Fundação Paz na Terra Ano XLV - Nº 59 Natal/RN | R$ 7,00 Março de 2021
IGREJA VIVENCIA CFE COM FOCO NO
DIÁLOGO
A ORDEM
SUMÁRIO EDITORIAL
ABORDAGENS DIVERSAS E INTERESSANTES
Fundação Paz na Terra Ano XLV - Nº 58 Natal/RN | R$ 7,00 Fevereiro de 2021
O QUE EU APRENDI COM A
pandemia?
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As várias matérias desta edição discorrem temas os mais diferentes, com seus respectivos conteúdos narrados pela visão dos repórteres, articulistas e editores, na linha editorial proposta pela Igreja Particular de Natal. A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: um compromisso de amor”; o Ano Josefino, proposto pelo Papa Francisco e vivenciado neste ano; o Dia Mundial da Água, celebrado aos 22 de março de cada ano, são alguns dos temas abordados. De todos, provavelmente o mais polêmico é o da CF Ecumênica, por causa da proposta de abertura ao diálogo com grupos que são colocados à margem da sociedade em virtude de opções de vida que fizeram. Outro tema importante é o do Dia Mundial da Água. A data foi proposta e aprovada por uma das Assembleias Gerais da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo foi chamar a atenção para esse bem natural, limitado e vital para a vida de todas as criaturas, e que se torna cada vez mais escasso. Apesar de cobrir grande extensão da superfície terrestre, a maior parte da água é salgada e inapropriada para o consumo humano. A população do Planeta cresce, mas a quantidade de água é a mesma. E, ainda assim, há insensatos e gananciosos que desejam privatizá-la, transformando-a em mercadoria! Vale a pena conferir todas as matérias.
CAPA
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ENTREVISTA - Igreja convida fiéis a praticarem exercícios quaresmais
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VIDA PASTORAL - Paróquia de Brejinho acolhe Missionárias Claretianas
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REPORTAGEM - A água é um bem comum, universal e vital
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PERSONALIDADE - Irmã Iva Korbe, uma mulher apostólica
EXPEDIENTE
Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689
CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Cacilda Medeiros Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida
EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: Cartaz CF 2021
COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal
DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800
ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br
MARÇO DE 2021 3
A ORDEM
PALAVRA DA IGREJA
Mensagem SOBRE A CAMPANHA
DA FRATERNIDADE 2021
No último dia 17 de fevereiro, o Papa Francisco enviou uma mensagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre a Quaresma e a Campanha da Fraternidade deste ano. Segue a mensagem, na íntegra: Francisco Papa
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Certos de que “devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos”, no diálogo ecumênico podemos verdadeiramente “abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus”
4 MARÇO DE 2021
Queridos irmãos e irmãs do Brasil! Com o início da Quaresma, somos convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade. Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida. Como indiquei na recente Encíclica Fratelli tutti, «passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta» (n. 35). Para que isso não ocorra, a Quaresma nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum e da esmola. Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a «sentar-se a escutar o outro» e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes «um mundo surdo». De fato, quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos «um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro» (Ibidem, n. 48). E, na base desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como ensina o lema da Campanha deste ano, «é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade» (Ef 2,14).å Por outro lado, ao promover o diálogo como åcompromisso de amor, a Campanha da Fraternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico. Certos de que «devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos», no diálogo ecumênico podemos verdadeiramente «abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus» (Exort. Apost. Evangelii gaudium, n. 244). É, pois, motivo de esperança, o fato de que este ano, pela quinta vez, a Campanha da Fraternidade seja realizada com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Desse modo, os cristãos brasileiros, na fidelidade ao único Senhor Jesus que nos deixou o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13,34) e partindo «do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade» (Carta Enc. Fratelli tutti, n. 271). A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial, a vida dos mais vulneráveis. Desejando a graça de uma frutuosa Campanha da Fraternidade Ecumênica, envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim. Roma, São João de Latrão, 17 de fevereiro de 2021. [Franciscus PP.]
