O RE DA VELA atravessando a rua do teatro oficina O REI DA VELA
O REI DA VELA -
ATRAVESSANDO A RUA DO TEATRO OFICINA
MARIANA DA SILVA
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
O REI DA VELA - atravessando a rua do teatro oficina
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
Orientador: Gabriel Pedrosa
SÃO PAULO 2018
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Agradecimentos Agradeço ao meu orientador por ser tão paciente, por ter acreditado no meu trabalho e por jamais ter desistido de mim. Aos meus pais e aos meus amigos que estiveram ao meu lado em todos os momentos. Aos professores que me ajudaram a trilhar o caminho até aqui. E por fim, agradeço ao Zé Celso e a todo o grupo do Teatro Oficina por continuarem re-existindo, vocês são sensacionais.
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abstract This term paper is a scenographic project at the Oficina Theater for the play O Rei da Vela, an important landmark not only important for Oficina Theater, but so Oswald de Andrade’s work affirmation, who inspired through his many anthropophagic concept of subsequent theatrical productions, as well as manifestations in other arts, such as Tropicalism. In order to make, after references, O Rei da Vela for the current realization for Oficina Theater, designed by Lina Bo Bardi and Edson Elito. Keywords: Vanguard Anthropophagy, Scenic
Theater, O Rei da Vela, Architecture, Oficina Theather
REsumo Esse trabalho de conclusão de curso propõe um projeto cenográfico no Teatro Oficina para a peça O Rei da Vela, considerada um marco não só para o Teatro Oficina, mas também como afirmação da importância da obra de Oswald de Andrade, que inspirou através do seu conceito de antropofagia muitas das produções teatrais subsequentes, além de manifestações em outras artes, como por exemplo o Tropicalismo. A proposta consiste em trazer, a partir dessas referências, o Rei da Vela para o edifício atual do Oficina, projetado por Lina Bo Bardi e Edson Elito. Palavras-chaves: Teatro de Vanguarda, O Rei da Vela, Antropofagia, Arquitetura Cênica, Teatro Oficina
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SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................................................................................................................ 11 2. Teatro de Vanguarda ............................................................................................................................................................................................. 13 3. Teatro Oficina ........................................................................................................................................................................................................... 18 3.1 Linguagem e Trajetória ...................................................................................................................................................................... 18 3.2 O Edifício ............................................................................................................................................................................................... 27 4. O Rei da Vela ........................................................................................................................................................................................................... 36 4.1 Sinopse ................................................................................................................................................................................................... 36 4.2 O Rei da Vela - Uma leitura no Teatro Oficina ..................................................................................................................... 36 5. Estudo de Casos ...................................................................................................................................................................................................... 48 5.1 Macumba Antropófoga ...................................................................................................................................................................... 48 5.2 Mistérios Gozosos ............................................................................................................................................................................. 50 5.3 Para dar um fim ao juízo de Deus .............................................................................................................................................. 52 6. Projeto ......................................................................................................................................................................................................................... 55 6.1 Diretrizes do Projeto ................................................................................................................................................................................ 57 6.2 Construção do Espaço Cênico ............................................................................................................................................................ 58 6.3 Disposição da cenografia ....................................................................................................................................................................... 72 6.4 Iluminação .................................................................................................................................................................................................... 83 6.5 Figurinos ....................................................................................................................................................................................................... 89 7. Considerações Finais .............................................................................................................................................................................................. 94 8. Iconografia .................................................................................................................................................................................................................. 96 9.. Bibliografia ................................................................................................................................................................................................................. 101
1.Introdução
1.INTRODUÇÃO O
trabalho pretende elaborar um projeto cenográfico no Teatro
Oficina para a peça O Rei da Vela. Por se tratar de um teatro não
peças como Andorra de Max Frisch, Na Selva das Cidades de Bertolt Brecht, O Rei da Vela de Oswald de Andrade, e terminando o capítulo com Hamlet de Shakespeare, peça que inaugura a nova configuração arquitetônica do teatro Oficina, projeto de Lina Bo Bardi e Edson Elito.
convencional, foi importante fazer um recorte na história, iniciando o estudo pelo teatro de vanguarda para entender as principais referências
O Rei da Vela foi um marco não só para o teatro Oficina, mas também
e até a própria configuração espacial do Oficina.
para o teatro nacional, sendo o objeto de projeto desse trabalho. O capítulo seguinte aborda questões da peça como: sinopse, suas
A vanguarda surge no teatro no final do Sec. XIX, na Europa,
adaptações pelo Oficina e a influência de Oswald de Andrade que marca
como movimento de contestação aos padrões teatrais até então
até hoje o grupo.
estabelecidos, já no Brasil surge na semana de arte de 22. Por fim é apresentado o projeto, com o trajeto desde os primeiros A partir desse levantamento inicial, o trabalho discorre sobre as
estudos até o resultado final, mostrado através de montagens, croquis,
principais influências que foram transformando a linguagem do
cortes, plantas, maquete e referências.
Oficina. De Bertolt Brecht a Antonin Artaud, que apesar de opostos em algumas de suas propostas de teatro, eram semelhantes quanto à busca de grandes renovações. Do teatro de Bretch, que buscava estabelecer um discurso direto com a plateia, à loucura necessária do Teatro de Artaud, que buscava no próprio corpo e nos rituais a essência do seu teatro, o Oficina foi encontrando a sua própria linguagem. Essa transformação de linguagem é mostrada no capítulo sobre o Teatro Oficina, onde é feito um levantamento desde as primeiras peças, como Vento Forte para um Papagaio subir, passando por
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2.teatro de vanguarda
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vertentes artísticas como, por exemplo, o cinema e a performance.
2.O TEATRO DE VANGUARDA
Artaud nasceu em 1898 na cidade de Marselha, na França, e com apenas O termo vanguarda não teve sua origem no teatro ou nos
16 anos, quando ainda frequentava o colégio, foi internado devido a sua
outros
como
sanidade mental, problema que vai acompanhar toda a sua trajetória,
vanguardistas, sua origem é militar e designava a parcela do
marcando não só sua vida, mas também sua produção artística.
movimentos
artísticos
que
se
denominaram
exército que ficava na linha de frente, defendendo a outra parcela de soldados. O uso desta terminologia no teatro baseia-se neste
A trajetória teatral de Artaud é marcada por uma explosão incontrolável
conceito militar, e significa dizer que os artistas que receberam
de pensamentos que ficavam entre a linha tênue do real e do surreal,
este nome estavam à frente dos demais artistas de seu tempo.
e, por falar em dualidade, esse era um dos pontos que Artaud buscava acabar na sua proposta de teatro. Para ele, vida e teatro são
O teatro de vanguarda surge na Europa no final do século XIX,
uma coisa só, assim como também o corpo do ator não se dissocia
como um movimento que contestava os padrões estabelecidos
do texto no teatro, ou seja, na sua visão o corpo é o próprio texto.
para o teatro vigentes na época. Propunha-se uma discussão que se colocava à frente de tudo o que era apresentado no cenário
Artaud inicia sua carreira no teatro em 1921, mas após inúmeros
teatral do período, buscando o rompimento e a reformulação desses
fracassos como ator e como diretor, em 1936 decide viajar para
valores. Já no Brasil, a vanguarda chega com certo retardamento,
o México onde tem contato com uma tribo indígena e uma bebida
surgindo apenas em 1922, em meio à semana de arte moderna.
alucinógena chamada peyote, que o deixa em estado de êxtase. Após o contato de Artaud com essa tribo ele percebeu que tudo o que
No que diz a respeito às discussões do teatro de vanguarda iniciadas
ele apenas pensava sobre teatro, aquela tribo conhecia e vivia. Nos
na Europa, tive como base dois grandes nomes: Antonin Artaud
rituais que levavam aquela tribo ao estado mais primitivo, nos gestos,
e Bertolt Brecht. Mesmo não sendo os percussores da vanguarda
e na magia a qual aquela tribo e o próprio Artaud eram levados ao
teatral na Europa, são influências diretas para o meu estudo e,
tomar o peyote, estava a essência do teatro. Artaud considerava que
sem dúvida, foram importantíssimos não só para a renovação do
um teatro que estivesse restrito apenas ao texto não fazia sentido
teatro, mas também serviram e servem de inspiração para outras
algum, e que a verdadeira forma de se fazer o teatro residia na
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evocação dos sentidos mais primitivos, nos gestos, no uso do corpo
contexto do teatro de vanguarda: Bertolt Brecht. Nascido em 1896, na
de forma livre.
