Revista arqa #111

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Objetos Indefinidos Ano XIV – janeiro|fevereiro 2014 E11,00 (continente) – 2 600 Kwanzas (Angola)

arqa

arqa111 ARQUITETURA E ARTE

jan.|fev. 2014 | E11,00

Objetos Indefinidos

Álvaro Siza SANAA

Junya Ishigami SO-IL Carla Juaçaba Sou Fujimoto Office Kersten Geers David Van Severen Falcão de Campos + Appleton & Domingos Tetsuo Kondo Do Ho Suh Hiroshi Sugimoto Bas Princen Philipp Schaerer Jan Kempenaers Edgar Martins Paulo Catrica Nuno Cera Thomas Demand Luisa Lambri

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ISSN: 1647- 077X



Propriedade:

R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com

ÍNDICE

matérias Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores

Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com

arquitetura

e

Foto: Hisao Suzuki

arqa

SANAA - PARQUE E MUSEU LOUVRE-LENS

arte

Angola

Info – Boletim Informativo da Ordem dos Arquitetos de Angola (0A)

www.revarqa.com – futurmagazine@gmail.com

News Atualidades e agenda

Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com

Conversa Liam Young: Curador de Futuro Perfeito, TAL 2013

Editorial

Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design), David Santos (Artes), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros), Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes)

Luís Santiago Baptista – Objetos Indefinidos

Portfolio Objetos Indefinidos: Hiroshi Sugimoto, Bas Princen, Philipp Schaerer, Jan Kempenaers, Edgar Martins, Paulo Catrica, Nuno Cera, Thomas Demand, Luisa Lambri

Projetos Biografias

Paginação e Imagem Nuno Silva Bruno Marcelino (desenhos)

Álvaro Siza – Edifício Virchow 6, Novartis Campus, Basileia SANAA – Parque e Museu Louvre-Lens Junya Ishigami – Oficina do Instituto de Tecnologia Kanagawa SO-IL – Centro de Arte Kukje, Seul Carla Juaçaba – Pavilhão Humanidade 2012, Rio de Janeiro Sou Fujimoto – Instalação Sanitária Pública em Ichihara, Chiba Office Kersten Geers David Van Severen – Villa Buggenhout Falcão de Campos + Appleton & Domingos – Remodelação da Estufa Fria, Lisboa Tetsuo Kondo – Intalação Cloudscapes, Museu de Arte Contemporânea, Tóquio Do Ho Suh – Instalação “Home within Home within Home within Home within Home”, Seul

Edição Digital Ricardo Cardoso Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) – mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo – cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com cfigueiredo@revarqa.com ANGOLA Parceria Futurmagazine – NAMK, Lda. Rua Major Marcelino Dias, nº 7 - 1º andar-D Bairro do Maculusso, Distrito da Ingombota, Província de Luanda namk-limitada@hotmail.com Tel. +244 222 013 232

Entrevista Terence Riley: Sobre a exposição Light Construction no MoMA, 1995 Crítica Inês Moreira – Backstages e Processualidade: Da curadoria e instalação de projetos efémeros

Investigações

Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br

Raquel Ferreira Santos – Exposição de Arquitetura: Genealogia de um lugar-comum Gabriela Raposo e Nuno Crespo – Arquitetura (Arte), materialidade e leveza

Artes Sandra Vieira Jürgens – Performatividade Difusa: Objetos, instalações e animais domésticos

Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica

Design Carla Carbone – Objetividade e Indefinição: O design enquanto agente simbólico

Itinerâncias

Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete

Pedro Machado Costa – Habitar Portugal: Breve nota crítica sobre a edição 2009-2011

Dossier 1 – Emospheric Landscape, Inês Dantas 2 – Unmapping the World, Annelys de Vet e Nuno Coelho/EXD’13

Tiragem 10.000 Exemplares

Fotografia

Periodicidade Bimestral

Fernando Guerra – FG+SG: Exposição Filipe Oliveira Baptista - MUDE

Livros

ISSN: 1647- 077X ICS: 124055 Depósito Legal: 151722/00

Mário Chaves

Apoio:

News Marketing

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janeiro|fevereiro 2014

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II N NF FO O Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I -– Nº Nº 39 –– janeiro|fevereiro janeiro|fevereiro 2013 2014

Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I - Nº 3 – janeiro|fevereiro 2013 Eventos realizados Opinião

Agenda Agenda

9 DE FEVEREIRO 2013 A Ordem dos Arquitectos

OAA – A Terceira Agenda de Angola, aproveitando o centenário doGeral município Assembleia da 9 FEVEREIRO 2013 doDE Lobito, na província de Ordem dos Arquitectos Benguela, tem agendado para OAA OAA –– A A Terceira Terceira de Angola. o mês de Abril,Neste nesta evento cidade, a Assembleia Assembleia Geral Geral da da deverá ser de feito balanço organização umum encontro da Ordem dos Arquitectos Ordem dos Arquitectos União Africanaque de Arquitectos do mandato agora Neste evento de de Angola. Angola. (UAA). Paralelamente, serão termina. deverá ser feito umcientíficas balanço realizadas atividades e lúdicas comemorativas do mandato que agorado centenário do município do termina. Lobito.

Na Aula Magna

“Na Aula Magna” é o tema de uma série de 4 palestras, realizada uma em cada trimestre, com arquitetos de comprovada experiência, que a Ordem dos Arquitectos de Angola vai levar a cabo durante o ano em curso.

Clube de Golf dos Arquitectos

Agendado para o mês de Maio, está em curso a preparação do primeiro Torneio de Golf dos Arquitectos. Para os leigos, serão feitas 6 secções de 2 DE MARCO 2013os meses treinamento durante deDE Março e Abril. As inscrições 2 MARCO 2013 Terceiras Eleições serão abertas Eleições também para Terceiras Gerais da Ordem dos individualidades fora do mundo Gerais da Ordem dos Arquitectos de Angola. da arquitetura. Arquitectos Angola. Nestas eleiçõesde deverá ser Nestas deverá ser Finalmente o Prémio eleito o eleições próximo Presidente eleito o próximo Presidente Nacional de Arquitectura do Conselho Nacional, em (PNA) do Conselho Nacional, em substituição do arq. Antonio Após o anúncio Concurso substituição dodo arq. Antonio Gameiro, bem como Urbano de Arquitectura do no Gameiro, bem como do ano passado,do cujo lançamento Presidente Conselho Presidente do Conselho oficial foi remetido para o mês provincial dedeLuanda, Luanda, provincial de de Fevereiro 2014, estão a o arq. Helvecio da Cunha. Cunha. ser criadas as condições para o arq. Helvecio da o lançamento, já para do A convocatória para os A convocatória para2014, os dois dois Prémio Nacional eventos foi feitade a Arquitectura, 17 de cujo objetivo principal é valorizar Janeiro, peloe atual Presidente a arquitetura incentivar as boas práticas no exercício da da Ordem. da Ordem. profissão. CC

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ARQUITETURA E HUMANIDADE, Eventos realizados

UMA OUTRA ABORDAGEM

A PARTICIPAÇÃO DOS ARQUITETOS E URBANISTAS NA MELHORIA DOS PROJETOS HABITACIONAIS Por: Celestino Chitonho, Arquiteto, Consultor

“Intervenção da Ordem dos Arquitectos de Angola no Fórum Nacional Urbano – 2013”

