Revista arqa #110

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Trienal de Arquitectura Ano XIV – novembro|dezembro 2013 €11,00 (continente) – 2 600 Kwanzas (Angola)

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arqa110 ARQUITETURA E ARTE

nov.|dez. 2013 | €11,00

Trienal de Arquitectura Close,Closer José Mateus Beatrice Galilee Liam Young Mariana Pestana José Esparza Chong Cuy Dani Admiss Jimenez Lai Crisis Buster Fábrica de Sonhos Planning for Protest Sou Fujimoto Aaron Betsky Philip Ursprung Ariadna Cantis Andrés Jaque Bart Lootsma Nuno Grande Gabriela Vaz Pinheiro Luís Tavares Pereira Inês Moreira

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ISSN: 1647- 077X


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arqa setembro|outubro 2013


Propriedade:

R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com

ÍNDICE

matérias Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores

Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com

A R Q U I T E T U R A

E

Foto: Luke Hayes

arqa

SONDA ESPACIAL L.Q.F.U.B. FRIENDLY FIRE A REALIDADE E OUTRAS FICÇÕES – TAL

A R T E

In/Outdoors

www.revarqa.com – futurmagazine@gmail.com

Climatização

Angola

Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com

Info – Boletim Informativo da Ordem dos Arquitetos de Angola (0A)

News Atualidades e agenda

Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design), David Santos (Artes), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros), Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes)

Editorial Luís Santiago Baptista – Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013

Depoimentos Grandes eventos de arquitetura – Perspetivas críticas: Aaron Betsky Philip Ursprung, Ariadna Cantis, Andrés Jaque, Bart Lootsma, Nuno Grande, Gabriela Vaz Pinheiro, Luís Tavares Pereira

Paginação e Imagem Nuno Silva Raquel Caetano Bruno Marcelino (desenhos) Edição Digital Ricardo Cardoso Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) – mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo – cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com cfigueiredo@revarqa.com

009 012 019 022

Crítica Inês Moreira – Exegese da Trienal 2013

Entrevista José Mateus Statement Entrevista Beatrice Galilee; Liam Young; Mariana Pestana; Dani Admiss; José Esparza Projetos Prémio Début Jimenez Lai – Biografia/Entrevista; Projetos: Speechbuster/99 Chairs; White Elephant; Briefcase House Projetos Crisis Busters Biografias/Projetos: J. Bergstein-Collay + M. Paco Rizzi – Cozinha da Casa do Vapor;

030 036 042 074 088

Artéria – Agulha num Palheiro; Terrapalha – Beautiful; Gargantua Collective – Genius Loci; Inês Neto + Rita Palma – Juventude na Street; Bagabaga Studios – Mundo Mouraria; Vários autores – Jornal O Espelho; Inês Neto + Rita Palma – Juventude na Street; Associação FRAME 408 – Pátio Ambulante, Lisboa; Associação Cultural Moinho da Juventude – Entrada Sul, Cova da Moura, Amadora; Normalearchitettura° – OWKBI or The Object that Wanted to Keep Being Itself

ANGOLA Parceria Futurmagazine – NAMK, Lda. Rua Major Marcelino Dias, nº 7 - 1º andar-D Bairro do Maculusso, Distrito da Ingombota, Província de Luanda namk-limitada@hotmail.com Tel. +244 222 013 232 Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br

Artes Sandra Vieira Jürgens – O impulso social e comunitário

Itinerâncias 1 – Luís Santiago Baptista – Trienal de Arquitetura de Oslo 2013 2 – Patrícia Santos Pedrosa – Sou Fujimoto: Futurospective Architecture

Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica

Design Carla Carbone – Matali Crasset: O lugar do design

Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete

Fotografia Fernando Guerra – FG+SG: A Realidade e Outras Ficções

Dossier

Tiragem 10.000 Exemplares

1 – Planning for Protest/ 2 – Fábrica de Sonhos

Livros

Periodicidade Bimestral ISSN: 1647- 077X ICS: 124055 Depósito Legal: 151722/00

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Mário Chaves

News Marketing Apoio:

Materiais fornecidos pelas marcas

novembro|dezembro 2013

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EDITORIAL

temático

Close, Closer

Desafios e dilemas quando “tudo é arquitetura”

Luís Santiago Baptista|lsbaptista@revarqa.com

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Alles ist Architektur afirmava Hans Hollein no tumultuoso final dos anos 60. O seu seminal ensaio terminava então com a declaração: “Todos são arquitetos. Tudo é arquitetura.”1 Na interpretação destas duas pequenas frases poderá estar a base para uma leitura crítica da 3ª Trienal de Arquitectura de Lisboa, comissariada por Beatrice Galilee sobre o tema Close, Closer. Desde logo, a assunção da veracidade ou falsidade da asserção de Hollein implica duas respostas diametralmente opostas. A recusa daquilo que apresenta ou a apologia daquilo que expressa. Nenhuma destas alternativas parece ser suficientemente produtiva. Porém, esta dicotomia tem dominado a receção da Trienal deste ano. Mas elaboremos um pouco mais. Alguma luz poderá surgir da análise da pontuação presente na proposição histórica de Hollein. A verdade é que existe uma ambiguidade lacónica nos meros pontos finais que concluem as duas pequenas frases. Perante tal afirmação bombástica no meio disciplinar da arquitetura de então, os pontos finais retiram a ênfase que os pontos de exclamação naturalmente lhe confeririam. Serão os pontos finais, pontos de exclamação dissimulados? A lógica do manifesto parece, de facto, atravessar todo o ensaio. Mas serão os pontos finais, pontos de interrogação interiorizados? A dúvida parece igualmente estar presente ao longo do texto. Se entendermos esta Trienal como uma afirmação curatorial, talvez possamos perceber Close, Closer como um desafio que nos é endereçado. No limite, um manifesto de que tudo é Arquitetura! para uma interrogação se tudo é arquitetura?. Acreditamos que esta é a abordagem mais fecunda a uma Trienal que tem espoletado polémicas, mais ou menos acesas ou veladas. É precisamente aqui que a revista arqa pode ter um papel crítico, na esteira dos números especiais que realizámos para as anteriores edições da Trienal e da Guimarães 2012. Esta edição tem como principal objetivo apresentar uma perspetiva crítica pós-evento, que abra uma reflexão alargada que consideramos absolutamente necessária. Agradecemos à Trienal todo o apoio dado para a realização deste número, nas figuras do seu Presidente José Mateus, do Diretor Executivo Manuel Henriques, da curadora geral Beatrice Galilee e restante equipa curatorial, bem como da incansável equipa de produção do evento.

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No ensaio de 1968 alles ist architektur, Hans Hollein expunha outra ideia que complementava a declaração de que “todos são arquitetos”: “Os arquitetos têm de deixar de pensar apenas em termos de construção.”2 Antevendo as transformações tecnológicas e sociais do pós-guerra, o arquiteto austríaco pressentia as mudanças no campo disciplinar da arquitetura e no papel que o arquiteto desempenhava na sociedade. No ano seguinte, em 1969, Harald Szeemann comissariava para o Kunsthalle Bern a exposição Live in your Head, celebrizando no título a expressão when attitudes became form: “Mas os artistas nesta exposição não são fazedores de objetos; em vez disso procuram libertar-se do objeto, adicionando às suas camadas de significação a verdadeira dimensão de serem também uma situação para além da própria obra. Eles querem que o processo artístico seja visível tanto no produto final como na «exposição».”3 Concretizando as transformações radicais nas conceções da arte dos anos 60, o historiador de arte suíço inauguraria logo a seguir a figura do curador independente, tornando a própria exposição num campo de experimentação

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artística. Na mesma altura, Henri Lefebvre participava ativamente nos acontecimentos que culminariam no Maio de 68, proclamando o droit à la ville e a ativação do espaço público: “o direito à cidade não pode ser considerado um mero direito de visita ou um retorno à cidade tradicional. Só pode ser formulado como o direito à vida urbana, numa forma transformada e renovada.”4 Enfrentando a emergente sociedade de consumo e do espetáculo, o sociólogo francês anunciava uma “nova praxis e um outro ser”, revolucionário e não especializado, uma vez que “nem o arquiteto nem o urbanista, nem o sociólogo nem o economista, nem o filósofo nem o político, podem retirar as novas formas e as novas relações a partir do ar.” Poucos anos antes, Marshall McLuhan vaticinava uma mudança civilizacional patente na afirmação medium is the message, que estaria na base da sua ideia de “aldeia global”: “Hoje, depois de mais de um século de tecnologia elétrica, projetamos o nosso próprio sistema nervoso central num abraço global, abolindo tanto o espaço e o tempo, pelo menos naquilo que concerne ao nosso planeta.”5 Prenunciando a sociedade de comunicação generalizada, o teórico dos media canadiano expunha a “necessidade de perceber os efeitos das extensões do homem”, a partir das profundas transformações introduzidas pelas novas tecnologias de informação. Não será difícil captar as linhas subterrâneas que ligam estes eventos e autores às diferentes exposições que compõem esta edição da Trienal de Arquitectura. De Hollein a Szeemann, de Lefebvre a McLuhan, Close, Closer presta tributo, consciente ou inconscientemente, a uma forte tradição de pensamento, com uma história e genealogia próprias. Hoje, aquilo que poderíamos definir tentativamente como alter-vanguardas continuam, de novas formas, o legado das vanguardas dos anos 20 e das neo-vanguardas dos anos 60. O esquecimento destes vínculos históricos empobrece um debate crítico que não se pode verdadeiramente realizar de modo superficial sem amplitude temporal. Só assim os seus aspetos transformadores e inovadores podem ser aferidos e testados com intencionalidade, perante os problemas do atual contexto histórico e cultural.

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Beatrice Galilee, curadora geral de Close, Closer, afirma: “a premissa deste evento não é dar respostas, mas a de colocar questões sobre a condição da prática arquitetónica hoje. Estas questões - prenhes de significado ou inocentes na sua simplicidade - contêm uma afirmação bem como um apelo à ação.”6 Creio não haver grande dúvida do caráter especulativo e experimental proposto, o que naturalmente envolve apostas e riscos. Desde a especulação ficcional sobre o futuro da cidade até estratégias de ativação da realidade urbana, de práticas espaciais e artísticas até workshops institucionais alternativos, esta Trienal convoca um amplo espectro de territórios de investigação, que se têm desenvolvido nas margens da disciplina da arquitetura. Neste sentido, a possibilidade de os trazer para o centro do debate disciplinar parece ser uma forma promissora de gerar reflexão e discussão, negociando ideias e experiências, a favor ou contra os argumentos apresentados. Proporciona o colocar em teste das hipóteses críticas e, nesse processo, permite o avançar o conhecimento. Esta Trienal apresentou-se assim como uma ocasião invulgar de expandir a nossa cultura arquitetónica. Algum público mais ou menos especializado


Se entendermos esta Trienal como uma afirmação curatorial, talvez possamos perceber Close, Closer como um desafio que nos é endereçado. No limite, um manifesto de que tudo é Arquitetura! para uma interrogação se tudo é arquitetura?. Acreditamos que esta é a abordagem mais fecunda a uma Trienal que tem espoletado polémicas, mais ou menos acesas ou veladas

