revista arqa #112

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Ruínas habitadas Ano XIV – março|abril 2014 E11,00 (continente) – 2 600 Kwanzas (Angola)

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Ruínas Habitadas

Peter Zumthor BIG Lacaton & Vassal

O&O Baukunst Witheford Watson Mann Aires Mateus RAAAF Atelier de Lyon reMIX Studio Yves Marchand + Romain Meffre Armin Linke Elian Stefa + Gyler Mydyti Daniel Barter Thomas Jorion Alexander Gronsky Inês d’Orey CadelasVerdes Iwan Baan Pedro Bandeira Álvaro Domingues Inês Moreira Punkto

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ISSN: 1647- 077X

mar.|abr. 2014 | E11,00


Indoors

Banhos e acessórios

Coleção de Banho Cosentino


Indoors

Banhos e acessórios Geberit

Um autoclismo inovador: o módulo sanitário Geberit Monolith pode ser instalado em vários tipos de sanita no chão (BTW) ou suspensas. Os inovadores e premiados módulos sanitários Geberit Monolith para sanitas, bidés e lavatórios podem ser ligados à drenagem e à alimentação de água existente sem modificações estruturais, de forma fácil e rápida, sem obras e sem entulhos, ideais para renovação. Os módulos sanitários Geberit Monolith são fabricados com materiais de elevada qualidade, como o vidro temperado e o alumínio, podendo o utilizador optar por diferentes tonalidades de acabamentos elegantes, como sejam preto, branco, verde menta ou umbra. Novidade a partir de Abril 2014: Módulo sanitário Geberit Monolith Plus para sanitas no chão (BTW) ou suspensas, com características adicionais, tais como a extração de odores diretamente da sanita, uma luz de presença discreta para orientação e botões de contacto ligeiro eletrónicos para a descarga automática.

Geberit Tecnologia Sanitária, S.A. Urb. Pólo Tecnológico à Estr. do Paço do Lumiar, Lt. 6 - 2º A, 1600-542 LISBOA Telf. 217 815 100 Fax: 217 930 738 E-mail: marketing.pt@geberit.com

Ikea

Há muitas coisas que nos fazem começar bem o dia. Uma casa de banho bem arrumada e organizada é uma delas. Quer tenha a casa de banho mais pequena do mundo ou um autêntico SPA em casa, na IKEA encontra uma vasta gama de móveis, lavatórios e acessórios que tornam este espaço mais funcional. Os móveis de casa de banho GODMORGON IKEA, apresentam um design moderno e discreto, interiores funcionais e módulos de parede, que ajudam a transformar o caos num espaço organizado. Uma ótima opção, se procura funcionalidade, qualidade e um bom design. Encontre mais momentos de inspiração numa das lojas.

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IKEA Afragide Zona Industrial de Alfragide Estrada Nacional 117 2614-520 Amadora IKEA Loures EN 250 Rua 28 de Setembro Frielas 2660-001 Loures IKEA Matosinhos Av. Oscar Lopes 4450-745 Matosinhos Call center: 707 20 50 50 www.ikea.pt


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Zona Industrial de Aveiro, Apartado 3002 3801-101 Aveiro Tel. + 351 234 303 030 Fax. +351 234 303 031 email: lovetiles@lovetiles.com www.lovetiles.com

A coleção Loft foi pensada para um conceito urbano e moderno. Foi buscar inspiração às estruturas de betão armado. O efeito conseguido foi executado através da utilização de uma ligeira estrutura inspirada no antigo sistema de conformação de betão – cofragem. Este efeito aliado às cores minimais selecionadas – white, light grey, grey e tortora – permite a criação de um produto com um aspeto matérico e real. A utilização desta coleção é ideal para espaços públicos, com um conceito arquitetónico moderno, e/ou espaços residenciais sofisticados. As suas características permitem que seja utilizada em paredes interiores e/ou em zonas que não esteja diretamente sujeita às intempéries.

LVLG

Zona Industrial de Gemieira, Pav. 1 4990-645 Ponte de Lima Tel: +351 258 938 388 comercial@lvlg.pt www.lvlg.pt

Mover-se para uma zona de secagem de mãos, com as mãos húmidas implica geralmente pingos de água no chão, o que pode criar problemas no sanitário. Com o secador de mãos Dyson Airblade Tap, não pinga água no chão já que não é necessário mover-se do lavatório com as mãos húmidas. A lavagem e secagem de mãos são feitas no próprio lavatório. Com este novo modelo da Dyson Airblade, mantemos as características do já conhecido Dyson Airblade Original: rápido, higiénico, baixo custo de funcionamento, baixo impacto no ambiente e garantia de 5 anos, entre outras vantagens. Estaremos presentes na TEKTÓNICA. Visite-nos e venha testar os nossos equipamentos. Pavilhão 1.

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Banhos e acessórios Margres

Chousa Nova 3830-133 Ílhavo – Portugal Tel. +351 234329700 Fax. +351 234329702 margres@margres.com www.margres.com

Viver num contexto metropolitano significa interpretar a diversidade, viver a inovação, estar em contínuo movimento, onde a evolução e a mudança estão na ordem do dia. A Margres interpreta os principais traços do estilo urbano e da arquitetura contemporânea, assumindo os conceitos de liberdade e irreverência. Desta constante pesquisa nasce Subway, propondo um estilo moderno e de vanguarda, um produto inovador com um design irreverente, ideal para os espaços amplos, onde os grandes formatos são os principais protagonistas, tanto em pavimento como em revestimento. Com inspiração, tanto no acabamento matérico e natural do betão, como na suavidade das superfícies em micro-cimento, Subway assimila de forma arrojada as linhas dos pavimentos e revestimentos típicos do moderno habitat urbano.

Silestone

Cosentino Porto Tel. +351 229 270 097 info-porto@cosentinogroup.net Cosentino Lisboa Tel. +351 219 666 221 info-lisboa@cosentinogroup.net

A nova base de duche “Duscholux by Silestone“apresentada pelo Grupo Cosentino e pela Duscholux Ibérica, desenhada pelo departamento I+D da Duscholux, é feita em Silestone, a marca líder em superfícies de quartzo para o mundo da arquitetura e do design de interiores, composto por mais de 90% de quartzo natural, um material que possui uma dureza e resistência extraordinárias, entre outras características físico-mecânicas, como a sua elevada resistência às manchas e uma baixa absorção de líquidos, aliadas a uma beleza singular. Silestone possui também uma exclusiva propriedade bacteriostática que reforça a higiene do produto em ambientes de casa de banho e cozinha.

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II N NF FO O Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I -– Nº 2013 Nº 310– –janeiro|fevereiro março|abril 2014

Boletim da Ordem dos Arquitectos de Angola, Conselho Nacional – Ano I - Nº 3 – janeiro|fevereiro 2013

Agenda

9 DE FEVEREIRO 2013 Agenda Clube de Golfe

OAA – A Terceira dos Arquitectos – 9 DE FEVEREIRO 2013 Assembleia Geral da Inscrições Abertas OAA Terceira OAA –– A Ados Terceira Ordem Arquitectos Foi feito o clic parada as Assembleia Geral Assembleia Geralevento da de Angola. Neste

secções deArquitectos treinamento do Ordem dos Ordem ser dos Arquitectos deverá feito um balanço Neste evento de anunciado de Golfe de Angola. Angola. Torneio do mandato que agora deverá ser feito um balanço da Ordem dos Arquitectos termina. do mandato que agora de Angola, estão abertas termina.

as inscrições para quem pretende aperfeiçoar e fazer boa figura no referido torneio.

CONCURBA no ar Está no ar aquilo que muitos chamam o marco histórico da arquitectura em Angola, o anunciado Concurso Urbano de Arquitectura, cujo tema é o Largo dos Namorados, situado no Sumbe, já está no ar, 2 DE MARCO MARCOinscrições 2013 com muitas e 2 DE 2013 Terceiras Eleições muitos são os arquitectos Terceiras Eleições Gerais da Ordem dos que pretendem entrar Arquitectos de Angola. na história como os Nestas Nestas eleições eleições deverá deverá ser ser primeiros vencedores do eleito eleito oo próximo próximo Presidente Presidente CONCURBA. Participe do do Conselho Conselho Nacional, Nacional, em em também e veja todos substituição do arq. substituição do arq. Antonio Antonio Gameiro, bem como do os detalhes em Gameiro, bem como do Presidente do Conselho www.arquitectos-angola.org! Presidente do Conselho provincial de Luanda, provincial de Luanda, o arq. Helvecio da Cunha. o arq. Helvecio da Cunha. A convocatória para os dois A convocatória para eventos foi feita a 17os dedois eventos foi feita a 17 de Janeiro, pelo atual Presidente Janeiro, pelo atual Presidente da Ordem.

da Ordem.

CC

Eventos realizados Opinião

Eventos realizados POLÍTICAS PÚBLICAS DE ARQUITECTURA

O CASO DE ANGOLA Por: Celestino Chitonho, Arquiteto, Consultor

Uma política pública é um instrumento normativo vocacionado na resolução de questões que afectam todo um vasto território, toda uma população, independente do campo científico ou de actuação onde esteja direccionada, ela visa o alcanceDE do maior número de pessoas e EM a maior REALIZOU-SE 8 A 12 DE DEZEMBRO, ABIDJAN, COSTA DO MARFIM, a 39ª reunião do Conselho abrangência do território, visando o bem comum. da União Africana de Arquitectos (AUA) e o encontro de Desenvolvimento Profissional (CPD). Este REALIZOU-SE DE 8 A 12 DE DEZEMBRO, EM ABIDJAN, COSTA DO MARFIM, a 39ªContínuo reunião do Conselho Comofoi exemplo, se necessitamos um país inclusivo, as último, uma organização conjunta entre a AUA e a UIA (União Internacional de Arquitectos). Na reunião da União Africana de Arquitectos (AUA) e o encontro de Desenvolvimento Profissional Contínuo (CPD). Este políticas públicas nos mais variados campos de actuação do Conselho daorganização AUA foram aprovadas varias resoluções a organização interna da União. último, foi uma conjunta entre a AUA e a UIAconcernentes (União Internacional de Arquitectos). Na reunião devem estar direccionadas neste sentido. Pois, em muitos do da CPD, AUA foram varias resoluções concernentes a organização interna da União. No Conselho encontro do foramaprovadas feitas apresentações de trabalhos desenvolvidos por grupos de arquitetos casos, para que tenham sucesso elas devem ser multiNo encontro em do CPD, foram feitas apresentações de sobre trabalhos desenvolvidos porde grupos arquitetos • ivoariences, parceria com o governo de Abidjan, requalificação urbana zonasdedegradadas. sectoriais. Assiste-se pelo mundo fora a uma dissonância ivoariences, em parceria com o governo de Abidjan, sobre requalificação urbana de zonas degradadas. • entre aquilo que dizem os governantes e o rumo das políticas públicas praticadas e traçadas pelos respectivos Opinião nascença. É necessário de modo muito sério propor governos. Opinião políticas públicas de mobilidade e inclusão, tanto em No caso específico da arquitectura é em primeiro lugar 90, verificou-se como um período de estagnação FALAR DEa LUANDA é também falar dos edifícios, parques,como bem como nos transportes públicos. importante sua definição e o campo de actuação daquilo 90, verificou-se um período de estagnação FALAR DE LUANDA é também falar dos no crescimento da cidade de “betão”, mas também musseques, assim como os “Slums” em Londres Algumas cidades o caso de Luanda, já se a que chamamos políticas de arquitectura, no crescimento dacomo cidade de “betão”, masque também musseques, assim como públicas os “Slums” em Londresquem foi nesse mesmo período que se registou o fenómeno ou faz, em Nova Novacomo Iorque, os “bidonvilles” em Paris, tornou um caso paradigmático nose que concerne ao trânsito, as o território em que ela insere. Pois, foi nesse mesmo período que registou o fenómeno ou em bem Iorque, os “bidonvilles” emseParis, de migração migração do interior interiorem para a capital capital (cidade de de as “favelas” “favelas” no rioproblemas de Janeiro, Janeiro, os “bustees” “bustees” em motivando o surgimento massa de motociclos, cuja cada territóriono vive específicos e asem políticas de do para a (cidade as rio de os circulação é desordenada, inclusive invadindo passeios Luanda). O “Boom” das construções desordenadas públicas devem ser dinâmicas. Calcutá, as “villas de misérias” em Buenos Aires, Luanda). O “Boom” das construções desordenadas Calcutá, as “villas de misérias” em Buenos Aires, ecomeçava calçadas, provocando um mal descontrolada estar aos automobilistas vive neste momento explosão no seu começava a uma uma velocidade velocidade descontrolada e, hoje, hoje, ouAngola os “bairros “bairros de caniços” caniços” emuma Lourenço Marques, a e, ou os de em Lourenço Marques, bem comooaos transeuntes. São construídas todos os dias processo de reconstrução, o queda lheevolução valeu o apelido espelha mosaico e a diversidade da nova estrutura pois espelham as assimetrias social.de novas estradas e ainda não existe a ciclo-via. canteiro de obras. Ora, se esta explosão na economia, urbana que Luanda apresenta. Com os seus 437 anos de existência, Luanda Com o advento daplanos paz e ode crescimento económico, na construção, na arquitectura e em campos do Existem alguns urbanização que estão de hoje é o palco das atenções deoutros arquitetos, veículos pesados são chamados a levar mercadorias saber, não encontrar políticas públicas definidas e bem a sociólogos a ser ser implementados implementados para para aliviar aliviar aa pressão pressão urbana urbana sociólogos ee antropólogos, antropólogos, pois pois apresenta apresenta diversas para as mais distintas localidades de Angola, estruturadas, vaiúnicas assistir-se ase um crescimento que não que a cidade vive. Ainda bem que existem estes características que a cidade vive. Ainda bem que existem estes características únicas onde onde se verificam verificam novas novas a sua coabitação na mesma faixa de rodagem com será necessariamente, desenvolvimento. É necessário planos mas, querendo ser pessimista, perguntodinâmicas sociais, culturais e Se planos ligeiros mas, não não ser pessimista, dinâmicas sociais, culturaisnão e económicas. económicas. Se veículos temquerendo ajudado no incremento de perguntoacidentes ter-se noção que enriquecer é desenvolver. -me se uma cidade se faz com planos “a retalho” até 1940 a expansão da cidade era lenta, foi no senas uma cidade se comestradas planos “a retalho” atéA 1940 a expansão da cidade era lenta, foi no de e -me danos estradas. Nasfaz novas não existe ocupação dos espaços nas cidades, a exemplo como tenho verificado por exemplo com o plano do período da 2º guerra mundial onde se verificou o tenho verificado por exemplo com pesados. o plano do período ou da seja 2º guerra mundialde onde se verificou o a como faixa de rodagem especifica para veículos Luanda, a substituição vivendas feitas para Cazenga, Sambizanga, Zango, entre outros, ou se maior crescimento da cidade com uma arquitetura Cazenga, Sambizanga, Zango, entreháoutros, ou se maior crescimento dahabitantes cidade com arquitetura As chamadas telhas de fibrocimento, muito terão um máximo de 8 a 12 por uma prédios com maior se deve pensar a cidade como um todo, criando um fortemente caracterizada pelo movimento moderno, sido proibidas em vários países, devido ao facto de serem se deve pensar a cidade como um todo, criando um densidade de ocupação, a ocupação de espaço livres e, fortemente caracterizada pelo movimento moderno, plano estratégico de crescimento sustentável, onde a arquitetura “Corbusiana”. Esse movimento chegou cancerígenas, mas ainda se assiste ao uso e à fabricação em alguns casos, espaços verdes também parachegou dar lugar plano estratégico de crescimento sustentável, onde a arquitetura “Corbusiana”. Esse movimento quem sai a ganhar é a cidade e os seus utilizadores. a Luanda pelas mãos de arquitetos talentosos deste material provocando problemas como sabe a já deveria serde motivo de rígidas normas quem sai a ganhar a cidade osexercício seus se utilizadores. a prédios, Luanda pelas mãos arquitetos talentosos Na verdade, pensaréLuanda ée um muito da época como Vasco Vieira da Costa, Castro de saúde pública. e políticas públicas bem estruturadas. Aqui nota-se Na verdade, pensar Luanda um exercíciopela muito da época como Vasco Vieira Costa, Castro complexo e ao mesmo tempoé apaixonante sua Rodrigues, Fernão Simões deda Carvalho entre outros. Estes são apenas alguns poucos exemplos para se ter crescimento, mas não necessariamente desenvolvimento. complexo e cultural ao mesmo tempo apaixonante pela sua Rodrigues, Fernão Simões deoCarvalho entre diversidade e social e nunca terá o consenso Foi um período notável, onde urbanismo e aoutros. própria noção da importância das políticas públicas de arquitectura Com o fim da guerra, é necessário ter-se um registo diversidade cultural e social e nunca terá o consenso Foi um período onde e a própria de todos os que pensam nela. • arquitetura aindanotável, hoje têm algoo aurbanismo dizer à cidade. para que um determinado território caminhe para o rígido do número de pessoas com mobilidade reduzida. Jaime Mesquita, Arquiteto O períodoainda entrehoje finais dosalgo anos 70 atéà fins dos anos de todos os que pensam nela. • arquitetura têm a dizer cidade. desenvolvimento sustentável. No caso de Angola urge. Tanto os provocados pela guerra bem como os de

