Revista arqa #109

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Portugal Escolar

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Ano XIV – setembro|outubro 2013 €11,00 (continente) – 2 600 Kwanzas (Angola)

ARQUITETURA E ARTE

Portugal Escolar

Aires Mateus ARX Portugal Carvalho Araújo CVDB José Neves Nuno Brandão Costa Pedro Domingos Diogo Burnay – Dalhousie Teresa Heitor – IST Sara Eloy – ISCTE Jorge Figueira – FCTUC José Pinto Duarte – FAUTL Flavio Barbini – UAL João Sequeira – ULHT Ângela Mingas – ULusíada Angola

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ISSN: 1647- 077X

set.|out. 2013 | €11,00


In/outdoors

Pavimentos revestimentos e fachadas

Fachada EďŹ ciente da Technal

Fachada Navarra n 15000 VEP


In/Outdoors

In/Outdoors

Pavimentos,revestimentos e fachadas Cortizo

Pavimentos,revestimentos e fachadas Dyrup

Extramundi S/N. 15901-Padrón (A Coruña) Tel. 902 31 31 50 www.cortizo.com comunicación@cortizo.com

TP-52, SG-52, TPH-52, TPV-52, ST-52 e SST-52 compõem a nova geração de fachadas Cortizo, caracterizadas por um sistema de base com ampla gama de montantes e travessas, que dão resposta às diferentes necessidades estéticas e construtivas dos projetos arquitetónicos. A ampla gama de perfis e a variedade de uniões mecânicas das mesmas, permite a execução de todo o tipo de fachadas assim como a resolução de modulações com vidros de grandes dimensões. O elevado grau de eficiência energética destas fachadas está garantido por uma zona de rotura de ponte térmica até 30 mm e pelas suas excelentes prestações acústicas na possibilidade de utilização de vidros com grandes espessuras (até 50 mm).

Rua Cidade de Goa, 26 2685-038 Sacavém Tel: +351 21 841 02 00 Fax: +351 21 941 45 82 clientes.dyrup@ppg.com www.dyrup.pt

A Dyrupp lançou recentemente a Dyrup Telhas, uma tinta formulada com base em resinas acrílicas, de brilho mate e acabamento liso que oferece cinco benefícios: Excelente adesão na maioria dos suportes sem recorrer à aplicação de primário; Boa impermeabilidade à água líquida, que previne o aparecimento de humidade; Alta resistência aos raios UV, que garante a manutenção da cor; Permeável ao vapor de água, que permite respirar o suporte; Excelente resistência no exterior, com uma durabilidade estimada de 15 anos. Com o desenvolvimento desta tinta, a Dyrup procura manter-se fiel às cores utilizadas nas casas portuguesas, estando disponíveis as cores preto, telha tradicional, telha barro e telha clara, nos formatos 0,75l, 5l e 15l.

Cosentino

Listor

COSENTINO PORTO Tel.: +351 229 270 097 info-porto@cosentinogroup.net COSENTINO LISBOA Tel.: +351 219 66 62 21 Fax: +351 219 66 62 23 info-lisboa@cosentinogroup.net

Dekton é uma superfície ultracompacta produzida com a tecnologia TSP (Tecnologia de Sintetizador de Partículas), desenvolvida em exclusivo pelo departamento de I+D do Grupo Cosentino. Trata-se de um produto multifuncional, utilizável em revestimentos, soalhos, fachadas ventiladas e superfícies como bancadas de cozinha e espaços de banho. Composto por materiais naturais e de grante formato, disponibiliza espessuras entre 8 e 30mm e tamanhos de 3200x1440mm. Dekton oferece a designers e arquitetos uma infinita possibilidade de criações, dispõe de materiais de última geração e é integrável em todo o tipo de fachadas ventiladas garantindo vanguardismo e soluções construtivas diferentes e inovadoras para projetos arquitetónicos.

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Estrada da Atalaia, nº 6 2530-009 Atalaia - Lourinhã Tel. +351 261 980 500 Fax + 351 261 980 509 Showroom Lisboa Rua João Chagas, nº 157 2799-547 Linda-a-Velha

A Listor é uma das principais empresas portuguesas de distribuição e comercialização de soluções integradas de revestimentos para pavimentos e paredes de superior qualidade. Com o intuito de estar sempre a inovar, apresentou no início de 2013 um pavimento em vinil com sistema de encaixe click sem cola, para uma fácil e rápida instalação, o BauClic LVT. Os pavimentos BauClic em Vinil são 100% à prova de água e são uma alternativa para os espaços em que a água seja uma constante, como casas de banho, cozinhas ou espaços comerciais. Disponível em 10 décors que vão desde o carvalho passando pela cerejeira, nogueira e pinho, uma paleta de cores e madeiras verdadeiramente inspiradora para uma decoração harmoniosa e confortável.

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In/Outdoors

In/Outdoors

Pavimentos,revestimentos e fachadas

Pavimentos,revestimentos e fachadas

Love Tiles

Navarra

Zona Industrial de Aveiro, Apartado 3002 3801-101 Aveiro Tel. + 351 234 303 030 Fax. +351 234 303 031 lovetiles@lovetiles.com www.lovetiles.com

Veiga das Antas, Navarra Apartado 2476 4701-971 Braga | Portugal T +351 253 603 520 F +351 253 677 005 geral@navarraaluminio.com www.navarraaluminio.com

A coleção Fusion inspirou-se nas texturas e desenhos da madeira. Utilizando uma tecnologia de impressão digital conseguiu-se um produto com uma grande variedade gráfica permitindo um grande realismo e um toque quente, que confere aos espaços residenciais conforto e harmonia. O facto desta coleção ter dois tipos de acabamento - natural e antiderrapante - permite a sua aplicação em contínuo – interior e exterior. Fusion destina-se a quem procura estilo e conforto, transversal aos novos conceitos de decoração e está disponível em 5 cores: White, Beige, Brown, Tortora e Grey, no formato 15x75cm. Se usado como pavimento, a matéria prima Grés Porcelanato Esmaltado, cuja absorção de água igual ou inferior a 0,2%, confere-lhe maior resistência.

Technal

Chousa Nova 3830-133 Ílhavo – Portugal Tel. +351 234329700 Fax. +351 234329702 margres@margres.com www.margres.com

Rua da Guiné 2689-513 Prior Velho T: +351 21 940 5700 F: +351 21 940 5795 technal@technal.pt www.technal.pt

Linea Party, da Margres, é uma coleção ideal para revestimento de fachadas. Dispõe de 5 cores com as referências LPR1 Open Party (branco), LPR2 Welcome Party (beige), LPR4 Lounge Party (beige escuro), LPR6 House Party (cinza), LPR7 Night Party (preto), nos formatos 333x1000mm e 500x500mm, bem como alguns mais inusitados: 500x1000mm, 1000x1000mm 1000x3000mm e 3mm de espessura. A coleção Linea Party visa criar superfícies de cor uniforme com ligeiras nuances, que criam algum movimento visual na superfície das fachadas. Esta tipologia de superfícies vai ao encontro das modernas tendências da arquitetura minimalista, onde os revestimentos se querem discretos e suaves, adaptáveis aos mais diversos fins do espaço a ser vivido.

