Revista A Ordem - Agosto/2020

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Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 52 Natal/RN | R$ 7,00 Agosto de 2020

ENSINO E PANDEMIA:

A RESILIÊNCIA DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM



A ORDEM

SUMÁRIO EDITORIAL

PONTO DE INTERROGAÇÃO

Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 52 Natal/RN | R$ 7,00 Agosto de 2020

ENSINO E PANDEMIA:

A RESILIÊNCIA DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

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CAPA

ENTREVISTA - Seminarista da Arquidiocese fala de experiência de estudos em Roma APRENDENDO COM A IGREJA Vamos tirar dúvidas sobre vocação religiosa

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REPORTAGEM - Pastorais utilizam plataformas online para evangelização

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REPORTAGEM -Pandemia faz educadores buscarem o rádio como ferramenta de apoio ao ensino

EXPEDIENTE

Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689

CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Pe. Rodrigo Paiva Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida

O “autor” da Pandemia instaurada Mundo afora, o Coronavírus, afetou a saúde em todos os sentidos e não apenas a das pessoas. Está a “estimular” os povos do Mundo a buscarem novos estilos de vida, novos modelos econômicos, novas práticas de convivência, novos modos de sociabilidade, novos métodos de higienização. Os governos, empreendedores e empresas foram “desafiados” a buscar e aplicar novas fórmulas de governar, de gerir, de proceder, de empreender para manter vivas, e continuar gerando recursos e mantendo empregos, as “pessoas jurídicas” (CNPJ) e as pessoas humanos (CPF). Todos os setores foram afetados, inclusive a Educação, em todos os níveis. As perguntas que ainda se fazem, nestes tempos de plena “atividade” da Covid-19, são: “como ficará o ano educacional de 2020”? Mesmo aplicando os métodos de “ensino à distância”, como ficará a formação, em todos os níveis? Num País de dimensões “continentais”, como se costuma dizer em relação ao Brasil, essa educação à distância é eficiente para todos, em todas as regiões? Atende às pessoas de lugares distantes, sem acesso a recursos como Internet e equipamentos tecnológicos? A resposta ainda é uma incógnita. Afinal, Educação é a “aplicação de métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano”. E nem todos os pais têm condições de ajudar os filhos nesse processo de educação a distância. O questionamento permanece: este ano está perdido, ou ainda é possível sua “salvação”?

EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: Descomplica/divulgação COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal

DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800

ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br

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A ORDEM

Manual de instruções SOBRE CASOS DE ABUSO SEXUAL A MENORES

Francisco Papa

Uma resposta precisa e minuciosa às perguntas mais recorrentes: substancialmente, o Vade-mécum da Congregação para a Doutrina da Fé é isto

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A Congregação para a Doutrina da Fé, da Santa Sé, publicou, no mês passado, um “manual de instruções” para guiar, passo a passo, quem deve fazer a averiguação da verdade, quando um menor sofre abusos por parte de um clérigo Uma resposta precisa e minuciosa às perguntas mais recorrentes: substancialmente, o Vade-mécum da Congregação para a Doutrina da Fé é isto. Um manual de instruções que, em pouco mais de 30 páginas e nove capítulos, responde às questões principais sobre alguns pontos de procedimento no tratamento dos casos de abuso sexual de menores por parte de clérigos. Não se trata, portanto, de um texto normativo ou de uma nova legislação em matéria, mas sim, de um instrumento pensado para ajudar os ordinários e os agentes do direito que têm a necessidade de traduzir em ações concretas a normativa canônica sobre os delicta graviora (crimes mais graves) os quais constituem “para toda a Igreja uma ferida profunda e dolorosa que exige ser curada”. Solicitado durante o encontro dos presidentes das Conferências episcopais do mundo sobre a proteção dos menores na Igreja, realizado no Vaticano em fevereiro de 2019, o Vade-mécum é publicado na versão denominada “1.0” porque se prevê a atualização periódica do mesmo baseada na modificação da normativa vigente ou da prática da Congregação. “Somente um conhecimento aprofundado da Lei e de seus propósitos – lê-se – poderá prestar o devido serviço à verdade e à justiça, a ser procurado com atenção particular em matéria de delicta graviora em razão das profundas feridas que afligem a comunhão eclesial.” O que configura um crime, como se dá a investigação preliminar, quais são os possíveis procedimentos penais são, portanto, algumas das perguntas que são respondidas de modo preciso e específico, com contínuas referências aos Códigos vigentes, ao Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis - Tutela de João Paulo II, de 2001 e atualizado por Bento XVI em 2010, e ao mais recente Motu proprio Vos estis lux mundi, publicado em 2019, pelo Papa Francisco. Ademais, em alguns casos se especificam as diferenças entre o Código dos Cânones para as Igrejas Orientais e o Código de Direito Canônico para a Igreja Latina: por exemplo, na condução de um processo penal extrajudicial – ou seja, administrativo, que reduz as formalidades processuais para acelerar a justiça, mas mantém intactas as mesmas garantias – a Igreja latina não prevê a presença de um Promotor de Justiça, enquanto para as Igrejas orientais é obrigatório. O Vade-mécum apresenta quatro necessidades, em particular: em primeiro lugar, a tutela da pessoa humana. Pede-se às autoridades que se “comprometam a fim de que a suposta vítima e a sua família sejam tratadas com dignidade e respeito”. O documento, na íntegra, encontra-se disponível no site do Vaticano, no endereço: www.vatican.va. FONTE: Portal Vatican News


A VOZ DO PASTOR

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Viver a fé

NESTE TEMPO DIFÍCIL Prezados leitores/as Estamos vivendo um tempo difícil, angustiante, tempo que nos emociona e entristece. A pandemia nos fez ver a nossa fragilidade, debilidade e também a necessidade e urgência de investimento, cuidado e determinação dos governantes no tocante ao direito de todos à saúde, direito fundamental. É parte integrante da Doutrina Social da Igreja, a apresentação da saúde como direito do homem, e o seu cuidado e respeito como exigência do bem comum (cf. PONTIFICO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 166). Dessa fragilidade e debilidade, porém, todos participam. Nenhum ator social pode se considerar fora ou isento disso. Os cristãos e cristãs, crentes em Cristo, sabem dessa participação, pois faz parte da doutrina da Igreja, iluminada pelas Sagradas Escrituras, a consideração sobre o pecado original, doutrina que explica a condição humana diante de Deus. Nenhum ser humano pode se apresentar como perfeito, como super-homem, mas em caminho, rumo à perfeição, que não é nenhum estágio que torna o homem “onipotente”, mas participante da graça da vida divina. E, ainda mais, redimido por Cristo, o cristão é consciente de trazer em seu coração, para que seja também anunciada, a mensagem de vitória da Cruz de Cristo, que faz de todos os crentes, homens e mulheres solidários com a condição humana. A Doutrina Social da Igreja aponta caminhos ou princípios, em que exorta a todos a pautarem a sua vida por meio de um humanismo integral e solidário, amparado pelos princípios da dignidade da pessoa humana, do respeito ao bem comum, da destinação universal dos bens, dos princípios de subsidiariedade, de participação e da solidariedade. Nunca podemos abandonar esses princípios, pois eles apontam para a imitação de Cristo, para a vida segundo o Espírito. Quem quiser viver a fé em Cristo não pode deixar de concretizar essa fé na caridade, como afirmam São Paulo e São Tiago em suas cartas. Esse é o grande ensinamento que o Papa Francisco nos apresenta. Ao mesmo tempo, é uma grande mensagem para “ressignificação” de todo o agir cristão. Uma ressignificação necessária, especialmente, se, como cristãos e cristãs, nos damos conta de que também nos deixamos levar pela onda de consumismo, se não nos libertamos das garras de um ativismo opressor, que nos impede de dar valor às pequenas coisas, de cuidar do nosso interior, de valorizar o encontro, o diálogo amadurecido e respeitoso, de uma visão integral da pessoa, livres de qualquer preconceito ou prejuízo, do prazer mais amplo da contemplação da obra de Deus, da satisfação de colaborar em sua obra, no respeito e cuidado da Casa Comum, criada por Deus para ser nossa casa e para que, por meio dela, possamos louvar o Criador de todas as coisas. Recentemente, numa reflexão publicada no site do Vaticano, a Pontifícia Academia para a Vida, apresentou uma nota em que chamava a atenção de todos para que não deixemos de refletir sobre esse tempo e estejamos abertos para que o nosso agir cristão seja pautado pelo exemplo de Cristo, pois, “as lições de fragilidade, finitude e vulnerabilidade nos conduzem às portas de uma nova visão: promovem um ethos de vida que requer um empenho da inteligência e a coragem de uma conversão moral. Aprender uma lição significa fazer-se humildes, significa mudar, buscando meios ou recursos até agora não desfrutados, talvez até nem reconhecidos. Aprender uma lição significa tornar-se consciente, mais uma vez, da bondade da vida que se oferece a nós, liberando uma energia que corre também na profundidade da experiencia da perda, que deve ser elaborada e integrada no significado da nossa existência” (PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA. A Humana Communitas na era da pandemia. Vaticano, 22 de julho de 2020). Não deixemos de seguir essas orientações. Procuremos ver como é necessário que o nosso agir esteja conduzido por uma visão que nos ajude a viver a responsabilidade pela família humana, por meio da solidariedade e de um ethos que nos assemelhe ao Deus de Jesus Cristo, amigo da vida!