Alemanha, também propõe uma renovação da linguagem do teatro, com uma proposta de cunho muito mais voltado para discussões
“A escravização ao autor, submissão ao texto, que barco
sociais.
fúnebre! Mas cada texto tem possibilidades infinitas. O espírito e não a letra do texto! Mas um texto exige mais do que análise
Brecht se preocupava em fazer um teatro que fosse voltado também
e penetração. ” (Artaud, 2008, p.24)
para a população mais pobre, não como o que estava sendo feito na época, que ele considerava voltado para os setores mais privilegiados
Pouco tempo depois, ao voltar para a França, Artaud acaba sendo
da sociedade.
internado novamente. Nesse tempo em que fica internado, sofre com o tratamento à base de eletrochoques, mas também acaba
...o teatro épico, assim denominado por ele em 1926, quando
escrevendo alguns textos.
publicou Um Homem e Um Homem. A peça é decididamente narrativa; os personagens interrompem a ação e dirigem-
Em 1938 publica sua obra intitulada O teatro e seu duplo, contendo
se diretamente ao público, comentando ou ironizando uma
um total de 14 textos. Essa obra é importantíssima pois nela estão as
situação ou uma ideia. Ele cita a si mesmo na peça e usa
noções básicas para entender a proposta do teatro artaudiano.
um processo novo: a metamorfose em cena. O texto é o primeiro exemplo de teatro didático e pedagógico em sua
Artaud morreu sem ver sua proposta de teatro ser concretizada,
obra. (FURTADO, 1995, p3)
foi considerado louco na época, mas não demorou para que seu trabalho fosse reconhecido após sua morte e suas obras fossem
O teatro épico de Brecht, citado acima, consiste em despertar o
usadas como base para se pensar um novo modo de se fazer teatro.
espectador para o que está acontecendo em cena, fazendo com que
Foi um dos mais radicais nas suas propostas para o teatro e seus
esse espectador deixe a passividade de lado ao assistir à peça, e que,
estudos repercutem até hoje.
ao sair do teatro, não esqueça os questionamentos ali levantados. Dessa forma, o espectador não sairia do teatro apenas satisfeito com o que
Contemporâneo de Artaud, temos outro nome muito importante no
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assistiu, mas com a possibilidade de se tornar um ser questionador.
Como já citado, no Brasil a vanguarda tem início na semana de arte
Oswald de Andrade foi um dos primeiros a escrever textos brasileiros
moderna de 1922, de que, apesar de ter sido realizada em um teatro,
modernos para o teatro, mas esta parte de sua obra não teve, durante
a arte teatral acabou ficando fora.
muito tempo, o mesmo reconhecimento que os textos de Nelson Rodrigues, sendo considerados inapropriados. Na verdade, Oswald
A explicação mais óbvia para a ausência do teatro na Semana
estava muito à frente de sua época, e propunha uma renovação
de 1922 é que, sendo ele síntese de elementos artísticos,
radical para a forma de se fazer teatro. O reconhecimento da sua
reclamaria a renovação prévia das artes que o compõem, para
importância para a dramaturgia e para o teatro brasileiro só veio muito
aproveitar mais tarde cada avanço parcial. Na pacata São Paulo
tempo depois, quando em 1967 o teatro Oficina decidiu produzir a
daquele ano, a não ser gestos de rebeldia individuais, era difícil
peça O Rei da Vela, trinta anos depois de sua publicação.
pensar numa consciência de grupo voltado para o teatro, que revolucionasse a totalidade do espetáculo. (MAGALDI, 1997,
No Brasil, um dos nomes mais importantes do teatro de Vanguarda
p.295)
é o de Augusto Boal, que inclusive influencia diretamente o Teatro Oficina. Boal nasceu em 1931, no Rio de Janeiro. Sua trajetória inicia-
O que houve durante algum tempo em relação ao teatro no
se em 1956, quando passa a integrar o Teatro de Arena, que teve
Brasil, foram tentativas individuais de avanço. Entre os nomes mais
grande importância na história do teatro brasileiro, por buscar uma
importantes da dramaturgia moderna brasileira estão: Oswald de
representação da realidade nacional com um forte engajamento
Andrade, Nelson Rodrigues e Flávio de Carvalho. Porém, durante
político e trazendo questões que até então não eram temáticas de
um bom tempo, os textos desses dramaturgos, em especial os de
peças.
Oswald de Andrade, padeceram em estantes de leituras. No Teatro de Arena, Boal inicia, através do musical Arena conta “O encontro entre texto e encenação só veio dar-se em 28
Zumbi, o que chamou de sistema coringa, onde um ator era
de dezembro de 1943, com a estreia de vestido de noiva, de
responsável por conectar as cenas expondo sua opinião e os outros
Nelson Rodrigues, na montagem de Ziembinski.” (MAGALDI,
atores se revezavam entre os papéis.
1997, p.297)
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Com o golpe de 1968, as censuras e torturas a integrantes do Teatro de Arena se intensificaram, tornando-se cada vez mais difícil mantêlo. Em 1971, Boal acaba sendo detido, e no ano seguinte o Teatro de Arena fecha suas portas. Boal ficou durante três meses preso, e após ser solto buscou exílio em Buenos Aires. Na argentina criou o teatro invisível, uma prévia do que viria a ser o teatro do oprimido. O teatro invisível se tratava de encenações feitas em espaços públicos sem que jamais fosse revelado que se tratavam de encenações, com o intuito de levantar questionamentos sociais de coisas que se tornaram habituais, porém que deveriam ser olhadas com um olhar mais crítico. Ainda na Argentina publicou o livro Teatro do Oprimido, e logo em seguida partiu para o Peru onde realizou o Teatro-Fórum, onde o espectador participa ativamente das peças. O Teatro-Fórum é uma técnica do Teatro do Oprimido, que se espalhou pelo mundo inteiro, como forma de externalizar questões de grupos de oprimidos. A busca do teatro do oprimido não é apenas levantar questões problemáticas em relação dos opressores aos oprimidos, mas através da participação coletiva do público presente imaginar soluções para os problemas levantados.1
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O texto escrito sobre Augusto Boal foi baseado no documentário: Augusto Boal e o Teatro do Oprimido (2010), disponível em: youtu.be/lL3-Wc305Gg, acesso em: 10/03/2018
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3.teatro oficina
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3.TEATRO OFICINA 3.1 Linguagem e trajetória Em 1958, na faculdade de Direito do Largo São Francisco, tem
o Oficina e o teatro de arena houve nesse momento uma virada na forma de produção das peças. O Oficina, com influência do teatro de arena, e em especial de Augusto Boal, passou a montar peças com uma preocupação social evidente.
início o Oficina, formado por um grupo de amigos, entre eles: José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Carlos Queiros Telles e Amir Haddad.
Em 1960, com a vinda ao Brasil de Jean-Paul Sartre, o Oficina ficou interessado em transformar A engrenagem, um roteiro de cinema, em peça. O grupo pediu autorização ao autor para que a
O grupo recém-formado alugou o teatro dos comediantes localizado na Rua Jaceguai, espaço que anteriormente pertencia a uma companhia de teatro espírita. As primeiras peças encenadas, ainda de forma amadora, no teatro Oficina foram Vento forte para um papagaio subir, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e A ponte, de Carlos Queiros Telles. noteatro teatro amador, em estreia 1959, no estreia Oficina A Ainda no amador, em 1959, Oficinano A incubadeira, incubadeira, de A Amir A repercussão peça teve que tantaganhou repercussão de Amir Haddad. peçaHaddad. teve tanta vários que ganhou vários de prêmios no II festival de Teatro prêmios no II festival Teatro Amador de Santos, o que aAmador fez ser de Santos, que a fez ser levada a voardurante por novos ares, levada a voaropor novos ares, sendo encenada dois meses
peça fosse realizada, e generosamente os diretos foram concedidos por Sartre para sua realização. No dia 16 de outubro de 1960, o roteiro cinematográfico adaptado por José Celso e Augusto Boal estreou no Teatro Bela Vista. Após esta encenação da peça, o grupo Oficina decidiu apresentar o espetáculo em praça pública, porém foi impedido pela polícia. Segundo Segundo Renato Renato Borghi Borghi12, esse período foi importante para o Oficina, pois foi o momento de conscientização, para ele e para o Zé Celso, do abismo que havia entre as classes sociais, e foi a partir da montagem da peça A engrenagem que o grupo decidiu que iria fazer um teatro participante das lutas sociais do seu tempo.
sendo encenada no Teatro de Arenadurante dois meses no Teatro de Arena. Após se formarem na faculdade de direito, em 1961, o interesse Após a realização desta peça, a aproximação entre o grupo Oficina e o teatro de arena se tornou cada vez mais forte. Até então as peças encenadas tinham caráter muito particulares e um contexto muito pessoal de José Celso, com a forte ligação estabelecida entre
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em profissionalizar o Teatro Oficina se tornou prioridade. Nessa nova etapa, parte dos integrantes que formavam o grupo decidiu se desligar, ficando apenas José Celso Martinez Corrêa e Renato
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Conforme depoimento no vídeo: Teatro e Circustância: Paradigmas Teat(r)o Oficina Usyna Uzona, acessado em youtu.be/5IoiRyw2IU0, acesso em 10/09/2017
Borghi. No anseio da profissionalização do Oficina, eles resolveram
Visto a situação em que o teatro se encontrava, era preciso angariar
alugar o teatro espírita da Rua Jaceguai, 520, porém, após alugarem,
fundos para sua reconstrução. Uma das soluções encontradas pelo
depararam-se com um espaço sem nenhum resquício de teatro
grupo Oficina foi o chamado teatro a domicílio, em que o grupo
(Imagem 1 e 2): o lugar havia sido transformado em uma grande
ia até a casa dos moradores da alta sociedade no Pacaembu e
garagem com chão de cimento batido.
apresentava O bobo da corte, essa foi uma das formas que o grupo encontrou para levantar uma boa quantidade de dinheiro para a construção do Teatro Oficina. Nessa nova etapa de profissionalização do teatro, e com a saída de uma parte dos estudantes que integravam o grupo Oficina, era essencial que pudessem contar com atores profissionais, sendo assim, Zé Celso e Renato Borghi chamaram para integrar a equipe: Etty Fraser, Célia Helena e Eugênio Kusnet, que era considerado herdeiro do método stanislavski. Pouco tempo depois, em agosto de 1961, a nova formação do grupo Oficina, colocando em ação pela primeira vez o método stanislavski ensinado por Kusnet, estreia já no teatro reconstruído A vida impressa em dólar, de Clofford Odets, a peça foi um sucesso, ganhando o prêmio de revelação de direção APCT.