arquiteto e urbanista é um atentado para toda uma geração. Assiste-se neste mundo fora, cidades que pela sua estruturação espontânea, provocam stress às pessoas, desencadeando todo um processo anormal e doentio de habitar a cidade. A planificação é um requisito importante para a arquitetura. Prever Começamos realçando que o homem habita a terra. a população actual e a futura, com apoio de ciências como a estatística, As construções a escala de cidade são a marca mais forte que a demografia e outras áreas do saber, impede claramente o surgimento o homem deixa na natureza. Trata-se de um legado humano para de construções não ordenadas e que provocam transtornos de vária o universo. REALIZOU-SE 8A 12 “obra DE DEZEMBRO, EM ABIDJAN, COSTA DO MARFIM, ordem, num assentamento humanoae 39ª à vidareunião humana. do Conselho Do mesmo modo queDE vamos deixar feita” para as gerações Quando falta a planificação, os governos são surpreendidos vindouras é importante o que encontramos, de um de Desenvolvimento da União Africanarespeitar de Arquitectos (AUA)tratando-se e o encontro Profissional Contínuo (CPD).eEste obrigados a responder em emergência, com construções em massa, património coletivo herdado. Logo, faz todo o sentido deixarmos como último,cidades foi uma organização conjunta entreque a EM AUA e a UIA (União Internacional Na reunião REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, ABIDJAN, COSTA DO MARFIM, anão 39ª reuniãoaos doanseios Conselho geralmente pouco estudadas ede queArquitectos). respondem dos herança ou assentamentos humanos saudáveis, respeitem a vida e o meio ambiente. da União Africana de Arquitectos (AUA)varias e o encontro de habitantes. Desenvolvimento Profissional interna Contínuo do Conselho da AUA foram aprovadas resoluções concernentes a organização da (CPD). União. Este Na maior parte dos casos modelos “importados” e elaborados sem O Arquiteto e urbanista enquanto profissional, querendo ou não, último, foitrabalha uma entre AUAestá e UIA Internacional de aArquitectos). Na reunião No ou encontro doorganização CPD, foram conjunta feitas apresentações deatrabalhos desenvolvidos por grupos de earquitetos ter(União em conta o local, a população, cultura local o clima. mal bem para a humanidade. Quando o projetoaainda Arequalificação arquitetura espontânea, desde tempos remotos sempre nos do Conselho da AUA aprovadas varias resoluções concernentes a organização interna da União. à escala do papel,em trata-se deforam um projeto arquitecto. Quando é ivoariences, parceria com odogoverno de Abidjan, sobre urbana deoszonas degradadas. • brindou com diferentes formas de habitar, em função do lugar, do clima construído e usado milhares de pessoas, a ser um património No encontro dopor CPD, foram feitaspassa apresentações de trabalhos desenvolvidos por grupos de arquitetos e dos materiais locais. coletivo. O arquiteto é e tem responsabilidades de um fazedor ivoariences, emcriador parceria com de o vida. governo de Abidjan, sobre urbana de zonas degradadas. Os requalificação arquitetos e urbanistas têm grande responsabilidade em não •induzir de cidades e de um de espaços os legisladores em erro. As soluções não podem ser padronizadas para Entre 85% a 90% das construções, feitas no mundo, não são feitas todo mundo ou território, quando existe diferença cultural e ambiental por arquitectos. Ou seja, a marca dos arquitetos na humanidade refletidos no modo de vida das populações. é apenas entre 10% a 15%, o que espelha bem a gravidade e a A legislação deve estar aberta diversidade e ambiental que decadência da vida nas nossas cidades, vilas, aldeias 90, verificou-se como umàperíodo decultural estagnação FALAR DE LUANDA é também falar dos e assentamentos o território apresenta e ser adequada as novas realidades. humanos de modo geral. no crescimento da cidade de “betão”, mas também musseques, assim como os “Slums” em Londres Uma habitação para uma população de cultura ocidental, obviamente As construções à escala de quando planificadas 90, verificou-se como um período de estagnação FALAR DE LUANDA é cidade, também falarnão dos não responde a uma população de que cultura bantu. Basta o olhar para o e convenientemente estruturadas, provocam sérios problemas à foi nesse mesmo período se registou fenómeno ou em Nova Iorque, os “bidonvilles” em Paris, no crescimento da cidade “betão”, mas também musseques, como “Slums” em Londres modo como cada um dos povos usade o tempo, o espaço, bem como vida humana. A assim planificação dos os assentamentos humanos passa de migração dorelações interior para capital (cidade deitens as em “favelas” no rio questão deosJaneiro, os “bustees” a foi dinâmica das suas interpessoais eregistou espirituais. objetivamente uma de princípios, de ética e em de valores, tais nesse mesmo período quea se oEstes fenómeno ou Novapor Iorque, “bidonvilles” em Paris, oferecem claramente próprios espaços para habitar. como a mobilidade, a acessibilidade para todos, a dignidade Luanda). O “Boom” das construções desordenadas Calcutá, as “villas de em Buenos Aires, de migração do aspetos interior para aaos capital (cidade de as “favelas” no rio de misérias” Janeiro, os “bustees” em humana, Uma moradia só é habitação quando existem serviços de apoio a inclusão, a igualdade e o direito a “cidade”. começava uma velocidade descontrolada e, hoje, ouEstes os “bairros dedoutrinários caniços” eminfluenciam Lourenço Marques, Oabásicas. “Boom” das construções desordenadas Calcutá, asaspetos “villas de misérias” em Buenos Aires, a e Luanda). infraestruturas são que grandemente O trinómioohabitação-trabalho-lazer deve serda tidonova em conta para não qualidade de vida ede a vivência dentro humanos. começava a uma velocidade descontrolada e, hoje, ou osespelham “bairros caniços” emdos Lourenço Marques, espelha mosaico e a diversidade estrutura pois as assimetrias daassentamentos evolução social. corrermos o risco de fazermos dos assentamentos humanos espaços A arquitetura tem como base o homem, sem distinção de raça, espelha o mosaico e a diversidade da nova estrutura pois espelham as assimetrias da evolução social. urbana que Luanda apresenta. Com os seus 437 anos de existência, Luanda desumanos. género, estado físico, crença, cultura e tem a natureza como recurso A Existem habitação uma espécie de base e de “quartel general”. É nela urbana queéalguns Luanda apresenta. os 437 de existência, Luanda para satisfazer as necessidades humanas. planos de urbanização que estão deCom hoje é oseus palco dasanos atenções de arquitetos, ondeExistem recarregamos baterias e energias para enfrentar oque mundo. Deve Ahoje história arquitetura do urbanismo é muito clara relativamente alguns planos de urbanização estão de é da o epalco daseatenções de arquitetos, a ser implementados para aliviar a pressão urbana sociólogos antropólogos, pois apresenta ser um local que emana paz e vida de modo a que os seus habitantes as consequências de construções mal estruturadas e não planificadas. a ser implementados para aliviar a pressão urbana sociólogos e antropólogos, pois apresenta transportem esta paz e vida para obem mundo. Doenças, desestruturação suicídios e frustração do homem, que a cidade vive. Ainda que existem estes características únicassocial, onde se verificam novas Tal como a família é a unidade sociedade, a habitação enquanto ser social,únicas só para onde não citar que a cidade vive. Ainda base bemna que existem estes é a características seoutras. verificam novas planos mas, não querendo ser pessimista, perguntodinâmicas sociais, culturais e económicas. Se unidade base na cidade ou no meio rural. Do mesmo modo que famílias A exemplo da medicina que ao longo dos tempos foi difundindo planos mas, não querendo ser pessimista, perguntodinâmicas sociais, culturais e económicas. Se mal estruturadas problemas à sociedade, habitações e generalizando conhecimentos de modo era a melhorar qualidade -me se umaprovocam cidade se faz com planos “a retalho”mal até 1940 a expansão da cidade lenta,afoi no de -me se uma cidade se fazàcom planos “a retalho” até a expansão daocidade era lenta, foiantes no de tocar estruturadas provocam problemas cidade. vida 1940 das populações, tal como simples “lavar as mãos” como tenho verificado por exemplo com o plano do período da 2º guerra mundial onde ciência se verificou o Quando a habitação sofre depor carências básicas na sua estruturação, nos alimentos, o que em tempos idos parecia pura e apenas como tenho verificado exemplo com o plano do período da 2º guerra mundial onde se verificou o osCazenga, seus habitantes vão suprir estas necessidades ou carências na rua, acessível a eruditos, a arquitetura devecom seguir os mesmos trilhos para o Sambizanga, Zango, entre outros, ou se maior crescimento da cidade uma arquitetura Zango, entre ouaos se maior da cidade com uma noCazenga, bairro ou naSambizanga, cidade, provocando transtornos deoutros, vária ordem bem da crescimento humanidade e difundir conhecimentos, taisarquitetura como os ligados ao se deve pensar a cidade como um todo, criando um fortemente caracterizada pelo movimento moderno, outros habitantes. ordenamento do território, dos espaços para habitar, demoderno, modo a evitar se deve pensar a cidade como um todo, criando um fortemente caracterizada pelo movimento É importante que os governos tenham políticas públicas onde desastres maiores na qualidade de vida dasmovimento pessoas ou populações. plano estratégico de crescimento crescimento sustentável, a arquitetura arquitetura “Corbusiana”. Esse chegou plano estratégico de sustentável, onde a “Corbusiana”. Esse movimento chegou de arquitetura que atribuam aos arquitetos e urbanistas o papel É imperioso colocar a arquitetura ao serviço da humanidade e é quem sai a ganhar é a cidade e os seus utilizadores. a Luanda pelas mãos de arquitetos talentosos quem sai a ganhar é a cidade e os seus utilizadores. a Luanda pelas mãos de arquitetos talentosos de “médicos da cidade” ou médicos dos assentamentos humanos. ainda mais importante ao arquiteto ou urbanista deixar de ser elitista. Colocar a arquitetura ao serviço da humanidade já é uma questão como ocomo médico, o arquiteto também deveria ter responsabilidades Na verdade, pensar Luanda é um exercício muito daTal época Vasco Vieira da Costa, Castro de sobrevivência saudável da espécie humana. sociais definidas na lei. complexo e ao mesmo tempo apaixonante pela Rodrigues, Fernão Simões de Carvalho entre outros. A arquitetura e o urbanismo devem definir um padrão mínimosua de Erros na medicina matam imediatamente uma e algumas pessoas, habitabilidade para o bem da errosum na arquitetura urbanismo, uma o população inteiraevai diversidade cultural e dignidade social e humana. nunca terá o consenso Foi período enotável, onde urbanismo a morrendo própria O padrão mínimo de habitabilidade, refletido no respeito a vida e aos poucos e é todo um processo de inadaptabilidade, perca de de todos os pensam nela. arquitetura ainda têm algo todoshumana, os que quedeve pensam nela. •• das políticas públicas de arquitetura ainda hoje hoje algo aa dizer dizer àà cidade. cidade. a de dignidade ser a prioridade identidade e frustração social,têm que provoca problemas geracionais. Jaime O período entre finais dos anos 70 até fins dos anos Tal como um mau médico é um a vida um anos mau arquitetura. Jaime Mesquita, Mesquita, Arquiteto Arquiteto O período entre finais dosatentado anos 70 atéhumana, fins dos

Opinião

Opinião

‘Delirious in Luanda’

‘Delirious in Luanda’


A ressaca do Sumbe

Legislação

Iº Fórum Internacional de Arquitectura

ARTIGO 38º

(Exercício da profissão em território nacional) 1. Só os arquitetos e urbanistas com inscrição em vigor na Ordem dos Arquitectos podem, em todo o território nacional e perante a qualquer instância, autoridade ou entidade pública ou privada, usar o título profissional de arquiteto ou de urbanista e praticar atos próprios da profissão; 2. É considerado uso indevido do título profissional de arquiteto ou de urbanista e como tal punível criminalmente, a sua utilização por quem não esteja registado na Ordem dos Arquitectos; a) A demissão ou suspensão nos termos do artigo 80.º cancela o direito ou uso do título e a prática dos atos práticos dos atos próprios da profissão de arquiteto ou de urbanista, nos termos do presente estatuto. 3. Os atos próprios da profissão de arquitecto ou de urbanista materializam-se em estudos, projetos, planos e atividades de consultoria, gestão direção de obras, planificação, coordenação, nos termos descritos neste número, implicando uma responsabilidade de natureza pública e social. a) O domínio da arquitetura reporta-se à edificação, ao urbanismo, à conceção e desenho do quadro espacial de vida da população, visando a integração harmoniosa das atividades humanas no território, a valorização do património construído e do ambiente.

Eventos

Direcção do Conselho Nacional da Ordem dos Arquitectos em visita de trabalho no Huambo Realizou-se, nos dias 15 e 16 de Janeiro de 2014, um encontro de trabalho entre a Direcção do Conselho Nacional da Ordem dos Arquitectos de Angola, nomeadamente Arq. Victor Leonel (Presidente), Arq. Manuel Elias de Carvalho (Vice Presidente), Celestino Chitonho (Secretário Geral) e os arquitectos residentes na província do Huambo. O encontrou visou a criação de condições para entrada em funcionamento do Conselho Provincial da Ordem dos Arquitectos naquela província. A mesma visita serviu também para um encontro com a Direcção da Faculdade de arquitetura da Universidade José Eduardo dos Santos. Entre os vários assuntos abordados destacam-se a situação legal do corpo docente, a qualidade do ensino da arquitetura na instituição, o rácio arquiteto vs população, entre outros.

4. A intervenção do arquiteto ou do urbanista é obrigatória na elaboração ou avaliação dos projetos de arquitetura e dos planos urbanísticos e de ordenamento do território.

Ordem dos Arquitectos de Angola

Rua Aníbal de Melo, nº 109, 1º andar Vila Alice, Luanda Tel. +244 926 975 502 geral@arquitectos-angola.org

Projecto Nova Vida Rua 50 • edifício 106, 3º andar, apto 3.2 • Luanda - Angola Telf. +244 923 609 573 • +244 921 548 455 pranchetalda@hotmail.com



news

atualidades

Paula Melâneo|apmelaneo@gmail.com

Trienal assume produção da participação portuguesa na Bienal de Veneza Em Dezembro de 2013, a Trienal anunciou a sua parceria à DGArtes para a produção da participação portuguesa na próxima Bienal de Arquitetura de Veneza (7 de junho a 23 de novembro 2014). Esta representação será comissariada por Pedro Campos Costa, uma escolha da DGArtes, que com o projeto Homeland – less Housing more Home irá responder ao repto do arquiteto holandês Rem Koolhaas sob o tema Fundamentals. www.labiennale.org

Foto: Valter Vinagre Kamerafoto

Kenneth Framptom vencedor do Prémio Carreira

André Tavares e Diogo Seixas Lopes curadores da Trienal em 2016 A Trienal anunciou recentemente os novos curadores para a sua 4ª edição: Diogo Seixas Lopes, de Lisboa, e André Tavares, do Porto. Arquitetos e críticos, ambos fazem atualmente parte da Direção do Jornal Arquitectos. Seixas Lopes é também consultor da Garagem Sul do Centro Cultural de Belém e André Tavares responsável pela Editora Dafne. Com esta nomeação, a Trienal abandona a fórmula de concurso que havia adoptado em 2013, onde a proposta da britânica Beatrice Galilee tinha sido a selecionada em concurso internacional. Nas edições anteriores os curadores foram também nomeados – José Mateus em 2007 e Delfim Sardo em 2010.