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal

Dessa fragilidade e debilidade, porém, todos participam. Nenhum ator social pode se considerar fora ou isento disso

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A ORDEM

O seminarista Sérgio Alexandre, da Arquidiocese de Natal, concluiu o curso de bacharelado em Teologia, na Pontifícia Universidade da Santa Cruz - Opus Dei, em Roma, no dia 19 de junho deste ano. Sérgio residia na capital italiana, desde 2017, para cursar teologia. Ele retornou à Arquidiocese de Natal para fazer o estágio pastoral, em preparação à ordenação diaconal, e, depois, à ordenação presbiteral.

Seminarista RETORNA À

ARQUIDIOCESE APÓS EXPERIÊNCIA EM ROMA

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A Ordem: Desde o ano de 2017, você estava cursando Teologia na Pontifícia Universidade da Santa Cruz – Opus Dei, em Roma. Como foi essa experiência para sua formação sacerdotal? Sérgio Alexandre: Foi uma oportunidade muito boa, porque você conhece a Igreja de dentro. Você está no centro da Igreja e conhece a universalidade dela. A gente começa a perceber que a Igreja é muito maior daquilo que você tem em mente, de sua realidade pastoral, de sua Diocese. A gente percebe que a Igreja é uma obra de Deus. Passamos a ter conhecimento de algumas particularidades da Igreja que você não conhecia, como os ritos que tem na Igreja de cada cultura. Eu morei em um colégio internacional, então a gente aprende muito a portar-se e a falar com pessoas de tantas culturas e isso também lhe enriquece na formação pessoal. Esse período de três anos em Roma foi muito bom, porque abriu minha cabeça para a dimensão que é a Igreja. Sou muito feliz por ter tido essa oportunidade e agradeço ao Seminário de São Pedro e à Arquidiocese, que me proporcionaram vivenciar essa experiência.

“Você vem de uma situação muito cômoda, de estar no seu país, falando sua língua e chegando lá, tudo muda. O desafio é como se você estivesse entrando pela primeira vez no seminário”a

A Ordem: Quais os maiores desafios que você vivenciou neste período longe de sua Arquidiocese e país de origem? Sérgio Alexandre: O primeiro desafio quando a gente chega aqui é o de adaptar-se a uma nova língua. Eu cheguei em Roma sem conhecer uma palavra da língua italiana e foi como uma criança aprendendo a falar. Com o tempo, você vai começando a perceber que a língua já não é mais uma dificuldade, mas sim a cultura. Se você não assume a cul-

tura do país como parte de sua vida, você sofre ainda mais. Quando nós entramos na cultura e começamos a pensar em italiano, rezar em italiano, a se inserir na cultura através da alimentação, além de entrar no ritmo de uma pontifícia universidade, que também é muito grande. Você vem de uma situação muito cômoda, de estar no seu país, falando sua língua e chegando lá, tudo muda. O desafio é como se você estivesse entrando pela primeira vez no seminário. Eu me senti como se estivesse entrando no Propedêutico aqui, sem conhecer nada, sem conhecer as salas, depois a língua, a questão do comportamento ético, que é diferente. São tantas dificuldades, mas só com a força da oração, a perseverança e o amor a nosso Senhor que superamos todas elas. A Ordem: Antes de viver essa experiência em Roma, você contribuía com o arquivo metropolitano. Em Roma, você chegou a desempenhar e contribuir com alguma função semelhante? Sérgio Alexandre: Eu fui para a Diocese de Verona na pastoral que fazemos no período do verão. Foram dois meses que passei em Verona e na Paróquia onde eu estava, tive contato com os arquivos de duas paróquias, que juntas formam o que eles chamam de unidade pastoral. Pude trabalhar com a organização do arquivo da Paróquia, livros de 1540 e 1516, que são mais velhos que toda a história de sua família. É muito importante você olhar e conhecer toda a história. Então, tive a oportunidade de ter o contato com essa preservação da história, aqui na Diocese de Verona, que é uma Diocese muito antiga e tem uma história magnífica.

Turma de teologia da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma

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A ORDEM

A Ordem: Você vivenciou um momento crítico em Roma, que todos estamos vivenciando no mundo, que é a pandemia do novo coronavírus. Como foi viver tudo isso lá? Sérgio Alexandre: Foram quase dois meses muito difíceis para toda a comunidade do seminário, porque as aulas foram suspensas. Você tinha restrições para sair à rua e no primeiro momento você não entendia. Era muito difícil. Ao passar dos dias, nós víamos que a situação se agravava e que o melhor era ficar em casa. Esse foi um período delicado, que muitos seminaristas desanimaram no estudo, ficavam cabisbaixos, porque não tinham mais aquela rotina da universidade, do contato com os amigos, com os professores. Todas as atividades passaram a acontecer somente online. Eu, por exemplo, fiz o exame final do bacharelado pela internet, sem todas as cerimônias. Sabemos que é difícil ficar em casa direto, olhando para quatro paredes, mas a questão é procurar não ficar remoendo a história, como dizemos. Nós evitávamos ficar falando sempre no assunto da doença, para que justamente não causasse esse mal estar. Mantendo todas as recomendações sanitárias, foi o que nos ajudou a não termos nenhum infectado dentro do seminário. Graças a Deus, passamos pelo período crítico bem. A Itália sofreu muito com a questão econômica, mas, está conseguindo superar. A economia você consegue restabelecer, mas uma vida que se perde, não! E é isso que tínhamos em mente. A Ordem: No seu retorno à Arquidiocese, a próxima etapa da sua formação sacerdotal é o estágio pastoral. Em que consiste essa etapa? Sérgio Alexandre: O estágio pastoral consiste em uma síntese, onde você vai estar em contato com o povo. É como se diz, é o momento em que vamos aprender a ser padre. A comunidade vai nos ajudando e o pároco da Paróquia para qual iremos, vai nos dando os direcionamentos e a gente entende, na prática, o funcionamento de uma Paróquia. É o momento em que a gente tem que se configurar, ainda mais, ao exemplo de Jesus Cristo, o Bom Pastor, de estar próximo das ovelhas, como diz o papa Francisco. É o momento de conhecer a realidade de cada um e colocar em prática tudo aquilo que você aprendeu, porque quando estamos no período formativo, você vem com muita teoria. Muitas vezes, você que tem que adequar a teoria à realidade pastoral. Você não pode colocar tudo como tem no papel na realidade de uma Paróquia onde não se encaixam algumas coisas. É o momento em que a gente vai aprender a adaptar e avaliar para construir um caminho rumo ao Reino de Deus. Esse também é um período de discernimento vocacional, que você vai confirmando se realmente é aquela a sua vocação, formando no seu coração um sentimento mais forte para o sacerdócio.

