PROPS da percepção corporal à pratica de Yoga | Maline Ribeiro

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Props

da percepção corporal

à prática de Yoga

Maline de O. Ribeiro



Centro Universitário Senac Maline de Oliveira Ribeiro

Props

Da percepção corporal à prática de Yoga

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Pedrosa

São Paulo 2018



Agradecimentos

Meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho, em especial ao meu orientador Gabriel Pedrosa, por abraçar a ideia e pela paciência, aos meus colegas Fernanda, Thammy, Juliana, Carol Picchi, Carol Nascimento, Mari Silva, Bernardo, Filipe, Murilo, Karine, Arthur, Patrícia e Kelvin, por terem participado, fosse através dos testes aqui presentes ou por uma palavra de incentivo. Agradeço também os profesores Paulo, Adriano e José e aos técnicos Lucas, Félix, Lorenzo e Edna por todos os conselhos e pela ajuda. Muito obrigada. Quero agradecer em especial minha tia Emi, não só por ter feito parte deste trabalho, mas por ter me recebido de braços abertos durante todos esses anos de faculdade, não sei como dizer o quão grata sou por todo o carinho e aprendizado. Agradeço também aos meus professores de Yoga, Rachel, Juliana, Bruno e Didi, por auxiliarem em cada passo ao entrar nessa jornada pela Tradição. Agradeço a Mônica, com quem eu mais aprendo do que ensino em nossos encontros, sou grata por ter uma mulher tão sábia no meu dia a dia. Obrigada Bárbara e Marília, por estarem ao meu lado em todos os momentos, vocês são minhas irmãs de coração. Agradeço também a minha família, principalmente minha irmã, Pauline, que tenho dúvidas se é mais nova do que eu, pois aprendo muito mais com ela do que o contrário; e aos meus pais, Victor e Mara, não só pelo apoio, mas também pela criação que nos deram, vocês sempre nos incentivaram a buscar o que realmente importa, foram os nossos primeiros mestres. Gratidão!



Resumo O presente trabalho se baseia no estudo e análise de Props, objetos que auxiliam em posturas de yoga, desenvolvidos pelo professor B.K.S. Iyengar. A partir da análise dos existentes e de um aprofundamento na questão da percepção corporal, o objetivo é criar um equipamento corporal seguro que atenda as necessidades de determinadas posturas, despertando a percepção e autoconhecimento do praticante, a fim de que o mesmo evite lesões e obtenha um melhor resultado em seu desenvolvimento durante sua prática. Palavras-chave: Projeto - Equipamento Corporal - Ergonomia - Percepção Corporal - Yoga - Ásana

Abstract The present work is based on the study and analysis of the Props, objects which helps in building yoga postures, developed by the instructor B.K.S. Iyengar. From the analysis of existing ones and by a deeper understanding of corporal perception, this work’s objective is to create a safe corporal equipment for selected postures, in order to awaken the perception and self-knowledge of the practitioner, avoiding injuries and obtaining a better result in their development during their practice. Key-words: Project - Corporal Equipment - Ergonomics - Body perception - Yoga Asana



Sumário 1. 2. 2.1. 3. 3.1. 3.2. 4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. 4.6. 4.7. 4.8. 4.9. 4.10. 4.11. 4.12 4.13. 4.14 5. 6. 6.1. 6.2. 7.

Introdução Yoga: tradição, contexto e prática Props O corpo e a percepção corporal Bandhas Ásana O equipamento corporal Testes para a compreensão da percepção corporal através de objetos variados. Testes com o objeto Teste com outras pessoas Equipamento com as alterações Testes com o equipamento Testes com outras pessoas Testes sob a perspectiva dos bandhas, alinhamentos e explicações de professores durante a prática Aperfeiçoamento do colete Estrutura retrátil Processo de execução Análise e funcionalidade do equipamento proposto Adaptações Testes com o novo equipamento corporal Conclusões gerais Projeto Prática Testes iniciais Uma aula com o equipamento corporal proposto Considerações finais

8 - 11 12 - 17 17 - 23 24 - 27 27 - 28 28 - 30 31 - 33 33 - 36 37 - 38 39 - 40 41 42 43 - 44 45 - 46 47 - 50 51 52 - 53 54 55 - 56 57 - 66 67 68 - 73 74 75 - 77 78 - 79 80 - 81


1. Introdução


O Yoga é uma das seis escolas filosóficas da Índia, onde o caminho espiritual, a vida em sociedade, a conduta e moralidade, e a maneira como lidamos com nosso corpo físico e psíquico são baseados em um estilo de vida que nos auxilia a chegar aos nossos objetivos, mantendo um equilíbrio entre corpo, mente e consciência. Essa integralidade e visão não-dual se tornou objeto de meu interesse nos últimos anos, e por isso comecei uma formação em Hatha Yoga, com o objetivo de me aprofundar em tais questões. Dessa forma, a ideia de trazer o universo do Yoga para o trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo, surgiu de uma convergência entre o corpo e o objeto, apresentada em uma das aulas da formação, na qual tive contato com os Props idealizados pelo professor B.K.S Iyengar, e hoje utilizados na prática de Iyengar Yoga, enxergando então um ponto de conexão. Como veremos ao longo do trabalho, o foco do projeto está centrado em uma pequena parte do Yoga: a prática de ásanas, posturas corporais que trabalham o corpo e a mente, unindo permanência e respiração com o intuito de promover uma transformação interna, atingindo tranquilidade mental e vigor corporal. Primordialmente, a prática era utilizada pelos sábios para alcançar a iluminação espiritual; no mundo atual esse preceito se mantém, porém, tendo em vista o mundo ocidental, o Yoga tem sido trabalhado como um grande beneficiador para nosso estilo de vida frenético, auxiliando seus praticantes a buscar um estilo de vida mais saudável e condizente com a natureza humana. Compreendendo, então, que atualmente a prática de ásanas e meditação vem se tornando cada vez mais comum, sendo possível praticar em espaços de Yoga, academias de ginástica ou mesmo assistindo a vídeos na internet, o objetivo do trabalho é dar um maior auxílio para os praticantes iniciantes e também para os instrutores, para que possam realizar ou explicar as posturas da maneira mais correta possível e absorver ou transmitir todos os benefícios, sem causar por um movimento desempenhado de forma errada. Logo, o trabalho se baseia no conceito utilizado por Iyengar, de que qualquer pessoa pode praticar e que o yoga carrega em si a função terapêutica, dentro de sua imensidão de benefícios. Cabe ressaltar aqui os estudos científicos que começaram a ser realizados no século passado sobre as mudanças provocadas no corpo pelo Yoga. Estes estudos foram conduzidos pelo Swami Kuvalayananda, em 1924, e enfocaram mudanças na pressão arterial, pressão do ar no esôfago e o desempenho cardíaco durante e após a prática de várias posturas e de exercícios respiratórios. O estudo no campo científico e da medicina sobre os efeitos do yoga, tanto no psicológico quanto no físico, começaram a ganhar enfoque nas universidades a partir da segunda metade do século XX, com o objetivo de compreender de maneira sistemática, e com uma visão ocidental, o que é o Yoga e qual o seu papel na área da saúde. Levando em consideração que existem muitas linhas e escolas de Yoga que divergem entre si, e que muitas vezes 11


preferem manter a tradição de maneira exclusivista, como um conhecimento velado e disponível a poucos, optou-se, neste trabalho, por ter-se como foco principal posturas já conhecidas e que possam ser trabalhadas por iniciantes, independente da linha de Yoga, pois o objetivo é a autopercepção corporal, no sentido de corrigir a postura e absorver os benefícios que elas geram. Outro aspecto importante a ser levado em conta no cenário brasileiro, e que também dá suporte ao trabalho, é o fato de que o Yoga foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) como uma prática incluída na Política Nacional de Práticas Integradas e Complementares (PNPIC). Segundo o anexo da lei n. 8.080 “A prática de Yoga melhora a qualidade de vida, reduz o estresse, diminui a frequência cardíaca e a pressão arterial, alivia a ansiedade, depressão e insônia, melhora a aptidão física, força e flexibilidade geral”. Nosso mundo em rápida transformação apresenta novos riscos e desafios que podem afetar nossos corpos e nossa saúde. Mas ele também nos fornece as possibilidades que nos permitem escolher nosso modo de viver o dia-a-dia e de cuidar da saúde. Os sistemas médicos e de saúde estão sofrendo enormes transformações que permitem aos indivíduos um papel mais relevante no tratamento e cuidado das doenças. As relações entre médicos especialistas e pacientes estão mudando, e as formas “alternativas” de medicina estão se tornando cada vez mais populares. (SIEGEL, apud Giddens, 2010, p. 63)

Sendo assim, compreendendo a prática de ásanas como trabalho físico, psicológico, emocional e mental de seus praticantes, que dá suporte para a melhora e manutenção da saúde de um indivíduo, principalmente se levarmos em consideração o ritmo de trabalho imposto pela vida urbana, de longas viagens diárias, horas de trabalho sentado, uso excessivo de computadores, etc; a presente pesquisa se propõe a estudar o uso dos props, objetos criados pelo professor BKS Iyengar com o objetivo de auxiliar em posturas de Yoga, de maneira terapêutica, a fim de evitar lesões, dando suporte a todos os tipos de pessoas e corpos para praticar e usufruir de tantos benefícios que essa tradição tem a oferecer, para então propor um equipamento corporal que se enquadre nos quesitos citados anteriormente. O método de trabalho utilizado para a criação do equipamento foi direcionando o projeto a um modelo funcional, que posteriormente foi testado com outras pessoas, tanto praticantes regulares como aqueles que não possuíam contato com a prática. A partir de suas observações, foi possível desenvolver e aprimorar o equipamento. Por fim, com uma melhor definição do que seria o equipamento corporal, um colete, foi necessário compreender questões como modelagem, estrutura, fechamentos, etc. A intenção é, portanto, propor um equipamento simples de vestir e de 12


regular, que possa ser utilizado em escolas, academias ou consultórios, sob a supervisão de um instrutor que guie o uso do objeto, entretanto, levando em consideração a realidade atual de muitas pessoas que praticam em suas próprias casas utilizando plataformas virtuais como guias e sem orientações específicas de um instrutor que avalie sua postura, o equipamento, que não pretende substituir um profissional, pode melhorar a qualidade destas práticas. Assim, o equipamento tem a finalidade de indicar o sentido correto da postura, sem impedir ou impelir o praticante, para que a partir de sua própria percepção corporal ele se torne capaz de realizar o ásana. Cabe ressaltar que o uso do colete deve ser provisório, um norte que guia o praticante no início da jornada, pois a partir do momento em que ele domina a postura, o colete se torna dispensável em sua prática. Ao longo do trabalho será demonstrado todo o processo de criação do equipamento corporal, levando em consideração os aspectos já citados, como o contexto de uso (a prática de Yoga), os Props existentes, as definições de percepção corporal e trilhos anatômicos (integralidade do corpo), o tipo de objeto a ser desenvolvido, e a trajetória de todos os testes que foram realizados até a constituição do equipamento final. Também serão abordados os aspectos produtivos e de execução do equipamento e uma proposição de aula realizada com ele.

