Arqa 108 by Futurmagazine Sociedade Editora

Lugares Sagrados Ano XIV – julho|agosto 2013 €11,00 (continente) – €16,00 Espanha

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arqa108 ARQUITETURA E ARTE

Lugares Sagrados Ruta del Peregrino Renzo Piano Souto de Moura Wodiczko + Bonder kister scheithauer gross Roseta Vaz Monteiro Rodrigo Pereira Luna Robbrecht en Daem Karla Britton Douglas R. Hoffman Antonio Petrov Esteban Fernández-Cobián Andrea Longhi Leonardo Garabieta Walter Zahner Zorán Vukoszávlyev Phyllis Richardson Matilde Cassani

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ISSN: 1647- 077X

jul|ago 2013 | €11,00

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Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores

ARQUITETURA E ARTE

Lugares Sagrados

R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com

Ruta del Peregrino Renzo Piano Souto de Moura Wodiczko + Bonder kister scheithauer gross Roseta Vaz Monteiro Rodrigo Pereira Luna Robbrecht en Daem Karla Britton Douglas R. Hoffman Antonio Petrov Esteban Fernández-Cobián Andrea Longhi Leonardo Garabieta Walter Zahner Zorán Vukoszávlyev Phyllis Richardson Matilde Cassani

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Propriedade:

jul|ago 2013 |��11,00

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ISSN: 1647- 077X

Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com

Foto: Iwan Baan

Lugares Sagrados

matérias

Ano XIV – julho|agosto 2013 �11,00 (continente) – �16,00 Espanha

ÍNDICE

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RENZO PIANO - RECEÇÃO E MOSTEIRO DE RONCHAMP

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A R Q U I T E T U R A

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040 042 054 064 074 082 088 096 100 106 110 114 118 124 126 128 131 139 147 010

In/Outdoors Eficiência Energética

Angola Info - Boletim Informativo da Ordem dos Arquitetos de Angola (0A)

News Livros Mário Chaves

Editorial Luís Santiago Baptista – Lugares Sagrados

Entrevistas Lugares Sagrados: Perspetivas Críticas, Karla Britton, Douglas R. Hoffman, Antonio Petrov, Esteban Fernández-Cobián, Andrea Longhi, Leonardo Garabieta, Walter Zahner, Zorán Vukoszávlyev, Phyllis Richardson

Projetos Biografias Ruta del Peregrino: Dellekamp, Tatiana Bilbao, Christ & Gantenbein, Fake Design, HHF Architects, Luis Aldrete, Elemental, Periférica – Percurso de peregrinação, vários locais Renzo Piano – Receção e Mosteiro de Ronchamp Eduardo Souto de Moura + SumProject – Crematório “Uitzicht” em Kortrijk Wodiczko + Bonder – Memorial da Abolição da Escravatura, Nantes kister scheithauer gross – Sinagoga, Ulm Roseta Vaz Monteiro Arquitectos – Senhora da Boa Nova, Estoril Rodrigo Pereira Luna – Capela do Ar, San Sebastián em Cauquenes Robbrecht en Daem – Modelo 1:1 do Pavilhão Clube de Golf de Mies van der Rohe, Krefeld

Investigações Pedro Abreu e Dulce Loução – 2+2=5: Notas sobre a produção do sagrado na Arquitetura

Design Carla Carbone – Lugar do Objeto: O Profano e o Sagrado

Artes Sandra Vieira Jürgens – A sagração do White Cube: A persistência de um modelo moderno

Itinerâncias Filipe Magalhães + Ana Luísa Soares|fala atelier – Nakagin Capsule Tower Susana Rosmaninho e Miguel Tomé – Contentor e Conteúdo Paula Melâneo – Quatro Publicações Recentes: Arquitetura e Arte

Fotografia Fernando Guerra – FG+SG: Igreja Nª Srª das Necessidades, Leiria

Dossier 1 - Sacred Spaces in Profane Buildings, a project by Matilde Cassani 2 - ShoppingScapes ‘13 Conference Materiais fornecidos pelas marcas

arqa julho|agosto 2013

A R T E

Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Ana Acosta, Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design), David Santos (Artes), Gonçalo Furtado (Crítica), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros), Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes)

Atualidades e agenda

Marketing / Dossier Reabilitação

www.revarqa.com – futurmagazine@gmail.com

Apoio:

Paginação e Imagem Raquel Caetano Bruno Marcelino (desenhos) Edição Digital Ricardo Cardoso Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo - cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com ANGOLA Parceria Futurmagazine - NAMK, Lda. Rua Major Marcelino Dias, nº 7 - 1º andar-D Bairro do Maculusso, Distrito da Ingombota, Província de Luanda namk-limitada@hotmail.com Tel. +244 222 013 232 Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete Tiragem 10.000 Exemplares Periodicidade Bimestral ISSN: 1647- 077X ICS: 124055 Depósito Legal: 151722/00

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EDITORIAL

temático

Lugares Sagrados

As tensões entre a manifestação autoral e a experiência de comunidade

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA|lsbaptista@revarqa.com

O sagrado tem sido um tema recorrente na arquitetura. Apesar disso, nas últimas décadas, a questão do sagrado tem andado afastada dos principais debates disciplinares. A isto não será estranho o processo de secularização das sociedades ditas ocidentais ao longo da modernidade. No entanto, o sagrado nunca deixou de se manifestar das mais diversas formas nas sociedades modernas e contemporâneas, sendo a arquitetura um dos intrumentos privilegiados da sua manifestação. Porém, na contemporaneidade, a questão arquitetónica do sagrado parece habitar horizontes dificilmente conciliáveis, dividida entre duas perspectivas dominantes. Por um lado, existe a consciência crescente do poder da criação arquitetónica para manifestar, pelas suas próprias qualidades, o transcendente e o indizível.1 A arquitetura, ao instaurar lugares de transcendência, contemplação e reflexão, incorpora materialmente e expressar espacialmente esse horizonte intangível do sagrado. Intensificando a experiência subjetiva do espaço, a arquitetura pode criar pontes entre o indivíduo e o universo transcendente, algo que não deixa de estar na base das diversas religiões. A abstração, minimizando a determinação linguística e simbólica da arquitetura e, deste modo, explorando as qualidades intrínsecas da experiência fenomenológica do espaço, vem responder a essa universalidade do espaço sagrado. Mas, esta tendência diríamos ecuménica da arquitetura sagrada, não deixa de evidenciar uma certa autonomia em relação aos hábitos comunitários e rotinas rituais, de natureza mais coletiva do que individual. A verdade é que os grandes edifícios religiosos das últimas décadas podem ser identificados pelos seus arquitetos, no âmbito das suas investigações projetuais, muito para além da especificidade das práticas religiosas. Por outro lado, e em sentido contrário, existe uma perspetiva centrada na experiência comunitária do ritual religioso, no qual o espaço, sendo importante, não está no fulcro das preocupações. Um sentido mais participado e anónimo emerge destes pontos de vista mais programáticos, colocando a ênfase na comunhão que se realiza no espaço e não na experiência estética do espaço em si mesmo. Neste sentido, as dimensões da permanência, como a organização do ritual, as estruturas simbólicas e as determinações do uso, adquirem uma maior preponderância, contribuindo para o estabelecer de vínculos coletivos entre os crentes constituídos em assembleia. A arquitetura sagrada parece estar assim numa encruzilhada. Tornar-se pura experiência significante do espaço, sempre ameaçada pela proximidade às lógicas massificadas da autoria e do espetáculo, ou assumir-se como estrita prática de comunhão coletiva, perante o espectro da fragmentação e rarefação dos praticantes numa sociedade secularizada. A estetização da experiência do sagrado contra o confinamento das práticas religiosas. No limite, como habitar esse espaço entre a sacralização do espaço e a ritualização das práticas?