A Realidade e Outras Ficções, Carpe Diem • O Efeito Instituto, MUDE • Fórum Novos Públicos, Praça da Figueira • Pátio Ambulante, Crisis Buster

parece ter aderido de modo convicto, eventualmente aquele mais desperto para as temáticas ou com maior curiosidade e voluntarismo. No entanto, a resistência que se sentiu em relação ao desafio lançado por Close, Closer, em parte também devido ao caráter não convencional das exposições e à multiplicação excessiva de eventos, deixa no ar o espectro de uma oportunidade, pelo menos em parte, perdida. Mas talvez ainda seja cedo para fazer esse balanço. A verdade é que Close, Closer trouxe a debate um conjunto de questões importantes para o repensar da disciplina na contemporaneidade. Não meramente para a negar, como por vezes foi entendido, mas para a interrogar. As preocupações com a desagregação da disciplina, levantadas em algumas críticas, parecem totalmente desproporcionadas tendo em conta uma disciplina com milénios de existência e uma tradição tão forte e viva. Neste sentido, importa salientar alguns aspetos curatoriais lançados por esta edição da Trienal. Quatro considerações críticas interessam-nos aqui. A primeira está relacionada com o estatuto da arquitetura. Close, Closer propõe uma ideia de arquitetura mais orientada para o que acontece nos espaços do que para sua configuração tipológica e morfológica. O ponto de vista da apropriação é aqui contraposto à realidade material no qual ocorre, evidenciando os aspetos efémeros e imateriais normalmente desvalorizados no campo disciplinar. As reencenações artísticas e ativistas dos usos anteriores do Palácio Pombal, em A Realidade e Outras Ficções, e o Palco Cívico, como dispositivo de ativação da Praça da Figueira, abrem o campo da reflexão e ação críticas sobre o espaço vivencial. Uma segunda consideração está ligada à natureza da arquitetura. Close, Closer reabilita a função do manifesto crítico e especulativo. A pretensa neutralidade da arquitetura é questionada, reassumindo-se uma dimensão mais política e ideológica, seja na leitura e mapeamento da realidade quotidiana, seja na imaginação de cenários futuros mais ou menos plausíveis. De facto, o Fórum Novos Públicos e a exposição Futuro Perfeito procuraram mostrar o potencial respetivamente crítico e ficcional na arquitetura atual. A terceira consideração remete para o papel do arquiteto. Close, Closer pretende responder ao atual momento de crise, apontando estratégias de intervenção bottom-up com maior envolvimento com os contextos locais. O tradicional distanciamento do arquiteto é assim posto em causa por uma atitude mais participativa e pró-ativa. Os debates com agentes culturais e sociais no Ground Floor Act, as propostas das bolsas Crisis Buster e alguns

dos Projetos Associados trouxeram à discussão outras formas de atuação profissional e uma possível redefinição do papel do arquiteto na sociedade. Finalmente, uma quarta consideração envolve a ideia de exposição de arquitetura. Como refere Galilee, “estamos a apresentar a arquitetura não apenas como um objeto ou ideia a ser mediada, mas como um ato de mediação em si mesmo.”7 Quer através de eventos no espaço público, quer através de exposições de caráter performativo, Close, Closer procurou levar a arquitetura a um público mais abrangente, fazendo-o participar nos eventos, mesmo assumindo as dificuldades na continuidade temporal das exposições e na veiculação dos seus conteúdos. Por outro lado, a performatividade estendeu-se à própria curadoria seja na desmultiplicação de curadorias, como aconteceu no O Efeito Instituto e na A Realidade e Outras Ficções, seja na integração dos múltiplos Projetos Associados. Com maior ou menor sucesso e eficácia, estas são ideias que exigem um escrutínio disciplinar. Em suma, a inversão de perspetiva proposta pela curadora, a favor da “ação” em detrimento dos “objetos”, pode perceber-se como estratégia para demonstrar a sua pertinência por oposição, mas fica a interrogação se, por outro lado, não se corre o risco de negligenciar a determinação recíproca entre as práticas espaciais, a atividade projetual e a realidade construída. Importará pois recuperar para o campo disciplinar da arquitetura os argumentos e propostas de Close, Closer, potenciando um debate fundamental que não pode ficar remetido ao conforto da mera recusa ou desinteresse. n

1 Hans Hollein. «Everything is Architecture» (1968), in Joan Ockman (edit.). Architecture Culture 1943-1968: A Documentary Anthology. New York: Columbia Books of Architecture / Rizzoli, 1996 [1993], p. 462, tradução livre. 2 Idem, Ibidem, p. 462, tradução livre. 3 Harald Szeemann. «The Exibithion: Live in your Head: When Attitudes Become Form [exh. cat. 1969]», in Biennials and Beyond: Exhibitions that Made Art History 19622002. London / New York: Phaidon, 2013, p. 109, tradução livre. 4 Henri Lefebvre. «The Right to the City» (1967), in in Joan Ockman (edit.). Architecture Culture 1943-1968: A Documentary Anthology. New York: Columbia Books of Architecture / Rizzoli, 1996 [1993], p. 435, tradução livre. 5 Marshall McLuhan. Understanding Media: The Extensions of Man (1964). CambridgeMassachusetts / London-England: The MIT Press, 1996 [1994], p. 3, tradução livre. 6 Beatrice Galilee. «Proposta Curatorial», in Close, Closer. Lisboa: Trienal de Arquitectura de Lisboa, 2013, p. 8. 7 Beatrice Galilee. «Proposta Curatorial», in Idem, Ibidem, p. 8.

novembro|dezembro 2013

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II N NF FO O Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I -– Nº 20132013 Nº 38 –– janeiro|fevereiro novembro|dezembro

Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, – Ano I - Nº 3 – janeiro|fevereiro 2013 Eventos realizados 1º Conselho FórumNacional Internacional de Arquitectura,

Agenda

9 DE FEVEREIRO 2013

OAA – A Terceira Agenda Assembleia Geral da 9 DE FEVEREIRO 2013 Ordem dos Arquitectos

OAA OAA –– A A Terceira Terceira de Angola. Neste evento Assembleia Assembleia Geral Geral da da deverá ser feito um balanço Ordem Ordem dos dos Arquitectos Arquitectos do Angola. mandato que agora de de Angola. Neste evento

termina.ser feito um balanço deverá do mandato que agora termina.

Arquitecto Victor Leonel

A Ordem dos Arquitectos de Angola, tem agendado para o mês de Dezembro, um encontro de confraternização com os associados, aproveitando evidentemente o espírito de Natal. Como os ventos 2 DE MARCO 2013 que sopram na OA são 2 DE MARCOEleições 2013 Terceiras de “acção”, a luz dos Terceiras Gerais da Eleições Ordem dos discursos do presidente Gerais da Ordem dos Arquitectos de Angola. Victor Leonel, este Arquitectos Angola. Nestas eleiçõesde deverá ser encontro será também Nestas deverá ser eleito o eleições próximo Presidente eleito o próximopara Presidente umConselho momento do Nacional, em do Conselho Nacional, em debater de maneira substituição do arq. Antonio substituição do algumas arq. Antonio descontraída Gameiro, bem como do Gameiro, bem como do questões ligadas ao Presidente do Conselho Presidente do Conselho exercíciode daLuanda, profissão, provincial provincial de Luanda, bem como o trabalho que o arq. Helvecio da Cunha. Cunha. o arq. Helvecio da a Ordem dos Arquitectos A convocatória para os dois A convocatória para os dois de Angola, temavindo eventos foi feita 17 de a levar apelo cabo, noPresidente sentido Janeiro, atual valorizar o arquitecto e da da Ordem. Ordem. promover a arquitectura. CC

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Cidades, vilas e património

Sumbe 2013

Eventos realizados

Temas e palestrantes António Gameiro Arquitecto (Angola) Subsídios para uma politica de ordenamento do território e do urbanismo

Rui Leão Arquitecto (Macau) REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, EM ABIDJAN, COSTA DOUm MARFIM, a 39ª reunião do Conselho novo paradigma: A integração de Macau no planeamento regionalEste da União Africana de Arquitectos (AUA) e o encontro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (CPD). Deltade doArquitectos). das Pérolas último, foi uma organização conjunta entre a EM AUAABIDJAN, e a UIA (União Internacional Na REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, COSTA DOdo MARFIM, aRio 39ª reunião doreunião Conselho da Africana de Arquitectos (AUA)varias e o encontro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (CPD). Este do União Conselho da AUA foram aprovadas resoluções concernentes a César organização interna da União. Freitas último, foi uma entre a AUA e UIA (União Internacional de Arquitectos). Na reunião No encontro doorganização CPD, foram conjunta feitas apresentações deatrabalhos desenvolvidos por grupos de arquitetos Arquitecto (Cabo Verde) do Conselho em da AUA foram aprovadas varias resoluções concernentes a organização interna daArquitectos União. • ivoariences, parceria com o governo de Abidjan, sobre requalificação urbana de degradadas. Presidente dazonas Ordem dos No encontro do CPD, foram feitas apresentações de trabalhos desenvolvidos por grupos de arquitetos de Cabo Verde ivoariences, em parceria com o governo de Abidjan, sobre requalificação de zonas degradadas. • O urbana Planeamento urbano da Baia do Mindelo no contexto do Opinião desenvolvimento da Ilha de São Vicente Opinião 90, verificou-se como um período de estagnação FALAR DE LUANDA é também falar dos Fernando Teixeira no crescimento da cidade de “betão”, mas também musseques, assim como os “Slums” 90, verificou-seArquitecto como um(Guiné período de estagnação FALAR DE LUANDA é também falarem dosLondres Bissau) foi nesse mesmo período que se registou fenómeno ou em Nova Iorque, os “bidonvilles” em Paris, no crescimentoOda cidade de “betão”, masotambém musseques, assim como os “Slums” em Londres poder politico e o urbanismo de migração do interior para a capital (cidade de as “favelas” no rio de Janeiro, os “bustees” em foi nesse mesmo período que se registou o fenómeno ou em Nova Iorque, os “bidonvilles” em Paris, Maria Mendes (cidade Correiade Luanda). O “Boom” dasAlice construções Calcutá, as “villas em Buenos Aires, de migração do interior para a capital desordenadas as “favelas” no rio de de misérias” Janeiro, os “bustees” em Arquitecta (Angola) começavaOa“Boom” uma velocidade descontrolada e, hoje, ou os “bairros de caniços” em Lourenço Marques, Luanda). das construções desordenadas Calcutá, as “villas de misérias” em Buenos Aires, O “Património” do movimento moderno começava a uma velocidade descontrolada hoje, ou osespelham “bairros de em Lourenço Marques, espelha o mosaico e a diversidade da nova e, estrutura pois ascaniços” assimetrias da evolução social. em Luanda espelha o mosaico a diversidade da nova estrutura pois espelham assimetrias da evolução social. urbana que Luandaeapresenta. Com os seusas 437 anos de existência, Luanda urbana quealguns Luanda apresenta. 437 de existência, Luanda Águeda Gomes Msc, Desporto para Existem planos de urbanização que estão deCom hojeos é oseus palco dasanos atenções de arquitetos, Existem alguns planos de urbanização que estão de hoje é o epalco das atenções de arquitetos, portadores deficiência (Angola) a ser implementados para aliviar a pressão urbana sociólogos antropólogos, pois apresenta Realizou-se nos dias 8 e 9 de Novembro de 2013, seraimplementados parabem aliviar pressãoestes urbana sociólogos e antropólogos, apresenta Acessibilidade para cidade vive. Ainda queatodos existem características únicas ondepois se verificam novasrealizado pelaaque o Primeiro Fórum Internacional de Arquitetura, que a cidade vive. Ainda bem que existem estes características únicas onde se verificam novas planos mas, nãoJoão querendo pessimista, perguntodinâmicas culturais e económicas. Se Ordem dossociais, Arquitectos de Angola, com o patrocínio institucional Belo ser Rodeia planos mas, não querendo ser pessimista, perguntodinâmicas sociais, culturais e económicas. Se -me se uma cidade se faz(Portugal) com planos “a retalho” até 1940 a expansão da cidade era lenta, foi no do Governo da Província do Kuanza Sul. Este evento acolheu Arquitecto -me se uma cidade se faz com planos “a retalho” até 1940 a expansão da cidade era lenta, foi no tambémda a III Geralonde do CIALP - Concelho internacional Presidente Ordem com dos Arquitectos como tenho verificado porda exemplo o plano do período 2ºAssembleia guerra mundial se verificou o como tenho verificado por exemplo com o plano do período da 2º guerra mundial onde se verificou o de Arquitectos de Língua Portuguesa, bem como a Assembleia de Portugal e do CIALP Cazenga, Sambizanga, Zango, entre outros, ou se se maior crescimento da cidade com uma arquitetura Cazenga, Sambizanga, Zango, entre outros, ou maior crescimento da cidade com uma arquitetura da Ordem dos Arquitectospelo de Angola. O Fórum contou com ase deve pensar Políticas públicas de Arquitectura a cidade como um todo, criando um fortemente caracterizada movimento moderno, se deve pensar a cidade como um todo, criando um fortemente caracterizada pelo movimento moderno, participação activa de mais Esse de 80movimento arquitectos chegou de Angola, Brasil, plano estratégico de crescimento sustentável, onde a arquitetura “Corbusiana”. Mingas Arquitecta (Angola) plano estratégicoÂngela de crescimento sustentável, onde a arquitetura “Corbusiana”. Esse movimento chegou Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau, quem sai sai aa ganhar ganhar é aa cidade cidade e os os seus seus utilizadores. a Luanda Luanda pelas pelas mãos mãos de de arquitetos arquitetos talentosos talentosos Musseques, urbanidade e utilizadores. quem é e a Moçambique e Portugal. sustentabilidade Na verdade, pensar Luanda é um exercício muito da época como Vasco Vieira da Costa, Castro Foi abordada a problemática das cidades e vilas, bem como o complexo e ao mesmo tempo apaixonante pela sua Rodrigues, Fernão Simões de Carvalho entre outros. seu legado traduzido na questão do património. O Fórum serviu Neminsa Malufuene e social e nunca terá o consenso Foi um período notável, onde o urbanismo e a própria ainda para troca de experiências com debates acalorados e diversidade cultural Arquitecto (Angola) de todos os que pensam nela. •• arquitetura ainda hoje têm algo a dizer à cidade. de todos os que pensam nela. arquitetura ainda hoje têm algo a dizer à cidade. inteiração sobre a problemática das cidades nos vários países Cidades, Vilas e Património: Entre o Jaime Mesquita, Arquiteto O entre finais Jaime O período períodono entre finais dos dos anos anos 70 70 até até fins fins dos dos anos anos envolvidos fórum. natural e o artificial Mesquita, Arquiteto

‘Delirious in Luanda’

‘Delirious in Luanda’


Lançamento

Legislação

Concurso Urbano de Arquitectura ARTIGO 12º

Obrigatoriedade de exercício de funções

Numa parceria entre a Ordem dos Arquitectos de Angola e o Governo Provincial do Kuanza Sul, foi lançado o Concurso Urbano de Arquitectura, 1ª edição. O conhecido “parque dos namorados” é o local escolhido pelas autoridades provinciais para esta edição e os arquitectos e urbanistas vão colocar as suas ideias em concurso. Será dada à proposta vencedora, para além de um prémio simbólico, a possibilidade da elaboração do projecto executivo, que será, à partida, construído. Este concurso visa colocar os arquitectos ao serviço da sociedade, dando respostas concretas a situações urbanas reais, em espaços propostos pelas autoridades locais. O Concurso será rotativo em várias províncias de Angola, sendo Kuanza Sul o pontapé de saída. Foram anunciados, ainda, a organização do Concurso Nacional de Arquitectura e do Prémio Nacional de Arquitectura. O Prémio Nacional visa o reconhecimento de carreiras, ninguém submete nada. O júri trabalha durante o ano e elege no território um conjunto de

Parque dos namorados

Vista aérea

obras, dignas para o grande prémio.Ao contrário, no Concurso Nacional, os arquitectos submetem projectos já construídos, dos quais a melhor proposta e escolhida pelo júri será, a vencedora.