IMAGEM 1
IMAGEM 2
Em 1963, estreia no Oficina Pequenos Burgueses (imagem3), de Máximo Gorki, considerada uma das peças de maior sucesso do Teatro Oficina, que retratava a sociedade russa pouco antes da revolução, o que tinha reflexo direto no momento que a sociedade
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brasileira estava passando. Não era uma peça nacional, mas era
O Oficina não podia parar, e os integrantes que permaneceram no
como se fosse, pois existia um diálogo direto com o momento de
teatro decidiram prosseguir as atividades com a peça Toda donzela
tensão que estava prestes a eclodir no Brasil (Golpe militar de 1964).
tem um pai que é uma fera, de Gláucio Gil. A peça ficou em cartaz alguns meses e foi um sucesso de público, o que ajudou o grupo a manter o teatro.
Passada essa fase mais conturbada, os integrantes que haviam se refugiado puderam voltar. Após alguns meses, Pequenos Burgueses foi liberada para voltar a cartaz, porém a peça precisou ter alguns ajustes no texto original para que estivesse de acordo com as exigências da censura.
O Oficina não se contentava em ficar na zona de conforto, o método stanislavski já estava bem estudado, era preciso buscar novas perspectivas. A peça escolhida para substituir Pequenos Burgueses foi Andorra, de Max Frisch, que estreou no dia 10 de outubro de 1964. A peça retratava a perseguição aos judeus, e era perfeita IMAGEM 3 – Montagem de Os Pequenos Burgueses pelo Teatro Oficina
para a aplicação do método brechtiano, pois rompia com a quarta parede e tinha um discurso direto dos personagens com a plateia.
Em abril de 1964, o Brasil é atingido pelo duro golpe militar, e no
Além disso, a peça continuava a linha do Teatro Oficina em produzir
dia 3 de abril a peça Pequenos Burgueses é censurada. Foi nesse
espetáculos que dialogavam com o método que a sociedade estava
mesmo período, devido a rumores de que existia uma lista negra de
vivendo e fazia isso primorosamente através de metáforas, que o
intelectuais brasileiros, que José Celso, Fernando Peixoto e Renato
público já estava calibrado para entender.
Borghi decidiriam se refugiar em um sítio durante algum tempo.
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Dois anos depois, o Oficina tem um dos seus dias mais terríveis, em 31 de maio de 1966, quando o teatro foi totalmente destruído por um incêndio, que até hoje não se sabe se foi proposital ou não. O que poderia ser o fim do teatro Oficina trouxe ainda mais força para o grupo, para que lutasse pela reconstrução do teatro. O fato causou grande comoção no meio artístico e na mesma noite do incêndio um grupo grande de pessoas ligadas ao teatro, entre eles Fernando Peixoto, lotaram o Teatro Arena para discutir os rumos do Oficina, decidindo que fariam o possível para reconstruílo. Além da decisão tomada naquela noite, para conseguir arrecadar dinheiro e acelerar o processo de reconstrução do teatro, o grupo iniciou uma temporada retrospectiva de espetáculos no Teatro IMAGEM 4 – Cena de Andorra
Cacilda Becker, no Rio de Janeiro, as peças encenadas foram: A Vida Impressa em Dólar, Pequenos Burgueses e Andorra.
No mesmo ano, o grupo faz sua primeira viagem internacional.
Nessa temporada em que o grupo permaneceu no Rio, aproveitaram
Convidados para participar do Primeiro festival internacional
o tempo livre para fazer laboratórios com Leandro Konder, que
de Teatro no Uruguai, as peças apresentadas foram Pequenos
ministrou o curso de Filosofia e Pensamento, e Luiz Carlos Maciel,
Burgueses e Andorra, que foram muito elogiadas pelos críticos e
que ministrava um laboratório pelo gesto social. Através desses
trouxeram para o Oficina uma série de premiações no Uruguai e
laboratórios, o grupo conseguiu mergulhar na realidade brasileira
no Brasil. Entre as premiações estão O primeiro prêmio no festival
(do operário ao bancário) e, a partir desses estudos, despertou a
latino-americano, e a primeira menção honrosa de melhor ator,
vontade de se fazer uma produção a partir de um texto nacional.
para Renato Borghi. Já as premiações no Brasil foram muitas, o grupo ganhou o prêmio comissão estadual de teatro, e o prêmio
Foi então que, em uma reunião, Luis Carlos Maciel comentou sobre
de melhor realização artística de 1964, entre outros.
O Rei da Vela, um texto de Oswald de Andrade, que até então
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ninguém conhecia. Logos após a reunião, Renato Borghi ao vasculhar
foi Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, que falava sobre a repressão
a estante de sua casa encontrou um livro com o texto de Oswald e
da igreja contra o pensamento cientifico e intelectual, e apesar
ficou fascinado com a forma que aquele texto escrito em 1937 falava
de estar inserida em outro contexto histórico, a essência da peça
claramente sobre o momento que o Brasil estava vivendo. Empolgado
conversava com o momento que o Brasil estava enfrentando, um
com a descoberta, mostrou o texto a Zé Celso, que a princípio não
período de total repressão e revogação de direitos constitucionais
se mostrou interessado, mas, ao se reunirem novamente, com
através do Ato Institucional Nº5. A peça tem início com uma grade
Fernando Peixoto, Etty Fraser, Chico Martins e Itala Nandi, decidiram
em primeiro plano que lentamente vai sendo levantada.
ler o texto em voz alta, cada um interpretando um personagem, e foi nesse momento que descobriram a força daquele texto, que era ao mesmo tempo agressivo como crítica social e sarcástico. Em 29 de setembro de 1967, com o Teatro Oficina reconstruído, estreia O Rei da Vela. A peça não foi apenas um acontecimento no teatro nacional, servindo também como inspiração para outras manifestações artísticas, como o movimento tropicalista na música, por exemplo. Por se tratar de meu objeto de trabalho, está peça será abordada com maior destaque no próximo capítulo. O Brasil passava por um momento delicado entre 1968 e 1969, e foi nesse momento que as peças O Rei da Vela e Roda Viva foram interrompidas pela censura. Mesmo com a pressão exercida pela censura, o grupo não queria se desvincular do caráter crítico e social de suas peças. Foi então que Renato Borghi e Fernando Peixoto começaram a procurar uma peça que indiretamente falasse sobre esse momento que o país estava vivendo. A peça escolhida
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IMAGEM 5 – Cena de Galileu Galileu no Teatro Oficina
Foi a partir desse momento que se instaurou uma crise interna no grupo. Embora existisse um diálogo claro com a plateia, havia uma série de divergências entre os integrantes que começaram a abalar o grupo. E foi entre a crise que o grupo passava e as
apresentações de Galileu Galilei que o espetáculo Na Selva das Cidades, também de Bertolt Brecht, começou a ser ensaiado. Na Selva das Cidades foi uma peça escrita na juventude de Brecht, e conta a história de uma luta de boxe entre um pobre empregado e um rico madeireiro, onde um tenta dominar o outro. Esse espetáculo tinha uma ligação muito forte com o momento que o grupo enfrentava internamente: a crise entre os dois personagens que se digladiavam em cena era, de certo modo, um reflexo desse momento do grupo. Os laboratórios para a composição dos personagens tiveram como base os textos de Jerzy Grotowski, e foram fundamentais para a produção da peça. Após aproximadamente seis meses de ensaios
IMAGEM 6 – Cena de Na Selva das Cidades no Teatro Oficina
diários e exaustivos, os ensinamentos de Grotowski estavam deglutidos. O cenário foi feito por Lina Bo Bardi, e contava com um ringue de box, onde Renato Borghi e Othon Bastos duelavam durante quatro horas destruindo furiosamente o próprio cenário. A peça foi considerada um dos espetáculos mais fascinantes encenados pelo grupo Oficina. Porém mesmo com seu sucesso, a crise no grupo continuava se agravando.