A VOZ DO PASTOR
A ORDEM
Quaresma
TEMPO DE CONVERSÃO
Prezados leitores/as A Quaresma, tempo litúrgico que estamos vivendo desde a Quarta-feira de Cinzas, é um tempo de graça e de conversão para todos nós, discípulos missionários de Jesus Cristo, tempo de preparação para a Páscoa. Somos convidados pela Liturgia da Igreja, pela reflexão da Palavra de Deus, a reconhecer que todos necessitamos de conversão, pois somos pecadores. É um tempo de preparação para a Páscoa, solenidade maior da Liturgia, ápice da vida e da missão de Jesus, evento de salvação e de libertação para toda a Humanidade. Uma preparação necessária, pois o que nos define, a partir da Páscoa, leva em consideração o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus: vivemos da “memória do Salvador” (cf. Lc 22,19; 1Cor 11,24s). Viver da memória do Salvador significa, em primeiro lugar, celebrar o evento da Páscoa. Não como um ritualismo qualquer, mas como ato de adoração e ação de graças (cf. o significado do termo grego “Eucharistia”) por termos sido beneficiários do ato de liberdade e de entrega do Filho de Deus feito Homem. Jesus se entregou por nós. Deus entregou Jesus. Não se trata, todavia, de um ato de vingança, de desprezo e de condenação do Filho ao sofrimento e à morte. Mas, de um ato de amor que se solidariza com a dor dos homens e das mulheres, diante das consequências de seus pecados. Um Deus que ama a tal ponto que Ele mesmo redime, perdoa e revela que sempre foi da parte do homem e da mulher, da parte de sua Criação. Na Páscoa, celebramos tudo isso. A Páscoa lembra a todos nós o projeto de Deus, seu desígnio, que consiste em manifestar seu amor pela criatura, feita à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26-27). Deus cria, não para soltar o ser humano no vasto mundo criado, mas para entrar nesse mesmo mundo e “viver” uma experiência com a criatura. Tal atitude divina, que não acontece senão por meio do Filho e do Espírito Santo, marca para sempre a natureza criada, de tal modo que Ele mesmo imprime no ser humano o desejo natural de ver a Deus. Sim, Deus cria de tal forma que torna o ser humano capaz dele – finitum capax Infiniti – e essa criação, sob o signo da liberdade divina, acontece por causa do seu grande amor. Nem o pecado, seja ele o original ou o originado, pode destruir tal atitude. O que faz com que Deus não volte atrás no seu plano; é o amor com o qual Ele realiza esse plano. Amor pelo Filho no Espírito Santo, do qual Ele nos faz participar. Porém, somos marcados pelo pecado, pela história de pecaminosidade que aflige a Humanidade e, por isso mesmo, história que prejudica as relações com Deus e com o semelhante. Sim, não podemos ser ingênuos, trata-se de reconhecer que a nossa finitude foi tentada a ser, a se realizar ou desenvolver-se na sua capacidade de transcender sem Aquele que se pôs sempre como o que deseja unir sua Infinitude com a nossa finitude, sua Força com nossa fraqueza. É preciso afirmar: Deus nunca desiste de nós. Espera nossa mudança. A Quaresma é um tempo em que podemos voltar e reconhecer que sem Ele não podemos viver, sem Ele nossa vida perde sentido. E o que Deus mais quer é que encontremos o sentido de nossa vida, que consiste em viver plenamente. Vida plena que o seu Filho, o Crucificado-Ressuscitado, traz para todos nós.
Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal
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“A Quaresma é um tempo em que podemos voltar e reconhecer que sem Ele não podemos viver, sem Ele nossa vida perde sentido”
MARÇO DE 2021 5
A ORDEM
A quaresma é o tempo litúrgico que prepara os fiéis para o tempo pascal. Neste período, que iniciou na quarta-feira de cinzas, os fiéis são convidados a fazerem exercícios espirituais, com base nos pilares da oração, jejum e caridade. O padre José Nazareno, pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, no conjunto Cidade Satélite, em Natal, explica que esses pilares nos convidam a um retorno para Deus.
