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1 Esse primeiro numero da Arqrevista, a revista da Arqdonini, nasce com a responsabilidade de se tornar um veiculo de diálogo.. A idéia é abrir uma fresta no site (com ida e volta), por onde alguns projetos possam ser vistos com mais intimidade, como se, de fato, estivessem ainda na prancheta. E é nessa prancheta aberta que caberão idéias, relatos, discussões de caminhos, explicações, etc., sem o compromisso de se chegar a conclusões. É claro que assunto nunca falta e, tratando-se de arquitetura ( boa ou ruim, útil ou inútil, responsável ou não), São Paulo se oferece como prato cheio, clamando por discussões. Nossa idéia, evidentemente é se ater às coisas boas, e tentar cativar curiosos, pessoas que gostam de se aprofundar em temas como espaço, luz, materiais, tecnologia, ou simplesmente queiram acesso a mais dados sobre esse ou aquele projeto. A cada número (não definimos a periodicidade), mostraremos um trabalho, que por qualquer razão mereça mais exposição do que os que podem ser vistos nos livros integrantes do site. Normalmente a escolha se dará por razões afetivas e pela crença de poder estar mostrando algo mais, mesmo quando, eventualmente, dedicarmos algum numero a um trabalho já publicado em outras revistas. Marco Donini mdonini@arqdonini.com.br
Condomínio Parque Villa Lobos Para aumentar a responsabilidade do primeiro número, escolhemos um projeto que, além de arquitetura, tecnologia, mercado, etc, (questões inerentes ao empreendimento), discute primeiramente urbanismo. Falar disso em uma cidade como a nossa parece retórica, mas é coisa séria e nos afeta de forma ainda mais abrangente do que a própria arquitetura. O urbanismo é mais urgente, pois pode definir inclusive a arquitetura necessária, a escala ideal ou próxima do ideal, o volume mais adequado, ou tipo de edificação possível a cada contexto. Esse empreendimento surgiu, coincidentemente, respeitando um tratado urbanístico. Um projeto da Companhia City, que parecia prever, melhor do que ninguém em sua época, as armadilhas que a cidade criaria para si, e com isso protegeu em um emaranhado de restrições as áreas que comercializou. Portanto, a opção nesse projeto por um conjunto de edifícios gabaritados em três pavimentos não foi um vislumbre nosso, mas sim do loteador. A avenida que lhe dá endereço já perde um tanto do caráter residencial imaginado, em função do corredor de veículos que forma. Logo, a possibilidade citada, de poder ali serem construídos edifícios baixos, multifamiliares, abriu um importante instrumento de preservação do próprio bairro; garantiu continuidade e principalmente a não degradação da avenida com a transformação gradual e irregular de instalações comerciais camufladas. Quando afirmamos que isso é tema de discussão sobre urbanismo, estamos extrapolando as discussões recorrentes sobre Plano Diretor e Código de Edificações. Estamos falando de bom senso, de preservação, de bem-estar e meio ambiente. Não estamos querendo reinvidicar qualquer mérito por um projeto com maior ou menor adequação, mas queremos com este acender essa discussão do que possa ser mais ou menos conveniente a cada bairro, ou a cada rua, e que possivelmente ainda não foi realizado por inúmeras razões, mas que certamente poderá acontecer. Acreditamos ser esse o momento de pensar em tudo isso.
Muito deverá ser modificado com o novo Plano e estamos todos apreensivos com o que temos de reaprender, mas talvez seja essa a melhor hora de nos colocarmos a disposição do rumo melhor que a cidade pretende garantir a nós habitantes. Parece discurso político, mas certamente é entusiasmo por uma saída. São Paulo precisa dessas saídas, parece que todos sabemos disso e sem exceção, lamentamos a baixa qualidade de nossas casas e bairros; nos vemos com poucas opções de algo melhor. Projetos que se concretizam como novas propostas de moradia e ocupação urbanística têm de ser olhados com mais curiosidade. Há pouco vimos proliferar pela cidade o resultado da Lei de Vila, que pareceu ser a saída que buscávamos. Somente depois é que percebemos sua limitada aplicabilidade em boas propostas de implantação; mas devemos deixá-la de lado, devemos melhorá-la, reinterpretá-la e fazer melhor uso do que o que estamos vendo por aí acontecer; mas nunca descartá-la. São Paulo prescinde de diversidade de propostas para moradia mais humana, seja verticalizada, horizontalizada, ou qualquer outro caminho que possamos eleger como uma boa saída para esse dilema. O projeto que inaugura a Arqrevista tenta dar um pouco de luz a esse tema e sinceramente esperamos estar contribuindo com a cidade que tanto nos dá e tanto nos consome. Sinta-se em casa.
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