‘Delirious in in Luanda’ Luanda’ ‘Delirious

O período entre finais dos anos 70 até fins dos anos

Jaime Mesquita, Arquiteto

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Legislação

Eventos Direcção do Conselho Nacional da Ordem dos Arquitectos, reúne com Governador de Benguela No âmbito do II Fórum Internacional de Arquitectura - Lobito 2014, realizou-se no dia 15 de Março do ano corrente, um encontro de trabalho entre a Direcção do Conselho Nacional da Ordem dos Arquitectos de Angola, nomeadamente Arq. Victor Leonel (Presidente), Arq. Manuel Elias de Carvalho (Vice Presidente) e Arq. André Matos e o Governador da Província de Benguela, Eng.º Isaac dos Anjos, visando questões preliminares e inerentes ao evento. De notar a total receptividade da Província em albergar o evento e o facto de no mesmo estar previsto o lançamento do II Concurso Urbano de Arquitectura - CONCURBA. O Fórum será realizado

de 8 a 12 de Maio de 2014 e conta com a participação dos arquitectos da União Africana de Arquitectos - UAA.

Está no ar o sítio da Ordem dos Arquitectos de Angola A Ordem dos Arquitectos de Angola já tem disponível on-line e de modo interactivo o seu site www.arquitectos-angola.org. O mesmo será uma plataforma de interacção entre os associados e a instituição, bem como com todos aqueles que necessitem de informações sobre os arquitectos e a arquitectura de um modo geral. Está também disponível para entidades e arquitectos que pretendam dar a conhecer os seus serviços e produtos, espaços para publicidade.Este boletim “INFO” também está disponível nesta plataforma em formato digital.

Cenas do Quotidiano

ARTIGO 40.º (Modos de exercício da profissão) 1. A profissão de arquitecto ou de urbanista pode ser exercida; a) Por conta própria, como profissional independente ou empresário em nome Individual; b) Como sócio, administrador ou gerente de uma sociedade de profissionais com actividade no domínio da arquitectura ou do urbanismo; c) Como funcionário público ou trabalhador contratado pela administração central ou local; d) Como assalariado de outro arquitecto, urbanista, ou de outros profissionais. ARTIGO 41.º (Direitos perante a Ordem dos Arquitectos) Os arquitectos e o urbanista têm direito de requerer a intervenção da Ordem dos Arquitectos para defesa dos seus direitos ou dos legítimos interesses da classe, nos termos previstos neste estatuto; SECÇÃO II Honorários ARTIGO 42.º (Honorários) 1. Na fixação dos honorários deve o arquitecto ou o urbanista proceder com moderação, atendendo ao tempo gasto a complexidade do trabalho, a importância do serviço prestado e aos resultados. 2. Os honorários devem ser saldados em dinheiro. ARTIGO 43.º (Enumeração das incompatiblidades) 1. O exercício da profissão de arquitecto ou de urbanista é incompativel com as funções de actividade seguintes: • Titulares ou membros do Governo ou administração local ou do respectivos gabinetes; • Director nacional e director nacional adjunto ou titular de cargo cujo estatuto seja aquele equiparado em razão da natureza das funções;

A Ponte Molhada Construída na fronteira entre Benfica e Talatona, em Luanda, a Ponte Molhada tem sido um dos exemplos mais vivos de como anda o vocabulário popular, no que concerne as estruturas ligadas à construção civil e à arquitectura. Quando chove é proibida e desaconselhável a passagem. Sob pena das viaturas e transeuntes serem arrastados pelas enxurradas. Como pode esta estrutura ser chamada ponte? e como uma ponte pode ser molhada?

Gestor público Quaisquer outros que por lei especial sejam considerados incompatíveis com o exercício da profissão de arquitecto; 2. O regulamento de deontologia pode especificar incompatibilidades entre modo de exercício da profissão de arquitecto.

Ordem dos Arquitectos de Angola

Rua Aníbal de Melo, nº 109, 1º andar Vila Alice, Luanda Tel. +244 926 975 502 geral@arquitectos-angola.org

Projecto Nova Vida Rua 50 • edifício 106, 3º andar, apto 3.2 • Luanda - Angola Telf. +244 923 609 573 • +244 921 548 455 pranchetalda@hotmail.com


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Propriedade:

R. Alfredo Guisado, 39 – 1500-030 LISBOA Telefone: 217 703 000 (geral) 217 783 504/05 (diretos) Fax: 217 742 030 futurmagazine@gmail.com

ÍNDICE

matérias Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores

Diretor Geral Edmundo Tenreiro etenreiro@revarqa.com

arq u itet u ra

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Foto: RAAAF

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RAAAF | Atelier de Lyon, Bonker 599, 2010

arte

In/Outdoors

www.revarqa.com – futurmagazine@gmail.com

Banho e acessórios

Angola

Diretor Luís Santiago Baptista lsbaptista@revarqa.com Redação Paula Melâneo (Coordenação) apmelaneo@gmail.com Baptista-Bastos (Opinião), Bárbara Coutinho (Design), Carla Carbone (Design), David Santos (Artes), Margarida Ventosa (Geração Z) Mário Chaves (Livros), Nádia R. Bento (Tradução), Sandra Vieira Jürgens (Artes) Paginação e Imagem Nuno Silva Bruno Marcelino (desenhos)

Info – Boletim Informativo da Ordem dos Arquitetos de Angola (0A) Gtrucs – Dossier

News Atualidades e agenda

Editorial Luís Santiago Baptista – Ruínas Habitadas

Portfolio Ruínas Habitadas – Yves Marchand e Romain Meffre, Armin Linke, Elian Stefa e Gyler Mydyti, Daniel Barter, Thomas Jorion, Alexander Gronsky, Inês d’Orey, CadelasVerdes, Iwan Baan

Edição Digital Ricardo Cardoso Comunicação e Marketing Maria Rodrigues (Diretora) – mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo – cfigueiredo@revarqa.com Publicidade – PORTUGAL Tel. +351 217 783 504 Fax +351 217 742 030 futurmagazine@gmail.com cfigueiredo@revarqa.com ANGOLA Parceria Futurmagazine – NAMK, Lda. Rua Major Marcelino Dias, nº 7 - 1º andar-D Bairro do Maculusso, Distrito da Ingombota, Província de Luanda namk-limitada@hotmail.com Tel. +244 222 013 232

Artes Sandra Vieira Jürgens – Usos e recursos da arte contemporânea

Design Carla Carbone – Julian Mayor: Os designers arquitetos

Fotografia Fernando Guerra – FG+SG: Museu de História de Ningbo, China

Dossier Punkto FreshLatino2

Livros

Periodicidade Bimestral ISSN: 1647- 077X ICS: 124055 Depósito Legal: 151722/00

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Álvaro Domingues – Ruinofilia: Percurso crítico pelas imagens das ruínas portuguesas Inês Moreira – Após a Fábrica: Novas abordagens à ruína e fragmentos pós-industriais

Tiragem 10.000 Exemplares

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Pedro Bandeira – Relocalização da Ponte D. Maria Pia

Crítica

Distribuição Logista Portugal Área Ind. Passil, lt 1-A, Palhavã 2894-002 Alcochete

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Sebastião Almeida e Mácia Saldanha – Ruína como resistência

Impressão Jorge Fernandes, Lda. Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 2825-259 Charneca Caparica

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Projetos Biografias Peter Zumthor – Museu de Arte Kolumba, Colónia; BIG – Museu Marítimo Nacional Dinamarquês, Helsingør; Lacaton & Vassal – FRAC Região Norte, Dunquerque; O&O Baukunst – Arquivo do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, Duisburg; Witherford Watson Mann – Casa Astley Castle, Warwickshire; Aires Mateus – Casa em Alcobaça; RAAAF | Atelier de Lyon – Bunker 599; reMIX Studio – Instalação Paizi 38, Pequim. Itinerâncias Investigações

Publicidade – BRASIL Jorge S. Silva Tel. +55 48 3237 - 9201 Cel. +55 48 9967 - 4699 jssilva@matrix.com.br

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Mário Chaves

News Maketing Materiais fornecidos pelas marcas

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news

atualidades

Aires Mateus vence Faculdade de Arquitetura de Tournai

Exposição Tanto Mar Portugueses Fora de Portugal Esta é uma exposição com curadoria do ateliermob e que junta 33 projetos de portugueses, realizados no estrangeiro, que se agrupam segundo as características do seu contexto de intervenção: Emergência, Escassez, Urbano, Informal e Formal. Os projetos são realizados em países tão diferentes como Moçambique, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, França, Índia, Quénia, Somália, Indonésia, México, Burkina Faso, Holanda, Cabo Verde, Reino Unido, Peru, Lesoto, Espanha, Guiné-Bissau, Namíbia, E.U.A. e Chile. A exposição incide sobre o papel da arquitetura no mundo. Segundo os organizadores “as opiniões dividemse em três grandes grupos: os que entendem que o papel social do arquiteto é inerente à profissão – para quem a ideia de arquitetura social é uma redundância –; os que entendem que deverá ser visto como uma especialização; e os que identificam no carácter social da intervenção uma dinâmica exterior ao campo disciplinar da simples criação do espaço ou restritiva da liberdade artística, colocando muitas destas intervenções fora do espetro da arquitetura.” Os participantes contam com Alina Jerónimo e Paulo Carneiro; André Costa; Cristina Salvador e Fernando Bagulho; Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade; Filipe Balestra; Joana Cameira; João Amaral; Manuela Tamborino e Miguel Saraiva; João Bentes; João Caeiro; João Sobral; José Castro Caldas; José Forjaz; José Osório Lobato; Lara Plácido; Mariana Pestana; Nuno André Patrício e Linda Cerdeira; Paulo Afonso; Paulo Moreira; Pedro Clarke; Pedro Leitão; Pedro Novo, André Novo e Luís Leal; Pedro Salavessa; Rigo 23; Samuel Carvalho; Vitório Leite. A exposição está patente na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém em Lisboa, de 21 de Março a 20 de Julho. www.ccb.pt

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O atelier de Francisco e Manuel Aires Mateus foi recentemente anunciado vencedor do concurso Internacional para a nova Faculdade de Arquitetura de Tournai, na Bélgica. Foi selecionado entre os 5 projetos finalistas, de 20 propostas iniciais, dos quais constavam também Lacaton & Vassal e Robbrecht en Daem. O projeto contempla alguns edifícios existentes e um novo edifício, num total de 7.000m², para 600 alunos. Esta cidade é uma das mais antigas da Bélgica onde diversos edifícios são património mundial da Unesco. O concurso, realizado pela Faculdade Católica de Louvain, previa novas instalações num quarteirão no centro histórico. Segundo os arquitetos “Num quarteirão semiconstruído, um novo edifício será fundado, interrelacionando as diferentes funções dos edifícios contíguos. O desenho evoca a iconografia existente no património arquitetónico de Tournai. A sua geometria origina várias praças urbanas e produz um grande espaço interior que albergará todas as atividades académicas, bem como estabelece uma profunda colaboração com a comunidade.” A construção deverá começar ainda em 2014, terminando a primeira fase em 2015 e a seguinte em 2016. www.airesmateus.com

Um Jornal para a participação portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza 2014 Foi recentemente anunciado que a participação portuguesa na próxima Bienal de Arquitetura de Veneza (7 de junho a 23 de novembro 2014) vai ter a forma de um Jornal. Sem espaço físico para expôr durante a Bienal, o projeto comissariado por Pedro Campos Costa apresenta o Jornal HOMELAND | News from Portugal. Referido como “um veículo de informação de conteúdos originais, especificamente produzidos para o projeto da Representação Portuguesa, por uma equipa pluridisciplinar que reúne aproximadamente 90 profissionais das áreas da arquitetura, da economia, sociologia, geografia, história, antropologia, fotografia, do direito e do design. Todos participam com a sua reflexão crítica sobre a habitação, sob diversas perspetivas, tendo como matéria-prima o campo de excelência da experimentação arquitetónica, elemento determinante e primário da construção urbana e territorial, e enquanto reflexo social e cultural de quem a habita.” São duas as áreas de reflexão centrais: Reflexão Cronológica – avalia a evolução da habitação em Portugal – e Reflexão Propositiva – sobre 6 temáticas tipológicas, com 6 projetos urbanísticos que decorrerão ao longo dos 6 meses de duração da Bienal, protagonizados por 6 grupos de arquitetos focados em 6 cidades portuguesas (Porto, Matosinhos, Loures, Lisboa, Setúbal e Évora) sobre 6 tipologias habitacionais – temporária, informal, unifamiliar, coletiva, rural e de reabilitação. Esta é a resposta portuguesa ao repto lançado pelo comissário geral da Bienal Rem Koolhaas com o tema Fundamentals. www.homeland.pt | www.labiennale.org