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Ivo Tavares Studio

Ivo Tavares Studio

Margres

Os sistemas de fachadas são utilizados para revestimentos de edifícios permitindo melhor aproveitamento da luminosidade natural. As fachadas são o sistema de alumínio e vidro melhor integrado com os novos conceitos de arquitetura para edifícios. Os sistemas de fachadas Navarra n15 000 e n15 200 permitem realizar uma ampla variedade de estruturas com os mais diversos tipos de soluções: Cortina; VEP (vidro preso); VEC (vidro colado); Agrafada; Trama horizontal; VES (vidro em suporte); RD (revestimentos diversos). Os sistemas de fachadas Navarra cumprem com as mais rígidas especificações de qualidade.

O quebra-sol Suneal, da Technal, resulta de uma combinação inteligente entre a estética e a eficácia, permitindo uma maior eficiência da proteção solar, gestão das captações solares e otimização da luz natural. Integrável nas fachadas Geode, está disponível em anodizado natural e lacados de diversas cores. Esta gama contempla as lâminas fotovoltaicas, que asseguram eficácia em termos de ocultação e produção elétrica com um rendimento de 15%, e as lâminas orientáveis, com orientação manual por sequenciador ou orientação automática por motorização, que permitem maximizar as captações solares no inverno e proteger os edifícios de temperaturas elevadas no verão, ao mesmo tempo que asseguram a modelação da iluminação solar, nos espaços interiores.

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II N NF FO O Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I -– Nº Nº 37 –– janeiro|fevereiro setembro|outubro2013 2013

Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I - Nº 3 – janeiro|fevereiro 2013 Eventos realizados

Agenda

9 DE7FEVEREIRO 2013 De à 11 de Novembro

OAA – A Terceira Agenda de 2013, reunião do Assembleia Geral da Conselho Internacional 9 DE FEVEREIRO 2013 Ordem dos Arquitectos

de Arquitectos de Língua

OAA OAA –– A A Terceira Terceira de Angola. Neste evento Portuguesa (CIALP). Essa Assembleia Assembleia Geral Geral da da deverá ser feito um balanço reunião realizar-se-á na Ordem Ordem dos dos Arquitectos Arquitectos do mandato que agora cidade do Neste Sumbe e terá evento de de Angola. Angola.

termina. como Agenda as deverá ser feitoprincipal um balanço do mandato que eleições para osagora órgãos termina. Diretivos.

Após sucessivas reuniões durante o mês de Agosto, entre a Direcção da Ordem dos Arquitectos de Angola (OA) encabeçada pelo Arq. Victor Leonel e a direção do Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda (IPGUL), encabeçada pelo Arq. Helder José, conseguiu-se uma plataforma de REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, EM ABIDJAN, COSTA DO MARFIM, a 39ª reunião do Conselho entendimento histórica: da União Africana de Arquitectos (AUA) e o encontro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (CPD). A inscrição e o registo Este último, foi uma organização conjunta entre a EM AUAABIDJAN, e a UIA (União Internacional de reunião REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, COSTA DO MARFIM, atécnicos 39ª reunião doexercício Conselho deArquitectos). paraNa o da Africana de Arquitectos (AUA)varias e o encontro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (CPD). do União Conselho da AUA foram aprovadas resoluções concernentes a organização interna da União. Este da arquitetura passa último, foi uma entre a AUA e UIA (União Internacionalpor de Arquitectos). Na reunião exclusivamente para a Ordem No encontro doorganização CPD, foram conjunta feitas apresentações deatrabalhos desenvolvidos grupos de arquitetos do Conselho em da AUA foram aprovadas varias resoluções concernentes a organização interna dadeUnião. Angola• ivoariences, parceria com o governo de Abidjan, sobre requalificação urbanados de Arquitectos zonas degradadas. No encontro do CPD, foram feitas apresentações de trabalhos desenvolvidos pore grupos de arquitetos só arquitetos e urbanistas ivoariences, em parceria com o governo de Abidjan, sobre requalificação urbanainscritos de zonas degradadas. devem exercer • a profissão em todo o território Opinião nacional, à luz do decreto Opinião 54/04, de 17 Agosto. 90, verificou-se como um período de de estagnação FALAR DE LUANDA é também falar dos

Eventos realizados

Ensino

Legislação

Em que medida a cultura do local tem influência no ensino da arquitetura? As mais diversas Ordens de Arquitetos, a nível mundial, quando se trata de admitir um arquiteto de origem estrangeira, umas das grandes preocupações nas condições de admissão é a apreensão da cultura local.O local de formação, o tempo de residência no país, o uso e conhecimento das línguas locais e o reconhecimento dos estudos, nomeadamente, fazem parte de um conjunto de aspetos levados em conta. É claro que a unidade base na arquitetura é o homem. É a ele que arquitetura deve dar resposta. Está claro que o homem em função da sua cultura especifica dá respostas diferentes à vida e ao próprio espaço. A cultura de cada povo não só altera o modo como o homem

olha para o espaço, bem como a relação que ele tem com o mesmo. Fazer arquitetura é um exercício de criação de espaço. O espaço não é igual para todas as culturas. Até que ponto os paradigmas do ensino da arquitetura dão resposta a este fato? Que “bíblias” de apoio ao ensino e à pesquisa terão os académicos do ramo de arquitetura disponíveis, quando se trata de dar respostas a situações idênticas, mas em que a cultura dos povos pede respostas diferentes? É chegado o momento de abrir este debate a nível do ensino e da arquitetura mundial. O tempo da imposição de soluções vindas de outras realidades terá o seu fim?