A concepção arquitetónica do espaço sagrado contemporâneo é estruturalmente devedora das teorias fenomenológicas da segunda metade do século XX. O seu texto fundador, o seminal “construir, habitar, pensar” de Martin Heidegger, uma conferência proferida em 1951 para uma audiência dos reconstrutores e arquitetos de uma Europa devastada pela guerra, defendia uma visão holística da arquitetura, perdida com a afirmação da racionalidade instrumental técnico-científica da modernidade.

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A célebre “quadratura”, proposta pelo filósofo, enquadrava essa perspetiva do habitar: “«Sobre essa terra» já diz, no entanto, «sob o céu». Ambos supõem conjuntamente «permanecer diante dos deuses» e também «pertencer à comunidade dos homens». Os quatro: terra e céu, os divinos e os mortais, pertencem um ao outro numa unidade originária. (…) Salvando a terra, acolhendo o céu, aguardando os deuses, conduzindo os mortais, é assim que acontece propriamente um habitar. Acontece enquanto um resguardo de quatro faces da quadratura. (…) Habitar é construir desde que se preserve nas coisas a quadratura.”2 Heidegger estabelecia um vínculo fundamental entre a arquitetura e o sagrado, relação essa não exclusiva às tipologias religiosas, mas a todo o habitat existencial. O crescente interesse pela fenomenologia na arquitetura, através das releituras do texto heideggeriano de Christian NorbergSchulz e Kenneth Frampton, expandiram a ideia do sagrado para além das práticas tradicionais da religião e dos seus espaços de congregação. As ideias de “espaço inefável” de Le Corbusier, de “síntese da vida em forma material” de Alvar Aalto, de “silêncio e luz” de Louis Kahn, e mesmo as interpretações mais recentes de “espaço e natureza” de Tadao Ando, de “ideia e fenómeno” de Steven Holl e de “atmosferas” de Peter Zumthor, constituem a linhagem dessa abordagem fenomenológica ao espaço arquitetónico, que interioriza uma dimensão sagrada. A verdade é que todos estes arquitetos construíram importantes edifícios religiosos, que marcaram os seus percursos: a Capela de Ronchamp, o Mosteiro de LaTourette e a Igreja de San Pierre de Firminy de Le Corbusier, a Igreja das Três Cruzes e a Igreja Paroquial de Riola de Aalto, o Igreja Unitária de Rochester de Kahn, a Igreja da Luz e a Igreja da Água de Ando, a Capela de St. Ignatius de Holl e as Capelas de San Benedetg e Bruder Kraus de Zumthor. Em Portugal, essa abordagem manifestar-se-ia, de algum modo, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, na Igreja de Marco de Canavezes de Álvaro Siza ou na Igreja de Santo António de Carrilho da Graça. Esta conceção fenomenológica revela que o sagrado foi sendo incorporado nas qualidades intrínsecas da arquitetura, fomentando a introspeção, a contemplação e a reflexão, sem um vínculo necessário com a natureza das práticas religiosas. Essa conceção transmuta-se assim numa arquitetura intensamente silenciosa, num certo sentido, minimalista, tendo em conta as premissas conceptuais desse movimento artístico. No entanto, essa centralidade da criação arquitetónica na configuração espacial e material do sagrado tem implicado uma negociação, nem sempre fácil e bem sucedida, com a apropriação coletiva inerente aos ritos. A conceção universalista do espaço sagrado confronta-se com a especificidade das diferentes celebrações religiosas.

As grandes questões do espaço sagrado estarão hoje porventura menos na qualificação do objecto arquitetónico e mais na relação problemática com o espaço urbano. Não será no território da criação arquitetónica, nem na formalização dos rituais por si que podem ser testemunhadas as transformações fundamentais nas conceções do sagrado. De facto, é na escala da cidade e do território contemporâneos, num domínio de irredutível informalidade, portanto fora do controlo dos projetos, que hoje se manifestam alterações significativas nas conceções e práticas do espaço sagrado. Poderíamos dizer que a experiência religiosa acontece hoje nesse

A arquitetura sagrada parece estar assim numa encruzilhada. Tornar-se pura experiência significante do espaço, sempre ameaçada pela proximidade às lógicas massificadas da autoria e do espetáculo, ou assumir-se como estrita prática de comunhão coletiva, perante o espectro da fragmentação e rarefação dos praticantes numa sociedade secularizada. A estetização da experiência do sagrado contra o confinamento das práticas religiosas. No limite, como habitar esse espaço entre a sacralização do espaço e a ritualização das práticas?

Christ & Gantenbein, Miradouro Cerro del Obispo, 2008-11 • Renzo Piano, Mosteiro, Ronchamp, 2006-11 • Robbrecht en Daem, Modelo 1:1 Clube Mies van der Rohe, Krefeld, 2013

campo ambíguo entre o sagrado e o profano, entre o erudito e o popular, entre o rito e a vida. E essas mudanças podem ser captadas na presença das cerimónias das diferentes religiões que habitam as nossas cidades através da apropriação multicultural e multiétnica da realidade urbana contemporânea. Dois participantes neste número da arqa apontam leituras críticas sobre estas transformações que apenas uma análise cultural e urbana alargada podem sustentar. Por um lado, Antonio Petrov, na sua resposta à nossa entrevista, e antevendo a publicação do seu próximo livro Reclaming the Sacred in Sacred Architecture, salienta o obliterar “das fronteiras entre o secular e o sagrado”, reafirmando que a religião pode, “potencialmente, estar em todo o lado e em tudo, em vez de estar confinada a manifestações arquitetónicas de enquadramentos institucionais datados”. Neste sentido, para Petrov, o espaço sagrado está a expandir o seu campo de acção, reagindo em tempo real às transformações culturais, sociais e económicas da cidade contemporânea: “em tempos de culturas descentralizadas e ecologias religiosas desreguladas, os cidadãos globais, quem busca novas religiões, os espiritualistas e ambientalistas procuram mais ligações significativas e cativantes para lá da fenomenologia e do modernismo. A reciprocidade da mística e da poética dos sistemas económicos, comerciais e políticos, desafiam as igrejas a agir em todos os tipos de enquadramentos”.3 Por outro lado, Matilde Cassani vem realizando, desde 2010, a investigação experimental Sacred Spaces in Profane Buildings, que incide sobre a presença do ritual “sagrado” no espaço urbano “profano”.4 As perguntas iniciais do projeto são aqui liminares: “Qual é o impacto do pluralismo religioso na cidade contemporânea? O que são os novos lugares nos quais o pluralismo religioso se manifesta?”5 Cassani percebe a forma informal como os novos espaços sagrados emergem na realidade urbana actual, espaços esses relacionados com uma multiplicidade de cultos e religiões que acompanham e sustentam as diversas comunidades emigrantes que se instalam nos interstícios da grande metrópole. Sem definição legal e institucional precisa, em espaços maioritariamente privatizados em constante mutação, com lógicas multifuncionais, simultaneamente habitacionais, comerciais e religiosas, estes espaços emergentes respondem pragmaticamente ao apelo do ritual sagrado. Isto é, “a infiltração dos espaços de culto nas cidades europeias portanto ocorre espontaneamente e, por

norma, sem legislação precisa.” É pois neste território flutuante, confuso e, no limite, invisível da realidade da cidade contemporânea que o sagrado promete a sua reemergência, perante uma cultura urbana em transformação.

