Revista arqa #117

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Souto de Moura Gonçalo Byrne José Adrião Paulo Moreira Inês Lobo Nuno Abrantes ateliermob André Cepeda Daniel Malhão João Carmo Simões José Pedro Cortes Miguel Henriques Nuno Cera Paulo Catrica Ricardo Gonçalves Valter Vinagre O Processo SAAL Technical Unconscious

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ISSN: 1647- 077X

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Por tugal Habitacional

arqa

Ano XIV – 2015 € 11,00 (continente) – 2 600 Kwanzas (Angola)

Portugal Habitacional

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fismo gra

ARQUITETURA E ARTE

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índice

Propriedade:

R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com

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arquitetura e arte www.revarqa.com | futurmagazine@gmail.com Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com

Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores Nuno Abrantes – Reabilitação do Bairro de Contumil, Porto, Portugal Foto capa: Nuno Abrantes

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News Atualidades e agenda

Editorial Luís Santiago Baptista – Portugal Habitacional

portfolio André Cepeda, Daniel Malhão, João Carmo Simões, José Pedro Cortes Miguel Henriques, Nuno Cera, Paulo Catrica, Ricardo Gonçalves, Valter Vinagre

Projetos Eduardo Souto de Moura – Edifício Residencial Cantareira, Porto Gonçalo Byrne – Vila Utopia, Carnaxide José Adrião – Reabilitação de Edifício na Rua dos Fanqueiros, Lisboa Paulo Moreira – Reabilitação de 3 edifícios no Centro do Porto Inês Lobo – Requalificação do Bairro Municipal Rainha D. Leonor, Porto Nuno Abrantes – Reabilitação do Bairro de Contumil, Porto ateliermob – Legalização e requalificação do Bairro da PRODAC Norte, Lisboa

crítica Luís Tavares Pereira – Exposição O Processo SAAL, Serralves

itinerâncias Luís Santiago Baptista – Três publicações sobre o habitar da história

Investigações Ana Nevado – Política Habitacional João Carlos de Almeida e Silva – Aprendendo com a Eva

Fotografia Fernando Guerra – FG+SG: Conjunto Habitacional “Pantera cor-de-rosa”

Dossier Technical Unconcious Uneven Growth

Livros Mário Chaves

Artes Sandra Vieira Jürgens – O que mudou?

Design Carla Carbone – Habitar: O abrigo, o biombo e a tenda

News Maketing Materiais fornecidos pelas marcas

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Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design) carlacarbone@yahoo.com, David Santos (Artes), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros) mario.chaves@qualitas.pt, Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes) sandravieirajurgens@gmail.com design|imagem Nuno Silva nunorsilva29@gmail.com Raquel Caetano Bruno Marcelino (desenhos) Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com cfigueiredo@revarqa.com ANGOLA Parceria Futurmagazine – NAMK, Lda. Rua Major Marcelino Dias, nº 7 - 1º andar-D Bairro do Maculusso, Distrito da Ingombota, Província de Luanda namk-limitada@hotmail.com Tel. +244 222 013 232 Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete Tiragem 7 000 Exemplares Periodicidade Bimestral ISSN: 1647- 077X ICS: 124055 Depósito Legal: 151722/00


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news

Paula Melaneo

João Pedro Falcão de Campos e Alexandre Estrela distinguidos com Prémios AICA/SEC/Millennium BCP Os Prémios da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), relativos a 2013, foram atribuídos ao arquiteto João Pedro Falcão de Campos e ao artista plástico Alexandre Estrela, nas respetivas áreas de Arquitetura e Artes Visuais, com o valor de 10.000 euros. O júri, presidido pelo curador João Silvério e constituído pela arqª Ana Tostões, o artista plástico Bruno Marchand, a historiadora e crítica de arte Helena de Freitas e o arqº e crítico Luís Santiago Baptista, tomou a decisão unanimemente. Em ata, o júri justifica a distinção de Falcão de Campos «pela consistência da sua obra e a abrangência da sua atuação». «O Prémio recai sobre um arquiteto que trabalha com o mesmo rigor obra nova, reabilitação, arquitetura ou espaço público». «A sua coerência construtiva, programática e conceptual ficou recentemente patente em intervenções exemplares conduzidas no coração de Lisboa - como o percurso pedonal assistido da Baixa ao Castelo ou a obra da sede do Banco de Portugal, realizada em parceria com Gonçalo Byrne, – que reforçaram a memória e a identidade da Baixa Pombalina, devolvendo-lhe centralidade institucional, representativa e cultural». Pode ainda ler-se: «Na sede do Banco de Portugal gere um programa

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complexo, articulando a abertura do edifício-quarteirão à cidade, com exigentes soluções técnicas, e definindo as grandes decisões estratégicas que passaram pela realização de complexas demolições, pelo posicionamento das redes de infraestruturas, por um restauro cuidadoso e pela integração dos achados arqueológicos».Relativamente a Alexandre Estrela, artista plástico que expõe desde a década de 1990, o júri relevou a exposição Meio Concreto (e respetivo catálogo) apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (29 jun.–29 set. 2013), como a confirmação da escolha e da importância do trabalho que tem vindo a desenvolver. www.aica.pt www.falcaodecampos.pt

Conhecer o bairro modernista de Alvalade durante a LisbonWeek 2015

Após a edição de 2013, em que Delfim Sardo assumiu a curadoria do percurso Arte da LisbonWeek, este ano a proposta é descobrir o bairro modernista de Alvalade, entre 10 e 19 de abril. A coprodução da Associação Cultural Turística Urbana, da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Alvalade organiza 11 visitas culturais e 12 exposições, com contextualizações arquitetónicas, artísticas e históricas vocacionadas para o grande público. Diversos edifícios e outros espaços emblemáticos do bairro fazem parte do percurso, como a Biblioteca Nacional de Portugal, o Jardim do Campo Grande, a Reitoria da Universidade de Lisboa, a Torre do Tombo, o Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, o Museu Bordalo Pinheiro, o Hospital Júlio de Matos, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil ou o Complexo dos Coruchéus. Do programa destacam-se duas visitas: “Lisboa Moderna”, com curadoria de Ana Tostões, que irá “ao encontro dos principais pontos de Alvalade, contando a história do bairro, dos seus edifícios mais representativos e da sua evolução.” e a visita de autocarro “Porfírio Pardal Monteiro”, com curadoria de João Pardal Monteiro, que explorará a obra daquele importante arquiteto construída em Lisboa. Também duas

exposições gratuitas centram-se na arquitetura: “Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto de Lisboa”, com curadoria de Ana Tostões e João Pardal Monteiro, patente na Biblioteca Nacional de Portugal, e “Encontrar Maria Keil”, uma produção da ACTU que expõe, na Estação de Metro de Alvalade, alguns dos mais notáveis trabalhos de azulejaria da pintora Maria Keil. LisbonWeek. www.lisbonweek.com


Ciclo de conferências da Trienal de Arquitectura de Lisboa

Distância Crítica é o nome deste ciclo que acontece no intervalo que antecede a edição de 2016 da Trienal, em coprodução com o Centro Cultural de Belém. Iniciou a 22 de janeiro com a conferência de Smiljan Radić, arquiteto chileno autor do Pavilhão da Serpentine Gallery de 2014 e autor da instalação de abertura da exposição People Meet in Architecture para Bienal de Arquitetura de Veneza 2010 comissariada por Kazujo Sejima, à qual se seguiu uma conversa com o arquiteto e crítico português Joaquim Moreno. As próximas conferências anunciadas são Distância Crítica #2 a 14 de abril, com Bijoy Jain, o fundador do Studio Mumbai, considerado um dos oito arquitetos contemporâneos mais influentes no panorama mundial, e mais tarde Distância Crítica #3, a 11 de novembro, onde Jacob van Rijs do atelier MVRDV falará do percurso de um dos ateliers mais representativos da

Siza Design – A Recuperação do Sentido do Tempo Esta exposição, comissariada por Maria Milano e consultoria de Roberto Cremascoli, propõe uma extensa abordagem sobre a obra de design de Álvaro Siza. Entre 21 de fevereiro e 26 de abril, a Galeria Municipal de Matosinhos apresenta peças de mobiliário, cerâmica, tapeçaria e ourivesaria, mas também luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos. A leitura das peças é acompanhada por uma ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e complementada por um conjunto de esquissos originais que foram a base do processo criativo. A exposição é organizada pela Câmara Municipal de Matosinhos em conjunto com a ESAD IDEA – Investigação em Design e Arte (ESAD Matosinhos), integra o programa oficial do Ano do Design Português e surge na sequência do livro Siza Design, editado pela Artebooks e ESAD, com design de João Machado e apoio da Casa da Arquitetura e da OASRN. www.cm-matosinhos.pt

arquitetura holandesa contemporânea. Este ciclo é apresentado no Grande Auditório da Fundação CCB em Lisboa e o bilhete dá também acesso às exposições patentes na Galeria de exposições de arquitectura - Garagem Sul. www.trienaldelisboa.com