Renúncia ao cargo e suspensão temporária do exercício de funções

Igrejas do Kuanza Sul No âmbito da realização do Fórum Internacional de Arquitectura, a Ordem dos Arquitectos de Angola, realizou uma exposição, cujo tema central é focado nos templos com valor patrimonial existentes na província do Kuanza Sul. Como bom visitante, a Ordem dos Arquitectos decidiu oferecer a exposição às autoridades provinciais, tendo sido propositadamente preparada para ser uma exposição itinerante, de modo que possa percorrer todos os cantos da província.

Igreja do Waku Kungu 2

2. A recusa injustificada de exercício de funções por que tenha sido eleito ou designado é punível com suspensão do exercício da profissão por um período de 18 meses.

ARTIGO 13º

Exposição itinerante

Igreja do Waku Kungu 1

1. Constitui dever do arquitecto ou do urbanista o exercício, nos orgãos da Ordem, das funções para que tenha sido eleito ou designado, salvo no caso de escusa fundamentada, aceite pelo concelho provincial respectivo ou pelo concelho nacional, no caso de aquele não existir.

Igreja do Sumbe 1

Igreja do Sumbe 2

Igreja do Porto Amboim 1

Igreja do Porto Amboim 2

Quando sobrevenha motivo relevante pode o arquitecto ou o urbanista titular de um cargo em órgãos da Ordem dos Arquitectos solicitar ao Concelho Nacional a aceitação da sua renúncia ou a suspensão temporária do exercício de funções.

Ordem dos Arquitectos de Angola

Igreja do Mussende

Igreja da Gabela 1

Igreja da Gabela 2

Igreja da Kibala

Igreja da Conda

Rua Aníbal de Melo, nº 109, 1º andar Vila Alice, Luanda Tel. +244 926 975 502 geral@arquitectos-angola.org

Projecto Nova Vida Rua 50 • edifício 106, 3º andar, apto 3.2 • Luanda - Angola Telf. +244 923 609 573 • +244 921 548 455 pranchetalda@hotmail.com


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NEWS

atualidades

PAULA MELÂNEO|apmelaneo@gmail.com

arqa na Sonda Espacial L.Q.F.U.B. da Friendly Fire O coletivo ARQA, enquanto corpo editorial expandido, embarcou no dia 16 de Novembro na Sonda Espacial L.Q.F.U.B. da Friendly Fire para o workshop Fanzine Machine. Esta instalação faz parte da exposição A Realidade e Outras Ficções, com curadoria de Mariana Pestana no âmbito de Close, Closer, a edição de 2013 da Trienal de Arquitectura de Lisboa. Luís Santiago Baptista, Paula Melâneo, Sandra Vieira Jürgens (Artes) e Carla Carbone (Design)

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juntaram-se a diversos amigos da revista arqa, Pedro Baía, Inês Moreira, Gonçalo Velho, Rita Macedo e Luca Martinucci, para ativar e explorar o arquivo da revista arqa, no intuito de interrogar a condição dos grandes eventos de arquitectura, convocando uma pluralidade de áreas disciplinares e uma diversidade de estratégias de experimentação. “A estrutura desta fanzine “espacial” obedece à divisão cerimonial dos membros da Academia dos

Ilustrados do século XVIII (que teve lugar no Palácio, onde intelectuais se reuniam para ler e discutir literatura e filosofia) em “lentes”: os problemáticos, os artísticos, os espontâneos, os heroicos, os políticos, os académicos, os radicais, os lúdicos e os fantásticos.” Sob a Lente “os radicais”, a crítica foi a grande diretriz desta pesquisa de arquivo. No final, irá constituir-se uma publicação com os contributos

de todos os grupos que habitaram a sonda. As próximas sessões agendadas são 30 Novembro às 15h Lente – Os Lúdicos: Dédalo e a finalizar 14 Dezembro às 15h Lente – Os Fantásticos: Friendly Fire. A exposição A Realidade e Outras Ficções está aberta até 15 de Dezembro na Carpe Diem Arte e Pesquisa em Lisboa. www.close-closer.com www.friendlyfire.info


Cloud Boxes de SANAA venceu o concurso da Cidade de Taichung A cidade de Taichung em Taiwan, atribuiu a SANAA de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, com os locais ricky liu & associates architects + planners, o primeiro lugar no concurso internacional para a unificação da cidade recentemente formada. Na tentativa de se separar das cidades suas irmãs, em dezembro de 2010, Taichung estabeleceu uma enorme estratégia de fusão de regiões, aumentando sua população de 1 para 2,5 milhões de habitantes. Como resultado, o governo local pensou na futura existência de um espaço urbano dedicado à arte, onde fossem celebradas as diferentes culturas das regiões fundidas. O concurso procurava a combinação de uma biblioteca pública e museu de artes num único complexo. O centro cultural deveria criar uma identidade local, “uma obra de arte por si só”, que representasse o otimismo e criatividade dos habitantes, ao mesmo tempo que atrairia a atenção da comunidade internacional. SANNAA deu a melhor resposta, com uma proposta elegantemente simples, fazendo um grande volume parecer leve, como se flutuasse. Em planta, os espaços parecem um aglomerado de blocos de jogo de crianças, criando vazios e praças que sugerem uma conjunto de edifícios tão dinâmicos no interior como no exterior. Áreas de leitura, exposição e jardins estão dispersos, como se criassem uma distinção hierárquica entre os programas, uma estratégia de projeto característica de SANAA. O segundo prémio coube a Jean-Loup Baldacci e o terceiro a Eisenman Architects. Foram atribuídas também duas menções honrosas a MASS STUDIES e a Stucheli Architekten. www.sanaa.co.jp

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NEWS

atualidades

PAULA MELÂNEO|apmelaneo@gmail.com

Humberto Silva e Humberto Fonseca vencedores do concurso Norte 41º O Concurso Internacional de Ideias Norte 41º, Regeneração Urbana do Quarteirão Aurifícia no Porto teve como vencedores Humberto Silva e Humberto Fonseca, com uma proposta selecionada entre as de 31 equipas concorrentes, provenientes de Portugal, Itália, Holanda, França, Lituânia, Brasil, Paquistão, Suíça e Egipto. Este Concurso teve como objetivo “definir estratégias de regeneração urbana para o quarteirão delimitado pela Rua Álvares Cabral, Praça da República/ Rua Mártires da Liberdade, Rua dos Bragas e Rua de Cedofeita, e espaço público confinante e contribuir para a reflexão e debate em torno dos processos de regeneração urbana e o diálogo interdisciplinar, propondo estratégias operativas para esta área específica da cidade, na articulação entre o eixo da Boavista e da Baixa do Porto.” A proposta vencedora foi destacada pelo júri pois “considera o quarteirão como uma entidade estável, respeitando a

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sua identidade e potencial, minimizando as intervenções arquitetónicas e urbanísticas de uma forma contida e adequada, valorizando a relação do interior do quarteirão com os espaços envolventes. Destaca-se a forma como resolve a articulação do edificado com o espaço aberto que constitui o interior do quarteirão, através da proposta de um conjunto de habitações que delimitam o espaço privado do público, criando uma nova frente de quarteirão. Interioriza o jardim Hermann Burmester, mantendo as suas características fundamentais, redimensionando-o e relacionando-o com a Rua de Cedofeita. A proposta de intervenção sobre o edifício da Companhia Aurifícia é muito contida, mantendo as suas características essenciais e preconizando a sua reutilização com a instalação de

equipamentos e atividades lúdicas. Do ponto de vista da sustentabilidade sublinhase a hierarquização dos espaços verdes privados e públicos, mantendo a sua continuidade e permeabilidade e permitindo a organização das funções ecológicas e sociais exigidas”. O segundo classificado foi [i]da arquitectos – Ivan de Sousa com Inês Antunes e terceiro o Atelier Lupini Machado. As Menções Honrosas atribuídas pelo Júri do Concurso distinguiram o Atelier Orgânica Arquitectura Lda e Juan Marcos Rodriguez Díaz com Carmen Largarcha. A concurso esteve também o mediatizado projeto de Pedro Bandeira propondo a relocalização da Ponte D. Maria Pia no quarteirão da Companhia Aurifícia, sob o argumento “sejamos realistas, exijamos o impossível”!


Exposição e debates TANTO MAR – Portugueses fora de Portugal Tanto Mar será um espaço para conhecer o trabalho de diversos portugueses que residem e trabalham fora de Portugal que têm feito intervenções no ambiente construído, procurando uma atitude transformadora a partir das questões sociais. Pouco conhecidos em Portugal, estes criadores operam no centro das grandes questões que o presente coloca e, segundo a organização, “só constituirão uma massa crítica útil ao país se o seu trabalho for registado, reconhecido e discutido também em Portugal.” Este projeto suge de uma pesquisa de 2 anos, onde foi lançado um open call e também se aceitaram candidaturas espontâneas. O projeto inicia com 2 mesas redondas nos dias 12 e 13 de dezembro, na Sala Luís de Freitas Branco no Centro Cultural de Belém sob os temas: Tanto Mar – Visto de dentro (pt) e Tanto Mar – Seen from outside (en). Participarão, entre outros, Inês Moreira, Inês Lobo, Luís Santiago Baptista, José Mateus e Marta Silva, dia 12; e Ethel Baraona Pohl, Indira Van’t Klooster, Nuno Nunes, Shumi Bose e Vera Sacchetti, dia 13. A Exposição acontece mais tarde, abrindo 21 de março de 2014 na Garagem Sul do CCB, e que dará início a uma base de dados online, com registo destes Portugueses fora de Portugal. Tanto Mar é uma iniciativa do ateliermob, com organização conjunta do CCB, tem como parceiro o Largo Residências e o apoio da DGArtes e do Governo de Portugal. Para mais informações consulte o website www.tantomar.pt ou contacte: info@tantomar.pt

BIG na equipa vencedora do novo Museu do Corpo Humano O concurso internacional para a nova Cité du Corps Humain em Montpellier, França, foi ganho pela equipa composta por BIG + A+Architecture + Egis + Base + L’Echo + Celsius Environnement + CCVH. Parte do novo Parque Marianne, o museu explora o corpo humano do ponto de vista artístico, científico e social, através de atividades culturais, exposições interativas, performances e workshops. 8 espaços principais distribuídos por 1 piso compõem o programa do edifício, num total de 7,800 m². A sua forma orgânica eleva-se para formar e destacar um espaço contínuo. Diversas ligações entre as várias funções criam vistas para o parque, entradas de luz e optimizam conexões internas. A cobertura do museu funciona como um jardim ergonómico, uma paisagem dinâmica de superfícies minerais e vegetais, permitindo ao visitante do parque explorar o seu corpo de diferentes maneiras – da contemplação à performance, entre descanso e exercício, a calma e o desafio. As fachadas, transparentes e sinuosas, oscilam entre norte e sul, este e oeste, permitindo vistas para o parque onde se controlam as entradas de luz através de uma protecção desenhada para parecer um padrão de impressão digital. O novo museu vai enriquecer o legado cultural e científico de Montpellier, atraindo turistas, famílias, escolas, académiscos e amantes de arte. A sua construção deverá começar em 2016 e o edifício abrir ao público em 2018. www.big.dk

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ENTREVISTA

arquitetura

José Mateus

Presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA PAULA MELÂNEO

arqa: Depois de uma 1ª edição em 2007 sobre o tema Vazios Urbanos, de uma 2ª edição em 2010 sobre o tema Falemos de Casas, como caracterizaria a evolução para esta 3ª Trienal de Arquitectura de Lisboa sobre o tema Close, Closer? JM: É uma evolução que não é dissociável de vivermos um ciclo de fundação, o das primeiras edições da Trienal, que com Close, Closer, completa 3 ensaios que nos permitem entender quais as bases da nossa identidade. Há opções que tomámos precisamente porque estamos no início, numa origem que não é simplesmente um ponto, na procura de um projeto próprio sem guião prévio fixo. Havia um modelo mas não o considerávamos definitivo. Para 2013, a escolha do curador por Open Call internacional foi a forma que encontrámos para simultaneamente encontrar uma ideia forte e estimulante, uma nova equipa curatorial, identificar