O sagrado manifesta-se na arquitetura contemporânea de múltiplas formas. O magnífico projeto da Ruta del Peregrino, convocando um grupo de arquitetos internacionais, confere significado e acolhimento, através de sensíveis intervenções pontuais, a uma rota de peregrinação no México. O polémico mosteiro nas imediações da Capela de Ronchamp, de Le Corbusier, traz as atividades religiosas quotidianas a um monumento moderno cada vez mais turístico. O Crematório de Souto de Moura na Bélgica confere uma ordem paisagística e solenidade silenciosa a uma tipologia funerária. O Memorial de Abolição da Escravatura do artista Krystof Wodiczco, com Bonder, apropria um espaço público devoluto na frente ribeirinha de Nantes, oferecendo uma experiência introspetiva de rememoração coletiva. A Sinagoga de Kister Scheithauer Gross em Ulm, na Alemanha, enfrenta os traumas do passado recente, reconstruindo a presença do Judaísmo na cidade. O Centro da Senhora da Boa-Nova no Estoril de Roseta Vaz Monteiro manifesta o potencial regenerativo de uma tipologia com múltiplas valências religiosas e sociais, num processo participado e partilhado. O projeto académico construído da Capela do Ar no Chile, de Rodrigo Luna, demonstra a vitalidade de outras abordagens mais informais ao espaço sagrado. Por fim, a realização efémera do “modelo 1+1”, portanto à escala natural, de um projeto de um Clube de Golfe não construído de Mies van der Rohe, de Robdrecht en Daem, expõe a sacralidade espacial da criação arquitetónica dos mestres modernos.  1 Ver Luís Santiago Baptista. «Silêncios Espaciais: Entre as Interpretações Fenomenológicas e Linguísticas». in arq/a #65, Lisboa, Janeiro 2009. 2 Martin Heidegger. «Building, Dwelling, Thinking» (1951). in Neil Leach (edit.), Rethinking Architecture: A Reader in Cultural Theory. London / New York: Routledge, 1997, pp. 102103, tradução livre. 3 Ver entrevista a António Petrov neste número da arqa. 4 Ver Dossier «Sacred Spaces in Profane Buildings» de Matilde Cassani neste número da arqa. 5 Matilde Cassani. «Sacred Interiors in Profane Buildings, 2010», in http://www. matildecassani.com/index/sacred_interiors_in_profane_buildings.html

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INFO Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I – Nº 6 – julho|agosto 2013

Agenda

Eventos realizados

A Ordem dos Arquitectos de Angola tem em agenda para o próximo trimestre uma série de debates de arquitetura e urbanismo, denominado TERTÚLIAS.

Congregar os arquitetos e urbanistas, debater e propor soluções, criar uma base de soluções e colocá-las à disposição da sociedade são os objetivos principais desta série de debates.

A mobilidade urbana e o crescimento das cidades, são os primeiros temas agendados para debate.

A direção do novo elenco da Ordem dos Arquitectos de Angola - OA, nomeadamente Victor Leonel (presidente), Manuel Elias de Carvalho (Vice-Presidente) e Celestino Chitonho (Secretário Geral), esteve de 27 a 30 de Junho em Cabo verde, na cidade da Praia, e assistiu à tomada de posse do novo elenco da Ordem dos Arquitectos de Cabo Verde – OAC, a convite desta. A mesma viagem possibilitou ainda a troca de experiências entre as duas Ordens, que preparam para breve um protocolo de cooperação nas mais diversas áreas de atuação. �� como património mundial pela UNESCO.

Opinião

“ESSE TAL CRESCIMENTO” JÁ SOMOS QUASE OITO MILHÕES E NÃO PARAMOS DE CRESCER! ��

�� (Estratos publicação www.macauhub.com.mo NOTICIAS 2013.03.28) �� Wilfred Figueiredo, ��

Legislação SECÇÃO II

ASSEMBLEIA GERAL DA ORDEM ARTIGO 21 Composição e competência ��

ARTIGO 22 Reuniões da Assembleia Geral ��

Ordem dos Arquitectos de Angola ��

ordemdosarquitectosdeangola@yahoo.com

Projecto Nova Vida �� AVG – TRANSPORTE �� Morada Cacuaco – Nova Urbanização Telefone�� E-mail avg-transportes@yahoo.com �� Transportes & comércio

Ponto de referência Autoestrada, junto do Instituto Superior Kangoju (ISKA) ou da loja do Hawetu

In/Outdoors

Eﬁciência Energética

Fachada Eﬁciente da Technal

In/Outdoors

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Melhorias térmicas. Dada a atual tendência do mercado português para a recuperação dos edifícios, a Navarra tem melhorado e desenvolvido novos sistemas de alumínio, apresentando ao mercado sistemas altamente funcionais e adaptados às atuais exigências. Para uma melhoria do desempenho térmico dos sistemas, a Navarra propõe para os sistemas de batente, com rutura de ponte térmica n14 200, o n14 300 bieco e para o sistema de folha oculta, n14 300, a colocação de um perﬁl de isolamento na zona interior onde está cravada a rutura térmica, permitindo alcançar resultados signiﬁcativos no isolamento térmico destes sistemas. É uma excelente opção para quem pretende obter melhores resultados térmicos.

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Como especialista global em gestão de energia, a Schneider Electric tem transportado ao longo destes 177 anos de história internacional, um legado de inovação, desenvolvimento e responsabilidade corporativa. Ao longo destes anos, a empresa tem contribuído para a transformação das mais variadas indústrias. Actualmente, mais de 140.000 colaboradores em 100 países trabalham diariamente em prol de um objectivo comum: ajudar as pessoas a fazer mais com a sua energia. Tendo como premissa base o desenvolvimento do negócio sustentável, a Schneider Electric disponibiliza soluções eﬁcientes, inteligentes e sustentáveis para diferentes mercados (Construção Residencial, Terciário, Indústria, Infra-estruturas e Centros de Dados).

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In/Outdoors

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A Soleal é uma janela de correr universal com formas simples, presença discreta de elementos de manobra e lâminas de reforço com estética minimalista. As suas elevadas dimensões (até 4,3m x 2,6m em caixilhos de 2 folhas com prumos de grande inércia e com um peso máximo de 200kg por folha) permitem um melhor aproveitamento solar. Esta janela possui excelentes prestações térmicas, de estanquidade e acústicas, respondendo desta forma à evolução do mercado. Destacam-se as suas múltiplas aplicações em obra (2 a 4 carris, conjuntos compostos e possibilidade de correr para dentro da parede até 3 carris). As suas aplicações estão disponíveis com drenagem oculta e com/sem soleira para Pessoas com Mobilidade Reduzida.