Arquitectura e Género

Entre 18 e 21 de março a Univ. Lusófona de Humanidades e Tecnologia acolhe o Segundo Congresso Internacional em Arquitectura e Género. O tema é Matrizes, conceito que “abrange múltiplas definições, todas inclusivas por natureza. Matrizes são lugares onde coisas nascem, modelos ou padrões que moldam formações e podem ainda reinventar um contexto. Tais imagens servem a abordagem dos actuais padrões de transformação no âmbito do tema Arquitectura e Género.” A conferência inaugural é da espanhola Ariadna Cantis (arquiteta, autora, crítica e comissária independente) e a de encerramento da inglesa Jane Rendell (editora, crítica de arte e historiadora/teórica/projetista). O programa inclui também visitas de estudo, mesas redondas e apresentações onde investigadores, docentes, profissionais e doutorandos dos diversos campos da arquitetura e áreas complementares, apresentam as suas perspetivas sobre transformações nos padrões relativos ao tema Arquitectura e Género enquadradas em 4 tópicos: Práticas, Academia, Histórias, Dados. www.2ga.ulusofona.pt

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MVRDV vence concurso para torre em Viena

Gonçalo Byrne e PROAP vencem concurso de urbanismo na Suíça A proposta apresentada pelos ateliers portugueses Gonçalo Byrne e PROAP em associação com o suíço Pierre Alain Dupraz, foi a vencedora do Concurso Internacional para o projeto de urbanismo da Étoile, na cidade suíça de Genebra. Esta área da cidade faz parte do plano de regeneração urbana Praille-Acacias-Vernets (PAV) com vista a tornar esta zona num novo centro emblemático da área Metropolitana de Genebra, complementar ao centro histórico existente. O seu desenvolvimento será feito segundo um programa misto de habitação, serviços, equipamentos (incluindo o novo Palácio da Justiça) e espaços públicos. São cerca de meio milhão de metros quadrados de superfície construída, num terreno com área

O atelier MVRDV, com sede em Roterdão, foi o vencedor de um concurso para projetar uma nova torre em Viena, na zona dos famosos Gasómetros, localizada entre o aeroporto e o centro da cidade austríaca. Os regulamentos iniciais previam uma torre até 75m e implantação trapezoidal. MVRDV propôs um projeto mais compacto e eficiente, de maior altura e com planta quadrada. A «Turm mit Taille» (Torre com cintura) tem 110m e o seu desenho torcido ao nível dos 10 pisos mais baixos permite não só minimizar o efeito de sombreamento sobre os edifícios vizinhos e a estação de metro da proximidade,

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mas também controlar os ventos de outono dominantes que afetam o local. Todo o espaço interior tem uma configuração flexível, para permitir ocupações futuras diferenciadas, de escritórios ou habitação. No total são 35.680m2 que podem ainda incluir lojas, restaurantes, cafés e área de estacionamento. A sua construção está prevista iniciar em 2016. www.mvrdv.nl

total de 14ha e com início de construção previsto para 2020. Uma nova silhueta para a cidade, foi pedida no concurso, onde diversas torres serão integradas. “O plano prevê uma alta densidade construtiva, conseguida através da criação de novos quarteirões estruturantes articulados com torres de altura gradual, até a um máximo de 50 pisos, e da criação de um forte espaço público, compreendendo uma intervenção paisagística de igual relevo.” Explicam os arquitetos portugueses. Entre as 48 propostas internacionais a concurso (das quais 11 passaram às fazes seguintes) estavam também os projetos de Diener & Diener, Guillermo Vázquez Consuegra com Frei Rezakhanlou ou Jaccaud com Sergison Bates. www.byrnearq.com • www.proap.pt


EDITORIAL

Portugal Habitacional

O habitar entre as perspetivas críticas e as estratégias participativas Luís Santiago Baptista

Neste ano de 2015, a arqa faz 15 anos de existência. É uma idade significativa para uma revista de arquitetura e arte que atravessou as mudanças e transformações em Portugal ao longo do novo milénio. O redesenho gráfico da revista que apresentamos neste número é uma manifestação de otimismo perante o nosso generalizado contexto em crise.

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A questão do habitar em Portugal tem estado em particular evidência nos últimos anos. Os sucessivos olhares do Habitar Portugal, as representações nacionais em bienais e trienais, os eventos em volta do processo SAAL e a investigação histórica da presença da arquitetura portuguesa em África, Brasil e mesmo Macau, mostram que o tema da habitação reentrou em força no debate disciplinar. Mas, por outro lado, a este facto não será estranho à crise dos últimos anos, uma vez que a questão habitacional reemerge em períodos de recessão económica e social. Da ausência de promoção de habitação social à situação expectante do mercado imobiliário, um sentido de inércia vai-se manifestando, com implicações dramáticas para a arquitetura. Não apenas aquelas relacionadas com o estatuto da profissão, mas igualmente as que revelam uma impossibilidade de transformação concreta da cidade e do território. A percentagem significativa tanto do negligente estado devoluto do parque habitacional como do irresponsável excedente de oferta de habitação, construída ou planeada, são factos que atestam, por vias antagónicas, a perda de um campo de ação fundamental do arquiteto. Os arquitetos são cada vez mais espectadores de uma degradação do habitar quotidiano e testemunhas da rarefação do seu papel qualificador. Apesar dos problemas transcenderem naturalmente a arquitetura, o arquiteto não deixa de ter de enquadrar a sua atividade perante este estado de coisas. A nossa formação de base moderna impele-nos a isso. A este nível a reabertura do debate em torno do processo SAAL é um facto de grande relevância. Debate esse crucial mas inevitavelmente problemático na atual conjuntura, não só ideológica mas também disciplinar. A verdade é que o SAAL tem servido, sob diversas formas, como referência numa série de importantes eventos. Se a recente exposição O Processo SAAL em Serralves tinha tido uma primeira aparição na Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2010, ambas com curadoria de Delfim Sardo, na representação portuguesa na Bienal de Veneza de 2014, comissariada por Pedro Campos Costa, a genealogia do SAAL volta a ser explicitamente convocada. No entanto, as interpretações do SAAL estão longe de estar estabilizadas, o que nos diz mais das dúvidas do presente do que das convicções do passado.

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No âmbito do tema da habitação em Portugal, a recente exposição do SAAL em Serralves é muito oportuna. Desde logo, vem marcar um interesse pela investigação histórica desse momento absolutamente singular da história da arquitetura portuguesa. No entanto, permanece latente a questão de que forma o SAAL pode ser hoje campo de referência para a experimentação projetual e estratégica sobre o habitar contemporâneo. A verdade é que existe uma descendência desse programa revolucionário, num arco que vai das intervenções camarárias em bairros prioritários aos, mais radicais, movimentos coletivos de ocupação de edificado devoluto. Porém, o caso mais significativo dessa genealogia do SAAL será o programa BIP-ZIP do Pelouro da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa. Este programa para os Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária na capital tem explorado algumas das metodologias experimentadas pelo SAAL. Como refere Helena Roseta, coordenadora do programa: “Sabíamos que era preciso contestar o processo tradicional de planeamento urbano, tecnocrático e autoritário. Propusemo-nos contrapor a essa visão «descendente» uma nova e mais rica visão «emergente», que partisse dos bairros, das associações e dos cidadãos. Acreditamos que a cidade deve ser feita não apenas para as pessoas, mas sobretudo com as pessoas e pelas pessoas. Inspirados no processo SAAL, um programa pioneiro de participação popular na habitação lançado por Nuno Portas após o 25 de Abril, criámos o programa BIP-ZIP, discretamente e com pequenas verbas. O resultado ultrapassou largamente todas as nossas expectativas”.1 Para além das diferenças dos contextos históricos e políticos, este programa de natureza institucional, sintomaticamente tal como o SAAL, mostra que a aprendizagem a fazer pode ter implicações nas estratégias urbanas e na prática arquitetónica, dando lugar a “novas formas de ação comum”. Por um lado, tendo em conta as limitações dos orçamentos disponíveis, estes projetos têm-se centrado essencialmente na ativação social e cultural das comunidades, por vezes materializando-se em intervenções arquitetónicas de interesse coletivo ou de qualificação do espaço público. Por outro lado, a iniciativa é dada aos moradores e às estruturas locais, na qual o arquiteto não se assume como centro polarizador, mas como agente empenhado num processo de transformação urbana. Apesar de pela sua juventude carecer ainda de uma avaliação ao nível dos resultados, o BIP-ZIP revela que estas abordagens, não sendo propriamente novas, podem ser reapropriadas para enfrentar os problemas de hoje. Tal como Giancarlo de Carlo afirmava em 1980, mesmo se “a arquitetura da participação ainda não existe (…) nem tão pouco existe nenhuma forma autêntica de participação”, não quer dizer que não nos perguntemos “o que mudará na arquitetura se passarmos da tradicional prática autoritarista para uma nova prática baseada na participação?”2 A resposta continua em aberto.