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O incontornável crítico de arquitetura Kenneth Framptom foi anunciado vencedor do Prémio Carreira, atribuído pela Trienal com o apoio do Millennium BCP, no desfecho da 3ª edição da Trienal. Este ano o júri constitui-se por Beatrice Galilee (curadorageral da trienal), Gonçalo Byrne, Guilherme Wisnik, Juhani Pallasmaa, Mónica Gili, Taro Igarashi e William Menking. Autor de diversos livros e ensaios de referência na história da arquitetura, é o autor do conceito de “regionalismo crítico”, uma expressão que se tornou indissociável da obra de Álvaro Siza e teve um papel preponderante na divulgação da arquitetura portuguesa internacionalmente. Em 2007 foi o italiano Vittorio Gregotti o vencedor e, em 2010, Álvaro Siza. Framptom vai estar em Portugal para a cerimónia de entrega do Prémio, com duas conferências marcadas, uma no Porto na Casa das Artes a 31 de Janeiro e outra em Lisboa no Centro Cultural de Belém, a 3 de Fevereiro. www.trienaldelisboa.com


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news

atualidades

Os Espacialistas ocupam o novo livro de Gonçalo M. Tavares No contexto do seu muito particular modo de ocupação do espaço, o coletivo de arquitetos/artistas Os Espacialistas ilustram o Atlas do Corpo e da Imaginação, o novo livro de Gonçalo M. Tavares. O escritor tem já colaborado em vários projetos com Os Espacialistas e aqui eles são os autores das imagens que habitam este Atlas. O livro nasceu da tese de doutoramento de Gonçalo M. Tavares e constitui-se como uma coleção de “teoria, fragmentos e imagens”. O texto é uma colecção de escritos filosóficos e reflexões, que cruza muitos dos autores do pensamento contemporâneo. Este “corpo” de texto tem uma relação com as imagens, elas são a sua pele um outro reflexo desse interior. O Atlas é também um percurso espacial e são vários os caminhos que se podem desenhar para a leitura: ler o texto seguido com ou sem imagens, seguir as notas de rodapé, saltitar entre os fragmentos, ler apenas a narrativa das imagens e as suas legendas/comentários - ao leitor, é exigido que abandone uma atitude passiva durante a sua leitura. Algumas das imagens d’Os Espacialistas não nos são estranhas, vêm de projetos anteriores – como o

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Piscocenho, que realizaram durante a residência na Red Bull House of Art em 2011 – mas adquirem aqui um novo corpo. O seu trabalho resulta de uma observação muito atenta do espaço, das suas propriedades e potencial. As suas imagens são como sinapses, um novo espaço onde ocorrem ligações e se constrói uma linguagem. O espaço é a perceção que temos da relação do nosso corpo com a envolvente. Fazemos uma projeção dessa relação a nível mental e aí podemos questionar o te esse espaço, como reflexo da imaginação, da memória e da afetividade. Nas suas imagens, Os Espacialistas fotografam-se em situações espaciais concretas, com objetos do quotidiano e da natureza. O seu aspeto comum perde-se na estranheza em que são colocados, na sua relação com o corpo, em condições perspéticas de trompe l’oeil, resultando em situações invulgares, carregadas de ironia e crítica. Publicado pela Caminho no final de 2013, foi considerado pela crítica como um dos melhores livros do ano. Gonçalo M. Tavares dedica o seu livro a Bernardo Sassetti.


Constructing with Clothes, Coletivo Dantiope com André Castro Vasconcelos (PT), Guimarães 2012

The Shelter, Terrapalha/Catarina Pinto (PT), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2013

Constructeurs Insatiables apresenta arquitetura portuguesa em França Constructeurs Insatiables, le plaisir de la construction des petites architectures é uma exposição que explora o entusiasmo e a compulsão da construção de pequena escala, sasonais, efémeras ou nómadas. Comissariada pela portuguesa Inês Moreira, enquanto projecto pedagógico coordenado por Morgane Blant-Boniou, apresenta um conjunto construções arquitetónicas criadas para o contexto específico do espaço que a acolhe. Inclui projetos de alguns arquitetos portugueses: Catarina Pinto/Terrapalha com o projeto Shepherd Shelter - The Womb Shelter; José Pedro Sousa/DFL-FAUP com o projeto Paysage Cabanière; André Castro Vasconcelos com o projeto Dôme des Chemises e a Associação Ensaios e Diálogos, que apresenta um trabalho do seu arquivo. Juntamente ao trabalho destes, é também exposto o projeto Casa e a Cozinha do Vapor, criado em Almada pelos moradores da Cova do Vapor com o coletivo EXYZT (França) em 2013; o projeto Abé/ Hermit House de The Cloud Collective (Holanda) e La Réserve de Véronique & Françoise Maire (França). A exposição conta ainda com a concepção de um

espaço pedagógico pelo Petit Cabanon de Inês Moreira, construído com materiais reciclados. Constructeurs Insatiables, para além da exposição, tem um projeto educativo e de publicação, que se vai desenvolver em fases ao longo do ano. A inauguração está marcada para 21 de Fevereiro nos Jardins e espaços interiores da La Maison de la Vache qui Rit, o museu da empresa do Group Bel, Vache qui Rit, em Lons-le-Saunier, e a exposição poderá ser visitada até 7 de Setembro de 2014. www.constructeurs-expo-mvqr.fr

petit CABANON, performing construction #3, Inês Moreira, 2011

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news

atualidades

Equipa de gmp Architekten vence renovação do estádio Santiago Bernabéu A proposta de gmp Architekten, elaborada em conjunto com L35 Arquitectos e Ribas & Ribas, foi a vencedora do concurso internacional para a renovação do estádio Santiago Bernabéu, da equipa do Real Madrid, em Espanha. O projeto foi o selecionado entre as propostas de reconhecidos ateliers, como Foster & Partners, Herzog & de Meuron ou Populous. Foi transmitido que se espera que a equipa vencedora “transforme Santiago Bernabéu no estádio mais avançado e desenvolvido do século XXI”, explicou Volkwin Marg do atelier gmp, “Este edifício é sem dúvida o projeto mais importante de nossas carreiras”, acrescentou. A obra deverá ser concluída em 2017, num investimento de 400 milhões de euros. O programa do edifício estende-se ao longo de quatro níveis, compreendendo um centro comercial, onde está previsto dotar o estádio de uma cobertura metálica retrátil, com um dispositivo LED interativo.

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O estádio original é um projeto de Luis Alemany Soler e Manuel Muñoz Monasterio, inaugurado em 1947 e foi já alvo de diversas transformações. Segundo o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez: “É impossível compreender tudo que o Real Madrid é hoje sem este estádio”, disse Pérez. “A renovação do estádio é uma estratégia em direção à modernidade. Construir e levantar o estádio foi um desafio na época. Santiago Bernabéu abriu caminho e tornou-se um dos mais importantes recintos desportivos. Este estádio e Alfredo Di Stéfano mudaram a lenda do Real Madrid. O novo Santiago Bernabéu do século XXI continuará a ser um local privilegiado e fonte de orgulho para todos os membros e fãs”. www.gmp-architekten.de www.l35.com www.ribas-arquitectos.com


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Foto: Fernando Guerra FG + SG

Objetos Indefinidos

Ă lvaro Siza, EdifĂ­cio Virchow 6, Novartis Campus, Basileia, 2008-11

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EDITORIAL

temático

Objetos Indefinidos

A interrogação da condição objetual na arquitetura contemporânea

Luís Santiago Baptista|lsbaptista@revarqa.com

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Em 1988, no catálogo da exposição Deconstructivist Architecture no MoMA, Mark Wigley afirmava: “O trabalho crítico só pode hoje ser feito no domínio do edifício: para se envolverem com o discurso, os arquitetos têm que se envolver com a construção; o objeto torna-se o lugar de toda a investigação teórica. (…) Com estes projetos, toda a teoria está colocada no objeto. As proposições tomam agora a forma de objetos em vez de abstrações verbais. O que conta é a condição do objeto, não a teoria abstrata. De facto, a força do objeto torna irrelevante a teoria que o produziu. Consequentemente, estes projetos podem ser considerados fora do seu habitual contexto teórico. Podem ser analisados em termos formais estritos porque a condição de cada objeto carrega toda a sua força ideológica.”1 Num momento de complexidade máxima do discurso teórico e no próprio epicentro do fenómeno do desconstrutivismo, esta afirmação de Wigley revelava-se amplamente enigmática. Enigmática quer no seu distanciamento em relação ao discurso teórico, aquele que tinha sustentado a emergência do próprio movimento, quer na sua focalização radical nas qualidades formais e estéticas do objeto. Apesar do seu ensaio se circunscrever a uma interpretação do trabalho dos arquitetos presentes na exposição e portanto no âmbito da denominada arquitetura desconstrutivista, acreditamos que o seu alcance disciplinar extravasa esse âmbito particular. Na verdade, a afirmação de Wigley pode funcionar como dispositivo de leitura da história da arquitetura do último quartel do século XX. O ocaso disciplinar da questão urbana, no início da década de setenta, pode ser entendido como o outro lado do interesse crescente pelo objeto arquitetónico. O fim das utopias e a rarefação teórica da problemática urbana assinalam uma reorientação estrutural da disciplina para as questões semiológicas da linguagem e fenomenológicas do contexto. Em suma, uma mudança fundamental do foco disciplinar da cidade para o objeto. A análise das diversas antologias de teoria de arquitetura, editadas por Kate Nesbitt, K. Michael Hays e Charles Jencks, cobrindo um período que vai do final dos anos 60 até ao final do milénio, manifesta-o claramente. Por outro lado, o fenómeno do pós-modernismo assinalaria esse triunfo da dimensão objetual da arquitetura, paradoxalmente no preciso momento de maior expansão e transformação dos territórios metropolitanos. Com o problema urbano remetido essencialmente para as áreas da sociologia, antropologia e geografia, a objetualidade tornava-se o campo privilegiado de investigação disciplinar da arquitetura.

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Em 1995, no mesmo MoMA, a exposição Light Construction avançava com uma nova interpretação do objeto arquitetónico contemporâneo. O comissário da exposição Terence Riley afirmava no catálogo: “nos anos recentes uma nova sensibilidade emergiu, uma que não reflete apenas a distância da nossa cultura em relação à estética da máquina do início do século XX, mas marca uma mudança fundamental depois de três décadas em que o debate acerca da arquitetura se focou nas questões da forma.”2 Sete anos depois da exposição que institucionalizara o desconstrutivismo, o objeto arquitetónico mostrava a sua outra face. Se deconstructivist architecture distorcia formalmente a estrutura espacial, light construction desvanecia superficialmente a materialidade objetual. Se deconstructivist architecture deformava o construtivismo, light construction intensificava o minimalismo.