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um projeto com capacidade de internacionalização, e, finalmente, uma visão curatorial distinta dos eventos precedentes. Vi também, na proposta escolhida, uma resposta com imenso potencial face ao contexto de crise. Em Portugal, porque a esmagadora maioria dos arquitetos nunca terá na vida a possibilidade de desenhar um edifício, fazia sentido nesta edição abrirmos outros campos de reflexão, atentos a essa realidade. Também estávamos interessados em testar diferenças face à estrutura dos eventos anteriores, pelo que foi dada liberdade para se questionar a estrutura dos eventos do passado, como veio a acontecer relativamente à conferência internacional em auditório fechado, que não existiu, ou ao catálogo impresso, que se desdobrou em guia e e-books. Close Closer veio a ser aquilo que apontava a proposta do Call: mais do que um evento centrado em objetos arquitetónicos, sua autoria e filosofia, o olhar é deslocado para


Fachada e pátio da Sede da Trienal de Arquitectura de Lisboa, no Palácio Sinel de Cordes à Graça

uma perspetiva multidisciplinar, para a “prática espacial”, um conceito mais lato pois trata-se de um território vasto e difuso, onde o arquiteto nem sempre é o protagonista. E a escolha da expressão Close Closer foi lógica e forte, porque convoca, numa perspetiva de dilatação de possibilidades, o envolvimento e uma reflexão crucial sobre outras formas de atuação do arquiteto, como já referi, particularmente importantes hoje. Sendo o desenho ou a ocupação do espaço tão dependentes de processos políticos, os arquitetos deveriam sair mais dos ateliers, participar mais e exercer a sua influência. Em Portugal é chocante o deficit de participação cívica da maioria da população, bem como a ausência dos arquitetos dos centros de poder político. Observa-se ainda que, na maioria dos casos, a reflexão entre arquitetos ocorre em circuito fechado, em auditórios repletos de estudantes, académicos e críticos, longe da sociedade com que não conseguem interagir. Perante esta realidade, ensaiar a montagem desse programa de conferências em espaço público, e avaliar o resultado dessa estratégia, pareceu-nos inteiramente válido. Mais do que apenas em Novos Públicos, este programa cumpriu-se através das inúmeras apresentações e debates espalhados pela cidade ao longo dos 3 meses, tanto na programação central como nos projetos associados. A interação com a população não especializada e o tratamento da realidade em crise foram fortíssimas através dos projetos como os Crisis Buster, que, estranhamente, alguns críticos parecem ter esquecido. Eventos na Praça da Figueira em canal aberto como Superpowers of Ten, de Andrés Jaque, uma espécie de opereta satírica concebida a partir da peça Powers of Ten de 1968 de Charles e Ray Eames, foram de uma indesmentível importância, neste caso particular, uma peça notável. A dinâmica, a discussão e a polémica atingiram proporções consideráveis, mesmo entre gente localizada em pontos diferentes do globo, interagindo, assumindo posições antagónicas, indignando-se, subscrevendo, reagindo, abrindo caminhos e fissuras, tomando consciência. E esta é uma das funções essenciais de um evento destes. No essencial, a Trienal proporciona em Lisboa um espaço de referência, físico e temporal, para os participantes estabelecerem e intensificarem relações entre si e com o que é exposto ou discutido. Desse espaço, cada um retira o que quiser. arqa: A edição deste ano, comissariada por Beatrice Galilee, é assumidamente um desafio de interrogação e expansão do campo disciplinar na procura de novos atravessamentos transdisciplinares. Como descreveria e qual a sua interpretação do extenso programa de Close, Closer? JM: Esses “atravessamentos” transdisciplinares, que já existiram sobretudo em Falemos de Casas, são fundamentais porque a arquitetura alimenta-se de um vasto espectro de conhecimento a partir do qual produz sínteses. Mesmo para os grandes defensores da autonomia da arquitetura, esse cruzamento é importante para se entender quais as fronteiras, que na verdade oscilam ao longo dos tempos, e o que significa essa autonomia. Em Close, Closer há aspetos novos como o facto dessa “transdisciplinaridade” passar a estar no centro de uma conceção curatorial assente predominantemente na “ação”, e no que dela resulta, como

“material“ que se sobrepõe, e até mesmos substitui, o objeto arquitetónico enquanto elemento tradicionalmente preponderante. Daí que eu veja esta edição como uma extensíssima rede de ações ou atos, mais do que exposições. Nesta Trienal há “espaços“, que não são neutros, são encenados, pensados para, além de materializar um projeto arquitetónico e/ou artístico, uma reflexão espacial, acontecerem coisas. A palavra “ato” é frequentemente utilizada nesta Trienal, com a conotação inerente de incitação ou possibilidade de interação, tomada de posição, processo, envolvimento. Em A Realidade e as Outras Ficções como em Efeito Instituto, seja de forma ativa ou latente, a ideia de ação é fundamental, é requerida. Em ambos os casos, há também uma forte consciência temporal, que se manifesta na sobreposição progressiva de memórias e de registos, indícios, evidências da sucessão de acontecimentos. E, o visitante participa intencionalmente ou acidentalmente, podendo passar da condição “acidental” à “intencional”. Ou seja, são exposições com diversos níveis de interpelação do público, desde a própria intervenção no espaço, alusiva às memórias do edifício, ao que acontece nos 3 meses, ao que vai ficando desses acontecimentos. Na verdade, Close, Closer está obviamente ligado a alguns dos alicerces da arquitetura: o Homem, a vida, o tempo e a relação destes com o espaço. Num país como o nosso com um enorme défice de participação e envolvimento, esta abordagem não necessita de grandes explicações para justificar a sua pertinência. Portugal é o 2º país da União europeia com menor índice de consumo cultural, o último em termos de hábitos de leitura, e, acredito que uma boa parte dos problemas dos arquitetos portugueses está ligado à sua baixíssima capacidade de mobilização. Veja-se o quase vazio processo de eleições para a Ordem dos Arquitectos. Close, Closer é também a Trienal do excesso, um excesso intencional e relacionado com a ideia de proximidade. Através dos cerca de 120 pontos de programação, que incluem dentro de si diversos dias com

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STATEMENT

arquitetura

Beatrice Galilee

Proposta Curatorial de Close, Closer, Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013

“Na realidade, a arquitetura é demasiado importante para ser deixada aos arquitetos.” Giancarlo Di Carlo, Architecture’s Public, 1970 A premissa deste evento não é dar respostas, mas a de colocar questões sobre a condição da prática arquitetónica hoje. Estas questões – prenhes de significado ou inocentes na sua simplicidade – contêm uma afirmação bem como um apelo à ação. Ecoam num palco público para lá do discurso tradicional no sentido de se situarem numa conversa entre disciplinas de cultura e estruturas de poder real. Esta que é a terceira Trienal de Arquitectura de Lisboa foi projetada e constituída no contexto dos destinos económicos periclitantes de um país da zona Euro em dificuldades, onde o desemprego entre os licenciados atinge atualmente os 40%. Esta é a geração de jovens arquitetos que poderão acabar a perguntar-se se deveriam estar a projetar a arquitetura de redes e sistemas, de sociedades ou conversas, em vez de edifícios. Ao longo de três meses e em diversas plataformas de exposições, eventos, discursos, conversas, peças de teatro, campanhas, concursos, jantares, debates, parlamentos, publicações, interfaces, atmosferas, experiências, invenções e ações cívicas, a Trienal vai analisar a condição em que a arquitetura é exercida, a par da forma como é enquadrada, expressa e entendida. Estamos a apresentar a arquitetura não apenas como um objeto ou ideia a ser mediada, mas como um ato de mediação em si mesmo. Defendemos que as exposições não se separam do conteúdo e condição crítica dos seus participantes e que prática arquitetónica está presente em cada projeto nesta Trienal. A nossa equipa de jovens curadores apresenta a arquitetura enquanto ato pedagógico, ideia biológica, postura política, social e cívica. Demonstramos que a arquitetura pode ser uma força de ocupação e transição, um elemento especulador e fantasista; a arquitetura enquanto algo de excitante e intangível, volátil e indistinto. As exposições centrais e fundamentos de Close, Closer: Futuro Perfeito, A Realidade e Outras Ficções, O Efeito Instituto e Fórum Novos Públicos, são todas elas factos da arquitetura contemporânea, da autoria de agentes e colaboradores diversos. A posição de um universo alternativo de prática arquitetónica será introduzido e apresentado sem cedências, mas com curiosidade. Uma disciplina que foi em tempos definida claramente por resultados formais está a expandir-se metafórica e literalmente – numa negociação perpétua com a condição do seu tempo – para reclamar controlo sobre ideias mais enigmáticas, de ocupação a estratégia, disseminação e agência. Ao convidar os visitantes a entrar e experienciar, reencenar e aprender e envolver-se, o programa da Trienal pergunta, o que pode ser uma exposição? Mais do que o conjunto dos fragmentos resgatados de uma era, pode ser uma força produtiva. Para além

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das exposições, uma série de ebooks com autoria e edição da equipa curatorial vão oferecer uma base de referência contextual e teórica às exposições, tal como a identidade da Trienal é o quadro de referência para a conversa em curso. A rede de pequenos e grandes Projetos Associados, ambiciosos em escala e âmbito, vão espalhar-se por Lisboa. Diversamente conflituantes, delicados, reflexivos, argumentativos e de guerrilha, os formatos inovadores de exposições temporárias, festivais e intervenções vão ocupar a cidade de formas subtis e explícitas. O programa de Bolsas Crisis Buster foi ativado em pleno e todos os projetos financiados estarão em funcionamento. Close, Closer é um momento de produção de conhecimento e disseminação de ideias. É uma conversa em curso entre histórias e futuros, e a criação de um espaço para ideias e ambições. Simultaneamente a mapear e a navegar por este território, estamos a tentar estar mais próximos. 

Residente em Londres, Beatrice Galilee é curadora, escritora, crítica e professora, bem como especialista na divulgação da arquitetura e do design contemporâneos. É cofundadora e diretora do The Gopher Hole, um espaço de exposições independente em Londres, criado como plataforma para o design político e social interdisciplinar, e para o debate. É formada em Arquitetura e tem um mestrado em História da Arquitetura. Foi curadora na Bienal de Design de Gwangju em 2011, na Coreia, e na Bienal das cidades de Shenzhen e Hong Kong em 2009. Trabalhou como editora de arquitetura para a revista Icon entre 2006 e 2008. Atualmente, contribui como freelancer para diversas publicações internacionais na área da arquitetura e do design. É professora associada na Central Saint Martins College of Art and Design.


Foto: Š LyntonPepper

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arquitetura

Liam Young

Proposta Curatorial Futuro Perfeito, TAL 2013

À medida que a economia colapsa e a cidade é remodelada por novas tecnologias, o futuro começa novamente a ser um projeto. Chegamos a esta cidade no início da sua vida, é um Futuro Perfeito. Olhamos em volta para a paisagem em evolução, um campo aberto, cheio de complexidade e contradição, agora instável sob os nossos pés. Ela sussurra enquanto ouvimos o assobio do arrefecimento dos computadores e os bips de monstros tecnológicos a viver as suas vidas luminosas. As infraestruturas familiares de estradas, edifícios e praças públicas vão lentamente dando lugar a redes digitais efémeras, biotecnologias e conexões informáticas em nuvem. A cidade física que conhecemos está a destruir-se a si própria. Ela pergunta, “A nossa cidade ainda é uma cidade?”. Os projetistas desta cidade, pelo menos estão a ser redefinidos. Em tempos, os arquitetos especulavam sobre os impactos da industrialização e depois da produção em massa. Em tempos de crise, os arquitetos precisam de voltar a explorar grandes visões e gestos audazes. Não é tempo de recuar. Numa altura em que imaginamos as cidades especulativas do iminentemente possível, começamos a ensaiar formas alternativas de exercer arquitetura nas quais os arquitetos podem, uma vez mais, desempenhar um papel crítico na exploração das implicações e consequências das tecnologias emergentes. Os arquitetos ocupam um espaço entre o cultural e o tecnológico e têm o potencial para visualizar, sintetizar e disseminar ideias junto de públicos exteriores à disciplina. A ficção é um meio poderoso através do qual partilhamos e discutimos as nossas esperanças, medos e ansiedades sobre um tempo que ainda está para vir. Agente de provocação e contador de histórias, o arquiteto instiga o debate, levanta questões e permite aos membros do público tornaremse agentes ativos no futuro das suas cidades. As táticas de especulação podem aproximar o arquiteto das tecnologias que estão, cada vez mais, a moldar o domínio urbano, bem como a aproximar o público da investigação científica que está a transformar o mundo. A ficção especulativa é assim uma ferramenta crítica, uma extraordinária visão do amanhã que é, ao mesmo tempo, uma análise provocadora de questões pertinentes com que nos deparamos hoje. Futuro Perfeito é uma cidade ficcional do futuro. Em Futuro Perfeito encontramos um think tank de cientistas, tecnologistas, futuristas, ilustradores e autores de ficção científica que coletivamente desenvolveram este lugar imaginário, as paisagens que o rodeiam e as histórias que contem. A cidade forma o cenário para um conjunto de histórias, infraestruturas emergentes e experiências projetuais. Estabeleceram-se colaborações entre designers, departamentos de investigação e escritores para desenvolver uma constelação de cinco trabalhos e respetivos contos que podem ser habitados sob a forma de “distritos” de grandes dimensões de uma cidade do futuro. Tratase uma paisagem imaginária, um presente exagerado, extrapolado a partir das maravilhas e possibilidades da investigação biológica e tecnológica emergente.