Cenas do Quotidiano Por Celestino Chitonho, Arquiteto

A paragem do brilho

‘Delirious in Luanda’

2 DE MARCO 2013

2 DE MARCOEleições 2013 Terceiras Terceiras Gerais da Eleições Ordem dos Gerais da Ordem dos Arquitectos de Angola. Arquitectos Angola. Nestas eleiçõesde deverá ser Nestas ser eleito o eleições próximo deverá Presidente eleito o próximo Presidente do Conselho Nacional, em do Conselho Nacional, em substituição do arq. Antonio substituição do arq. Antonio Gameiro, bem como do Gameiro, bem como do Presidente do do Conselho Conselho Presidente provincial de Luanda, provincial No dia 25dedeLuanda, Outubro de o arq. Helvecio Helvecio da da Cunha. Cunha. o arq. 2013 realizar-se-á um A convocatória para os dois A convocatória paraos osNovos dois Seminário sobre eventos foi feita a 17 de Procedimentos Janeiro, pelo atual da Presidente para o exercício da Ordem. da Ordem. profissão.

no crescimento da cidade de “betão”, mas também 90, verificou-se como um período de estagnação foi nesse mesmo período que se registou fenómeno no crescimento da cidade de “betão”, masotambém de migração do interior para a capital (cidade de foi nesse mesmo período que se registou o fenómeno Luanda). O “Boom” daspara construções de migração do interior a capital desordenadas (cidade de começavaOa“Boom” uma velocidade descontrolada e, hoje, Luanda). das construções desordenadas começava a uma velocidade descontrolada hoje, espelha o mosaico e a diversidade da nova e, estrutura espelha o mosaico a diversidade da nova estrutura urbana que Luandaeapresenta. urbana que Luanda apresenta. Existem de urbanização que estão de se utilizaralguns vários planos estilos com um remate chinês. Existem alguns planos de urbanização que estão a ser implementados para aliviar a pressão urbana São casos caricatos. a ser implementados para aliviar a pressão urbana que cidade vive. Ainda bem quedaexistem estes Nósanão podemos esquivar-nos globalização, que a cidade vive. Ainda bem que existem estes planos mas, não ser pessimista, perguntomas devemos filtrarquerendo o que é mau e absorvermos planos mas, não querendo ser pessimista, perguntoapenas aspetos positivos que planos contribuem para -me seos uma cidade se faz com “a retalho” -me se uma cidade se faz com planos “a retalho” ocomo desenvolvimento do país. Campus tenho verificado por Projetos exemplocom comoodo plano do como tenho verificado por exemplo com o plano do Universitário da UAN, projetado pela Perkins+Will Cazenga, Sambizanga, Zango, entre outros, ou se Cazenga, Sambizanga, Zango, entre outros, ou se (firma Norte Americana) levam em consideração se deve deve pensar a cidade cidade como um todo, criando criandotodos um se pensar a como um todo, um osplano aspetos locais para a sua conceção, resultando estratégico de crescimento sustentável, onde plano estratégico de crescimento sustentável, onde num projeto excelente, próprio para Angola. quem sai sai a ganhar éé aa cidade cidade ee os os seus seus utilizadores. utilizadores. quem Tal comoaaganhar sua civilização a China tem uma Na verdade, pensar Luanda é um exercício muito arquitetura milenar excelente que foi desenvolvendo complexo ao mesmo tempo apaixonante pela sua ao longo doetempo; mas que adequa-se ao meio diversidade cultural e social e nunca terá o consenso chinês. Angola deve primar por uma arquitetura de os pensam •• adequada de todos todos osaque que pensame nela. nela. própria; que identifique que seja Jaime Jaime Mesquita, Mesquita, Arquiteto Arquiteto ao seu meio.

(Exercício da profissão em território nacional) 1 Só os arquitectos e urbanistas com inscrição em vigor na Ordem dos Arquitectos podem em todo o território nacional e perante qualquer instância, autoridade ou entidade pública ou privada, usar o título profissional de arquitecto ou de urbanista e praticar actos próprios da profissão. 2 É considerado uso indevido do título profissional de arquitecto ou de urbanista e como tal punível criminalmente, a sua utilização por quem não esteja registado na Ordem dos Arquitectos. a) A demissão ou suspensão nos termos do artigo80º. Cancela o direito ou uso do título e a prática dos actos próprios da profissão de arquitecto ou de urbanista, nos termos do presente estatuto. 3 Os actos próprios da profissão de arquitecto ou de urbanista materializam-se em estudos, projectos, planos e actividades de consultoria, gestão, direcção de obras, planificação, coordenação, nos termos descritos nestes números, implicando uma responsabilidade de natureza pública e social.

‘Delirious in Luanda’

musseques, assim como os “Slums” FALAR DE LUANDA é também falarem dosLondres ou em Nova Iorque, os “bidonvilles” em musseques, assim como os “Slums” emParis, Londres as “favelas” rio deosJaneiro, os “bustees” em Opinião ou em Nova no Iorque, “bidonvilles” em Paris, Calcutá, as “villas em Buenos Aires, as “favelas” no rio de de misérias” Janeiro, os “bustees” em ou os “bairros de caniços” em Lourenço Marques, Calcutá, as “villas de misérias” em Buenos Aires, ou osespelham “bairros de em Lourenço Marques, pois ascaniços” assimetrias da evolução social. Por Amélia Gay (B.S. Arq., M. evolução Arq.) Luanda pois espelham as assimetrias da social. Com os seus 437 anos de existência, seus 437 de existência, Luanda deCom hojeos é odos palco dasanos atenções de arquitetos, Apesar padrões arquitetónicos de hoje é o epalco das atenções de arquitetos, sociólogos antropólogos, pois apresenta estarem diretamente ligados a fatores locais, há sempre sociólogos e antropólogos, poisverificam apresenta características únicas onde novas influências externas que dãose nuances aos estilos duma características únicas onde se verificam novas dinâmicas sociais, culturais e económicas. Seque está certa região. Estamos perante a globalização, dinâmicas sociais, culturais e económicas. Se a causar impacto quase totalera no que dizfoirespeito até 1940 um a expansão da cidade lenta, no até 1940 a expansão da cidade era lenta, foi no ao estiloda arquitetónico, principalmente relação período 2º guerra mundial onde seem verificou o período da 2º guerra mundial onde se verificou o a edifícios públicos,da torres de escritórios e, em muitos maior crescimento cidade com uma arquitetura maior crescimento da cidade com uma arquitetura casos, também habitações. fortemente caracterizada pelo movimento movimento moderno, moderno, fortemente caracterizada pelo No caso específico de Angola, estamos a ter uma a arquitetura “Corbusiana”. Esse movimento chegou a arquitetura “Corbusiana”. Esse movimento chegou imposição chinesa em termos de arquitetura, que a Luanda Luanda pelas pelas mãos mãos de de arquitetos arquitetos talentosos talentosos a varia de uma escala macro, como é caso da cidade da época como Vasco Vieira da Costa, do Kilamba (réplica de cidades chinesasCastro construídas Rodrigues, Fernão Simõesa de Carvalho entrereduzida, outros. com o mesmo propósito), uma escala mais Foi um período notável, onde o urbanismo e a própria como é o caso de algumas residências construídas por arquitetura ainda hoje têm algo a dizer à cidade. arquitetura ainda hoje têm algo a dizer à cidade. chineses, em que não se pode identificar O entre anos até anos O período período entre finais finais dos anos 70 até fins fins dos anos o estilo arquitetónico emdos causa por70 haver umados tentativa

Artigo 38º

a) O domínio da arquitectura reporta-se à edificação, ao urbanismo, à concepção e desenhos do quadro especial de vida da população, visando a integração harmoniosa das actividades humanas no território, à valorização do património construído e do ambiente.