IMAGEM 7 – Cena de Na Selva das Cidades no Teatro Oficina
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Foi nessa época que, a convite do Oficina, o Living Theatre veio
Renato Borghi, que decidem partir para uma viagem de retrospectiva,
para o Brasil. O convite surgiu na passagem do Oficina pela França,
chamada de Saldo para o Salto. Os espetáculos apresentados nesta
e foi na verdade um convite sem pretensões, o grupo Oficina não
turnê eram: Pequenos Burgueses, O Rei da Vela e Galileu Galilei.
imaginava que o convite poderia ser realmente aceito. O Living Theatre era um grupo de teatro muito conhecido internacionalmente
O Oficina, mesmo em meio à crise interna que enfrentava, vivia
e nessa época também estava ganhado notoriedade no Brasil.
mais uma vez um momento de descobertas. Foi nessa viagem que passaram a adotar o conceito do Living Theatre de viver em
A convivência e as leituras dos trabalhos do Living Theatre
comunidade, buscando novas formas e espaços fora do edifício
influenciaram muito o modo de pensar do grupo Oficina,
teatral para apresentar seus espetáculos.
e foi a partir desse convívio que, mais uma vez, o Oficina começou um processo de reformulação do seu modo de fazer
Durante as apresentações dos espetáculos, o grupo aproveitou para
e pensar o teatro. É a morte do teatro e o início do te-ato.
começar uma pesquisa que seria usada depois no Trabalho Novo. A pesquisa se desenvolveu através de Happenings, espetáculos que
“TE-ATO é um ato de comunicação direta qualquer. Você encara tudo o que acontece no dia a dia como um teatro, onde cada um de nós tem em si um personagem, e no TEATO você atua diretamente sobre isso. TE-ATO é uma ação de desmascaramento do teatro das relações sociais.”3 1
eram feitos ao livre com participação direta do público. Todo esse repertório de pesquisa, que era na verdade o início do “te-ato”, logo ganharia muita força, resultando em Gracias, Señor. Gracias, Señor estreia em fevereiro de 1972, no Rio de Janeiro,
O Living Theatre partiu para o Rio de Janeiro, e o grupo Oficina
e, na sequência, embarca para São Paulo. A peça rompe
permaneceu com uma série de inquietações geradas por esta
definitivamente com a separação entre palco e plateia. A plateia
convivência. Essas inquietações provocaram algumas mudanças
era quase intimada a participar, e foi a partir desse espetáculo
significativas. Sem muitas delongas, Fernando Peixoto decide deixar
que Renato Borghi começou a discordar com maior veemência
o grupo, restando, dos integrantes mais velhos, apenas Zé Celso e
de certas posturas, como, por exemplo, quando o público presente era convocado a queimar suas carteiras de trabalho em
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Citação disponível no site: http://www.universidadeantropofaga.org/teato, acesso em 09/11/2017
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oposição ao sistema, que os considerava apenas como números.
Com a proibição da censura ao espetáculo Gracias, Senõr, a
Durante o tempo em que fica exilado, Zé Celso filma dois
peça escolhida para a substituir foi As três irmãs, de Tchecov, e
documentários e apresenta alguns espetáculos junto com Celso Lucas.
no dia 31 de dezembro de 1972 Renato Borghi, um dos últimos
Zé Celso volta ao Brasil em junho de 1978 e reinaugura o Oficina
remanescentes da primeira formação do Oficina, decide se desligar
com o filme Vinte e Cinco. No mesmo ano, o filme O Rei da Vela
do grupo. A decisão de Borghi aconteceu na passagem do primeiro
termina de ser produzido, mas somente em 1982 o filme é lançado.
para o segundo ato de As três Irmãs, quando Zé Celso, partindo das pesquisas que começaram em Gracias, Senõr, decidiu
Durante toda a década de 80 e o começo da década de 90, o Oficina
incorporar na peça uma espécie de ritual marcado pela batida do
passou por uma oficina de leituras de textos que não chegaram a ser
candomblé, que envolvia uma improvisação e trazia a plateia para
encenados. Para os críticos, o grupo Oficina respirava apenas por
a cena. Foi então que Borghi, por não acreditar naquela ideia de
aparelhos, mas o grupo tem como característica resistir, mesmo a
teatro a que Zé Celso dava início naquele momento, decide sair.
grandes tempestades, e ressurge em 1993, agora denominado Teatro Oficina Uzyna Uzona. Hamlet é a peça que reinaugura os trabalhos
A linguagem que surge nesse período vai marcar o Oficina nos
do Oficina, sendo seguida por outras grandes peças, como por
anos posteriores, preconizando o corpo de forma mística, e
exemplo Cacilda, Os Sertões, Bacantes, e Macumba Antropófaga.
buscando nos rituais a própria linguagem do corpo. É um novo Oficina, que agora se aproxima mais do teatro proposto por Artaud A saída de Renato Borghi é a primeira ruptura, a segunda grande ruptura acontece quando a censura proíbe a exibição do espetáculo As três irmãs. Dois anos depois, em 1974, em meio às montagens do filme O Rei da Vela, Zé Celso acaba sendo preso, acusado de manter um ponto de venda de drogas no Teatro Oficina, sendo solto apenas em 1975, quando acaba se exilando em Portugal e Moçambique. IMAGEM 8 – Cena de Hamlet no Teatro Oficina em 1993
25
o corpo, e que fazem da plateia parte fundamental do espetáculo. Recentemente, no começo de novembro de 2017, após algumas conversas com Zé Celso, Chico Buarque liberou a remontagem de Roda Viva pelo Teatro Oficina, a peça foi montada pelo Oficina em 1968 e agora está sendo ensaiada para ser apresentada em breve.
IMAGEM 9 – Bacantes
IMAGEM 11 – Chico Buarque nos ensaios de Roda Viva
IMAGEM 10 – Bacantes
O Teatro Oficina vem mantendo uma característica que começou em Gracias, Senõr, e que desde então Zé Celso não abandonou: suas peças são sempre marcadas por uma forte vertente Artaudiana. São peças que resgatam do passado os rituais, a magia que envolve
26
IMAGEM 12 – Cena de Roda Viva
3.2 O Edíficio Ainda na fase amadora do grupo Oficina, a primeira reforma para o espaço partiu do projeto feito pelo arquiteto Joaquim Guedes, que projetou um teatro tipo “sanduíche”, com duas plateias que ficavam frente a frente, separadas pelo palco central. A reforma durou até 1966, quando um incêndio atingiu o teatro, deixando-o totalmente destruído.
A reconstrução do teatro aconteceu em 1967, com o projeto dos arquitetos Flavio Império e Rodrigo Lefèvre, que contava com um palco italiano giratório com um círculo central que funcionava através de um sistema eletrônico, e arquibancadas de concreto que eram acessadas por suas laterais. Em 1980, o Grupo Silvio Santos comprou os lotes do entorno do teatro com a intenção de construir um empreendimento, mas acabou desistindo após reivindicação do grupo Oficina do prejuízo que um empreendimento causaria tanto para a história do terreno, quanto para a própria história de configuração do bairro em que está inserido. Entre 1975 e 1980, o teatro viveu um período de leituras, de elaboração do filme “O Rei da Vela”, de ensaios, e até esteve alugado para outras peças. Com a retomada da “posse” de fato do espaço, pelo grupo Oficina, e com a precariedade física em que se encontravam as instalações, teve início o movimento para o compra do imóvel e sua reestruturação, que acabou tendo como resultado o seu tombamento pelo COONDEPHAAT em 1981, a partir de um parecer de Flávio Império, que diz ser o Teatro Oficina “um bem cultural da cidade não pela importância histórica do imóvel, mas pelo seu uso como palco das transformações do teatro brasileiro”. No ano seguinte, houve a desapropriação do imóvel e sua incorporação ao patrimônio público estadual sob administração da Secretaria de Estado da
IMAGEM 13 – José Celso e o incêndio que destruiu o Oficina em 1966
Cultura, e é dessa época o primeiro estudo feito por
27
Lina Bardi e Marcelo Suzuki, não levado adiante, onde já era proposto o conceito de RUA. (ELITO, 1980-1984, p.11)
Em 1984, o Oficina inicia um novo período de reformas, comandado por Lina Bo Bardi e Edson Elito, porém, devido a uma serie de interrupções, o projeto só é concluído totalmente em 1994. No projeto atual, a ideia de que a rua atravessa o espaço cênico é resgatada.
IMAGEM 15
IMAGEM 14
28
IMAGEM 16
Assim, o teatro desenvolve-se por meio de uma faixa de
É claramente perceptível a aproximação entre palco e plateia,
terra, conformando a passarela central com cerca de 1,50
que se misturam compondo um espaço que se conecta
metros de largura sobre pranchas de madeira e com extensão
em todos os sentidos, a relação público/ator é muito mais
de 50 metros de comprimento entre o acesso frontal e
próxima, visto que não se encontram separados por nenhuma
fundos, aproximando a ideia de Rua, marcando o eixo do
barreira física como acontece no teatro convencional, o que
espetáculo e desfragmentando os limites entre o palco e a
gera também maior interação entre os dois, fazendo que
plateia. No eixo, que tem sua cota diminuindo pelo percurso,
o público presente participe diretamente do espaço cênico.
à medida que se chega próximo ao centro, os arquitetos concebem um elemento surpresa: uma cachoeira, composta
Equipamentos de som e iluminação cênica estão localizados no
por sistema que deságua no espelho d’água construído e
primeiro mezanino, aos fundos do teatro. O espaço conta também
re-circulando.
com algumas telas espalhadas, que, a partir de um sistema
4 1
A plateia localiza-se nas laterais, sobre uma estrutura que conta com perfis desmontáveis de aço, abrigando até 350 lugares que se
de captação de imagens, transmitem cenas que acontecem simultaneamente em outros espaços do teatro.
dividem em quatro níveis.