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Caminhamos através das paisagens de Futuro Perfeito. Não é claro para ela o que é facto e o que é ficção, ambos estão interligados. Deslizamos sugestivamente entre o real e o imaginado, entre o documental e o visionário, onde ficções especulativas se tornam uma forma de explorar um mundo que o quotidiano se esforça para apreender. Começamos nas periferias, n’AS SELVAS da cidade. Novas espécies de plantas farmacêuticas desenvolvidas em laboratórios de bioengenharia brilham sob a luz de sóis de néon. Conforme passamos pel’OS TEARES, as nossas cabeças tocam o dossel em teia dos cabos dos robôs à medida que estes zumbem e direcionam as suas extremidades para segregar numa secção de terreno virgem. Esta é uma cidade que cresce, ao invés de ser construída, um território computacional, facetado e abstrato, que se reimprime a si mesmo interminavelmente à medida das necessidades. Avançamos através de uma montanha scaneada a laser n’O SUPERCOMPUTADOR, à medida que as suas paisagens digitais irradiantes se tornam mais reais que o chão debaixo dos nossos pés. A um gesto nosso, um iceberg fantasma divide-se e atravessamolo em direção às piscinas de impressão d’O PRONTO-A-VESTIR e às próteses digitais penduradas a secar. Chegamos à VISTA PANORÂMICA e diante de nós, Futuro Perfeito estende-se em luminoso detalhe. Observamos crianças que brincam e correm pelas ruas enquanto a cidade se esforça por os acompanhar. O futuro não é algo que passa por nós como água, é algo que devemos modelar e definir ativamente. Algumas das pessoas que encontramos deixam-se levar pelo que a cidade poderia ser, outras mostram-se reticentes e olham-na com cautela. É um lugar de maravilha e de medo. Encontramos amigos e estranhos, ouvimos as suas histórias e imaginamos a nossa vida aqui. Eu nunca andei por estas ruas, por aquilo que estará para vir, num Futuro Perfeito. 

Liam Young é um arquiteto que se move nos espaços entre o design, a ficção e o futuro. É fundador do laboratório de ideias Tomorrows Thoughts Today, um grupo que explora as possibilidades de urbanismos fantásticos, perversos e imaginários. Também é responsável pelo workshop nómada Unknown Fields Division, que parte em expedições anuais para os confins da Terra com o objetivo de investigar paisagens irreais e esquecidas, terras estranhas e ecologias industriais. Os projetos de Liam desenvolvem especulações ficcionais como ferramentas críticas para avaliar as consequências de futuros ambientais e tecnológicos.


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STATEMENT

arquitetura

Mariana Pestana

Proposta Curatorial de A Realidade e Outras Ficções, TAL 2013

“Os leitores podem ler de muitas formas e não há lei que determine como devem ler, porque usam frequentemente o texto como receptáculo para as suas próprias paixões, que podem ser exteriores ao texto ou que o texto pode suscitar por acaso.” Umberto Eco, Six Walks Into the Fictional Woods, 1994 A Realidade e Outras Ficções é uma exposição sobre o uso, que se presta a ser usada. É composta por sete intervenções e um programa de residências que promovem encontros entre o público e o espaço que as acolhe. Para além de representar arquitetura, apresenta-a. Encena-a. Para além de expor arquitetura, as intervenções discutem-na, incorporam-na, imaginam-na. Através de uma série de ficções políticas e sociais baseadas em factos históricos sobre o(s) uso(s) passado(s) do lugar que acolhe a exposição, A Realidade e Outras Ficções reconstrói o edifício. O público é convidado a jantar, ler, jogar, votar, debater, discursar e até adormecer, integrando a própria exposição. Tem lugar no Palácio Pombal, um palácio de origem seiscentista que é conhecido por ter sido residência do Marquês de Pombal, primeiroministro de Portugal após o terramoto de 1755, que destruiu grande parte da cidade de Lisboa. Mas o palácio foi também Embaixada de Espanha, Legação da Alemanha e sede do movimento anarco-sindicalista lisboeta no início do século XX. Foi no palácio que a Academia dos Ilustrados, uma academia intelectual do século XVIII, se reuniu regularmente. Na década de oitenta do século XX, o palácio acolheu a Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas e, no início do século XIX, foi residência de Jácome Ratton, que foi preso naquele lugar, por suspeita de colaborar com os invasores franceses. Durante setenta e cinco anos foi sede da Casa da Madeira, Representação Oficial da Região Autónoma da Madeira em Lisboa, e atualmente é a sede da instituição Carpe Diem Arte e Pesquisa. O que o palácio é hoje – enquanto arquitetura – estende-se muito para além do seu projeto e construção no século XVII: o Palácio Pombal é também a acumulação de todas as vivências e acontecimentos que acolheu ao longo da sua história. Ao ocupar o edifício, a exposição reavalia-o como soma desses usos, trazendo-os de volta através de re-encenações, em parte reais, em parte imaginadas: ficções ideológicas materializadas em espaços totalmente funcionais. Reatualizar usos passados na esfera do presente é uma oportunidade para refletir sobre questões em torno da arquitetura e dos postulados que definem e condicionam os seus usos. Uma exposição, enquanto dispositivo, permite a substituição ou repetição das qualidades formais e materiais dos espaços através da sua representação. Mas, como expor as qualidades imateriais, sociais e performativas relativas ao uso do espaço? Face a este problema, desenvolveu-se uma estratégia expositiva baseada na re-encenação. A arquitetura é, na sua forma mais convencional, um exercício de transformar ficções em realidade. Quando essas ficções são implementadas formam os lugares “normais” do nosso quotidiano. No entanto, cada nova inscrição na realidade do quotidiano lida com

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narrativas históricas, sociais, políticas e económicas, que formam a base da nossa memória e cultura coletivas, e incorpora-as como contexto. E, ainda assim, esse contexto não está fechado ou fixo. À medida que, através do gesto da arquitetura, se imagina ou regista uma nova inscrição no tempo presente, reconfigura-se inevitavelmente todo o passado até àquele momento. Os trabalhos apresentados na exposição re-encenam usos do passado do edifício para evidenciar os paradoxos que subjazem ao consenso que legitima os espaços arquitetónicos e determina os seus usos. Por se tratarem de “encenações” permitem a tomada de consciência das regras e papéis em jogo no exercício e no uso da arquitetura. Continuando a sua longa tradição de hospitalidade, de Setembro a Dezembro de 2013, o palácio acolhe um novo hóspede: a exposição A Realidade e Outras Ficções. E como hóspede, a exposição invade, inevitável e paradoxalmente, as leis e normas do território que a acolhe: primeiro como estranha, transformando-se lentamente em cenário, depois contexto, fundindo-se com o palácio até ser ela mesma, também, anfitriã. Composta por sete intervenções no espaço do palácio, a exposição junta projetos interdisciplinares que contribuem para uma expansão do entendimento daquilo que é a arquitetura, o seu exercício e o seu papel. Cada uma das intervenções tem uma existência autónoma, com as suas próprias regras, que deriva de um uso particular num tempo particular, e relaciona-se com as outras pelo facto de terem partilhado, em diferentes tempos, um mesmo lugar. Aglomerados em sincronia pela primeira vez, os usos do passado, agora re-encenados através de intervenções, são justapostos. A arquitetura do palácio organiza a sua sequência e influencia as contaminações que podem ocorrer entre eles. O público é convidado a visitar a embaixada de uma nação fictícia, sentar-se num parlamento para discutir e contribuir para a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Urbanos, ou fugir à lógica consensual através da expedição-instalação Games to Lose Control. Na sala nobre do palácio servem-se jantares, e noutra sala organizam-se sessões académicas em torno de uma publicação que cresce sucessivamente. O contexto criado por Slowly Ceiling permite adormecer num espaço que se torna cada vez mais pequeno enquanto que In Dreams I Walk With You convida à construção de utopias. Esta é uma exposição para ser participada, não apenas vista. Para tirar o máximo partido da sua visita, consulte o calendário de eventos. 

Mariana Pestana é arquiteta. Geralmente, o seu trabalho tem a forma de exposições, instalações e textos. Cofundadora do colectivo “The Decorators”, é licenciada em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e detém um mestrado em Ambientes Narrativos pela Central Saint Martins (Londres). Actualmente está a fazer doutoramento na Bartlett School of Architecture e é docente na Chelsea College of Art and Design e Central Saint Martins College of Art and Design.


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STATEMENT

arquitetura

Dani Admiss

Proposta Curatorial de O Efeito Instituto, TAL 2013

As instituições são mediadores da prática arquitetónica e geradoras do seu discurso. Revistas, jornais, websites, galerias, espaços de projeto, arquivos, bibliotecas e museus por todo o mundo que situam a prática da arquitetura contemporânea, que comissariam e escrevem a sua história futura, são indiscutivelmente tão influentes no panorama atual quanto os autores que lhe dão nome, os arquitetos. O Efeito Instituto converte-se numa homenagem viva e em transformação à instituição contemporânea. Apresentando uma temporada intensa de workshops, palestras, debates e projeções, O Efeito Instituto pretende ser um fluxo de atividade em constante rotação. Desde uma palestra ao entardecer a uma exposição com a duração de seis dias, doze instituições internacionais pioneiras irão alternar sucessivamente como anfitriãs de um programa público, formando uma série de residências dinâmicas. O espaço expositivo foi desenhado pelo primeiro instituto, a Fabrica. Contextualizado como uma instituição fictícia, integra uma livraria, um arquivo, área de workshop e de exposição, bem como a criação de uma identidade gráfica e um website. No âmbito da exposição, cada instituto deve seguir um conjunto de regras criadas pela instituição antecedente, bem como criar uma regra para o seu sucessor. Ao longo de três meses, os visitantes poderão participar em atividades tão diversas como explorar novas formas de pedagogia num workshop de participação intensiva; visitar uma construção à escala 1:1 reimaginada de uma galeria de arquitetura mexicana; produzir uma experiência editorial; ou explorar Lisboa através de uma série de intervenções alternativas alargadas a toda a cidade. Diferentes em dimensão, alcance e produção, o que aproxima cada instituição participante em O Efeito Instituto é a busca de trabalho inovador e pioneiro, na qualidade de produtores, investigadores, agitadores e facilitadores do discurso e prática da arquitetura contemporânea. Embaixadores do que fazem, e não do que são, cada instituição assume um papel ativo num entendimento mais abrangente de um tipo de prática institucional atualmente em emergência. O nascimento das instituições culturais tais como as conhecemos teve início há pouco mais de cem anos. Tipificadas pela missão de informar e educar, elas imortalizam os objetos que colecionam, conservam e expõem. Já no final do modernismo, a arte conceptual adotou a crítica institucional como prática, revelando as estruturas hegemónicas e elitistas destas organizações. Nos dias de hoje, seguimos de perto a rápida sucessão de grandes exposições, feiras e bienais, freneticamente documentando as suas histórias e guardando-as em novos arquivos. As instituições culturais são as potências criativas dos nossos dias. Programam agentes e criadores, encomendam a quem faz e a quem fabrica, envolvem e educam o público para mobilizar as

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suas ideias. De muitas formas, pode dizer-se que o espaço crítico da exposição do século XXI substituiu a tradição editorial do século XX. As exposições são narrativas espacializadas, dinamizando e questionando novas formas de prática. Este novo tipo de instituição pergunta, como podemos ainda usar a estrutura de apoio da instituição enquanto criamos um novo espaço de produção? De que forma podemos criar espaços em constante variação, expansão, adaptação, aceleração, e incessante questionamento? Com isto em mente, ao invés de fazer das instituições o conteúdo da discussão, a exposição foca-se na forma como as instituições estimulam e desenvolvem uma prática espacial abrangente através do “fazer”. Não se trata pois de fazer uma crítica institucional direta a estas organizações, antes de apresentar os seus quotidianos. Ao recriar os seus papéis, processos, programas e relações, O Efeito Instituto questiona a influência da instituição que domina o nosso ambiente espacial e, por sua vez, o efeito que exerce sobre nós. As instituições podem ter períodos de vida tal como os seres humanos, mas a questão do institucionalismo persiste, e essa é a sua raison d’être. 

Dani Admiss é uma curadora sediada em Londres cujos projetos focam o diálogo entre design, arquitetura e produção cultural. Interessa-se na encenação e consumo destes fenómenos nos contextos críticos e sociais, especificamente no discurso que partilham com formatos expositivos emergentes. Licenciada em Culturas Visuais pela Goldsmiths College University, detém um Mestrado em Curadoria de Design Contemporâneo pela Kingston University em parceria com o Design Museum de Londres.