Igreja convida à vivência dos exercícios quaresmais 6 MARÇO DE 2021
ENTREVISTA A ORDEM
A Ordem: Porque a quaresma dura 40 dias? Pe. Nazareno: Nos três primeiros séculos da Igreja, não havia uma estrutura sobre o período quaresmal. Eram apenas dois dias de preparação. A sexta e o sábado que preparava para a Páscoa. A Páscoa já era celebrada pelos cristãos, mas não havia uma estrutura como hoje nós temos. No início do século IV, por volta dos anos 310 e 313, já se celebrava uma semana de preparação. A própria história da Igreja não consegue identificar quem foi mudando. Muito provavelmente, foram os papas e bispos da época. Já na metade do século, eram 30 dias de preparação. A Igreja foi amadurecendo pouco a pouco e, no final do século IV, foram instituídos os 40 dias. Esse número 40, a gente sabe que é muito simbólico na sagrada escritura. 40 anos foi o período que o povo de Deus peregrinou pelo deserto; 40 dias foi o tempo que durou para Elias subir o Monte Oré; 40 dias também foi o período que Moisés esteve no Monte Sinai esperando as tábuas da lei de Deus; e, 40 dias, foram os dias que Jesus foi tentado no deserto. No século VI, a Igreja acrescentou mais 3 domingos, ficando com 60 dias a preparação para a Páscoa. No século XX, com a reforma do Concílio Vaticano II, foi oficializado o período de 40 dias para a quaresma. A Ordem: Durante este período, a Igreja nos convida a vivência o tripé da oração, jejum e caridade. Como os cristãos podem viver bem a quaresma, tomando como base esses pilares? Pe. Nazareno: É interessante a gente perceber que o mais importante, no período quaresmal, não está na exterioridade. A oração, o jejum e caridade são as três atitudes básicas deste período e, de fato, é essa ideia de que o mais importante não é a exterioridade das práticas, mas, sim, à conversão interior. Essas três atitudes, representam
um retorno nosso pra Deus. A gente precisa recomeçar. Precisamos dedicar um tempo para a oração; ao jejum, não só dos excessos alimentares, mas de comportamentos e, também, para a prática da caridade. Quem viver bem esses três pilares, vai ter uma santa Páscoa.
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É interessante a gente perceber que o mais importante, no período quaresmal, não está na exterioridade”
A Ordem: O que a vivência do jejum nos propõe na quaresma? Pe. Nazareno: O jejum mais recomendado pela Igreja é aquele praticado nos dias principais sinalizados pela Igreja, que são, a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira da Paixão do Senhor. O jejum mais usual é aquele em que eu tomo o café da manhã, de forma moderada, sem excessos. Fico sem me alimentar até o almoço, tomando água à vontade e, ao chegar ao almoço, vou comer de forma moderada e me privar do jantar. Eu vou substituir o jantar por um lanche leve, podendo ser uma torrada, um copo de suco, um café com leite etc. Eu tenho a opção de escolher de me privar do almoço ou do jantar, substituindo por um lanche. Existe também o jejum a pão e água, que é praticado por pessoas que têm uma maior vivência desse exercício. Quando acorda, come um pedaço de pão e toma um copo d’água. Durante o dia, na medida do possível, se mantém em oração e, quando sentir fome, come mais um pedaço de pão e toma água. Faz isso o dia todo. É preciso estar atento que o jejum alimentar deve-lhe levar e conduzir, por exemplo, ao jejum da língua, que é tão perigoso, sobretudo, em rede social. O jejum gira em torno dessa realidade. O meu jejum deve, concretamente, fazer com que a refeição que estou me privando, chegue a quem precisa, aos pobres. Esse valor que eu gastaria na refeição, por exemplo, posso doar a alguém necessitado. O jejum deve transbordar na solidariedade aos mais necessitados. MARÇO DE 2021 7
A ORDEM
ENTREVISTA
Fotos: Pascom São Francisco de Assis
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“O jejum deve transbordar na solidariedade aos mais necessitados”
A Ordem: Como viver bem a caridade, neste período? Pe. Nazareno: Diante da pandemia, a quantidade de pobres e necessitados aumentou muito. Quando se fala em pobre, a gente associa logo àquela pessoa que está nas ruas, mas, esses pobres podem estar, muitas vezes, nas nossas famílias. Por exemplo, é um sobrinho meu que está desempregado ou um cunhado que foi demitido agora na pandemia e que está precisando de ajuda. É preciso que a gente olhe ao nosso redor. Algo que preocupa a nós padres é a vivência, por parte dos fiéis, de uma espiritualidade intimista, o que, muitas vezes, faz com que a gente esqueça que, no caminho para a santidade, existem três etapas: eu com Deus, eu com o próximo e eu comigo mesmo. Muitas vezes, a pessoa tem uma forte prática da oração, mas, se esquece que tem um pobre caído e esse pobre caído pode até ser um idoso que está na sua casa e que você não dedica atenção a ele. O tempo da pandemia nos fez perceber que precisamos ter mais cuidado uns com os outros e que a gente precisa exercitar isso sempre no nosso dia a dia.