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NEWS

atualidades

Foto: Italo Rondinella

Foto: Paolo Utimperger

PAULA MELÂNEO|apmelaneo@gmail.com

Leão de Ouro da 55ª Bienal de Arte de Veneza para Angola A Bienal de Arte de Veneza 2013 tem o tema “O Palácio Enciclopédico” e curadoria de Massimiliano Gioni. Reunindo obras de 150 artistas de 38 países no Arsenale e no Giardini, conta também com 88 participações nacionais. Destas, 10 são novas participações, como é o caso do Pavilhão de Angola, com curadoria de Beyond Entropy (Paula Nascimento e Stefano Rabolli Pansera). Este foi o grande vencedor do Leão de Ouro para a Melhor Participação Nacional, com a exposição de fotografia de Edson Chagas. Os curadores propõem uma reflexão sobre a urbanidade num trabalho conjunto com Edson Chagas, onde Luanda é o foco das 23 imagens apresentadas. Questiona-se “como pode o conhecimento de uma cidade ser organizado através de uma taxonomia dos seus espaços?”. “Found, Not Taken” a série a que pertencem as fotografias, representa objetos comuns abandonados e reposicionados noutros contextos, criando novas narrativas, relações urbanas e formas de experienciar o espaço. As fotografias são impressas em milhares de cartazes empilhados sobre paletes de madeira no chão. Podendo ser recolhidos pelos visitantes numa obra é facilmente apropriada pelo público - que pode criar a sua própria enciclopédia urbana de Luanda ou catálogo personalizado da exposição. Há um interessante diálogo entre a obra e o espaço expositivo: a trivialidade dos objetos fotografados e a simplicidade expositiva contrasta com a exuberância do renascentista Palácio Cini e das peças que expõe em permanência. Quanto às outras distinções, o Leão de Ouro para melhor artista da Exposição Internacional “O Palácio Enciclopédico” foi atribuído a Tino Sehgal e o Leão de Prata para jovem artista emergente coube a Camille Henrot. As distinções de carreira, foram para Maria Lassnig e Marisa Merz. Outros países lusófonos marcam também presença este ano: Portugal com a instalação Trafaria Praia, um barco atracado no canal, obra da artista Joana Vasconcelos, e o Brasil com Inside/Outside uma coletiva com trabalhos de Hélio Fervenza, Odires Mlászho, Lygia Clark, Max Bill e Bruno Munari. Este ano, a 55ª edição da Bienal de Arte de Veneza, estará de portas abertas até 24 de Novembro. www.labiennale.org

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NEWS

atualidades

1º Arquiteturas Film Festival Lisboa Com abertura marcada para setembro, este será o primeiro festival internacional ibérico de filmes documentais e ficcionais sobre arquitetura. O Festival foi criado com o intuito de dar a conhecer novos talentos portugueses e projetos nacionais e internacionais dedicados ao tema, na perspectiva da imagem em movimento. É um desafio que se pretende interdisciplinar e aberto, onde uma ampla seleção mundial de filmes será apresentada, explorando as relações entre a produção audiovisual e a arquitetura. A organização lançou o convite: “temos o prazer de convidar realizadores, produtores de cinema, estudantes, profissionais de arquitetura e film makers em geral, de todas as nacionalidades, para nos enviarem filmes de sua autoria capazes de mostrar uma perspectiva única relativa ao cruzamento da arquitectura com o cinema: documentários ou ficção, curtas ou longas-metragens, animação ou experimental; em tom formal ou informal, sério ou humorístico; que já tenham ganho prémios em festivais ou que tenham acabado de sair da handy-cam.” As inscrições, abertas até ao dia 1 de agosto, contam até à data

com cerca de 50 filmes de 16 países (EUA, França, Itália, Filândia, Coreia, Brasil, Portugal, Espanha, México, Chile, Rússia, Suíça, Alemanha, Holanda e Dinamarca). No Festival vão ser atribuídos 5 prémios: para Melhor Longa Metragem; Melhor Curta Metragem; Lusofonia e Novos Talentos. O júri conta com os realizadores Manuel Mozos (PT) e Guy Edmonds (UK), a produtora Joana Ferreira (PT) e os críticos e curadores de arquitetura Marco Brizzi

(IT) e Pedro Gadanho (PT). Os filmes distinguidos pelo júri irão depois integrar um circuito itinerante que passará por várias cidades portuguesas e por outros festivais de cinema de arquitetura parceiros, nomeadamente os de Nova Iorque, Santiago do Chile e Roterdão. Esta 1ª edição do Arquiteturas Film Festival decorrerá no Cinema City Classic Alvalade entre 26 e 29 de setembro, 2013. www.doyoumeanarchitecture.com

1. Espaço Transmissor do Túmulo/Dolmen Megalítico de Seró, Lleida, projeto de Toni Gironés Saderra. 2. Escola Básica e Secundária de Sever do Vouga, projeto de Pedro Domingos. 3. Teatro La Lira de Ripoll, em Girona, projeto de Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta.

NEWS

atualidades

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Foto: Fotògraf: Eugeni Pons, Hisao Suzuki

Foto: FG+SG

A obra do português Pedro Domingos da Escola Básica e Secundária de Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, foi a vencedora ex-equo, na categoria Arquitetura, com o Espaço Transmissor do Túmulo/Dolmen Megalítico de Seró, em Lleida, do espanhol Toni Gironés Saderra. Os Prémios FAD são uma iniciativa de âmbito ibérico, abrangendo Portugal, Espanha e ilhas dos dois países. As categorias analisadas pelo júri são: Arquitetura, Interiorismo, Cidade e Paisagem e Intervenções Efémeras. O júri desta 55ª edição, presidido por Dani Freixes, e composto por Eulàlia Aran, Jordi Farrando, Eva Prats, Nuno Sampaio e Maier Velez, avaliou 401 projetos de arquitetura e interiores propostos. Foram selecionados 27 finalistas, entre os quais 6 eram projetos portugueses - o Teatro Thalia, de Gonçalo Byrne + BarbasLopes, (Lisboa), a remodelação da sede do Banco de Portugal, de Gonçalo Byrne + Falcão de Campos, (Lisboa), e o edifício vencedor, na categoria de arquitetura; o Centro Interpretativo do Mosteiro da Batalha, de Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos, na categoria de interiores; Ledscape de LIKEarchitects e Montanha Agricultural, em Veiga de Creixomil, de Nuno Cruz, Bruno Gomes e António Lopes (Braga), na categoria de intervenções efémeras. Quanto aos outros Prémios FAD, na categoria de Interiorismo foi atribuído ao projeto de recuperação do Giardinetto, em Barcelona, de Ivan Pomés Leiz e Max Llamazares Viaña; em Cidade e Paisagem foi premiado o Teatro La Lira de Ripoll, em Girona, de Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilalta, e como Intervenções Efémeras foi distinguida a Fábrica e Armazém dos Reis Magos, em Fabra I Coats, em Barcelona, de Xavi Bayona. Este ano foi criada a categoria de Pensamento e Crítica e o júri selecionou as obras “Estratégias operativas em arquitetura”, de Jacobo Garcia e Germán Vasquez, “O Jardim em Movimento”, de Gilles Clément, e “Plan Poché”, de Raúl Castellanos Gómez. www.arquinfad.org

Foto: A. Estévez, A. Cayuelas, T. Gironés

Escola de Sever do Vouga recebe Prémio FAD 2013

ENTREVISTA

arquitetura

Lugares Sagrados Perspetivas Críticas

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO

Contexts, o objetivo é começar a considerar o papel dos edifícios sagrados nas cidades atuais. Numa parte do mundo, onde a interseção das tradições religiosas tem sempre estado no centro, tanto de conflitos como da identidade cultural, a importância de locais religiosos na configuração da vida social é crítica. A rápida transformação urbana da região do Golfo Pérsico não tem basicamente precedentes no mundo contemporâneo. Este desenvolvimento de grande escala, combinado com os recentes episódios revolucionários no Médio Oriente, provocou debates vigorosos sobre o papel do espaço público e das identidades culturais dentro da cidade árabe contemporânea. Assim, há uma necessidade premente de discussões que examinem assuntos de memória cultural, a importância das tipologias urbanas tradicionais como a mesquita, a meydan, e a madrasa e o papel politicamente pesado da religião e dos rituais dentro da cidade contemporânea.