Identidade Arquitetónica

O território urbano ou seja a “urbe” tem sido ao longo dos tempos o palco propício

para as mais diversas manifestações de identidade cultural. Atores tais, que jamais reivindicam a sua identidade, pois vivem-na intensamente dia após dia e são o “povo”. Na maioria dos casos, a medida que a cidade se vai modernizando vai atirando também para lugares longínquos esses mesmos atores que ajudaram a cidade a ter o cheiro, o paladar, a mística e a imagem que o senso comum qual feitiço coletivo bem reconhece. O Governo da Província de Luanda, em parceria com uma empresa privada, no projeto vias de Luanda, deu um passo extremamente criativo e digno de elogio. Não obstante modernizar a cidade é fundamental preservar aqueles atores que ajudaram a construir a mística da cidade. Daí surge a paragem do brilho. Um oásis para os calçados. Engraxadores e transeuntes com um lugar condigno para tratar do calçado. Um viva para esta ideia!

4. A intervenção do arquitecto ou do urbanista é obrigatória na elaboração ou avaliação dos projectos de arquitectura e dos planos urbanísticos e de

Ordem dos Arquitectos de Angola Rua Aníbal de Melo, nº 109, 1º andar Vila Alice, Luanda Tel. +244 926 975 502

ordemdosarquitectosdeangola@yahoo.com

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Projecto Nova Vida Rua 50 • edifício 106, 3º andar, apto 3.2 • Luanda - Angola Telf. +244 923 609 573 • +244 921 548 455 pranchetalda@hotmail.com


EDITORIAL

temático

Portugal Escolar

Interrogações entre o projecto do espaço formativo e o ensino da arquitectura

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA|lsbaptista@revarqa.com

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Aproximam-se tempos de balanço dos grandes programas de investimento em equipamentos escolares e culturais que se materializaram nas últimas três décadas por todo o território nacional. Perante o contexto de profunda crise política, económica e social vivida pelo país, torna-se urgente reavaliar as opções e resultados dessa estratégia de desenvolvimento, grandemente apoiada na produção dos arquitectos portugueses. A verdade é que, primeiro, a construção dos grandes complexos universitários e, segundo, a modernização das escolas secundárias se apresentaram como um campo privilegiado para testar o potencial da arquitectura na configuração espacial do ambiente formativo e pedagógico. Se acreditarmos que a qualificação do espaço é um factor fundamental para a aprendizagem,1 as últimas décadas forneceram-nos amplo material para o estudo da sua relação com as transformações das práticas do ensino português. Porém, não podemos fazer esse balanço aqui e agora, devido à proximidade e escala dos programas e à dimensão titânica da tarefa analítica. Mas não sendo este esse espaço de avaliação, pode ser uma contribuição crítica na compilação de informação disciplinar que consideramos relevante. Por um lado, apresentamos um conjunto de projectos recentes de escolas secundárias da Parque Escolar, que manifestam uma maior abertura experimental, revelando uma série heterogénea de espaços formativos. Por outro lado, tendo consciência da questão premente do ensino da arquitectura em Portugal, inquirimos um conjunto alargado de cursos, públicos e privados, essencialmente portugueses mas não só, no sentido de perceber a situação actual e que caminhos se propõem traçar no futuro. Nesta lógica dual, entre o ensino e a prática, entre o discurso e o projecto, entre a formação secundária e a universitária, apresenta-se este Portugal Escolar.

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O ensino da arquitectura em Portugal está em crise. Não que isto seja um facto novo. Em 1948, no âmbito do célebre congresso dos arquitectos portugueses, Keil do Amaral assinalava as “maleitas” da “formação dos arquitectos”, afirmando que as Escolas de Belas-Artes de então formavam “alfaites-arquitectos em vez de arquitectos”.2 Estamos em crer que, perante os actuais problemas que o ensino da arquitectura em Portugal hoje enfrenta, é necessário um apelo equivalente à mudança. Tendo em conta a situação calamitosa da profissão, com números trágicos de desemprego e emigração, exige-se uma reflexão profunda sobre o ensino universitário da arquitectura em Portugal. De facto, a sangria da profissão coloca aos estudantes o espectro da impossibilidade do seu exercício. Com um número muito elevado de escolas de arquitectura, entre públicas e privadas, a verdade é que, paradoxalmente, – e ao contrário do que acontece com os cursos como o de engenharia civil que sofrem da mesma condição de rarefacção do mercado da construção – as muitas vagas disponíveis para o acesso aos cursos de arquitectura, principalmente públicos, continuam quase totalmente preenchidas, mesmo que sentindo-se um baixar significativo das médias de acesso. A ausência efectiva de trabalho não se reflecte para já na atractividade dos cursos de arquitectura. No entanto, pergunta-se, para que actividade profissional estamos a preparar os nossos futuros arquitectos? Sabemos que as instituições e os curricula dos cursos têm dificuldade em responder às mudanças aceleradas do contexto profissional. Embora

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previsível, quanto à insustentabilidade da bolha imobiliária nacional nas últimas décadas, a crise do mercado da construção caiu que nem uma bomba numa profissão impreparada para as mudanças estruturais da sociedade portuguesa num contexto de crise internacional. É por isto que o ensino adquire hoje uma importância determinante para uma refocalização das tarefas que se avizinham para os arquitectos portugueses. O primeiro problema parece estar que, em Portugal, os cursos de arquitectura tendem para um modelo generalista da formação do arquitecto, defendido pelas instituições profissionais e agências de acreditação académica. Como refere Diogo Burnay, “as diferenças entre escolas poderiam ser mais potenciadoras de um posicionamento menos imerso no interior do espaço disciplinar e com maior disponibilidade para traçar outros caminhos para o ensino e para a profissão.”3 Num contexto de reinvenção da profissão, a reduzida diversidade programática dos cursos de arquitectura limita as possibilidades do repensar o campo de acção do arquitecto na sociedade. Apesar de tudo, pressentem-se hoje tentativas de alguns cursos em perseguir novas estratégias e territórios, assentes em práticas de investigação, nuns casos mais tecnológicas, noutros mais humanísticas, como forma de orientar a formação para áreas mais específicas e especializadas, o que não é o mesmo que falar de uma mera especialização disciplinar ou profissional. Assumindo a base comum da formação do arquitecto, a maior diferenciação dos cursos pode permitir uma aproximação mais focalizada e diversificada em termos de abordagens e metodologias. O que nos leva a um segundo problema. Os cursos de arquitectura em Portugal estão cultural e historicamente associados a uma ideia específica do projecto. Projecto este assente na presença central da autoria, desenvolvido através do trabalho criativo individual dos estudantes em volta de um cenário hipotético. Poder-se-ia dizer que o problema está nesta noção consistente mas restrita do projecto. A ideia de projecto parece estar hoje em expansão, subentendendo múltiplas abordagens e finalidades aquém e além do desenho de edifícios. Sem o negar, reclama-se a exploração de uma vertente mais crítica e experimental, compreendendo a análise não só das realidades físicas e materiais, mas também das realidades infraestruturais, económicas, produtivas e sociais; a aproximação mais activa às realidades sociais existentes e mais directa ao campo da construção concreta; ou mesmo a exploração transversal de territórios disciplinares mais abertamente tecnológicos e especulativos. Esta expansão do que tradicionalmente se define como projecto poderá contribuir para a formação de arquitectos com experiências e competências diferenciadas, aumentando os pontos de vista disciplinares e os modos de acção profissional do arquitecto na sociedade.