IMAGEM 17
4 Citação disponível no site: https://www.archdaily.com.br/br/878324/ classicos-da-arquitetura-teatro-oficina-lina-bo-bardi-e-edson-elito, acesso em: 17/09/2017
IMAGEM 18
29
IMAGEM 19
30
IMAGEM 20
C
A B
PLANTA NÍVEL 0.00
PLANTA NÍVEL 2.30 E 4.80
31
CORTE A51 5 Corte cedido por Elito Arquitetos
32
CORTE B61
6 Corte cedido por Elito Arquitetos
33
Vista explodida CORTE C71 7 Corte cedido por Elito Arquitetos
34
4.o rei da vela
35
4.O rei da vela
da Vela, o texto da antropofagia Oswaldiana que marcaria uma nova etapa do Oficina.
4.1 Sinopse
O Rei da Vela resgatou o espírito do manifesto antropofágico,
O primeiro ato se passa no escritório de usura de Abelardo &
escrito por Oswald de Andrade em 1930, com um discurso que
Abelardo, onde o protagonista Abelardo I, banqueiro, agiota, O Rei da
escancarava a realidade nacional de forma paródica e sarcástica. O
Vela, com seu domador de feras, o empregado socialista Abelardo II,
grupo entendeu que era o momento de absorver tudo o que tinham
subjugam clientes numa jaula – devedores, impontuais, protestados…
aprendido com a cultura estrangeira e de buscar algo novo que afirmasse a valorização da cultura nacional. Sem dúvidas, O Rei da
No segundo ato, o burguês Abelardo faz um negócio para a
Vela tinha todas as características para manifestar esse momento.
compra de um brasão: casar com Heloísa de Lesbos, que se negocia como valiosa mercadoria para a manutenção da família,
peça suas duas montagens pelo teatro Analisando a a peça e suase duas montagens pelo teatro Oficina, decidi
falida pela crise do café, no seleto grupo dos 5% da elite.
manter meu projeto cenográfico divisãoprojeto em atos conforme o Oficina, no decidi manter no ameu cenográfico texto de Oswald a divisão emde Andrade. atos conforme
o
texto
de
Oswald.
No terceiro e último ato, Abelardo I, submisso ao capital estrangeiro do Americano, leva um golpe de Abelardo II, que o sucede na
O rei da Vela representa a análise furiosa feita por Oswald da
manutenção da usura do capital..182
realidade brasileira e das classes dominantes a que pertencia por origem e cujos reveses tornaram tão agudo o seu
4.2 O Rei da Vela - Uma leitura no teatro Oficina
conhecimento dos problemas. Neófito ao marxismo, que não tinha tradição de estudos teóricos no Brasil, Oswald só poderia
Em 29 de setembro de 1967, o Teatro Oficina renasceu das cinzas,
utilizar um instrumental de grandes linhas, submetendo os
em uma cerimônia grandiosa de abertura, com a estreia de O Rei
fenômenos às generalidades, aos amplos esquemas da visão política. Se esse método não é o mais indicado para estruturas
8 Sinopse disponível no site: http://teatroficina.com.br/o-rei-da-vela-devolta-8-sessoes-no-teatro-sergio-cardoso/, acesso em 08/11/2017
36
complexas, que rompem os limites das observações sumárias, no caso do Brasil ele tinha a vantagem de apontar com nitidez
os contornos e oferecer diagnóstico preciso da moléstia nacional. Oswald viu, sem falsas sutilezas, a engrenagem que movimentava (ou paralisava) o País. Expô-la a nu, num quadro que não escamoteava nenhum dado, foi a primeira virtude admirável de O rei da Vela (MAGALDI, 2004, p.66)
O cenário no primeiro ato é o escritório de agiotagem de Abelardo I, em São Paulo. Na montagem do Oficina, o cenário é fiel ao descrito no texto de Oswald de Andrade. Segundo Malgadi (2004, p.64) descreve IMAGEM 21 – Cena do primeiro ato de O Rei da Vela em 1967
O
cenário
escritórios
mistura que
indicações
Oswald
realistas,
frequentava
extraídas
diariamente,
dos na
necessidade de superar a crise financeira; dados simbólicos, como um “mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as cores”, e uma jaula, onde se amontavam os devedores; e a sugestão expressionista do prontuário, peça de gavetas com os rótulos: Malandros, Impontuais, Prontos,
Protestados,
e
em
outra
divisão,
Penhoras,
Liquidações, Suicídios e Tangas. (MAGALDI, 2004, p.67).
IMAGEM 22 – Primeiro ato O Rei da Vela em 1967
37
O segundo ato, denominado como frente única sexual, segundo Magaldi (2004, p.93), é a réplica da conservadora frente única política criada pelos políticos tradicionais com o intuito de combater o tenentismo (1922). O segundo ato se passa na Baía de Guanabara, e traz uma visão um tanto quanto internacionalizada e estereotipada do Brasil, a visão que os estrangeiros tinham do Brasil, mais especificamente do Rio de Janeiro. O cenário é composto por um telão pintado, como cita Magaldi (2004, p.93), “Made In The States”. Este telão é pintado com cores fortes, como azul e amarelo, que marcam o clima tropical, além de símbolos como o Cristo Redentor e elementos em verde que correspondem a nossa vegetação. O clima festivo mascara o momento conturbado que o Brasil
IMAGEM 23 – Cena do segundo ato de O Rei da Vela 1967
enfrentava, e mostra a burguesia decadente através da linguagem do teatro de revista. O Rio, ao contrário, é a representação, a farsa de revista de como vive o burguês, a representação de urna falsa alegria, de uma vitalidade que na época começava na Urca e hoje se enfossa na bossa de Ipanema. (CORRÊA, José Celso Martinez, 2003, p.28)
IMAGEM 24 – Segundo ato de O Rei da Vela em 1967
38
O terceiro e último ato também se passa em São Paulo. O cenário é o mesmo do primeiro ato, porém agora com uma cortina vermelha e uma luz escura que permeia a cena marcando a tragicomédia. É o ato da Morte de Abelardo I, que representa a burguesia falida, é o momento em que um sistema cai e outro assume. No caso, é quando Abelardo II toma o posto de Abelardo I. Esse ato é denominado como ópera, como segue descrição abaixo. O estilo shakespeariano interpreta em parte principalmente através de análises do polonês Jan Kott esse processo, mas o mecanismo não é o da história feudal, mas o mecanismo das engrenagens Imperialistas um mecanismo um pouco mais grotesco, mesmo porque se sabe hoje que ele é
IMAGEM 25 - Cena do Terceiro Ato de O Rei da Vela em 1967
superável, passível de destruição. A ópera passou a ser a
A unificação de tudo formalmente se dará no espetáculo
forma de melhor comunicar este mundo. E a música do Verdi
através das várias metáforas presentes no texto, nos
brasileiro, Carlos Gomes, O escravo, e o nosso pobre teatro
acessórios, no cenário, nas músicas. Tudo procura transmitir
de ópera, com a cortina econômica de franjas douradas,
essa realidade de muito barulho por nada, onde todos os
pintadas, passam a ser a moldura desse ato. (CORRÊA, José
caminhos tentados para superá-la até agora se mostram
Celso Martinez, 2003, p.28)
inviáveis. Tudo procura mostrar o imenso cadáver que tem sido a não história do Brasil destes últimos anos, à qual nos todos atendemos a nossa vela para trazer, através de nossa atividade cotidiana, alento. 1933-1976: são 34 anos. Duas gerações pelo menos levaram suas velas. E o corpo continua gangrenado. (CORRÊA, José Celso Martinez, 2003, p.29)
39
Após 50 anos da primeira montagem, O Rei da Vela voltou aos palcos, em curta temporada, no teatro Paulo Autran, em São Paulo, e em 2018, também em curta temporada, no Teatro Sérgio Cardoso. Assisti às duas montagens, o que foi fundamental para o processo de construção da proposta. Como podemos observar nas imagens abaixo, estas montagens foram fiéis à versão de 1967. O texto contou com algumas alterações, trazendo para a cena acontecimentos recentes, e, mesmo depois de tanto tempo, é incrível como a peça continua tão atual
IMAGEM 26 – Maquete para o cenário de O Rei da Vela - 1967
40
IMAGEM 27 - Cena do primeiro ato de O Rei da Vela em 2017
IMAGEM 28 - Cena do primeiro ato de O Rei da Vela em 2017
IMAGEM 30 - Cena do primeiro ato de O Rei da Vela em 2017
IMAGEM 29 - Cena do primeiro ato de O Rei da Vela em 2017
IMAGEM 31 - Cena do segundo ato de O Rei da Vela em 2018
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IMAGEM 32 - Cena do segundo ato de O Rei da Vela em 2018
IMAGEM 34 - Cena do terceiro ato de O Rei da Vela em 2017
IMAGEM 33 - Cena do segundo ato de O Rei da Vela em 2018
IMAGEM 35 - Cena do terceiro ato de O Rei da Vela em 2017
O Rei da Vela inspirou uma série de artistas no final da década de
A seguir são mostradas algumas imagens referentes ao tropicalimo
60, como por exemplo Caetano Veloso, que viram a partir dessa
que serviram como base para os meus primeiros estudos.
montagem a importância de Oswald de Andrade. Esses artistas não estavam olhando apenas para a montagem teatral do Oficina, mas também, e talvez principalmente, para Oswald, que naquele momento saía das estantes emboloradas para ganhar espaço entre as principais discussões de uma revolução no cenário artístico brasileiro chamada Tropicália. Era o conceito de antropofagia de Oswald, que já havia contaminado Zé Celso, e que agora se fazia presente desde em letras de músicas a produções cinematográficas. Não se tratava de um movimento propriamente, como cita Favaretto, “O tropicalismo surgiu mais de uma preocupação entusiasmada pela discussão do novo do que propriamente como um movimento organizado” (FAVARETTO, 2000, p.19). A tropicália não nasceu para se popularizar ou apenas resistir a um sistema opressor, e sim para re-existir. Do conceito da antropofagia, até então quase adormecido, os tropicalistas trazem a ideia de deglutir o existente, mas propor algo novo. Pensando nisso, e entendendo a importância dessa corrente para todo o cenário artístico que se inicia a partir do final de década de 60 (e que ecoa até hoje por sua grande importância), a tropicália foi um dos meus primeiros objetos de estudo para compor a proposta. IMAGEM 36 - Hélio Oiticica, Tropicália, Whitechapel, Londres 1969
43
IMAGEM 38
IMAGEM 37
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IMAGEM 39
IMAGEM 40 - Caetano Veloso vestindo parangolĂŠs
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IMAGEM 41 - Em cima: Vestidos da Rhodia, 1967. Embaixo: Desfile de moda em Londres, 1966.