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Nos últimos anos, os grandes eventos internacionais têm sido plataformas para a discussão do tema da habitação. Se em 2010, o curador geral Delfim Sardo propunha para a 2ª Trienal de Arquitetura de Lisboa o tema Falemos de Casas, inspirado por um poema de Herberto Hélder, com extensão em No Place Like como representação portuguesa na Bienal de Veneza desse mesmo ano, já em 2014 o comissário Pedro Campos Costa avançava com o tema da habitação em Homeland: News from Portugal para a última Bienal de Veneza. Estes eventos lançaram, de diversas formas e com objetivos diferenciados, linhas de investigação crítica e estratégica sobre o habitar contemporâneo em Portugal. No primeiro caso, as casas de arquitetura de autor contemporâneas eram problematizadas através de um uso intencional dos dispositivos curatoriais. Na exposição Falemos de Casas: Entre o Norte e o Sul,

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1 Helena Roseta. «Pequeno Programa, Grande Lição», in Dentro de ti ó cidade: Energia BIP-ZIP, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa-Pelouro da Habitação, 2013, p. 13. 2 Giancarlo de Carlo. «Uma Arquitectura da Participação», in José Miguel Rodrigues (ed.), Teoria e Crítica de Arquitectura: Século XX. Lisboa: Ordem dos Arquitectos / Caleidoscópio, 2010, p. 757.


A percentagem significativa tanto do negligente estado devoluto do parque habitacional como do irresponsável excedente de oferta de habitação, construída ou planeada, são factos que atestam, por vias antagónicas, a perda de um campo de ação fundamental do arquiteto. Os arquitetos são cada vez mais espectadores de uma degradação do habitar quotidiano e testemunhas da rarefação do seu papel qualificador. Apesar dos problemas transcenderem naturalmente a arquitetura, o arquiteto não deixa de ter de enquadrar a sua atividade perante este estado de coisas. A nossa formação de base moderna impele-nos a isso

G. Byrne, Casa Vila Utopia, Carnaxide, 2012 • J. Adrião, Edificio Baixa Pombalina, Lisboa, 2011 • I. Lobo, Bairro D. Leonor, Porto, 2013 • ateliermob, Bairro Prodac, Lisboa, 2015

apresentada no Museu Berardo, a secção portuguesa, comissariada por mim e por Pedro Pacheco, apresentava o habitar português contemporâneo em duas frentes, uma mais teórica, convocando diversas abordagens disciplinares sobre o tema, outra mais prática, evidenciando os encontros e tensões entre arquitetos e habitantes a partir de obras de arquitetura específicas.3 Por um lado, o confronto dos discursos sobre o habitar, convocando além da arquitetura, a arte, a literatura, a geografia, a sociologia e a antropologia, e, por outro, a inclusão de entrevistas com os utilizadores e das fotografias dos espaços habitados de André Cepeda expunha uma multiplicidade de pontos de vista sobre o habitar a partir da casa individual ou coletiva, permanente ou sazonal, privada ou pública. Por outro lado, na representação portuguesa na Bienal de Veneza do mesmo ano, a equipa de curadores da Trienal, Delfim Sardo, José Mateus, Rita Palma e Julia Albani, propunha radicalmente uma interpretação de quatro artistas, através de filmes, de quatro obras habitacionais incontornáveis. O confronto das obras com as leituras fílmicas, que iam do narrativo ao crítico, abria um campo surpreendente de experiência e sentido em volta do habitar da arquitetura. No rescaldo desses eventos, Delfim Sardo afirmava: “duas ideias ficam, necessariamente, para discussão futura: que a arquitetura se joga na fina fronteira entre a subjetividade do desenho e a sua razão de ser que lhe é sempre exógena e que o importante, hoje, é discutir os seus transcendentais, as suas condições de possibilidade.”4 Mais recentemente, a questão da habitação voltou a ser tema da representação portuguesa na Bienal de Veneza de 2014. Campos Costa lançava o jornal Homeland: News from Portugal, afirmando que “escolhemos olhar para a habitação, como um elemento primário e decisivo da construção urbana e territorial e como reflexão social e cultural dos que o habitam.”5 A ideia era utilizar a representação portuguesa como instrumento para realizar projetos experimentais, elaborados por equipas de jovens arquitetos e críticos em parceria com as Câmaras Municipais. O desafio passava por lançar exercícios potencialmente reais que desenvolvessem respostas criativas a contextos normalmente negligenciados, tendo em conta as difíceis condições do país. Explorando o formato do jornal em três edições, a evolução dos projetos ia sendo apresentada paralelamente a um trabalho de contextualização crítica do contexto português, apresentando diversas vozes da arquitetura, sociologia, antropologia, geografia, economia e política, bem como estudos sobre tipologias habitacionais ou um mapeamento da habitação devoluta nas principais cidades. A empreitada, perante a contenção de meios disponíveis, adquiriu uma dimensão babélica. Apesar do desfecho incerto quanto à realização efectiva das propostas, a sua maioria levanta questões pertinentes para enfrentar a atual situação urbana e social. A proactividade do arquiteto, o transcender da disciplina, a procura de oportunidades num contexto de crise, a dimensão estratégica da intervenção, a abordagem mais processual do que projetual, a necessidade de viabilização de parcerias, apontam caminhos para o futuro do habitar das nossas cidades.

4 3 Ver Luís Santiago Baptista; Pedro Pacheco. «”Falemos de Casas”… em Portugal», in Delfim Sardo (ed.). Falemos de Casas: Entre o Norte e o Sul. Lisboa: Athena, 2010. 4 Delfim Sardo. «Prefácio», Idem, p. 43. 5 Pedro Campos Costa. «Experience Venice in Portugal», in Homeland: News from Portugal, nº 1. Lisboa: DGArtes, June 2013, p. 2, tradução livre.

Abordamos neste número a questão habitacional portuguesa através de diversas perspetivas. Apresentamos reflexões críticas sobre o tema da habitação e do SAAL, bem como dípticos de fotógrafos a quem pedimos que respondessem livremente ao tema. Na seleção dos projetos fizemos um corte pela habitação recentemente construída, num arco que vai da promoção privada de luxo até à intervenção pública em bairros sociais, passando pelas propostas de reabilitação urbana nas áreas históricas. No âmbito da promoção privada, num mercado maioritariamente estagnado, a habitação coletiva na zona ribeirinha do Porto de Souto de Moura explora subtilmente os desvios de enquadramento da vista ribeirinha e a casa unifamiliar de Gonçalo Byrne, em bairro exclusivo moderno, responde intencionalmente às banais condições urbanas do loteamento. No campo da reabilitação dos centros históricos, em Lisboa, a recuperação de um prédio na baixa pombalina por José Adrião apresenta uma intervenção contida mas de grande sensibilidade na adaptação às condições de vida contemporânea e, no Porto, Paulo Moreira mostra, na reabilitação de três pequenos prédios contíguos, que a criatividade não depende do orçamento disponível. Em termos de promoção pública, esta concentra-se essencialmente na reabilitação de bairros sociais, seja no Bairro Rainha D. Leonor no Porto por Inês Lobo, com o exemplar redesenho das tipologias existentes, seja na eficaz recuperação do edificado, ao nível do plano de fachada, no Bairro de Contumil por Nuno Abrantes na mesma cidade. Em Lisboa, a legalização das habitações e intervenção no espaço público no Bairro PRODAC, coordenado pelo ateliermob e apoiado pelo programa BIP-ZIP, explora estratégias participativas de resolução de problemas básicos das comunidades mais desfavorecidas com empenho humano e investimentos financeiros reduzidos.