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Abordar o programa de requalificação do parque escolar em Portugal é um assunto em parte melindroso. Isto porque algumas questões têm causado acesa polémica, principalmente no que respeita aos critérios de selecção dos projectistas, com consequências sérias na classe profissional dos arquitectos, e aos parâmetros de infra-estruturação técnica, com implicações na realidade económica e produtiva do país. Por um lado, a selecção das equipas projectistas por convite directo, que excluíram as equipas mais jovens, e a distribuição desigual das encomendas pelos escolhidos, são

Perante o contexto de profunda crise política, económica e social vivida pelo país, torna-se urgente reavaliar as opções e resultados dessa estratégia de desenvolvimento, grandemente apoiada na produção dos arquitectos portugueses. A verdade é que, primeiro, a construção dos grandes complexos universitários e, segundo, a modernização das escolas secundárias se apresentaram como um campo privilegiado para testar o potencial da arquitectura na configuração espacial do ambiente formativo e pedagógico.

Pedro Domingos, Escola de Sever do Vouga, 2009-12 • CVDB, Escola em Lisboa, 2010-12 • ARX, Escola de Caneças, 2010-12 • Carvalho Araújo, Escola da Lousada, 2008-10

questões fracturantes no nosso meio disciplinar. Por outro lado, a exigência da infra-estruturação técnica, com níveis desmesurados para a nossa realidade geográfica e ambiental, tornou-se em grande medida sintomática da actual situação de crise económica e social. No entanto, estas questões pertinentes não podem verdadeiramente pôr em causa um programa que transformou o nosso parque escolar, garantindo condições excepcionais para os futuros alunos do ensino secundário. Neste sentido, a modernização das escolas secundárias é uma aposta necessária na qualificação do espaço formativo, demonstrando a importância central da arquitectura nesse processo. Como refere a coordenadora do programa da Parque Escolar, Teresa Valsassina Heitor: “A descentralização do processo de ensino-aprendizagem relativamente ao tempo e ao espaço convencional da sala de aula, a passagem de um modelo de ensino baseado quase exclusivamente na transmissão de saberes organizados por via expositiva, para práticas pedagógicas mais activas e socializadoras, de âmbito colaborativo e exploratório, o uso intensivo das novas tecnologias de informação e de comunicação, não só transformaram as formas de aprendizagem, como requerem uma permanência prolongada de alunos e de docentes na escola ao longo do dia, implicando a presença de uma grande diversidade de espaços lectivos e não-lectivos, de recursos e equipamentos.”4 O programa propôs-se instaurar uma “nova cultura da aprendizagem”, apostando não em soluções tipo ou genéricas, tão difundidas nas últimas décadas do século XX, mas entendendo a “situação específica de cada escola”, algo que a lógica de reabilitação de certo modo apontava. Mais ainda, ambicionou-se activar as relações com o contexto cultural e social envolvente, entendendo-se cada escola como um pólo dinamizador da comunidade envolvente. Assim, a consciência do papel do espaço arquitectónico na aprendizagem, a aposta numa abordagem específica para cada estabelecimento de ensino e a abertura das escolas à comunidade revelam-se como princípios determinantes para um programa desta escala e natureza. Mas esta “nova cultura da aprendizagem” avança com uma ideia central que incorpora grosso modo todo um modelo educativo. O conceito de “learning street”, cunhado por Herman Hertzberger nos anos 60, propõe uma ideia de ensino como um sistema integrado de organização e distribuição das múltiplas actividades lectivas e sociais. Nas palavras da coordenadora, “os vários sectores funcionais da escola estão articulados através de um percurso tridimensional que constitui uma sucessão de espaços

interiores e exteriores de valência diversificada, relacionados com diferentes situações de aprendizagem formal e informal.”5 Olhando para os muitos projectos de escolas já concluídos, mas com especial incidência nos projectos mais recentes, pode-se perceber a diversidade de respostas possíveis na configuração da learning street, conforme o contexto particular existente e as opções individuais dos arquitectos.

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A modernização do Parque Escolar tem proporcionado um campo de experimentação sobre o espaço formativo contemporâneo. A Escola de Vila Nova da Barquinha de Aires Mateus assume-se como um edifício circunscrito geometricamente, explorando a interacção entre espaços interiores individualizados e pátios exteriores, reminiscente da arquitectura vernacular. A Escola de Caneças da ARX Portugal reinventa a lógica pavilhonar existente através da materialização topográfica das ligações e novas áreas colectivas, através de uma série contínua de espaços activos. A Escola de Lousada de Carvalho Araújo reinventa e unifica as implantações preexistentes, qualificando os espaços de uso público segundo uma estética industrial. A Escola em Lisboa do CVDB transforma o modelo existente de pavilhões numa estrutura interligada de espaços colectivos, formal e cromaticamente intensos. A Escola na Ajuda em Lisboa de José Neves, vencedora do último Prémio Sécil, reintroduz as aspirações modernas, numa lógica de continuidade sóbria a partir da preexistência. A Escola em Matosinhos de Nuno Brandão Costa propõe um gesto de delimitação contínuo, explorando elementos básicos e mínimos de composição arquitectónica. A Escola de Sever do Vouga, vencedora do Prémio Ibérico FAD deste ano, de Pedro Domingos formaliza uma nova lógica de circulação e distribuição entre as áreas programáticas, expondo a experiência dinâmica da vida da escola.  Ver: arqa# 88/89 - Espaços Formativos, Janeiro-Fevereiro 2011. Cf. Francisco Keil do Amaral. «A Formação dos Arquitectos» (1948), in J.A – Jornal dos Arquitectos #202 - Faire École 2. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2001. 3 Ver: entrevista Diogo Burnay neste número da arqa. 4 Teresa Valsassina Heitor. «Modernizar as Escolas do Ensino Secundário», in Escolas Secundárias: Reabilitação. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009, p. 18. 5 Teresa Heitor. «Programa de Modernização do Parque Escolar Destinado ao Ensino Secundário», in Parque Escolar 2007-2011: Intervenção em 106 Escolas. Lisboa: Parque Escolar, EPE, 2011, p. 15. 1 2

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ENTREVISTA

arquitetura

Portugal Escolar

Perspetivas Críticas sobre o Ensino da Arquitectura

Nesse sentido, sente-se uma certa estagnação no modo como os diferentes cursos poderiam explorar espaços e caminhos próprios, no sentido de potenciar uma certa pluralidade e um debate mais crítico que permitisse identificar com mais clareza as diferenças e qualidades pedagógicas das diferentes escolas.