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Se deconstructivist architecture destabilizava o corpo, light construction dissipava-o. Se deconstructivist architecture manipulava a complexidade objetual através da maqueta, light construction refletia-se na atmosfera desmaterializada do rendering. Num certo sentido, estas duas exposições seminais apresentam o alfa e o ómega das conceções estéticas dominantes da arquitetura contemporânea. No sentido avançado por Wigley, em ambas o objeto procura neutralizar a teoria, em ambas o objeto pretende concentrar toda a atenção. A autonomia do objeto arquitetónico manifesta-se assim contra o discurso e em detrimento do lugar. Porém, por outro lado, assume uma autonomia precária e provisória, evidenciando a dimensão mediadora e o fundo de problematicidade inerente à experiência. Mas, apesar do paralelo possível entre as duas tendências, a segunda não pode deixar de ser uma reação à primeira. Manifesta-se aqui a passagem da (de)formação do espaço para a (des)materialização do ambiente. O foco está agora na atmosfera arquitetónica que tanto revela quanto oculta, numa tentativa, em novos termos, de negociação e conciliação de opostos. Como refere o comissário: “Transparência e luminescência são palavras que reemergiram no vocabulário da arquitetura, e a luz e «leveza» tornaram-se conceitos chave para um número significativo de arquitetos contemporâneos, assim como artistas que criam instalações. O trabalho recente destes projetistas relembra a utilização de materiais transparentes nas primeiras estruturas modernas, mas introduziram novas ideias e soluções técnicas. Ao fazê-lo, redefiniram a relação entre o observador e a estrutura ao interpor elementos que tanto iluminam como ocultam. Nesta arquitetura de «leveza», os edifícios tornam-se intangíveis, as estruturas ocultam o seu peso, e as fachadas tornam-se instáveis, dissolvendo-se muitas vezes numa luminosidade evanescente.”3 Transparência e opacidade, peso e leveza, matéria e reflexo, espessura e superfície não são aqui entendidas como realidades opostas, na verdade, confluem num mesmo objeto de experiência. Riley fala mesmo de uma inversão paradigmática da conceção clássica e moderna do objeto, na passagem “da forma para a superfície”, na transição do “magnífico jogo das formas sob a luz” de Le Corbusier para o “magnífico jogo da luz sobre as formas” proposto por Light Construction.4 Do objeto revelado pela luz à experiência da luz reveladora do objeto, a atmosfera experiencial ganha protagonismo sobre a forma objetual. De Peter Zumthor a SANAA, de Jean Nouvel a Herzog & de Meuron, de Junya Ishigami a Aires Mateus, importa aqui tentar perceber o que tem fascinado os arquitetos nesta investigação da condição objetual através do próprio objeto, algo que o blur building de Diller & Scofidio terá por ventura levado ao paroxismo. Na verdade, assistimos a um interesse de alguns arquitetos pelas propriedades difusas e diáfanas dos objetos arquitetónicos, evidenciadas por dispositivos de desmaterialização, reflexão, abstração, camuflagem, etc. Um objeto arquitetónico que se dá à experiência já não meramente por um reduzir ao grau zero da linguagem, mas prenunciando experiencialmente o seu ofuscamento material. No limite, esta pode ser uma arquitetura furtiva.

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Apesar da declaração de Wigley em 1988, existem vínculos dos processos de interrogação da condição do objeto arquitetónico contemporâneo com os grandes debates emergentes desde o início da década de noventa. Neste âmbito, ganham preponderância as oposições real versus


Assistimos a um interesse de alguns arquitetos pelas propriedades difusas e diáfanas dos objetos arquitetónicos, evidenciadas por dispositivos de desmaterialização, reflexão, abstração, camuflagem, etc. Um objeto arquitetónico que se dá à experiência já não meramente por um reduzir ao grau zero da linguagem, mas prenunciando experiencialmente o seu ofuscamento material. No limite, esta pode ser uma arquitetura furtiva.

SANAA, Louvre Lens, França, 2005-12 • SO-IL, Kukje Art Center, Coreia do Sul • João Pedro Falcão de Campos + Appleton & Domingos, Estufa Fria, Lisboa, 2009-13

virtual e analógico versus digital. Como consequência o objeto complexificava a sua natureza entre a experiência e o conceito, entre a perceção e a representação, entre mediação e mediatização. Com a emergência do mundo digital a ideia de objeto não poderia permanecer a mesma, perante essa simultânea fratura e justaposição radical das suas manifestações criativas e experienciais. Em 2004, o arquiteto e historiador Antoine Picon abordou o que definiu como “nova materialidade”, procurando captar as mudanças introduzidas com o paradigma digital: “O desenvolvimento do projeto digital é frequentemente apresentado como uma ameaça a uma das dimensões essenciais da arquitetura: os aspetos concretos da construção e das tecnologias construtivas, numa palavra, a materialidade. (…) Para além da perceção, os nossos gestos e movimentos quotidianos estão dependentes das nossas máquinas e dos seus requisitos específicos. Neste perspetiva, o impacto do computador pode ser definido, com mais acuidade, como uma reestruturação e não como um distanciamento da experiência física e da materialidade.”5 Se as novas tecnologias exigem uma readaptação dos sujeitos de experiência e uma redefinição da noção de realidade, a dualidade entre matéria e conceito não implica, como muita vezes se pensa, uma distinção clara dos seus domínios, mas antes uma crescente hibridização dos seus horizontes. E a arquitetura, sendo um dos últimos bastiões da materialidade no seu sentido mais disciplinar, será um dos campos onde esses fenómenos terão certamente mais impacto. Um impacto em grande medida involuntário e inconsciente, mas que se manifesta nos processos de criação projetual, nos modos de representação arquitetónica, nas conceções estéticas emergentes e nas qualidades experienciais das obras. Em todas estas vertentes existe um fulcro, um dispositivo que as atravessa. Esse dispositivo é o objeto: o objeto generativo do digital, o objeto difuso do rendering, o objeto indefinido da lightness, o objeto desmaterializado da atmosfera. No limite, o objeto a questionar a sua objetualidade. No mesmo sentido em que hoje o real interroga o realidade.

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A condição do objeto contemporâneo tem sido investigada dentro e fora da disciplina da arquitetura. Se as questões da curadoria de arquitetura, com o seu paradoxo de apresentar o objeto através de representações,

e o trabalho de artistas e fotógrafos, com o seu olhar inquisitivo sobre a natureza da realidade, permitem expandir as dimensões contemporâneas da objetualidade, alguns arquitetos manifestam esse questionar mais disciplinar da estabilidade e materialidade do objeto arquitetónico. O edifício para a Novartis de Álvaro Siza apresenta a tensão entre a materialidade racional da estrutura e o reflexividade da pele vítrea, culminando no seu dispositivo caleidoscópico de entrada. O Museu Louvre de Lens de SANAA leva ao extremo as possibilidades atmosféricas através da subtil desmaterialização produzida pelas diferentes superfícies exteriores e interiores. O Instituto de Tecnologia de Kanagawa de Junya Ishigami rarefaz a matéria através da intensificação da experiência da leveza e da luz. O Centro de Arte Kukje do SO-IL redefine a ideia de objeto desmaterializando-o através de um surpreendente revestimento superficial translúcido. A instalação sanitária de Sou Fujimoto reformula a privacidade da experiência através da construção de um jardim no espaço intersticial de uma parede tradicional. O pavilhão de Carla Juaçaba apresenta-se como um corpo estruturalmente poroso, com órgãos internos e alimentado pelo movimento humano. A casa do Office naturaliza o objeto e desconstrói a experiência espacial de um objeto devedor do célebre exercício académico dos 9 quadrados de John Hejduk. A remodelação da Estufa Fria em Lisboa de João Pedro Falcão de Campos e Appleton & Domingos clarifica e exponencia a experiência sublime da reversibilidade entre interior e exterior, entre arquitetura e natureza. As instalações de Tetsuo Kondo e Do Ho Suh desmaterializam o objeto através, respetivamente, da experiência corporal de uma formação atmosférica e da sobreposição visual dos extratos memoriais da arquitetura. n 1 Mark Wigley. «Deconstructivist Architecture», in Deconstructivist Architecture. New York: MoMA, 1988, p. 19, tradução livre. 2 Terence Riley. «Light Construction», in Light Construction. New York: MoMA, 1995, p. 9, tradução livre. 3 Idem, Ibidem, contracapa. 4 Ver entrevista com Terence Riley neste número da arqa. 5 Antoine Picon. «Architecture and the Virtual: Towards a New Materiality» (2004), in A. Krista Sykes (edit.), Constructing a New Agenda: Architectural Theory 1993-2009. New York: Princeton Architectural Press, 2010, pp. 270-272, tradução livre.

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PROJETOS

biografias

Foto: David Vintiner

ÁLVARO SIZA é licenciado em arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. Em 1954 construiu o seu primeiro projeto e entre 1955 e 1958 colaborou com Fernando Távora. Recebeu diversas distinções e prémios internacionais, como o Mies van der Rohe European Architecture em 1988, o Priztker Prize, em 1992, a Royal Gold Medal do RIBA (2009), o Leão de Ouro de distinção carreira da 13ª Bienal de Veneza (2012), e também diversos doutoramentos honoris causa das principais universidades em Espanha, Suíça, Itália, Portugal e Brasil, entre outros. Tem-se também dedicado ao ensino, tendo sido professor na Faculdade de Arquitectura do Porto, desde 1976, e participado em inúmeras conferências e seminários em diferentes países. Paralelamente tem sido professor convidado na EPF de Lausanne, na University of Pennsylvania, Los Andes University of Bogotá e na Graduate School of Design, da Harvard University.

SOU FUJIMOTO (n.1971, Hokkaido) é licenciado pelo Departamento de Arquitetura da Faculdade de Engenharia da Universidade de Tóquio, fundando Sou Fujimoto Architects em 2000. É o autor do Pavilhão da Serpentine Gallery 2013 e da exposição Futurospective Architecture, patente na Garagem Sul do CCB em Lisboa. Recebeu o AR Awards em 2005, 2006 e 2007. Em 2012 participou na exposição do Pavilhão Japonês da Bienal de Veneza, vencedora do Leão de Ouro. Dos seus trabalhos destacam-se a House N (2008), a Musashino Art University Museum & Library (2010) e a House NA (2011). www.sou-fujimoto.net

SANAA foi fundado em 1995 por Kazuyo Sejima (n.1956, Ibaraki) e por Ryue Nishizawa (n.1966, Kanagawa). Sejima é arquiteta pela Universidade Japan Women’s de Tóquio, em 1981, abriu o Kazuyo Sejima & Associates em 1987 e é Professora da Universidade de Keio, desde 2001. Nishizawa é arquiteto pela Universidade Nacional de Yokohama, em 1990, trabalhou no Kazuyo Sejima & Associates e é Professor da Universidade Nacional de Yokohama, desde 2001. Têm desenvolvido projetos em diversos países, como um edifício de habitação económica em Paris (16éme), o Edifício Multifuncional da Fundação de Serralves, no Porto, e a Torre Neruda, em Guadalajara, no México. Em 2010, esta dupla do estúdio SANAA foi distinguida com o prestigiado Pritzker Prize. www.sanaa.co.jp

JOÃO PEDRO FALCÃO DE CAMPOS é arquiteto pela FAUTL, em 1984. Em 1987 abre atelier próprio. Colabora como atelier associado, com Álvaro Siza de 1993 a 2003 e, com Gonçalo Byrne, desde 1993. Professor convidado no IST, e na Universidade de Navarra. Entre os prémios que recebeu estão o 1º lugar na 1ª e na 3ª edição do Prémio Municipal de Beja 2000 e Menção Honrosa na III Trienal de Arquitectura de Sintra, em 1998. O seu trabalho tem sido diversas vezes nomeado para o Prémio Mies van der Rohe e para o Prémio Secil. APPLETON & DOMINGOS foi criado em 1999, datando a colaboração dos seus sócios de 1995. Atualmente constitui-se por João Appleton e Isabel Domingos. Têm colaborado com diversos arquitetos, incluidndo Falcão de Campos no projeto de remodelação da Estufa Fria, em Lisboa. O seu trabalho foi merecedor de distinções nos Prémios Construir 2010, Prémio Municipal de Arquitetura e Espaço Público de Odivelas 2011, Prémio IHRU 2012 – Variante Reabilitação de Edifício de Habitação.