“Esse período de três anos em Roma foi muito bom, porque abriu minha cabeça para a dimensão que é a Igreja”

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A ORDEM

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RELAÇÃO PAI E FILHO NO CONTEXTO DA

Pandemia

O ser humano é, antes de tudo, um ser relacional. Na relação entre pessoas, existe um mar de belezas a ser explorado. Isso porque cada fase da vida é marcada pela constante mudança do eu, e, portanto, também do outro, do tu, como Martin Buber assevera. A criança também vai passando por essa transformação, que não tem fim. Daí o momento da relação ser sempre um momento único e influenciado por todas as ocorrências do mundo ao redor. O impacto dos acontecimentos se traduz de muitas formas, a depender da condição que o par eu-tu vive no momento. Estamos rodeados de exemplos de relações pais-filhos. É difícil seguir um molde que se adeque a todos os pais e filhos. Nossa fonte, entretanto, para aqueles que têm o Deus uno-trino na sua origem, está justamente na comunhão de Deus Pai com Deus Filho. “Quem vê a Mim, vê ao Pai”, diz Jesus (Jo 14,9). É esse o maior dos mistérios, isto é, algo que não se pode entender com a razão, mas apenas com a experimentação. Mas, no coração de Deus, parece que já estava determinado que isso seria até mesmo sacramental, ou seja, existem sinais sensíveis que podem atestar a relação. Assim, herdamos tantas características físicas de nossos pais. Não estamos distantes das frases comuns: “você está a cara do pai” ou “o andar dele é todinho o do pai”. As semelhanças propiciam lembrar de uma pessoa vendo outra. Quis o bom Deus que a geração na carne de um ser humano assim se realizasse. Mas será que apenas as características físicas são herdadas? De forma alguma! O jeito de ser, de se comportar em determinadas situações, de pensar, parecem ter influência direta da relação, que passa do limiar da genética para o do convívio social. De fato, o dito popular “mostra-me com quem andas e eu te mostrarei quem és” não surge à toa, mas vem da própria observância do povo. Em Pv 13, 20a, fica claro: “Quem caminha com os sábios, torna-se sábio”. Então, a trama de relacionamentos vai tornando o ser único, mas ele, de fato, é tecido formado de vários fios, de várias influências. A relação pai-filho está dentro desse ambiente multi-relacional, mas contém propriedades particulares: a partilha do teto e do pão, em boa parte da vida, por exemplo. A figura do pai desmonta a relação simbiótica original dos bebês com suas mães. É um terceiro na relação. Mas, antes de ser uma ameaça, o pai é uma riqueza, porque a sociabilidade da criança vai se ampliando. Ela se desenvolve a partir das organizações pai-filho-mãe e, eventualmente, irmãos. Nesse lugar chamado família, “cada um, cuidadosamente, desenha e escreve na vida do outro” (AL 322). Agora, sim, é possível um recorte plausível para alçar a relação pai-filho no contexto da pandemia. A crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 nos pegou desprevenidos. O que ela nos causou, ou melhor, o que ela está nos causando? Um afastamento social é o primeiro dado concreto. Com isso, o convívio ficou mais restrito e duradouro com aqueles que habitam o mesmo lar. É, também, tempo de angústia por causa dos que partem, sem que estivéssemos esperando. E eles são muitos! A questão financeira se degrada etc. Eleva-se, assim, a tensão. O trabalho na sociedade do desempenho (cf. Sociedade do Cansaço de Byung-Chul Han), ópio moderno, nos privara do sentir e, de repente, uma surpresa indesejada apareceu! Agora temos que sentir! Temos como pensar em quem somos, de onde viemos, para onde vamos. E o pai começa a pensar o que ele significa para o filho. E o filho tem a chance de aproveitar a presença mais intensa do pai. É uma ameaça que, se bem aproveitada, pode se tornar uma oportunidade para que o futuro retorno desse desvio da história seja para um mundo melhor. E a família, como vai diante de tudo isso? “A família é a primeira escola da misericórdia, porque ali se é amado e se aprende a amar, se é perdoado e se aprende a perdoar” (Papa Francisco em O Nome de Deus é Misericórdia, cap. VII). Agora, tenho tempo de escapar do teletrabalho para dar um cheiro na cabeça de uma filha. O transporte que me leva ao trabalho diário usava o tempo que agora disponho para oração em família. O pai precisa capitanear a mansidão no agir e a segurança e proteção maior para o filho. Alimentar a esperança em Deus. Pai e Filho, na imagem da Trindade, nos inspirem a encontrar atalhos para enfrentar com sanidade e santidade esse tempo. Amém! 10 AGOSTO DE 2020

Por Diác. Eduardo Wanderley Coordenador de formação da Escola Diaconal Santo Estevão

O pai precisa capitanear a mansidão no agir e a segurança e proteção maior para o filho. Alimentar a esperança em Deus.


A ORDEM

Padre João Maria

Anjo da Caridade Torcida devota Por Monique Maia de Lima, historiadora

Olá, caro leitor! Nós que fazemos parte dos estudos para a postulação do padre João Maria estamos nos empenhando para que a cada edição da revista A Ordem, a comunidade católica saiba um pouco mais sobre a vida do nosso anjo da caridade. Em nossas pesquisas nos deparamos com muitas informações sobre a vida do digníssimo padre, e sobre as tantas graças alcançadas por seu intermédio. É neste ínterim, que, hoje, trazemos ao conhecimento de vocês um fato que revela um pouco da fé do povo potiguar na santa intercessão do padre João Maria em seus problemas cotidianos. O jornal Diário de Natal, do dia 15 de março de 1965, dedicou uma de suas páginas a falar sobre a final do campeonato potiguar de clubes, que havia ocorrido no dia anterior, e que fora concorrido entre as equipes do ABC e do Alecrim Futebol Clube. Segundo o jornal “o jogo começou nervoso”, a partida foi difícil e apenas decidida aos 44 minutos do segundo tempo. O Alecrim garantiu seu bicampeonato na disputa entre clubes da cidade. Até mesmo versos sobre a vitória foram realizados; a coluna Galho de Urtiga publicou o poema “a vitória em versos”, onde se destacava o trecho: “A história desse jogo já deve chegar ao fim, porque depois desse fogo veio o gol do Alecrim”. Logo após a vitória, ainda segundo a manchete do Diário de Natal, algo espantou a torcida dos esmeraldinos: apressadamente os atletas do time bicampeão dirigiram-se para o centro da cidade. Essa inusitada situação tratava-se do voto feito por Bastos Santana, dirigente do clube, que, ao pedir a intercessão do padre João Maria pela vitória do Alecrim, prometeu que todos os jogadores e equipe técnica iriam agradecer aos pés do busto do padre localizado na praça Padre João Maria. A promessa foi cumprida imediatamente, e a visita dos jogadores ao busto do padre João Maria voltou a repetir-se, segundo os jornais, em 1985, ano em que o clube foi novamente campeão.