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STATEMENT

arquitetura

José Esparza Chong Cuy

Proposta Curatorial Fórum Novos Públicos TAL 2013

“Porque as coisas são da maneira que são, as coisas não vão ficar da maneira que estão.” Bertolt Brecht “Atuar” é agir no sentido de produzir um resultado. Na vida real, como no teatro, os atos têm relevância quando transmitem e alcançam um resultado específico. A História mostrou-nos que as ações individuais ganham mais relevância quando levadas a cabo juntamente com um coletivo. Assim, não há dúvida que públicos diversificados a trabalhar em conjunto em direção a objetivos comuns são decididamente mais significativos do que aqueles que procuram realizar desejos individuais. Neste contexto, o Fórum Novos Públicos apresenta-se como um programa público experimental que, através de uma série de Atos de Discurso, Atos Corporais, Atos Urbanos e a apresentação pública de uma peça de teatro original – todos encenados na Praça da Figueira no centro de Lisboa – explora o conceito de espaço cívico como um local ativo de intercâmbio onde singularidades individuais podem ser expressas em uníssono. A encenação deste programa teatral enquadra a voz ou discurso oral e a assembleia pública como os principais meios através dos quais criamos espaços cívicos ativos. Tomando como referência os muitos eventos de protesto cívico que têm despontado um pouco por todo o mundo em anos recentes – desde o Parque Zuccotti em Nova Iorque, à Praça de Tahrir no Cairo e à Praça do Comércio em Lisboa –, o Fórum Novos Públicos visa demonstrar como, através de concentrações físicas de indivíduos, surge toda uma nova perceção de espaço público. À medida que Portugal e muitos outros países experienciam uma importante revitalização da participação cívica através da oposição pública a medidas de austeridade impostas externamente ou a governos autocráticos, e pelo facto de atualmente o discurso público político ser o mais audível pelo grande público, o Fórum Novos Públicos oferece um cenário ideal para colocar em ação um discurso que pode criar espaços cívicos mais diversos, inclusivos e vibrantes. A peça central do programa de Fórum Novos Públicos é o Palco Cívico – projetado por Frida Escobedo (MX) – que permanecerá na Praça da Figueira durante toda a duração do programa, recebendo todos os Atos e convidando participações improvisadas por qualquer pessoa com interesse em envolver-se na vida da cidade. O Palco Cívico do Fórum Novos Públicos é, assim, um instrumento que dá oportunidade a quem se queira fazer ouvir. O programa não é uma exposição, mas antes uma demonstração teatral cívica. Os Atos do Fórum Novos Públicos a ser encenados no PALCO CÍVICO são: ATOS DE DISCURSO, ATOS CORPORAIS, ATOS URBANOS, TEATRO PÚBLICO e PALCO ABERTO. 

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José Esparza explora a arquitetura através de eventos, exposições e matéria impressa. O seu trabalho é profundamente influenciado por questões políticas, tanto contemporâneas como históricas, numa tentativa de situar a arquitetura no âmbito de um discurso social mais abrangente. José Esparza concluiu o mestrado em Práticas Conceptuais, Curatoriais e Críticas em Arquitetura na Universidade de Columbia, com o apoio da bolsa Beca Arquitecto Marcelo Zambrano (Cemex) e do Fondo Nacional de Cultura y las Artes (FONCA). Em Nova Iorque, trabalhou com Storefront for Art and Architecture e revista Domus. Atualmente, reside e trabalha a título independente no México.


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PROJETOS

biografias

Júri Beatrice Galilee (UK) Autora, crítica, professora e curadora geral de Close, Closer Eva Franch i Gilabert (ES) Fundadora de OOAA e Diretora da Storefront for Art and Architecture Ou Ning (CN) Ativista, curador, editor, artista e investigador na área do urbanismo Tatiana Bilbao (MX) Fundadora do atelier Tatiana Bilbao S.C. Diogo Seixas Lopes (PT), Arquiteto e docente, cofundador de Barbaslopes Arquitectos Shortlist Assemble, Londres (UK); Atelier Hirschbichler, Zurique (CH); FALA, Porto (PT); Frida Escobedo, México DF (MX); GRUPPE, Zurique (CH); Léopold Lambert, Nova Iorque (US); SAMI, Setúbal (PT); Pedro y Juana, México DF, (MX); SO – IL, Nova Iorque (US) Vencedor Bureau Spectacular/Jimenez Lai, Chicago (US) Jimenez Lai foi escolhido pela singularidade e diversidade da sua obra, cuja abordagem sem cedências e altamente refletida ao formalismo lhe confere uma tónica exploratória que, na opinião do júri, se vai revelar essencial ao futuro da arquitetura.

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JIMENEZ LAI é Professor Assistente da Universidae de Illinois em Chicago e o responsável pelo Bureau Spectacular. Tem o grau de Mestre em Arquitetura pela Universidade de Toronto. Anteriormente, Jimenez Lai viveu e trabalhou num abrigo no deserto em Taliesin e residiu num contentor de navios no Atelier Van Lieshout nos cais de Roterdão. Antes de fundar o Bureau Spectacular, Lai trabalhou para diversos escritórios internacionais. Nos últimos anos, Lai construiu diversas instalações e teve o seu trabalho amplamente exposto e publicado pelo mundo fora, incluindo o MoMA-collected White Elephant. O seu primeiro manifesto, Citizens of No Place, foi publicado pela Princeton Architectural Press com uma bolsa da Graham Foundation. Draft II deste livro faz parte dos arquivos do New Museum, como parte da exposição Younger Than Jesus. Em 2012, Jimenez Lai foi nomeado vencedor pela Architectural League Prize for Young Architects. Lai foi o vencedor do Prémio Début da Trienal de Arquitectura de Lisboa em 2013 e estará em representação de Taiwan (Ilha Formosa) na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2014. www.bureau-spectacular.net

©Telmo Miller

Prémio Début Trienal de Lisboa Millennium BCP Foi concebido para apoiar jovens arquitetos com menos de 35 anos na persecução de trabalho de exceção, desenvolvimento de projeto original e ideias críticas no território alargado~da prática arquitetónica


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PROJETOS

biografias

Bolsas Crisis Buster Aberto a participantes de todas as idades, nacionalidades e áreas de estudo ou atividade, as Bolsas foram pensadas para envolver uma diversidade de agentes e empreendedores num movimento de combate à crise através da criação de soluções sociais e cívicas, eficazes a longo prazo. As bolsas foram distribuídas por um conceituado júri nacional e internacional a dez iniciativas inovadoras e sustentáveis que abordam problemas específicos identificados na cidade de Lisboa. Júri: José Esparzan (MX) Curador, Close, Closer Graça Fonseca (PT) Câmara Municipal de Lisboa; Liza Fior (UK) MUF Architecture/Art Emiliano Gandolfi (IT) Curry Stone Design Prize/ Cohabitation Strategies Luísa Valle (PT) Fundação Calouste Gulbenkian

GARGANTUA COLLECTIVE é uma equipa multidisciplinar que se interessa em explorar manifestações cívicas e sociais na sua relação com o espaço público. Na nossa abordagem ecoam diversas narrativas, embora todas elas se centrem na colaboração como uma ferramenta de pesquisa empática. Genius Loci é o primeiro projeto deste coletivo. www.gargantuacollective.com

O ESPELHO é um jornal que recupera modelos analógicos, motores de pensamento livre, para enfrentar a crise. Enquanto jornal mural, propagado pela cidade, associa o discurso artístico a ideias de intervenção e coletividade. Agitprop na cidade é o lema deste projeto que reúne arquitetos, jornalistas, atores, fotógrafos e escritores. O Espelho é uma máquina que mostra aquilo que precisamos de ver. www.facebook.com/ JornaloEspelho

Menções Honrosas Less Homeless – Fala Atelier (PT); School Lighting – Associação de Pais e Encarregados de Educação da Eb1/JI do Bairro do Restelo (PT); Community Kitchen – Ateliermob (PT); 26 FOUNTAINS – Water as an element of social cohesion – Eduardo Costa Pinto (PT), Nelson Bastos Ferreira (PT), Pedro Costa (PT); Urbanomics. Triggering civic economies – Daniela Dossi (NL), Eugenia Morpurgo (IT); Shared Space, Shared Thinking – MOOV (PT); Home Trigger – Simão Botelho (PT) Vencedores A Cozinha da Casa do Vapor; Agulha num Palheiro; Beautiful, Low Tech & Do-it-Yourself Solutions; Genius Loci; Juventude na Street; Mundo Mouraria; O Espelho; Pátio Ambulante; Entrada Sul – Bairro Alto da Cova da Moura; The Object that wanted to keep being itself

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ARTÉRIA, atelier de arquitetura fundado em 2010 por Ana Jara e Lucinda Correia, integra também Joana Grilo, Marta Luz e Susana Soares. Desenvolve projetos singulares no âmbito da reabilitação urbana, autopropostos e de perspetiva transdisciplinar, em colaboração com entidades públicas e privadas, profissionais liberais e artistas. Defende a importância da educação para o Espaço e para a Arquitetura, construindo projetos educativos site-specific. ARTÉRIA trabalha as dimensões social, cultural e artística da arquitetura, através da participação direta das comunidades na produção dos seus próprios programas de intervenção no território. www.arteria.pt


JESSICA BERGSTEIN-COLLAY + MATTIA PACO RIZZI São os autores da Cozinha da Casa do Vapor, instalação realizada na Cova do Vapor, na Trafaria. www.casadovapor.org

TERRAPALHA é o estúdio de arquitetura fundado pela arquiteta Catarina Pinto (n.1979) em 2008, onde explora a construção lenta, cooperativa e artesanal com materiais naturais, abundantes e locais. O seu trabalho está registado em manifestos, fotos, redes sociais e imprensa. Nas suas viagens, Catarina teve oportunidade de conhecer muitas culturas, criar e construir em diversos contextos e enriquecer o seu conhecimento projetual, prático e construtivo. Especialista em construção com fardos de palha e rebocos naturais, interessa-se pela integridade dos processos, o essencial, o artesanal, o sagrado, o lugar, a comunidade, a ecologia, a tradição e, ao mesmo tempo, o pioneirismo. www.terrapalha.com

INÊS NETO + RITA PALMA juntaram-se para desenvolver o projeto Juventude na Street. Inês Neto tem 28 anos e é Psicomotricista. Trabalha na área da saúde mental e participa em projetos relacionados com o empoderamento da mulher no desporto. Rita Palma tem 25 anos e é finalista do mestrado em Arquitetura da Universidade Lusíada de Lisboa. Encontra-se a desenvolver a dissertação que se dedica à “Reabilitação de Crise” através da participação pública. www.facebook.com/JuventudeNaStreet

BAGABAGA STUDIOS é uma start-up de raiz universitária, operando na produção, formação e investigação em Medias Digitais, Cooperação e Desenvolvimento. Foram vencedores do Prémio de Empreendedorismo FCSH-NOVA/SANTANDER TOTTA – Melhor Ideia de Negócio 2013 e da Bolsa Crisis Buster (TAL). A operacionalização das atividades dos Bagabaga Studios é suportada por uma equipa multidisciplinar, de áreas criativas e científicas, com excelentes qualificações, experiência académica e profissional, nas áreas do Jornalismo, Antropologia, Sociologia, Arquitetura, Design, Cinema, Fotografia, Ilustração, Música, Engenharia Informática, Cooperação e Desenvolvimento. www.bagabagastudios.org

ASSOCIAÇÃO CULTURAL MOINHO DA JUVENTUDE (ACMJ) existe, informalmente, no bairro do Alto da Cova da Moura desde a década de 80, através de trabalho de animação de crianças, organização de mulheres e luta pelo saneamento básico. Em 1987 a ACMJ foi oficialmente constituída e, em 2010, é reconhecida como ONGD. As actividades da ACMJ desenvolvem-se a nível social, cultural e económico, estando nelas envolvidas crianças, jovens, adultos e idosos. Para todas as associações presentes no bairro a qualificação do mesmo é muito importante. É neste âmbito que, em 2012/13, a arquiteta Filipa Verol de Araújo colabora com a ACMJ com o objetivo de refletir e, em conjunto com os moradores, encontrar soluções práticas para a qualificação do bairro. Desta abordagem nasceu o projecto “Entrada Sul”. www.moinhodajuventude.pt

FRAME 408 é um grupo de estudo e observação urbana, que se interessa pela pesquisa criativa e interdisciplinar em arquitetura. Iniciaram o trabalho em 2011 durante um estudo urbano e participativo em Moabit Berlim. O Pátio Ambulante é o seu segundo projeto. No projeto participaram Agapi Dimitriadou, arquiteta grega com experiência em projetos públicos interdisciplinares; Gabriela Salazar, arquiteta com experiência em urbanismo e estratégias de design participativo; Ana Salazar, pianista equatoriana, ensina música; Gustavo Cruz, compositor e professor de música; Inês Coimbra, cenógrafa e investigadora no âmbito das artes escénicas de teatro e cinema; André Cid, arquiteto especializado em levantamentos de edifícios históricos lisboetas, com interesse no desenvolvimento sustentável da cidade. www.patioambulante.pt