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Foto: Tasuku Amada

TETSUO KONDO (n.1975, Ehime) é uma arquiteto japonês licenciado pela Universidade de Nagoya. Depois de ter trabalhado com Kazuyo Sejima and associates, SANAA (1999-2006), estabeleceu Tetsuo Kondo Architects em 2006. O seu trabalho tem recebido diversas distinções como o Tokyo society of architects and building engineers, Residential architecture Award (2008) ou Chair Design Competition Grand Prix (2009). Atualmente leciona na Tokyo University of Science, Hosei University, Japan Women’s University. www.tetsuokondo.jp

JUNYA ISHIGAMI (n.1974, Kanagawa) tem um MFA em arquitetura pela Tokyo National University of Fine Arts and Music (2000). Entre 2000-04 trabalhou com Kazuyo Sejima & Associates e em 2004 abriu junya. ishigami+associates.Entre 2009-11 lecionou na Tokyo University of Science e entre 2010-2012 foi Professor. Associado, em pesquisa Research, na Tohoku University. Entre os diversos prémios que recebeu, estão o Architectural Institute of Japan Prize (2009); o BCS Prize (2009); o Leão de Ouro na 12ª Bienal de Arquitetura de Veneza (2010) e o Mainichi Design Awards 2010. www.jnyi.jp

Foto: Tine Cooreman

OFFICE Kersten Geers David Van Severen foi fundado em 2002 por Kersten Geers and David Van Severen. Em 10 anos de trabalho, OFFICE tem ganho reconhecimento internacional com as suas propostas espaciais diretas e precisas. Em 2010 foram galardoados com o Leão de Prata da Bienal de Veneza para os jovens arquitetos emergentes. Recentemente uma visão global do seu trabalho foi publicada na edição monográfica 2G#63. Atualmente, o atelier OFFICE Kersten Geers David van Severen está a desenvolver diferentes projetos para a Europa e também para o estrangeiro. www.officekgdvs.com

DO HO SUH (n.1962, Seul) tem um BFA em pintura da Rhode Island School of Design e um MFA em escultura da Yale University. Interessado na maleabilidade do espaço, tanto nas suas manifestações físicas como metafóricas, Suh constrói instalações site-specific que questionam as fronteiras da identidade. O seu trabalho explora a relação entre individualidade, coletividade e anonimato. Recentemente apresentou a instalação publicada e também Do Ho Suh: Perfect Home, 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa, Japão (2012-13); In Between, Hiroshima City Museum of Contemporary Art, Hiroshima, Japão (2012); Fallen Star, Stuart Collection, University of San Diego, Califórnia (2012).

Foto: Park Ki Su

CARLA JUAÇABA (n. Rio de Janeiro) é licenciada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Santa Úrsula (1999), Brasil. Em 2002 obteve uma Menção Honrosa pela IAB-RJ Instituto de Arquitectos do Brasil e o primeiro prémio CSN em Construção Civil em 2000. Atualmente trabalha como arquiteta independente, desenvolvendo projetos residenciais e cenografias para exposições. É também professora na Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro. www.carlajuacaba.com.br

SO-IL é um atelier fundado por Florian Idenburg (n.1975, Holanda) e Jing Liu (n.China) em 2008. Com uma perspetiva global, juntam experiências de campos diversos, como arquitetura, académico e artes. Um catalisador criativo envolvido em todas as escalas e fases do processo arquitetónico, SO-IL aborda os projetos com rigor intelectual e artístico, incentivado pelo forte compromisso de realizar as suas ideias no mundo. Têm trabalhado em projetos de diferentes escalas, desde o planeamento urbano de um campus cultural em Xangai, a uma série de impressões para o Guggenheim Museum. Entre outros projetos fizeram a loja flagship da Benetton em Nova Iorque; um alojamento estudantil em Atenas; a presença da Frieze Art Fair em Nova Iorque, e o museu campus na UC Davis. www.so-il.org

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PROJETOS

Suíça

Álvaro Siza

Edifício Virchow 6, Novartis Campus, Basileia

Arquitetura: Álvaro Siza Colaboração: Clemente Menéres Semide Arquiteto local: Nissen Wentzlaff Architecten BSA SIA AG, Basel – Daniel Wentzlaff, Michael Mullen, Johannes Brenner, Stefan Schöch, Thomas Ligibel, Sibylle Bosshard Datas: 2008-2010 (construção); 2005-2011 (projeto) Gestor do Projeto: Beat Brunold Planeamento Geral: Caretta Weidmann Baumanagement AG, Basileia Engenharia: Lüem AG Ingenieurbüro, Basileia; GOP, Porto AVAC: Aicher, de Martin, Zweng AG, Lucerne Projeto ICA: Aicher, de Martin, Zweng AG, Lucerne Eletricidade: Sytek AG, Basileia; GPIC, Porto Projeto Sanitário: der ingeniör AG, Berna; GOP, Porto Laboratórios: Dr Heinekamp GmbH, Basileia Iluminação: hu- bschergestaltet, Basileia Acústica: Zehnder &Kälin AG, Winterthur Sinalética: Mifflin-Schmid Design GmbH, Zurique Empreiteiro: Metalbau Heinrich Würfel Dono da Obra: Novartis Pharma AG Texto: Álvaro Siza Fotografia: FG+SG – www.ultimasreportagens.com

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Implantação

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PROJETOS

Franรงa

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SANAA

Parque e Museu Louvre-Lens


Foto: Hisao Suzuki

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PROJETOS

Jap達o

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Junya Ishigami

Oficina do Instituto de Tecnologia Kanagawa


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SO-IL

PROJETOS

Coreia do Sul

Centro de Arte Kukje , Seul

Arquitetura: SO-IL Equipa: Iannis Kandyliaris, Cheon-Kang Park, Sooran Kim Cliente: Kukje Gallery Programa: galeria de arte, sala auditório Área: 1 500m² Datas: Acabado em abril 2012 Prémios: 2011 AIA NY Design Awards Fotografia: Iwan Baan

SO-IL desenvolveu, para a Kukje Gallery em Seul, um plano geral para o “art campus” da galeria no núcleo urbano histórico de Sogyeok-dong, uma área de construção de baixa altura na zona norte de Seul. O bairro caracteriza-se por casas com pátios e pequenos becos, que atualmente se está a preencher pela construção de novas galerias, lojas e cafés. Um dos edifícios recentemente projetados do plano geral é uma galeria. A estrutura é um espaço expositivo aberto, de apenas um piso. O piso térreo será usado para grandes instalações, performances e outras funções, enquanto que os dois pisos subterrâneos acolhem uma sala de vendas, um espaço de leitura e áreas de armazém. A circulação é canalizada para o cimo do edifício, mantendo a geometria pura da caixa. Uma clarabóia a todo o perímetro deixa entrar a luz natural. Considerando a clara geometria diagramática do cubo branco, demasiado rígida dentro do tecido histórico, o edifício está envolto numa “névoa” – um véu em malha flexível. A malha de aço inox cria uma superfície difusora na frente da massa do edifício, através de uma combinação da reflexão multidirecional, da abertura e do padrão moiré gerado pelo jogo de sombras. Uma outra característica do material é a capacidade de poder esticar, evitando assim o enrugamento. É forte, mas flexível, e pode facilmente enrolar-se em torno de geometrias cruas. Juntamente com a Front Inc., SO-IL desenvolveu, projetou e fabricou esta fachada única. n

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Implantação

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PROJETOS

Japão

Sou Fujimoto

Instalação Sanitária Pública em Ichihara, Chiba

Arquitetura: Sou Fujimoto Architects Equipa: Nao Harikae (ex.), Naganobu Matsumura, Naoki Tamura Datas: 2011-2012 Cliente: Cidade de Ichihara Estruturas: Jun Sato Structural Engineers Mecânica: Archi Build Co.,ltd Dados: estrutura de aço (sanitário feminino) e estrutura de madeira (sanitário multi-usos) Áreas: 643.56m2 (local); 209.48m2 (construída e total dos pisos); Texto: Sou Fujimoto Architects Fotografia: Iwan Baan

É uma pequena instalação sanitária pública localizada ao lado da estação de Itabu, no caminho de ferro local, Kominato, que circula do norte ao sul da cidade de Ichihara, Chiba. Constitui-se por duas unidades, uma unisexo e deficientes e outra para mulheres. A estação de Itabu é famosa pela sua bela paisagem de flores de cerejeira que atraem muitos fotógrafos na altura em que dão flor, e o seu ambiente relaxante é sedutor com o cenário circundante de província. Tentámos criar uma instalação sanitária que tem origem neste bonito ambiente.

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Imagem de conceito

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Uma instalação sanitária pública é, de certa forma, o mais pequeno equipamento público. É um espaço público e, ao mesmo tempo, é um espaço muito privado. Portanto, é suposto fechar e proteger o local do meio envolvente. No entanto, num meio bonito, não pode ser simplesmente fechado, é preciso questionar o modo como é fechado, mantendo-o ainda assim aberto. E este fechado-mas-aberto leva-nos a refletir sobre uma forma primitiva de arquitetura. A natureza circundante é tão bonita que remete para questões de como esta natureza deve ser abordada e “arquiteturizada”. Além disso, como pode esta pequenez ser sublimada com novos valores? Público e privado, abrir e fechar, natureza e arquitetura, pequenez e grandeza, este projeto de instalação sanitária pública encontra-se no centro do cruzamentos de diferentes critérios. 2 metros de cerca de troncos redondos de madeira envolve um espaço de 200 metros quadrados, repletos de árvores e flores. Colocámos a caixa de vidro no meio do jardim fechado pela cerca. Todo este jardim natural, fechado e longe do olhar das pessoas, é o domínio da instalação sanitária. Através destas simples camadas múltiplas e da divergência de limites interno e externo, público e privado, o sentido de abertura e proteção, a natureza e arquitetura, interna e externa, grande e pequeno hão-de sempre confundir-se, mantendo a sua ambiguidade. É uma sugestão de uma forma primitiva de arquitetura. n