Natália Mota Pós-doutoranda em neurociências e psiquiatria no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

SONHOS, NARRATIVAS E REFLEXÕES EM TEMPO DE PANDEMIA Em tempos difíceis, é comum dizermos ou ouvirmos alguém dizer que vai dormir para esquecer o que está acontecendo. Mas, será que dormir nos faz esquecer as agruras da realidade? Certo é que sonhamos, quando dormimos, e, muitas vezes, sonhamos com pessoas, coisas e eventos do dia a dia. Assim, dormir não faz esquecer ou fugir da realidade. Ao contrário, possibilita revivê-la. Se, por um lado, a maneira como interpretamos os sonhos e os integramos à realidade varia de acordo com a sociedade em que vivemos, por outro, os processos cerebrais e mentais subjacentes a eles, parecem ser universais. Estudos realizados por pesquisadores do Instituto de Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte indicam que os sonhos são atividades mentais relacionadas aos desafios que enfrentamos durante o período de vigília e, quanto maior forem os desafios, mais elaborados serão os sonhos. Portanto, sonhar é acessar as memórias das nossas vivências, combinando-as de maneira não linear. É processo de bricolagem de memórias. Analisar esses processos pode dizer muito sobre quem somos e como reagimos ao que a realidade nos oferece. Mutatis mutandis, o momento atual também tem afetado o mundo dos sonhos. Investigação recente liderada pela equipe da UFRN mostra que, de alguma maneira, estamos lidando com a pandemia e o isolamento social também nos sonhos. Narrativas de sonhos coletadas durante o período de quarentena (março e abril) foram analisadas e comparadas a narrativas coletadas antes da pandemia. Os resultados mostram que as narrativas de sonhos durante a pandemia se caracterizam por maior uso de palavras relacionadas à raiva e tristeza e, também, por maior número de palavras semanticamente relacionadas à contaminação e limpeza. Observou-se, ainda, que o conteúdo semântico dos sonhos coletados se correlaciona com o estado mental do sonhador. Além disso, quando os sonhos eram dominados por conteúdos de contaminação, observar o sonhar trouxe mais à tona agressividade; da mesma forma, quando os sonhos eram dominados por limpeza, lembrá-los trazia mais ansiedade. Nota-se, portanto, por meio das narrativas de sonhos que estamos em estado de sofrimento mental. De todo modo, fica para nós, povos ocidentais modernos, a conclusão de que os sonhos são poderosas fontes de informação sobre estados cognitivos e emocionais. Assim, antes de dormir, não peça para esquecer o que está acontecendo. Como os guaranis, peça bons sonhos para você, para os seus e para a humanidade.

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ENSINO E PANDEMIA:

A RESILIÊNCIA DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM As constantes readaptações vividas no ambiente escolar e familiar Por Vitória Élida

Nos últimos meses, o Brasil e o mundo, vivem em uma luta constante na tentativa de conter o aumento do número de casos de pessoas infectadas pela Covid-19. Para isso, muitas medidas foram adotadas a fim de conter a disseminação do vírus, como o distanciamento social, lockdown, fechamento de comércios e também de escolas. Certamente essas medidas impactaram a vida da população em diversos aspectos, como financeiro, psicológico, social e educacional. Para esse último, estima-se que cerca de 50 milhões de estudantes e educadores estejam com suas atividades paralisadas ou realizadas 12 AGOSTO DE 2020

de forma remota em nosso país. No mundo, o número chega a 1,5 bilhão de estudantes sem aulas presenciais. A suspensão das aulas foi uma medida importante na colaboração da contenção da disseminação viral, afinal de contas, no espaço escolar, o contato entre alunos, docentes e funcionários é inevitável. Dessa forma, essa medida ganhou, desde o início da pandemia, apoio dos educadores e pais. Claramente, essa nova realidade trouxe para os educadores uma necessidade urgente de se reinventar, e para alunos e pais acarretou na transformação de suas casas em

verdadeiras salas de aulas. As instituições de ensino, aproveitando-se dessa realidade, buscaram desenvolver novas metodologias, com o uso de tecnologias digitais, com o intuito de garantir o fluxo de atividades, além de aprofundar metodologias já existentes, mantendo assim o seu número de alunos. Para isso, contaram com dezenas de cursos gratuitos oferecidos em diversas plataformas, que emergiram de todos os lugares a fim de sanar um grande dilema: Como dar aulas e garantir o processo de ensino-aprendizagem em plena pandemia. Nesse contexto, se começou


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a ouvir a falar do termo conhecido como aula remota. Esta é considerada uma solução temporária para a continuação das atividades pedagógicas, portanto, não pode ser chamada de modalidade de ensino. As aulas remotas apresentam a internet como principal ferramenta, e visam minimizar os impactos na aprendizagem dos estudantes. As atividades remotas são aplicadas, pontualmente, em plataformas digitais. A situação de pandemia na qual nos encontramos remeteu a um repensar da educação, visto que ela se faz na relação docente-discente em um cotidiano diário, onde se tem a sala de aula como principal cenário dessa interação. Para isso, as instituições de ensino recorreram à produção de vídeoaulas, transmissões ao vivo, envio de exercícios via aplicativos, criação de salas de aulas virtuais, entre outros. Todo esse esforço, objetivando manter os estudantes em um mínimo ritmo de estudos, mesmo que distantes dos espaços físicos das escolas. Enormes são, porém, os desafios para implantar, mesmo que de forma temporária, essa prática de ensino remoto em nosso país, tão carregado de desigualdades sociais. Grandes são os desafios perante a realidade apresentada por diversos alunos que não conseguem utilizar das plataformas digitais. Além disso, uma gama de professores carece de formação adequada para a efetivação dessas aulas. Esses desafios são ampliados, quando levamos em consideração a rede pública de ensino, na qual

A situação de pandemia na qual nos encontramos remeteu a um repensar da educação, visto que ela se faz na relação docentediscente em um cotidiano diário, onde se tem a sala de aula como principal cenário dessa interação.

se encontra mais de 80% dos brasileiros em idade escolar. Outro ponto a ser considerado é o acesso a computadores. Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, 58% dos domicílios no país não têm acesso a computadores e 33% não dispõem de internet. Dessa forma, levar à frente as “soluções” encontradas para a continuidade das atividades escolares se tornou uma tarefa difícil, principalmente para os grupos sociais mais vulneráveis. Segundo Carlos Felipe, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual de São Gonçalo do Amarante, no RN, esse período de afastamento da escola tem sido bastante difícil. “As aulas presenciais fazem muita diferença para a gente aprender em si, mesmo que o professor envie aulas, vídeos e exercícios pela internet, as aulas presenciais com os professores explicando são bem melhores”, afirma. Além disso, o aluno chama a atenção para algo muito importante desse atual cenário, a intensificação da desigualdade entre os estudantes de escolas públicas e particulares. “Eu como estudante de escola pública terei mais dificuldade para passar no IFRN, pois estudar em casa não é a mesma coisa de estudar na escola”, ressalta. Muito dessa realidade se dá pela falta de acesso às ferramentas tecnológicas que os alunos das escolas públicas apresentam. O uso de recursos digitais tem sido um empecilho na continuidade das aulas remotas, visto que a maioria dos alunos das escolas públicas não possuem acesso à inter-

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Outro aspecto a ser considerado para o período é a relação desenvolvida entre pais e filhos, que tiveram que transformar suas casas em escritórios e salas de aulas. net, ou não apresentam aparelho celular ou computador. Sendo assim, a educação através das ferramentas de uso remoto torna-se excludente. Alunos do Ensino Médio, na iminência de prestarem o ENEM, também se deparam com os desafios impostos pela pandemia. Como é o caso do estudante do curso de Eletrônica do IFRN - Zona Norte, Alan Sávio. Segundo ele, esse período vem sendo de grande luta, “toda essa situação interfere bastante na organização dos estudos, o ambiente de casa dificulta a concentração. Além disso, a falta do orientador nos momentos de dúvidas, a dificuldade em adequar as formas que estudamos, a construção de um planejamento correto, e para muitos dos alunos, a falta de acesso a equipamentos de tecnologias em informática”, lista. O estudante afirmou também que há quatro meses não tem contato algum com conteúdos escolares, já que o calendário acadêmico está suspenso, sem previsão de retorno. Essa dificuldade não é encarada somente pelos alunos de escolas públicas; os professores também têm enfrentado verdadeiros desafios para manter o vínculo com os discentes. A professora da Rede Municipal de Natal, Josele Laurentino, afirma que além do medo de contaminação e do enfrentamento de situações de estresse com a perda de pessoas conhecidas, a principal dificuldade como professora da rede pública é “com relação ao ensino remoto, pois não temos estrutura e igualdade de acesso à tecnologia por parte dos alunos para que nossas atividades alcancem a todos os estudantes e sejam validadas pela secretaria de educação”, afirma. A docente ressaltou aspectos importantes e que devem ser considerados perante a atual realidade en-