Karla Britton

Professora Yale School of Architecture, Autora Constructing the Ineffable: Contemporary Sacred Architecture, Diretora do Berkeley Center Yale

Foto: Andreas Praefcke, GNU Free documentation license

arqa: Tendo em conta a sua investigação sobre o espaço sagrado e o seu livro Constructing the Ineffable: Contemporary Sacred Architecture e o atual livro em projeto Middle Ground/ Middle East: Religious Sites in Urban Contexts, em que sentido lhe interessa especificamente a questão do sagrado em arquitetura? KB: O livro, Constructing the Ineffable: Contemporary sacred Architecture, foca essencialmente duas questões: primeiro, o que consideramos sagrado atualmente e, segundo, como o exprimimos, em forma de construção? No livro, estas questões foram exploradas a partir de várias perspetivas. O paradoxo de tentar conceder expressão construída – expressão material – a algo que não se consegue descrever facilmente, é também abordado. Estava especificamente interessada em iniciar a investigação com o conceito de Le Corbusier de espaço “inefável” – em relação com o seu projeto de edifícios religiosos – para tentar colocar esta discussão em terreno mais firme. Dado o número considerável de recursos que temos disponíveis sobre o pensamento e método de Le Corbusier, temos um forte ponto de partida para abordar a construção religiosa sagrada e moderna. A complexidade do trabalho sagrado de Le Corbusier, com a sua mistura de elementos sagrados e profanos, combinados com o seu sentido de vocação do arquiteto, como análoga à vocação religiosa, continua latente nos debates de arquitetura moderna recente e contemporânea sobre a construção religiosa no ocidente. Por estes motivos, o seu exemplo fornece-nos um contexto especialmente rico para uma discussão académica sobre um espaço religioso moderno. Com o projeto do livro Middle Ground / Middle East: Religious Sites in Urban

Catedral Our Lady of the Angels, Los Angeles, Califórnia, arquitetura de Rafael Moneo.

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arqa: Em tempos de secularização das sociedades ocidentais contemporâneas, qual o campo de uma arquitetura sagrada? KB: Houve uma altura em que se assumia que a convergência do desenvolvimento económico global, do avanço da educação e a liberalização política iria inevitavelmente avançar por todo o mundo, dando origem a sociedades cada vez mais secularizadas. No entanto, as conclusões desta “hipótese de secularização” acabaram por ter menos peso do que o que se pensava. O filósofo Jürgen Habermas, por exemplo, fala agora claramente de uma era “pós secular”, onde a contínua e mesmo restaurada força dos compromissos religiosos molda as identidades culturais de um modo antes inesperado. De facto, a assertividade das identidades religiosas é, de muitas formas, uma reação às assunções da secularização: face a uma “deslocalização” trazida por uma sociedade global massificada, a religião cria uma forma de reclamar a particularidade da identidade. Paralelamente a este desenvolvimento societário podemos também descrever o ressurgimento da construção religiosa – desde as grandes mesquitas do Médio Oriente, aos novos projetos urbanos de grande escala, como as catedrais na Europa e na América do Norte, aos edifícios religiosos representativos das afiliações religiosas das populações imigrantes, em muitas partes do mundo. A variedade de projetos deu aos arquitetos contemporâneos uma grande oportunidade de explorações inovadoras da forma arquitetónica, não só no sentido religioso, mas também no sentido formal e tecnológico. Por outro lado, o arquiteto Peter Eisenman ao projetar por exemplo o Memorial aos Judeus Assassinados na Europa, em Berlim, quis intencionalmente evitar o reino do simbolismo ou figuração, escolhendo ao invés procurar evocar uma experiência de estar “perdido no espaço”. Ao fazê-lo, Eisenman levanta a questão “Haverá um espaço religioso no século XXI?”. Uma tal intenção levanta outra questão interessante: pode o “inefável” ser evocado por uma opacidade deliberada que se recusa envolver tempo e espaço? Deveria acrescentar-se que o sagrado está, em muitos níveis, onde o criamos, o que significa que não está confinado a espaços religiosamente definidos – embora também não seja exclusivo destes espaços ou edifícios. Por exemplo, no livro menciono os memoriais

Poderíamos afirmar que o desafio intimidante encarado por muitos arquitetos na atualidade, reside no facto de que para que os edifícios religiosos sejam afetivos devem não só ser representativos da tradição religiosa, na qual têm origem, mas ao mesmo tempo, incluir uma crítica mais universal da materialidade da cultura pós-moderna que transcende qualquer tradição específica. Karla Britton

Foto: Crazy Zoc, Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0

Memorial aos Judeus Assassinados na Europa, Berlim, Alemanha, arquitetura de Peter Eisenman.

improvisados que surgiram um pouco por toda Nova Iorque, a seguir aos eventos de 11 de Setembro de 2001. Em alguns casos, estavam na rua, sem qualquer contexto aparente excepto o da comunidade que estava ela própria nas ruas, a tentar lidar com a sua perda e desorientação. Noutros casos, a improvisação teve lugar em espaços religiosamente reconhecidos (como a Capela de São Paulo, perto das Torres Gémeas), aos quais, para quem entra, foi dado um significado totalmente novo. À primeira vista, estes “memoriais” foram o resultado de um conjunto inteiramente aleatório e imprevisível de expressões de uma multitude de indivíduos; numa segunda instância tratou-se na realidade de uma recodificação do significado espiritual de um espaço existente, de modo a refletir a urgência do momento. Em ambos os casos, poderíamos observar uma possibilidade mais depurada na sua rápida inovação, sobre como o

significado religioso é criado por atos únicos e singulares de indivíduos, que se assimilam gradualmente para perfazer uma rede mais ampla de significado. arqa: No âmbito das suas valências profissionais e disciplinares, qual o papel do arquiteto na construção dos lugares sagrados? KB: Penso que a forma como o arquiteto catalão Rafael Moneo descreve o desafio para o arquiteto “arriscar” uma visão do sagrado numa esfera pública pluralista é uma ferramenta de enquadramento, especialmente útil para falar dos desafios consideráveis que a construção religiosa apresenta para muitos arquitetos contemporâneos. Poderíamos afirmar que o desafio intimidante encarado por muitos arquitetos na atualidade, reside no facto de que para que os edifícios religiosos sejam afetivos devem não só ser

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PROJETOS

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Foto: Augusto Brázio

Foto: Stefano Goldberg

biografias

RENZO PIANO nasceu em Génova, em 1937, numa família de construtores, desenvolvendo fortes ligações com a cidade e o porto e com a profissão do seu pai. Após a licenciatura no Politécnico de Milão, iniciou experiências com estruturas leves, móveis e temporárias. Entre 1965 e 1970 fez diversas viagens à Grã-Bretanha e EUA. Em 1971, abriu o escritório Piano & Rogers em Londres, com Richard Rogers, vencedor do concurso para o Centro Pompidou. Nesta sequência mudou-se para Paris. Desde início dos anos 70 até aos 90, trabalhou com o engenheiro Peter Rice, partilhando o Atelier Piano & Rice de 1977 a 1981. Em 1981, estabeleceu o Renzo Piano Building Workshop com cerca de 150 colaboradores e escritórios em Paris, Génova e Nova Iorque. www.rpbw.com

EDUARDO SOUTO DE MOURA nasceu no Porto, em 1952. É licenciado em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1980. Em 1974 colaborou com o arquiteto Noé Dinis, entre 1975 e 1979 com o arquiteto Álvaro Siza Vieira e depois com o arquiteto Fernandes de Sá, dando início à sua atividade como profissional liberal em 1980. De 1981 a 1991 foi Professor Assistente do curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e tem também lecionado, enquanto Professor convidado, em Paris-Belleville, Harvard, Dublin, Zurich e Lausanne. Souto de Moura e a sua obra têm sido distiguidos com alguns dos galardões mais importantes na área da arquitetura, p.e. com o Prémio Pritzker, em 2011.