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2. Yoga: Tradição, Contexto e Prática.


A definição de Yoga é complexa e existem inúmeras formas de abordar o assunto. Segundo Feuerstein, “o Yoga é um fenômeno multifacetado e, como tal, é muito difícil de definir, pois para cada regra concebível terá as suas exceções. O que todos os ramos e escolas de Yoga têm em comum, porém é o fato de estarem ligados a um estado de ser ou de consciência que é realmente extraordinário”. No ocidente, o conhecimento sobre o Yoga, de maneira geral, baseia-se apenas em partes que o compõem: a prática física e a meditação, entretanto, a distância entre o primeiro e o segundo é grande e, no meio, existem diversos passos a serem seguidos e compreendidos. Yoga contém exercícios físicos. Mas não é só isso, Yoga se organiza como um complexo sistema ético, mas não acaba aí. Yoga pressupõe transcendência, mas só funciona quando focado no momento presente… Os grandes mestres costumam dizer que Yoga não é algo que você faça, mas algo em que você se transforma. (DE PAULA; BINDO, 2002, p.20)

Para entendermos melhor o que é o Yoga, é válido entender um pouco sobre sua história, e o primeiro passo é compreender que a história do Yoga não possui uma precisão de datas ou fatos, em decorrência da tradição oral da cultura Indiana. Segundo De Paula e Bindo, acredita-se que o Yoga tenha há pelo menos 5.000 anos e que algumas de suas formas já faziam parte da cultura existente no subcontinente indiano ainda na época dravídica. Essa civilização surgiu e desapareceu entre 3500 e 1500 a.C e suas principais cidades, Mohenjo-Daro e Harappa, já contavam com uma organização urbana muito sofisticada, possuíam um sistema único de esgoto bem antes dos romanos e já diferenciavam corpo e espírito. O principal indício da prática do Yoga nessa sociedade é uma imagem de Pashupati (um dos nomes do deus hindu Shiva). Pashupati é representado como uma divindade com chifres, da mesma maneira que os yogues o representam mais tarde, sentado de uma maneira que se assemelha a uma postura yogue. Isso ajudou a difundir a ideia de que o yoga viria dessa época - o que nunca foi comprovado e continua sendo objeto de estudos. (DE PAULA; BINDO, 2002, p.28)

Posteriormente, segundo a teoria da migração ariana, se inicia o Período Védico ou Proto-Clássico, que tem seu berço na civilização Indo-Sarasvati e que constitui a base da cultura Hindu. Sugerida por Max Müller no início do século passado, a teoria ainda é aceita na atualidade e ensinada nos livros de história. Em 1.500 a.C., tribos pastoris, nômades e seminômades, chamados arianos, falando um sânscrito ancestral de origem indo-europeu ou indo-a15


riano, teriam migrado da Europa Central à Índia. Eles teriam entrado pelo noroeste, através do Khyber Pass, onde de fato encontra-se o sânscrito védico, a mais antiga das línguas indo-arianas, e teriam sido os compositores do Rigveda. (SIEGEL, 2010). Nesse período fala-se de cultura e não apenas de religião, pois ambas são muito presentes e não são dissociadas até os dias atuais no continente indiano. A importância desse período, para o Yoga, está em textos sagrados da cultura Hindu que foram estabelecidos nessa época, os Vedas: Rig Veda, Atharva Veda, Yajur Veda e Sama Veda. Esses textos, tidos como divinamente revelados, contém mantras, recitações e todo o conhecimento que foi mantido graças à tradição oral dos drádivas. Segundo os autores Bindo e De Paula, Veda significa conhecimento e define um conjunto de textos sagrados, hinos laudatórios, formas sacrificiais e encantamentos, receitas mágicas que estão na base da tradição religiosa e filosófica da Índia. O mais antigo deles, o Rig Veda, já possui certos conceitos de Yoga. Ainda segundo os autores, os Vedas eram empregados pela classe sacerdotal, os brâmanes, fazendo com que muitos poderes se concentrassem nas mãos dessa classe. Por volta de 800 a 600 a.C, a Índia passa por um momento de grandes movimentos que marcam a história de sua espiritualidade. Começa então o período Épico do Yoga. Nesta época surge o Jainismo, liderado por Mahavira, e o Budismo, liderado por Sidarta Gautama, ambos, segundo Bindo e De Paula, com uma visão muito mais racionalista do que os brâmanes. “Esses movimentos propunham uma espiritualidade, ou uma via de libertação, muito mais ligada à experiência, à prática pessoal, que poderia ser alcançada por qualquer um que quisesse levá-la adiante.” (BINDO, DE PAULA, 2002). A importância desse período para o Yoga reside no fato de que nessa época surge um novo tipo de ensinamento, os Upanishads, textos não mais tidos como de inspiração divina, como eram os Vedas, mas sim como resultado de experiências individuais e transmitidos de forma secreta de mestre para discípulo. Dessa forma os Upanishads são um método de experimentação, como explica o Swami Nirmalatamananda, indiano que dirige um centro de meditação em São Paulo: “Os Upanishads são como faróis, mapas, livros de receitas. Só mostram o caminho. O que eles dizem, enfim é: ‘Não acredite em nada apenas porque estou dizendo, você mesmo deve testar o mundo que é você mesmo, comece de onde você está, da sua experiência cotidiana’. Nenhum profeta, nenhuma igreja, nenhuma escritura, nenhum Swami pode dar realização espiritual.” (BINDO; DE PAULA, 2002). Ao longo dos séculos, os preceitos do Yoga vão sendo abordados e compreendidos em textos que vão desde os épicos da grande literatura Yogue, o Mahabharata, mais especificamente o capítulo Bhagavad Gita, e o Ramayana (que foram compilados e fixados entre IV a.C. e II d.C) até os clássicos do período medieval, como os Tantra. Esses últimos, segundo Bindo e De Paula, tiveram grande influência no pensamento yogue, pois trata-se de uma filosofia comportamental, e que retoma os conhecimentos dos Upanishads. 16


Já os épicos trazem em si a ética e a conduta dharmica que deve ser praticada por todo ser humano. Existe ainda as contribuições contemporâneas, segundo Bindo e De Paula, na descoberta da espiritualidade indiana pelo Ocidente nos últimos 200 anos e do seu ressurgimento, nos últimos 40 anos, impulsionado pelos movimentos de contracultura iniciados nos Estados Unidos na década de 60. Entretanto, como dizem os autores, não houve em toda a história, um movimento mais decisivo e influente para a sistematização do Yoga do que o período entre 400 e 200 a.C., período clássico, quando foram compilados “os Yoga Sutras, de Patanjali, o primeiro tratado de Raja-Yoga, ou Yoga real.” (BINDO, DE PAULA, 2002). Em seu livro, A Tradição do Yoga, no capítulo sobre a filosofia e a prática do Patanjali-Yoga, Feuerstein diz que “O yoga, sendo uma psicotecnologica, lida primordialmente com a mente ou a psique humana”. Mas que, segundo yogues visionários, “nosso mundo interior espelha a estrutura do próprio cosmos”. Assim, para Feuerstein, a principal função dos sutras, ou esquemas, de Patanjali, é “apontar para o que está além dos níveis ou camadas da psique e do cosmos, pois o que se afirma é que a natureza essencial do ser humano, o Si Mesmo ou o espírito, é absolutamente transcendente.” Dessa forma, a sistematização é realizada em 8 aspectos, conhecidos como membros (anga) do Yoga. São eles: Yama (disciplina); Nyama (autocontrole); Ásana (postura); Pranayama (controle da respiração); Pratyahara (recolhimento dos sentidos); Dharana (concentração); Dhyana (meditação) e Samadhi (êxtase). Como cada um dos membros depende do anterior, o caminho óctuplo já foi comparado a uma escada que leva da vida ordinária e egoísta à rara realização do Si Mesmo que transcende a personalidade egóica. Esse progresso pode ser encarado a partir de vários pontos de vista. Sob um certo aspecto, consiste numa unificação cada vez maior da consciência; sob outro, apresenta-se como uma questão de purificação progressiva. Ambos os pontos de vista constam do Yoga-Sutra. (FEUERSTEIN, 2006, p. 306)

Entendendo a diversidade e complexidade do Yoga, o trabalho aborda uma pequena parte dessa vasta tradição: a prática de ásanas. Como descrito acima, a prática de ásanas é um dos 8 aspectos contidos nos Yoga-Sutras de Patanjali. Segundo Feuerstein, para Patanjali, a postura consiste essencialmente na imobilidade do corpo. A multiplicação de posturas com finalidades terapêuticas pertence a uma fase posterior da história do Yoga. No Yoga-Sutra (2.46), consta que a postura deve ser estável e confortável. Flexionando e recolhendo os membros do corpo, os yogins mudam instantaneamente de estado de espírito: tornam-se interiormente tranquilos, o que lhes facilita muito o esforço de concentração da mente. (FEUERSTEIN, 2006) 17