Foto: RAAAF

Ruínas Habitadas

RAAAF | Atelier de Lyon Bonker 599, 2010 março|abril 2014

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EDITORIAL

temático

Ruínas Habitadas

Atravessamentos entre a contemplação poética e a intervenção crítica

Luís Santiago Baptista|lsbaptista@revarqa.com

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“As imagens em movimento são as ruínas da modernidade”,1 escreveu Giuliana Bruno. Esta é uma afirmação enigmática que abre pistas para percebermos a presença da ruína no imaginário contemporâneo. O nosso quotidiano está povoado de ruínas românticas ou modernas, históricas ou industriais, verdadeiras ou falsas, reais ou representadas. Num momento em que as imagens de ruínas circulam com uma intensidade crescente nos mais diversos suportes físicos e virtuais, importa interrogar o seu fundamento e impacto. De que forma estamos implicados nesta vaga do que Álvaro Domingues denomina de “ruinofilia”? Até que ponto somos atingidos pelo fenómeno mediático do ruin porn? A recentíssima exposição Ruin Lust no Museu Victoria & Albert, cujo titulo o curador Brian Dillon recuperou de um texto de 1953 de Rose Macaulay, que lidava com o cenário de destruição das cidades europeias da II Guerra Mundial, revela a perplexidade no tratamento do tema: “As ruínas ainda estão de pé; mas por que se manifestam? Quanto mais pensamos acerca da destruição e decadência, quanto mais de perto olhamos para esta ou aquela massa em desagregação de pedra, betão ou metal, quanto mais exploramos a própria ideia de ruína em si mesma, menos parece esta categoria conseguir suster-se como um todo.”2 Desde os alvores da modernidade, a ruína tornou-se um lugar de sublimação das tensões do processo histórico, na sua negociação problemática com os horizontes unificados do passado, presente e futuro. A melancolia de um presente onde tudo se joga e a nostalgia de um passado perdido para sempre expressa-se nas ruínas, lugar onde a fratura histórica se resolve sob a forma de experiência estética. A sensibilidade romântica é por isso o seu território privilegiado. Porém, depois dos sonhos de emancipação da modernidade, com o colapso do futuro e a dispersão do passado, o estatuto da ruína altera-se subterraneamente. Se a continuidade histórica é estilhaçada e quebrada, a ruína torna-se presença assombrada num presente fechado, sem profundidade temporal. O fascínio contemporâneo pela ruína manifesta-se assim num fundo de negatividade, reflexo da condição existencial contemporânea. Não se consegue circunscrever à estética romântica, nem se conter nos sentimentos de melancolia e nostalgia. Algo de mais profundo e indizível intensifica a nossa relação com as ruínas, expandido a sua experiência para territórios mais indeterminados e sombrios. Um campo de assombro e desassossego, que Jacques Derrida convocaria significativamente a partir da arte do autorretrato: “A ruína não está à nossa frente; não é um espetáculo, nem um objeto de amor. É a própria experiência. (…) Não é precisamente um tema, porque arruína o tema, a posição, a apresentação ou representação de toda e qualquer coisa.”3 Na sua reversibilidade, a ruína é aqui um verbo, não um substantivo.

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A ruína não é um tema recente na arquitetura. No século XVIII teve em Giovanni Battista Piranesi um arquiteto que, como poucos, percebeu as suas diferentes vertentes. As suas gravuras surpreendentes elaboravam criativamente com passado e presente, facto e ficção, realidade e representação. Para Piranesi, a ruína não é meramente um objeto de contemplação, tanto pelo próprio no ato de desenhar como pelos outros através dos seus desenhos, mas um instrumento para interpretar o presente e projetar o futuro. Por outro lado, é igualmente reveladora a conhecida representação ideal do Banco de Inglaterra de John Soane como uma bela

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ruína, pintada por Joseph Gandy em 1830 por solicitação do arquiteto. Imbuída do espírito romântico anglo-saxónico, a ruína do monumento não se apresenta como uma fratura ou desvio no processo histórico, mas como a sua realização plena. A ruína é aqui o destino natural da vida do edifício, progressivamente marcado na sua materialidade pela passagem do tempo. Em suma, a conceção romântica da ruína arquitetónica estabelece a continuidade histórica, dá sentido ao horizonte da temporalidade. Mas a ruína é também o próprio lugar onde as tensões históricas se resolvem. Não só objeto de contemplação, a ruína é igualmente o próprio instrumento que o possibilita. A ruína trabalha sobre a ansiedade dos tempos, transmutando-a em contemplação poética. Todavia, é este processo de pacificação inerente à ruína que parece hoje impossibilitado. Com a desagregação das metanarrativas históricas, a ruína liberta a sua carga poderosa. Perante a irresolubilidade das suas tensões internas, a ruína traz à superfície o seu potencial crítico e ideológico. É nas práticas artísticas da década de setenta que emergem as primeiras manifestações dessa outra conceção da ruína. A “des-arquiteturação” de Robert Smithson e a “anarquitetura” de Gordon MattaClark libertavam uma violência inaudita, através da ativação intencional da ruína arquitetónica. São, no limite, ações artísticas deliberadamente contra a arquitetura, que questionam o seu estatuto. O trabalho artístico arruína a perenidade da arquitetura. Mas esta presença problemática da ruína também entrou nos debates da arquitetura. Ela funcionou como dispositivo crítico de ataque às conceções disciplinares dominantes. Enquanto Smithson e Matta-Clark desconstruíam edifícios, os arquitetos recorreram à ruína com intenções programáticas. Em 1977, Charles Jencks declarava “o dia em que a arquitetura moderna morreu”, assinalado em 1972 pelo início da demolição do complexo habitacional Pruitt-Igoe. A célebre imagem da demolição do primeiro edifício não era mais do que o colapso deliberado de uma anacrónica ruína moderna, com menos de duas décadas de existência, depois de ser “vandalizada, mutilada e desfigurada”.4 Nessa mesma altura, Bernard Tschumi apresentava, nos seus Advertisements for Architecture, imagens do processo de ruína da Ville Savoye, ícone máximo da arquitetura moderna de Le Corbusier, afirmando criticamente que “o facto mais arquitetónico deste edifício é o seu atual estado de decadência.”5 Com objetivos diametralmente opostos, respetivamente a instauração gloriosa do pós-modernismo e a libertação do potencial inexplorado dentro do próprio modernismo, a ruína é utilizada para expor os paradoxos emancipatórios e históricos da arquitetura moderna. No seu eterno presente, a arquitetura moderna não podia resistir à exposição da sua decadência física e ausência social. É neste sentido que a ruína se torna instrumento de confronto disciplinar.

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A questão da ruína não se circunscreve ao campo da arquitetura, mas atravessa transversalmente a cultura contemporânea. É por isso sobretudo nos modos e formas de olhar a ruína que as transformações mais se têm manifestado. Na literatura, emergem na densidade da experiência traumática das ruínas da história de W. G. Sebald ou nos cenários das ficções distópicas de J. G. Ballard. Na filosofia, manifestam-se nas ruínas “anoréxicas” de Jean Baudrillard, nas ruínas “cegas” de Jacques Derrida, nas ruínas “bélicas” de Paul Virilio ou nas ruínas “autênticas” de Andreas Huyssen. Nas práticas


Porém, depois dos sonhos de emancipação da modernidade, com o colapso do futuro e a dispersão do passado, o estatuto da ruína altera-se subterraneamente. Se a continuidade histórica é estilhaçada e quebrada, a ruína torna-se presença assombrada num presente fechado, sem profundidade temporal. O fascínio contemporâneo pela ruína manifesta-se assim num fundo de negatividade, reflexo da condição existencial contemporânea

Whiteford Watson Mann, Astley Castle, Warwickshire, 2012 • BIG, Museu Marítimo Dinamarquês, Helsingør, 2013 • Lacaton & Vassal, FRAC, Dunquerque, 2013

artísticas, surgem nas fotografias arquivísticas de Bernd e Hilla Becher, nas intervenções críticas de Rachel Whiteread, nas instalações fotográficas de Jane e Louise Wilson ou mesmo em filmes documentais como Berlin Babylon de Hubertus Siegert ou Ruínas de Manuel Mozos. Na teoria de arquitetura, adquirem uma importância fundamental nas teorizações desconstrutivas do “estranhamento” de Anthony Vidler e Mark Wigley. E mesmo nas emergentes práticas curatoriais em arquitetura, esse interesse tem-se manifestado em exposições como Utilitas Interrupta, com curadoria de Joseph Grima sobre o tema da infraestrutura obsoleta, e Edifícios & Vestígios, comissariada por Inês Moreira sobre a questão do património industrial devoluto. O que caracteriza estas abordagens contemporâneas da ruína é o seu campo de ação expandido. Mais do que objetos autónomos e autossuficientes, as ruínas são campos de força das manifestações e efeitos dos processos territoriais de urbanização. São acima de tudo testemunhos da realidade e das lógicas políticas, económicas, produtivas e sociais contemporâneas. No final dos anos 60, Robert Smithson definiu as “ruínas invertidas”, a partir das suas visitas ao território suburbano de New Jersey: “Este panorama zero parece conter ruínas invertidas, isto é todas as construções que eventualmente seriam construídas. Isto é o oposto da «ruína romântica» porque os edifícios não caem na ruína depois de serem construídos, mas antes emergem em ruína antes de estarem construídos. Esta mise-en-scène antirromântica sugere uma ideia desacreditada de tempo e todas as outras coisas «desactualizadas».”6 Esta é uma ideia que as ruínas já não se podem limitar aos regimes da temporalidade longa, da emergência à decadência. Antes, a ruína é uma condição do modo de produção generalizado, um processo ativo sempre presente em todas as fases da edificação. Já nos anos 90, Ignasi de Sola-Morales abriria toda uma nova perspetiva sobre a ruína urbana através da sua caracterização do “terrain vague”: “Os realizadores cinematográficos, os fotógrafos e os escultores da performance instantânea procuram refúgio nos arredores da cidade precisamente quando esta cidade lhes oferece uma identidade abusiva, uma homogeneidade esmagadora e uma liberdade de baixo controlo. O entusiasmo por estes espaços vazios, expectantes, imprecisos e flutuantes é a chave urbana, a resposta para a nossa estranheza perante o mundo, perante a nossa cidade e perante nós mesmos.”7 Mas Sola-Morales salienta ainda que o “papel

da arquitetura torna-se inevitavelmente problemático” na sua relação com o terrain vague. Tal como com a ruína, o arquiteto é, por natureza disciplinar, impelido a atuar contra ele, apagá-lo combatendo o seu estado fragmentado e incompleto. Inversamente, um dos grandes desafios da arquitetura contemporânea estará no resgatar do seu potencial oculto.

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A ideia de ruína tem sido investigada pelos arquitetos num espectro conceptual alargado. O Museu Kolumba em Colónia de Peter Zumthor oferece a experiência de habitar um lugar arqueológico através de uma intensa espacialidade. O Museu Marítimo Dinamarquês do BIG apropria criativamente uma doca devoluta, oferecendo a possibilidade de habitá-la. O polo do FRAC em Dunquerque de Lacaton & Vassal intervém num hangar industrial, duplicando-o com novo programa. O Arquivo do Estado em Duisburg de Ortner & Ortner propõe um marco urbano simbólico da permanência da memória. A reabilitação do Castelo de Astley de Whiterford Watson Mann proporciona a experiência de habitar verdadeiramente uma ruína. A casa de Alcobaça dos Aires Mateus constitui-se como uma recomposição abstrata de uma ruína fantasma. A intervenção de atravessamento de um bunker da II Guerra Mundial do RAAAF + Atelier de Lyon expõe a memória traumática do património bélico. A intervenção efémera do reMIX studio permite a experiência da ruína no processo de transformação futura do espaço. n

Giuliana Bruno. «Modernist Ruins, Filmic Archaeologies» (2003), in Ruins. CambridgeMassachusetts: The MIT Press, 2011, p. 81, tradução livre. Brian Dillon. Ruin Lust: Artists’ Fascination with Ruins from Turner to the Present Day. London: Tate Publishing, 2014, p. 5, tradução livre. 3 Jacques Derrida. «Memoirs of the Blind» (1990), in Ruins. London / CambridgeMassachusetts: Whitechapel Gallery / The MIT Press, 2011, p. 43, tradução livre. 4 Ver Charles Jencks. The Language of Post-Modern Architecture. London: Academy, 1984 [1977]. 5 Bernard Tschumi. «Advertisements for Architecture» (1975), in Architecture and Disjunction. Cambridge-Massachusetts: The MIT Press, 1999, p. 64, tradução livre. 6 Robert Smithson. «A Tour of the Monuments of Passaic, New Jersey» (1967), in Ruins. Cambridge-Massachusetts: The MIT Press, 2011, p. 49, tradução livre. 7 Ignasi de Sola-Morales. «Terrain Vague» (1995), in Teoria e Crítica de Arquitectura do Século XX. Lisboa: Ordem dos Arquitectos / Caleidoscópio, 2010, p. 952. 1

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fotografia

portfolio

Ruínas Habitadas

Perspetivas artísticas e documentais

Yves Marchand e Romain Meffre The Ruins of Detroit

Luben Apartments, Detroit, 2006© Yves Marchand e Romain Meffre, cortesia dos artistas

“As ruínas são símbolos e marcos visíveis das nossas sociedades e da sua transformação, pequenos pedaços de história em suspensão. O estado de ruína é essencialmente uma situação temporária, que acontece nalgum momento, resultado volátil da mudança de era e da queda de impérios. Esta fragilidade, a velocidade do curso do tempo, leva-nos a olhá-las uma última vez: desanimados, espantados, fazendo-nos questionar sobre a perenidade das coisas. A fotografia parece-nos uma forma modesta de guardarmos um pouco deste estado efémero”. Em 2005, depois de meses de preparação, os artistas decidiram ir para a cidade símbolo das ruínas modernas, Detroit. As ruínas já não eram algo grotesco na cidade, eram simplesmente uma parte lógica da paisagem. No começo do século XX, com a invenção da linha de montagem, Detroit surgiu como a capital mundial do automóvel, tornando-se a quarta cidade mais importante dos EUA. A Motor City tornou-se, literalmente, no que seria para sempre o modelo económico, industrial e urbano das nossas sociedades modernas. Mas desde a década de 50, a desindustrialização, a suburbanização, a segregação, a tensão social e o desinvestimento transformaram a Motor City em ruínas. Detroit passou de 2 milhões para 900 mil habitantes. Em apenas 50 anos, a que era uma das cidades mais ricas, caiu em desgraça e tornou-se a cidade mais arruinada de todo o mundo ocidental.