ROSETA VAZ MONTEIRO foi fundado em 2001 por Filipa Roseta e Francisco Vaz Monteiro, arquitetos licenciados pela FAUTL. Tem realizado diversos projetos de reabilitação e construção de novos edifícios, respondendo a diferentes programas, como a Igreja da Boa Nova, distinguida com o primeiro lugar no “Abitare il Mediterraneo” (Junho 2013). Roseta é doutorada pelo Royal College of Art de Londres em 2009, com a tese “A Avenida Moderna”. Sobre este tema publicou diversos artigos e é co-autora/co-editora de 2 livros. É Professora Auxiliar do departamento de Projeto da FAUTL. Vaz Monteiro colaborou com Foster+Partners, participando em projetos de grande escala. Foi coordenador de projeto da World Monuments Fund – Portugal. www.rosetavazmonteiro.com

ROBBRECHT AND DAEM foi fundado em 1975 por Paul Robbrecht en Hilde Daem, explorando a relação entre arquitetura e artes visuais. Têm projetado edifícios para artes performativas, música, científicos ou técnicos, onde a sua arquitetura pretende uma posição contemporânea e humana. Desenvolveram também projetos de grande escala urbana e paisagística, como a integração urbana de Oosterweelconnection, para fechar o círculo em torno de Antuérpia. Robbrecht en Daem architecten foi distinguido com diversos prémios, entre os quais o Flemish Cultural Prize for Architecture, em 1997 (com M-J Van Hee); em 2008 o International Klippan Award para o pequeno Concert Hall em Gaasbeek e, em 2009 foram distinguidos pela RIBA (Royal Institute of British Architects). www.robbrechtendaem.com

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Foto: Ai Weiwei

1 DELLEKAMP ARQUITECTOS é o atelier de Derek Dellekamp. Desenvolve projetos através de uma rigorosa metodologia de investigação, estudando cuidadosamnete cada caso para encontrar soluções precisas para as distintas realidades. Interessam-se pela contínua investigação arquitetónica, como laboratório de ideias que possa nutrir a sua atividade, envolvendo-se na docência, na investigação, publicações, bienais e exposições. www.dellekamparq.com 2 PERIFÉRICA é o estúdio de Rozana Montiel. Tem uma visão internacional, desenvolvendo uma sólida plataforma de investigação interdisciplinar dirigida à urbanização, ao espaço público, à arquitetura social, à experimentação arquitetónica e a reconceptualização artística do espaço. O seu trabalho foca-se na recuperação, reutilização, reciclagem, reinterpretação e redefinição do espaço arquitetónico. www.perifericaarquitectura.com 3 FAKE DEISGN é o atelier de Ai Weiwei, artista chinês, autor de projetos arquitetónicos, comentador e ativista social. Em colaboração com Herzog & de Meuron, desenhou o Serpentine Pavilion 2012, em Londres. Entre os numerosos prémios e distinções que recebeu estão o Prémio Václav Havel para Dissidência Criativa 2012, da Fundação de Direitos Humanos, tendo sido eleito como Académico Honorário da Royal Academy of Arts de Londres, em 2011. www.aiweiwei.com 4 ELEMENTAL foi fundado por Alejandro Aravena em 2006. Comprometem-se com a inovação e desenvolvimento de projetos urbanos de interesse público e impacto social, trabalham na implementação de melhores bairros, habitação e equipamento urbano, como um mecanismo para o desenvolvimento, quebrando o círculo vicioso da desigualdade nas cidades. Através da operação com as políticas públicas standard,

RODRIGO PEREIRA LUNA é um jovem arquiteto licenciado com distinção, em 2012, pela Universidade de Talca, no Chile. Nascido na pequena cidade de Cauquenes, em 1986, no ano de 2005, decide emigrar da sua cidade para iniciar os estudos de arquitetura. Este percurso culmina com o projeto “Capilla de Aire”. O projeto da capela posiciona-se e projeta-se devido ao que chama desafios pessoais, onde põe à prova a sensibilidade e a técnica, para satisfazer as necessidades do ser humano, na sua dualidade física e espiritual, no que respeita à sociedade e ao meio ambiente. www.capilladeaire.wordpress.com

8 garantem a reprodutibilidade dos seus projetos. www.elementalchile.cl 5 HHF ARCHITECTS foi fundado em 2003 por Tilo Herlach, Simon Hartmann e Simon Frommenwiler. Desde então realizaram projetos na Suíça, Alemanha, China, México, França e EUA. Desde o início aspiram colaborar com outros arquitetos, artistas e especialistas a fim de ampliar a visão do projeto e enriquecer a qualidade de uma proposta específica. www.hhf.ch 6 LUIS ALDRETE ARQUITECTOS foi fundado por Luis Aldrete, em 2007, em Guadalajara, no México. A sua prática desenvolve-se em todo o país, mas também na Europa e Estados Unidos. Desde 2003 participa em diversas exposições e bienais de arquitetura. Em 2011, o projeto dos Abrigos da Ruta del Peregrino passa a fazer parte da coleção de arquitetura do Centre Pompidou de Paris, França. www.luisaldrete.com 7 TATIANA BILBAO funda o seu estúdio em 2004. Tem projetos na China, Espanha, França e México. O estúdio trabalha com o meio ambiente, materiais, mão de obra e técnicas circundantes, abrindo canais de comunicação entre os diversos setores sociais, numa tentativa de entender o mundo e traduzir os seus códigos rígidos em arquitetura. www.tatianabilbao.com 8 CHRIST & GANTENBEIN foi criado por Emanuel Christ e Christoph Gantenbein, em 1998. Junto com os seus 6 associados Mona Farag, Julia Tobler, Tabea Lachenmann, Anna Flückiger, Michael Bertschmann, Victoria Easton e uma equipa de 35 arquitetos, trabalham numa ampla gama de projetos: desde encomenda privada, reabilitação de edifícios históricos em habitação, edifícios de escritórios e pontes, até projetos urbanos de grande escala. www.christgantenbein.com

WODICZKO+BONDER é uma parceria entre o arquiteto Julian Bonder e o artista Krzysztof Wodiczko que se iniciou em 2003. Os parceiros desenvolvem projetos de arte e design que envolvem o espaço público e levantam questões realcionadas com a memória social, sobrevivência, luta e emancipação, ligada à violência urbana e doméstica, guerra, imigração, deslocamento global e genocídios. Bonder é arquiteto principal de Julian Bonder + Associates, em Cambridge, e professor de arquitetura na Roger Williams University e Wodiczko, na Harvard Graduate School of Design. www.wodiczkobonder.com www.bonderarch.com

KISTER SCHEITHAUSER GROSS é um atelier de arquitetura e urbanismo cujo interesse o discurso aprofundado sobre local e tipologia. Transformam visões abstratas em arquitetura que fortalece o contexto e o sítio. Kister Scheithauer & Partner é a origem deste atelier, e foi fundado por Prof. Johannes Kister e Reinhard Scheithauer em 1992. Em 1997 Prof. Susanne Gross integra a equipa. Em 2008 Steffen Kühn e Eric Mertens tornam-se também sócios. Contam hoje com cerca de 50 pessoas e o escritório divode-se em duas localizações, em Colónia e Leipzig, na Alemanha. www.ksg-architekten.de

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PROJETOS

Bélgica

Eduardo Souto de Moura + SumProject Crematório “Uitzicht” em Kortrijk

Arquitetura: Eduardo Souto de Moura e SumProject Colaboração: Sílvia Alves, André Campos, Marta Pinho, Ana Patrícia Sobral, Manuel Vasconcelos, Carlos Mariano, Mário Ramos, Luís Peixoto, Rúben Sousa; Paul Lievevrouw, Bernard Deconinck, Eran Mordohovich, Jan Kalhöfer. Estruturas: Afaconsult e SumProject Eletricidade e Hidraúlica: Ingenium Instalações Mecânicas (Fornos): Soresma Empreiteiro geral: Furnibo (Veurne) Localização: Ambassadeur Baertlaan 5 Cliente: Psilon – Intergemeentelijke Vereniging voor Crematoriumbeheer in ZuidWest-Vlaanderen Área: 2.000 m² Custo: 4.050.000 € Datas: 2005 (projeto); 2010-2011 (construção) Texto: Eduardo Souto de Moura e SumProject Fotografia: Luís Ferreira Alves