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PROJETOS

Nuno Abrantes

Reabilitação do Bairro de Contumil, Porto, Portugal

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crítica

Exposição O Processo SAAL, Museu de Serralves Um processo (in)disciplinado Luís Tavares Pereira

O Programa SAAL1 Iniciado imediatamente após a Revolução de 25 de Abril de 1974, por despacho de 6 de Agosto, da Secretaria de Estado da Habitação e Urbanismo do Segundo Governo Provisório, dirigida pelo Arquiteto Nuno Portas, o Programa SAAL tinha como objetivo promover a solução de situações de extrema insalubridade e precariedade habitacional que se vivia, pela recuperação habitacional e pela construção de infraestruturas, pelos moradores constituídos em associação, apoiados por brigadas interdisciplinares, coordenadas por arquitetos e financiados, parte a fundo perdido, parte por outros meios, incluindo empréstimo ou autoconstrução. Esquecido do grande público, o SAAL permanece também, em grande parte, desconhecido dos arquitetos que com ele não tiveram um contacto direto, envolto numa aura de mito, discórdia e sucesso relativo. E, se excetuarmos a investigação de José António Bandeirinha,2 em Portugal o interesse recente sobre o processo SAAL parece advir sobretudo do lado de outras disciplinas como o cinema, ou as artes plásticas. Não é por isso de estranhar que a primeira grande exposição sobre o SAAL apareça no contexto da Arte Contemporânea, no Museu de Serralves, com comissariado de um curador de Artes Plásticas. É, sem dúvida, o momento certo3, acompanhando uma tendência internacional, de interesse pelo desenvolvimento urbano informal. O desafio era enorme, desde logo, pela quantidade de operações despoletadas, pela sua dispersão geográfica – porque não se tratou de focar no SAAL/Norte – pela necessidade de identificação de intervenientes e material, mas mais ainda pela sensibilidade política do tema, pelo risco de demagogia, de nostalgia, ou de injustiça a que uma iniciativa com esta ambição pudesse conduzir. Tinha já havido uma primeira aproximação de Delfim Sardo ao tema, em 2010, no âmbito da Trienal de Arquitetura de Lisboa,4 mas aí pouco mais era do que uma introdução, uma mera alusão ao processo, em que a metodologia foi encontrar uma pessoa para fazer uma única coisa, e em que Catarina Alves Costa fez um filme de 14 minutos com base no espólio do pai, 5 concentrando-se nas imagens do processo social. A exposição em Serralves era a oportunidade de, finalmente, se dedicar um espaço público privilegiado e com grande visibilidade da cultura contemporânea em Portugal a um processo polémico, mas sedutor, e particularmente apropriado ao momento que atravessamos, em que a noção de participação cruza os universos das artes e da arquitetura. Delfim Sardo acertou em cheio naquele que é, sem dúvida, o contributo que Portugal pode fazer para o debate internacional sobre o tema e não é por acaso que a exposição obteria desde logo o interesse do CCA, um dos principais Centros de Arquitetura mundiais.6 Não ser arquiteto O facto de não ser arquiteto, e de não ter uma formação disciplinar específica faz com que Delfim Sardo recorra a um processo colaborativo com arquitetos. Desde logo a proximidade com José António Bandeirinha, que convidou para consultor científico, e Diogo Seixas Lopes, cujo atelier, Barbas Lopes Arquitetos, convidou para desenvolver a arquitetura da exposição. O importante nesse convite era sobretudo o reconhecimento da parte de Sardo que há competências específicas para realizar um projeto expositivo, mesmo sem ter necessariamente que erguer paredes. Alexandre Alves Costa, membro da Comissão Coordenadora do SAAL/Norte, então responsável pelo setor de Planeamento e Apoio ao Projeto e um dos principais divulgadores desse processo, contribui com a disponibilização da sua incontornável coleção, a experiência e o relato de quem viveu o Processo SAAL intensamente, e a perspetiva de quem o olha a partir de uma posição ideológica ligada à defesa da participação direta.

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Por outro lado, e muito fruto da forma como Nuno Portas concebeu o SAAL como um projeto aberto e, no andamento do processo revolucionário, essa flexibilidade ter dado tantas formas de SAAL como os projetos, e permitido apropriações múltiplas, permite também a Sardo argumentar que “a questão disciplinar seja menos relevante.”7 Objetivos curatoriais “O que estava nas minhas preocupações era debater onde é que a questão da participação pode ser discutida com interesse, com sentido, com oportunidade, e pareceu-me que era precisamente na arquitetura e não nas artes plásticas que a participação faz realmente sentido.” O fascínio gerado pelo SAAL não viria diretamente do formalismo arquitetónico nem da participação, mas da maneira de se poder pensar a participação a partir de um processo. “Do ponto de vista expositivo, as opções que tomei foi não mimetizar o processo participativo dentro do Museu. Isso fica remetido para o programa, paralelo do lado das artes performativas que a Cristina Grande conduziu e para os encontros com os moradores que o Nuno Grande montou”8. Quis-se sobretudo evitar a nostalgia e a demagogia. Esta exposição não podia ser recheada de memorabilia, de materiais saturados de memória. Ou de conflitualidade. “O que há mais é correspondência, e essa correspondência é tão conflituosa que não seria possível contribuir para uma leitura do conjunto, sem se prestar a injustiças.” Quis-se também evitar os Highlights, excertos descontextualizados. Os filmes – com exceção do excerto icónico do António da Cunha Teles9 – são também remetidos para o programa paralelo. “Como é que se pode passar toda a complexidade de que a discussão se reveste, sem cair na demagogia? Tomemos o tema da autoconstrução, por exemplo, com todos os arquitetos que falei, levantei pelo menos nove posições distintas. Em exposição não é possível passar esta complexidade.”10 A exposição apresenta-se como um interruptor que podemos acionar,11 e debater sobretudo nos programas paralelos de certo modo cumprindo “a ambição de o Museu ser um espaço ativo de encontro e intercâmbio que se prolonga para lá dos seus muros”, nas palavras de Suzanne Cotter.12 A montagem da exposição Distribuída e organizada em seis espaços da ala poente do piso de entrada do Museu, a exposição dedica a primeira sala ao Porto, com a ideia de o destacar pela sua relevância excecional em todo o processo. Nesta sala, de montagem sempre difícil pela enorme escala, e pela configuração espacial cortada pelo desnível e pela rampa, a plataforma superior, alinhada visualmente com a entrada da segunda sala, e com as imagens contemporâneas de São Vítor recebe uma encenação minimal de elementos agit prop, cartazes, faixas da época, e um diaporama síntese da coleção de Alexandre Alves Costa. Passa quase despercebida a calibragem do posicionamento e geometria compositiva do pilar/rótula que suporta as faixas. No plano inferior, ao centro, figura a grande maquete com a orografia da cidade do Porto, onde é projetada a planta aérea da cidade com a localização das operações SAAL. A segunda sala recebe uma seleção de quatro operações SAAL no Porto: Leal, São Victor, Antas e Miragaia. Aqui se define a estratégia expositiva dedicada aos projetos e à obra que deles resultou, e que nas salas seguintes acolheria ainda exemplos de Lisboa, Setúbal e Lagos (Meia Praia): um retroprojetor apresenta em negativo o pequeno texto introdutório de cada operação, incluindo a ficha técnica. Uma maquete da inserção urbana13 do conjunto de cada operação, em que se distingue o conjunto projetado do que foi efetivamente construído, constitui o material original especificamente produzido para a exposição, em conjunto com a encomenda a três fotógrafos – Daniel Malhão (Curraleira e


O passado é o futuro e a regeneração urbana como estratégia e instrumento Ana Nevado

Considerando a história e a crítica como ferramentas essenciais para o acto de projectar (Rodrigues 2010, p. 7), e com base na análise teórica (bibliografia) e prática (empírica), perspectiva-se a política habitacional contemporânea em Portugal, visando contribuir para esse debate e reflexão sobre o tema da habitação em Portugal na contemporaneidade. Dada a sua complexidade e abrangência, tecem-se considerações acerca do conceito de habitação, da evolução das políticas habitacionais no contexto português de planeamento e gestão urbanística até à actualidade e as possíveis estratégias de actuação futura, salientando o papel da regeneração urbana nesse processo. Enquanto conceito social, a habitação é o “refúgio” onde a vida humana se desenvolve (Heidegger in Carvalho 2006, p. 34), correspondendo física e psicologicamente ao seu lar/domicílio. Considerando que a população é heterogénea, não existe, portanto, uma linguagem/tipologia única. A habitação