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Rich-Dex Apartments, Detroit, 2006© Yves Marchand e Romain Meffre, cortesia dos artistas

Yves Marchand (n.1981) e Romain Meffre (n.1987) cresceram na região de Paris. Como fotógrafos interessamse por ruínas em 2001. Depois de se conhecerem, em 2002, iniciaram um registo sistemático de ruínas e das alterações da paisagem urbana à volta de Paris, depois no resto da França, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Itália. A visita destes locais tornou-os mais sensíveis ao caráter único e singular dos edifícios históricos, especialmente dos séc.XIX e XX, lamentavelmente negligenciados. Fizeram sua primeira exposição “As ruínas fabulosas de Detroit”, em 2006. Nos 5 anos seguintes, regressaram a Detroit várias vezes para concluir o trabalho. Paralelamente trabalham em vários projetos, nomeadamente as antigas salas de cinema. O seu primeiro livro The Ruins of Detroit foi lançado em 2010 e o segundo Gunkanjima, em 2013, ambos publicados pela Steidl. www.marchandmeffre.com

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PROJETOS

Foto: Jakob Glatt

Fotos: Flemming Leitorp

biografias

BIG (Bjarke Ingels Group) foi fundado por Bjarke Ingels, em 2005, em Copenhaga. Hoje conta também com escritório em Nova Iorque, onde arquitetos, designers, construtores e pensadores operam dentro dos campos da arquitetura, urbanismo, pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, BIG está envolvido em diversos projetos na Europa, América do Norte, Ásia e Médio Oriente. A sua arquitetura emerge de uma análise cuidadosa das constantes mudanças e evoluções e dos modos de vida contemporâneos. Também as trocas multiculturais, os fluxos económicos globais e as tecnologias de comunicação exigem novas formas de organização arquitetónica e urbana, a que BIG procura dar respostas. (na foto: Bjarke Ingels e David Zahle) www.big.dk

AIRES MATEUS é a dupla de Manuel Aires Mateus (n.1963, Lisboa) e Francisco Aires Mateus (n.1964, Lisboa). Colaboraram com Gonçalo Byrne desde 1983 e trabalham juntos desde 1998. Foram docentes na GSD da Harvard University, EUA, em 2002 e 2005, na Accademia di Architectura de Mendrízio na Suíça, desde 2001, e na Universidade Autónoma de Lisboa, desde 1998. Têm participado em inúmeras exposições, das quais se destacam as recentes participações na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2010 e 2012. O seu trabalho foi distinguido diversas vezes, nomeadamente: Prémio Internacional da Pedra na Arquitetura (Itália 2011) para o Centro de Investigação das Furnas; o Premis FAD Intervenções efémeras (Espanha 2010) para WeltLiteratur; Premios ENOR 2006 (Espanha) para Centro de Artes de Sines. www.airesmateus.com

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PETER ZUMTHOR (n.1943, Basileia) iniciou a sua formação como carpinteiro de móveis e mais tarde como designer e arquiteto no Kunstgewerbeschule Basel e no Pratt Institute de Nova Iorque. Em 1978 estabelece escritório próprio em Haldenstein, na Suíça. Foi professor convidado no Southern California Institute of Architecture, SCIARC, Los Angeles (1988); na Technische Universität Munich (1989), e na Graduate School of Design, GSD, Harvard University, Boston (1999). Entre 1996-2008 foi professor na Accademia di architettura, Università della Svizzera italiana, Mendrisio. Dos projetos recentes destacam-se Steilneset, Memorial das Vítimas dos julgamentos por bruxaria em Vardø, Finnmark, Noruega, 2011; Serpentine Gallery Pavilion, Londres, 2011; Werkraumhaus, Andelsbuch, Áustria, 2013. Entre as distinções que tem recebido estão o Prémio Europeu de Arquitetura Mies van der Rohe em 1998; Prix Meret Oppenheim, Federal Office of Culture, Suíça, em 2006; Praemium Imperiale, Japan Art Association, em 2008; The Pritzker Architecture Prize, The Hyatt Foundation, em 2009; RIBA Royal Gold Medal, Royal Institute of British Architects, em 2013; Nike, Architecture Prize, Bund Deutscher Architekten BDA, em 2013.

reMIX STUDIO foi fundado pelos parceiros Nicola Saladino, Chen Chen e Federico Ruberto, com base na experiência desenvolvida durante os anos de pesquisa académica e colaborações com diversos escritórios internacionais, trabalhando em múltiplas escalas de projeto. O trabalho abrange desde arquitetura ao paisagismo e planeamento urbano, em diversas áreas, analisando e redescrevendo a sua lógica performativa para formalizar um urbanismo politizado. O entendimento do território e as suas redes constitutivas e de constante evolução metabólica e sistemas de relações de poder permite que redefinam escalas específicas de intervenção, que vão das dicotomias natural/artificial e local/global para ambicionadas futuras assembleias sociais. www.remixstudio.org


O&O Baukunst tem a sua origem no atelier de arquitetura fundado em 1987 com o nome Ortner Architekten, em Düsseldorf. Desde 1990 o atelier chama-se Ortner & Ortner Baukunst e está instalado em Viena; em 1994 em Berlim e desde 2006 em Colónia. Desde 2011 O&O Baukunst tem como parceiros Roland Duda, Christian Heuchel, Harald Lutz, Florian Matzker, Markus Penell. Em 2012, abre também o O&O Depot Berlin. Os fundadores iniciais são Laurids Ortner e Manfred Ortner. Laurids estudou arquitetura na Universidade de Tecnologia de Viena (TU Wien).Co-fundou o grupo de arquitetura e artístico Haus-Rucker-Co em Viena, em 1967. Professor na University of Art and Industrial Design em Linz entre 1976–87. Desde 1987 é professor de arquitetura na Art Academy Düsseldorf. Manfred estudou pintura e arte na Academy of Fine Arts Vienna. Entre 1971–87 juntou-se ao Atelier Haus-Rucker-Co em Düsseldorf with Günter Zamp Kelp e Laurids Ortner. Desde 1994 é professor de Design na escola de arquitetura FH Potsdam. www.ortner-ortner.com

RAAAF (Rietveld Architecture-Art-Affordances) foi fundado em 2006. Opera no cruzamento da arquitetura, arte e ciência. Realiza trabalho site-specific e desenvolve uma abordagem de projeto ‘strategic interventions’, que deriva das áreas de cada parceiro: o laureado Prix de Rome de Arquitetura Ronald Rietveld (na foto) e o filósofo Erik Rietveld. A equipa de projeto nuclear integra também Arna Mackic. O projeto de pequisa, através da variação de equipas multidisciplinares de cientistas e outros especialistas consegue conceitos claros, visualizações evocativas e novos horizontes. Exemplo disto é ‘Vacant NL’, a contribuição holandesa para a Bienal de Arquitetura de Veneza de 2010, onde se mostrou o potencial de 10.000 edifícios vazios, de propriedade governamental, que é agora central na discussão sobre reutilização inovadora. Outro exemplo é o Bunker 599, onde se colocam questões não ortodoxas sobre as políticas holandesas e da UNESCO sobre o património cultural. www.raaaf.nl ATELIER DE LYON é o meio para o trabalho do artista Erick de Lyon (na foto) tomar expressão na paisagem holandesa. Colabora com arquitetos paisagistas, urbanistas, engenheiros hidraulicos e técnicos. Parceiro de RAAAF no projeto Bunker 599. www.delyon.nl

Witherford Watson Mann Architects foi fundado em 2001, consiliando a experiência dos 3 directores em edifícios culturais, espaços públicos e desenho urbano. O seu trabalho tem sido exposto em vários locais na Europa e também na Bienal de São Paulo, no Center for Architecture em Nova Iorque e em 2008 na Biennale di Venezia, no Pavilhão Britânico. Realizaram a sede da Amnistia Internacional UK (Hackney Design Award winner), o seu primeiro projeto construído, em 2005, e a extensão da Whitechapel Art Gallery, aberta ao público em 2009. Desde a fundação do atelier que trabalhamos com diversos clientes importantes tal como Tate Modern, Argent, Arts Council England, the British Council, the London Development Agency, English Partnerships, Whitechapel Art Gallery e Hyde Housing. Temos trabalhado com grandes equipas e orçamentos modestos, sempre produzindo projetos consistentes, com qualidade duradora e conseguindo-o através de processos altamente escrutinados, sem comprometer a ambição inicial. Nos últimos 10 anos, aproximadamente metade do nosso trabalho tem sido para os mesmos clientes, o que nos tem permitido manter um escritório de 12 pessoas, estabelecendo uma sólida infraestrutura de suporte ao nosso compromisso de entrega. www.wwmarchitects.co.uk

LACATON & VASSAL foi fundado em 1989 em Paris por Anne Lacaton (n.1955, França) e Jean Philippe Vassal (n.1954, Marrocos). Ambos estudaram na escola de Arquitetura de Bordéus. Lacaton é professora convidada na Universidade de Madrid desde 2007 e ensinou na Ecole Polytechnique de Lausanne (2004, 2006 e entre 2010 e 2011). Vassal trabalhou como urbanista no Níger (1980-85) e foi professor convidado na TU de Berlim (2007-10) e na Ecole Polytechnique de Lausanne (2010-11). O trabalho do atelier recebeu diversos prémios como o Grand Prix National d’Architecture 2008, o Equerre d’Argent 2011 (com Frédéric Druot), o Daylight & Building Components, Velum Fonden, 2011, ou a International Fellowship do RIBA, 2009. www.lacatonvassal.com

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Alemanha

Peter Zumthor

Museu de Arte Kolumba, Colónia

Arquitetura: Peter Zumthor, Haldenstein, CH Colaboração: Rainer Weitschies (projeto); Mark Darlington, Stephan Meier, Serge Schoemaker, Gian Salis, Daniel Bosshard (concurso); Mirco Elser, Rosa Gonçalves, Simon Mahringer, Guy Muntwyler, Clemens Nuyken, Oliver Krell, Daniel Schmid Cliente: Archbishopric Cologne Supervisão: Peter Zumthor Architects, Haldenstein, CH com Wolfram Stein Architects, Köln, D Estruturas: Jürg Buchli, Haldenstein, CH com Schwab + Lemke Engineers, Köln, D AVAC: Gerhard Kahlert, Haltern, D Eletricidade e instalações: Hilger Engineers, Aachen, D Projeto do pátio e envolvente: Peter Zumthor Architects, Haldenstein, CH com Günther Vogt e Maren Brakebusch Física de edifícios: Ferdinand Stadlin, Buchs, CH Datas: 1997 (concurso); 2003 (início construção); 2007 (conclusão) Área: 6.200 m2 Custo: 43.5M Euro Texto: Peter Zumthor Fotografia: Hélène Binet, Roland Halbe

Alçado Oeste

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O Museu de Arte da Arquidiocese de Colónia era para ser um “museu vivo”. Mostra objetos da sua própria coleção permanente, desde a Antiguidade até ao presente: Esculturas românicas, instalações, pinturas medievais, “pinturas radicais”, cibórios góticos e objetos de uso diário do século XX, estão expostos em justaposições dinâmicas. O novo edifício, no centro da cidade, renasce das ruínas do gótico tardio da Igreja Saint Kolumba, destruída na Segunda Guerra Mundial. O piso térreo tem uma grande escavação arqueológica com os vestígios de uma igreja anterior, que remonta ao século VII, e da capela “Madonna in den Trümmern” construída por Gottfried Böhm em 1949/50. Estes factos deram origem a um edifício com dezassete galerias de diferentes proporções e com iluminação diferente, em três pisos com uma área total de 1.750 m2. Um tijolo de tom amarelado (24 x 21,5 x 4 cm) foi especialmente produzido para estas novas estruturas. n

Foto: Hélène Binet

PROJETOS


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PROJETOS

Dinamarca

BIG

Museu Marítimo Nacional Dinamarquês, Helsingør

Arquitetura: BIG - Bjarke Ingels Group: Bjarke Ingels, David Zahle (responsáveis) Coordenação de projeto: David Zahle Colaboração: John Pries Jensen, Henrik Kania, Ariel Joy Norback Wallner, Rasmus Pedersen, Annette Jensen, Dennis Rasmussen, Jan Magasanik, Jeppe Ecklon, Karsten Hammer Hansen, Rasmus Rodam, Rune Hansen, Alina Tamosiunaite, Alysen Hiller, Ana Merino, Andy Yu, Christian Alvarez, Claudio Moretti, Felicia Guldberg, Gül Ertekin, Johan Cool, Jonas Mønster, Kirstine Ragnhild, Malte Kloe, Marc Jay, Maria Mavriku, Masatoshi Oka, Oana Simionescu, Pablo Labra, Peter Rieff, Qianyi Lim, Sara Sosio, Sebastian Latz, Tina Lund Højgaard, Tina Troster, Todd Bennet, Xi Chen, Xing Xiong, Xu Li Tipo de projeto: Concurso por convite Cliente: Helsingør Municipality, Helsingør Maritime Museum Localização: (56.0389,12.6163) Data: 2013 Área: 6.500m2 Texto: BIG Fotografia: Dragoer Luftfoto, Luca Santiago Mora, Rasmus Hjortsho

Foto: Luca Santiago Mora

O Museu Marítimo dinamarquês tinha que encontrar o seu lugar num contexto histórico e espacial únicos; entre um dos edifícios mais importantes e famosos da Dinamarca e um novo e ambicioso centro cultural. Este é o contexto em que o museu tem provado a sua capacidade de compreensão do caráter da região e, concretamente, do Castelo de Kronborg. Como um museu subterrâneo numa doca seca. As paredes da doca, de 60 anos, não foram alteradas, as galerias foram colocadas abaixo do solo e dispostas num loop contínuo, em torno das paredes da doca seca – tornando a doca a peça central da exposição –, uma área aberta, ao ar livre, onde os visitantes experienciam a escala da construção dos navios. Uma série de três pontes de dois níveis atravessam a doca seca, servindo de ligação urbana e também proporcionando aos visitantes atalhos para diferentes secções do museu. A ponte do porto fecha a doca, ao mesmo tempo que serve de passeio marítimo do porto; o auditório do museu funciona como ponte e liga o Pátio da Cultura adjacente, ao Castelo de Kronborg, a ponte zig-zag em declive conduz os visitantes para a entrada principal. Esta ponte liga o velho e o novo, à medida que os visitantes descem para o espaço do museu, com vista para o majestoso ambiente acima e abaixo do solo. A longa e nobre história marítima dinamarquesa revela-se num movimento contínuo, no interior e à volta da doca, 7 metros abaixo do solo. Todos os pisos – que ligam os espaços de exposição ao auditório, às salas de aula, aos escritórios, ao café e à doca dentro do museu – inclinam-se suavemente criando espaços fantásticos e esculturais. n