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IMAGEM 42
5.ESTUDO DE CASOs
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5.1 MACUMBA ANTROPóFOGA A primeira montagem da peça pela Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona aconteceu pela primeira vez em 2008, no Sesc Paulista. Já no Teatro Oficina, a primeira montagem aconteceu em 2011, sendo montada novamente em 2012 e 2018. A principal referência da peça é o manifesto antropofágico, de Oswald de Andrade, contando com personagens como Tarsila do Amaral e Macunaíma. Na montagem de 2018 aparecerem personagens caricatos que ironizam figuras públicas como, por exemplo, Donald Trump. Foi em 2011, com macumba antropófoga, que pela primeira vez as peças do Oficina ganharam a escala urbana. Atores e público se misturam pelas ruas do bairro do bixiga, num ato que se assemelha
IMAGEM 43
a uma procissão, cantando músicas com batidas do candomblé. As encenações incorporam o espaço urbano, chamando o público para interagir com o próprio lugar e a se juntar ao coro com canções criadas na Universidade Antropófoga. Após passarem por algumas ruas do bixiga, atores e público embarcam para o interior do Teatro Oficina. A Macumba Antropófaga é a peça que nos faz a absorver a relação dos índios com a terra, a água, as estrelas, o pensamento mágico, a dilatação do tempo… para a descoberta de um novo alfabeto, novo corpo de atuação. Essa investigação nos ensaios e nos espetáculos, com o público, é uma das potências deste trabalho.9 12 9 Citação disponível no site: http://teatroficina.com.br/pecas/macumba-antropofaga/, acesso em 20/03/2018
48
IMAGEM 44
IMAGEM 45
49
5.2 MISTÉRIOS GOZOSOS Peça escrita por Oswald de Andrade. O texto é uma adaptação do poema O Santeiro do Mangue, e se passa no Mangue do Rio de Janeiro, uma conhecida zona de prostituição dos anos 40. A peça conta a história de um vendedor que ao conhecer uma prostituta do Mangue, fica dividido entre sua família e a prostituta. Questionadora, como tudo Oswald Questionadora, como tudo que Oswaldque escreveu, explora eescreveu, interliga explora e interliga questões religiosas e sexuais. questões religiosas e sexuais. novamente marca o Oficina, Zé Celso A antropofagia antropofafia de deOswald Oswald novamente marca o Oficina, Zé Celso mais vez os que cercam a Os sociedade. mostramostra mais uma vezuma os tabus quetabus cercam a sociedade. corpos Os corpos nusà arquitetura se misturam cênica, que nus se misturam cênica,àquearquitetura incorpora os rituais que incorpora rituais há quealgum já marcam já marcam os o Oficina tempo. o Oficina há algum tempo.
IMAGEM 46
As imagens foram escolhidas para destacar tanto a própria utilização do espaço do teatro, além de servir como estudo da utilização de projeções no Oficina.
IMAGEM 47
50
IMAGEM 48
51
5.3 PARA DAR UM FIM NO JUIZO DE DEUS Peça escrita por Antonin Artaud em 1947, e adaptada pela primeira vez por Zé Celso em 1996. A peça foi gravada para ser transmitida por uma rádio francesa em 1948, mas não chegou de fato a ser transmitida, foi proibida. Na montagem de 2015 pelo Teatro Oficina Uzyna Uzona, o grupo Oficina explora além dos tabus do corpo, elementos como panos que se misturam ao teatro compondo o cenário e a arquitetura cênica. Denunciando certo número de bostas sociais, oficialmente reconhecidas e recomendadas, a montagem/rito dirigida por Zé Celso com Tyazo do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, a partir da peça radiofônica de Antonin Artaud (18961948), exige a incorporação física do Verbo para defender o corpo sem órgãos e decretar o fim do juízo de deus. Em 90 minutos de enorme intensidade poética, refaz nossa anatomia, livre dos automatismos que nos impedem de viver e que insistem em dar uma interpretação estanque ao Humano. O Teatro volta então a ser o lugar onde se operam as transmutações cirúrgicas para nos transformarmos, no corpo a corpo de uma experiência viva.110
10 Citação disponível no site: http://teatroficina.com.br/pecas/pra-dar-umfim-no-juizo-de-deus/, acesso em: 20/03/2018
52
IMAGEM 49
IMAGEM 50
IMAGEM 51
IMAGEM 52
53
6.projeto
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O projeto surgiu do interesse em explorar as possibilidades de um
não exclusivamente sobre a peça O Rei da Vela, mas a forma como
teatro que foge completamente dos teatros convencionais (palco
ela escancarava as problemáticas da sociedade brasileira. A proposta
italiano). O teatro escolhido foi O Teatro Oficina, projeto de Lina Bo
consistia em resgatar elementos da tropicália, como por exemplo
Bardi e Edson Elito, a princípio listei algumas possibilidades de peças,
uma jaula e elementos da vegetação brasileira presentes na exposição
como Hamlet de Shakespeare, algumas peças de Bertolt Brecht,
Tropicália, de Hélio Oiticica. Ainda nessa primeira proposta levantei
e O Rei da Vela de Oswald de Andrade. A partir desse primeiro
como possibilidade transformar os painéis presentes na cenografia
levantamento comecei a estudar melhor sobre a configuração do
realizada no palco italiano, através de grandes panos.
espaço, a arquitetura cênica e as principais influências do Teatro Oficina, foi então que me deparei com a importância da peça O Rei
Avançando na proposta, optei por seguir por um outro caminho,
da Vela, não só para o Oficina, como também para o teatro nacional, e
deixando a crítica de Oswald de Andrade mais agressiva na
sua influência direta para o “movimento” denominado como tropicália.
cenografia proposta. No primeiro ato são utilizados como elementos cenográficos, três engrenagens, três redes e uma pira de fogo central.
Após levantar outras informações que considerava importante decidi
As engrenagens possuem quase 2 metros de altura, e controlam as
que a peça seria O Rei da Vela, escrita em 1933 por Oswald de
três redes suspensas com duas pessoas em cada rede, para cada
Andrade, montada pela primeira vez em 1967 pelo Teatro Oficina
engrenagem adotei um sistema com uma roldana fixa, e três roldanas
e recentemente em 2017 e 2018 a peça foi remontada pelo grupo,
móveis, onde o peso para levantar ou descer a pessoa diminui em
sendo todas as encenações em palco italiano. Nesse ponto estava o
oito vezes. A engrenagem não é um elemento apenas estrutural,
grande desafio, trazer uma releitura da peça que foi escrita e pensada
mas representa um sistema opressor, onde uma pequena parcela
para palco italiano para um teatro onde tudo é considerado espaço
da sociedade detentora do poder enriquece através da exploração
cênico, inclusive a própria arquitetura.
da população mais pobre. A principal referência para a engrenagem proposta são as engrenagens de Jean Tinguely. A pira de fogo está
A peça é dividida em três atos, o primeiro e o terceiro se passam em
localizada no centro do teatro envolta de uma estrutura de metal
um escritório de usura em São Paulo, já o segundo no Rio de Janeiro.
enferrujado, onde as pessoas entram com suas velas, e jogam na
A primeira proposta, ainda com poucos elementos surgiu de uma
pira de fogo.
leitura da tropicália, visto que esse movimento partiu de um olhar
55
No segundo ato a engrenagem continua presente, a representação de um sistema opressor está implícita, porém não como elemento central do ato, neste ato somassem as engrenagens grandes panos que utilizam apenas um sistema simples de roldanas. No total são 6 panos, sendo três sustentados pelo sistema de roldanas, e os outros três estão pendurados em um varal mostrando a precariedade do país. Nestes panos são projetadas imagens que denunciam a dependência do pais ao capital estrangeiro, a falsa moral e a decadência do país. As imagens são projetadas de forma fragmentada nesses panos. O terceiro ato, é o ato do suicídio de Abelardo I que é sucedido por Abelardo II, representação clara do capitalismo, onde Abelardos se sucedem no poder, mantendo em pé a grande máquina que mantém o capitalismo. Os elementos são os mesmo do primeiro ato, porém as redes estão vazias, permanecendo iluminadas com uma luz branca até o final do ato.