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PROJETOS

França

Renzo Piano

Receção e Mosteiro de Ronchamp

Arquitetura: Renzo Piano Building Workshop, architects com Atelier Corajoud, landscape architects (Paris) Colaboração: P. Vincent (sócio responsável), F. Bolle com N. Boutet, C. Eliard, C. Klipfel, L. Lemoine, N. Meyer, J. Moolhuijzen (sócio), M. Prini, D.Rat, M. Rossato Piano, V. Serafini e A. Olivier, M. Milanese, L. Leroy; O. Aubert, C. Colson, Y. Kyrkos (maquetes) Consultores: SLETEC (estrutura, MEP e controle de custos); M.Harlé (grafismo e sinalética); C. Guinaudeau (plantações); Nunc / L.Piccon (coordenação de projeto); P.Gillmann (coordenação da construção) Cliente: Association Oeuvre Notre-Dame du Haut + Poor Clares (Association Sainte Colette) Data: 2006-2011 Texto: RPBW Fotografia: Michel Denancé, Vitra, Iwan Baan

Projetada por Le Corbusier, a Capela de Notre-Dame du Haut atrai milhares de visitantes e peregrinos todos os anos. O projeto foca-se em fazer o local regressar a uma dimensão mais contemplativa e espiritual com a instalação de uma comunidade de freiras Clarissas, no monte. O âmbito do projeto é criar um ambiente tranquilo, cuja beleza serena e discreta faça sobressair e complemente a capela, realçando em simultâneo as existentes instalações para a receção dos visitantes. Imerso na luxuriante vegetação do monte Bourlemont, o mosteiro é um espaço de “silêncio, oração, paz e alegria”, onde tudo contribui para a contemplação

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espiritual. O projeto inclui três elementos principais: a portaria, o convento e a paisagem. Para realçar as instalações já existentes para os visitantes, a portaria original foi substituída por um edifício mais funcional que contém uma bilheteira, uma loja, um jardim bioclimático e um sala de reuniões, para além dos espaços administrativos. Parte do edifício também é dedicado à pesquisa e conservação dos arquivos. A nova portaria, enquadrada na encosta do monte, funde-se com a paisagem que a rodeia. Tem uma grande fachada de vidro que se abre para a zona de chegada dos visitantes e para o estacionamento. O mosteiro é composto por doze unidades domésticas para as irmãs, com espaços comunitários (refeitório e oficinas), um oratório para peregrinos e alojamento para visitantes em busca de sossego e descanso espiritual. Os quartos são pequenas unidades de betão que são montadas na encosta (2,70m x 2,70m). Estão posicionadas em aglomerados que descem suavemente pela encosta ocidental possibilitando vistas abertas sobre o vale vizinho, estabelecendo assim uma relação com a comunidade. Simples e libertos, cada um tem um jardim de Inverno, um espaço inteiramente dedicado à contemplação. O oratório foi concebido como parte do mosteiro. Posicionado fora do local da capela, está embutido na encosta do monte, criando um espaço harmonioso com a capela e o local. O oratório tenciona ser um espaço de comunhão aberto a peregrinos de todas as comunidades. A paleta de materiais de construção para o complexo, é simples: betão, zinco e madeira para criar um ambiente propício à meditação. A Natureza também tem um papel fundamental no projeto, realçando o aspeto sagrado e remoto do local. A preservação da vegetação e floresta das colinas existentes ajuda a criar uma sensação de unidade e sagrado um pouco por todo o projeto. O projeto foi concebido tendo em consideração todos os procedimentos ambientais possíveis para reduzir o consumo de energia. 

Foto: Iwan Baan

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PROJETOS

Portugal

Roseta Vaz Monteiro Senhora da Boa Nova, Estoril

Arquitetura: Roseta Vaz Monteiro Arquitectos, Lda.- Filipa Roseta e Francisco Vaz Monteiro Colaboração: Maria Inês Fontoura, Bruno Almeida, Patrícia Duarte, Luís Mateus (consultor Geometria). Fundações e Estrutura: J.L.Câncio Martins Projectos de Estruturas, Lda Águas, Esgotos e Gás: Ductos, Sociedade de Projectos de Engenharia, Lda. Instalações Elétricas, Comunicações, Segurança contra Incêndios, Inst. Ar Condicionado e Ventilação/Aquecimento, e Térmica: Joule, Lda Acústica: Engenharia de Acústica e Ambiente, Lda Construção: Edifer Dono de Obra: Centro Paroquial do Estoril Data: 2009-2010 Texto: Roseta Vaz Monteiro Arquitectos Fotografia: João Morgado

proj. 6

1. Projectar a cidade O nome do lugar era “Fim do Mundo”. Era um dos últimos bairros-delata do concelho de Cascais. A paróquia do Estoril, que dava apoio à população do bairro, ofereceu-se para promover a transformação do lugar. O programa foi determinado através de um longo processo participativo, envolvendo a comunidade local. No final do processo, o programa incluía quatro vertentes funcionais: uma igreja, um centro comunitário, uma escola primária e um auditório. A comunidade definiu ainda um objectivo fundamental: a criação de uma nova identidade física e social, capaz de resgatar o lugar do estigma negativo que o marcava há décadas. Hoje, o Fim do Mundo é conhecido como Senhora da Boa Nova. 2. Projectar o sagrado Os elementos estruturantes do conjunto são dois vazios: o pátio, lugar de encontro da comunidade; e a nave da igreja, espaço sagrado apresentando aquilo que não pode ser apresentado. O pátio abre para a envolvente, articulando o contexto urbano com vistas distantes proporcionadas pelo declive do terreno a poente. A nave é um espaço introspectivo, infinito e irrepresentável. A planta elíptica da nave sugere um sentido de comunidade e um convite à participação. Os vãos são profundos, trazendo para a nave uma iluminação natural indirecta, que distancia o espaço interior da envolvente urbana. As paredes exteriores da Igreja curvam-se, apresentando para a cidade um objecto antropomórfico que encerra dentro de si o introspectivo, infinito e irrepresentável vazio. 

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ImplantaĂ§ĂŁo

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ARTES

diálogo

A sagração do White Cube A persistência de um modelo moderno

SANDRA VIEIRA JÜRGENS|sandravieirajurgens@gmail.com

Em meados do século XX, o White Cube tornar-se-ia a configuração paradigmática universal dos museus e espaços expositivos.