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frentada pelas escolas públicas: “diante da realidade social e da faixa etária do nosso público, bem como a falta de estrutura e preparação dos docentes, não acredito que as aulas remotas sejam profícuas no processo ensino-aprendizagem”, conclui. Já a professora de História de escolas particulares de Natal e Grande Natal, Thaiany Soares, o processo de adequação ao novo formato de aulas foi realizado tão logo a determinação de fechamento das escolas tenha sido publicado. Para isso, as instituições particulares lançaram mão de aulas em forma de lives, aulas em vídeo gravadas, participação de fóruns virtuais, além do uso de aplicativos que proporcionam a realização de aulas por videoconferência. Segundo a professora, “após esses quatro meses de aulas virtuais, a interação entre professora e alunos tem sido efetiva; os alunos participam e contribuem através de aulas em vídeo, onde os mesmos ligam suas câmeras no momento da aula e podem participar efetivamente’, disse. Thaiany afirmou ainda que busca em suas aulas remotas a mesma qualidade que dedica às aulas presenciais, para assim garantir a assimilação do conteúdo por parte dos alunos. As situações também são desafiadoras para os gestores escolares, que durante a pandemia fecharam as escolas, afastaram funcionários do grupo de risco, e tiveram que manter algumas atividades burocráticas exigidas na função gestora. Para o gestor de uma escola da rede estadual, Amilton Marinho, o principal desafio desse período será evitar a evasão escolar. Segundo ele, escolas particulares de pequeno porte já estão fechando suas portas, devido ao cancelamento de matrículas, porém, nas escolas públicas, os alunos simplesmente abandonam.


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Enormes são, porém, os desafios para implantar, mesmo que de forma temporária, essa prática de ensino remoto em nosso país, tão carregado de desigualdades sociais. Outro aspecto a ser considerado para o período é a relação desenvolvida entre pais e filhos, que tiveram que transformar suas casas em escritórios e salas de aulas. Muitos são os relatos de pais que estão enfrentando situações de estresse, pois precisaram acompanhar mais de perto o dia a dia dos filhos, passando a ter que entender as dificuldades de aprendizagem, e os desafios vividos diariamente pelos professores no lidar com os alunos. Eliude Tindô, mãe de duas filhas, estudantes do Ensino Fundamental I, afirma que a maior dificuldade desta fase tem sido a adaptação da rotina. “A criança compreender o espaço doméstico como sala de aula, e ter que aceitar e aproveitar o novo tempo dedicado aos estudos em um ambiente onde o foco principal não é estudar é a parte mais complicada”, ressalta. Diante de tudo isso, e com o passar dos meses, a possibilidade de retorno das aulas presenciais se torna mais próxima, porém, as redes de ensino ainda precisarão encarar alguns importantes desafios, já que precisarão formular planos de volta às aulas que contemplem estratégias de combate às desigualdades educacionais, que poderão se aprofundar nesse período. Além disso, será necessário pensar também em algumas demandas especiais, como o acolhimento emocional de alunos e profissionais da educação, bem como o acompanhamento daqueles estudantes com maior propensão ao abandono escolar. E as preocupações não param por aí: gestores e educadores deverão pensar ainda em como se dará o retorno gradual das aulas de forma a atender as precauções com a saúde, o cumprimento de carga horária exigida por Lei, a criação de estratégias de recuperação de aprendizagem, o fortalecimento da relação com pais, entre tantos outros desafios. Nesse contexto, uma coisa é certa, ainda teremos muito a caminhar nesse processo; aprendizados ficarão, laços se fortalecerão e profissionais, provavelmente, terão suas histórias e atividades, enfim, valorizadas. AGOSTO DE 2020

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Vocações: Descobertas? Dúvidas? Em agosto, a Igreja Católica celebra o Mês das Vocações, tempo propício para ajudar às pessoas a refletirem sobre o chamamento de Deus a cada um. Discernir sobre o verdadeiro chamado de Deus é algo que causa, para muita gente, questionamentos. Na Arquidiocese de Natal, existe o Serviço de Animação Vocacional (SAV), cujo coordenador é o Padre Roberlan Roberto Gomes. O SAV tem a finalidade de ajudar aos jovens nesse processo de discernimento. Padre Roberlan é o convidado, nesta edição da revista A Ordem, para responder ao questionamento de alguns leitores sobre o tema “vocações”.

Qual deve ser a atitude da família, quando um jovem descobre sua vocação sacerdotal ou religiosa? (Damião Ezequiel – Paróquia de Nossa Senhora das Graças – Afonso Bezerra) As famílias, por meio de uma vida verdadeiramente cristã, são verdadeiras sementeiras do apostolado leigo como também das vocações sacerdotais e religiosas (AG 924). Por isso, a atitude da família deve ser de alegria, gratidão, humildade e, sobretudo, de obediência e resignação à vontade do Senhor.

Qual a diferença de uma congregação religiosa para uma comunidade de vida? E qual a diferença entre um padre formado no Seminário de São Pedro e um padre religioso? (Artur Alex de Oliveira – Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Parnamirim) As congregações religiosas são formadas por fiéis que renunciaram sua vida profissional e familiar, e buscaram se consagrar totalmente a Deus, por meio da profissão dos conselhos evangélicos. Distinguem-se em: Institutos Religiosos, Institutos Seculares e Sociedade de Vida Apostólica. As Novas Comunidades surgiram nas últimas décadas, muitas delas com raízes na Renovação Carismática Católica. Nelas, seus membros também se consagram, seja por votos ou compromissos de acordo com o movimento. Distinguem-se como: comunidade de vida e comunidade de aliança. Desenvolvem o seu apostolado, seguindo o carisma da comunidade e a vivência de sua espiritualidade. O Seminário de São Pedro forma padres diocesanos, colaboradores do Bispo, que são incardinados na diocese e estão sob os cuidados e orientação do Bispo diocesano. Tem como missão o trabalho paroquial e a comunhão com o clero. O Padre religioso, antes do sacerdócio, assume a vida religiosa. Vive em comunidade. Sua obediência está ligada ao superior da congregação. Exerce sua missão onde a congregação está instalada.

As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 16 AGOSTO DE 2020


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Qual é a principal mudança nos jovens que entram agora no Seminário em relação aos que ingressavam há dez anos? (Marcos Vinícius – Paróquia de São Francisco de Assis – Pedro Velho) Segundo Amadeo Ceccini, “cada geração é jovem à sua maneira e nenhuma chega a ser igual àquela que a precedeu (de seus pais ou avós). Sinalizam que o mundo muda e que é impossível viver simplesmente ‘copiando e colando’ ou ignorando a mudança” (Discurso 4º Congresso Vocacional do Brasil). E a geração atual é profundamente atingida pela “mudança de época”, que além de alterar paradigmas, questiona, prescinde ou nega os valores, tem dificuldade com a hierarquia, preferindo relações horizontais e abertas. As realidades digitais têm afetado a qualidade do relacionamento interpessoal, proporcionando os encontros superficiais e vazios de sentimento. É necessário que a Igreja esteja atenta e consiga ler e interpretar esses sinais no horizonte da fé.

Quais são os passos que um jovem ou uma jovem deve seguir para ingressar em uma congregação religiosa? E a quem deve procurar, quando um jovem sente o desejo de ser padre? (Nívea Trindade de Albuquerque – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Nova Parnamirim e Ênio Luiz da Câmara – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Macaíba) Cada congregação, comunidade religiosa, ou seminário diocesano possui um grupo de Animadores Vocacionais ou uma Pastoral Vocacional que são os responsáveis para acolher e orientar os jovens que se sentem vocacionados.

Como o jovem percebe que tem vocação para ser padre? (Aldo Henrique – Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Passa e Fica) Não existe uma fórmula ou receita. A vocação é percebida de acordo com a experiência pessoal de cada um, no contexto de sua singularidade. O Documento do Sínodo sobre a Juventude (p.51) apresenta a vocação como uma viagem de descobertas, a partir de um fascínio por Jesus. Propõe como passos dessa viagem: a escuta e o reconhecimento da iniciativa divina, uma compreensão progressiva do mistério em ação, um acompanhamento paciente e respeitoso e um destino comunitário. A Palavra do Senhor requer tempo para ser entendida e interpretada, e, progressivamente, a missão vai sendo revelada.