56
6.1 Diretrizes do projeto O projeto se configura através de elementos que expressam uma crítica social, moral e política, tomando como base o texto de Oswald de Andrade e atualizando-o para os dias atuais. As engrenagens precárias mostram um sistema de Abelardos que manipulam e controlam os mais pobres. O primeiro ato inicia com uma procissão pelos arredores do Bixiga, o público carrega suas velas (almas) e, ao entrar no Oficina, jogam na pira de fogo, alimentado o sistema.
da bandeira americana, alterando apenas as cores (verde e amarelo). Os objetos escolhidos para compor a arquitetura cênica também têm como referência as peças já realizadas no Teatro Oficina, como por exemplo o fogo que é um elemento que aparece em Bacantes, os panos que aparecem em Para dar um fim ao juízo de Deus, além da utilização de todo o espaço do teatro, sempre respeitando a arquitetura proposta por Lina e Elito.
Teatro e vida se unem, assim como na realidade nua e crua mostrada por Oswald de Andrade. Panos pendurados com imagens projetadas no segundo ato abordam questões como a intervenção militar no Rio de Janeiro, questões de gênero, que no texto de Oswald aparecem em personagens como Heloísa de Lesbos, João dos Divãs e Totó Fruta do Conde, além de imagens carnavalescas. A realidade é mostrada através dessas críticas à política, aos estereótipos que são criados, à falsa moral que é exposta em discursos de grupos (coloniais) conservadores que se dizem defensores da nação Brasileira, da família tradicional e dos bons costumes. Da cenografia proposta por Hélio Eichbauer para a peça, resgato alguns elementos com uma nova leitura: o palco giratório aparece implícito na pira de fogo, por remeter a seu formato circular e porque os atores e espectadores circulam em volta dela; e a bandeira, que continua presente no segundo e terceiro atos, e remete à bandeira utilizada nos quatro primeiros dias da república brasileira, que se tratava de uma cópia
57
6.2 Construção do espaço cênico
1:Pira
de fogo
A pira de fogo aparece como elemento central no primeiro e terceiro atos, e aproveita o sistema de gás (imagem 53) já presente no teatro. Além de ser um elemento central, retoma o dinamismo do palco giratório presente na montagem original, fazendo os atores contorná-la durante a ação. O público e os atores entram com velas no primeiro ato e jogam na pira. Tudo procura mostrar o imenso cadáver que tem sido a nao história do Brasil destes últimos anos, à qual nos todos atendemos a nossa vela para trazer, através de nossa atividade cotidiana, alento. 1933- 1976: sao 34 anos. Duas geraçóes pelo menos levaram suas velas. E o corpo continua gangrenado. (CORRÊA, José Celso Martinez, 2003, p.29)
IMAGEM 53
58 58
2:rede No primeiro estudo de proposta, ainda tendo como principal referência a tropicália, através de algumas pesquisas cheguei a um formato de jaula quadrada que remetia a um elemento da obra Tropicália, de Hélio Oiticica, e seria posicionada no mezanino.
59
Avançando para o produto final, cheguei à conclusão de que seria mais interessante de que não fosse apenas uma jaula que simulasse uma prisão, mas que de fato essas pessoas estivessem presas. Foi então que concretizei essa rede, sustentada por um sistema de roldanas..
Detalhe estrutura para sistema de roldanas
60
3: Engrenagem Associada a essa ideia da rede, surgiu a engrenagem, que não é apenas um elemento cenográfico, funciona apesar da sua aparência precária e da estrutura despropositada, assim como as engrenagens de Jean Tinguely como aparece na imagem abaixo. São três grandes engrenagens que estão dispostas no cenário e, além da representação do grande sistema que alimenta os Abelardos, servem para que Abelardo I e Abelardo II controlem manualmente as redes.
IMAGEM 54
61
4:Bandeira A bandeira é um elemento importante no segundo ato e que também está presente no terceiro, além de aparecer na montagem original da peça, porém uma bandeira norte-americana. Trazendo para a minha proposta, mantenho a presença da bandeira nos atos, mas resgato a bandeira utilizada nos quatro primeiros dias da república brasileira, que é claramente uma cópia da bandeira dos Estados Unidos, revelando uma das críticas do ato: a dependência do Brasil ao capital e à cultura estrangeira. Além disso essa bandeira me ajudou a escolher uma unidade gráfica para as imagens que são projetadas nos panos.
Detalhe encaixe bandeira
62 62
5:Panos/
Projeções
A ideia dos panos surgiu ainda em um estudo preliminar, através da leitura de um texto do Zé Celso, onde ele cita: “(...) o nosso pobre teatro de ópera, com a cortina econômica de franjas douradas, pintadas, passam a ser a moldura desse ato” (CORRÊA, José Celso Martinez, 2003, p.28). Foi a partir desse texto que cheguei à principal referência desses panos, a obra 28 operações, de Carmela Gross (imagem 55). Por fim, decidi que no primeiro e terceiro atos seria projetado em um pano pendurado no mezanino, os seguintes nomes: MALANDROS – IMPONTUAIS – PRONTOS – PROTESTADOS, PENHORAS – LIQUIDAÇÕES – SUICÍDIOS – TANGAS, usando como referência tanto o texto, como a montagem original da peça, onde esses nomes aparecem como classificação dos prontuários guardados em uma peça de gavetas. No segundo ato também são utilizados panos trazendo da montagem original o grande painel pintado de verde e amarelo. Essas cores aparecem em intervenções sobre fotografias em preto e branco, projetadas nesses panos, dialogando e atualizando questões políticas, sociais e comportamentais abordadas por Oswald de Andrade no texto. .
IMAGEM 55
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Imagens projetadas nos panos
IMAGEM 56
IMAGEM 57
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IMAGEM 58
66 66
IMAGEM 59
IMAGEM 60
IMAGEM 61
67
IMAGEM 62
68 68
IMAGEM 63
IMAGEM 64
IMAGEM 65
69
70
71
6.3 Disposição da cenografia
PLANTA PRIMEIRO ATO ESC: 1/100
72
PLANTA SEGUNDO ATO ESC: 1/100
73
PLANTA TERCEIRO ATO ESC: 1/100
74
A
B
A
B
C
D
PLANTA COM MARCAÇÕES DE CORTES ESC: 1/200
75
CORTE A / PRIMEIRO ATO ESC: 1/100
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CORTE A / TERCEIRO ATO ESC: 1/100
CORTE B / SEGUNDO ATO ESC: 1/100
CORTE A / SEGUNDO ATO ESC: 1/100
77
CORTE C / PRIMEIRO ATO ESC: 1/200
78
CORTE D / SEGUNDO ATO ESC: 1/200
79
DETALHE MAQUETE FÍSICA - BANDEIRA E PIRA DE FOGO
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DETALHE MAQUETE FÍSICA - ENGRENAGEM
DETALHE MAQUETE FÍSICA - PRIMEIRO E TERCEIRO ATOS
DETALHE MAQUETE FÍSICA - PRIMEIRO E TERCEIRO ATOS
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DETALHE MAQUETE FÍSICA - SEGUNDO ATO
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DETALHE MAQUETE FÍSICA - SEGUNDO ATO
6.4 ILUMINAÇÃO A seguir, apresento alguns diagramas com as diretrizes de iluminação. No primeiro ato há a predominância de tons mais frios. O tom azul marca boa parte do ato, e enfatiza a frieza das relações de Abelardo I, baseadas em torno do capital. O tom roxo é utilizado no momento em que Abelardo I ordena a Abelardo II que a rede seja
Por fim, no terceiro ato, foi escolhida uma cor quente, o vermelho, que marca a tensão do suicídio de Abelardo I, e ao mesmo a relação de poder entre os Abelardos. Abelardo I comete suicídio, mas é sucedido por Abelardo II, o que mantém em funcionamento o sistema em torno do capital. Neste ato, uma iluminação focal e suave é projetada em torno da pira e das redes.
aberta, marcando ao mesmo tempo a frieza e o distanciamento de Abelardo I em relação aos clientes, além de certa tensão. No momento em que as redes descem, é utilizado um tom vermelho, por ser uma cena de maior agitação, marcada pela tensão da aproximação entre os clientes e Abelardo I. Existem alguns pontos focais de iluminação: no tom azul, a pira de fogo é iluminada com uma luz suave; no tom roxo, a pira de fogo continua com esta iluminação suave, enquanto as redes são iluminadas com uma luz mais dura e direta; por último, no tom vermelho, a área da pira de fogo é iluminada com uma luz mais aberta e difusa. O segundo ato é marcado por um tom amarelo homogêneo, por se tratar de um ambiente externo, além de assinalar o clima tropical do Rio de Janeiro.