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO

Diogo Burnay

Arquiteto (FA/UTL, MSc. Arch. Bartlett UCL), Diretor School of Architecture Dalhousie University Halifax, Canadá arqa: O que define o ensino da arquitetura na contemporaneidade? DB: O ensino de arquitetura sempre teve de se posicionar critica e criativamente sobre o seu tempo e o seu lugar, quer a sua relação tenha sido próxima, fugaz, longínqua e/ou constante. O ensino de arquitetura enquanto disciplina tem de procurar constantemente reequacionar as suas fronteiras, os seus limites operativos e os espaços para além da sua esfera disciplinar, para continuamente questionar e restabelecer a sua relevância social e cultural interior e exterior ao seu campo disciplinar e entre vários espaços, explorando novas ambiguidades e práticas híbridas maioritariamente caracterizadas por uma grande inter/multidisciplinaridade. Estas “outras” práticas têm possibilitado a investigação e também uma certa especulação sobre possíveis novos ou outros modos de ensinar e aprender arquitetura. O desafio decorrente da dificuldade ou redundância em definir com exatidão de forma imutável os limites do corpo disciplinar da arquitetura tem, desde o renascimento, enfatizado o sentido universal, generalista, humanitário, multidisciplinar e holístico da arquitetura e da relevância do seu ensino e da sua prática. O ensino e a aprendizagem de arquitetura devem proporcionar o sabor de um vasto património, de toda a sua história e das suas múltiplas histórias, do desenho e do desenhar, do pensar com a mão, do fazer, do construir, edificar e habitar. A ligação do ensino à prática da profissão, nas suas inúmeras vertentes, é absolutamente fundamental, para reforçar a sua relevância social e cultural. A multiplicidade e flexibilidade de escolhas, modelos e modos de ensino decorrentes de uma maior mobilidade entre geografias, culturas, escolas e práticas, modos de ensinar e de fazer tem permitido uma maior abertura do campo da área disciplinar bem como uma leitura mais crítica sobre o modo como se estrutura o ensino, se potencia a aprendizagem, sobre o modo como se celebra a chama da vocação e se explora os seus caminhos e os seus contextos físicos e culturais. A prática do ensino de arquitetura tem também de projetar a intersecção entre especificidades e sensibilidades locais e globais, a profissão e a disciplina, o pensar e o sentir. A disciplina e a profissão estão em constante crise e reformulação. A história e a modernidade têm de se entender como um espaço contínuo no meio disciplinar e não numa perspetiva dicotómica, que tem bipolarizado e fracionado a possibilidade de um debate mais aprofundado sobre a pertinência do ensino de arquitetura na contemporaneidade. O ensino está neste cruzamento entre a tradição e as possíveis alternativas que possam potenciar uma maior aproximação da arquitetura à sociedade e às comunidades que a enquadram. Essa aproximação pode ser feita através de metodologias de análise e leitura do território, de projetos e/ou investigações muito especificas e concretas sobre (crítica), para (tecnológica) e em (projeto) arquitetura.

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Design and Build Workshop 2013, trabalhos em construção frente à escola.

arqa: Como interpreta a situação atual do ensino da arquitetura em Portugal? DB: O ensino em Portugal, apesar da grande multiplicidade de escolas, tem se centrado, através do processo de Bologna, numa aparente padronização dos objetivos pedagógicos generalistas e no cumprimento da diretiva europeia que ainda têm como objetivo fundamental a relação do ensino com a inserção profissional dos licenciados em arquitetura como meio de legitimação de uma desejável relevância disciplinar. As diferenças entre escolas poderiam ser mais potenciadoras de um posicionamento menos imerso no interior do espaço disciplinar e com maior disponibilidade para traçar outros caminhos para o ensino e para a profissão. O enquadramento das escolas de arquitetura em instituições universitárias com práticas de investigação especificas a cada área científica tem também contribuindo para uma certa dificuldade disciplinar em definir com clareza os seus propósitos, métodos e áreas de investigação em arquitetura de forma a explorar as suas características pluridisciplinares a sua grande universalidade, ou seja, a sua relevância pelo modo como se intersecta entre e com outras áreas do saber e do sentir. Nesse sentido, sente-se uma certa estagnação no modo como os diferentes cursos poderiam explorar espaços e caminhos próprios, no sentido de potenciar uma certa pluralidade e um debate mais crítico que permitisse identificar com mais clareza as diferenças e qualidades pedagógicas das diferentes escolas. Esta situação decorre também devido aos crescentes cortes de financiamento do estado ao ensino universitário público, o que obriga a um crescente ensino de massas que dificilmente proporciona um ensino centrado na aprendizagem e investigação e no desenvolvimento de posições mais críticas e mais densas sobre o papel e as possibilidades de intervenção da arquitetura na sociedade contemporânea. Neste ano letivo, em cerca de 20 escolas de arquitetura, verificaram-se cerca de 600 vagas em escolas públicas de arquitetura e cerca de 700 vagas em escolas privadas. A transição de Bacharelato para Mestrado é feita em praticamente todos estes cursos sem qualquer paragem ou candidatura. Isto tem possibilitado que o percurso académico, enquadrado por Bologna, tem sobretudo perpetuado o modo

Reza Nik, estudante apresenta Tese sobre o papel a Arquitetura na aproximação dos cartoneros de Buenos Aires à comunidade onde estão enquadrados.

como a formação de arquiteto decorre em Portugal desde as últimas décadas do Século passado. A massificação do ensino e a diminuição de horas de contacto nas cadeiras de projeto são questões que precisam de ser devidamente enquadradas. Por outro lado, estas inquietações podem permitir o desenvolvimento de várias culturas de resistência disciplinar dentro das próprias universidades. arqa: Qual o programa e estratégia de futuro da instituição que dirige? DB: A Escola de Arquitetura da Dalhousie University, em Halifax, Nova Scotia, Canadá, na outra margem do Atlântico, tem cerca de 16 professores e 200 estudantes. A Escola tem uma longa tradição, não exclusivamente digital, de “hands on”, sobretudo através da construção de maquetes. O programa de design & build (projeto e construção) existe desde 1991, permite que professores e estudantes projetem e construam, em conjunto, durante 2 semanas, para uma comunidade, em proximidade com as pessoas que irão usufruir e utilizar o que se está a edificar. Esta é uma dimensão disciplinar e social de extrema relevância para o programa do ensino de arquitetura na escola. A inserção profissional proporciona-se através de estágios profissionais integrados no próprio curricula do curso de arquitetura. Os estudantes, maioritariamente de todo o Canadá e alguns estrangeiros, candidatam-se