Ana Nevado, Abril 2009

investigação

Política Habitacional

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associa-se a um sentido de identidade, pertença e reconhecimento do território, sendo através da arquitectura que se justifica o acto e os diferentes modos de habitar (Carvalho 2006, p. 34). Apesar de complexa (Bassett e Short 1980, p. 1), a questão da habitação e o seu significado adquiriram notoriedade no rescaldo da II Guerra Mundial (Carvalho 2006, p. 40), seguindo os pressupostos do Movimento Moderno (vd. Carta de Atenas/CIAM) e do zoning enquanto instrumento fundamental e determinante do planeamento urbano. No caso específico português, apesar dos planos e estudos urbanos realizados, o súbito aumento demográfico, sobretudo na capital, e a consequente carência de alojamento verificada nas décadas de 1950-60 (e.g.: aparecimento de bairros clandestinos nas periferias e habitação operária nas malhas urbanas consolidadas), a deficiente legislação e o incentivo do Estado à construção privada, desencadearam inúmeras operações de loteamento desregradas e/ou ilegais, construindo territórios suburbanos desqualificados que contribuíram para a expansão urbana até à actualidade. As profundas transformações endógenas, exógenas e de escala (decorrentes dos fenómenos de globalização económica, metropolização do território, crise do modelo fordista e a consequente reconfiguração dos sistemas produtivo, logístico e socioeconómico), contribuíram para a metamorfose da paisagem urbana e para a dissolução da dicotomia cidade-campo (André, 2012). Assim, a periferia é hoje, também, cidade. A criação de uma política habitacional era indispensável, mas, perante a escala nacional, como desenvolver, articular, monitorizar, controlar políticas e instrumentos/mecanismos sujeitos a inúmeras e complexas condicionantes? É notória a inter-relação entre o problema da habitação e as infraestruturas urbanas (e.g.: sistemas de transportes) (Pereira 1966, p. 223), a necessidade de definição de objectivos macroeconómicos de desenvolvimento (Bassett e Short 1980), fez com que o sector da Habitação fosse somente considerado pela primeira vez como um dos objectivos do planeamento em Portugal no Plano Intercalar de Fomento (1965-67), no âmbito da estruturação de uma política habitacional (Pereira 1966, p. 215). Na década de 1960, a dificuldade na elaboração de uma efectiva política de habitação nacional a fim de resolver a problemática do alojamento, prendia-se, por um lado, com a dispersão das iniciativas e das orientações, e, por outro lado, com a estratificação do problema por categorias profissionais, existindo população desigualmente favorecida (Pereira 1966, p. 218). A expansão urbana – característica do processo de industrialização – destacava o papel do urbanista enquanto responsável pelo ordenamento físico espacial (Pereira 1966, p. 223) e a necessidade de o regulamentar e organizar (Távora 1962). Nas décadas de 1970-80, após a Revolução (1975) e a descolonização, não foi possível consolidar uma política de habitação coerente e consistente, tendo existido medidas circunstanciais, executadas consoante as variações políticas, financeiras e administrativas (Ferreira 2011). Ao longo das décadas de 1980-90, o crescimento da economia e o financiamento externo fomentaram o consumo de habitação própria, traduzindo o status das classes médias emergentes (Bassett e Short 1980, p. 23), sob diversas tipologias (e.g.: casa de férias). Com o arranque da industrialização e o rápido crescimento das cidades, as áreas centrais eram a principal localização residencial de grupos de alto e baixo status (e.g.: bairros operários), concentrando a classe média em zonas periféricas, suburbanas (Bassett e Short 1980, p. 16-17). A evolução urbana subverteu essa lógica, tornando o centro na área da residência para grupos sociais mais desfavorecidos, actualmente com população envelhecida e um parque edificado degradado (e.g.: centros históricos), passando os de alto status para os subúrbios, estabelecendo um padrão burguês de diferenciação residencial (Bassett e Short 1980, p. 17). Os progressivos investimentos, estratégias e mecanismos de reabilitação, reconversão e regeneração urbana - levados a cabo, sobretudo, pelos municípios


investigação

Aprendendo com a Eva

A casa, o consumo e a formação do gosto João Carlos

de

Almeida

e

Silva

Entre 1952 e 1971 os arquitetos Victor Palla e Joaquim Bento d’Almeida projetaram 17 casas para a revista EVA - Jornal da Mulher e do Lar, experimentações projetuais que seriam sorteadas, anualmente, no tradicional “Grande 1º Prémio da Eva do Natal”.1 O prémio, constituído pela construção do projeto em local à escolha do premiado e por um conjunto de mobiliário e eletrodomésticos “oferecidos”, maioritariamente, pelos regulares anunciantes na revista, reflete, por um lado, a ideia da “casa-objeto”, passível de ser oferecida como “brinde publicitário”, por outro, o uso da publicidade como forma de “despertar” o desejo do consumidor, divulgando um determinado estilo de vida e incitando ao consumo. Como tal, esta iniciativa representa, de forma exemplar, uma certa promiscuidade entre a arquitetura e os meios de comunicação, especificamente entre o doméstico e a publicidade - no limite, entre o objeto e o “seu” desejo. A “sua” casa, o objecto A primeira “Casa da Eva”, projetada pela referida dupla de arquitetos, em 1952, previa dois quartos, uma casa de banho, uma sala e uma cozinha com beliche para empregada, em 71m². Deste projeto, resultariam duas moradias: uma constituiria o primeiro prémio, sendo acrescida de um automóvel, e a outra constituiria, por si, o segundo prémio. Em 1953, a “Casa da Eva” passou a incluir um terceiro quarto; a partir deste ano, passou a ser atribuída apenas uma casa constituída, genericamente, por um átrio exterior coberto, sala comum, cozinha e três quartos servidos por uma casa de banho. Entre 1954 e 1956, a anterior tipologia foi substituída por uma de dez compartimentos, distribuídos por 120m², e em dois pisos: no térreo, uma sala, uma cozinha com zona de serviço que incluía beliche para empregada e zonas de distribuição, no piso superior, três quartos e duas casas de banho (o texto que acompanha a divulgação do concurso enfatiza que a zona íntima, neste

segundo piso, beneficia da vantagem de estar independente das zonas comuns da casa). Em 1957 é introduzida uma “novidade” no formato do sorteio e a moradia passa a ser escolhida entre dois “modelos” colocados à disposição do premiado, sendo que os projetos são de área, tipologia e valor equivalente, diferindo apenas no número de pisos: uma de dois pisos e outra distribuída apenas num piso térreo (refira-se, ainda, que em 1957 e 1958 a segunda moradia colocada à escolha do premiado é de tipologia similar à do ano de 1953). De 1958 a 1965 mantém-se este formato de atribuição do prémio: duas casas à escolha do premiado, sendo que, dos projetos disponibilizados, um era realizado especificamente para esse ano, e o outro era constituído pelo projeto preterido no ano anterior. De 1966 a 1971, o sorteio passou a contemplar três hipóteses, igualmente à escolha do premiado: ou um apartamento em Lisboa, ou um apartamento no Porto, ou uma casa de dois pisos, sendo que, em qualquer opção, os apartamentos ou a moradia eram entregues completamente mobilados e decorados. Sucede que durante este período, a escolha dos leitores recaiu de forma sistemática nos apartamentos mobilados e, assim, durante estes seis anos, os arquitetos apenas desenharam duas casas, cujos projetos foram colocados repetidamente à escolha em sucessivos Natais, sendo que, apenas em 1968, um deles mereceu a preferência do vencedor do prémio.� Durante este período, foram construídos 15 dos 17 projetos de Palla e Bento d’Almeida (a casa de 1960 não foi atribuída porque o prémio não foi reclamado e a casa de 1971, apesar de várias vezes anunciada, nunca foi escolhida), na sua maioria, na área de Lisboa, nomeadamente no Estoril (1953, 1955, 1957, 1968), Praia das Maçãs (1956), Sintra (1959), Póvoa de Santo Adrião (1965). Foram, ainda, construídas “Casas da Eva” em Braga (1954), Espinho (1958), Peniche (1961), Covilhã (1962), Paços de Ferreira (1963) e Marinha Grande (1964). Estas casas-objeto simbolizavam o estilo de vida promovido pela Eva e pretendiam-se “(...) modernas e elegantes, totalmente equipadas, desde a cortina ao frigorífico, rádio, máquina de lavar roupa, etc. para gente remediada porque (...) os ricos não precisam dos prémios da Eva.”3 Por isso, eram casas de área reduzida e, pelo seu carácter e natureza experimental, serviram também como “laboratório” onde os arquitetos exploravam novos modos de habitar. Eram procuradas soluções inovadoras para os espaços considerados determinantes na definição do carácter das casas, nomeadamente a cozinha e a sala comum. As cozinhas foram alvo de constante e sistemática otimização (espacial e funcional) e as salas comuns, redefinidas conceptualmente ao longo dos anos, como comprova a designação importada de living room e a inclusão, a partir de 1961, de um snack-bar (sic)4 na ligação entre cozinha e sala. Também as aguarelas e os acabamentos (descritos no texto de anúncio ao prémio, de carácter corrente e praticamente inalterados ao longo de todos estes anos) contribuíam para uniformizar uma estética, moderna e inovadora que evoluiu de uma linguagem mais abstrata (os projetos dos anos de 1950), para uma imagem mais orgânica (os projetos dos anos 1960). Sorteadas no Natal, as casas eram entregues ao vencedor do passatempo após período de exposição, de modo a permitir a visita do público durante dois dias.5 Tal constituía por si só motivo de divulgação e publicitação dos patrocinadores envolvidos nos números seguintes da revista, nos quais eram transcritas exclamações dos visitantes de forma a aliciar os leitores da revista para o “Grande 1º Prémio da Eva do Natal” seguinte, “(...) esse sim, o melhor de sempre.”6 Capa da revista Eva de Natal de 1964. [Eva, #1115, Lisboa: 1964.]