Às vezes, os iniciantes da prática de Yoga tem dificuldade para detectar essas mudanças interiores, talvez porque prestem demasiada atenção às tensões da musculatura. Com a prática, porém, qualquer um pode descobrir os efeitos das diversas ásanas sobre o humor, e é então que o verdadeiro trabalho interior pode começar. (FEUERSTEIN, 2006, p. 311)

Atualmente o Yoga é conhecido mundialmente e para muitos trata-se apenas de uma prática corporal, entretanto, como vimos, é muito mais que isso. O interesse do ocidente na prática foi tornando o Yoga cada vez mais popular. Um dos precursores do Yoga no ocidente, foi o guru e instrutor B.K.S. Iyengar, uma figura importante para o presente trabalho, pois foi ele quem começou a utilizar props na prática de Yoga. Segundo seu livro, The Path to Holistic Health, Iyengar nasceu em 1918 em uma cidade próxima a Bangalore, era o décimo primeiro filho de sua família, um bebê fraco e com uma infância cheia de enfermidades. Aos nove anos, seu pai morre e Iyengar vai morar com um irmão em Bangalore, na época sofria de má nutrição em decorrência da situação financeira da família. Posteriormente começa a praticar yoga com o marido de sua irmã, o professor Tirumalai Krishnamarcharya, um yogue conhecido por desempenhar posturas avançadas. No início, devido aos anos de incapacidade por sua condição de saúde, Iyengar sofre para desempenhar os ásanas, entretanto a disciplina de seu mestre e a determinação do aluno faz com que Iyengar desempenhe as posturas, enquanto sua saúde vai melhorando ao mesmo tempo. Aos 18 anos, Krishnamarcharya pede para Iyengar assumir aulas em Pune, e, com o passar do tempo, ele vai desenvolvendo seu método, entendendo o movimento em cada parte do corpo de seus alunos e suas necessidades. Sua reputação cresceu pela proposta de suas aulas, com a utilização de muitos objetos, Iyengar acreditava que o yoga deveria ser acessível para todos, baseando-se sempre no seu próprio desenvolvimento e melhora em sua saúde. Com o passar dos anos, Iyengar foi ganhando fama em muitos países, como Suíça, Estados Unidos, França e Inglaterra. Logo começa a fazer viagens para ensinar o Yoga e a escrever seus livros. Fundou seu instituto em Pune, na Índia, para onde muitos indianos e estrangeiros se dirigem todos os anos a fim de se formar professores no estilo Iyengar Yoga. Iyengar se aposentou oficialmente em 2003, deixando o instituto para seus filhos. Essencialmente, yoga é uma ciência completa da humanidade, lidando com todos os aspectos do homem desde o físico até o psicológico, intelectual e emocional. Se praticado com dedicação, yoga tem a habilidade de trazer qualidades positivas e diminuir defeitos. Com seu conhecimento 18


de anatomia, fisiologia, autoconhecimento e consciência, yoga é a ciência que integra o corpo, a mente, a respiração e a consciência, entendendo as necessidades genuínas de cada pessoa e lidando com todos os aspectos da saúde e bem-estar da periferia ao centro. (IYENGAR, 2001, p. 32, tradução nossa)

Dessa forma, o trabalho pretende realizar uma releitura dos Props desenvolvidos por Iyengar, de modo a manter seus preceitos de que o Yoga deve ser acessível para a todos, pois é uma tradição que visa o bem-estar universal.

2.1

Props

Como vimos, os props surgiram na prática do professor B.K.S. Iyengar, que buscava objetos que auxiliassem os praticantes a realizar as posturas, entendendo suas dificuldades e avançando de maneira correta e terapêutica. Para isso, saía pelas ruas de Pune, na Índia, buscando materiais como tijolos, cordas e cadeiras, e assim foi aperfeiçoando sua prática e incorporando objetos que posteriormente passam a ser desenhados por ele e realizados por seus marceneiros. Nos atuais cursos de Iyengar Yoga, a exigência com relação a tradição é muito elevada, sendo necessário passar por todas as etapas de uma única maneira: atingindo a perfeição em cada asana presente em cada série pré-determinada por essa linha. Dessa forma a principal finalidade dos props não é a terapêutica, ou da percepção corporal, mas sim a correção de alinhamentos para que o corpo desempenhe a função de maneira exata como nos livros. Entretanto, apesar de se obter resultados excelentes com a prática de Iyengar, se a postura adotada pela escola for como o perfil mencionado, não são todas as pessoas que poderão praticar ou que serão encorajadas a praticar, como era o objetivo do próprio Iyengar. Portanto, os props tem uma função muito maior do que apenas a correção de alinhamentos, mas também serve como um suporte, que para muitos corpos será sempre necessário, que possibilita o praticante a continuar sua prática de yoga usufruindo de todos os benefícios, respeitando os limites do seu próprio corpo, afinal deve-se levar em conta que os corpos são todos diferentes, um corpo de um homem indiano não tem a mesma estrutura, elasticidade e força que a de um homem brasileiro por questões genéticas. Sendo assim, muitas posturas que poderiam ser adaptadas com os props acabam não sendo feitas, pela impossibilidade de avançar devido ao grau de exigência sobre o corpo. 19


Yoga, uma vez sob o domínio de poucos, é agora universalmente praticado. Sua popularidade pode ser atribuída por seus efeitos terapêuticos tanto no corpo quanto na mente, possibilitando praticantes a aproveitar um profundo sentido de bem-estar. (IYENGAR, 2001, p. 32, tradução nossa)

A seguir serão demonstrados os objetos tradicionais e alguns de seus usos, todas as descrições foram traduzidas e compiladas do livro The path to Holistic Health, do próprio Iyengar, assim como as imagens.

Cadeira Segundo o livro The path to holistic health, a cadeira dobrável de metal tem um vão em seu encosto, possibilitando a passagem das pernas através da abertura. Isso torna mais fácil a realização de diversas posturas como retratado nas imagens a seguir.

Cadeira

Fonte: The peath to holistic health

Salamba Sarvangasana

Bharadvajasana

Fonte: The peath to holistic health

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Setubhandasana


Bancos Existe uma série de bancos com diferentes dimensões para diferentes asanas, onde auxiliam o praticante em posturas que requerem flexibilidade e força, ou posturas de torção e rotação. As imagens a o lado demonstram os bancos propostos por Iyengar e as possibilidades de postura: Bancos

Fonte: The peath to holistic health

Ustrasana

Utthita Marichyasana

Paschimottanasna

Fonte: The peath to holistic health

Bolster Dá suporte ao corpo enquanto o praticante relaxa e ao mesmo tempo se alonga, sem tensão. O bolster deve ter um peso de aproximadamente 3kg e ser preenchido por algodão denso. Deve ter aproximadamente 60 cm de altura e um diâmetro de 23 cm.

Bolster

Fonte: The peath to holistic health

Virasana

Fonte: The path to holistic health

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Bloco de espuma É utilizado para dar suporte a cabeça em curvaturas posteriores e as costas em pranayamas (técnicas de respiração). Suas dimensões são de 30x18x5cm Bloco de espuma

Fonte: The peath to holistic health

Savasana

Fonte: The peath to holistic health

Blocos de madeira São utilizados em quase todos os tipos de ásanas. Em posições sentadas ou em pé eles dão suporte aos joelhos, palmas e pernas e dão a altura para torções sentadas. Existe também o bloco arredondado que auxilia a dar a altura em torções, sem que sua superfície incomode o praticante. As imagens o lado demonstram algumas das possibilidades dos blocos:

Ardha Chandrasana

Fonte: The peath to holistic health

Trikonasna

Fonte: The peath to holistic health 22

Blocos

Bharadvajasana


Mantas Dobrada é usadada para dar suporte às costas, abertura de peito em ásanas reclinados e pranayama, dão suporte a cabeça e aos ombros em nversões e proporcionam a altura em ásanas sentados. Já a enrolada É utilizada para dar suporte ao pescoço em ásanas reclinados e extensões.

Mantas

Fonte: The peath to holistic health

Supta Badhakonasana

Setubhandasa

Fonte: The peath to holistic health

Cinto de Yoga e Bandagem O cinto garante a tensão necessária em alongamentos como a imagem ao lado. O cinto tem aproximadamente 60cm de comprimento. Já a bandagem É utilizada para vendar os olhos auxiliando a aliviar a tensão e relaxar músculos faciais para o Savasana e Pranayama.

Fonte: The peath to holistic health Cinto e bandagem

Supta Padangusthasana

Savasana

Fonte: The peath to holistic health 23


Os seguintes Props, também criados por Iyengar, foram encontrados em fontes bibliográficas diferentes. As imagens dos objetos estão no livro Working plans of the Props used for Iyengar Yoga at the Ramamani Iyengar Memorial Institute in Pune, India, preparado e publicado por François Lozier, já as descrições foram baseadas nas posturas descritas no livro Iyengar Yoga Therapeutics, de Lois Steinberg, assim como as imagens demonstrativas.

Setu bandha Auxilia em posturas sentadas, em que há a necessidade de apoiar as costas e o quadril.

Urdhva Dhanurasana

Fonte: Iyengar yoga therapeutics

Fonte: Working plans of the Props

Banco Viparita Dandasana É utilizado para acomodar o corpo em posturas em que o praticante fica deitado com a face anterior do corpo virada para cima, também auxilia o relaxamento.

Savasana

Fonte: Iyengar yoga therapeutics

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Fonte: Working plans of the Props


Caixa Simhasana É utilizado para posturas sentadas, dando suporte para torções, suporte para o corpo ou mesmo como apoio para os pés, devido a sua inclinação no encosto.

Fonte: Working plans of the Props Savasana

Fonte: Iyengar yoga therapeutics

Cavalo Utilizado para asanas em pé que exigem referência para alinhamentos

Parivritta Trikonasana

Fonte: Iyengar yoga therapeutics

Fonte: Working plans of the Props

Cordas As cordas que ficam presas na parede servem para dar suporte ao corpo em asanas que é necessário ceder, deixar o corpo leve.