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PASTORAIS UTILIZAM PLATAFORMAS DIGITAIS PARA

evangelizar

Neste tempo de isolamento social, as mídias digitais têm facilitado o contato da Igreja com os fiéis Por Cacilda Medeiros

Nos últimos meses, ouve-se muito falar que é preciso se reiventar, ter criatividade. A Igreja também precisou se adaptar à nova realidade para levar a Palavra de Deus aos fiéis. O caminho para chegar aos agentes pastorais e aos fiéis, de um modo geral, neste tempo em que é necessário distanciamento social, é o “mundo virtual”. Várias paróquias da Arquidiocese de Natal têm utilizado as plataformas digitais para trabalhar com a catequese, com a juventude e até realizar pós-encontros. É o caso da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Nova Parnamirim, que vem realizando pós-encontros do ECC através do youtube. “Nós, da equipe dirigente, sentimos a necessidade de dar continuidade ao processo de evangelização junto aos casais. Após uma reunião e, contando com o apoio do nosso pároco, Padre João Batista, decidimos fazer um pós-encontro em formato de live”, conta Antônio Domingos. “Vimos que outras paróquias também já estavam realizando pós-encontro, através das redes sociais, e que havia ficado muito bom, sem perder o formato. Isso nos impulsionou ainda mais”, acrescenta Maria Josevânia, esposa de Antônio. Eles são da equipe dirigente do ECC, na Paróquia de Nova Parnamirim. Catequese virtual Em outras paróquias, a catequese também tem chegado a crianças e adolescentes, através das plataformas digitais. Na Paróquia de São Mateus Moreira, em Cidade Verde, Parnamirim, os catequistas aderiam ao formato digital para as atividades junto aos catequizandos. “Nós, catequistas, nos reunimos semanalmente, preparamos o material e enviamos aos pais, por meio eletrônico, com as devidas orientações. A gente também pede aos pais um retorno para termos certeza de que as crianças cumpriram as atividades. E esse retorno pode ser através de um vídeo, de uma foto, de um desenho, de um texto escrito, enviado 18 AGOSTO DE 2020

Visitas virtuais da Pastoral da Criança contam com auxílio de aplicativo


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pelo whatsapp”, explica Leandro Bezerra, coordenador paroquial da catequese. A Pastoral da Catequese, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Macaíba, utiliza o Instagram para falar para os catequizandos. Todos os sábados, às 16h, a coordenação, juntamente com o pároco, Padre Assis Melo, abordam um tema, através de uma live, na rede social. De acordo com Damião Cavalcante, integrante da coordenação paroquial, para atrair as crianças para a live, a equipe sempre aborda assuntos novos e conta com a participação de convidados. “Graças a Deus, as lives estão sendo muito bem aceitas, por todos”, afirma Clevoneide Mendes, da equipe de coordenação paroquial. Juventude que reza E quem foi que disse que rezar o terço é para pessoas idosas? Na Paróquia de São Pedro Apóstolo, em Várzea, o grupo de jovens utiliza as redes sociais para rezar o terço. “Nós, do grupo Chamas do Divino Amor, iniciamos a recitação do terço, através de uma live, no Instagram, com o intuito de dar um apoio na fé aos jovens. A gente também quis despertar na juventude o gosto por rezar o terço, em casa com suas famílias. Para nossa alegria, a recitação do terço, pelo Instagram, tem sido muito bem aceita”, conta Maria Louise, integrante do grupo Chamas do Divino Amor. Segundo Maria Louise, pessoas de outras pastorais e grupos da Paróquia aderiram à iniciativa e, hoje, também participam das lives, ajudando a conduzir a recitação do terço. “Rezamos, separados, cada um em sua casa, mas juntos pelo poder da oração”, finaliza a jovem. Visitas virtuais A Pastoral da Criança que realiza atividades, por natureza, presenciais, descobre que, neste tempo, evangelizar não se perde no caminho, utilizando o virtual para visitar as famílias e atualizar, com dados, o sistema de informações. Segundo o coordenador estadual, Milton Dantas, neste período em que as pessoas não devem ir à casa das outras, os agentes da Pastoral da Criança visitam as famílias, reúnem-se entre si (desde a liderança das bases às coordenações em níveis paroquiais, áreas, diocesanos, estaduais e nacionais) e se capacitam nas mais variadas ações através do aplicativo visita domiciliar. “O aplicativo e as plataformas digitais têm colaborado para que o trabalho não pare. A solidariedade também tem estimulado a todos e todas a adentrar a águas mais profundas”, comenta Milton Dantas.

Na Paróquia de Nova Parnamirim, os pós-encontros do ECC estão sendo realizados através do youtube

Celebrações online Mesmo com a reabertura das Igrejas, neste mês de agosto, as celebrações da missa seguem sendo transmitidas, já que os templos só poderão ter a participação de um número limitado de fiéis, de forma presencial. Com isso, as equipes da Pastoral da Comunicação têm trabalhado com afinco, desde o início da pandemia, para garantir a transmissão de missas e de outras celebrações. “Graças à generosa dedicação dos nossos agentes (da Pascom), foi possível levar, através dos vários meios de comunicação, ‘a Igreja’ às casas”, escreveu o Padre Arnaldo Rodrigues, vigário episcopal para a comunicação, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, em um artigo publicado no Portal Vatican News, em 01 de maio de 2020. “As iniciativas são inúmeras: algumas mais simples e outras mais estruturadas, mas todas com o mesmo objetivo: manter os fiéis interligados entre si e unidos como comunidade orante. Por um lado, mais do que fornecer uma plataforma de conteúdos, a necessidade inicial foi de criar vínculos de forma virtual. Por outro, embora já existente, começaram a ser potencializados os ambientes para as formações cotidianas”, escreveu o sacerdote no mesmo artigo.

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VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO RN CONTAM COM

ações positivas Por Cione Cruz

No estado, índice da violência doméstica desde que foi decretado o isolamento social, em meados de março de 2020, não foge à regra nacional Um fenômeno que vem acontecendo “nos quatro cantos” do país nesses tempos de pandemia, o aumento no índice da violência doméstica é explicado por especialistas como consequência do machismo e da presunção de impunidade com o atual isolamento social e, possivelmente, exacerbada pela conjuntura socioeconômica imposta pela paralisação da economia, perda de emprego etc. No Rio Grande do Norte, algumas medidas para coibir essa violência e ajudar suas vítimas estão sendo postas em prática, com destaque para a criação do 3º Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Natal, do TJRN (CE-Mulher); da Delegacia Virtual da Mulher; Regulamentação da Patrulha Policial Maria da Penha e Monitoramento eletrônico do agressor. Aqui no estado, o índice da violência doméstica desde que foi decretado o isolamento social, em meados de março de 2020, não foge à regra nacional. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estado apresentou, de janeiro a abril deste ano, um aumento de 34% nos boletins de ocorrência, relatando violência doméstica, levando em consideração o mesmo período de 2019. A Delegacia Virtual da Mulher, que está no site da Secretaria de Segurança Pública do RN, segundo Isabelle Wanderley Rodrigues, analista judiciária do 3º Juizado da Violência Doméstica de Natal e idealizadora e coordenadora do projeto Rádios contra a Violência Doméstica, foi de grande importância para

o combate à violência doméstica. A mulher que sofre violência doméstica e tem acesso à internet, não precisa sair de casa. Ela já faz a denúncia e o BO na própria internet. Os casos são de violência moral e psicológica. “Não pode ser violência física, porque este precisa do exame de corpo e delito; então tem que ser feito fisicamente, na Delegacia da Mulher, da Zona Norte ou da Zona Sul, próximo ao endereço da vítima. Faz o BO e solicita as medidas protetivas”, explicou Isabelle. Além disso, o Decreto do Governo do Estado (número 29.496, de 9 de março de 2020), regulamenta a Lei Estadual (número 10.097, de 8 de agosto de 2016), que cria no âmbito do estado do RN as patrulhas policiais denominadas “Maria da Penha”, com o objetivo de prevenir e combater a violência doméstica contra a mulher, e dá outras providências. Há também uma campanha do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que aconselha a vítima a fazer um X vermelho de batom na mão, que significa um pedido de socorro, que ela pode mostrar nas farmácias ou estabelecimentos comerciais. Essa campanha, inclusive, já está bastante difundida nas redes sociais. Segundo ainda Isabelle Wanderley Rodrigues, dados do 3º Juizado da Violência Doméstica de Natal, de março a junho de 2020, foram distribuídas 111 Me-

