrica da Ramada - António Martins Ribeiro da Silva. Este Camp Urbis resulta assim de uma parceria da Câmara Municipal
Alguns exemplos expostos de trabalhos de finalistas de design. Reabilitação de uma zona velha da cidade, próxima do centro histórico de Guimarães.
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ARTES
ensaio
Christian Boltanski Memória e representação
DAVID SANTOS|davidsantos71@gmail.com
“O que tento fazer é contar pequenas histórias e estas histórias colocam questões. Porém, eu não falo com palavras, mas com imagens; não há respostas, antes perguntas que provocam outras perguntas”. Christian Boltanski No âmbito da Monumenta 2010, e explorando a monumentalidade oitocentista do Grand Palais, em Paris, o francês Christian Boltanski (n. 1944) apresentou Personnes (traduzível ao mesmo tempo por “pessoas” e “zé-ninguéns”), uma ampla instalação composta por dois dispositivos de acumulação de roupas usadas. O primeiro regularizava 69 retângulos, de 3 por 5 metros, sobre os quais se encontravam diversas peças de vestuário (casacos, sobretudos, blusões, roupas de criança e bebé), todos com a abertura virada para o chão. Cada retângulo era iluminado por uma luz fria, em néon, e o visitante podia caminhar por entre este campo de roupas ao som de 69 perturbadores batimentos cardíacos que ecoavam pelos altifalantes colocados nas extremidades dos cabos elétricos que iluminavam cada retângulo de vestuário. O segundo dispositivo mostrava um gigantesco amontoado de roupas, que remetia desde logo para as imagens dos campos de extermínio do Holocausto ou, por contraste consumista, para as imagens das lixeiras contemporâneas. A “montanha” de roupas sofria aí contudo a intervenção mecanizada de um gesto dramático, a repetição sincopada de uma grua, equipada com uma “mão” mecânica, que descia ao cume desse aglomerado para agarrar várias peças de roupa, fazendo-as cair de novo, após uma pausa. Apesar do efeito dramatizado pela monumentalização dessas toneladas de roupa desalinhada, o projeto artístico de Boltanski parece hoje encurralado ou preso, paradoxalmente, ao eco do seu próprio passado, espécie de caricatura do exercício de rememoração que desde sempre promoveu. Mas se a evocação da morte (ou da vida) que percebemos presente nessas peças anónimas de vestuário se converteu, ao longo do tempo, num exercício cada vez mais distanciado da gravidade subtil das primeiras obras, podemos afirmar todavia que, desde o final dos anos 80 e durante toda a década de 90, o uso de roupas usadas para ocupar diversos espaços de exibição pontuou em Boltanski uma reflexão importante acerca da acumulação, das ideias de despojo, abandono, memória e representação. Já em 1996, num ensaio intitulado “Teatro da Metamorfose”, José Jiménez afirmava com acerto, a propósito do trabalho de Christian Boltanski: “Roupa velha. Usada. Os vestidos […] conservam um rasto de vida, ainda que quem os usou já não exista. E assim, essa segunda pele do ser humano é um emblema metonímico de uma presença ausente. Um signo da metamorfose. Do trânsito entre a vida e a morte”1. Com efeito, a obra de Christian Boltanski colocava-nos nessa altura perante uma incomodidade insinuante ao lidar com metamorfoses sobrepostas, imagens fugazes da vida outrora experienciada mas já desaparecida. Desse modo, reafirmava-se um jogo significacional explorado e mantido entre os rituais da morte e do renascimento a partir, sobretudo, de reinterpretações da identidade e do percurso de vida individual perante momentos históricos de grande impacto civilizacional. Nesse sentido, o artista procurava muitas vezes, sobretudo nos anos 90, espaços de exposição e experiencia alternativos ao circuito artístico e museológico, como