Fonte: Working plans of the Props

Sirsasana

Fonte: Iyengar yoga therapeutics

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3. O corpo e a percepção corporal


Para compreender a visão do Yoga sobre o corpo, foi trabalhado o conceito de trilhos anatômicos, baseado no livro Trilhos Anatômicos, do autor Thomas W. Meyer. O livro surgiu da experiência de ensino de anatomia miofascial para diversos grupos de terapeutas “alternativos”, incluindo profissionais de Integração Estrutural do Instituto Rolf, massagistas, osteopatas, parteiras, dançarinos, professores de yoga, fisioterapeutas e preparadores físicos, principalmente nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Europa. (Myers, 2010) Trilhos anatômicos são um termo para o que se denomina como meridianos miofasciais, onde “a palavra “miofáscia” denota a natureza agrupada, inseparável do tecido muscular (mio-) e sua teia acompanha o tecido conjuntivo (fáscia)”. Dessa forma, os trilhos não negam a forma convencional de trabalhar e estudar os músculos, mas acrescentam uma nova dimensão, que “preenche uma necessidade atual para uma visão global da estrutura humana e do movimento.” (Myers, 2010) Ainda segundo a pesquisa, o conceito de trilhos anatômicos tem uma relação intrínseca com os ásanas, no sentido de que eles trabalham de maneira psicofísicas, ou seja no psicológico e no corpo físico, em um estudo que deixa clara a ligação entre os sistemas nervoso, fibroso e circulatório. A importância da compreensão desses meridianos neste trabalho reside na conexão dos ásanas com os trilhos estabelecidos por Myers, entendendo que o corpo atua como um sistema único. As linhas de tração (meridianos), propostas por Myers, são: a Linha Superficial Posterior, a Linha Superficial Anterior, a Linha Lateral, a Linha Espiral, as Linhas do ombro e membro superior, as Linhas Funcionais e a Linha Profunda Anterior. Dentro dessas linhas podem ser classificados uma infinidade de ásanas que atuam sobre elas. Outro ponto importante para o trabalho está na consciência corporal do praticante de Yoga. Para que este não sofra lesões, é importante que se crie uma percepção do próprio corpo, criando uma noção sobre a postura e se a mesma está sendo desempenhada da maneira correta, buscando sempre uma presença e concentração na ação. Entretanto, a partir da observação de alunos durante a prática e da prática pessoal, foi possível notar que as pessoas vem perdendo essa consciência corporal, principalmente por conta do estilo de vida nas grandes cidades, pela falta de exercícios físicos, trabalhos que exigem movimentos repetitivos, horas sentados ou em pé, etc. Essa série de fatores faz com que o indivíduo perca a sensibilidade com relação aos movimentos realizados por seu corpo, assim como a sua postura, desempenhado-os de maneira inconsciente e prejudicando sua saúde, não só física, mas também mental. Para compreender como despertar a consciência corporal, buscou-se entender os conceitos trabalhados na Educação Somática. O termo surgiu nos Estados Unidos, em meados dos anos 80, por Thomas Hanna, em um artigo publicado na revista Somatics, e foi sendo consolidado, principalmente na área da dança, surgindo primeiramente como uma função terapêutica, para trabalhar lesões para as quais a medicina tradicional não oferecia soluções eficazes. Posteriormente foi incorporado às aulas de dança e teatro, devido 27


a sua proposta, que engloba uma diversidade de conhecimentos onde os domínios sensorial, cognitivo, motor, afetivo e espiritual se misturam com ênfases diferentes. (Strazzacappa, apud Fortin, 2000). Diferentemente dos coreógrafos, os reformadores do movimento não pensavam na padronização de corpos, nem tinham uma pré-concepção estética. O desenvolvimento de suas técnicas, embora tenham surgido da necessidade de solucionar problemas específicos e mesmo pessoais, tinha como objetivo exatamente o oposto: resgatar a unidade e identidade do ser humano. Estas técnicas partiam do princípio de que nenhum ser humano é igual ao outro e de que estas diferenças deveriam ser respeitadas e mantidas. (STRAZZACAPPA, 2000, p.49)

Existem diversas modalidades de educação somática, como o Body Mind Movement, Body Mind Centering, método Feldenkrais, e até mesmo yoga somática. Entretanto, o yoga como uma tradição milenar, não se resume a apenas isso, como explicado anteriormente. As posturas corporais são apenas uma das oito partes sistematizadas no ashtanga yoga de Patanjali. Porém, levando em consideração que a educação somática tem como enfoque uma visão integral do ser humano, envolvendo sua expressão física, mental, emocional e espiritual (Denovaro, 2012), condiz exatamente com o que as posturas do yoga desejam atingir, quando se diz que asanas são psicofísicos. Segundo Mariana Camarote, do Body Mind Movement Brasil, o sistema busca entender a anatomia de maneira sensorial. Em sua palestra sobre Body Mind Movement: Psicologia e Anatomia Sensível, o objetivo é ensinar o indivíduo a compreender sua anatomia a partir de imagens e sensações, ou seja, de maneira subjetiva, fazendo com que tenhamos uma nova percepção corporal, vivendo a anatomia e entendendo seus vínculos e relações. Segundo ela, o indivíduo dentro desse sistema deve estar consciente de seu constante movimento, sentindo a própria anatomia enquanto cria formas, ou, no caso deste trabalho, enquanto desempenha os ásanas. Existem vários recursos para despertar essa consciência corporal, são eles: o toque, o movimento, visualizações guiadas, testemunho, uso dos sentidos e diálogo. Outros pontos em comum entre a educação somática e o yoga são levantados pelo professor Ivan Joly, que explica que a Educação Somática é: Sistêmica – corpo e pessoa são o sujeito; todas as partes estão interligadas e todas as partes afetam o todo e as outras partes; Somática – O corpo é reconhecido como corpo-vivido, mais vivo e sensível do que o corpo objeto e máquina; Holística – o corpo não está separado do espírito, da consciência e de sua história; Sensório-Motora – a reeducação se apoia sobre a primeira forma de 28


aprendizagem do ser humano, a aprendizagem sensório-motora, através da qual toda criança desenvolve um sentido de si mesmo e conhece o meio ambiente, através do seu corpo e de seus próprios movimentos no espaço; Educativa e Estratégica – o indivíduo descobre como ele se comporta, como ele se machuca e como ele pode aprender novas formas de se movimentar, mais harmoniosamente, e mesmo de pensar; Científica e Clínica – o processo corresponde às últimas descobertas científicas, que concebem a plasticidade do cérebro e as capacidades do corpo de se autorregular, e a uma longa tradição clínica de uma diversidade de métodos de origem europeia e norte-americana; Ecológica – o indivíduo não está isolado no seu mundo subjetivo, pois a experiência vivida é considerada como resultado da relação com o meio ambiente físico, biológico, social, profissional e interpessoal; Participativa – é solicitada a participação ativa do indivíduo face à sua saúde, através de uma aprendizagem de escuta e respeito às sensações e aos sinais dados pelo corpo; Potencializante – a pessoa se torna responsável por si mesma, adquire conhecimentos de base, uma competência pessoal e ferramentas concretas que lhe permitem ter poder sobre seu estado de saúde e bem-estar. (Denovaro, apud Joly 2004). Dentro dos pontos abordados por Joly, os aspectos citados são muito semelhantes àqueles propostos pelo yoga, em sua proposição de estilo de vida. Assim como na educação somática, o corpo tem um papel educativo e estratégico também no Yoga, principalmente no que diz respeito à responsabilidade do praticante com o seu corpo, sua mente e sua consciência. Dessa forma, a solicitação ativa do praticante frente a sua saúde e sua percepção corporal é a mesma nas duas esferas de trabalho.

3.1 Bandhas Com o objetivo de compreender melhor a maneira de explicar os ásanas dentro das práticas de Yoga convencionais, realizei uma aula com a professora de Hatha Yoga, Diana Hybari, dentro da minha formação em Yoga. Nesta aula, fui instruída a levar minha atenção para a ativação dos Bandhas ao desempenhar a postura que serve de base para a criação e desenvolvimento do objeto proposto, o ásana Adho Mukha Svanasana, como veremos no próximo subcapítulo. Esta instrução tinha como objetivo garantir o alinhamento e a preservação do corpo em uma prática segura. Os Bandhas dentro do estudo de Hatha Yoga são de extrema importância em sua atuação no corpo denso (corpo físico) e no corpo sutil (corpo energético). Segundo o professor Pedro Kupfer, os bandhas são contrações de determinadas áreas do corpo físico, como plexos, nervos, órgãos e glândulas, 29


que estão relacionadas aos chakras, centros da energia vital, e que funcionam como canalizadores do fluxo energético. (KUPFER, 2007). Os quatro bandhas principais são o Jalandhara (contração da garganta), o Uddiyana (contração do abdômen), o Mula (contração do assoalho pélvico) e, por fim, o Jihva (contração da língua). Ao desempenhar o ásana Adho Mukha Svanasana, a ativação do Mulabandha e Uddiyanabandha, faz com que os alinhamentos pertinentes à postura sejam realizados de maneira mais consciente, facilitando a compreensão e a permanência. Dessa forma, foi observado, durante a prática pessoal, que a compreensão das contrações indicadas acima, do assoalho pélvico e do abdômen, garantem a preservação da coluna vertebral, pois evita a compressão das vértebras da lombar, e distribui a força pelo corpo de maneira uniforme, não gerando cargas extras ou tensões em articulações. Levando em consideração a principal motivação do presente trabalho, uma prática segura de ásanas evitando lesões e desconfortos nocivos à saúde do corpo, os bandhas se tornam um elemento essencial da percepção corporal e da prática consciente. Enormes benefícios obtêm-se da prática sistemática dos bandhas, tanto em nível fisiológico quanto em nível psíquico. É possível perceber melhoras no sistema endócrino, no funcionamento dos órgãos internos, no sistema nervoso, bem como no funcionamento da própria mente, que fica mais focada e torna-se assim mais apta para a concentração. (KUPFER, 2007)

Sendo assim, os bandhas devem ser trabalhados no objeto que será desenvolvido, garantindo todos os aspectos já citados, como o despertar da percepção de forma sutil, tornando o praticante consciente e responsável por seu corpo e ressaltando a importância desses pontos dentro da prática de Yoga.