às cerca de 60 vagas no curso de arquitetura após terem estudado no mínimo 2 anos ou terem um bacharelato num outro curso, com outras matérias de múltiplas disciplinas. A sua candidatura para o Bacharelato como para o Mestrado, é constituída pelo seu curriculum académico, as respetivas classificações e um portfólio dos trabalhos efetuados. Num total de 5 semestres (Bacharelato) + 6 semestres (Mestrado), os estudantes têm um estágio profissional de 3 meses no final do primeiro ano do bacharelato na escola, e de 7 meses no final do primeiro ano do Mestrado. Após esse segundo estágio, regressam à Escola para iniciarem o curso de preparação para a Tese. O projeto de tese pressupõe que os estudantes estabeleçam uma posição que revele a sua relevância e contribuição para a disciplina de arquitetura, de forma a contribuir para um debate centrado no papel disciplinar e social da arquitetura, para o seu presente, passado e futuro. Um dos objetivos do projeto da tese consiste na oportunidade em debater sobre o modo como os modelos de ensino podem contribuir para pensar, questionar, responder e celebrar novas condições sociais, económicas, políticas e culturais. O curso procura interligar projeto e investigação, na sua dimensão social, disciplinar, tecnológica e cultural como parte integrante do seu programa e objetivos pedagógicos. A arquitetura, o seu ensino e sua aprendizagem são sempre parte integrante da nossa vida. 

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Sofremos, neste momento, o impacto de não termos uma estratégia (do ponto de vista académico), clara aos nossos problemas quer no contexto arquitectónico, quer urbanístico. Precisamos urgentemente de definir objectivos específicos aplicados ao ensino de arquitectura determinados por políticas definidas pelos órgãos do Estado Angolano.

Campanha Reviver. Parceria Universidade Lusíada de Angola e Associação KALU, Grupo de Estudantes de Arquitectura que são Guias dos Passeios de Sensibilização ao Património, 2010

Ângela Lima Mingas

Arquitecta (ESBAL, UTL, Lusíada), Coordenadora Escola de Arquitectura da Universidade Lusíada de Angola arqa: O que define o ensino da arquitetura na contemporaneidade? AM: Não acredito em generalizações e desconheço a todos os níveis a realidade do ensino de arquitectura na esmagadora maioria dos países no mundo. No entanto, a minha percepção sobre o que conheço, levame a crer o mesmo se defina pela segmentação e passo a explicar utilizando como referência duas tendências relevantes: a especialização e a multidisciplinaridade. A primeira, sustentada no princípio da formação cada vez mais especializada que faz reduzir drasticamente a componente multidisciplinar. Tal facto, afecta sobremaneira a amplitude do conhecimento que me parece necessária à formação do arquitecto. Essa formação quebra o arquitecto na sua formação de base, cria várias “sub-espécies” de arquitectos que cada vez mais utilizam linguagens diferentes e têm campos de acção diferenciados em função das ofertas de mercado. A segunda, mais tradicionalista que ainda vê a formação do arquitecto como uma acção de escala maior, atribuindo ao mesmo uma base de conhecimentos nos campos artístico, técnico e humano em proporções equivalentes propondo um tronco comum na formação. Ao propor tal base, a diferenciação na formação acontece ao arquitecto e não ao candidato à arquitectura. arqa: Como interpreta a situação actual do ensino da arquitetura em Portugal e em Angola? AM: Atendo-me ao caso específico de Angola, a experiência diz-me que estamos em “ebulição” e prestes a transitar para uma realidade diferente. O facto de sermos “herdeiros” da experiência de outras realidades, fez com que a nossa escola (no sentido histórico) tivesse sofrido influências de fontes tão diversas desde o Ocidente e Leste Europeu à América Latina. No presente momento, a “ebulição” a que me refiro é referente ao conflito permanente na análise crítica que se faz à escola angolana e consequentemente ao arquitecto formado em Angola. Esse conflito é munido de um preconceito violento entre a qualidade de ensino dentro ou fora do país, vista muitas vezes como uma ferramenta de manipulação grosseira do mercado de trabalho nacional e para nacionais. Embora

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falar do mercado de trabalho para os arquitectos pareça sair do âmbito da questão, o facto é que tudo começa no ensino e na percepção de qualidade que o mesmo comporta. A questão é tão grave que chegamos a ser confrontados com a declaração pública de empregadores que claramente beneficiam arquitectos formados fora do que dentro do país, como escândalo recente na comunicação social em Luanda. Ora, as razões são diversas, e debatê-las de facto não cabe no espaço que me foi atribuído, mas para aqueles que como eu, trabalham no ensino de arquitectura com méritos reconhecidos pelos seus pares em circuito internacional, inclusive, como podemos interpretar essa leitura de desvalorização e exclusão do nosso ensino a não ser como uma manipulação grosseira para desmerecer o nosso sistema académico? Sofremos, neste momento, o impacto de não termos uma estratégia (do ponto de vista académico), clara aos nossos problemas quer no contexto arquitectónico, quer urbanístico. Precisamos urgentemente de definir objectivos específicos aplicados ao ensino de arquitectura determinados por políticas definidas pelos órgãos do Estado Angolano e assim, conseguir abrir caminho para a tal realidade diferente a que me referia.

Caloiros Arquitectura, Veteranos de Arquitectura, 2008

arqa: Qual o programa e estratégia de futuro da instituição que dirige? AM: Centralizam-se em três aspectos fundamentais: o que estudar (conteúdo), como estudar (condições) para que fim (objecto).O primeiro aspecto refere-se à redefinição dos Planos de Estudo da Licenciatura em Arquitectura à luz da realidade angolana, desenvolvendo foco investigativo para a a bibliografia específica, a formação do formador e a capacitação do formando no processo ensino-aprendizagem. O segundo aspecto, tem uma amplitude que é extra-institucional. O “como” é relativo ao ambiente quer académico, quer social, visto que o conhecimento tectónico da arquitectura implica o contacto directo com o objecto. O terceiro aspecto, tem sido orientar e potenciar a formação do futuro Arquitecto nos planos morfológico, cultural, económico e social, nos domínios científico e tecnológico, bem como no conhecimento das belas-artes, enquanto factores susceptíveis de influenciar a qualidade da concepção arquitectónica. No entanto, o maior objectivo é desenvolver a componente social aplicada ao exercício da profissão como condição ética fundamental e por isso mesmo imprescindível.  *Texto sem aplicação do acordo ortográfico

Tertúlia,Fórum de Arquitectura. Estudantes em Ambiente descontraído de diálogo com Arquitectos Convidados, 2007