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PROJETOS

Bélgica

Office Kersten Geers David Van Severen Villa Buggenhout

Esta habitação autónoma situa-se no meio de uma parcela, entre bosques e uma zona agrícola, perto da aldeia de Buggenhout. A delimitação do espaço - uma cerca modular de aço - é parte integrante do projeto e define o volume da casa. A vegetação circundante não está incluído e funciona como acesso de automóvel à casa. A habitação em si é composta por dois pisos: um aberto, “fora da casa” no piso térreo, e um fechado, “dentro da casa”, no primeiro piso, com vista sobre os bosques e paisagem rural. A casa exterior foi concebida como uma casa-pátio com jardim. As suas grossas paredes duplas - duas camadas de tijolo regular de suporte, pintadas de branco - suportam uma plataforma de betão que forma a base para a casa interior. A casa interior é um conjunto compacto de divisões dispostas em profundidade na cobertura da casa-pátio. Isto é conseguido através de uma caixa de madeira que cobre a plataforma, tornada à prova de água através do completo revestimento por uma membrana escura de plástico. Todos os detalhes deste projeto foram concebidos do interior para o exterior: as enormes janelas de correr foram acrescentadas à fachada de tal forma que os caixilhos são invisíveis e não se impõem à vista deslumbrante. Estas são direcionadas para a calma e aberta paisagem rural, enquanto que as casas vizinhas permanecem relativamente invisíveis. Ao afastar deliberadamente as cercas dos limites do terreno, a habitação torna-se realmente “autónoma” - um luxo raro numa Bélgica de pequenas parcelas. n

Arquitetura: Office Kersten Geers David Van Severen Estruturas: Util Empreiteiro geral: CS Bouw, Schoonaarde Madeiras: Schrijnwerkerij Dam-Baert, Zele (estrutura e paredes); Thierry Lagae, Brussels (portas e armários) Aço: Mertens, Grimbergen Janelas: FMP, Duffel Área: 260 m2 Custo: €350 000 Datas: 2007 - 2010 Texto: Office Kersten Geers David Van Severen Fotografia: Bas Princen proj. 6

Implantação

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PROJETOS

Brasil

Carla Juaçaba

Pavilhão Humanidade 2012, Rio de Janeiro

Arquitetura: Carla Juaçaba Concepção e direção: Bia Lessa Desenho de luz: Paulo Pederneiras Colaboração: Antonio Pedro Coutinho, Pedro Varella, Sergio García–Gasco Lominchar, Elza Burgos De La Prida, Argus Caruso (arquitetos); Daniel Cuchicho, Rita D’Aguilar, Barbara Cutlak, Alvaro Pitas (estagiários) Maquete digital: Bruno Caio, André Wissenbach Direção de cenografia: Abel Gomes Execução: P&G Cenografia Produção executiva de criação: Lucas Arruda Estrutura: MVD; Osmar Dutra; Naldo Bueno Desenho de som: Dany Roland Projeto gráfico: Fabio Arruda E Rodrigo Bleque – Cubículo Paisagismo: Daniela Infante Iluminação: Naldo Bueno Produção geral: Srcom Conteúdo e curadoria: Fiesp / Firjan Texto: Carla Juaçaba Fotografia: Leonardo Finotti

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A proposta é um edifício-andaime, translúcido, exposto a todas as condições do tempo: luz, calor, chuva, barulho do mar e do vento, colocando ou lembrando o homem da sua condição frágil diante da natureza. A estrutura é composta de 5 paredes estruturais de 170mx20m de altura, com afastamento de 5,40m entre elas, criando um percurso suspenso na natureza do Rio de Janeiro, interrompido quando se torna necessária uma reflexão, através dos espaços de pensamentos. As salas expositivas são o contraventamento da estrutura, dando rigidez a todo conjunto. É o único material que conheço, com essa capacidade de carga, em que o vento e a chuva o atravessam. Um dos princípios de sustentabilidade em arquitetura é construir com o que se pode e com o que se têm. A escolha do material utilizado, é sustentável no sentido de ser 100% reutilizado. É um projeto feito da matéria de outros projetos, ou seja, o andaime sai da fachada que constrói os edifícios para ser um edifício. É um material que foi e será de outros eventos. Na primeira visita ao terreno que fiz com a Bia, encontrámos uma base de andaime para o evento que estava a acontecer e que costumam ser escondidas por tendas de plástico branca. Foi quando percebemos o potencial que esse material poderia ter, e muito acessível. Há uma frase do Paulo Mendes da Rocha que foi um motivo de reflexão para a o projeto e para as questões do que significa o sustentável em arquitetura: “Para mim, a primeira e primordial arquitetura é a geografia.” Ou seja, a ideia de sustentabilidade em arquitetura pode ter uma relação direta com a geografia: pode fazer sentido construir em terra em África e nalguns lugares do Brasil, ou tetos verdes em Buenos Aires, mas não aqui no Forte de Copacabana. Como se cada ponto geográfico do planeta tivesse que encontrar o seu ponto de equilíbrio. n

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PRAIA DE COPACABANA

COPACABANA

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FORTE D COPACABANA

PRAIA DE IPANEMA

ARPOADOR

PRAIA DO DIABO

Implantação

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PROJETOS

Portugal

Falcão de Campos+Appleton & Domingos Remodelação da Estufa Fria, Lisboa

Arquitetura: João Pedro Falcão de Campos, Arquitecto + Appleton & Domingos Arquitectos, Lda Colaboradores: Francisco Vilaça, Rita Barbosa, Inês Piedade Ventilação Natural: Natural Works Construtor: HCI Construções Estabilidade: A2P Consult Localização da obra: Parque Eduardo VII, Lisboa Cliente: Câmara Municipal de Lisboa Datas: 2009 / 2010 (projeto); 2013 (conclusão) Texto: João Pedro Falcão de Campos + Appleton & Domingos Fotografia: Paulo Catrica

O jardim da Estufa Fria foi criado pela ocupação de uma pedreira ao longo de mais de um século, por diversas espécies exóticas. Encontrava-se em risco pelo possível colapso da superestrutura de sombreamento, que garante as condições ambientais necessárias às espécies vegetais, constituída por pilares e vigas metálicos que suportam esbeltas esteiras de madeira. Dado a estrutura metálica não ser recuperável devido ao seu grau de

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Implantação

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degradação, nem cumprir os mínimos relativos à segurança, foi necessário redesenhar toda a estufa. Toda a superestrutura foi amarrada aos limites superiores do complexo, permitindo um maior pé-direito, necessário para o crescimento das espécies vegetais e também para futuras ampliações/construções à cota alta que irão potenciar a articulação com a cidade. Manteve-se a localização exacta dos pilares preexistentes, constituindo uma infraestrutura de apoio às diversas redes que poderão vir a ser colocadas na estufa, evitando que no futuro seja necessário proceder a escavações e intrusões no coberto vegetal e pavimentos. A nova cobertura, um sistema leve de painéis de ripado de madeira, é o seu sistema de regulação climática. Foi redesenhada com base no desenho original da grelha de sombreamento, tal como foi recuperada a ideia original de Keil do Amaral de dar continuidade ao revestimento da cobertura na fachada. A manipulação da proporção e escala dos pilares, a escolha cuidada da cor, e a utilização da nova versão dos painéis de madeira, tornam a intervenção de arquitectura invisível, valorizando as qualidades do ambiente no interior e tornando o jardim protagonista de toda a operação. n


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PROJETOS

Japão

Tetsuo Kondo

Intalação “Cloudscapes”, Museu de Arte Contemporânea, Tóquio

Arquitetura: Tetstuo Kondo Architects Colaboração:Transsolar (Nadir Abdessemed, Jacob Merk and Matthias Schuler) Data: 2012 Estrutura: Konishi Structural Engineers Texto: Tetsuo Kondo Architects Fotografia: Tetsuo Kondo Architects

Criámos um pequeno banco de nuvens no Jardim Sunken do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio. As nuvens flutuam suavemente numa caixa compacta, transparente, que pode ser vista do átrio de entrada, das galerias de exposição, da praça exterior e de outras zonas do museu. Suba as escadas, no interior da caixa de nuvens. Quando subir para lá das nuvens para atingir o topo, o museu, os edifícios circundantes e o céu pairam acima das nuvens. Os contornos das nuvens são definidos, mas suaves, e sempre em movimento. A cor, densidade e brilho mudam constantemente, em sintonia com o clima e a hora do dia. A temperatura e a humidade no interior da caixa são controlados para manter as nuvens na altura desejada. O ar no interior tem três camadas distintas, uma fresca e seca, em baixo, uma quente e húmida, a meio, e, no topo, quente e seca. A camada de ar quente e húmido é onde se formam as nuvens. A caixa transparente é construída com tubo de 48,6mm de diâmetro. O material elástico adicionado, a 6m do teto, ao meio, faz com que a estrutura seja um todo, sensível à pressão do vento. Esse material elástico também possibilita a construção da caixa apenas com tubos finos. As duas camadas de folhas de vinil que dividem as camadas, asseguram a estabilidade de temperatura e humidade, no interior da estrutura. As nuvens, em constante mudança são estruturas suaves e fazem parte do ambiente natural que as rodeia. Não é a estrutura por si só, mas as diferenças invisíveis de humidade, temperatura e o tempo, a hora do dia e outros aspetos do ambiente circundante que, juntos, se influenciam e que, pouco a pouco, transformam este trabalho num conjunto artístico. Cloudscapes é, de facto, uma experiência na criação de um novo tipo de espaço arquitetónico, um espaço que consegue integração através do compromisso com o seu ambiente circundante. n

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Planta

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Corte A

Section A

Corte B

Section A

Section B

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PROJETOS

Coreia do Sul

Do Ho Suh

Instalação “Home within Home within Home within Home within Home”, Seul

Projeto: Do Ho Suh Local: MMCA (National Museum of Modern and Contemporary Art), Seul – 30 Samcheong-ro, Jongno-gu, Seul, Coreia do Sul (www.mmca.go.kr) Datas: 2013, apresentação pública de 13 novembro 2013 a 11 maio 2014 Texto: MMCA Seul Fotografia: Do Ho Suh, cortesia do artista e da Lehmann Maupin Gallery, Nova Iorque e Hong Kong

Em comemoração da história do Museu Nacional de Arte Contemporânea de Seul, Do Ho Suh é o primeiro artista selecionado para exibir a sua peça “Home within Home within Home within Home within Home”. Esta enorme instalação de tecido, especialmente criada como epíteto da propriedade espacial vital da Seuol Box, pode caraterizar-se sem dúvida pela sua abundante luz natural que atravessa as suas paredes de vidro e os atributos históricos do conjunto do ramo de Seul do museu, em que os edifícios tradicionais, modernos e contemporâneos se envolvem mutuamente. Esta instalação, estando entre a série mais aclamada de casas e arquiteturas de tecido de Suh, é a maior casa de tecido criada. No entanto, se não contarmos com as suas casas de tecido anteriores, esta instalação é apresentada em camadas e sobreposta por uma outra casa de tecido no seu interior. Esta peça foi revelada durante a inauguração a 12 de Novembro de 2013, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, e continuará em exibição até 11 de Maio de 2014. Este é o primeiro projeto a ser completado com o patrocínio de “Hanjin Shipping Box Project” com a duração contratada de 4 anos. “Home within Home within Home within Home within Home” consiste numa réplica em escala real (12m altura, 15m largura) da casa de cidade de três pisos em Providence, Rhode Island, que foi a primeira morada do artista onde viveu como estudante nos E.U.A. em 1991, e “Seoul Home”, uma reprodução da sua casa de infância em Seul: um Hanok de estilo tradicional coreano. Como se pode inferir do título, o trabalho elucida e conjura o conceito em eterna expansão de espaço: uma casa de estilo tradicional coreano dentro de uma casa de estilo ocidental; uma casa de estilo ocidental dentro da Seoul Box, a Seoul Box dentro da filial de Seul do museu; a filial de Seul dentro de Seul. A entrada da filial de Seul do museu recebe os visitantes no seu longo vestíbulo em corredor e no espaço aberto da Seoul Box. Ao entrar no espaço da Seoul Box, o visitante depara-se de imediato com uma “casa” gigantesca que preenche o espaço e começa o seu percurso através de uma estrutura fantasmagórica feita de um tecido translúcido em tons de jade. A casa de três pisos de estilo ocidental flutua no exterior e, no centro a “Casa de Seul” flutua por dentro da anterior. Apesar do enorme tamanho e estrutura desta peça, a espessura fina, transparência e brilho do tecido cria uma luz e atmosfera leve para os visitantes. Apesar das relações pessoais que estas casas têm como “Casa de Do Ho Suh”, a monotonia