3.2 Ásanas Compreendendo, então, o que são os trilhos anatômicos, a educação somática e suas relações possíveis com o Yoga, e a consciência corporal trabalhada nos bandhas, pode-se propor a função dos props nas posturas a serem trabalhadas neste projeto: será um equipamento corporal que auxiliará o praticante a despertar a consciência corporal dentro de ásanas específicos, permitindo-o compreender os movimentos que seu corpo faz e suas tendências, com relação ao desconforto e a permanência que podem ser gerados na postura. O objetivo, com a prática regular, é que o praticante não fique de30


pendente do equipamento, mas o utilize como um instrumento de evolução em sua prática. O ásana escolhido como base para o desenvolvimento do equipamento corporal é o Adho Mukha Svanasana, uma postura muito utilizada em aulas, devido à sua versatilidade, pois pode ser utilizada na transição de posturas no plano baixo (deitadas ou em seis apoios) para posturas no plano alto (em pé), sendo adequada, portanto, ao primeiro critério. Em segundo lugar, é uma postura considerada fácil, que oferece variações para todos os níveis de prática, e, seguindo o terceiro critério, o prejuízo que ela pode gerar, podendo lesionar a articulação dos ombros, cotovelos e punhos, risco que aumenta se a postura for realizada frequentemente de maneira incorreta. O trilho que será trabalhado neste ásana, segundo Meyer, é a Linha Superficial Posterior. Tal postura envolve tração, força e alongamento, dessa forma a permanência nessa postura se torna difícil para iniciantes, fazendo com que busquem conforto e sigam as tendências de seu corpo de se adequar de maneira errada para evitar o desconforto inicial. Assim, os Props para essa postura têm o objetivo de auxiliar o praticante na permanência, criando a percepção corporal do movimento correto e evitando a acomodação na posição errada. No decorrer do trabalho, outras posturas foram selecionadas, seguindo os testes com o equipamento proposto.

Croqui Adho Mukha Svanansa - tendências do corpo que provocam a postura errada Fonte: acervo da autora

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3.2.1 Adho Mukha Svanasana e os Props existentes Compreendendo que a postura escolhida para começar o projeto, Adho Mukha Svanasana, é uma das mais utilizadas nas práticas regulares, a importância dos alinhamentos é primordial para que o ásana tenha o efeito desejado. Dessa forma, foram selecionadas algumas formas de possíveis arranjos de props para a postura. Como podemos ver nos croquis, os Props são de fácil acesso, entretanto, seu uso depende de uma terceira pessoa, um professor, ou então uma plena consciência por parte do praticante na hora de se posicionar e se preparar para a postura. Assim, lembrando que o objetivo do presente trabalho é levar consciência corporal para novos praticantes e dialogar com a yogaterapia, apesar das soluções apresentadas serem eficazes e muito utilizadas, são de difícil manuseio para quem está começando, o que justifica a necessidade de um equipamento corporal que tenha uma solução mais simples, desde a hora de se posicionar, quanto na questão da percepção corporal, agindo de forma sutil e não impositiva.

Croqui Adho Mukha Svanansa - variação de Props existentes Fonte: acervo da autora

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4. O equipamento corporal


Para dar início ao projeto, chegou-se à conclusão de que os testes no próprio corpo seriam o método mais eficaz, com relação à percepção corporal, para a criação do tipo de objeto proposto. Além disso, foi questionado o caráter do objeto, se seria vinculado à alta tecnologia e aos objetos inteligentes ou não. Atualmente se fala muito em tecnologia vestível. Segundo Felipe Sche1 rer , as tecnologias vestíveis são aquelas aplicadas a produtos que ficam vinculados ao corpo humano durante um período de tempo para a coleta ou transmissão de dados. Eles precisam conter circuitos, conectividade wireless e capacidade de processamento. Hoje as tecnologias vestíveis estão sendo cada vez mais exploradas, principalmente por ser um mercado rentável e promissor. Segundo reportagem da revista Exame2, existem cinco mercados principais que utilizam a tecnologia vestível: Fitness e Wellness – produtos desenvolvidos para monitorar atividade física e emoções; Saúde e Médicos – produtos designados a monitorar sinais vitais e aumentar as habilidades do corpo humano; Infotenimento – produtos que recebem e enviam dados destinados ao lazer ou a melhorar o estilo de vida das pessoas; Industrial – produtos que enviam ou recebem dados em tempo real no ambiente industrial; e Militar – produtos que enviam ou recebem dados em tempo real para fins militares. Alguns exemplos de tecnologia vestível são os relógios conectados, como o Apple Watch e o Moto 360, trackers e pulseiras que monitoram atividades físicas, o Google Glass, que está sendo muito utilizado em hospitais para o tratamento de autismo, e a jaqueta Commuter Trucker, resultado de uma parceria entre o Google e a Levi’s que consiste em uma jaqueta para ciclistas que, segundo Alexandra Farah, permite que os usuários troquem suas músicas, ouçam sua localização e atendam a ligações por um simples toque no pulso esquerdo, enquanto estiverem na direção da bicicleta. Levando todas essas questões em consideração, poderia ser útil um Prop que seguisse nessa direção, como por exemplo o projeto Lumo Body Tech e o Upright pose, ambos dispositivos com a finalidade de manter o usuário com a postura correta através de vibrações que indicam o movimento. Entretanto, como foi relatado no capítulo anterior, o objetivo do Prop é despertar e desenvolver a percepção e a consciência corporal. Devemos lembrar, ainda, o meio no qual o Prop está inserido, que é a tradição milenar do Yoga, cujo objetivo é a conectividade com o Si mesmo, o autoconhecimento e o desa1 SCHERER, Felipe. Como as tecnologias vestíveis estão criando novas oportunidades. Exame, 2017. Disponível em <https://exame.abril.com.br/blog/inovacao-na-pratica/como-as-tecnologias-vestiveis-estao-criando-novas-oportunidades/> Data de acesso: 17/11/2017. 2 FARAH, Alexandra. Roupas e acessórios inteligentes mostram que o futuro chegou. O Globo, 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/ela/moda/ roupas-acessorios-inteligentes-mostram-que-futuro-chegou-22027149> Data de acesso: 17/11/2017.

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pego com o mundo material e, consequentemente, com os objetos materiais. Assim, a ideia de um Prop cujo funcionamento pudesse levar à dependência de um dispositivo que controle a postura, afinal sua atenção estaria voltada a informações externas ao corpo e não ao toque e às sensações que levam à introspecção, torna inviável essa linha de pensamento de tecnologias vestíveis, neste contexto. O objetivo do Prop, neste trabalho, é criar a percepção corporal através da própria anatomia, fazendo com que o praticante ganhe uma nova dimensão de seus movimentos e de sua postura, se auto-conhecendo e criando, a partir disso, sua percepção corporal, para que possa então evoluir e não mais precisar de um objeto de auxílio. O Prop é útil na etapa de aprendizado e auto-estudo inicial, mas posteriormente deve se tornar dispensável. Compreendendo, então, o caráter do objeto, foram iniciados os testes no asana Adho Mukha Svanasana, por todas as questões mencionadas nos itens 3.2 e 3.2.1.

4.1 Testes para a compreensão da percepção corporal através de objetos variados. 4.1 .1 Observações O rolinho nas costas auxilia na percepção, entretanto eu só sei que estou fazendo a postura certa se sinto sua pressão no meio das costas, quando o ideal seria o contrário, sentir a pressão quando estivesse fazendo errado. O bloco não ajudou muito na rotação do quadril.

Adho Mukha Svanasana com o rolo nas escápulas

Adho Mukha Svanasana com o rolo e bloco

Fonte: acervo da autora

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Na posição errada a régua T descola na parte superior e inferior das costas, na posição correta ela fica completamente alinhada.

Adho Mukha Svanasana - postura correta

Adho Mukha Svanasana - postura incorreta

Fonte: acervo da autora 36


O espaguete flutuador é muito flexível se adapta às costas independente da posição estar correta ou incorreta.

Adho Mukha Svanasana com espaguete flutuador

Elástico muito flexível e cinto muito rígido

Adho Mukha Svanasana com elástico na cintura e cinto nas escápulas

Percebo bem o final do objeto no quadril e a percepção realmente força o praticante a fazer a posição correta (quando encosta no final da coluna). No ombro, sente-se a pressão tanto no peito e abaixo das axilas, quanto no meio das costas na posição correta, na errada sente-se mais o apoio da peça nas escápulas. Entretanto, os cintos acabam causando um grande incômodo devido à tensão gerada para prender o objeto nas costas.

Adho Mukha Svanasana com cinto na cintura e nas escápulas prendendo o T Fonte: acervo da autora 37


peça T que fica presa às costas através dos cintos

Compreensão do ponto onde é preso o T a partir da percepção do movimento: ao prender no quadril com o cinto, sempre era necessário um ajuste ao passar para a postura, devido à diminuição do volume abdominal, o que levou à conclusão de que se o equipamento fosse preso na caixa toráxica, nas últimas costelas, abrangendo o meio das costas, a conexão seria mais eficaz. Dessa forma, foi proposto um colete com conexões que pudesse servir de suporte para a estrutura rígida.

peça T que fica presa às costas através dos cintos Fonte: acervo da autora 38


4.2 Testes com o equipamento corporal 4.2.1 Observações na postura Adho Mukha Svanasana O colete auxilia na percepção do quadril, ao fazer uma pressão na lombar quando entramos no alinhamento correto, auxilia também na abertura do peito, fazendo uma pressão entre as escápulas e indicando a rotação do ombro, ao afastá-los dos tubos nas laterais das escápulas.