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igrejas ou outros lugares de grande força evocativa e espiritual. Não esqueçamos que o pano de fundo da sua ação criativa sempre foi, na verdade, a evocação da morte anónima por efeito de trágicos acontecimentos que ensombram a nossa história recente, como o Holocausto. Ao confrontarnos com a representação metonímica da morte, muitas vezes recorrendo a imagens fotográficas dos rostos daqueles que já partiram, Boltanski acentuava a fragilidade específica da memória e a expansão coletiva do esquecimento. Os seus “altares” ou “monumentos” da memória obrigamnos ainda hoje ao debate iconográfico com o passado da humanidade. “São fotos ‘de identidade’ des-identificadas, retiradas dos meios de comunicação e desligadas dos acontecimentos que as converteram em notícia. Fotografias ampliadas, em que a imagem [ajudada muitas vezes, diríamos nós, pela luz ténue das velas usadas nas suas instalações, ou a sua simulação por pequenas lâmpadas que iluminam diretamente o rosto ampliado dos retratados] adquire uma distorção fantasmal, aurática, e que atuam como uma potente metáfora do efeito do tempo sobre o nosso olhar e a nossa memória”2, conclui Jiménez. O trabalho artístico sobre a memória histórica apresenta quase sempre uma complexa teia de relações entre sentimentos e reflexões, com o objetivo mais ou menos assumido de promover uma mais profunda consciencialização individual que, neste caso particular, mexe com as convicções mais estabilizadas ou com os ritmos de rememoração e esquecimento de cada observador. Daí a recorrência ao conceito de arquivo para relembrar o rasto deixado pela identidade de quem já não está entre os vivos. Por outro lado, a elevação da memória sobre o Holocausto a temática central de um projeto artístico como o que Christian Boltanski vem realizando desde os anos 70 coloca desde logo, na realidade, uma série de questões sobre a natureza da obra de arte na sua relação com a mensagem e a leitura política de um dos momentos mais difíceis da história ocidental. Lembre-se que T. W. Adorno afirmara nos anos 50 que “depois de Auschwitz, não mais será possível fazer poesia”. Contudo, há ao mesmo tempo uma espécie de inevitabilidade no regresso a uma poética da ausência e da morte, mesmo se ela resulta paradoxalmente da ligação à expressão máxima da desumanidade no século XX, a morte massificada por preconceito racial, perpetrada sobretudo contra o povo Judeu. Recordemos, neste contexto, a ascendência judia de Christian Boltanski. Elemento determinante, necessariamente, em todo o processo de evocação de uma temática como esta. Desde pelo menos Les Archives (Os arquivos), um trabalho de grande impacto apresentado Dokumenta Kassel, em 1987, ou de instalações como Autel De Lycée Chases (Altar ao Liceu de Chases), (1988), que incluía fotografias de crianças judias vítimas do genocídio, ou ainda Réserve [Reserva], (1990), uma das primeiras acumulações de roupa usada que evocavam as imagens dos campos de concentração, que a temática do Holocausto e as suas possibilidades de representação se mantiveram atuantes, determinando o percurso artístico de Boltanski. Por outro lado, o problema de representar em termos artísticos o Holocausto constitui uma polémica irresolúvel, já com décadas de depoimentos, declarações e argumentos opostos. Em 1982, por exemplo, Joseph Beuys defendia Auschwitz como “aquilo que não pode ser representado. Essa
Danรงa Macabra, Fรกbrica ASA, Guimarรฃes 2012.
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ARTES
diálogo
CCC: Collecting, Collections and Concepts Uma conversa iconoclasta acerca de factos e ficções em forma de assim
SANDRA VIEIRA JÜRGENS|sandravieirajurgens@gmail.com
A propósito deste projecto comissariado por Paulo Mendes no âmbito do programa de Arte e Arquitetura da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, organizou-se um jantar que aconteceu no restaurante Panorâmico de Monsanto em Lisboa e onde reunimos quatro dos intervenientes neste projecto. Para além do comissário, estiveram à mesa Pedro Infante, artista português que reside entre Lisboa e Los Angeles, Orson Welles, realizador e personagem iconoclasta da história do cinema, e eu própria, redactora desta entrevista e co-editora do livro deste projecto. Discutiu-se desde a concepção deste projecto até ao processo de produção e consequente apresentação pública que aconteceu entre Março e Maio de 2012.