Foto: Bill Jacobson

Foi sobretudo a partir da reforma do Staatliche Museum de Amesterdão nos anos cinquenta, um edifício de tijolos repintado por completo de branco que se popularizou a ideia de que os espaços de arte contemporânea deviam ter paredes brancas num estilo uniformizado e neutro. A formulação expositiva do sistema do “cubo branco”, assente na autonomia da obra de arte e na transcendência de espaço e do lugar, era aquela que melhor estabelecia a linha divisória entre o espaço da arte e o mundo externo, o resto da realidade. Os espaços neutros dos museus e das galerias subtraíam e distanciavam a obra de arte da vida e do quotidiano a fim de permitir a perceção ascética do trabalho artístico e propiciavam um ambiente sacralizado totalmente adequado a uma experiência da arte que era tributária de uma qualidade atemporal, transcendente. Este era essencialmente um espaço discreto, diferenciado e distante dos contextos de localização, das comunidades, do reboliço e dos apelos visuais da cultura popular e urbana das cidades. Brian O’Doherty foi o autor que melhor retratou a ideologia do espaço expositivo neutro. Em Inside the White Cube: The Ideology of the Gallery Space, trabalho publicado pela revista Artforum, já em 19761, e mais tarde editado em livro, abordou profundamente as características deste modelo espacial, sereno, assético da arquitetura moderna clássica, de paredes pintadas de branco com luz vinda do teto, preferencialmente sem interferências do ambiente e luz exterior. Paralelamente, desde os anos sessenta esse modelo foi muito questionado. Em oposição a ele surgem projetos, formatos e estruturas Anti White Cube que respondiam a uma necessidade de desenvolvimento de propostas que

respeitassem o genius loqui, o espírito de cada sítio. Emergem espaços de arte diferenciados e novos dispositivos de instalação que não encontravam espaço de exibição no modelo White Cube dos museus e das galerias – intervenções desenvolvidas segundo a noção de site specifity, no contexto da instalação, práticas que dialogam com um determinado espaço e com o meio circundante e que exploram o vínculo com os lugares e os contextos específicos em que são criadas, envolvendo portanto a relação entre materiais, conceitos, ações e localizações –, e cuja carga identitária era afirmada como resposta à uniformização e padronização do edifícios e dos espaços expositivos. Esta continua a ser uma tendência em desenvolvimento. Desde há algum tempo há museus que procuram, em detrimento de edifícios construídos de raiz, instalar-se em equipamentos com condições espaciais e formatos diferentes desse modelo universal e disseminaram-se as fábricas desativadas transformadas em centros de arte. Hoje são já muitos os museus que ocupam espaços singulares e com uma personalidade inconfundível em antigas estruturas fabris, procurando com isso uma resposta à uniformização da globalização. Por exemplo, a Tate Modern de Londres foi instalada na antiga central elétrica de Bankside, no distrito de Southwark, às margens do Tâmisa. A fábrica, projetada pelo arquiteto Sir Giles Gilbert Scott e construída em duas fases, entre 1947 e 1963, foi desativada em 1981 e o edifício foi reconvertido no atual museu pela dupla de suíços Herzog & de Meuron, abrindo ao público em 2000. Tendo sofrido várias ampliações, a última foi a abertura da Tate Tanks (2012), um espaço subterrâneo que, como o nome indica, era o local onde se situavam os tanques da central elétrica, agora convertidos num elegante espaço para os artistas mostrarem trabalhos nos domínios da

Imi Knoebel, 24 Colors – for Blinky, 1977. Vista da instalação no Dia:Beacon, Beacon, Nova Iorque. Cortesia: Dia Art Foundation, NY.

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Dan Flavin, série “monuments” for V. Tatlin, várias datas (1964-1981), e untitled, 1970. Instalação no Dia:Beacon, Beacon, Nova Iorque. Cortesia: Dia Art Foundation.

Foto: Mรกrio Martins

em cima: Guggenheim, Nova Iorque. em baixo: The Tanks - Tate Modern. Cortesia: Tate Photography

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Novidades

NEWS

marketing

Novas Coleções, Novas Gamas 2013

MARIA RODRIGUES | mrodrigues@revarqa.com CARMEN FIGUEIREDO | cfigueiredo@revarqa.com

Love Tiles e Margres

BauClic SPECIAL – Carvalho Cinza Escuro

Listor Recentemente, a Listor apresentou mais novidades em pavimentos flutuantes. Da marca Quick-Step, pioneira em muitas das inovações presentes neste mercado, destacamos a nova linha de pavimentos em vinil, a nova Colecção Livyn - 100% resistentes à água, disponíveis numa variada paleta de décors onde se destacam os carvalhos com diversos acabamentos e cores, assim como a nogueira e o merbau, que nos conferem a sensação de conforto e bem estar tão característico dos pavimentos em madeira. Estes pavimentos são ideais para casas de banho e cozinhas onde se procura cada vez mais a versatilidade e o conforto. Ainda em vinil, outra novidade apresentada da marca BauClic são os pavimentos gamas SPECIAL para uso residencial e PROJECT para uso comercial - réguas com 1316mm x 191mm e 4,5mm de espessura são ideais para projetos de remodelação de interiores, fáceis e rápidas de instalar com o sistema de encaixe click, sem cola. Para mais informações, contacte: Goréti Tavares – Departamento de Marketing Listor goreti.tavares@listor.pt – www.listor.pt

Quick-Step LIVYN – Nogueira Cinza

Reabriu recentemente o Showroom Love Tiles e Margres, no Parque das Nações. Foi apresentado o espaço da Love Tiles renovado por Catarina Batista com as coleções 2013 Villa, Fusion e Parfum, bem como o espaço da Margres projetado por Pedro Mourão com as novas coleções Share, Time 2.0, Linea Party e Linea WalLine. Paralelamente à reabertura, foi promovida a Conferência “Desafios da Arquitectura e Decoração Contemporânea” com a participação de NLA – Nuno Leónidas Arquitectos e NL Decoração - Arquitectura de Interiores - Nini Andrade Silva Atelier. Esta conferência reuniu oradores de renome num espaço também ele de referência: o recentemente inaugurado Hotel Sana Myriad. www.lovetiles.com /www.margres.com

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FOTOGRAFIA

arquitetura

Igreja Nª Srª das Necessidades, Leiria Arquitetura: Célia Faria e Inês Cortesão

FERNANDO GUERRA - FG+SG | www.ultimasreportagens.com

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SACRED SPACES IN PROFANE BUILDINGS A project by: Matilde Cassani Book editor: Demian Bern EXP. Edition www.matildecassani.com www.sacredspacesinprofanebuildings.com The quality and form of the sacred space in contemporary Western cities have completely changed so as regulatory requirements related to the need to move from a mono-religious city to a pluralist one. The research “Sacred Spaces in Profane Buildings” attempts to describe the nascence of religious architecture and communities, becoming manifest in the contemporary urban context. It is a transversal investigation of architectures, policies and the multitude of individual acts through which each religion inhabits and transforms the contemporary city. In this context, most contemporary Western cities, reveal a partial image of their religious landscape. From the urban point of view, they either provide an illusion of secularity (by identifying sacred spaces as “community centers”) with regard to new religious constructions or present existing religious buildings prominently as historical artifacts. New religious manifestations through architectural or urban interventions are contested and building permission is only easily obtained in the spaces of uncharted periphery. Yet, religious spaces exist in the very center of each community. The architectural improvisations that respond to the increased demand of sacred space constitute the subject of these pages.

1. April 8, Baisakhi Feast, Novellara, Reggio Emilia, Italy. Vaisakhi, also known as Baisakhi, Vaishakhi, or Vasakhi is a festival celebrated across the northern Indian subcontinent, especially in the Punjab region by the Sikh community. More recently, this festival is also celebrated around the world by the Sikh �� of the fact that on the Vaisakhi Day in the year 1699, the 10th Guru of the Sikhs, Guru Gobind Singh laid down the foundation of the Panth Khalsa, that is the Order of the Pure Ones. This day is also observed as the Thanksgiving day by the farmers whereby the farmers pay their tribute, thanking God for the abundant harvest and also praying for the future prosperity. Novellara, a small village, is home for a lot of recent immigrants in Italy, who are increasingly doing agricultural work on farms, especially in the dairy farms that produce milk for Parmesan cheese and accommodates many different religious groups and �� The Sikhs in the Italian territory are a well-established and rapidly expanding community. The temple has played a fundamental importance in characterizing the Indian migration to the North of the country. As a demonstration, every year, the village plays host to a huge Sikh harvest festival, the Vaisakhi feast . Sikhs from all over Central Europe congregate in Novellara for this event. The festivity involves the all city from the main square to the local stadium, to the local periphery, were the new huge Gurdwara is standing, in the middle of the industrial area of the town.

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