Adho Mukha Svanasana com c colete do intem 4.1.1

4.2.2 Teste com outras posturas. A partir dos testes iniciais na postura Adho Mukha Svanasana, foi possível perceber novas possibilidades para o colete. A partir da percepção e de seu uso foi possível desenvolver novos testes que facilitasse outras posturas. Em Sukhasana auxilia a manter a tração da coluna para a prática de meditação e Pranayamas (técnicas de respiração)

Sukhasana com o colete do intem 4.1.1 Fonte: acervo da autora 39


Kumbhakasana com o colete do intem 4.1.1 - postura correta Fonte: acervo da autora

Kumbhakasana com o colete do intem 4.1.1 - postura incorreta Fonte: acevo da autora

Utthita Marichyasana com o

colete do intem 4.1.1 - postura incorreta

Utthita Marichyasana com o

colete do intem 4.1.1 - postura correta

Utthita Marichyasana com o

colete do intem 4.1.1 - postura

Fonte: acervo da autora 40

incorreta


4.3 Teste com outras pessoas 4.3.1 Juliana Observações feitas pela usuária: nas escápulas fica muito sutil, assim como na base da coluna, precisando ter um ajuste melhor de acordo com as dimensões de sua coluna.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.1.1

Sukhasana com o colete do item 4.1.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.1.1 Fonte: acervo da autora

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4.3.2 Emiliana Observações feitas pela usuária: observações similares às da Juliana, porém não sentiu nada com relação às escápulas e à rotação do ombro na postura Adho Mukha Svanasana. Além disso, o modelo não era adequado à extensão de sua coluna.

Adho Mukha Svanasana com o colete do

Sukhasana com o colete do item 4.1.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.1.1

item 4.1.1

4.3.3 Murilo Observações: as dimensões não proporcionam o efeito desejado. Além disso, talvez seja necessário uma segunda faixa de tensão para garantir a posição do objeto no asana Adho Mukha Svanasana. Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.1.1

Sukhasana com o colete do item 4.1.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.1.1

Fonte: acervo da autora 42


4.4 Equipamento corporal com as alterações Objeto do teste 4.2 com correções baseadas nas observações do teste 4.3. As alterações consistem na colocação das bolas nas extremidades, deixando menos sutil os apoios, e um tubo retrátil que garanta a medida correta para a coluna de cada praticante.

Colete com nova estrutura retrátil e bolas nas extremidades

Estrutura retrátil T e bolas nas extremidades Fonte: acervo da autora

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4.5 Testes com o equipamento corporal 4.5.1 Observações Na postura Adho Mukha Svanasana, a base da coluna ficou bem marcada pela bolinha, deixando muito claro o que deve ser feito na postura. Entretanto, as bolinhas de apoio para o ombro não foram bem sucedidas, pois a extensão da barra ficou muito grande para a largura dos pontos nas escápulas.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.4

Na postura Sukhasana, é eficaz no apoio da coluna, deixando claro a posição central, nos ombros foi um pouco mais perceptível seu auxílio. Entretanto, as dimensões da bola são exageradas, fazendo com que a atenção do corpo seja levada completamente para o objeto, descaracterizando o objetivo. Assim, um toque um pouco mais sutil seria melhor.

Sukhasana com o colete do item 4.4

Na postura Kumbhakasana, muito utilizada para os pranayamas e meditação, o auxílio é bem sucedido, assim como no teste 7, tanto no apoio dos ombros quanto no apoio da lombar.

Kumbhakasana com o colete do item 4.4 Fonte: acervo da autora

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4.6 Teste com outras pessoas 4.6.1 Juliana Observações da usuária: a bolinha fez muita diferença na percepção do quadril, ficando mais clara a noção do que seria a postura ideal. A usuária relatou também que o contato com a superfície da bolinha foi confortável. Nos ombros pôde perceber as questões apontadas, mas ainda assim pensa que precisam ser mais trabalhadas, principalmente porque neste modelo a parte inferior ficou bem resolvida.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.4

Sukhasana com o colete do item 4.4

Kumbhakasana com o colete do item 4.4

Fonte: acervo da autora 45


4.6.2 Emiliana Observações da usuária: concorda com a Juliana nas questões sobre a parte inferior do objeto, onde a bolinha fez grande diferença e ajudou muito na percepção da lombar, porém os apoios dos ombros continuam sem efeito nas posturas Adho Mukha Svanasana e Kumbhakasana. A permanência na postura Adho Mukha Svanasana foi difícil, comprometendo o teste, pois fez com que a usuária se cansasse rápido e perdesse um pouco a percepção, dando mais atenção ao desconforto do que à observação do corpo.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.4

Sukhasana com o

colete do item 4.4

Kumbhakasana com o colete do item 4.4

4.6.3 Fernanda Observações da usuária: assim como as demais, pôde perceber a bolinha em Sukhasana e Kumbhakasana . A postura Adho Mukha Svanasana. foi difícil para ela, devido ao grau de alongamento exigido, mas conseguiu perceber a pressão na lombar em determinado ponto. Entretanto, nesta última postura os apoios nos ombros foram ineficazes, tanto na percepção quanto no desempenho, levantando a questão de que o Adho Mukha Svanasana precisa de um preparo do corpo, dependendo do seu grau de alongamento, antes de testar o objeto.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.4

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Sukhasana com o

colete do item 4.4

Kumbhakasana com o colete do item 4.4

Fonte: acervo da autora


4.7. Testes sob a perspectiva dos bandhas, alinhamentos e explicações de professores durante a prática. Como descrito no subcapítulo 3.1 deste trabalho, após uma aula de Yoga onde fui instruída a levar a atenção à ativação dos bandhas, foi realizada uma análise do objeto em desenvolvimento, tendo em vista esses pontos de concentração de energia. Foi possível compreender então que o colete auxilia na percepção de tais pontos e enfatiza o Uddyanabandha, pois seu fechamento acontece sob as costelas, indicando a contração do abdômen. No decorrer do trabalho serão descritos os novos testes e novas possibilidades de postura que foram percebidas ao longo do uso e de sua análise funcional, assim como o uso dos bandhas dentro de cada postura. Além disso, até o teste descrito no subcapítulo 4.6, o protótipo ainda apresentava algumas pendências a serem resolvidas, como a melhor compreensão dos alinhamentos na parte superior do corpo, ombros, cotovelos e escápulas, pois o T estrutural não estava sendo eficaz no despertar de tais alinhamentos. Para tal compreensão novos testes foram realizados assim como aulas de Yoga com outros professores, com o objetivo de compreender a metodologia de explicação da postura. O primeiro teste visou melhorar a percepção das costas, no movimento das escápulas. Foi anexado um pedaço de madeira retangular ao colete, para que se encaixasse entre as escápulas e indicasse assim seu afastamento, entretanto a percepção foi nula. Concluindo que esse alinhamento não seria desperto através de uma percepção no local, mas sim de uma cadeia de movimentos e ajustes em demais partes do corpo, nos testes seguintes buscou-se compreender os mecanismos do movimento que gerassem o alinhamento adequado e desejado.

Colete com pedaço de madeira retangular Fonte: acervo da autora

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Compreendendo, então, que seria necessário entender novas formas de explicação para a postura e novos pontos-chave, participei de uma aula de Hatha Yoga, com a professora Diana Hybari, com foco em construção de ásanas a partir de comandos e sem demonstração por parte do instrutor. Dessa forma foi possível compreender dois pontos extremamente importantes e que tinham sido até então ignorados, pois não eram de meu conhecimento: os bandhas e a articulação do cotovelo. Os bandhas concentram a atenção na região abdominal e no assoalho pélvico a partir de sua contração, isso faz o praticante ter maior percepção dessas regiões o que lhe permite distribuir o peso de maneira correta, não sobrecarregando os ombros e protegendo a lombar de uma possível compressão. Como possuo uma hiperextensão na articulação dos cotovelos, meus braços perdem facilmente o alinhamento dentro da postura trabalhada, o que estava influenciando minha percepção dos testes com o objeto. Para corrigir este erro, a professora me instruiu a levar a atenção para as articulações dos cotovelos, de forma que a parte interna apontasse para dentro e a externa para fora. Esse ajuste faz com que o alinhamento das escápulas aconteça automaticamente, sem esforços, resolvendo a questão até então mal compreendida e resolvida, pois o apoio da estrutura nas escápulas se torna mais evidente. Estas orientações foram incorporadas aos testes seguintes, melhorando também a percepção dos voluntários com relação ao equipamento.

Adho Mukha Svanasana - postura correta

Postura incorreta

(escápulas unidas)

Postura incorreta

(cotovelos hiperestendidos)

Fonte: acervo da autora

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4.8. Aperfeiçoamento do colete 4.8.1. Referências Para iniciar a modelagem do novo colete que dará suporte à estrutura T, foram realizadas pesquisas para uma melhor compreensão de coletes de correção postural, incluindo materiais, tamanhos e fechamentos. Assim, foram levantados os seguintes modelos: Na imagem a seguir, pode ser visto o fechamento com velcro no tórax, da mesma maneira que o colete já funcionava, sendo um material viável e de fácil ajuste durante a prática. tamanhos.

Colete de correção postural ombros

Fonte disponível em <http://www.fisiostore.com.br/educador-postural-chantal-espaldeira-c329/p>

Na abaixo, o colete abrange toda a extensão da coluna vertebral, o que não é interessante para o projeto. Entretanto o fechamento cruzado nas costas e lateral foi considerado como uma possível solução.

Colete de correção postural lombar

Fonte disponível em <https://pt.aliexpress.com/item/Adjustable-Posture-Back-Support-Corrector-Brace-Lumbar-Brace-Shoulder-Band-Belt-Health-Care-T16/32711616532.html>

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4.8.2. Modelagem O processo de modelagem se iniciou com a escolha do manequim masculino, mas que tivesse a regulagem que variasse do tamanho P feminino ao P masculino. Dessa forma, sob a orientação do professor de Modelagem do curso de Moda do Centro Universitário Senac, José Luís Andrade, foi desenhado no próprio manequim o formato do colete. Como demonstrado nas imagens a seguir, foram realizadas as seguintes escolhas: o fechamento no tórax seria com velcro, partindo da experiência do colete anterior e das referências apresentadas, entretanto, optou-se por colocar os velcros na lateral do tórax, trazendo mais tensão no centro, através do tecido tensionado para as laterais. A princípio a solução escolhida para a regulagem do ombro era o de fivela, mas depois de alguns atendimentos optou-se por permanecer com a mesma linguagem do velcro, transformando o colete em duas partes que se unem através dos velcros no tórax e no ombro. Na modelagem também foi pensado na praticidade do colete na hora de vestir e na hora de lavar, sendo assim, a estrutura T ficara presa em um bolso, do qual pode ser completamente removida para que o tecido possa ser facilmente manuseado na hora de lavar. Além disso, como demonstram os croquis abaixo, foi necessário tomar uma decisão de como a estrutura seria fixada ao colete. Para ampliar o tempo de testes com o colete, optou-se pela solução mais simples (croqui 1) onde o T ficaria fixado por uma tira de velcro que passa pelo tubo. A segunda opção, que implicaria a impressão 3D de uma peça de fixação, se anexaria no colete através de um bolso, entretanto, como será descrito posteriormente, esta opção foi descartada devido a fragilidade do material.