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dos tecidos tem como objetivo apagar a subjetividade que cada descrição detalhada das casas de Suh teria, para que os visitantes possam encontrar uma forma de se relacionar com os contextos simplificados. Para alguém que viaja para expor e trabalhar continuamente entre Londres, Nova Iorque e Seul, o conceito de “casa” de So Ho Suh, e as suas muitas curiosidades são ilimitadas. Os visitantes reexaminam a noção de casa de acordo com o contexto cultural e com o tempo em que se encontram. Para além da instalação de casas de tecido, o trabalho de Suh consiste em criar uma experiência para que as pessoas reflitam sobre o significado de casa e a sua relação com a sua identidade. n


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Artes

ensaio

Performatividade Difusa Objetos, instalações e animais domésticos

Sandra Vieira Jürgens|sandravieirajurgens@gmail.com

Na arte contemporânea, a instalação é por excelência o espaço da indiferenciação. A sua prática surge amplamente ancorada na produção de intervenções compósitas, formadas mediante um exercício de apropriação e justaposição de objetos comuns, vulgares, desprovidos de marcas expressivas, e mesmo de qualquer aura, cuja reunião se processa por seleção e absorve a experimentação dos dispositivos de apresentação expositiva. É sobretudo a partir das experiências críticas desenvolvidas desde a década de noventa por artistas que romperam definitivamente com a natureza disciplinar do objeto artístico e com os limites dos géneros, dos meios e dos suportes que a instalação se torna central na prática artística. Ao estabelecerem uma constante tensão entre o artístico e o não artístico, as suas experiências continuam o caminho iniciado por Marcel Duchamp, tal como o de muitos outros artistas que ao longo do século XX, inseridos nas vanguardas históricas como o dadaísmo ou noutros contextos do pósguerra, do concetualismo, do minimalismo, da arte povera ou da land art, produziram um questionamento em relação ao uso dos materiais artísticos tradicionais. John Cage, Joseph Beuys, Allan Kaprow, foram alguns dos criadores decisivos para a instituição desse legado. Nesse percurso os artistas trabalharam com materiais e metodologias que tradicionalmente não faziam parte das artes visuais, a pintura prescindiu da moldura, a escultura dispensou o plinto e a verticalidade foi preterida em função da horizontalidade, consagrando um movimento de expansão da obra para o espaço envolvente que elidiu a diferença entre produzir e expor arte. A fidelidade dos artistas e dos críticos à pureza da linguagem e aos seus meios técnicos, que ajudou a definir o modernismo, não deixa de ser hoje uma possibilidade entre muitas. As práticas artísticas contemporâneas não são definidas pelo compromisso com um meio e o uso exclusivo de certos materiais na produção de determinada obra. Os criadores podem usar livremente qualquer material e suporte, pintura, escultura, desenho e colagem, cerâmica, vídeo, fotografia, performance e constituir uma obra multifacetada ou constituir intervenções que podem integrar tudo, todo o tipo de objetos e coisas. Com efeito, se de acordo com a teoria modernista, a preservação da arte implicava o afastamento em relação ao que não tinha estatuto artístico e o trabalho se desenvolvia ao nível da conceção e realização de formas individualizadas, a orientação da arte contemporânea desenvolveu-se no sentido da disseminação, da expansão, da difusão, irregularidade e inexatidão de todas as fronteiras. Como avança o filósofo russo Boris Groys no texto de uma conferência apresentada na Whitechapel Gallery, em Londres, em 2008, intitulada “Politics of Installation”, a arte contemporânea pode ser entendida principalmente como uma prática de exposição1. Esta ideia aplica-se a uma diversidade de propostas artísticas, sobretudo desde a década de noventa, com intervenções de artistas como Robert Gober, Gary Hill, Barbara Kruger, Tony Oursler, Christine Borland, Mark Dion, Andrea Fraser, Renée Green, Olafur Eliasson, Ernesto Neto, Stan Douglas, Matthew Barney. Em França, nos anos noventa a estética relacional de Nicolas Bourriaud, e o termo de pós-produção, vieram dar

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enquadramento a práticas de diferentes artistas como Pierre Huyghe, Ângela Bulloch ou Liam Gillick e contribuíram para a sua inevitável afirmação no meio institucional. Coexistindo diferentes abordagens à instalação e aos seus dispositivos, esta constituiu-se muitas vezes como um meio perfeito para documentar o presente, expressar a cultura material e a economia do excesso que rege a sociedade ocidental. Incontornáveis na sua história são por exemplo as intervenções Line Out (1999) de Tomoko Takahashi, Apocalypso Place (2000) de Christopher Draeger e Break Down (2001) de Michael Landy, na qual, no período de duas semanas o artista inventariou, classificou e destruiu mais de cinco mil objetos pessoais e artísticos – classificados como “Artworks, Clothing, Electrical, Furniture, Kitchen, Leisure, Motor Vehicle, Perishable, Reading Material, Studio Materials” – numa instalação desenhada em linha de montagem num antigo armazém da cadeia C&A em Oxford Street, em Londres. A lógica de acumulação esteve também presente na instalação Waste Not de Song Dong no MoMA, em Nova Iorque, em 2009, onde tratando de aspetos da história presente e passada da China, reuniu todos os objetos acumulados em casa dos pais ao longo de 50 anos, assinalando simultaneamente o princípio “waste not”, um requisito de sobrevivência que norteou a história coletiva chinesa de algumas gerações, sobretudo durante o período da Revolução Cultural. Seguindo uma ideia cara às intervenções de Thomas Hirschhorn, a de acumulação, mas com um lado mais caótico e sobrecarregado, refira-se uma das suas últimas instalações, datada de 2013, na Gladstone Gallery, em que apresentou Concordia, Concordia. O tema era o naufrágio do navio cruzeiro Costa Concordia perto da ilha italiana de Giglio, na Toscana, em janeiro de 2012, mas essa imagem de um mundo invertido, torna-se aí expressão alargada, apocalítica, de um desastre contemporâneo, o nosso, e onde entre quantidades absurdas de objetos figurava O Capital de Karl Marx e a reprodução de A Jangada da Medusa de Théodore Géricault. A realidade, que mais parece ficção do que verdade, torna-se assim um material referencial para a leitura da contemporaneidade. Foi de resto nesse mesmo cruzeiro que Jean-Luc Godard gravou parte do seu filme-ensaio, Film Socialisme (2010), aproveitando, o cenário hiperconsumista e algumas das suas escalas, em Nápoles (Itália), Alexandria (Egito) e Argel (Argélia), para abordar a história, o presente e o futuro da Europa e do mundo contemporâneo. De uma forma geral, emergem estilos mais informais de instalação que procuram um sentido de maior autenticidade e materialidade nas práticas artísticas, com modelos de produção baseados num mundo contemporâneo pós-industrializado onde a realidade, tal como a informação, manifesta-se em excesso, desorganizada e com muitas interferências. Também de destacar é o trabalho de Jeremy Deller, que o artista gosta de designar de surrealismo social. Interessante é também o lado multifacetado do coletivo austríaco Gelatin, formado por Wolfgang Gantner, Ali Janka, Florian Reither, e Tobias Urban, que tem uma produção expansiva a diferentes formatos e referências, seja da pintura, escultura, da música, da arquitetura, da performance e da


Kunst halle Sankt Gallen

Instalação de Petrit Halilaj, na exposição Who does the earth belong to while painting the wind?!, na Kunst Halle Sankt Gallen, St. Gallen, 2012

chert, berlim

Petrit Halilaj, They are Lucky to be Bourgeois Hens II, 2009. Vista da instalação na exposição Back to the future (2009-2010), em Stacion - Contemporary Art Center, Pristina

Petrit Halilaj, The places I’m looking for, my dear, are utopian places, they are boring and I don’t know how to make them real, 2010. Vista da instalação, 6th Berlin Biennial, 2010

Mário martins

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dESIGN

ensaio

Objetividade e Indefinição O design enquanto agente simbólico

Carla Carbone|carlacarbone@yahoo.com

“Todo o design diz-nos algo”. E é nesse dizer que reside a maior parte da indefinição/ transmutação dos objetos. As mensagens dos objetos podem “encontrar-se escondidas sob a forma de identidades, gestos, metáforas”. O sofá de Mattia Bonetti sugere-nos essa amálgama de significados. Interessante o que nos apresenta George H. Marcus, quanto à mensagem dos objetos diz respeito: “Mesmo o que parecem ser mensagens gráficas diretas, podem vir imbuídas de relativismo, ambiguidade, ironia”, de indefinição. Reduzida a objetividade, a “clareza que era esperada no passado”, parece agora ter passado para um estado em que dos objetos já não se pode esperar outra coisa senão confusão de sentidos, indiferenciação, multiplicidade, sendo essa objetividade dificilmente levada em conta. Se no nosso caso, a matéria de estudo são os objetos, não deixa de ser importante salientar que até um simples “ símbolo pode ser multidimensional, dependendo do contexto” em que se encontra inserido (Marcus, 2002). “Os objetos podem dizer-nos mais do que apontam inicialmente”. Os objetos, ou bens simbólicos, como lhes chamava Pierre Bourdieu, sofrem transformações de ordem simbólica, mediante as “relações de produção, circulação e consumo”, e estão sujeitos a uma relação de dependência estrutural ditada pelo poder vigente, e consequentemente, pelas relações de produção intelectual e /ou/ popular. Os objetos podem ser recetáculos de status, incorporando sentidos que outrora representavam apenas “ferramentas impessoais e abstratas” (Marcus, 2002). É nesse conhecimento, de que os objetos podem incorporar personalizações, personificações, antropomorfismos, que alguns designers adicionam referências aos seus objetos, incutem valores como a ironia, duplos sentidos, tantas vezes embutidos de múltiplos significados e mensagens ambíguas. Um desses designers, claro está, e não poderia deixar de ser, é o senhor Philippe Starck (Marcus, 2002). Esta multiplicidade de sentidos merece ser um pouco mais refletida e pensada. Dizia-nos Bourdieu, na sua obra: “A Economia das Trocas Simbólicas”, que o sistema de circulação de bens simbólicos, nomeadamente o “sistema de industria cultural que obedece à lei da concorrência (para a conquista de mais mercado possível), o campo da industria cultural, com vista à produção de bens culturais destinados à não produção de bens culturais (o grande público), é mais ou menos independente do nível de instrução do recetor (uma vez que tal síntese tende a ajustar-se à demanda”. Este sistema baliza-se na estruturação da reprodução, temos como exemplo o próprio ensino que, para Bourdieu, mais não faz do que “conservar a cultura que tem o mandato de reproduzir”. É neste domínio que faz todo o sentido falar na expressão “violência simbólica”, termo criado por Bourdieu, ilustra o sistema de reprodução cultural que detém o monopólio das trocas simbólicas e legitima a contaminação dos padrões de cultura vigente.