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PROJETOS

França

Lacaton & Vassal

FRAC Região Norte, Coleção de Arte Contemporânea Regional, Dunquerque

Arquitetura: Anne Lacaton & Jean Philippe Vassal Colaboração: Florian de Pous (chefe de projeto), Camille Gravellier, (supervisão da construção), Yuko Ohashi Engenharia: Secotrap (estrutura, sistemas mecânicos); CESMA (estrutura metálica); Vincent Pourtau (custo); Vulcanéo (consultor de segurança contra incêndios) Cliente: Communauté Urbaine de Dunkerque Programa: reservas de obras artísticas, salas de exposição, serviço educativo Área: 11.129 m2 ( 9.157 m2 novo edifício; 1.972 m2 parte existente) Custo: 12M Euros Datas: 2009-2013 Texto: Atelier Lacaton & Vassal Fotografia: Philippe Ruault

R+4 +21,00M

R+2 +10,50M

R+3 +15,75M

O FRAC acolhe coleções públicas de arte contemporânea, reunidas regionalmente. Essas coleções são conservadas, arquivadas e apresentadas ao público em exposições locais e através de empréstimos, tanto a galerias como a museus. O FRAC da região norte está localizado R+2 HAUT na zona do porto de Dunquerque, num antigo armazém de barcos, +12,25M chamado Halle AP2. O Halle AP2 é um objeto singular e simbólico. R+4 +21,00M O seu volume interno é imenso, luminoso, impressionante. O seu potencial de utilização é excepcional. Implantar o FRAC como catalisador da nova área e também para manter a Halle no seu todo, torna-se a ideia base do nosso projeto. Para alcançar este conceito, o projeto cria um duplo do Halle, da mesma dimensão, ligado ao edifício existente, R+1 HAUT R+2 R+3 +10,50M +15,75M +8,75M no lado voltado para o mar, e que contém o programa do FRAC. O novo edifício justapõe-se delicadamente sem competir nem desaparecer. R+4 A duplicação é a resposta cuidadosa à identidade do Halle. Debaixo +21,00M de um envelope leve e bioclimático, uma estrutura pré-fabricada e eficiente determina plataformas livres, flexíveis e evolutivas, com poucas R+2 HAUT +12,25M restrições, respondendo às necessidades de programa. A transparência R+1 do revestimento permite ver o volume opaco das reservas de obras +5,25M R+2 R+3 de arte, ao fundo. O passadiço +10,50M público (anteriormente desenhado ao +15,75M longo da fachada) que atravessa o edifício, torna-se uma rua coberta de entrada no Halle e simultâneamente a fachada interna do FRAC. R+1 HAUT O Halle AP2 continuará a ser um espaço completamente disponível, PUBLIC +8,75M SALLES D'EXPOSITION que pode funcionar com o FRAC, numa extensão das suas atividades HA LL ACCUEIL INFORMATION ET SERVICES E R+2 HAUT EX RdC (exposições temporárias excepcionais, criação de obras de grande IS +12,25M 0,00M TA ESPACES ADDITIONNELS NT E porte, manuseamentos específicos), ou de forma independente para CIRCULATIONS EXPÉRIMENTATION / MÉDIATION acolher eventos públicos (concertos, feiras, espetáculos, circo, eventos R+1 desportivos) enriquecendo as possibilidades do local. O funcionamento +5,25M LABORATOIRE DE MÉDIATION de cada um dos edifícios é separado ou combinado. A arquitetura do Axonometria explodida programa ADMINISTRATION Halle e a sua qualidade atual, permitem que intervenções mínimas, R+1 HAUT AXONOMETRIE FONCTIONNELLE DE L'ENSEMBLE DU PROJET PUBLIC +8,75M OEUVRES direcionadas e limitadas sejam suficientes. Graças à otimização do SALLES D'EXPOSITION LIVRAISONS / PRÉPARATION ACCUEIL INFORMATION ET SERVICES projeto, o orçamento possibilita a realização do FRAC e a criação de RÉSERVES HA LL ESPACES ADDITIONNELS E EX cria MONTE CHARGE / ASCENSEURS RdC condições e equipamentos para uso público do Halle AP2. O projeto IS 0,00M TA CIRCULATIONS NT MANUTENTION OEUVRES E assim um recurso público ambicioso, de capacidade flexível, que permite EXPÉRIMENTATION / MÉDIATION MANUTENTION / ACCÈS SUPPLÉMENTAIRE trabalhar a várias escalas, desde exposições diárias a eventos artísticos R+1 +5,25M LABORATOIRE DE MÉDIATION de grande escala, de ressonância regional, mas também europeia e LOGISITIQUE / LOCAUX TECHNIQUES ADMINISTRATION n internacional, o que consolida a remodelação do porto de Dunquerque. AXONOMETRIE FONCTIONNELLE DE L'ENSEMBLE DU PROJET OEUVRES

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LIVRAISONS / PRÉPARATION

HA

RÉSERVES

LL

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TA N

TE

RdC 0,00M

MONTE CHARGE / ASCENSEURS MANUTENTION OEUVRES MANUTENTION / ACCÈS SUPPLÉMENTAIRE

PUBLIC

SALLES D'EXPOSITI

ACCUEIL INFORMAT

ESPACES ADDITION CIRCULATIONS

EXPÉRIMENTATION

LABORATOIRE DE M ADMINISTRATION

OEUVRES

LIVRAISONS / PRÉP RÉSERVES

MONTE CHARGE / A

MANUTENTION OEU

MANUTENTION / ACCÈS SUPPLÉMEN

LOGISITIQUE / LOCA


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PROJETOS

Alemanha

O&O Baukunst

Arquivo do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, Duisburg

Arquitetura: O&O Baukunst Construtor: BLB-NRW Estrutura da torre: Office for structural Design (OSD) Estrutura “Wave”: LWS-Ingenieurgesellschaft Serviços técnicos: Arup GmbH Arquitetura paisagista: FSWLA Landschaftsarchitekten Segurança incêndios: Ökotec Plano de estantes: Obermeyer-ALBIS Bauplan GmbH Física de edifícios: THOR Bauphysik GmbH Elevadores: Lift Consulting - Planungsgesellschaft mbH Vigilância: Vermessungsbüro Hübscher Projeto de iluminação: ag Licht Gesellschaft beratender Ingenieure für Lichtplanung b.R. Consultor de fachadas: Gödde Architekt Consultor de custos: Diete + Siepmann Ingenieurgesellschaft mbH Fornecedores: Teppich Kugelgarn Fa. Fabromont (pavimentos); Sto AG (render exterior); Janinhoff Klinkermanufaktur (fachadas de tijolo); Warema (estores); Rockfon, Typ Eclipse (tetos acústicos); Artemide/ Trilux (iluminação); Schumann Möbelwerkstätten (mobiliário); Dorring, Typ Door silent (sitema de divisórias); Vorhänge Silent Gliss (texteis); FSB, Typ 3425 (janelas); Keramag AG (sanitários); Grohe AG (torneiras); Busch-Jaeger Elektro GmbH (interruptores) Texto: O&O Baukunst Fotografia: O&O Baukunst

O Landesarchiv NRW, em Duisburg - maior edifício/arquivo da Europa “Edifícios culturais, como o Landesarchiv NRW (Arquivos do Estado da Renânia do Norte-Vestfália) são, em última análise, um investimento estabilizador nos próximos 300 anos. Neste contexto qualquer tipo de curto prazo ou abordagem especulativa à arquitetura é ridícula. Nos arquivos o nosso passado será escrito no futuro. “ Christian Heuchel, O&O Baukunst Planeamento Urbano e Arquitetura O celeiro em betão armado e revestido a tijolo dos armazéns da RWSG foi construído em 1936. Num total de 8 pisos, os cereais eram armazenados sob a forma de produtos a granel. A estrutura de betão, construída com precisão, faz do celeiro um bom exemplo da construção em betão armado. O Landesarchiv NRW apresenta uma impressionante figura de tijolo vermelho que se avista da autoestrada A40 e do porto interior de Duisburg. O edifício celeiro existente foi ampliado com a construção de uma torre de arquivo, no seu centro. Os arquivos do Estado podem agora ser alojados de uma forma notavelmente visível. As superfícies de cobertura e as aberturas do celeiro existente foram fechadas. A nova torre de armazenamento distingue-se da antiga estrutura de tijolo, pelo seu revestimento cuidado. O edifício tem espaço para material de arquivo em estantes com uma extensão total de 148 Km. O foyer funciona como interface entre o antigo edifício celeiro e “The Wave”. Isto permite criar uma entrada apropriada para o novo Landesarchiv. O foyer de entrada e as áreas públicas abrem para o

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passeio marítimo. No interior do foyer pode olhar-se através de enormes janelas “vigia” para os materiais de arquivo reunidos. Daqui, o novo edifício cresce para a parte leste do local. A ampliação de 5 pisos, que se estende em forma de onda ao longo do porto interior, acolhe o foyer, a administração e funções adicionais. O Ziegelplatz, no Schwanentor, é enfatizado em direção ao espaço de rua. O elemento fundamental de projeto é uma sólida pele externa de tijolo que dá à torre de arquivo uma aparência escultural. Elementos técnicos nas fachadas, tais como calhas, trilhos de segurança, etc., são construídos de tal forma que, visualmente, parecem afastar-se para o fundo. A estrutura e função históricas do edifício classificado permanecem legíveis. Através de saliência e recuos na alvenaria de tijolo da fachada um ornamento subtilmente articulado. As paredes existentes são de tijolos nãoperfurados, nas dimensões tradicionais, 25/12/6,5cm. As novas paredes exteriores são construídas com tijolos com o mesmo formato. As janelas existentes no edifício celeiro foram emparedadas também com tijolo. A cor e a textura da nova alvenaria de tijolo trabalhado cobre a superfície dos tijolos originais que pela sua patine são um testemunho da história industrial de Duisburg. As zonas novas e velhas da construção são subtilmente diferenciadas. n


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PROJETOS

Inglaterra

Witherford Watson Mann Casa Astley Castle, Warwickshire

Arquitetura: Witherford Watson Mann Architects Colaboração: Stephen Witherford, Christopher Watson, William Mann, Freddie Phillipson, Jan Liebe, Daniela Bueter, Joerg Maier, Lina Meister Cliente: The Landmark Trust Estruturas: Price & Myers Supervisão de quantidades e Administração de empreitada: Jackson Coles Outros serviços de projeto: Building Design Partnership Inspeção: Oculus Building Consultancy Empreitada geral: William Anelay Data: 2007-2012 Texto: Witherford Watson Mann Architects Fotografia: Hélène Binet, Phillip Vile, Philipp Ebeling, John Miller

No projeto Astley Castle, começámos com uma ruína. Havia lugares que não pareciam mais do que um monte de pedras, noutros era uma ruína tradicional. Depois de oito séculos a funcionar como habitação, um incêndio destruiu os telhados e três décadas de gelo e degelo arruinaram as paredes. O tempo destruidor foi um bom arquiteto, fazendo entrar a luz e criando grandes vistas para o exterior. Não o restaurámos, nem o deixámos tão destruído como uma relíquia romântica. Restabelecemos uma espécie de unidade, tornando-o estável, preservando-o, mas mantivemos um sentido de inacabado, deixando-o poroso, com as feridas ainda abertas. A casa está do avesso: a ruína já tinha esbatido as suas fronteiras. Nós remendámos novas paredes, telhados e lintéis para reforçar e unir os vestígios, e restabelecemos a sua lógica intrínseca. As salas dos séculos XV e XVII foram deixadas como pátios abertos, salas com “frescos de nuvens no teto”. A casa está também de pernas para o ar. Ao dividir o piso térreo conseguimos quatro quartos e três casas de banho. O primeiro piso - com grandes janelas renascentistas e aberturas selvagens - é um amplo salão, com áreas de estar, jantar e a cozinha. Mantivemos as grandes aberturas e envidraçámo-las. A capela é a quarta parede da sala de estar, enquanto os pátios se abrem ao lado da mesa de jantar. Preenchemo-la com tijolo, betão pré-moldado e madeira laminada: a sua cor combina com o arenito vermelho e o calcário verde; a sua força é parcialmente amenizada. Tudo tem degraus, porque nada do que ligámos tem arestas retas ou está alinhado. Isto permite igualar o refinamento da construção moderna com a rudeza da antiga. Com o seu núcleo assente numa casca exterior perfurada, a casa é como um relógio de sol, onde o sol inscreve o dia nas paredes e no chão. Respira com as estações do ano, os pátios cobertos convidam os hóspedes a exporem-se ao calor do verão ou a retirarem-se para a área quente, no inverno. É uma casa festiva, onde os hóspedes vivem a experiência de um tempo coletivo - conversas entre as gerações e distâncias são enquadradas pelos séculos e pelas horas. n

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Implantação

Site plan

Diagramas evolutivos de ocupação

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Foto: Hélène Binet

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PROJETOS

Portugal

Aires Mateus Casa em Alcobaça

Arquitetura: Aires Mateus Arquitectos Colaboradores: Catarina Bello Especialidades: Betar, Ecoserviços Construtor: Manuel Mateus Frazão Coordenação de Obra: Jaime Coelho Datas: 2007-2010 (projeto); 2010-2011 (obra) Área: 475m² Texto: Aires Mateus Arquitectos Fotografias: FG+SG – www.ultimasreportagens.com

A casa que se desenha no centro histórico de Alcobaça é registo de vários tempos: Um pequeno edifício reconstruído para perpetuar a escala vernacular mais recorrente, e um muro criteriosamente desenhado para albergar uma serena extensão. No edifício antigo trabalha-se um vazio a partir da espessura modelada das suas paredes periféricas. Liberta-se uma coluna de vazio que recebendo luz por um lanternim a oferece a uma nova atmosfera protegida e privada. Os compartimentos surgem como adições interiores, relacionando-se com o exterior através de aberturas reinterpretadas nas fachadas, mas defindo e criando um espaço interior inesperado. A ampliação da casa surge como a ocupação de uma diferença de cotas, entre o nível de chegada da rua, e um jardim que se gera e se relaciona com o rio Baça. O perímetro do novo muro define pátios que mediam a escala do gesto contemplativo com o exterior. As zonas sociais, sem obstáculos, funcionam como um contínuo espacial que se estende e difunde entre os dois tempos do desenho. n

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Implantação localização

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PROJETOS

Holanda

RAAAF | Atelier de Lyon Bunker 599

Arquitetura: RAAAF Cliente: Municipality Culemborg | DLG (The Dutch Service for Land and Water Management) Projeto: Rietveld Landscape | Atelier de Lyon Filme: Roberto Rizzo Localização: Diefdijk 5 – Highway A2 Data: 2010 Texto: RAAAF Fotografia: RAAAF