NORMALEARCHITETTURA foi fundado por Chiara Filios e Arnaldo Arnaldi em 2008 em Milão. Os projetos que desencvolvem abrangem um vasto espetro de programas e escalas e traduzem inventividade e interesse pela exploração dos materiais, estrutura, o local e a experiência. A sua prática e o seu trabalho procuram desafiar e expandir as metáforas em que a arquitetura encontra o seu significado. Recentemente o atelier concluiu um projeto de espaço colaborativo para uma escola e lançaram uma nova lancheira sustentável e low-cost que funciona com energia solar. www.owkbi.com

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ITINERÂNCIAS

trienal

Trienal de Arquitetura de Oslo 2013 Expondo os dilemas e origens da ideia de sustentabilidade

LUÍS SANTIAGO BAPTISTA

A Trienal de Arquitetura de Oslo, na Noruega, vai na sua quinta edição. Tal como aconteceu nesta edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa, a direção da Trienal de Oslo optou pela realização de um concurso internacional para a escolha do curador da edição de 2013. A escolha acabaria por recair num dos jovens coletivos mais prometedores no contexto da curadoria de arquitetura, os belgas Rotor. Com convincentes exposições no curriculum, como a surpreendente representação belga na Bienal de Veneza de 2010 e a impressiva exposição do OMA em 2011 na Barbican em Londres, os Rotor propuseram a sustentabilidade como tema para a OAT 2013. Tema problemático e movediço, tendo em conta o desgaste que o conceito tem sofrido na última década, ao ponto da erosão do seu significado e das contradições na sua operacionalidade. Porém, este é também um tema certeiro e relevante no contexto particular da Noruega, país que tem passado relativamente ao lado da crise económica e social que atravessa a Europa, principalmente aquela situada a sul. Num contexto de afluência económica e estabilidade social, a reflexão sobre a questão da sustentabilidade parecia adequada, servindo como bandeira da Noruega, no seu evidente esforço de internacionalização da sua arquitetura. Mas esta conexão norueguesa tinha ainda uma referência significativa. Não será por acaso que Marteen Gielen e Lionel Devlieger dos Rotor convocaram a definição originária de 1983 de “desenvolvimento sustentável”, proposto no Relatório das Nações Unidas redigido pela Comissão Bruntland, comissão essa que adota o nome, nem mais nem menos, do então 1º ministro norueguês. No relatório afirmava-se como princípio do desenvolvimento sustentável, “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Os Rotor prometiam assim explorar a ideia de sustentabilidade num plano abrangente e integrado. Com base nesta conceção ampla mas genérica de sustentabilidade, os Rotor apresentaram Behind the Green Door como exposição central do evento, montada na galeria do DogA, num interessante espaço unitário de natureza industrial. O título da exposição, curiosamente retirado de um filme pornográfico, expunha a intenção dos curadores de investigar os pressupostos que enquadram e as lógicas que configuram o debate em torno da sustentabilidade. Para o fazer, adotaram uma estratégia curatorial de “arqueologia invertida”, isto é, nas suas palavras, “em vez de partir da nossa assunção do que pode ser considerado sustentável, tentando encontrar bons exemplos para o ilustrar, optámos por documentar o que os outros definem como sustentável.”1 Daqui se podia inferir que mais do que afirmativa a exposição dos Rotor seria crítica. Uma investigação sobre as diversas interpretações da sustentabilidade realizada através da exposição de uma coleção arquivística de objectos que se dizem sustentáveis das últimas quatro décadas, solicitados a duas centenas de escritórios de arquitetura, empresas comerciais, agências ambientais, etc. A exposição apresentou cerca de 600 artefactos muito diferenciados, mas relacionados com o tema, compreendendo maquetas, fotografias, desenhos, protótipos, vídeos, etc. A sua disposição no espaço trazia à mente os gabinetes de curiosidades do século XVII, essas coleções expostas de objectos enigmáticos de naturezas diferenciadas. De facto,

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esta abordagem arquivística congregou num mesmo espaço uma multiplicidade de objetos físicos e virtuais, organizados por uma narrativa relativamente aberta. Em termos programáticos, a exposição propôs dois modos de estruturação do material colecionado: uma linha de âmbito cronológico, do presente para o passado, procurando mostrar a evolução do conceito de sustentabilidade nas últimas quatro décadas; e uma série de mesas temáticas de teor mais crítico, onde diversos conceitos derivados do tema da sustentabilidade foram explorados separadamente. Se a linha cronológica surpreende pela desarmante diversidade dos objetos expostos, as ilhas temáticas adquirem uma função de desmontagem crítica, bem explicitada através de legendas diagramáticas interpelantes, que contextualizavam os objetos selecionados. Esta abordagem material arquivística, verdadeira imagem de marca dos Rotor, levou a equipa de curadores a colocar-se no papel do historiador, desenvolvendo, ao longo de um intenso ano de investigação, um trabalho de análise retrospetiva de material diverso. No entanto, algumas questões processuais se levantavam, dada a estratégia crítica da exposição. Como incluir na exposição casos de estudo fundamentais - a cidade de Masdar de Foster & Partners, o pavilhão de Hanôver dos MVRDV, os edifícios árvore de Stefano Boeri, etc – sem excluir a sua problematicidade inerente? Ao não se posicionarem ideologicamente, os Rotor criaram a distância necessária para lidar com o problema nas suas ambiguidades e contradições. Uma atitude defensiva de neutralidade necessária à gestão sensível de diferentes abordagens e intervenientes. Perante um tema tão carregado moralmente, tornava-se fundamental estabelecer uma área de conforto para convocar as diferentes sensibilidades, não comprometendo à partida a sua participação. Só depois, no confronto e tensão inevitáveis entre os objetos dispostos tematicamente, poderia emergir o potencial crítico, que a exposição, em última análise, pretendia espoletar. A perspetiva crítica não está portanto na selecção individual dos diversos itens que compõem a exposição, mas na sua integração numa ordem discursiva que só pode manifestar-se através da confrontação entre os diversos objetos. Uma abordagem inteligente tanto do ponto de vista projectual como processual. Mas, num certo sentido, a estratégia curatorial dos Rotor espelha a teoria da sustentabilidade que defendem na exposição, mesmo que esta, como vimos, permaneça estrategicamente na sombra. Num dos textos do catálogo, Gielen e Devlieger falam das “bolsas de sustentabilidade” como o modelo de aproximação ao tema. São na verdade essas bolsas que, através da definição de “fronteiras artificiais”, permitem circunscrever um campo pretensamente sustentável. Os Rotor definem então as premissas do problema nestes termos: “Podemos afirmar que em todos os projetos «sustentáveis» tem que existir um limite das afirmações que podem ser feitas. A lógica será a que se segue: 1. Vivemos num mundo insustentável. (…) 2. Direta ou indiretamente, tudo se relaciona com tudo o resto de uma forma totalmente imdeterminada. (…) 3. Portanto, para um projeto ser chamado de sustentável tem que existir uma fronteira concetual à sua volta, separando-o do seu contexto insustentável.”2 Como exemplificam, analisar a cidade de Masdar dentro dos seus limites urbanos diz-nos que


Exposição Behind the Green Door, Trienal de Arquitectura de Oslo, DogA, Oslo, 2013

tudo é sustentável, mas a máquina económica, produtiva e social que a constrói e faz funcionar, mesmo apenas um passo fora desses limites, participa já da insustentabilidade do mundo contemporâneo. As “bolsas de sustentabilidade” funcionam assim por delimitação artificial de um interior e consequente exclusão do que está fora, o que se apresenta verdadeiramente como um contra-senso no nosso mundo globalizado. Poder-se-ia dizer que os objetos que compõem a exposição funcionam de modo similar, definem “bolsas” que são interrogadas por tensão com os outros objetos com os quais dialogam tematicamente. Uma estratégia crítica difícil mas gerida com sensibilidade e equilíbrio pelo coletivo de curadores, sob pena de resvalar para uma atitude determinista ou niilista. No limite, Behind the Green Door

apresenta-se como um momento de interrogação de um discurso que hoje se dissolveu num vazio ideológico, apropriado essencialmente pelo discurso político e pelas estratégias do marketing. E ao questionar um estado de coisas, fá-lo acima de tudo para reativar o seu potencial crítico, mesmo não apresentando soluções ou alternativas. Como referem, “a exposição não pretende convencer o visitante a viver a sua vida de forma mais sustentável, mas procura mostrar como o conceito de sustentabilidade opera como um poderoso agente de mudança no mundo atual.”3 Neste âmbito, torna-se importante destacar o inteligente dispositivo encontrado pelos Rotor para abrir e disseminar os discursos críticos, sob a forma de visitas guiadas de especialistas internacionais, realizadas através da selecção de alguns dos

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ITINERÂNCIAS

exposição

Sou Fujimoto: Futurospective Architecture Ficções sobre fantasmas e passado

PATRÍCIA SANTOS PEDROSA | PROFESSORA ECATI-ULHT

Exposição Sou Fujimoto: Futurospektive Architektur, Kunsthalle Bielefeld, 2012

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A provocação que alimentou o surgimento deste texto foi a exposição de Sou Fujimoto, Futurospective Architecture, que o Centro Cultural de Belém em boa hora recebeu. Não é seguro que tenhamos cumprido o expectável: falar sobre a exposição. O interesse que reconhecemos nas coisas que se atravessam no nosso caminho nem sempre é o óbvio. Assim, feita esta ressalva, perseguiremos o que a referida exposição nos ofereceu como possibilidade de reflexão, num contexto de mais ou menos pessoais especulações sobre as vidas, as pessoas, os habitares possíveis e as cidades. Deste modo, chamamos à conversa a filósofa espanhola Maria Zambrano, com a sua lúcida visão da intimidade, que extrapolamos para os afetos e para a relação com os outros. Daqui falamos de cidade e de habitar, deste último, e já no contexto da casa interessa-nos a ideia da expansão da “cavidade”, como lhe chama Zambrano, não-espaço onde a intimidade reside. É daqui que avançamos para as propostas de habitares de Fujimoto: da espacialidade impossível e feita passado mais do que futuro, apresentada pelo arquiteto japonês. Viver a cidade, com as suas condicionantes específicas, resulta numa história pessoal mais ou menos consolidada e clara sobre o Eu e os Outros. A vontade de nos envolvermos nas vidas das nossas cidades – que pode ir do activismo, ao descomprometimento indiferente, passando por todas as variações intermédias de comprometimento mais ou menos activo – é parte do que nos define face ao meio e que permite, de modo identicamente relevante, que o meio se defina perante nós. Campo de batalha para uns, somatório de encontros para alguns, território de materialização de pertença para outros, a cidade raramente nos preenche e satisfaz no que queremos ser nela e ter dela. Ainda assim, somos como ela em muitos aspetos. Que as vidas se constroem e destroem através afetos parece óbvio. Poderíamos organizá-los, de modo necessariamente simplista, entre os que já foram vividos, tornados parte da memória, e os que se encontram por viver, fixados nas aspirações e no desejo. Consideramos, nesta polaridade, que o presente dos afetos é um tão não-momento que, a cada instante, já aconteceu e se espera que seja seguido pelo que se encontra ainda em estado de futuro. Em que é que os afetos se relacionam com as cidades é a pergunta natural colocada neste momento. Se, como nos diz Maria Zambrano (2000, p. 23): “Somente aquilo que constitutivamente é fechado pode ser a sede de uma intimidade”, e se se aceitar que esta intimidade se encontra no mais recôndito interior de um corpo, percebe-se que, no outro lado da vida, se encontra a sede do ser-se mundo, da exterioridade. Este outro lado, que se poderia referir como sendo “constitutivamente” aberto, feito de fragmentação e sítio de todos e do tudo é a cidade. Aqui, através de uma multitude de variáveis gestos, de apontamentos de cada um, se constrói um acontecimento instável e impossível de apreender como uno. Os afectos serão talvez estas partículas que resultam e se libertam do que é secreto, do que é íntimo e reservado. O espaço da casa pode ser lido como um lugar charneira, o limiar

Exposição Sou Fujimoto: Futurospective Architecture, Garagem Sul, Centro Cultural de Belém, 2013

entre estas duas experiências, como um exercício de intimidade partilhada ou de visibilidade mais densa dessa cavidade onde reside o específico. Ou, indo mais longe, ser a espacialização impossível da intimidade. Porque, como refere Zambrano, a intimidade, habitando a sua cavidade, sai para voltar a adentrar-se ainda mais em si, levando do fora o que necessita, mas sem nunca se tornar espaço. Não habitando a intimidade um espaço, mas vivendo alojada no fundo de um corpo, e por referir que o “espaço corresponde ao domínio