8 MARÇO DE 2021
ARTIGO A ORDEM
MÍDIAS SOCIAIS E
Cancelamento Social
A sociedade atual vive formas variadas de configurações. São muitas as novidades que, graças aos meios de comunicação, surgem no dia a dia. É muita informação e pouco tempo para buscarmos sabedoria. As pessoas estão paranoicas. As mídias pertencem as pessoas. Essas últimas, em muitos casos, tornaram-se objetos das primeiras. É muita gente viciada nas mídias sociais. Nas escolas, igrejas, refeições, encontros, trabalho, traições virtuais etc. As pessoas estão a comunicar-se com todos; mas não aprofundam relações com ninguém. Com a pandemia, a própria evangelização poderá estar sujeita às armadilhas que levarão a missão à mais profunda superficialidade. Já estão patentes os magos da evangelização pelas mídias sociais, traindo assim a necessidade do reconhecimento do Outro pelo nome e pela face. Ainda não parei para aprofundar; mas já tomei ciência que está surgindo a categoria “cancelamento social”. Trata-se da negação do outro, ou seu anulamento das possibilidades das relações sociais e institucionais. É interessante constatar que é mais um estilo de violência do Outro, do semelhante. É um darwinismo social, que assume proporções antropológicas profundamente virulentas. As pessoas estão a brincar com a expressão, sem ter o alcance do seu significado pervertido para as relações sociais. Isso é o reconhecimento linguístico do que é descartar as outras pessoas, sem nenhuma inquietação da consciência. Aqui está em jogo um problema do como as pessoas estão a formular seus valores na relação com o próximo. É um problema ético e moral a ser estudado. O Papa Francisco, com seu realismo evangélico e pastoral, descreve como as mídias sociais contribuem para esse cancelamento, mesmo sem usar esta terminologia. Afirma o Pontífice: “Os meios de comunicação (digitais) podem expor ao risco da dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas (FT, 43)”. Mais adiante, continua o Prelado: “Ao mesmo tempo que defendem o próprio isolamento consumista e acomodado, as pessoas escolhem vincular-se de maneira constante e obsessiva. Isso favorece o efervescimento de formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais que chegam a destroçar a figura do outro, em um desregramento tal que, se existisse no contato pessoal, acabaríamos todos por nos destruir mutuamente. A agressividade social encontra um espaço de ampliação incomparável nos dispositivos móveis e nos computadores” (Idem, 44). É profético afirmar que necessitamos urgentemente disseminar uma “cultura do encontro” (Papa Francisco). Esse radicalismo homicida é desumanizante. A cura para essa pestilência é o Evangelho. Talvez outros reneguem essa via; contudo, foi ela que qualificou a cultura ocidental nesses mais de dois mil anos de história. Seja ateu, agnóstico, pelagiano ou de quaisquer outras tendências espiritualistas, isso não pode ser negado. A cultura do cancelamento é mais um rosto da morte de Deus dessa realidade, sem certezas e confusa. Ela perdeu seu horizonte vinculante. Tirou Deus, e o que colocou no lugar, é só uma semelhança de quem é a Verdade. A minha reflexão é finalizada com a certeza de que precisamos debruçar-nos muito mais sobre essa questão. Tem algo a ser buscado, na tentativa de saber o que ficará do humano, depois dessa pandemia. Se permanecer o desejo alimentado de cancelar o outro com todas as armas possíveis, ainda mais com os meios digitais, aí sim, teremos muitas outras mortes simbólicas, nestas paragens caóticas do nosso amado país. Assim o seja!