O projeto baseia-se apenas em dois segredos do New Dutch Waterline (NDW), uma linha de defesa militar usada de 1815 até 1940, que protegia as cidades de Muiden, Utrecht, Vreeswijk e Gorinchem através de inundação intencional. Um monumental bunker aparentemente indestrutível é aberto com um corte. Assim, o projeto abre o minúsculo interior de um dos 700 bunkers do NDW, cujos interiores estão totalmente escondidos. Além disso, um longo passeio de madeira atravessa esta construção extremamente pesada. Os visitantes são guiados a uma área alagada e aos trilhos da reserva natural adjacente. O cais e os pilares que o suportam lembram que a água circundante não é devida a, p.e., remoção de areia, mas sim a uma característica provocada pelas inundações em tempos de guerra. O bunker cortado constitui uma atração, acessível aos visitantes do NDW. É visível a partir do outro lado da auto estrada A2 e pode, por isso, ser visto diariamente por dezenas de milhares de transeuntes. O projeto é parte da estratégia global de Rietveld Landscape|Atelier de Lyon, no sentido de tornar esta parte única da história holandesa acessível e tangível a uma ampla variedade de visitantes. n

proj. 1

Diagramas conceptuais

New Dutch Waterline becomes a landscape park for the 21st century at the East side of the Randstad (80 km)

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Dikes (West)

Fortresses

Bunkers

Watercontrol

80 km open area

Access lines

Dikes (East)


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PROJETOS

China

reMIX Studio

Instalação Paizi 38, Pequim

Arquitetura: reMIX Studio Materiais: Fios elásticos, esquadrias de madeira, lâmpadas Métodos construtivos: demolição controlada e tecelagem de luz Mobiliário: reMIX Studio (fabricante ou parceiro de empreitada) Iluminação, Pavimentos, Paredes: reMIX Studio Área: 400m2 Custo: 600€ (orçamento:1000) Data de finalização: 2013-09-25 Texto: reMIX Studio Fotografia: reMIX Studio

A instalação Paizi 38, para a Beijing Design Week 2013, é essencialmente um ato preliminar, uma vez que o espaço deverá tornarse num novo boutique hotel, nos meses seguintes. O hotel será inserido no edifício existente, com acrescentos precisos e modificações pontuais; ações que são a base da nossa demolição controlada. O levantamento estrutural e a análise dos espaços existentes, organizados numa extensa sequência linear - uma característica única para esta tipologia de edifício nesta área de Pequim - foram as premissas da nossa instalação temporária. Um caminho de madeira elevado, delimitado por fios elásticas torcidos, guia os visitantes ao longo do edifício abandonado até um restaurante pop-up, onde se realizaram os jantares de abertura e de encerramento do evento. Perfurando as paredes e estruturas existentes, revelámos a história estratificada dos espaços interiores e destacámos as características do futuro hotel. O sistema dos novos portais é uma sucessão de pontos de vista que, prevendo a circulação interior do novo hotel, conduz os visitantes a uma viagem inesperada, desafiando a sua imaginação, forçando-os a redefinir o significado de “exploração”. O túnel de fios termina numa grande sala com pé direito duplo e ramifica-se num sistema de iluminação de três linhas, que define e marca visualmente as áreas para sentar do restaurante temporário. n

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existing condition

Diagrama espacial

Diagrama alternativas

the new orchid


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Relocalização da Ponte D. Maria Pia

ITINERÂNCIAS

ensaio

Pedro Bandeira

Concurso Internacional Regeneração Urbana do Quarteirão da Aurifícia, OASRN 2013

e

Pedro Nuno Ramalho

“Architecture only survives where it negates the form that society expects of it. Where it negates itself by transgressing the limits that history has set for it.” Bernard Tschumi, Architecture and Transgression (1975) “O valor rememorativo deliberado do monumento tem desde o princípio, isto é, desde que se ergue, o firme propósito de, em certo modo, não permitir que esse momento se converta em passado, de que se mantenha sempre presente e vivo na consciência da posteridade (…) O valor rememorativo deliberado aspira de modo total à imortalidade, ao eterno presente, ao permanente estado de génesis” Aloïs Riegl, O culto Moderno aos Monumento (1903)

Reconhecemos que propor relocalizar a Ponte D. Maria Pia (1877) no quarteirão da Companhia Aurifícia (1869) pode parecer à partida absurdo ou pouco plausível. Tanto quanto se sabe, nem sequer os parafusos usados na construção da ponte, projetada por Théophile Seyrig da companhia Eiffel Constructions Métalliques, foram produzidos na fábrica Aurifícia – mais vocacionada para trabalhos de ourivesaria e metalurgia delicada. Sabemos que a Ponte D. Maria Pia e a Companhia Aurifícia são ambos bons exemplos da industrialização portuense, mas esta proposta de associação tem outros argumentos que ambicionam algo mais do que a regeneração deste quarteirão em particular. Queremos alterar o skyline da cidade, um posicionamento extremo mas que defendemos como necessário, tendo em consideração que as políticas de regeneração urbana do centro do Porto continuam a falhar, isto é, a perder habitantes, deixando devolutos espaços de habitação, comércio e serviços. Uma primeira abordagem ao problema leva-nos a questionar a necessidade de intervir no interior do quarteirão da Aurifícia. Não acreditamos que seja necessária ou pelo menos prioritária a edificação de novos espaços, nem agora nem, muito provavelmente, nos próximos anos. Necessária seria sim, apenas a reabilitação dos espaços existentes que ainda não cederam à ruina. Neste sentido, defenderíamos com entusiasmo a política de “não fazer nada” dos Lacaton & Vassal, ou seja, fazer o mínimo indispensável: manutenção, alguma reabilitação e limpeza dos lotes, avançar com a demolição das estruturas precárias, sem uso e sem interesse arquitetónico. Mas se esta é, por uma lado, a solução que nos parece mais plausível e sustentável, por outro lado, defendemos que esta não precisa de um concurso de ideias para ser implementada, e seria, do ponto de vista concetual redundante com o que já foi defendido pela dupla de arquitetos franceses. Além do mais, um concurso de ideias é o lugar, por excelência, para a experimentação e, no nosso entender, para uma experimentação radical descomprometida com as soluções mais consensuais e com os interesses mais óbvios. O nosso projeto propõe a desmontagem da Ponte D. Maria Pia e a sua relocalização no interior do quarteirão da Companhia Aurifícia. Procuramos com este gesto uma nova monumentalidade, capaz de alterar o skyline do

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Porto e contribuir, deste modo, para uma maior atenção sobre a cidade. Não podemos competir com outras cidades em grandeza ou em altura, mas podemos competir afirmando uma identidade própria, uma particularidade, uma estranheza daquilo que se reivindica como singular e simultaneamente sedutor. Poderá parecer absurdo, mas é um absurdo que enfatiza o que a cidade já é: a expressividade dramática de uma paisagem urbana algo decadente que atrai os turistas a fotografar os prédios em ruínas, as fábricas e os armazéns abandonados, as ruas tortuosas e tantas vezes sujas da Ribeira, da Sé, das Fontainhas, e contudo, é um Porto romântico, reflexo de uma tardia industrialização e igualmente tardia desindustrialização. Propomos uma nova visão sobre esta cidade que se tornou “inútil” para nós (os habitantes) e apenas “útil” para os outros (os estrangeiros). Propomos uma reflexão sobre os objetos arquitetónicos que deixaram de fazer sentido (na sua conceção original), que não têm mais o propósito de ser funcionais. Propomos radicalizar este sentido de “inutilidade” e tirar partido dele, com a mesma convicção com que Gustave Eiffel defendeu a sua Torre, contra o

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Argumento (“sejamos realistas, exijamos o impossível”!) por Pedro Bandeira


desprezo dos intelectuais parisienses que não só a criticavam por ser feia mas também por ser inútil. A Ponte D. Maria Pia deixou de ser útil. Há mais de vinte anos que se discute o seu futuro: “Ninguém quer ser responsável pela Ponte Dona Maria” (Jornal de Noticias, 12.10.2011). Deixou de ser também fotogénica, uma vez que a recente construção das pontes do Infante e de São João sombreiam, de um lado e do outro, o seu delicado perfil treliçado. Perdeu escala e dignidade. A sua localização, de difícil acesso, também não contribui para a sua valorização, é uma ponte escondida, esquecida entre as outras. Relocalizada no centro da cidade, numa cota alta, ganharia maior visibilidade mas, acima de tudo, um outro sentido, uma nova liberdade, despojada da necessidade de ser útil. “Toda a arte é completamente inútil” escreveu Oscar Wilde em Retrato de Dorian Gray. E a arte é inútil porque só tem de responder a si própria, à sua essência, à sua beleza. O que propomos é resgatar do léxico pragmático dos engenheiros a bela expressão que associam à construção de pontes: “obras de arte”. Procuramos uma nova monumentalidade. Dizemos “nova” porque

não falamos de uma monumentalidade no sentido clássico de uma institucionalização da História (nem mesmo daquela que fez o modernismo). Falamos de uma monumentalidade transgressiva, que não se sinta presa ao passado, ao lugar do passado, nem que se sinta refém do sucesso. Falamos de uma monumentalidade que ambicione uma permanente atualização do sentido, que espelhe o presente (sem moralismos) uma estória montável e desmontável como uma ponte de treliças, não como uma ponte de betão. Um património consciente da sua fragilidade: o centro do Porto morreu e hoje vive da sua imagem, tão romântica como dramática, em que a ruína – a poesia do edifício sem função – é, neste contexto, a cor natural da sua pele enrugada. Não há nada para esconder, há tudo para enfatizar. Propomos um monumento da desindustrialização, um monumento em que a materialidade oitocentista dá lugar à imaterialidade contemporânea, assente numa lógica de rizoma ou rede complexa sem lugar para pontes dicotómicas que ligam apenas dois lugares. A Ponte D. Maria Pia morreu mas, na nossa proposta, morre de pé, como as árvores. n

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CRÍTICA

arquitetura

Ruinofilia

Percurso crítico pelas imagens das ruínas portuguesas

Álvaro Domingues

Como Diderot já cá não está para nos explicar a poética das ruínas1, é preciso procurar no ar do tempo as razões para esta ruinofilia que nos aflige a cada passo com a sua memória de glórias e destroços, ora por entre contemplações românticas de passados mais que perfeitos ou de sublimes assombrações ao luar, ora por ofícios de obcecadas escavações em campanha arqueológica pela origem da disfunção, do excesso, do inútil, do sem uso, do sem sentido. Coisas muito longínquas da destruição criativa que Schumpeter dizia ser o facto essencial do capitalismo. Ao invés, o que domina é a sensação do colapso e do desastre, seja Chernobyl, Detroit ou outra hecatombe, com maior ou menor incorporação crítica face ao socialismo real ou ao capitalismo global que rapidamente abandona o circo num lugar para o montar noutro mais favorável.2 É isto especialmente acutilante e sistemático para as ruínas modernas ou para aquelas falsas ruínas do novo inacabado que nem uso chegou a ter por obsolescência acelerada ou por acrobacias especulativas em que preços e quantidades saltam por sobre valores e necessidades, produzindo… destroços. Virilio afirma que quem inventou o comboio, sem o saber, tinha inventado também o descarrilamento. Por isso, o delírio do capitalismo, a vertigem da modernização em modo acelerado e a velocidade do progresso do progresso, teriam afinal um inconsciente suicida que constantemente se enreda e tropeça nos escombros das suas racionais cadeias de causas e efeitos. Acordada ou a sonhar, a razão gera monstros, fantasmas e ruínas, diria Goya hoje. Se é verdade que uma certa solidez do modernismo se dissolveu no ar, não é menos verdade que o processo imparável da modernização apenas ficou beliscado na limpidez utópica das suas grandes narrativas, como escreveu Lyotard, para o sentido único da história, do progresso tecnocientífico, da razão universal, do futuro radioso, da mewtafísica sem deuses. Não se finou a modernidade, exacerbou-se, acelerou-se e globalizou-se sem grandes travões institucionais: os “mercados” seguem imparáveis e desregulados a semearem caos e prosperidade ao mesmo tempo; a ciência e a técnica fugiram da torre de marfim e andam à solta a despertar utopias esperançosas e medos apocalípticos; o indivíduo nunca teve tanto por onde

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escolher e tantas tribos a quem pertencer; a razão em modo digital tem um potencial infinito de cálculo; … penso, logo exausto, escreveria Descartes. Na versão simpática, a ruína é coisa estimada que sobreviveu à destruição total. Na versão heróica, é o memorial de ideais passados-presentes. Na versão hollywood, são mistérios, tesouros e aventuras. Na versão turística, uma coisa linda para fotografar e iluminar à noite. Na versão melancólica, um luto sem perda definida porque de múltiplas perdas…, para Flaubert, a poesia de qualquer paisagem. Certo é que, de tantos sentidos ter, se perdem os sentidos das ruínas em demandas desfocadas para o passado e para o futuro. Por excesso de incerteza, por medo do futuro, ou por dificuldades e urgências do presente, nada como uma ruína para, momentaneamente, funcionar como antibiótico de largo espectro para esta febre de inquietações sem resposta. Mantendo a polissemia e o significado vago, estará a ruína mais apta a ser facilmente colonizada por qualquer sentido, transformando-se num dispositivo de elevado poder simbólico e narrativo. Para uns, um sinal de eternidade; para outros a própria imagem da decrepitude; para uns a glória de qualquer coisa, para outros, o testemunho da disfuncionalidade; para uns, coisa preciosa, para outros, lixo; para uns, celebração, para outros, mau exemplo de coisa a evitar. O diabo. Que pacíficos os tempos onde tudo tinha sentidos fixados em definições escritas por gente respeitada: “Ruína diz-se, na pintura, da representação de edifícios quase inteiramente arruinados. Ruínas belas. Dá-se o nome de ruína ao próprio quadro que representa essas ruínas. Apenas os palácios, os túmulos sumptuosos ou os monumentos públicos devem ser denominados como ruínas. Não podemos de modo nenhum usar a palavra ruína para nos referirmos a uma casa particular de camponeses ou burgueses: diríamos nesse caso edifícios arruinados.”3 Isto era na enciclopédia do século das luzes; experimente-se agora na internet do século electrónico e logo se verá a enxurrada que sai. Na arquitectura e no urbanismo, na fotografia e no cinema, nunca se viu tal proliferação. Veja-se esta lista em estrangeiro: badlands, wastelands, derelict areas, no man’s land, dead zones, urban voids, border vacuums, indeterminate spaces, weak places, spaces without function, empty spaces, niches, cracks, gaps, interstices, unused spaces, junk spaces, temporary autonomous zones, spaces left over from planning, intermediate timespaces, liminal spaces, transition spaces, fallow land, waiting land, residual spaces, obsolete land, fringes, brownfields… e os poéticos terrains vagues de Ignasi Solà Morales mais os não-lugares que servem para tudo de que não se goste, não se entenda ou seja moda falar como quem despeja a bílis. DIDEROT, De la poésie dramatique (1758), in OEuvres esthétiques, éd. Paul Vernière, Paris, 1968. 2 “Research into ruins, we argue, can inform and energize critical investigations of how expressions of power and resistance, and relegation and recuperation, circulate and inhere in all spaces”, DESILVEY, Caitin; EDENSOR, Tim (2012) Reckoning with ruins, Progress in Human Geography, November 27, 2012, http://intl-phg. sagepub.com/ 3 Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, Diderot & d’Alembert, 1751-1772 (edição Stuttgart & Bad Cannstadt, Friedrich Fromann Verlag, 1966, t. XIII, 433, cit. em 1


Certo é que, de tantos sentidos ter, se perdem os sentidos das ruínas em demandas desfocadas para o passado e para o futuro. Por excesso de incerteza, por medo do futuro, ou por dificuldades e urgências do presente, nada como uma ruína para, momentaneamente, funcionar como antibiótico de largo espectro para esta febre de inquietações sem resposta.