Aulas de Campo. Estudantes de Arquitectura em Visita a Obra, 2006

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PROJETOS

biografias

AIRES MATEUS é a dupla de Manuel Aires Mateus (n.1963, Lisboa) e Francisco Aires Mateus (n.1964, Lisboa). Colaboraram com Gonçalo Byrne desde 1983 e trabalham juntos desde 1998. Foram docentes na GSD da Harvard University, EUA, em 2002 e 2005, na Accademia di Architectura de Mendrízio na Suíça, desde 2001, e na Universidade Autónoma de Lisboa, desde 1998. Têm participado em inúmeras exposições, das quais se destacam as recentes participações na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2010 e 2012. O seu trabalho foi distinguido diversas vezes, nomeadamente: Prémio Internacional da Pedra na Arquitetura (Itália 2011) para o Centro de Investigação das Furnas; o Premis FAD – Intervenções efémeras (Espanha 2010) para WeltLiteratur; Premios ENOR 2006 (Espanha) para Centro de Artes de Sines. www.airesmateus.com

JOSÉ NEVES (n.1963, Lisboa) é licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1986. Colaborou com os Duarte Cabral de Mello e Maria Manuel Godinho de Almeida, entre 1986 e 1990, participou em diversos trabalhos com Vítor Figueiredo e abriu atelier próprio em 1991. Foi Assistente e Professor Convidado nos D.A./U.L. (1990-1991), D.A./U.A.L. (1998-2000) e na F.A./U.T.L. (1988-2012). Entre os seus trabalhos encontram-se a Escola Francisco de Arruda (Prémio Secil 2012) e a Escola Marquesa de Alorna, ambas em Lisboa, o Centro de Artes do Carnaval (1º lugar em concurso público), o Edifício C6 e Alameda da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1º lugar em concurso público, com Francisco Freire) ou a Casa do Moinho (1º Prémio de Arquitetura da Câmara Municipal de Torres Vedras 1996-2001). Atualmente, prepara a sua tese de doutoramento intitulada “A arquitetura como trabalho de continuidade: Reflexões a partir de uma prática do projeto”. www.joseneves.net

NUNO BRANDÃO COSTA (n. 1970, Porto) é licenciado pela FAUP em 1994, onde leciona Projeto desde 1999. Entre 1992 e 1997, colaborou com Herzog & de Meuron e com José Fernando Gonçalves, no Porto. Em 1998, vence o concurso para a Biblioteca Central da FCSH, da Universidade Nova de Lisboa, o 2º Prémio para a Embaixada Portuguesa, em Berlim e abre escritório no Porto. A sua obra da Quinta de Bouçós foi nomeada em 2008 para o prémio Mies Van der Rohe; foi o vencedor do Prémio Secil 2008; nomeado para o prémio BSI – Swiss Architectural Award, 2012 e recebeu o Prémio Vale da Gândara 2010/2011. É Professor convidado da ETSA da Universidad de Navarra desde 2009 e Professor convidado EHL CAMPUS, Lausanne, em 2013. A convite de Cecil Balmond, colabora na conceção do projeto do Congress Hall, Water Front Complex, Colombo, Sri Lanka. www.nunobrandaocosta.com

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ARX PORTUGAL foi fundada em 1991 por Nuno Mateus e José Mateus, ambos licenciados pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa. Nuno Mateus é Mestre em “Architecture and Building Design” pela Columbia University, em 1987. Entre 1987 e 1991 foi colaborou com Peter Eisenman e em 1991 com Daniel Libeskind. Desde 2000 é Professor Associado Convidado na Universidade Autónoma de Lisboa e, desde 2007, Professor Convidado da FAUTL. José Mateus é Professor Associado Convidado no Instituto Superior Técnico de Lisboa, desde 2008. Membro do Conselho Editorial da Editora Babel, integra desde 2012 a Bolsa de Peritos do Conselho Consultivo para a Arte em Espaço Público da cidade de Lisboa e é Presidente da Direcção da Associação Trienal de Arquitectura de Lisboa. www.arx.pt

JOSÉ MANUEL CARVALHO ARAÚJO nasce e trabalha em Braga. Iniciou a sua atividade profissional como designer no Centro de Estudos Carvalho Araújo em 1986, 4 anos antes de se licenciar em Arquitetura. A partir de 1990, orienta a sua atividade para o “Projeto global”, reunindo Arquitetura e Design como disciplinas complementares, incutindo uma identidade própria aos projetos, respeitando um modo de pensar o projeto muito particular, atenta às condicionantes do contexto, às dificuldades que assume como oportunidades e a respostas que aliam uma estratégia global como suporte do projeto. Desde 2005, desenvolve atividade docente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica em Viseu, promovendo a pedagogia do desenho pertinente. www.carvalhoaraujo.com

©Telmo Miller

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CVDB ARQUITECTOS foi criado por Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, desenvolvendo projetos de Arquitetura que abrangem várias áreas e escalas. A prática profissional do atelier baseia-se numa pesquisa arquitetónica em que cada projeto é entendido como um campo de experimentação aberto a todos os intervenientes envolvidos no processo. Esta abordagem permite explorar formas contemporâneas de fazer Arquitetura, entendendo-a como parte de um amplo contexto físico, social e cultural e tendo em conta a experiência e perceção individual e coletiva do espaço urbano. O atelier tem ganho vários concursos públicos. O seu trabalho tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e tem estado presente em exposições e publicações. Em 2008 o atelier passa a ter Tiago Filipe Santos como co-autor, colaborador desde 2003. www.cvdbarquitectos.com

PEDRO DOMINGOS (N. 1967, Lisboa) é licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da UTL em 1992. Foi colaborador de João Luís Carrilho da Graça entre 1988 e 1997. Constituiu a sociedade Inês Lobo, Pedro Domingos – arquitectos Lda entre 1997 e 2002, onde desenvolveu concursos, projetos e obras em co-autoria. Desde 2002, dirige o atelier Pedro Domingos arquitectos. Foi docente da Universidade Évora entre 2006 e 2012 e da Universidade Lusíada entre 1999 e 2009. Recentemente, a sua obra Escola de Sever do Vouga foi distinguida com o Prémio FAD. www.pdarq.com

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PROJETOS

Portugal

Manuel e Francisco Aires Mateus Centro Escolar, Vila Nova da Barquinha

PROJ. 1

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PROJETOS

Portugal

ARX Portugal

Escola Secundรกria de Caneรงas

PROJ. 2

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PROJETOS

Portugal

Carvalho Araújo Escola Secundária de Lousada

PROJ. 3

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PROJETOS

Portugal

CVDB Arquitectos

Escola Secundรกria Braamcamp Freire, Lisboa

PROJ. 4

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PROJETOS

Portugal

José Neves

Escola Básica Francisco de Arruda, Ajuda, Lisboa

Laura Castro Caldas & Paulo Cintra

PROJ. 5

090

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PROJETOS

Portugal

Nuno Brandão Costa

Escola EB1/J1 do Padrão da Légua, Matosinhos

PROJ. 6

0100

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PROJETOS

Portugal

Pedro Domingos

Escola Bรกsica e Secundรกria de Sever do Vouga

PROJ. 7

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