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ARTES

ensaio

O impulso social e comunitário

As dimensões performativas no campo da arte e da arquitetura

SANDRA VIEIRA JÜRGENS|sandravieirajurgens@gmail.com

A pretexto da natureza e das propostas do programa oficial e associado Close, Closer, da 3ª edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa, tenho a intenção de fazer uma análise de algumas das questões que norteiam a produção artística e da curadoria, comentando práticas, tendências e géneros emergentes nas formas de criação e nos meios de distribuição e receção artísticas. O foco deste artigo está direcionado para aquilo que se considera serem os formatos e processos de criação mais atuais e essas questões são a discursividade, processualidade, performatividade, narratividade, coletivismo e dinâmicas artísticas construídas pela partilha e pela experiência comunitária. Nesse sentido, é exemplar o crescente interesse das novas gerações por intervenções que apostam na experimentação, em processos de trabalho participativos e participados, em projetos multidisciplinares que exploram e materializam uma visão integrada da prática artística, fazendo coincidir o seu sentido com fins sociais, abrindo caminho a novas formas de arte e arquitetura performativas. Reflexo disso é também a atualidade das exposições-projetos e a sua presença e disseminação na programação cultural. Baseadas na criação de plataformas e estruturas de reflexão, na disponibilização de documentação, na realização de residências, de leituras-conferênciasperformances, na promoção de discussões públicas, de ciclos de debates e conversas, sustentam muitas atividades dirigidas não à disposição de objetos com vista à ação contemplativa do visitante, mas à ativação da troca, da comunicação e transferência de conhecimentos e de experiências. De resto, analisando algumas iniciativas oficiais e associadas da Trienal de Arquitetura de Lisboa, encontramos muito projetos assentes na exploração destas várias características e estratégias criativas. Comecemos por referir Ground Floor Act, ciclo integrado no Programa Novos Públicos da Trienal que ativa diálogos e uma série de conversas entre arquitetos e não arquitetos, criadores e agentes culturais, sobre o campo da arquitetura e as novas possibilidades de expandir o seu campo de influência e de trabalho. Organizado pelo atelier Artéria e a funcionar numa das muitas lojas vazias da Baixa da capital, localizada na Rua dos Douradores, junto à Praça da Figueira, este espaço, tornado público, transformou-se num laboratório para partilhar experiências e pensar, entre outras realidades, projetos que construíram Lisboa nos últimos anos. Foi precisamente por ocasião de uma destas conversas em que fui convidada a participar, que vi o resultado expositivo de Planning for Protest, um projeto associado da Trienal de Arquitetura, desenvolvido por Ben Allen, James Bae, Ricardo Gomes, Shannon Harvey e Adam Michaels. O projeto envolveu 12 escritórios de arquitetura de 12 cidades em todo o mundo, os quais desenvolveram vários estudos de caso e propostas para as suas cidades, tendo em conta as definições sociais e arquitetónicas dos protestos à luz da atual crise financeira global1. Por exemplo no caso do atelier Vapor 324 de São Paulo, a sua proposta baseou-se num estudo sobre a história da cidade e o crescimento desta metrópole, bem como no mapeamento dos protestos dos manifestantes,

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Planning for Protest: Imagens da exposição

identificando os seus focos, as manchas e vias de circulação viárias ocupadas e bloqueadas ao trânsito. Uma delas foi claramente a Avenida Paulista, centro financeiro, comercial e cultural da cidade. A partir deste estudo e da documentação reunida, propuseram quatro grandes estruturas, a que chamaram termómetros, situados na zona norte, este, sul e oeste da cidade que reuniam informação gráfica sobre a utilização dos meios de comunicação (internet, jornais diários, tv, rádio) nessas áreas. Existia ainda uma quinta estrutura que funcionava como centro de reunião de toda a informação, e que se baseou na apropriação do MASP – Museu de Arte de São Paulo, centro simbólico dessas quatro regiões. Mas este projeto não é o único que em vez de exposições convencionais de obras, resultam em práticas curatoriais baseadas em projetososarquivo e de edição, resultado de intervenções e abordagens processuais a determinadas realidades. No MUDE - Museu do Design e da Moda/ Coleção Francisco Capelo encontramos O Efeito Instituto, com curadoria de Dani Admiss e que é definido como a criação de uma instituição fictícia, que integra uma livraria, um arquivo, área de workshops e de exposição, bem como a criação de uma identidade gráfica e um website. Estabelecido no andar do edifício do antigo Banco Nacional Ultramarino reúne vários participantes2 em espaços de trabalho e de debate. É igualmente o caso da exposição A Realidade e Outras Ficções, também ela uma exposição de projetos, com curadoria geral de Mariana Pestana, no edifício Carpe Diem Arte e Pesquisa, no Palácio Pombal, que congrega sete intervenções comissariadas pelos participantes3. Por sua vez estes exercem a curadoria de propostas colaborativas, com grupos e associações convidadas a colaborar num projeto global de reencenação da funcionalidade e de antigas ocupações do edifício. Neles têm lugar programas de residências e ações envolvendo o público que, como refere Mariana Pestana no texto de apresentação, é “convidado a jantar, ler, jogar, votar, debater, discursar e até adormecer, integrando a própria exposição”4.


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Novidades

NEWS

marketing

Novas Coleções, Novas Gamas 2013

MARIA RODRIGUES | mrodrigues@revarqa.com CARMEN FIGUEIREDO | cfigueiredo@revarqa.com

Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2014: candidaturas já em marcha

Já estão abertas as candidaturas para o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2014, que pretende reconhecer as intervenções de reabilitação urbana com impacto reconhecido no tecido urbano, social e económico das cidades portuguesas. Uma iniciativa Vida Imobiliária/Promevi, o Prémio aceita candidaturas de intervenções urbanas terminadas entre 1 de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2013, que não se tenham candidatado em edições anteriores. As candidaturas decorrem até 31 de janeiro, sendo os vencedores conhecidos a 19 de março, em Lisboa. www.premio.vidaimobiliaria.com

THE THINGS GO DOWN TO GO UP TO GO DOWN TO GO UP TO GO DOWN, da autoria de Luis Urculo. A comissária do projeto, Ariadna Cantis, destacou “a vertente internacional deste tipo de iniciativas, que resulta de uma colaboração entre Portugal e Espanha”. “Trata-se de um conjunto de performances, incluídas no programa de um evento de dimensão internacional como é a Trienal de Arquitectura 2013, e que visa ter um forte impacto nas cidades”, comentou. www.trienaldelisboa.com/pt www.rocalisboagallery.com

Forno HL 840 da Teka novamente eleito “Escolha do Consumidor”

Roca Lisboa Gallery apresenta o projeto PERFORMINGARCHITECTURE

No âmbito da terceira edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, o Roca Lisboa Gallery promoveu uma conferência de imprensa, para apresentar o projeto PERFORMINGARCHITECTURE. A organização da Trienal de Arquitectura de Lisboa lançou um open call, onde foram selecionados mais de 100 projetos, entre os quais estas 3 performances: SUPER HATCH, do Coletivo PKMN, THE FUTURE IS THE BEGINNING, de Pedro Bandeira, e LET

Air Active Door da Technal distinguida na Batimat 2013

A Teka, marca líder em eletrodomésticos de encastre no mercado nacional, acaba de ser eleita pelo segundo ano consecutivo “Escolha do Consumidor”, na categoria de fornos, com o modelo HL 840 que alia o melhor da tecnologia com um design atrativo e elegante, revelando-se assim como a escolha número 1 dos portugueses. Segundo Teresa Lagoa, diretora de marketing da Teka Portugal “Receber pelo segundo ano consecutivo um prémio que demonstra a preferência dos consumidores é sem dúvida o reconhecimento mais importante que poderíamos obter. Com uma excelente relação qualidade/preço, o forno HL 840 traduz a visão da Teka: a aposta permanente em soluções funcionais e que aliam um design elegante à inovação para facilitar a rotina diária do consumidor, acompanhando sempre as últimas tendências”. www.teka.com

No âmbito deste certame internacional, a AIR ACTIVE DOOR da Technal foi distinguida com uma medalha de prata no Concurso de Inovação Batimat 2013. Este concurso, a que concorreram 81 projectos, visa premiar soluções que se destacam na área da inovação e eficiência energética. A Porta de Dupla Acção, da Technal, à prova de água, está equipada com um sistema de vedação que utiliza uma junta activa para assegurar a fluidez de circulação, maximizar a aderência e o conforto na sua utilização. Este sistema de alumínio foi projetado para edifícios comerciais com áreas de passagem de elevadas dimensões e com muito tráfego. www.technal.pt

Novas coleções Recer

REVIVAL, BOHÈME e TWENTIES, são peças inspiradas nas cores e geometrias, que nos levam até ao início do século passado, ao auge dos pavimentos e revestimentos hidráulicos. As novas coleções da Recer vêm desafiar a

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decoração, motivando-a a ser mais atual, jovem e sem restrições, num constante e intuitivo desafio à imaginação. A fusão de estilos e materiais marca hoje a decoração, deixando a inovação e originalidade tornar as casas e outros edifícios cada vez mais personalizados e repletos de estilo. A decoração torna-se num apelo aos sentidos e também a cerâmica os toca, sendo verdadeiramente Ceramic for the Senses. O Showroom Recer em Lisboa, situado na rua Fernando Palha 29 A (junto ao Parque das Nações), pode ser visitado todos os dias úteis, sábado incluído, entre as 9h30 e as 19h00. http://www.recer.pt

Indesit reinventa o modo de lavar roupa com INNEX

Novo esquentador Sensor Compacto da Vulcano A Vulcano, marca líder em soluções de água quente e solar térmico, acaba de lançar o Sensor Compact, de dimensões bastante reduzidas e que permite reduzir significativamente as contas de água e gás. Através da tecnologia termostática, o Sensor Compacto permite selecionar a temperatura desejada grau a grau (35 a 60º C) e mantê-la estável ao longo da sua utilização, evitando assim a junção de água fria. Tal permite uma poupança de gás até 35% e a redução do consumo de água até 60 litros de água por dia – o que corresponde a 40 garrafas de litro e meio. É também compatível com soluções solares. A utilização de energia solar térmica reduz ainda mais o consumo de gás, minimizando igualmente as emissões poluentes de dióxido de carbono para a atmosfera. www.vulcano.pt

8ª edição do Concurso Internacional Cosentino Design Challenge

Enquanto numa máquina de lavar roupa tradicional é necessário ligar a máquina, selecionar o programa e iniciar o ciclo de lavagem, com uma INNEX basta premir o botão azul “Push & Wash” durante dois segundos e a máquina inicia automaticamente um programa misto de algodão e sintéticos, que é o mais utilizado pelas famílias europeias. Esta tecnologia está presente em todos os novos modelos da gama INNEX, tornando o processo mais simples, mesmo por quem está pouco habituado à tarefa de lavar a roupa. Para além da tecnologia Push & Wash, as INNEX trazem novos programas e opções para as lavagens feitas no modo tradicional e que surgem para ir ao encontro de outras necessidades indicadas pelos utilizadores da marca. www.indesit.pt

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Nesta edição, na categoria de Design, pretende-se que os estudantes reflitam sobre “A Cosentino e a arte”, em que a zona ou a superfície de atuação serão de livre eleição pelo aluno. O objetivo passa por ter em conta a relação entre a arte, o espaço, o espetador e os produtos Cosentino. A finalidade do concurso, que engloba duas categorias: Arquitetura e Design, é fomentar o talento dos estudantes, promovendo a investigação sobre distintas abordagens conceptuais sobre a configuração de espaços, dos materiais e dos sistemas construtivos que os definem, fazendo uso dos materiais da Cosentino® nos seus projetos finais. Na categoria de Arquitetura a temática consistirá em atuar sobre qualquer edifício histórico/emblemático do mundo, alterando o seu uso principal para outro de eleição livre, focando um interesse especial com o meio envolvente. O prazo de entrega das propostas inicia-se a 28 de fevereiro de 2014 e termina a 1 de junho de 2014. Todas as criações deverão ser enviadas exclusivamente em formato eletrónico através da página web do concurso. www.cosentinodesignchallenge.org

Curso “Certified Passive House Tradesperson”

Decorreu no ISEL, em Lisboa, a 2ª edição do curso Certified Passive House Tradesperson, organização conjunta da Associação Passivhaus Portugal e da Homegrid. Esta edição contou com a participação de 11 formandos na especialização Envolvente do Edifício. O curso foi ministrado pelo arqºJoão Gavião e o engº civil João Marcelino, ambos formadores certificados pelo Passivhaus Institut. Trata-se de um curso que permite o reconhecimento como Certified Passive House Tradesperson. www.passivhaus.pt

Nova APP para telemóveis e tablets

A Cortizo ampliou a sua oferta de recursos tecnológicos ao serviço do arquiteto. A empresa galega é a primeira empresa espanhola do sector do alumínio a lançar uma aplicação específica para dispositivos móveis e fá-lo com a APP mais completa existente no mercado. Concebida para ser usada em smartphones e tablets, CORTIZO APP permitirá ao usuário satisfazer de uma forma fácil e interativa as necessidades de qualquer projeto em matéria de encerramentos. É lançada em três idiomas (espanhol, inglês e português) e estará disponível nos sistemas operativos Android (plataforma Google Play) e IOS (plataforma App Store). O seu download é de carácter gratuito. www.cortizo.com


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