1.Templo (…) De facto, são muito poucos os viajantes pelos países do Mediterrâneo que resistem ao poder das ruínas que dramaticamente evocam a demanda da humanidade pela ordem, beleza e a permanência. As suas carcaças arruinadas induzem ainda um sentido de encantamento, evocando mistérios sobre mistérios na mente de especialistas e não-especialistas”1 JONES, Mark Wilson (2000), Principles of Roman Architecture, Yale University Press, New Haven and London, p. X.

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2. Vitrúvio forever “A composição dos templos assenta na comensurabilidade (symmetria), a cujo princípio os arquitectos deverão submeter-se com muita diligência. A comensurabilidade nasce da proporção (proportio), que em grego se diz analogia. A proporção consiste na relação modular de uma determinada parte dos membros tomados em cada secção ou na totalidade da obra, a partir da qual se define o sistema das comensurabilidades. Pois nenhum templo poderá ter esse sistema sem conveniente equilíbrio e proporção e se não tiver uma rigorosa disposição como os membros de um homem bem configurado.”1 1 Marco VITRUVIO (séc I a.C.), Tratado de Arquitectura, Livro III, cap. I, Tradução do latim, introdução e notas por M. Justino Maciel, ilustrações de Thomas N. Howe, IST Press, Lisboa 2009, p.109.

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CRÍTICA

arquitetura

Após a fábrica

Novas abordagens à ruína e aos fragmentos pós-industriais

Inês Moreira, PhD Goldsmiths College

“Vladimir: Let us not waste our time in idle discourse! (Pause. Vehemently.) Let us do something, while we have the chance! It is not every day that we are needed. Not indeed that we personally are needed. Others would meet the case equally well, if not better. To all mankind they were addressed, those cries for help still ringing in our ears! But at this place, at this moment of time, all mankind is us, whether we like it or not. Let us make the most of it, before it is too late! Let us represent worthily for once the foul brood to which a cruel fate consigned us! What do you say? (Estragon says nothing.)1”

assentamentos devastados fixada no olhar subjetivo de, cada vez mais, fotógrafos amadores2 e as promessas de fôlego de grandes planos urbanísticos e imobiliários para regeneração de zonas industriais em terrenos nobres – como nas frentes de rio/mar portuguesas do Mar da Palha/Expo 98 e de Matosinhos Sul onde se demoliram zonas industriais para criar habitação de luxo – procuram-se agora outros modos de intervenção que considerem a materialidade e a história industrial mas, sobretudo, que sejam mais contidos do que as grandes operações do passado. Ansiando uma solução económica para a indústria enquanto sector, hoje aguarda-se pelo entendimento europeu sobre uma “política de reindustrialização” oleada por fundos estruturais, enquanto se seduz investimento estrangeiro. Noutra direção, mais “criativa”, investe-se no produto proto-industrial de qualidade, de pequena escala, na preservação de fábricas que ainda operam, mantendo-as ativas. Ambas direções são relativamente desligadas do edifício, enquanto arquitetura, pois centram-se na produção industrial. Mas serviriam as atuais fábricas – que podem ser entendidas como carapaças funcionais – para albergar novas produções industriais? Serão estas obsoletas e facilmente substituíveis por outras novas?

Autoria: Inês Moreira

A espera: Os edifícios e os espaços pós-industriais dominam a paisagem e os territórios de inúmeras cidades europeias. A deslocalização da produção para países da Europa mais a Leste e para a Ásia, a terciarização, a mudança para tecnologias menos poluentes – como nas centrais de energia –, levam à obsoletização do edifício da fábrica e à sua desadequação enquanto “carapaça” protetora de máquinas. O abandono do edificado corresponde a um pós-vida industrial: após a retirada de máquinas (exportáveis), o desmantelamento e roubo de sistemas (vendidos à sucata) ou o contrabando de peças e materiais nobres (como o cobre ou o ferro) aceleram a desertificação da paisagem e criam novas ruínas contemporâneas. Se a musealização da paisagem em zonas como o Ruhr, ou a reconversão de fábricas como a Tate Modern de Londres ou os Caixaforum de Madrid e Barcelona, apontam numa direção em que a “arquitetura de autor” desempenha um papel fulcral, é também facto que existem extensas “zonas” – como Chernobil, Fukushima ou outros brown-fields – onde a contaminação e poluição industrial tornam a entrada interdita. As fábricas, as ruínas e os vestígios industriais oferecem intensas sensações espaciais, materiais e experienciais a quem as visita. Algumas são letais. O que fazer, hoje, perante a ruína do espaço (e do negócio) industrial? Entre a contemplação romântica da beleza trágica dos grandes

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Dos espaços aos fragmentos: A desindustrialização, no presente cenário de “crise”, remete a eventual recuperação de edificações industriais com interesse histórico e arquitetónico para um futuro distante e não oferece antevisões de usos a uma escala que permita a reocupação massiva das ruínas. Na clarividência de que muito do edificado que ameaça ruína se irá arruinar, ou irá mesmo ruir, interessa, particularmente, repensar novos modos de intervir e de reativação, não apenas como evocação de um passado industrial, mas na presente condição pós-industrial. A investigação sobre fábricas, indústrias e suas ruínas, estabelece usualmente uma distância do caso de estudo e existe uma clivagem, mesmo ausência, de diálogo entre visões económicas sobre o potencial “industrial”, as visões arquitetónicas e técnicas – como as excecionais reconstruções arquitetónicas de fábricas promovidas nos anos 90/2000 –, e outras ocupadas com o seu passado – dos estudos sistemáticos da história ou às análises arqueológicas/forenses de locais e de acontecimentos. Seja pela escala “heroica” da industrialização, a “objetividade” da sua dimensão técnica e económica, seja pela ambição de uma “distância” perseguida por disciplinas como a arqueologia, o património, a história contemporânea, as investigações tendem a oferecer enquadramentos desde “fora”, seguindo categorias das narrativas da industrialização e não deixando, em geral, espaço subjetivo. A condição pós-industrial escapa, porém, ao léxico e às categorias herdadas da indústria. Na confusa condição contemporânea após a indústria existem “coisas” e “sítios” que não são “coerentes”, por tal,

Lavaria das Minas da Borralha


Autoria: Filomena Vasconcelos

tendem a ser desconsideradas: os restos, as vozes, os entulhos, os contaminantes, as matérias, os pequenos elementos que foram parte de uma estrutura maior, que tiveram uma vida funcional na indústria, que viveram outras vidas. Encontramos hoje em abundância os fragmentos pós-industriais e alguns, como veremos, têm potencial narrativo e articulador de preocupações mais abrangentes.

A abordagem efémera para conceção de cenografias/instalações espaciais para acolhimento de novas exposições de arte contemporânea em espaços fabris, que persegui com entusiasmo5, difere da atual abordagem proposta em projetos curatoriais de natureza investigativa6. Refletindo as tais mudanças conjunturais de ambição perante o futuro das exindústrias, embarcamos na evidência (vivência) do “pós-industrial” onde o trabalho de campo traz a progressiva atenção ao detalhe, à lenta transformação do edifício em ruína, convidando ao registo, à recolha de materiais, e à conceptualização do fenómeno. Já não estamos perante a fábrica, coerente, mas numa condição difusa entre entidade material, performativa, espacial, etc., condição que exige outras ferramentas.

Abordagens: Arrisco usar a primeira pessoa do singular para escrever sobre o pós-industrial, pois as experiências a que assisto, e possuo, são as de projetos de investigação, curatoriais, técnicos, com uma dimensão especulativa e criativa. Acreditando numa relação íntima entre aquilo que tenho denominado de relação entre “contentor e conteúdo”3, centrada nos diálogo entre espaços industriais utilizados como locais expositivos e os trabalhos artísticos ali expostos, nomeadamente nas continuidades entre “presenças e ausências” que se podem intuir/perceber em espaços marcados por usos anteriores, tenho vindo a explorar abordagens à potencialidade destas relações em projetos desenvolvidos em/para espaços industriais4. Se os processos de ocupação antes/após a atividade industrial vão transformando os espaços, igual papel têm as ocupações temporárias, como as expositivas, pois o antes/após marca física e culturalmente os locais e, em parte, os processos de gentrificação das zonas “leste” das cidades ocidentais passa pelo acolhimento de projetos culturais/ ateliers/artistas que “elevam” o potencial das ex-instalações industriais para posterior especulação imobiliária. Mas agora, num contexto crescentemente mais deprimido em termos industriais, imobiliários e também culturais, urge descobrir novos modos de relação.

Fragmentos: Os espaços e ruínas pós-industriais ecoam com narrativas e figurações que, creio, merecem ser ouvidas, abordagem que explorei no projeto de investigação “Edifícios & Vestígios” (E&V)7, cocomissariado com Aneta Szylak. Procurámos auscultar relações de “presenças e ausências” que se encontram no espaço e as descontinuidades de escala entre “contentor e conteúdo”. Para considerar os fragmentos e ruínas pósindustriais olhámos a diversos processos de transformação: da construção à produção, aos processos de decadência e de degradação, como aos novos usos, formais e informais, de ocupações, roubos, reutilizações e também, em casos mais esporádicos, à reconstrução formal. Conjugando passados, presentes e futuros numa única leitura encontrámos os espaços, suas histórias e narrativas, qual palimpsesto, revelando histórias que coexistem, se atropelam e que implodem numa mesma estrutura. Descobrimos que o abandono, deterioração, desmantelamento e estados avançados de ruína são estados de incompletude e devem ser entendidos como novos estados de espacialidade e de materialidade. E, entre projetos artísticos, de arquitetura, de fotografia, som ou mesmo de cinema, desenvolvemos também desafios a projetos investigativos de natureza mais “científica” para explorar os fragmentos disfuncionais. Desses, seguem-se 3 exemplos:

A Porta como Passagem (Central Elétrica do Porto)

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Artes

ensaio

Usos e recursos da arte contemporânea Instalações fabris, economia e estética do abandono na era pós-industrial

Sandra Vieira Jürgens|sandravieirajurgens@gmail.com

A partir da década de sessenta do século XX foram muitas as exposições e os espaços culturais que ocuparam um vasto património imobiliário em processo de degradação, que podia ser cedido aos artistas por entidades municipais e privados a troco de rendas baratas. Esta foi de resto uma das principais características da primeira geração de estruturas independentes, surgidas em Londres e Nova Iorque. Em St. Catherine’s Dock, Londres, os armazéns vazios das antigas docas da margem sul do Tâmisa ofereceram uma solução para a falta de espaços sentida pelos artistas. Assim surgiram o Space (1968-1978) criado por Bridget Riley, Peter Sedgley e Peter Townsend em 1968 ou o Acme Studios formado por Jonathan Harvey e David Panton, em 1972. Em Nova Iorque, em 1971, Alanna Heiss criou o The Institute for Art and Urban Resources, uma organização sem fins lucrativos, cujo objetivo era encontrar espaços urbanos vagos e transformá-los em estúdios e locais de exposição para a comunidade artística. Antes de se estabelecer numa escola pública desativada em Queens, em 1976, o Instituto tinha ocupado uma antiga oficina no SoHo, na 10 Bleeker Street, e criou depois a Clocktower Gallery nos andares superiores de um edifício de escritórios perto de Canal Street e ocupou uma fábrica abandonada em Coney Island, nas margens do Canal Cropsey (Coney Island Factory) . A apropriação destas estruturas, determinada pelo contexto de pósindustrialização e pela situação económica da comunidade artística, com poucos recursos e capacidade de investimento financeiro para a sua recuperação, teve um significado político, de criação de alternativas à concepção fechada de “lugares da arte” e paralelamente estético, na medida em que os evidentes sinais de degradação e o abandono dos seus ambientes escuros e crus, vieram a revelar-se uma constante fonte de inspiração para os artistas que souberam integrar as características arquitectónicas gerais dos espaços, o chão, as paredes, os tetos nos seus trabalhos. Os locais onde algumas destas exposições se realizaram também ofereceram outras possibilidades de expandir os limites de utilização do espaço, reforçando-se a performatividade e a informalidade através da atmosfera propiciada pelos contextos de exposição. Na medida em que as salas e espaços integram-se em construções antigas que não foram usadas durante largos anos, nem sujeitas a obras de recuperação e de manutenção, os ambientes permaneceriam degradados, com pavimentos sujos, marcas de humidade e de infiltrações que transmitiam uma intensa impressão de decadência. Não sendo espaços anónimos e abstratos, estes foram aspetos decisivos que contribuíram para a maior informalidade do resultado. Em 1976, Brian O’ Doherty, na terceira parte do conjunto de artigos que

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escreveu para a Artforum1, refere a noção do “contexto como conteúdo”, explicando que estas práticas artísticas visavam expor o contexto espacial e institucional da obra de arte, em vez de um objeto autónomo. Por exemplo, para Gordon Matta-Clark o interesse em intervenções em estruturas em ruínas, com a utilização da parede e do chão, assim como o uso de materiais precários e perecíveis, tornou-se uma forma de integrar o espaço envolvente e preservar a relação entre o trabalho e o seu local de produção. Também no âmbito da primeira exposição organizada no P.S.1 intitulada Rooms, que teve lugar nas salas de aula em ruínas da velha escola pública e onde participaram entre outros, Richard Serra e Walter De Maria, Nancy Foote referia em “The Apotheosis of Crummy Space” (1976)2, que como outras exposições realizadas em espaços independentes, esta produzia uma “aura de autenticidade”, já que não mascarava a realidade, a natureza decadente dos espaços. De resto, Foote atribui essa característica ao facto de os artistas trabalharem num regime estético instalativo site-specific, respeitando a atmosfera estética muitas vezes decadente que encontram nesses espaços. Em Portugal, este movimento decorreu com a realização de exposições em espaços que estavam associados a diferentes funcionalidades, industriais, comerciais, ou habitacionais, que foram reutilizados para uma nova função. Refira-se a exposição Espetáculo, Exílio, Deriva, Disseminação. Um projeto em torno de Guy Debord, que decorreu nas instalações duma antiga fábrica desativada, a Metalúrgica Alentejana, em Beja, em 1995. No seu texto de catálogo, Jorge Castanho, diretor da Galeria dos Escudeiros, de Beja, e comissário do projeto, encorajava os artistas a trabalhar a partir do espaço, e atendendo às condições físicas e espaciais do ambiente expositivo e ao contexto económico e sociológico: (...) ao apresentarem os seus projetos nas antigas instalações da metalúrgica alentejana (os artistas) não serão alheios ao efeito escabrosamente espetacular que uma Fábrica abandonada proporciona, sobretudo quando encerrou as suas portas em pleno potencial de

Fotos: Paulo Mendes Archive Studio

O uso de edifícios, fábricas, armazéns em estado de abandono, desocupados, devolutos, improdutivos, degradados, tornados obsoletos no período pós-industrial, marcou a realização de exposições e desenvolvimento de práticas artísticas que fazem eco de concepções estéticas e das condições espaciais em que se integram, espaços em ruínas que tornam possível a experimentação de condições de instalação espacial e a criação de obras e instalações específicas.