Foto: David Pereira (Arquivo Paulo Mendes)
arqa: Terminada a exposição Collecting, Collections and Concepts, uma viagem iconoclasta por colecções de coisas em forma de assim, qual o aspecto mais singular que se destaca deste projecto expositivo? Paulo Mendes: O briefing para este projeto era curto e directo: realizar uma exposição com obras de colecções institucionais de arte contemporânea em Portugal. Desse leitmotiv parti para uma série de especulações sobre esse tema e outros com ele relacionados. Como diria Hitchcock, a temática das colecções foi o MacGuffin, o pretexto para produzir a intriga, neste caso a exposição e desenvolver a investigação. A exposição iria decorrer numa Fábrica devoluta e a relação que se estabelece com esses espaços é determinante para a concepção do projecto. Na exposição entramos e saímos na presença de operários, estamos num espaço fabril de produção em série com aproximadamente 2800 m2. É a versão instalativa do conceito pósfordista de produção industrial, indistinta, técnica. Pareceu-me pertinente o cruzamento entre os “velhos materiais” da Fábrica Asa e a sua utilização para produzir “novas obras de arte”, resultando daí trabalhos combinatórios entre a memória da matéria e o presente. Os anteriores operários são agora fantasmas num espaço expropriado da sua função primeira, restava a História e as estórias. Estava interessado no momento em que os outros operários ocuparam esta Fábrica e como se relaciona esse momento na história com o
Exposição Collecting Collections and Concepts, Fábrica Asa, Guimarães, 2012.
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nosso momento presente, evidenciando a memória social e política. Pedro Infante: Um confronto simbólico entre os operários manuais e os operários intelectuais. Os trabalhos expostos são reproduções mediadas por máquinas de reproductibilidade técnica – as projeções de vídeo, as fotografias, os livros, os objectos, as rotativas e os jornais, os iPhones, as instalações sonoras… – aquela sala da Fábrica continua a sua perpétua produção em série… Paulo Mendes: O conceito de colecção foi expandido e segmentado, tornou-se tentacular para albergar as noções de arquivo, atlas, metamorfoseando-se numa cartografia de histórias associadas a conjuntos de obras ou objectos. Continuando na linha de acção de muitos outros projectos que comissariei, também este deveria contrariar os cânones associados aos sistemas expositivos – a imobilidade das obras, a sacralização e fetichização dos objectos artísticos, uma legitimidade cultural “superior” apoiada pelas obras e pelo discurso crítico associado, a vivência do espaço expositivo como um espaço elitista, um sistema com normas rígidas e apenas ao alcance de alguns. Estes parâmetros e outros são assim desconstruídos, temporariamente questionados, é a sabotagem da produção. Contrariando a produção industrial massiva, apresento objectos artísticos, inúteis por definição: a funcionalidade versus a disfuncionalidade. O registo documental versus o registo ficcional. O verdadeiro e o falso. As colecções e as falsificações. Potencio um espaço de possibilidades narrativas, um espaço de trabalho em construção, um estaleiro. A estrutura de andaimes funciona como uma cenografia em construção – work in progress – de um modelo social do espectáculo, estrutura instável para observação e ser observado. Duas referências importantes: na última semana de abertura ao público e durante o horário normal de funcionamento, a exposição começou a ser desmontada “em directo”. A minha equipa de trabalho iniciou os procedimentos para retirar as obras das suas posições iniciais preparando-as para serem devolvidas aos autores e instituições. Isto acontecia enquanto os visitantes, o público circulava na exposição. No último sábado da exposição, com a mostra ainda aberta ao público, organizei um jantar dentro do espaço expositivo com as equipas de montagem, de produção, alguns elementos da Fundação Cidade de Guimarães e também com outros elementos associados indirectamente ao projecto, como por exemplo alguns dos actuais operários responsáveis pela manutenção das instalações da Fábrica Asa. Pedimos ao dono do restaurante situado ao lado da Fábrica Asa, onde diariamente almoçávamos e jantávamos durante a montagem da exposição, que confeccionasse e servisse esse jantar agora na própria sala onde decorria o projecto CCC. Esse jantar colectivo iniciou-se com os visitantes a circular no espaço e prolongou-se durante várias horas – já com a exposição fechada. A estas acções que decorreram durante a última semana chamei – Performing Exhibition. A exposição não pode por si só ser o culminar de um processo. A exposição deverá permanecer como algo processual que abre novas possibilidades de experimentação para o projecto seguinte. É apenas mais um capítulo, não a última página. Por essa razão altero frequentemente a estrutura de uma exposição durante o período em que está aberta ao público. Uma exposição é um mecanismo/processo de pensamento que se materializa temporariamente, se desmonta e que continua a sobreviver na minha cabeça enquanto matéria especulativa até ao próximo projecto.
Foto: Blues Photography Studio (Arquivo Paulo Mendes)
Exposição Collecting Collections and Concepts, Fábrica Asa, Guimarães, 2012.