Croqui - opção 1

Croqui - opção 2

Fonte: acervo da autora 50


Frente

Frente

Lateral

Costas

Modelagem - desenho

Lateral

colocação de fitilho para o desenho da peça

Frente

Costas

Costas

Molde transposto para o algodão, localização dos velcros.

Do algodão o molde foi passado para o papel, para realizar o corte no tecido final.

Fonte: acervo da autora 51


Recorte do tecido, costura e aplicação dos velcros - frente

Recorte do tecido, costura e aplicação dos velcros - costas

Colete finalizado - frente

Colete finalizado - costas Fonte: acervo da autora

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4.9. Estrutura retrátil 4.9.1 Referências Para o projeto da estrutura retrátil foram realizadas pesquisas de referências que estão atualmente no mercado, como uma base para o raciocínio e suas várias possibilidades. Tubo telescópico de alumínio, um acessório independente utilizado para a regulagem do tripé que serve de base para o telescópio, a regulagem funciona a partir de furos pré-deFonte: mundo mais funcional terminados. Tubo telescópico <http://mundomaisfuncional.com/index.php/ pt/acessorios/telescopico-aluminio-detail>

Liga de alumínio retrátil para inspeção de ferramenta, utilizado para bater na superfície da telha ou metal para inspecionar a qualidade através do som. Funciona a partir de um sistema de retração, a ponta é mais fina e vai Ferramenta de inspeção retrátil engrossando. A peça é dividida em se- Fonte: DealExtreme <http://www.dx.com/ tores que vão deslizando um para den- pt/p/aluminum-alloy-retractable-floor-instro do outro e assim realizando o movi- pection-tool-w-19mm-hammer-ball-silmento de retração. (imagem ao lado). ver-111527#.WuSzSojwa00>

Esta imagem mostra a solução de uma peça realizada na máquina 3D, onde a rosca desliza pelo tubo central e, por conta do material, consegue parar na altura determinada e permanecer já que não recebe esforços na direção do deslocamento. Dessa referência surgiu a modelagem da estrutura, por essa solução ser a mais viável na oficina do Centro Universitário Senac.

Fonte: acervo da autora 53


4.10. Processo de execução. 4.10.1 Opção 1 Nesta primeira opção, a prioridade era o teste do colete com mais rapidez, a fim de ter resultados prévios e tempo para as eventuais alterações. Dessa forma, foi pensado uma maneira de segurar a estrutura T a partir do próprio tecido, sem a necessidade de uma peça de conexão entre a barra horizontal e o tubo vertical. Resgatando o croqui abaixo, é possível compreender o raciocínio, onde um tecido com o velcro, passa por um vão aberto na estrutura tubular e o abraça através do velcro. A barra de acrílico horizontal fica fixa em um bolso costurado no colete, assim como o tubo, para que permaneça no sentido e posição corretos. Croqui 1 Opção de estrutura e colete 1

Tubo de alumínio com recorte feito por parafusadeira

e lima, a fim de passar o tecido para anexar a estrutura ao colete.

Imagem da solução provisória para o deslocamento da estrutura retrátil, que funciona através da fricção entre a borracha e a parede do tubo Fonte: acervo da autora.

54


4.10.2 Opção 2 Na segunda opção, foi pensando na estrutura toda produzida na máquina 3D, na qual o objeto foi modelado, pensando no tubo retrátil e na conexão entre a parte vertical e horizontal (retângulo em acrílico)

Peça modelada em 3D para ser impressa na máquina 3D

Croqui 2

Opção de estrutura e colete 2

Estrutura T representada junto ao colete antes do bolso ser anexado

Fonte: acervo da autora

55


4.11. Análise e funcionalidade do equipamento proposto Após a finalização do colete, ao experimentá-lo ficaram evidentes mudanças necessárias antes dos testes no corpo. As imagens a seguir ilustram os dados levantados. Com relação à estrutura T, as duas opções se mostraram ineficazes. A peça produzida pela máquina 3D ficou muito frágil para o tipo de esforço que ela sofreria e, através do teste de percepção corporal, ficou claro que é necessário uma conexão entre as partes horizontal e vertical da estrutura, o que invalidou a peça fixada pelo velcro.

Peça de conexão trincada

O velcro como regulagem no ombro não funcionou, pois ao movimentar o corpo ele desgrudava com facilidade. Além disso, devido à maneira de regular os ombros com o velcro e à rigidez do tecido, a estrutura horizontal não ficava bem posicionada, não sendo eficaz em seu propósito de despertar a percepção do apoio nas escápulas.

Velcro se solta facilmente Fonte: acervo da autora

56


4.12 Adaptações 4.12.1 Colete Para melhorar a funcionalidade do colete, foram realizadas as seguintes alterações: Velcros que se fechavam pela lateral foram cortados e duas tiras de tecido foram anexadas, nelas foram aplicados novos velcros duplos que se fecham na frente do tórax, reproduzindo a experiência bem sucedida dos coletes anteriores. O fechamento por velcros no ombro foi substituído por fivelas reguláveis e, por fim, a frente do colete é fechada através de duas tiras largas que se encontram em uma fivela nas costas, auxiliando na estruturação do colete e criando um reforço, tanto na frente do tórax quanto no apoio da estrutura T nas costas. A nova estrutura, feita de cano PVC, como será explicado no item seguinte, entra por um bolso na parte de cima, como indicado nas imagens ao lado. O fechamento deste bolso também é feito por velcro.

alterações no colete do item 4.8.2

costas

frente

frente - velcro no tórax

Fonte: acervo da autora

57


4.12.2 Estrutura retrátil PVC Levando em consideração as referências anteriores , foi decidido uma nova forma de lidar com a parte retrátil da estrutura. Foi utilizada uma peça de regulagem de guarda-sol, que funciona como uma mola, presa no tubo interno (PVC 1/2”), que se encaixa nos furos do tubo externo (PVC 3/4”). Foi utilizada uma peça de conexão para a estrutura vertical e horizontal, entretanto foi necessário a utilização de cola para a fixação do tubo, pois a peça de conexão era para a dimensão 1/2” e o tubo vertical é de 3/4”. Foi necessário, também, lixar as terminações, bem como a peça conectora, pois eram incômodas quando colocadas no colete para a realização da postura.

Estrutra retrátil e T

Peça de regulagem de guarda-sol

Estrutura T - demonstração da extensão do tubo.

Fonte: acervo da autora

58


4.13 Testes com o novo equipamento corporal Ao repetir a sequência para os testes (Adho Mukha Svanasana, Kumbhakasana e Sukhasana) foi possível perceber a evolução do equipamento corporal como um todo. A partir da minha percepção corporal, acredito que este modelo atenda às necessidades pré-determinadas na questão de percepção corporal e correção de alinhamentos. As fivelas nos ombros funcionam bem para a regulagem e são práticas, o velcro com fechamento na frente do tórax deixa mais claro a intenção de ativar o abdômen, recolhendo as costelas, isso se deu principalmente pelo reforço do velcro. Já a fivela nas costas ainda precisa de um leve ajuste, pois, ela acaba mal posicionada nas costas, sob o cano, dependendo das dimensões do usuário. A estrutura retrátil é facilmente ajustada, porém o ideal é que haja uma trava para que um tubo não gire dentro do outro na hora de trocar o botão de posição. A percepção das escápulas se tornou evidente e com a mesma linguagem do toque na lombar, onde é apenas um lembrete da posição correta. Isso foi possível graças a explicação do posicionamento dos cotovelos, como foi relatado anteriormente.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana e Kumbhakasna com o colete do item 4.12.1 Fonte: acervo da autora

59


4.13.1 Juliana Observações da usuária: achou o colete melhor estruturado e mais firme, ressaltou que no colete anterior, as bolas que ficavam fixas nas extremidades da estrutura T deixavam mais perceptível os pontos de apoio. Entretanto, ao explicar sobre os alinhamentos do cotovelo, ela foi capaz de perceber o posicionamento correto, apesar de mais sutil. Essa sutileza do toque é intencional, pois as bolas eram um exagero, no sentido de que faziam a pessoa afastar ao máximo as escápulas, na vontade de empurrar as bolas, sendo que a estrutura deve proporcionar apenas um leve toque.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o

colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

4.13.2 Emiliana Observações da usuária: Semelhantes às da Juliana. Como acompanhou o processo de adaptação do colete de maneira mais íntima, principalmente com relação às descobertas ao longo do trabalho, suas percepções já levaram em consideração os ajustes do cotovelo, não gerando o mesmo estranhamento que o da Juliana com relação às bolinhas. Também ressaltou que o uso das fivelas fez uma grande diferença na regulagem dos ombros, para uma maior precisão da posição da estrutura T.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

60

Sukhasana com o

colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora


4.13.3 Fernanda Observações da usuária: semelhantes às anteriores, inclusive com relação às bolinhas. Porém, o resultado foi o mesmo, após explicar a função dos cotovelos e do apoio da estrutura nas escápulas. Comentou que o colete estava mais preso e mais fácil para perceber o alinhamento. Nas posturas Adho Mukha Svanasana e Kumbhakasana sua atenção ficou mais voltada para a estrutura na base da coluna, já sentada em Sukhasana, chamou mais a atenção o apoio para os ombros. Não teve dificuldades em vestir.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o

colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

4.13.3 Murilo O usuário havia realizado apenas o teste com a primeira estrutura, sem as bolinhas e estrutura retrátil, além disso, a estrutura novamente não foi eficaz para ele na postura Adho Mukha Svanasana, devido a curvatura de sua lombar, sendo necessário investigar mais a fundo o que acontece nessa região do seu corpo. Observações do usuário: O colete é mais firme e preso ao corpo, a estrutura não machuca e é fácil de vestir. (imagens 140, 141 e 142)