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Ilustração das 17 casas projetadas por Palla e Bento de Almeida elaborada a partir da informação publicada nos anúncios da “Casa da Eva”. [Eva, #971, Lisboa: 1952 a Eva, #1181, Lisboa: 1971.]


Mário Chaves

LIVROS

Como desenhar de forma errada Peter JENNY Gustavo Gilli isbn 978 85 65985 58 1

Nesta minha idade, contemporânea, em tudo parece imediato e impessoal, com ferramentas das redes sociais e da exposição pública imediata, onde pouco mais fazemos que carregar no botão, perdendo gozos próprios de exploração dos saberes, a tecnologia exigenos a perfeição e a contínua correcção do incorrecto, do imperfeito, do desalinhado. O hardware e o software dominam a capacidade de exprimirmos e comunicarmos ao mundo o que somos e o que fazemos. Houve uma ruptura epistemológica do mundo antigo à glória anunciada do mundo do big brother que controla os actos e omissões na nossa arte mais básica que apela à emoção. Este singelo livrinho, que de tal se trata, devolve a alegria de desenhar bem mal, depois de num dado momento nos terem dito que desenhávamos mal bem. Há uma esperança em podermos outra vez ter alegria em deixar a mão fluir na expectativa de exprimirmos o que nos vai na alma, sem termos sempre ninguém a corrigir-nos e a melhorar a nossa prestação e enunciação da poesia pelo desenho. Existe outra vez uma liberdade de desenhar, legitimada por Peter Jenny.

Orlando Furioso

A Noite Abre Meus Olhos

Ludovico ARIOSTO

José Tolentino MENDONÇA

Cavalo de Ferro isbn 978 989 623 067 8

Há trabalhos maiores que as vidas e os trabalhos são os que permitem horar a labuta do corpo e da alma, mas além da aparente inutilidade do universo e dos seus componentes para com a grandeza da criação deste Orlando Fusioso. Todo o universo nos seus 15 000 milhões e complexidade atómica e molecular, não fez uma obra tão maior quanto propositada que a vida de Orlando, no mundo de Carlos Magno, e na ambição da amada Angélica, numa Europa em formação do mundo moderno, e na qual a liberdade ilimitada era soberba maior para heróis que não se cansavam. A cavalaria articulava o mapa europeu qual diagrama de Voronoy, na apetência de que a sua França veio a constituir um polígono de Thiessen. Estas simbioses entre poética, ilusão, ciência e filosofia, constituem sempre um exemplo da grandeza do pensamento Ocidental, que criou mais que um estilo de vida, um estilo de viver. É talvez nesta grandeza de Orlando, e talvez também no Orlando de Virgínia Woof, que se criam estas vidas perenes, transversais, intemporais, capazes de extravasar o seu tempo e almejar a eternidade. E depois, senhores, para além da grandeza mítica, cósmica dos feitos destes heróis [tanto o é Orlando, Ludovido Ariosto, como Gustave Doré], fica-nos a cumplicidade de sermos herdeiros destas vidas maiores; lembremo-nos que não os esquecemos e sejamos cavaleiros também do nosso tempo, em perpétuo movimento, grandeza e propósitos.

Assirio & Alvin isbn 9789723711332

A poesia, que faz ginástica acrobática, com as palavras e as regras linguísticas, provém também de um desses universos paralelos, grandiosos, criados pela divindade, para não se focalizar na complexidade atómica e celular, e celebrar o que os cérebros vão procurar, intrepidamente, nesses territórios ambiciosos, onde a alma também se alimenta e fortalece. A poesia de Tolentino é capaz de iluminar a noite, na clarividência possível do sabor das palavras mastigadas pela emoção do furor das ideias que assaltam o espirito para além da felicidade de a entendermos e nos complexar a vida. A poesia, na sua inutilidade plena, perante a ganância, a pulhice, o desprezo, a humilhação e a indiferença, pecados maiores que nos condenam ao inferno, é redutora e salvífica, porque a grandeza do Mundo é também a da noite que nos abre os olhos. ‘Agora so resta tornar-te o poema’ [p]agina 438].

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Maria Rodrigues Carmen Figueiredo

marketing

‘Cinquenta Sombras de Grey’ iluminadas A marca portuguesa de iluminação deu luz às 50 sombras de Mr. Grey. Com peças únicas de design exclusivo inspirado nos anos 50 e 60, a DelightFULL é já uma referência no mercado nacional e internacional. Os candeeiros são peças produzidas à mão que resultam de uma reinvenção de velhos clássicos e de muitas horas a ouvir Sinatra, Cole, Simone e outros grandes mestres de Jazz que dão o nome a algumas peças da marca. Para além da DelightFULL, vão estar presentes no filme outras marcas portuguesas. A Boca do Lobo, a Koket e a Brabbu vão inundar o cenário das cinquenta sombras com peças de mobiliário com design 100% português. A preocupação destas 4 marcas com o carácter exclusivo do design das peças e o com os detalhes da produção das mesmas, encaixa perfeitamente na personalidade extravagante do personagem principal criado por EL James. Mr Grey é uma personalidade com gostos singulares e extravagantes a que estas marcas correspondem perfeitamente. www.delightfull.eu

Renovação da Casa de Serralves

A Fundação de Serralves elegeu os produtos da CIN, líder ibérica no mercado de tintas e vernizes, para a renovação das fachadas e madeiras da Casa de Serralves. «O nosso envolvimento numa obra desta dimensão e importância é o reconhecimento da qualidade dos nossos produtos. Encaramos com grande orgulho o facto de podermos contribuir para a reabilitação de um edifício tão notável e icónico da cidade do Porto e do Norte em geral.», refere Marcos Castro, responsável de Marketing da CIN. Nováqua HD foi a tinta escolhida para proteger as fachadas, graças à sua resistência às mais adversas condições atmosféricas, condensações nocturnas, fungos e algas, sendo indicada para a pintura de fachadas. HD significa High Durability, ou seja, Alta Durabilidade, o que representa a promessa de uma alta performance e duração do resultado. www.cin.pt

Apoio a atleta paralímpico O patrocínio da Vulcano a João Correia surge no âmbito da política de Responsabilidade Social da marca e pretende dotar o atleta das condições necessárias para a prática da modalidade e preparação ao longo da época. De acordo com Nadi Batalha, Coordenadora de Marketing da Vulcano, “a associação da marca Vulcano ao atleta João Correia acontece de forma natural, não só pelos feitos alcançados na sua modalidade desportiva, mas também pela perseverança com que enfrenta todos os desafios. A Vulcano tem orgulho em passar a fazer parte da história do João e poder contribuir para a persecução dos seus objetivos, bem como para a conquista de novos feitos e marcos importantes no desporto adaptado.” www.vulcano.pt

Novo catálogo BIM (Building Information Modelling)

A Knauf Insulation criou o seu próprio catálogo BIM, com uma vasta gama de soluções de objetos em diversos formatos BIM que incluem todas as áreas de isolamento térmico e acústico, disponibilizando, em primeira mão, dados reais para os projetos. BIM significa Building Information Modelling (Modelo da Informação da Construção) e contém a informação necessária para realizar um projeto, substituindo o clássico arquivo CAD por um modelo 3D com materiais e sistemas que permitem extrair do arquivo BIM dados essenciais como os custos de materiais, gestão do tempo, programação da obra, dados sobre os impactos no seu ACV (análise de ciclo de vida), comportamento térmico, etc. www.knaufinsulation.pt