Isabelle Wanderley, analista judiciária do 3º Juizado da Violência Doméstica de Natal

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didas Protetivas de Urgência em favor das mulheres. Segundo afirmou, nesse mesmo período de 2019 foram distribuídas 150, o que parece ser uma “incongruência”, segundo afirmou, deve ser explicada pelo “isolamento”. As mulheres estão sentindo muita dificuldade em, realmente, procurar os meios para fazer os boletins de ocorrência para solicitar as medidas protetivas. Outras mulheres não têm acesso à internet, estão em casa isoladas de tudo, afirmou. “Às vezes os agressores mantêm essas mulheres em cárcere privado, não deixam ter acesso a nada, à internet, aos meios de comunicação. Então, acho que por isso elas não estão conseguindo registrar o BO, mesmo tento internet para fazer isso, com a Delegacia Virtual no site da Secretaria de Segurança Pública, mesmo tento o telefone 180, onde elas podem denunciar, ligar. Mas, muitas vezes, os agressores nem as deixam ter esse meio de comunicação. Podem até confiscar o celular e elas ficam sem ter como procurar ajuda. Não pode sair de casa para procurar ajuda de um vizinho, familiares... Então, os casos ficam subnotificados. Estão aumentando, mas não tem como a gente registrar”, afirmou ainda Isabelle.

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Pastoral Familiar faz aconselhamento cedida

Marília Martins, coordenadora arquidiocese da Pastoral Familiar A Pastoral Familiar da Arquidiocese de Natal também trabalha em prol dessas mulheres, vítimas da violência doméstica. Segundo Marília Martins, coordenadora arquidiocesana da pastoral, ainda é um trabalho bastante discreto, focado mais na orientação dessas mulheres a procurarem ajuda psicológica no Instituto Caná, com quem a Pastoral tem uma parceria. “A gente vai motivando, fazendo aconselhamento, orienta sobre quem ela deve procurar. E como a gente não teve nenhum caso de violência física, graças a Deus, nós ficamos com essa parte da violência psicológica e emocional, que machuca do mesmo jeito, e, às vezes, até pior”, afirmou Marília. Outra ação da Pastoral foi uma parceria com a Delegacia da Mulher, para encaminhamento dos possíveis casos de violência física, começando com um trabalho de aconselhamento, até a vítima se sentir segura, e, em seguida, ser conduzida à Delegacia. Porém, nenhum caso surgiu. “Em relação aos abusos psicológicos, trabalhamos com o aconselhamento. Não conseguimos fazer o trabalho dentro das paróquias, porque ainda não conseguimos trabalhar os meus agentes diocesanos, porque nós sofremos uma resistência devido ao machismo, e, muitas vezes, mulheres machistas. A gente ainda sofre muito isso nas igrejas, infelizmente”. Marília afirma que faz um trabalho de empoderamento das mulheres, através de palestras e conversas, abordando os temas que até então não eram abordados dentro da Pastoral Familiar.

Serviço No Brasil existe a Lei Maria da Penha (11.340/2006), que garante a proteção às vítimas de violência doméstica, não se restringindo a agressão física, mas se estendendo também a agressões psicológica, patrimonial e sexual, assim como os dispositivos do Código Penal Brasileiro, que dispõe sobre a ameaça (art. 147), lesão corporal (art. 129, § 9º), cárcere privado (art.148), estupro (art. 213), e o feminicídio (art. 121,VI). Há também a Lei 13.931/19, que obriga a rede de saúde a notificar dentro de 24h, os casos de atendimentos com suspeita de violência doméstica.

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N Dom Eugênio

8 anos de vida eterna

o dia 9 de julho passado, lembramos os oito anos de falecimento do Cardeal Eugênio de Araújo Sales, que foi bispo auxiliar e administrador apostólico da Arquidiocese de Natal, nas décadas de 50 e 60. No dia 8 de novembro próximo, vamos celebrar o seu centenário de nascimento. Por ocasião do oitavo ano de vida eterna, o site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicou um artigo escrito pelo Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião, no Rio de Janeiro, intitulado “Cardeal Sales e as vocações sacerdotais”. Nesse artigo, Dom Orani faz menção à amizade entre o Papa João Paulo II e Dom Eugênio. No mês de julho, também comemoramos os 40 anos da primeira visita apostólica do Papa Woytila ao Brasil. O Cardeal Tempesta recorda os lugares visitados por São João Paulo II, na cidade do Rio de Janeiro, sempre acompanhado do então arcebispo metropolitano, Cardeal Sales, como a Catedral Metropolitana e o Corcovado. Na visita à Favela do Vidigal, cujos moradores estavam sendo ameaçados de serem deslocados, por causa da especulação imobiliária, o Papa assim disse: “A Igreja em todo o mundo quer ser a Igreja dos pobres. A Igreja em terras brasileiras quer também ser a Igreja dos pobres – isto é, quer extrair toda a verdade contida nas bem-aventuranças de Cristo e, sobretudo, nesta primeira – “bem-aventurados os pobres em espírito…”. Em outros trechos do artigo escrito por Dom Orani, ele destaca que Dom Eugênio colocou como centro de sua ação pastoral, o cuidado com as vocações. “O Cardeal Sales levou, ao pé da letra, a sua preocupação com as vocações, sendo o Bispo Diocesano que mais padres ordenou para a Igreja do Rio de Janeiro. Esta preocupação dele com as vocações, agora, nos impulsiona a inaugurar uma Associação de Fundo Vocacional Cardeal Sales para ajudar na manutenção dos nossos estudantes de pós-graduação”, escreveu o Cardeal Tempesta. A Arquidiocese do Rio de Janeiro lançou a Associação de Fundo Vocacional exatamente no dia 9 de julho, data do oitavo ano de vida eterna de Dom Eugênio Sales.

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Nas Ondas da Educação: PANDEMIA FAZ EDUCADORES BUSCAREM O RÁDIO COMO FERRAMENTA DE APOIO AO ENSINO 24 AGOSTO DE 2020


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Jeferson Rocha Iva Azevedo sempre teve uma convivência com o rádio influenciada pelos pais que, como bons sertanejos, sempre tinha um “radinho de pilha” por perto. Nesse período de pandemia, seu companheiro do cotidiano assumiu um novo papel: mensageiro das discussões promovidas pelos seus professores que já não podem manter suas aulas presenciais. Mãe de três filhos e empreendedora, Iva tem uma rotina puxada, mas sempre dá um jeito de continuar estudando: “Existe uma grande dificuldade em conciliar os afazeres domésticos, a educação das crianças que estão em idade escolar e o trabalho como autônoma ainda faço toda a produção das minhas vendas. A rotina é árdua, mas procuro me organizar durante o dia para ficar com a noite livre, continuando, assim, a acompanhar as aulas”. As aulas a que ela se refere, são as promovidas através do Programa “EJA em Ação”, desenvolvido pela 10ª Diretoria Regional de Educação (Direc), ligada à Secretaria do Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), desenvolvido em parceria com a Fundação Educacional Santana, mantenedora da Rádio Rural de Caicó, 102,7FM. O programa estreou em 15 de abril deste ano e vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 18h50 às 19h40, na FM e através das redes sociais. A produção que envolve 66 professores de escolas da 10ª Direc e alcança estudantes de cerca de 11 municípios, foi desenvolvida para dar continuidade aos trabalhos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que teve as aulas suspensas no final de março. A programação se divide em ciclos temáticos: Sociais, nas segundas-feiras; Ciências Humanas e Sociais, nas terças; Ciências da Natureza e Matemática, nas quartas; Linguagens, nas quintas; Ciclo de Cultura Virtual, nas sextas, com a presença de estudantes e gestores que compartilham suas experiências. Fabíola Dantas, Coordenadora do EJA na 10ª Direc, destaca que o programa tem uma formatação baseada nos princípios educacionais de Paulo Freire com foco na intertransculturalidade. “A gente considera a cultura de