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ILUMINAÇÃO PRIMEIRO ATO ESC: 1/200
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ILUMINAÇÃO PRIMEIRO ATO ESC: 1/200
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ILUMINAÇÃO PRIMEIRO ATO ESC: 1/200
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ILUMINAÇÃO SEGUNDO ATO ESC: 1/200
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ILUMINAÇÃO TERCEIRO ATO ESC: 1/200
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6.5 FIGURINOS O figurino é quase uma negação do próprio figurino. Como forma de anular a individualidade dos corpos, todos os personagens usam um collant como base e uma peça única que remete a uma fantasia grotescamente carnavalesca, que serve para marcar os estereótipos e reforçar as críticas apontadas tanto no texto de Oswald, como em minha proposta. Os atores recebem treze reais para comprar na Rua 25 de março suas fantasias para o “baile” dos Abelardos, os clientes recebem apenas a metade para a compra do collant a juros altíssimos. É o sistema da casa.
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Abelardo I
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Abelardo II
HeloĂsa de Lesbos
Cliente
Totó fruta do conde
João dos Divãs
O Americano
Dona Poloquinha
O Intelectual Pinote
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Perdigoto
Dona Cesarina
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Índio das Bolachas Aymoré
A secretária
7.Consideraçþes finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo foi sem dúvida o mais enriquecedor, e de certa forma inverso ao de costume: decidi colocar em forma de projeto minha admiração pelo Teatro Oficina, que, assim, foi o primeiro a ser definido. Era necessário escolher uma peça entre tantas possíveis. Já em um dos meus primeiros levantamentos O Rei da Vela surgiu como possibilidade, mas ainda de forma muita crua. Por coincidência, poucos dias depois de levantar essa possibilidade, tive a felicidade de saber que o Oficina remontaria a peça em comemoração aos 50 anos de sua primeira montagem. Foi então que a escolhi, desafiando-me a trazer para o Oficina uma peça que até então só tinha sido montada em palco italiano. No começo, o que mais chamou minha atenção foi o quanto essa peça era atual, considerando que foi escrita em 1933, além da sua importância para o momento em que foi escrita, do que despertou em 1967 para o Oficina e de como dialoga com os tempos atuais. O projeto foi ganhando identidade aos poucos, a primeira proposta tinha como principal referência o tropicalismo. Conforme o projeto avançou, a referência não foi esquecida, mas perdeu força, resultando em uma proposta completamente diferente dos primeiros estudos. O trabalho apresentado explorou algumas possibilidades de interpretação da peça de Oswald de Andrade dentro de um
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espaço onde a arquitetura pressupõe a cenografia, mas ficou claro ao final desta etapa que existem várias outras possibilidades que me abrem caminhos a explorar desde questões cenográficas até questões mais técnicas, como a iluminação, por exemplo. Esse processo de trabalho possibilitou amadurecer a minha forma de pensar, não apenas sobre projeto cenográfico, mas sobre a importância de respeitar as etapas de um processo. Muitas vezes me deixando levar pela ansiedade, deparava-me tentando visualizar minha proposta final, quando ainda estava fazendo levantamentos iniciais. Ao final, ficou claro que, ainda que essas etapas não sejam feitas de forma linear, são fundamentais. Por fim, gostaria de enfatizar algo que também me impactou ao final dessa etapa e que ficou ainda mais evidente: a importância de tudo aquilo que compõe uma cenografia, e a que muitas vezes não é dado o devido valor. Independente de qual projeto cenográfico seja, não existe um elemento menos ou mais importante, a cenografia acontece quando todos os elementos, figurinos, iluminação, texto e objetos de cena, dialogam e se complementam.
8.Iconografia
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lista de imagens 1- Imagem tirada do livro Teatro Oficina, Lina Bo Bardi e Edson Elito
2- Imagem tirada do livro Teatro Oficina, Lina Bo Bardi e Edson Elito 3- https://jornalggn.com.br/noticia/diretor-e-dramaturgo-fauzi-arap-deixa-o-teatro-brasileiro, acesso em 02/11/2017 4- http://teatroficina.com.br/teatroficina/, acesso em 02/11/2017 5- http://memorialdademocracia.com.br/resistencia-cultural/teatro, acesso em: 02/11/2017 6- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.183 7- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.183 8- http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/07/1796360-teatro-oficina-remonta-cena-de-peca-que-inaugurou-predio-de-lina-bo-bardi.shtml, acessoem:02/11/2017 9- https://www.flickr.com/photos/66155604@N05/36824669306, acesso em: 20/11/2017 10- https://www.flickr.com/photos/66155604@N05/36615943680, acesso em: 20/11/2017 11- https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/11/01/chico-buarque-autoriza-ze-celso-a-remontar-roda-viva/, acesso em: 02/11/2017 12- https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/11/01/chico-buarque-autoriza-ze-celso-a-remontar-roda-viva/, acesso em: 02/11/2017 13- http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/ze-celso/lounge/?content_link=7, acesso em: 02/11/2017 14- Autoral 15- Autoral 16- Autoral 17- https://www.archdaily.com.br/br/878324/classicos-da-arquitetura-teatro-oficina-lina-bo-bardi-e-edson-elito, Imagem tirada, acesso em:05/11/2017 18- https://www.archdaily.com.br/br/878324/classicos-da-arquitetura-teatro-oficina-lina-bo-bardi-e-edson-elito, Imagem tirada, acesso em: 05/11/2017 19- http://www.pedrokok.com/teatro-oficina-theatre-sao-paulo-brazil/, acesso em: 05/11/2017
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20- http://www.pedrokok.com/teatro-oficina-theatre-sao-paulo-brazil/, acesso em: 05/11/2017 21- http://memorialdademocracia.com.br/card/ze-celso-leva-ao-palco-o-rei-da-vela, acesso em: 05/11/2017 22- http://teatroficina.com.br/pecas/reidavela/, acesso em: 05/11/2017 23- http://teatroficina.com.br/teatroficina/, acesso em: 07/11/2017 24- http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1922559-hoje-e-mais-violento-que-em-1967-diz-ze-celso-que-reencena-o-rei-da-vela.shtml, acesso em: 07/11/2017
25- http://teatroficina.com.br/pecas/reidavela/, acesso em: 07/11/2017 26- Imagem tirada do livro: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.37 27- https://vejasp.abril.com.br/blog/dirceu-alves-jr/o-rei-da-vela-oficina-teatro-sesc-ze-celso-borghi-critica/, acesso em: 02/11/2017 28- https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/10/22/ze-celso-estreia-o-rei-da-vela-e-enfrenta-silvio-santos/, acesso em: 02/11/2017 29- https://escritosdevagner.wordpress.com/2017/11/15/es-crita-o-teatro-oficina-com-o-rei-da-vela-acende-outra-vez-o-fogo-de-todos-os-teatros/, acesso em 02/11/2017
30- https://escritosdevagner.wordpress.com/2017/11/15/es-crita-o-teatro-oficina-com-o-rei-da-vela-acende-outra-vez-o-fogo-de-todos-os-teatros/, acesso em 02/11/2017
31- https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2018/02/21/briga-de-silvio-santos-com-ze-celso-vai-parar-na-peca-o-rei-da-vela/, acesso em 10/11/2017
32- https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2018/02/21/briga-de-silvio-santos-com-ze-celso-vai-parar-na-peca-o-rei-da-vela/, acesso em 10/11/2017
33- https://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,apos-50-anos-oficina-volta-com-o-rei-da-vela-marco-do-teatro-brasileiro,70002053057, acesso em 10/11/2017
34- https://escritosdevagner.wordpress.com/2017/11/15/es-crita-o-teatro-oficina-com-o-rei-da-vela-acende-outra-vez-o-fogo-de-todos-os-teatros/, acesso em: 10/11/2017
35- http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1928724-remontagem-de-o-rei-da-vela-e-fiel-mas-tem-novas-referencias-e-luz.shtml, acesso em: 05/11/2017
36- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.169 37- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.74 38- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.189
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39- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.190 40- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.87, p.88 41- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.184 42- Imagem tirada do livro Tropicália: Uma Revolução da Cultura Brasileira, Carlos Basualdo, p.129 43- http://teatroficina.com.br/pecas/macumba-antropofaga/, acesso em 15/03/2018 44- http://teatroficina.com.br/pecas/macumba-antropofaga/, acesso em 15/03/2018 45- https://www.flickr.com/photos/66155604@N05/12522609505, acesso em 15/03/2018 46- https://catracalivre.com.br/sp/agenda/barato/teatro-oficina-musicaliza-poema-de-oswald-de-andrade-em-misterios-gozosos/, acesso em 15/03/2018 47- https://www.flickr.com/photos/66155604@N05/25182129015, acesso em 15/03/2018 48- https://www.flickr.com/photos/66155604@N05/25155885016, acesso em 15/03/2018 49- https://blogdozecelso.wordpress.com/2015/03/24/1035/, acesso em 15/03/2018 50- http://www.desfrutecultural.com.br/8981-2/, acesso em 15/03/2018 51- https://blogdozecelso.wordpress.com/tag/pra-dar-um-fim-no-juizo-de-deus/, acesso em 15/03/2018 52- https://blogdozecelso.wordpress.com/tag/pra-dar-um-fim-no-juizo-de-deus/, acesso em 15/03/2018 53- Autoral 54- https://www.jds.fr/agenda/expositions/les-machines-musicales-de-jean-tinguely-100115_A, acesso em 20/02/2018 55- http://www.galeriavermelho.com.br/pt/artista/4060/carmela-gross, acesso em 20/02/2018
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9.bibliografia
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