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Coleção Wire-frame, Guido Ooms + Karin van Lieshout, Studio OOOMS


Embroidery Pop Sofa, Mattia Bonetti

Set, Stephanie Hornig

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News

marketing

Maria Rodrigues | mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo | cfigueiredo@revarqa.com

próprios, através da abertura de vários Centers. O primeiro deles será inaugurado no próximo mês de abril, em Calgary. Francisco Martínez-Cosentino, presidente da multinacional espanhola, agradeceu a todos os presentes o esforço realizado no ano pasado, tendo como objetivo continuar a crescer. Durante o seu discurso de inauguração, destacou também a relevância de ser atualmente um dos líderes mundiais do setor no que a logística, capacidade de serviço e atendimento a clientes diz respeito. Tudo isso graças, em grande medida, ao modelo dos Cosentino Centers, que são 24 nos Estados Unidos, e ao mais recente conceito de Cosentino City. www.cosentino.pt

da autoria de Isabel Ribeiro, e que está vigente no edifício da Praça dos Restauradores desde o passado dia 9 de Dezembro. www.rocalisboagallery.com www.wearewater.org

Fundação We Are Water em Colóquio Internacional na Faculdade de Letras de Lisboa

No Dia dos Namorados, a Barbot sugere que dê uma nova cor à sua relação e decore uma divisão da casa com tons românticos e sedutores. A gama Barbot Spicy oferece 19 cores inspiradas nas especiarias, intensas e plenas de emoção. O vermelho piri-piri, cor da paixão, confere um toque de criatividade e energia à decoração. Uma cor vibrante, ideal para pintar uma só parede e criar contrastes. A cor canela é quente e elegante, envolvendo os ambientes de sofisticação e requinte. Escolha a cor que melhor expressa as suas emoções e renove o mood da sua casa. E porque não tornar a pintura da casa num momento especial a dois? Pintar uma divisão da casa pode ser também um programa muito divertido e romântico. www.barbot.pt

Grupo Cosentino realiza maior convenção da sua história O Grupo Cosentino, empresa líder mundial na produção e distribuição de superfícies inovadoras para a arquitetura e o design, celebrou o encontro anual dos clientes mais importantes que a Cosentino mantém em solo norte-americano, provenientes sobretudo dos Estados Unidos e do Canadá. Com quase 300 participantes, 86 empresas fabricantes e 12 oradores de prestígio do setor, esta convenção foi a maior celebrada até ao momento pela Cosentino, nos Estados Unidos, e reflete a aposta da empresa neste mercado, que representou em 2013 mais de 55% das vendas consolidadas do Grupo. A convenção, decorreu em Puerto Vallarta (México), e teve como objetivo atualizar e definir as estratégias de negócio do Grupo Cosentino para esta área geográfica. Esta edição teve como protagonista o Canadá, país que conta com um maior número de participantes nestas jornadas, e onde a empresa espanhola se instalará brevemente, pela primeira vez com ativos

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A Fundação We Are Water, impulsionada pela empresa Roca, marcou presença num Colóquio Internacional da Faculdade de Letras de Lisboa, cujo tema foi “As culturas da água nas áreas saharianas e transmediterrâneas”, e que juntou diversas instituições nacionais e internacionais. O evento contou com a presença, entre outras pessoas, de Carlos Garriga, Project Manager da Fundação We Are Water e de Sua Excelência a Embaixadora da Argélia, Fatiha Selmane. A sessão de trabalho, encerrada pelo Professor Dias Farinha, contou com a apresentação no Roca Lisboa Gallery do catálogo oficial da exposição “Evocar a Sede para Nomear a Água – As Palavras da Água no Universo Touareg”,

Expresse as suas emoções através da cor

Oli apresenta placa de comando “oceania” “Oceania”, uma placa de comando de descarga de autoclismos interiores, que alia o design contemporâneo, a versatilidadee a tecnologia de vanguarda. As múltiplas possibilidades de acabamento da “Oceania” desafiam a criatividade na decoração dos banhos, permitindo transformar ou renovar o ambiente da divisão com um simples apontamento


da placa de comando, quando é o único elemento visível, para o utilizador, de uma instalação sanitária embutida. A “Oceania” possui acionamento mecânico ou pneumático realizado através de um único botão basculante para ativação da descarga - meia ou completa - do autoclismo. Está ainda equipada com um sistema de abertura em “asa de gaivota” que facilita a instalação, evita quedas e previne os danos nas atividades de manutenção. Está ainda equipada com um sistema de bloqueio que evita eventuais ações de vandalismo em instalações sanitárias de espaços públicos. www.oliveirairmao.com

Knauf Insulation reforça presença em Angola A Knauf Insulation acaba de reforçar a presença no mercado angolano através da participação em quatro centrais elétricas. Estas obras, localizadas em Quartéis, Benfica, Lobango e Huambo estão equipadas com Lã Mineral da Knauf Insulation, uma solução com elevada performance e que permite cumprir os requisitos da legislação sobre os limites da proteção contra ruído, humidade e segurança

em caso de incêndio. A obra consistiu na construção integral dos edifícios e de sistemas de ventilação dos motores, tendo em conta as elevadas temperaturas. Para as paredes e coberturas das envolventes acústicas de elevadas dimensões foi utilizada a Lã Mineral da Knauf Insulation com Ecose Technology. No caso dos atenuadores sonoros do sistema de ventilação, foi utilizada a Lã Mineral da Knauf Insulation DP5. Com responsabilidade de projetar, fabricar e acompanhar a instalação de envolventes acústicas a “Absorsor Indústria” em parceria com a “Metaloviana” selecionou os produtos da Knauf Insulation para fazer face à necessidade de preparar os edifícios com elevado isolamento sonoro. “Os quatro edifícios, albergam motores diesel (4.0 MW de potência) que funcionam em simultâneo. O edifício de Quartéis – Luanda tem 8, o de Benfica – Luanda 10, o de Lobango 11 e o de Huambo 4 motores e isto implica um bom isolamento acústico” explica Miguel Lopes da “Absorsor Indústria”. www.knaufinsulation.pt

Bomba de Calor com um novo grau de eficiência A Vulcano, enquanto marca portuguesa líder em soluções de água quente e solar térmico, procura oferecer tecnologias que contribuam para o máximo conforto dos utilizadores, através de recursos energéticos alternativos que minimizem o impacto ambiental. Neste sentido, a Vulcano acaba de lançar no mercado a nova Bomba de Calor AquaEco de 2ª geração. Trata-se de uma máquina termodinâmica que utiliza a energia acumulada no ar e, fazendo uso de um compressor, amplifica-a e transforma-a para produzir água quente. Desta forma, permite poupanças até 70% comparativamente a outros sistemas de aquecimento de água. Não produzindo gases de combustão, este novo produto destaca-se também pelo seu caráter ecológico, quando comparado com equipamentos que funcionam a gás ou a gasóleo. Com uma grande capacidade de armazenamento de água (270 litros) e um alto nível de eficiência (até 430%),

esta bomba de calor tem um coeficiente de desempenho (COP) de 4,3, ou seja, consome apenas 1 kW para fornecer mais de 4 kW para aquecimento de água. Paralelamente, caso seja instalada numa área interior, a Bomba de Calor AquaEco de 2ª geração irá garantir a renovação do ar e a sua desumidificação. www.vulcano.pt

Mais de 2.000 kW de sistemas fotovoltaicos de Minigeração em 2013 A Sotecnisol, grupo português que opera nos setores da construção, ambiente e energia, realizou 35 instalações de Minigeração Fotovoltaica, em 2013, que totalizaram mais 2.000 kW de potência instalada. Através da sua unidade Sotecnisol Energia, o grupo português conseguiu crescer neste segmento de mercado num ano particularmente difícil, mas onde este tipo de soluções continuam a ser estratégicas para as empresas. Para Filipe

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News

marketing

TEKA iQuick Boiling Ebulição instantânea A Teka, marca líder de eletrodomésticos em Portugal, desenvolveu um sistema exclusivo que promete revolucionar a forma de cozinhar: o iQuick Boiling®. Integrado no conceito iCooking, o iQuick Boiling, da Teka, permite que a ebulição se inicie à máxima potência, logo que seja detetado o recipiente, informando ainda quando deve introduzir os alimentos através de um sinal sonoro.Em simultâneo, reduz a potência automaticamente sem necessidade de o fazer manualmente, mantendo a ebulição constante, mas controlando o consumo de energia. Design, funcionalidade e eficiência energética tornam iQuick Boiling no arceiro ideal para os seus cozinhados. www.teka.pt

Bello Morais, Diretor da Sotecnisol Energia, «a redução do preço dos equipamentos tem tido um impacto favorável nos custos de investimento, permitindo que as rentabilidades se mantenham estáveis para unidades de minigeração instaladas. Trata-se de um investimento racional e pertinente num cenário de aumento de custos energéticos onde, não só é possível produzir para autoconsumo da empresa, como complementar o negócio tradicional com um investimento de elevado retorno e baixo risco”. Em Portugal as soluções de Minigeração continuam a ser procuradas por empresas. Entre as principais vantagens da oferta da Sotecnisol Energia, destacamse a simulação dinâmica no cálculo de desempenho do sistema; a compensação num cenário de performance inferior à estimada; o acompanhamento constante da produção do sistema; a utilização dos melhores equipamentos e práticas do mercado; a contratualização sólida e com garantias de longo prazo. www.sotecnisol.pt

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Lisbon Premium premiado pela Technal Localizado no centro de Lisboa, o Lisbon Premium é um edifício de autor construído em 1962, em betão armado, que foi recentemente transformado em habitações de luxo e de comércio. Este edifício alfacinha, que possui uma certificação energética A+, constitui um excelente exemplo de como um projeto de reabilitação urbana é capaz de transformar um edifício antigo sobriamente funcional num edifício de luxo dotado dos mais elevados padrões de eficiência energética, contribuindo desta forma para a redução do consumo de energia. O projeto de reabilitação é da autoria do atelier Marisa Lima, Estudos e Projectos de Arquitectura, e foi recentemente premiado com uma menção, na categoria Reabilitar, no Palmarés Architecture Aluminium Technal,

que contou com mais de 150 projectos de arquitetura ibéricos. O edifício Lisbon Premium é constituído por treze habitações com tipologias entre os T1 e os T4 e oferece níveis de conforto interior acima da média em habitações de luxo localizadas em centros urbanos, mesmo quando comparado com construções novas. Assim, as janelas de folha oculta Unicity e as janelas de correr Topaze, ambas com design Technal, combinam-se com os pavimentos revestidos a madeira maciça de sucupira, permitindo a criação de uma atmosfera intimista e requintada banhada pela luz natural durante todo o dia. A aposta em acabamentos de qualidade é complementada com um excelente nível de insonorização e de climatização, bem como por sistemas de domótica manuseáveis por controlo remoto integral. www.technal.pt




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www.1825.in


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