Orson Welles: Os artistas não são pessoas com talentos singulares que aproveitam as oportunidades, são em vez disso pessoas talentosas que tiram proveito de oportunidades singulares… arqa: As exposições, constituindo mais do que uma mostra de obras de arte, podem ser criações, construções, processos discursivos, de investigação que se exercem através de inter-relações produtivas entre obras, processos, conceitos, questões. Qual pode ser o papel mais preponderante das exposições, pensando na época actual? PM: Hoje, como ontem, devemos continuar a pensar em projectos que procurem alargar as fronteiras do conceito de “exposição”. Deverá haver uma procura de novas possibilidades espaciais, novos tipos de display, a transversalidade disciplinar e a inserção de “elementos estranhos” – discursivos ou objectuais – à linguagem da arte contemporânea na tradição de Harald Szeemann, Kasper König, ou Hans Ulrich Obrist. Estes projectos devem dinamitar os modos convencionais, as regras de uma cultura académica e poeirenta. O projecto-ensaio CCC não representa, questiona. A expectativa consagratória de um evento iminentemente político, como uma capital da cultura, é sabotada por uma apresentação não celebratória e decetiva para alguns. Esta é uma curadoria democrática e horizontal, que dá atenção às pequenas histórias, não apenas às “grandes obras”, mas abre espaço a obras ou disciplinas “menores”. A macro-história constrói-
se em directo com o visitante através da sua deriva expositiva em que vai coleccionando, adicionando para si um conjunto de micro-histórias apresentadas. Eu costumo usar a metáfora do realizador de cinema para explicar esta situação. O papel de comissário de uma exposição pode associar-se ao de um realizador de cinema, os artistas são os actores, trabalhando segundo a minha direcção, enquanto simultaneamente executo a coordenação de uma vasta equipa de produção. Com este método cria-se uma dinâmica de trabalho que não é hierarquizada, que é muito democrática, e na qual não deve existir um overacting nem dos artistas, nem do comissário. Algo transitório e imaterial no seu conjunto – em que no momento que termina a exposição se separa, se desmaterializa, ganhando cada elemento, cada obra, novamente autonomia, individualidade, que provisoriamente foi partilhada num projecto total, numa exposição-instalação. OW: …suspensão total de qualquer lógica ou função narrativa, uma arqueologia do narrativo. Uma emancipação do valor de culto das imagens através da sua reprodução tecnológica… PI: A questão de uma arte social e politicamente empenhada tem dado origem a grandes discussões sobre como deve o artista posicionar-se. Não se trata de nos substituirmos aos sociólogos ou aos antropólogos, acho que devemos utilizar procedimentos híbridos, cruzar outras disciplinas, sejam elas das ciências humanas ou artísticas. Esta é a época do artista plural, atento às redes de conhecimento.
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INFO Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I - Nº 2 – novembro|dezembro 2012
Agenda JANEIRO DE 2013
Lisboa
CIALP – A 2.ª Assembleia Geral do Concelho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa e a 2.ª Reunião do Conselho Diretivo, a realizar em Lisboa. DE 10 DE DEZEMBRO A 14 DE DEZEMBRO DE 2012
Abidjan
UAA – Realizar-se-á em �������������������������� a 47.ª Reunião do Conselho da União Africana de Arquitetos – UAA e a Reunião sobre Desenvolvimento ��������������������������
RANCHETA
������ ���� ����������� ��� ������
Eventos realizados
Ordem dos Arquitetos na 10.ª Edição da Projekta NUMA ÁREA DE 15.000 M2 ������������������������� em Luanda, nos dias 25 a 28 de Outubro de 2012, ������������������������������������������������������� ����������������������������������������������� ������������������������������������������������ ����������������������������������������������������� e internacionais da Alemanha, Portugal, China, ��������������������������������������������������� �������������������������������������������������������� �������������������������������������������� ����������������������������������������������������� ��������������������������������������������������� ������������������������������������������������� ������������������������������������������������� ������������������������������������������������������� ���������������������������������������������� ��������������������������������������������
Opinião
Do conceito à forma