TERMINAL, Hangar K7, Fundição de Oeiras, Oeiras, 2005

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dESIGN

ensaio

Julian Mayor Os designers arquitetos

Carla Carbone|carlacarbone@yahoo.com

Antes de falar em “construções”, e habitats, é necessário percorrer, de forma indelével, todo um período da história do design, e alguma arquitetura. Isto se enquadrarmos a discussão num ambiente de design. Como se fosse um raciocínio ao contrário. Quanto ao que se afirma ser design e arquitetura, por vezes a fronteira é tão ténue, que é difícil determinar a sua definição. Se reportarmos ao que Salette Tavares terá referido nos seus textos sobre design, uma estrutura habitada não poderá ser entendida como objeto, assim como um objeto que é manipulado e manuseado, não poderá ser visto como monumento. E é nessa deambulação das coisas que ficamos conscientes da sua ambivalência definidora (ou diferença esclarecedora). Julian Mayor embora designer, criou estruturas de cariz arquitetónico, em que uma das suas principais preocupações era construir a ponte/relação entre o tradicional/manual e as nova tecnologias, aliás, preocupação corrente de muitos dos designers da década passada. Nas intricadas estruturas/coberturas que cria denota-se essa preocupação na exploração das novas tecnologias, aliando o tecnológico ao orgânico. Por novas tecnologias não seria despiciendo falar dos ambientes, dos quotidianos que se desenvolveram no período que se estabeleceu da produção industrial. Entre 1940 e 1945. Não se pode por isso esquecer o “papel” (muito lamentavelmente) da guerra nestas mudanças dos ambientes e paisagens quotidianas. Os antagonismos ideológicos, os confrontos entre nações trouxeram uma preocupação acrescida nessas transformações. Era preciso provar a força das nações, a sua autonomia. Essa transfiguração trouxe, por outro lado a um enfraquecimento do que é local, do artesanal, daquilo que, mais autóctone, define um povo, uma tradição. Por culpa da intromissão e prepotência, da urgência industrial, da “penetração de modos de vida próprios de países industrializados”. Esta prepotência cultural e tecnológica, em que se acreditava cegamente na máquina fomentava aquilo que, hoje, podemos dizer, se tornou o mais contraproducente na evolução dos artefactos e bens culturais do século XX, a produção uniformizada – “ao ponto de, em matéria de arquitetura e habitat, depois dos anos 20, se falar de estilo internacional”. Este aliar o artesanal/orgânico ao tecnológico reporta evidentemente para os conceitos e termos veiculados na primeira metade do século XX. Aí, artesanal e industrial não se misturavam, eram duas realidades perfeitamente antagónicas: as expressões “produção em massa”, “design”, surgiam e formalizavam práticas de produção de objetos úteis em massa, e sob uma perspetiva global. O termo design reproduzia-se no quotidiano falante muito por intermédio da ideia de produção em fábricas, fossem essas produções utensílios, tecidos, papeis, veículos, máquinas, aparelhos vários. Se fosse anglosaxónica, a expressão, ela não teria que partir única e exclusivamente da produção em massa: posters, afixos, tecidos, móveis, podiam ser, previamente fabricados em ateliês. Já em França o termo “design” vem mais “colado” ao seu primogénito “esthéthique industrielle”, e será utilizado apenas para definir a produção exclusivamente industrial,

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definindo o que mais tarde se denominaria “industrial design”. Determinando essencialmente o a produção em série, na fábrica, de objetos de consumo: Progressivamente e rapidamente vai tornar-se “sinónimo de permanente pesquisa estilística inovadora”, fenómeno que provocará outro, como que o da moda, que encontrará expressão na arquitetura de interiores, mobiliário, etc. Assim, pôde definir-se design “como a parte da criação que, aquando da conceção de um objeto assegura a coerência entre os imperativos técnicos de fabricação, a estrutura interna do objeto, o seu valor de utilização, e o seu aspeto” (Guidot, 2000). Esta definição apresenta forte relação com toda a mecanização e industrialização do termo. Manifestando, nos seus princípios, que, para haver design, e para ser design é preciso que lhe estejam associadas propriedades de produção de utensílios em série. As estruturas de Julian Mayor reportam para as memórias remotas dos primórdios da industrialização, aquando das pontes de Telford e Brunel, em ferro, ou as construções de Eiffel e Stephenson, deixando, no interior dos edifícios, portentosos, a entrada de luz. Remontam a estes tempos o desenvolvimento de “cálculos de resistências dos materiais”, e a experimentação de diversos materiais. Como é próprio do final do século passado, década de 90, e década passada, entre 2000 e 2010, sensivelmente, os designers, fora e dentro, de um âmbito industrialista, procuraram inovar, estruturalmente, mesmo que inicialmente não tivessem a clara noção da utilidade para as quais, as formas e estruturas, se desenvolveram. Convém lembrar que, numa perspetiva “desestruturadora”, ou opositora das velhas conceções de design a própria definição sofreu transformações, tornando-se mais difícil, nessas décadas, encontrar uma definição que separasse arte do design, entre outras áreas. A partir de um certo momento, design ganhava uma definição mais alargada. Distanciando-se de uma conceção racionalista e funcionalista referida tantas vezes em décadas anteriores, como que, pelo próprio Adolf Loos, ou Louis Sullivan. As estruturas de Julian Mayor evocam os finais do século XIX e inícios de XX, não na sua forma mas nos seus processos: de cariz racionalista tendente a um geometrização, mas de carácter orgânico, quase formalmente naturalista. Sempre num registo de laboratório, experimentalista, de pesquisa tecnológica, que parece caracterizar o designer. As crises/carências económicas, e as guerras, têm revelado propícias à criação de novas soluções e formas, despertando a apetência experimental, em todos os domínios dos conhecimentos técnicos. Não fossem as Regency Benches de 2005 e poderíamos dizer que se tratavam de uma resposta a esta conjuntura económica que a Europa atravessa. As Regency Benches, de Julian Mayor são séries de três ramos em aço inoxidável instalados no parque que se encontra nas traseiras da Tate Britain Gallery em Londres. Desenvolvem-se estas formas em resposta


Regency Benches, 2005, Westminster Council, em Londres

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Dossier

freshlatino 02 es un proyecto que parte de una selección de doce oficinas de arquitectos iberoamericanos, que utiliza el formato de vídeoinstalación y una plataforma multimedia online para dar a conocer su producción: unas veces minúsculas construcciones, otras veces sus obras transitan entre el lenguaje artístico, el activismo o el diseño tecnológico y la arquitectura, rompiendo los límites entre las diversas disciplinas, o proponiendo una nueva forma de acercarnos a la complejidad de la ciudad contemporánea y la forma de vida de sus habitantes. España, y las relaciones que sus jóvenes arquitectos han desarrollado con sus colegas del contexto iberoamericano, se han convertido en el laboratorio de una arquitectura novedosa que se aleja de las discusiones formales y estilísticas, para adentrarse de lleno en lo social y en su relación con un entorno sostenible. Un terreno en el que la arquitectura no constituye un fin en sí misma, sino que actúa como mediadora y catalizadora del desarrollo de proyectos colectivos. Estas experiencias ya han consolidado una alternativa organizativa, material y económica, que ha despertado y conmovido a la comunidad internacional, hasta el punto de llegar a convertirse en un movimiento de transformación global. freshlatino 2 es la segunda edición del archivo de jóvenes arquitecturas españolas e iberoamericanas, que promueve el Instituto Cervantes desde el año 2009. Creado por la comisaria Ariadna Cantis, para esta segunda edición incorpora a un segundo comisario experto, Andrés Jaque, que aporta un corpus con diez términos básicos para entender y reflexionar sobre qué caracteriza o une el trabajo de muchos jóvenes arquitectos, entre los que contamos con los 12 grupos seleccionados: Acontecimientos, Descajanegrización, Disputa, Empoderamiento, Antroponocentrismo, Laboratorizar, Redistribuciones, Reapropiaciones, Resiliencia y Solidaridad. março|abril 2014

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C+ Nerea Calvillo Proyecto: Dispositivos de visualización www.cmasarquitectos.net mail@cmasarquitectos.net nereacalvillo1@telefonica.net

Al Borde David Barragán, Pascual Gangotena, María Luisa Borja, Esteban Benavides Proyecto: Escuela Esperanza www.albordearq.com contact@albordearq.com

i. acontecimientos

La arquitectura no son los edificios, sino las situaciones y los acontecimientos que ocurren en ellos. Se puede hacer arquitectura con muros y con vidrios, pero también con manteles, tomates y sangría. Explorar la manera en que la arquitectura puede construir en el tiempo y no solo en el espacio es una de las preocupaciones que afronta una parte importante de las prácticas actuales. Nuestro día a día se construye en la manera en que cosas diferentes (como nuestros cuerpos, las sillas o el periódico, por ejemplo) llegan a ponerse en juego como aliados en la activación de una misma realidad. Es en este grado cero de las relaciones en el que son posibles las más radicales innovaciones sociales y en el que los ensayos pueden darse con la máxima precaución. 140

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ii. antroponocentrismo

Para muchos la naturaleza no debería ser considerada la despensa de la humanidad. Tampoco sería exacto ver los recursos materiales, los patrimonios artísticos, tecnológicos e históricos como propiedades disponibles. La creación de marcos regulatorios en los que sea posible la simetría entre seres vivos, patrimonios materiales e inmateriales, y medio físico atraviesa todos los estamentos de nuestra cultura, y también la arquitectura. Entender que cualquier individuo de un ecosistema depende de todo un contexto de presencias diversas, ha llevado a pedir una carta de ciudadanía y pactos sociales que reconozcan y otorguen derechos a los «no-humanos». março|abril 2014

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News

marketing

Maria Rodrigues | mrodrigues@revarqa.com Carmen Figueiredo | cfigueiredo@revarqa.com

Novo Sistema de Correr

Colour Living A CIN desvenda as tendências de cor para 2014 no seu novo catálogo, inspirado no tema Colour Living. Composto por quatro coleções repletas de cor – True Living, Vital Living, Stylish Living e Hyper Living -, que representam quatro formas de viver a casa e as cores, este novo catálogo de 28 cores exclusivas da CIN marca a moda no que se refere à decoração da casa. “Este ano, as Tendências CIN contam a história de quatro modos de vida, quatro formas de viver a casa, quatro formas de viver as cores.”, refere Céline de Azevedo, designer de cor da CIN. “2014 é um ano para renovar a casa e dar-lhe um novo ar, em coerência com o nosso estado de espírito, em perpétua evolução.”, acrescenta a responsável. Há 14 anos a lançar o catálogo de tendências de cor, a CIN mantém-se como a primeira empresa de tintas no mercado nacional a desenhar todos os anos novas sugestões coloridas e inspiradoras. Estes catálogos já se tornaram, inclusive, uma referência ibérica, sendo objeto de procura entre os consumidores e profissionais mais exigentes. www.cin.pt

O novo sistema de correr elevável 4600 HI (High Insulation), desenvolvido pelo Departamento de I+D+i da empresa galega Cortizo, está especialmente indicado para zonas que requerem soluções eficazes em condições de climatologia severa, dando resposta às estritas exigências das diferentes normativas de edificação, vigentes nos países europeus. Oferece excelentes valores de transmitância térmica, desde 1.0 (W/m2K), característica que lhe confere um excelente nível de eficiência energética, devido à perfeita combinação de uma zona de rotura de ponte térmica (que soma o uso de poliamidas de 35 e 24mm e perfis de PE reticulado), com a grande capacidade de envidraçado que, juntas, permitem a instalação de vidros de até 55mm de espessura. www.cortizo.com

“Beyond The Wall”, de Daniel Libeskind Uma imponente espiral policêntrica, a Beyond The Wall. É este o resultado de mais uma colaboração entre o prestigiado Daniel Libeskind e o Grupo Cosentino, empresa líder na produção e distribuição de superfícies inovadoras para o mundo da arquitetura e do design. Esta estrutura singular é criada a partir do inovador material Dekton, by Cosentino, e não se trata de uma espiral tradicional com um centro e um eixo únicos, mas sim de

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News

marketing

Aplicação móvel pedagógica para crianças

uma espiral contemporânea, que abre uma multiplicidade de direções em várias trajetórias distintas. Dekton possui características técnicas que permitem a decoração em todo o volume do material, podendo recriar qualquer tipo de materiais, com um alto nível de qualidade, fabricado em placas de grande formato. www.cosentino.pt

Conferência Hidrópolis No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Água, o Roca Lisboa Gallery e a Fundação We Are Water apresentaram recentemente a conferência Hidrópolis – As relações entre a água e a arquitetura nas cidades contemporâneas.

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O evento juntou um ilustre painel de oradores composto por Pedro Inácio, Coordenador do Arquivo Histórico da EPAL, António Nabais, Historiador, Museólogo e Diretor de Conteúdos do Pavilhão do Conhecimento dos Mares - Expo 98, Lívia Tirone, Arquiteta, Especialista em temas de Urbanismo e Sustentabilidade e Carlos Barbosa, Professor e Coordenador do Núcleo de Design para a Sustentabilidade do IADE. O debate teve como tema principal a importância da gestão dos recursos hídricos nas cidades contemporâneas, bem como a necessidade de tornar os meios urbanos cada vez mais eficientes do ponto de vista energético. www.wearewater.org www.rocalisboagallery.com

A Vulcano, marca portuguesa líder em soluções de água quente e solar térmico, em parceria com a Criamagin, agência de multimédia para conteúdos infantis, acaba de lançar no mercado a aplicação móvel (app) Aprender Tecnologia e Energia. Trata-se de uma app educativa e gratuita, destinada a crianças dos 6 aos 12 anos, que promove o conhecimento nestas áreas de forma interactiva e dinâmica. Nesta aplicação, os mais pequenos são convidados a aprender de forma divertida conteúdos relacionados com Energia – eficiência energética, energias alternativas e formas de poupar energia –, e Tecnologia – funcionamento de equipamentos tecnológicos, grandes invenções, introdução aos computadores, à Internet e às comunicações. Para saber como funciona a app Aprender Tecnologia e Energia aceda a: https://itunes.apple.com/pt/app/ id784438713?mt=8&affId=1860684 www.vulcano.pt



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