Fundição Renovada Cortizo, principal fabricante e distribuidora de sistemas de alumínio para a arquitetura e indústria, em Espanha, lançou o segundo grupo de fundição no polígono Baina, na cidade asturiana de Mieres. A planta tem uma área de 6.000 m² e tem uma capacidade de produção de 25.000 toneladas de placas de alumínio por ano. Essa matéria-prima é fornecida diretamente ao grupo de cinco grandes centros de produção, situada em Padrón (A Coruña), Manzanares (Ciudad Real), Granadilla de Abona (Santa Cruz de Tenerife), Polónia e Eslováquia.Com a renovação da fundição, a Cortizo dobra a capacidade de auto-abastecimento de placas de alumínio. www.cortizo.com

Concurso de Ideias de Arte Urbana A Barbot apresenta o “CRIARTE” – um Concurso de Ideias de Arte Pública”, desenvolvido em parceria com a Escola de Artes MArt, em Lisboa. O projeto

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marketing

Maria Rodrigues|mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo|cfigueiredo@revarqa.com

Nova coleção de Torneiras Esta coleção de linhas simples, intuitivas e atuais adapta-se perfeitamente a qualquer espaço de banho. A série faz parte das inovadoras coleções de Torneiras Roca que oferecem abertura frontal em água fria e limitador de caudal. A abertura central em água fria evita o disparo automático da fonte de energia para aquecimento de águas sanitárias, como acontece habitualmente com as torneiras monocomando comuns, quando na maioria das vezes o utilizador nem chega a desfrutar da água quente. É necessário mover o manípulo para a esquerda para se obter gradualmente água quente. Esteticamente irrepreensível, o design das torneiras L20 vem completar a atratividade desta coleção. A coleção oferece soluções simples e funcionais, para o espaço de banho e duche, e dispõe de 2 modelos exteriores e 2 modelos de encastrar que abrangem todas as possibilidades necessárias para o espaço de banho estar sempre atual. www.pt.roca.com

tem como objetivo apoiar e promover a Arte Urbana em Portugal, valorizando o talento nacional. Serão premiados os dois melhores trabalhos. O autor do projeto vencedor verá a sua ideia executada na fachada da fábrica da Barbot, em Laborim, Vila Nova de Gaia, e ganhará uma bolsa de estudo Barbot para frequentar a Residência Artística na MArt durante o ano letivo de 2015/2016. Este programa anual, destinado a artistas e estudantes de arte, tem por objetivo o aprofundamento do trabalho de autor através de um regime intensivo de investigação prática e teórica. O período de inscrições para o “CRIARTE - Concurso de Ideias de Arte Pública” já começou e os interessados devem enviar as propostas até ao dia 31 de maio. www.barbot.pt

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Há 140 anos a inspirar silver stories A Topázio é testemunha das mais longas e belas estórias de amor, perpassando gerações. Esta sabedoria, que ganha forma nas mãos experientes dos artesãos, garante à Topázio a distinção e a qualidade para serem o presente ideal. Associando-se a designers e criativos portugueses, a Topázio apresenta coleções contemporâneas, sem perder a identidade da marca centenária, como é o caso desta criação de Cristina Santos Silva. Estes copos de vinho do Porto, de alicerce firme, mas não uniformes, são o espelho de um amor perfeito ao serem formados por várias partes que se completam.

Estão disponíveis em prata e banho de prata, em dourado e prateado. A coleção, que inclui tabuleiro, decanter e cálices, está disponível para venda em conjunto ou em peças individuais, nas melhores ourivesarias e nos Espaços Topázio em Lisboa e em Gondomar. www.topazio.pt

Coleção Twilight Grupo Cosentino e o Estúdio de Design Monica Förster, cuja colaboração resultou na apresentação de Twilight, uma inovadora coleção de acessórios de mesa e candelabros para o exterior, elaborada com a nova superfície ultracompacta Dekton® by Cosentino. A coleção possui duas linhas diferentes de produto, batizadas pela designer como Tealight e Moonlight: Tealight é uma linha de bandejas com um porta-velas integrado que permite criar um ambiente agradável e acolhedor. A coleção Tealight inclui também uma base para o azeite e para o vinagre. Por sua vez, Moonlight é uma linha de candelabros elaborados em dois tamanhos distintos, criando um harmonioso contraste de luzes e sombras. Moonlight é fabricado com três peças de Dekton® com tamanhos distintos que interagem entre si, permitindo que o objeto se veja de forma diferente, dependendo do ângulo de visualização. Assim, ao girá-lo com a vela acesa, é possível conseguir diferentes variações da chama, obtendo, diversos jogos de iluminação. www.cosentino.com


‘Mensagem’ em braille A “Mensagem”, publicada em 1934, tinha como objetivo atuar sobre a mente dos leitores. Poder-se-á dizer que Fernando Pessoa sonhou com uma sociedade idílica, onde as ideias , a cultura e a alma estavam representados, uma sociedade reconstruída através da poesia e do conhecimento. Assim, comemorando o seu 80º Aniversário com esta edição especial em Braille, destaca também a importância duma sociedade mais inclusiva. Este projeto resulta da tese de Mestrado em Design concluído em 2013 na Duncan and Jordanstone College of Art and Design – Universidade de Dundee (Escócia), por Bruno Brites e, contou com a colaboração da ACA-

PO (Associação Cegos e Amblíopes de Portugal). Através do protótipo final, foi desenvolvida uma edição de autor de 30 exemplares para cegos e para pessoas sem deficiência visual, com o objetivo de comemorar o 80º aniversário da “Mensagem” em 2014, enaltecendo a importância do Braille como veículo de comunicação. Esta investigação, mostra um caminho que explora a estética dos livros em Braille, criando uma ligação simbólica, visual e tátil, entre o livro, os leitores e os materiais utilizados. Une o Braille com a tipografia e usa o “formato livro” como plataforma inclusiva de acesso à literatura e ao conhecimento. https://www.facebook.com/ mensagembraille / http:// mensagembraille.com

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artes

O que mudou?

Das casas-ateliers aos estúdios do século XXI Sandra Vieira Jürgens|sandravieirajurgens@gmail.com

A questão do habitar é sem dúvida a base da prática da arquitetura, mas também um tema recorrente de trabalho na trajetória de muitos artistas portugueses, como Patrícia Garrido, Carlos Bunga, Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Ana Vieira, Ângela Ferreira, Nuno Cera, Pedro Barateiro, Didier Faustino, Nuno Sousa Vieira ou João Serra, para citar apenas alguns exemplos. Nos últimos anos têm surgido, de resto, muitas propostas curatoriais organizadas em torno dessa ideia, selecionando peças de coleções institucionais ou desencadeando novas produções. Neste texto interessa-me contudo fazer um exercício de transposição da ideia do habitar para os espaços de vida e de trabalho dos artistas, focando os ateliers e estúdios, cuja configuração e natureza, tal como as casas, não deixa de acompanhar e espelhar diferentes conceitos de vida e de arte. A proximidade entre o interior doméstico e os ateliers foi muito estreita durante os séculos XIX e XX, quando os artistas conciliavam funcionalidades num mesmo espaço. Em Lisboa temos o exemplo da casa-atelier de José Malhoa, hoje Casa-Museu Anastácio Gonçalves, que alberga a coleção de arte do colecionador, mas que foi mandada construir no princípio do século XX pelo pintor naturalista para servir de habitação e espaço de trabalho. Projetada pelo arquiteto Norte Júnior nos anos 1904 – 1905, ser-lhe-ia atribuído o Prémio Valmor em 1905, encontrando-se hoje aberta ao público. Um excelente exemplo desses espaços é igualmente a Casa-Estúdio Carlos Relvas, na Golegã, atelier dedicado à prática fotográfica, inaugurado em 1876, com todo o tipo de mobiliário e acessórios fotográficos e um sistema de vidraça e cortinas movidas por cordas e roldanas que permitiam ao fotógrafo controlar a entrada de luz. Hoje, a tendência é para um afastamento em relação a esse ideal de fusão das dimensões pessoal e profissional; a atividade artística prescindiu, pelo menos no seu espaço de realização, dessa intimidade com a vida, e de uma inspiração nascida da partilha dos espaços. Ela passou a privilegiar métodos de produção artística mais industrializada, especializada e transdisciplinar, a qual exige outro tipo de lugares, não já com a dimensão quase mitológica que o atelier adquiriu, por exemplo, no Romantismo. Para elucidar esta história,