ÁGUA, VENTO, FOGO, LUZ, MÚSICA, CORES, TECIDOS, PAISAGENS, PADRÕES, EMOÇÕES, ETC.�������������������������������������������������� ���������������������������������������������� ������������������������������������������������� ��������������������������������������������� ������������������������������������������������� qualquer um dos elementos acima mencionados numa obra de arte estruturalmente estável �������������������������������� ���������������������������������������� ������������������������������������������������ ����������������������������������������������� uma regra estrita que determinasse o formato dos ����������������������������������������������
O que torna uma casa quadrangular bela, e uma ������������������������������������������������� ���������������������������������������������������� ������������������������������������������������ Vitrúvio, no seu tratado “Os Dez Livros da ���������������������������������������������������� ����������������������������������������������� ��������������������������������������������������� ���������������������������������������������������� ���������������������������������������������������� �������������������������������������������������� �������������������������������� A forma nasce do conceito. Amélia Malaquias Gay, Arquitecta �������������������������
Projecto Nova Vida ����������������������������������������������������������� ����������������������������������������� ������������������������
ATELIER DE ARQUITECTURA
Escolas de Arquitetura e Urbanismo O ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO em Angola dependia apenas de uma instituição universitária que, apesar de ter feito um trabalho excelente na formação de arquitectos e urbanistas, deixou de ter uma capacidade de resposta em termos numéricos, pois houve um aumento na procura de cursos de arquitetura e urbanismo, não só em Luanda mas em todo o país. Mais alunos pré-universitários têm o desejo de se formar em arquitetura e/ou urbanismo, e mais alunos ingressam nestes cursos, anualmente, à medida que novas universidades ou novos cursos em universidades previamente existentes vão abrindo. Em menos de dez anos, mais duas escolas superiores de arquitectura e urbanismo estatais começaram a funcionar. No setor privado, cinco universidades deram início ao ensino de arquitectura e urbanismo, reduzindo assim a grande avalanche de alunos para o departamento de arquitetura da Universidade Agostinho Neto.Eis
a lista de instituições de ensino superior com os cursos de arquitetura e urbanismo: ����������������������� a) Universidade Agostinho Neto – Luanda e Cabinda b) Instituto Superior Politécnico do Huambo – Huambo c) Instituto Superior Politécnico do Cazenga – Luanda ������������������������ a) Universidade Lusíada – Luanda e Benguela b) Universidade Metodista de Angola – Luanda c) Universidade Metropolitana – Luanda d) Universidade Privada de Angola – Luanda e Lubango e) Universidade Técnica de Angola – Luanda
Cenas do Quotidiano
Sinais de trânsito ou sinais falsos? UMA DAS SENSAÇÕES MAIS ESTRANHAS
que alguém pode ter é um calafrio quando se apercebe que está a andar em sentido contrário. O que fazer? Manobrar e dar meia volta ou continuar em frente? A maioria das pessoas tentaria imediatamente corrigir o erro e voltar. O pior de tudo é apercebermo-nos que depois de estarmos a voltar �������������������������������������� conta que antes estávamos no sentido certo e agora é que estamos a conduzir em sentido contrário. E agora? Paramos,
��������������������������������������� estão a ir num determinado sentido �������������������������������� do tráfego. Que dor de cabeça! Numa cidade como a de Luanda onde existem milhares de automóveis nas estradas e o trânsito é caótico estão constantemente a acontecer cenas do género, em que os sinais de trânsito confundem os condutores por haver ��������������������������������� ������������������������������ algumas destas situações.
Legislação �������������� ������������������� ������������������������ ����������� ������������ (Inscrições) 1 Podem inscrever-se na Ordem dos Arquitectos como arquitectos ou como urbanistas, os cidadãos angolanos licenciados em arquitetura ou em urbanismo que preencham os requisitos previstos no presente estatuto. 2 Podem igualmente inscrever-se os cidadãos estrangeiros licenciados em arquitetura ou em urbanismo por universidades angolanas se, nos respetivos países, os licenciados angolanos puderem, em iguais circunstâncias, inscrever-se. 3 Podem inscrever-se na Ordem dos Arquitectos os estrangeiros residentes no País há mais de 15 anos e que antes tenham sido inscritos nos Governos provinciais. ������������������������������
Sinalização incorreta As setas e sinal ‘stop’ tinham de estar no mesmo sentido em que vão os veículos da imagem a direita
Sentido correto Mas contrariado pela sinalização representada na imagem a esquerda
Rua Aníbal de Melo, nº 109, 1º andar Vila Alice, Luanda Tel. +244 926 975 502 �������������������������������������
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