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o

colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item

Fonte: acervo da autora

4.12.1

61


4.13.4 Bernardo A partir deste teste, nenhuma das pessoas teve contato com os outros coletes, por isso foram realizadas as posturas primeiro sem o equipamento e depois com ele, para que pudessem perceber as diferenças. Observações do usuário: conseguiu perceber bem a lombar e o caminho para o alinhamento. Sentiu que sentado é quando melhor consegue perceber os apoios da estrutura.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

62


4.13.5 Carolina Nascimento Observações da usuária: O colete traz mais intensidade para a postura, pois você consegue perceber a posição correta e realizá-la. Comentou que possui cifose e por conta disso utiliza um colete de correção postural, mas que é extremamente desconfortável, principalmente nas axilas. Por isso, achou que esse, não machuca e o tecido (tela de poliéster) é confortável.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

63


4.13.6 Filipe Observações do usuário: Achou o colete fácil de vestir e cumpre o propósito de indicar o ponto na lombar. A posição que mais fez diferença para ele foi sentado em Sukhasana.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

64


4.13.7 Karine Observações da usuária: segundo a karine, consegue sentir a pressão quando está numa posição errada, principalmente por sua hiperextensão, o colete auxilia a manter o alinhamento, não excedendo nas posturas que exigem alongamento.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

65


4.13.8 Kelvin Observações do usuário: segundo Kelvin “O equipamento não te trava, ele te mostra quando a postura está chegando no certo”. Para ele foi perceptível os ponto-chaves nas três posturas.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

66


4.13.8 Carolina Picchi Observaçþes da usuåria: acho que o colete se prende bem ao corpo e auxilia no entendimento dos alinhamentos.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

67


4.13.9 Mariana Observações da usuário: Para a Mariana o colete ajudou muito, pois se sentiu insegura ao fazer a postura sem nunca ter praticado. Dessa forma o colete deu a segurança e a indicação de que estava fazendo da maneira correta, gerando um conforto psicológico.

Adho Mukha Svanasana com o colete do item 4.12.1

Sukhasana com o colete do item 4.12.1

Kumbhakasana com o colete do item 4.12.1

Fonte: acervo da autora

68


4.14 Conclusões gerais Após os testes com mais usuários, ficou claro que o colete cumpre seu propósito de dar segurança e de demonstrar a partir da percepção corporal e vivência de sua própria anatomia os alinhamentos corretos para uma prática de Yoga segura. Todos os usuários foram capazes de vestir o colete sem grandes dificuldades, apontando as fivelas e o velcro como as escolhas mais adequadas. As indicações feitas no item 4.13 ainda são válidas como um aprimoramento do colete, como, por exemplo, a necessidade de posicionar melhor a fivela nas costas, mas sua essência está resolvida neste modelo funcional.

69


5. Projeto


Ao concluir os testes com o equipamento corporal, foram discutidos meios de execução e materiais possíveis para sua produção. Foram cogitadas algumas soluções para a estrutura T, como extrusão, plástico injetado, sopro, rotomoldagem, utilização do bambu e até mesmo a hipótese do faça você mesmo (DIY), seguindo os materiais do último modelo. O meio de produção definido foi pensado pela demanda existente no mercado, com o público alvo sendo escolas de Yoga, academias ou profissionais da área que atendam em consultórios ou a domicílio, o que exigiria uma produção seriada e controlada, porém em uma escala de pequeno porte. Por necessitar de processos relativamente complexos em sua realização, e pela precisão implicada, foi descartada a versão do faça você mesmo. Assim, a peça seria produzida através da termoformagem a vácuo, onde o molde forma duas partes separadas que, posteriormente, são recortadas a laser e coladas, além disso a peça que encaixa nos furos para a regulagem do tamanho já é existente, como indicada no item 4.12.1. O material foi pensando no peso, com a intenção de ser leve, e também no custo, por isso foi escolhido o PVC reciclado, dessa maneira tanto a técnica quanto o material são baratos.

modelo eletrônico do molde de produção das peças da estrutura em T

71


A

C

15

C

0,4

21,5

0,02

0,75

B

B A

Vista superior T

Corte AA

esc 1:2

esc 1:2

Corte BB esc 1:2

Corte CC esc 1:2

72


D E

E

24

0,02

0,02

D esc 1:2

Vista superior tubo retrรกtil

esc 1:2

Corte EE esc 1:2

0,01

Corte DD

73


Já para o colete, foi realizada a pilotagem para a execução e o tecido escolhido é uma tela de poliéster. Além disso, as medidas padrões deste modelo atendem do P feminino ao M masculino, a intenção é formar duas medidas padrões P-M e M-G.

3

12

0,5

16

Fivela ombro

2,5

22

Velcro tórax

30

Linha de costura

4

7

28 4 3

Costas

95

25

esc 1/10

7

Velcro tórax

Costas avesso esc 1/10

74

25


35 4

7 3

22

2,5

0,5

30

0,5

0,7

20 65

Frente

25

esc 1/10

Fivela ombros Cadarรงo Regulagem Fivela costas Cadarรงo Regulagem

Frente avesso esc 1/10

7

24

Velcro

22

29

7

10

Bolso T esc 1/10

Bolso T avesso esc 1/10

75


6. Prรกtica


6.1 Teste com outras posturas. Levando em consideração todos os aspectos citados anteriormente, foram realizados testes com outras posturas com a finalidade de mapear as diversas possibilidades que o colete pode trazer. Cabe ressaltar que para esses testes o colete mostrado no item 4.12.1 ainda não havia sido confeccionado, entretanto, as percepções levantadas pelo modelo anterior se enquadraram para tal finalidade de investigar novas possibilidades.

Utkatasana Nessa postura o prop auxilia na percepção do encaixe do quadril e ativação do Mulabandha e Uddiyanabandha, através do apoio da lombar e do fechamento do colete sob as costelas, respectivamente, assim como a abertura do peito ao encostar as escápulas no

Utkatasna - postura incorreta

Utkatasna - postura correta Fonte: acervo da autora

77


Dandasana Nessa postura o objeto auxilia a manter a coluna alinhada através do apoio da lombar, indicando a rotação da báscula do quadril e no recolhimento das costelas através da fixação do colete, a ativação do Mulabandha e Uddiyanabandha acontecem quase de maneira inconsciente pela demanda gerada para ocorrer a tração da coluna vertebral.

Dandasana - postura incorreta

Dandasana - postura correta

Fonte: acervo da autora

78


Ardha Paschmotranasana O colete auxilia na meia postura, o ardha paschmottanasana, servindo para criar consciência da rotação do quadril e do alongamento correto e esperado, pois, ao unir as escápulas usando a parte superior do T como apoio e flexionando o tronco para frente, o praticante tem uma sensação clara do que é o alongamento ideal para então seguir para a postura completa, consciente de suas limitações naquele momento.

Ardha Paschimottanasana

Virabhadrasana II Nesse ásana o colete auxilia no encaixe do quadril e recolhimento das costelas, para ser mais efetivo vale ressaltar a ativação dos bandhas seguindo as direções geradas pelas forças que o colete produz no corpo, como é o caso da pressão nas costelas.

Virabhadrasana II

79


6.2 Uma aula com o equipamento corporal proposto. Em toda prática de Hatha Yoga é esperado que sejam trabalhados os seguintes aspectos: flexão, extensão, torção, abertura lateral, equilíbrio, força, tração, inversão, relaxamento, pranayama e meditação. Sendo assim, será proposta uma prática com o colete que englobe todos esses aspectos essenciais. Porém as posturas de extensão e deitadas com a face anterior do corpo voltada para cima não poderão ser realizadas com o colete, pois ele impede tais movimentos, como acontece no Savasana, postura do relaxamento final. Assim, para esses asanas o colete será removido. Devemos recordar que o colete não se aplica a todas as posturas de yoga, mas apenas àquelas em que o alinhamento dos ombros e da lombar são necessários para se manter a estabilidade.

Sukhasana

Pawanmuktasana

Badhakonasana

Utthita Marichyasana

Ardha Paschimottanasana

Balasana

Ardha Uttanasana

Tadasana

Vriksasana

Fonte: acervo da autora 80


Utkatasana

Virabhadrasana II

Trikonasana

Ardha Uttanasana

Kumbhakasana

Setubhandasana

Sarvangasana

Savasana

Pranayama

Meditação

Fonte: acervo da autora 81


7. consideraçþes finais


Ao longo do processo foram realizadas diversas reflexões, tanto sobre a prática, quanto sobre os alinhamentos corporais e a percepção corporal. O trabalho contribuiu imensamente no âmbito profissional, como instrutora de Yoga, pois os aspectos levantados foram incorporados às aulas, tendo um grande avanço pessoal na habilidade de explicar as posturas e compreender melhor os corpos dos alunos. Além disso, as noções sobre modelagem e costura, meios de produção e execução e raciocínio projetual foram fatores importantes na trajetória, que pude desenvolver ao longo do trabalho, sendo muito gratificante. O processo de experimentações para o desenvolvimento do modelo fez com que eu buscasse novas formas de explorar os ásanas, trazendo maior qualidade para minha prática pessoal e dos meus alunos. Apesar de uma variação restrita de posturas, vejo o colete como uma forma eficaz de ajudar os iniciantes a embarcar e se aventurar no mundo do Yoga, com mais segurança psicológica e física, nunca esquecendo de sua responsabilidade perante sua saúde física e mental. Esse modelo resolve questões de alinhamento para a flexão do tronco e rotação da báscula e encaixe do quadril, se formos resgatar os movimentos básicos presentes em uma prática de Yoga, como descritos no item 6.2, seria um possível desdobramento pensar em outras estruturas que auxiliassem em posturas de extensão, ou seja, que promovem o movimento oposto do que foi trabalhado neste projeto. Assim, acredito que o modelo tem potencial a ser explorado, e que seu uso pode ser incorporado nas aulas de Yoga de qualquer linha, quando se trata de explicar alinhamentos.

83


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