nossos estudantes, o saber de mundo, a escuta deles. Tudo isso planejado para que os conteúdos se conectem e conversem entre si de forma interdisciplinar. É muito gratificante ver tudo isso que está acontecendo”, ressalta. A educação foi uma forma encontrada por Estados e Municípios em todo o país para vencer as dificuldades de acesso à internet e outras tecnologias, e manter os alunos em ritmo de aprendizado. Em nosso estado, são contabilizadas, pelo menos, mais três ações além da de Caicó, nos municípios de Campo Redondo, Jucurutu e Serra Negra do Norte. Os programas ajudam na formação de crianças e jovens do ensino básico através de atividades diárias que incentivam os estudantes a continuarem na busca pelo conhecimento. Em Campo Redondo, por exemplo, o “Programa Rádio Escola: a educação também se faz no rádio” vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 13h às 15h, na FM Vale das Serras, com participação das Escolas Municipais, com conteúdos, exposição de específicos, momentos de tira dúvidas, participação dos alunos e de especialistas e profissionais de outras áreas que conversam com os estudantes sobre os temas do conteúdo do dia, além de reunião de pais onde eles participam com questionamentos e depoimentos de como estão acompanhando as atividades em casa com os filhos. Para Simone Cortez, secretária de educação de Campo Redondo, além de contribuírem na formação dos alunos, os programas despertam a importância da educação para toda a comunidade. “Há aceitação dos nossos estudantes, desde os menores até os mais experientes; notamos até a participação da comunidade local, ouvinte assídua da programação da rádio. Percebemos a participação das famílias, a valorização que estão dando à educação e as interações dos professores, coordenadores pedagógicos e gestores se fortalecendo com as famílias e os alunos” destaca.

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Ralph Frazão

DESAFIOS A volta à normalidade das aulas nas escolas ainda é incerta. Profissionais da educação de todo o país se debruçam nos desafios para um novo tempo, e o rádio, certamente, será um dos aliados nesse processo. O sucesso das experiências já contadas anima profissionais como Simone Cortez, que acredita que o meio deverá extrapolar o período crítico da pandemia: “É notório, ainda, a importância desta mídia para a educação, e estamos sim revendo a avaliação do Projeto Rádio Escola para ir além do período de excepcionalidade da pandemia do novo Coronavírus e a proposta possa ir adiante e fazer parte do currículo integral das escolas da nossa rede de ensino”. O professor Dr. Adriano Gomes, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), avalia que o rádio continuará exercendo um importante papel de educar, presente em sua história, dentro de uma ótica mais ampla, na perspectiva para além da transmissão de conteúdos. O professor ressalta que, “com as tecnologias digitais cada vez mais avançadas como podcast, e essa nova prática de ensino-aprendizagem que nós passamos a conceber nesse momento de pandemia, é importante que a gente veja, não só o vídeo e a televisão como formas de aprendizagem, mas o rádio também por trabalhar com importantes elementos presentes no processo de ensino-aprendizado, como a imaginação, por exemplo”. Cedida

Programa “EJA em ação” começou a ser veiculado desde o mês de abril

Campo Redondo conta com “Programa Rádio Escola: a educação também se faz no rádio”

RURAL A Emissora de Educação Rural, fundada em 10 de agosto de 1958 foi a primeira do Estado a investir na educação através das ondas do rádio. As Escolas Radiofônicas da emissora, inspiradas em uma experiência de muito êxito da Colômbia, ajudara na formação de milhares de potiguares e inspiraram a criação do Movimento de Educação de Base (MEB), implantado em 1960, e espalhado por emissoras do Nordeste, Norte e Centro-oeste do Brasil. O movimento da igreja católica se tornou em programa de governo em março de 1961.

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Alimentação saudável

DEVE SER PRIORIZADA DURANTE A PANDEMIA A escolha correta dos alimentos pode contribuir para a manutenção e recuperação da saúde Por Luiza Gualberto

A pandemia do novo coronavírus, pegou toda a população mundial de surpresa. De uma hora para outra, tivemos que abrir mão da nossa rotina habitual, de contato com os outros e com o mundo. As pessoas foram convidadas a se manterem em isolamento social, para se proteger e proteger a família do contágio do vírus, que já ocasionou milhares de mortes mundialmente. Diante dessa nova rotina e situação de tensão, muitos distúrbios surgiram com a pandemia, como insônia, aumento de quadro depressivo, ansiedade, além da compulsão alimentar, fazendo com que as pessoas passassem a ter hábitos alimentares maléficos, o que é um combustível para a potencialização desses outros quadros, além debilitar o nosso organismo. É comprovado cientificamente que a escolha correta dos alimentos pode contribuir para a manutenção e recuperação da saúde. Embora não exista um alimento que previna contra a COVID-19, manter uma alimentação mais saudável vai contribuir para o fortalecimento do organismo, impedindo o agravamento dos casos da doença. Nesse período em que muitas pessoas estão constantemente em casa, a prática do cozinhar as próprias refeições tem aumentado e isso é um ponto importante para fazer boas escolhas alimentares. Optar por alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes, tem sido a pedida maior para este período. Os alimentos ultraprocessados, por conterem em sua composição, aditivos que contribuem para a inflamação do organismo, devem ser deixados de lado. A nutricionista Márcia Roque preparou algumas dicas que podem ajudar a se manter saudável na alimentação:

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Dicas nutricionais para a pandemia

1-) 2-) 3-) 4-) 5-) 6-)

Evite alimentos ultraprocessados. Para enfrentar a pandemia, seu corpo precisa estar com as defesas em dia; Invista em alimentos naturais; Frutas e vegetais são ótimos, pois eles têm ação antioxidante; Feijão e arroz é uma ótima combinação e não pode faltar no cardápio; Procure alimentos de todas as cores, pois são excelentes para sistema imunológico;

Frutas, legumes, verduras, grãos diversos, oleaginosas, tubérculos, raízes, carnes e ovos, são saudáveis e excelentes fontes de fibras, vitaminas e minerais, que ajudam na prevenção de doenças, inclusive aquelas que aumentam o risco de complicações do coronavírus, como diabetes, hipertensão e obesidade.

7-)

Como cenário atual demanda um cuidado redobrado na alimentação, procure estar com as condições nutricionais em dia, por meio do consumo adequado de alimentos saudáveis. Não esqueça de beber água, já que é muito importante para a hidratação.

ARQUIVO PESSOAL

Márcia Roque, nutricionista

Segurança alimentar

Nesse contexto em que muitas pessoas estão optando por cozinhar em casa, também é importante observar a segurança alimentar do que é consumido. Higienizar bem os alimentos, sejam eles frescos ou em embalagens, pode contribuir para que você não leve o vírus do supermercado para cozinhar. No caso de frutas, legumes e verduras, pode-se preparar uma solução, o hipoclorito, composto por uma colher de sopa de água sanitária dissolvida em 2 litros de água. Você vai deixar as frutas, legumes e verduras de molho nessa solução por 15 minutos e na sequência, lavar em água corrente. Já para as embalagens de arroz, feijão e outras que vem do supermercado, a higienização pode acontecer lavando a embalagem com água e sabão e após, secando bem a embalagem para armazenamento no armário. Para o consumo dos alimentos prontos, é importante que a higiene das mãos esteja em dia. Se veio da rua, lavar bem as mãos com água corrente e sabão para evitar o contágio. O cenário atual demanda um cuidado redobrado, não só com a higiene, mas também com a alimentação. Estar com as condições nutricionais em dia, por meio do consumo adequado de alimentos saudáveis e água potável, contribui para o fortalecimento do sistema imunológico, além da manutenção e recuperação da saúde.

AGOSTO DE 2020

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