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nada como convocar o testemunho das imagens: são muitos os artistas que na sua obra nos deixaram testemunho dos seus espaços de trabalho. Antes da época romântica, Velázquez representou-o em “Las Meninas” (1656), mas encontramos mais representações destes espaços sobretudo a partir do século XIX, quando se afirma a singularidade e o estatuto do artista, conferindo-se maior importância ao sujeito, aos traços da sua personalidade e aos seus contextos de vida. Neste período os ateliers ganham presença sobretudo como espaços de refúgio, lugares especiais e únicos que superam as qualidades materiais do próprio espaço físico. Georg Friedrich Kersting representou o seu amigo — “Caspar David Friedrich in seinem Atelier (Berliner Bild)”, c. 1812 — num espaço despojado, austero e próximo da cela monástica, que em si é revelador de um conceito de arte. Anos mais tarde também Gustave Courbet pintará “L’Atelier du peintre” com o subtítulo “Allégorie Réelle déterminant une phase de sept années de ma vie artistique (et morale)” (1855), uma peça em que retratou dois mundos, a vida material e o mundo intelectual, realizada numa tela de grande dimensão que foi recusada pelo Salon, o qual alegou como argumento para a sua exclusão o tamanho da obra, demasiado grande para o tema retratado. É que de acordo com as convenções académicas, as telas de grande dimensão deveriam representar temas históricos, bíblicos, mitológicos e alegóricos, nunca mundanos. E terá sido este o principal motivo que levou Courbet a mostrar esta e outras quarenta e três das suas telas numa exposição privada que realizou por iniciativa própria, o “Pavillon du Réalisme”, junto da Exposição Universal de 1855. Testemunho do grupo e do movimento impressionista é a obra que representa o atelier de Frédéric Bazille – “L’atelier de Bazille” – realizada pelo pintor em 1870, e que nos situa perante uma cena coletiva no atelier do n° 9 da rue de La Condamine, que o autor partilhou com Renoir entre 1868 e 1870. Na peça, além de Bazille e Manet, parecem surgir representados Monet e Renoir. A par de incluir figuras do movimento ou determinantes para o seu aparecimento, a representação do espaço serviu ainda para Bazille expressar a sua visão crítica em relação ao sistema académico, expondo algumas das peças que haviam sido recusadas naqueles anos pelo júri do Salon.


design

Habitar

O abrigo, o biombo e a tenda Carla Carbone

Vilém Flusser tece considerações sobre o conceito de Habitat, em The Shape of Things – A Philosophy of Design, de 1993. No capítulo “Carpets”, Flusser detalha o conceito: “por mais altos, funcionais, e abertos os nossos edifícios possam parecer, permanecem como que próximos de grutas. Quanto mais confortáveis os nossos quartos aparentam, mais os mesmos a elas se assemelham”. Os homens parecem ter começado primeiro pelas tendas, progredindo depois para o interior da caverna, mas todas estas acomodações, para Flusser, foram inumanas. Porque nada do que é humano é natural, diz-nos. “O que é natural para nós é o inumano”. Um ninho e uma gruta, mesmo que sejam humanas, resultam opostas para o filósofo: “A dialéctica entre tenda e gruta, entre a estepe e o rio, entre o pastor e o agricultor, entre tenda e casa, é o tema aqui. Por outras palavras, o tema é mesmo o tapete. O tapete é para a cultura da tenda o que a arquitectura é para a cultura da casa. (…) Agora as nossas casas tornaram-se a base para o tapete, e o tapete tornou-se o pretexto.” Para Flusser o objecto tapete não só transporta mensagens de uma cultura, de uma época ou ideologia. Pode ser o receptáculo de histórias antigas, inenarráveis, e de enredos imbricados. Guerras, batalhas, revoluções, os tapetes assistem a pedaços de história: “os tapetes Gobelin testemunharam não só a guerra dos treze anos, entre fés, como a revolução francesa, e a revolução industrial. De que são testemunhas os tapetes de hoje? Que tempestades trazem projectadas sobre as nossas paredes, os tapetes de agora?” Flusser, ainda no prolongamento do tema habitat, fala-nos do conceito de abrigo, de biombo e de tenda. Sobre a tenda revela-nos: “quando vemos a rapidez com que as tendas gigantes do circo são montadas e desmontadas, podemos pensar que afinal até não nos saímos assim tão mal quanto à criação de abrigos”. Os alemães, revela-nos, chamam fallschirme ao pára-quedas, que quer dizer mais ou menos isto: “biombos que caem”. Elucida-nos que o que tem mais

“Algues” 2004 Poliamide injectado. 300 x 40 x 270 mm Irmãos Bouroullec

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a ver com tendas não é tanto a gravidade mas a resistência da sua estrutura ao vento: “Ali estas, a saltar de um avião e o vento, automaticamente, abre o pára-quedas. Mas assim que te encontras no chão, tens o trabalho inglório de o dobrar. Isto ilustra o que se torna ridículo em abrigos, e nas tendas em geral (as tendas poderão talvez ser a verdadeira essência do que é um abrigo). Desde os antigos egípcios, os arquitectos (e designers de tendas em geral) não compreenderam que eles lidam com o problema do vento e não com a gravidade. O facto de que o principal perigo do abrigo, como a tenda, não ser o seu desmoronamento, mas o desagregar, ou o ser levado pelo vento. Isto irá mudar. As pessoas vão ser capazes de pensar de forma mais imaterial assim que as paredes forem derrubadas”. E é nesse carácter de coisas menos permanentes que parece revestir-se o trabalho dos designers no momento presente. Muitas das estruturas ostentam uma construção que partem do princípio modular, e de fácil desmantelamento. Podem assumir formas completamente imprevisíveis, essas estruturas, e com a consciência, dos designers, de que as mesmas sofrem os efeitos dos contextos e ambientes em que se inserem. Hoje em dia as disciplinas assumem num carácter híbrido, sendo que a transdisciplinaridade é uma realidade na actividade do designer. Temos hoje artistas que beliscam a área do design (equipamento) e designers que beliscam a área das artes. Não é raras vezes possível ver a “contaminação” positiva das diferentes áreas: artistas que se embalam na criação de objectos, mesmo que esses não passem da realidade da instalação, ou sirvam para suporte de alguma performance; ou designers que vão procurar inspiração em formas “livres” disponibilizadas pelas artes plásticas, como a instalação ou a Land Art. Mas voltando a Flusser, e ao conceito de abrigo. O filósofo, refere, em detalhe sobre a tenda, que a mesma “protege, sendo um refúgio que pode ser colocado ao vento, usado contra o vento e depois disposto novamente de feição ao vento”. Flusser estabelece um paralelo entre a tenda e a vela de um barco. Diz-nos: “confrontados com a verdadeira essência da tenda, quem não se lembraria da vela? Na verdade a vela é precisamente a forma de uma tenda que trás o vento sob controlo.” A tenda, como esconderijo, “procura resistir ao vento, como a vela de um barco, procura explorar o poder do vento”. Flusser, em “Shelters, Screens and Tents”, manifesta o seu agrado pela “inteligência”, e astucia, protagonizada pelas velas: “The sail is as smart as the shelter is stupid: A properly built sailing-ship can almost sail against the wind and is only ever helpless when there is no wind. And a glider can manipulate the wind not only horizontally but also vertically. Thus designers of the future will have to think of their designs by analogy not with umbrellas but with kites made to dance in the wind by children.” Assim, para o autor, paraquedas e planadores são apenas variações sobre o tema da tenda. Uma tenda é, para Flusser, uma tela levada ao vento. O autor releva-nos, igualmente, para as diferenças entre paredes sólidas e biombos: “A screenwall is to a solid wall as being blown by the wind is to forming a wind-break: this is not a bad place to start an analysis of the cultural change bearing down upon us. Before going into the problem of walls, however, one must think about the wind, and this leads one into familiar territory. For example, the fact that one can, it is true, hear the wind (if often roars deafeningly), that one can feel it (it can knock one over), but that one cannot see the thing itself, only the often horrendous consequences of its passing. As soon as one goes from solid walls to screen walls, everything seems to become more immaterial.” (Flusser). Um biombo, numa casa, numa tenda, uma estrutura de um circo, a fazer de guarda chuva, em função de paraquedas, papagaio, vela de um barco, é uma estrutura de vento. Podendo distinguir-se largamente de uma parede


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julho|agosto 2014

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