Pe. Matias Soares Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório – Mirassol - Natal
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As pessoas estão a brincar com a expressão, sem ter o alcance do seu significado pervertido para as relações sociais”
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A ORDEM
CAPA
Com foco no diálogo, IGREJA VIVENCIA CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA
Tema trata da “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, com o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” Por Luiza Gualberto Durante o período da quaresma, a Igreja católica no Brasil vivencia a Campanha da Fraternidade, que, neste ano, acontece de forma ecumênica, promovida em parceria pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Em 2021, o tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, com o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. De acordo com o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, a campanha é voltada ao diálogo para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, em especial no contexto da política e da pandemia da COVID-19. “O vírus, já tão letal em si mesmo, encontrou aliados na indiferença, no negacionismo, no obscurantismo, no desprezo pela vida. Sejamos, portanto, aliados na responsabilidade, na lucidez e na fraternidade”, disse. Para nortear as reflexões e ações da Campanha da Fraternidade, a CNBB e o Conic publicaram um texto-base. O documento é alicerçado nos pilares: ver, julgar, agir e celebrar. A dinâmica da CF é sempre iluminada pela Palavra de Deus. O texto que ilumina o lema deste ano é a carta aos Efésios – “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Dom Joel Portella explica que o tema do diálogo é uma continuidade da campanha de 2020, sobre o cuidado mútuo entre as 10 MARÇO DE 2021
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Em 2021, o tema é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, com o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”
pessoas, e não se trata de “querer que todos pensem do mesmo modo”, mas de perceber que a diferença é convite ao diálogo. “Perplexas pela pandemia, as Igrejas que compõem o Conic e algumas Igrejas observadoras, uniram-se e identificaram nesse tema a mensagem que o nosso tempo necessita. É triste ver que nosso tempo vem apresentando a marca da radicalização, da polarização e desrespeito às pessoas, em especial às mais simples e vulnerabilizadas”, reforçou. Segundo o padre Robério Camilo, coordenador da equipe de campanhas na Arquidiocese de Natal, estamos vivendo em um mundo polarizado. “A campanha da Fraternidade deste ano, nos apresenta Jesus, que dialogava com as diferentes pessoas e é exatamente isso que a gente quer. Com a ausência do diálogo, há muitos ruídos. A palavra da moda é a polarização, de radicalismos nos posicionamentos e é isso que a campanha vem chamar a atenção, que só através do diálogo, superaremos as nossas diferenças”, fala. A campanha vem lembrar uma coisa básica, que somos todos irmãos. “Se a gente não alimenta a dinâmica do amor, estaremos alimentando a dinâmica do ódio”, complementa o padre Robério. Ainda de acordo com o sacerdote, a campanha nos convida à unidade na diversidade. “Essa unidade vem por meio do respeito. Todos nós somos diferentes em diversos aspectos. A gente precisa respeitar cada pessoa,
CAPA A ORDEM
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Esta é quinta edição ecumênica da campanha, que congrega diversas denominações cristãs, com o objetivo de valorizar as riquezas em comum entre as Igrejas” MARÇO DE 2021 11
A ORDEM
CAPA Fotos: Cacilda Medeiros
Pe. Robério Camilo, coordenador arquidiocesano da equipe de campanhas
na condição em que ela está. Isso está em sintonia com o que nos coloca o papa Francisco, de sermos uma Igreja em saída. E só poderemos ser essa Igreja se respeitarmos uns aos outros. Se eu tenho Jesus como sendo a minha paz, jamais vou ter um discurso de ódio. A gente vive uma modalidade nos tempos atuais, da cultura do “cancelamento”, algo devastador para a vida da pessoa e da Igreja. Cristo não “cancelava” ninguém. Ele unia as pessoas”, reforça. A CF é alicerçada no ver, julgar, agir e celebrar. Para o padre Robério, o agir depende de uma conversão pessoal. “Isso depende muito de nós. E é isso que a campanha deste ano vem nos chamar a atenção, de fazermos a experiência do diálogo. O ponto de partida é o respeito ao diferente, porque a base do diálogo está no respeito e no amor. O diálogo é uma ferramenta para apaziguar, para seguir adiante”, frisa.
Campanha da Fraternidade A Campanha da Fraternidade é realizada pela CNBB, todos os anos, no tempo da quaresma. Esta é quinta edição ecumênica da campanha, que congrega diversas denominações cristãs, com o objetivo de valorizar as riquezas em comum entre as Igrejas. Desde 2000, a campanha abordou os seguintes temas: 2000 – “Dignidade humana e paz” e lema “Novo milênio sem exclusões”; 2005 – “Solidariedade e paz” e lema “Felizes os que promovem a paz”; 2010 – “Economia e Vida” e lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”; 2016 – “Casa Comum, nossa responsabilidade” (tratou do meio ambiente e saneamento básico) e lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. De acordo com a CNBB, a Campanha da Fraternidade tem como gesto concreto a coleta de recursos para apoio a projetos sociais relacionados à temática da iniciativa. Neste ano, a coleta da solidariedade acontece no dia 28 de março.
Apresentação da Campanha da Fraternidade, na Arquidiocese de Natal, aconteceu de forma remota 12 MARÇO DE 2021
A ORDEM
CAPA
TRÍDUO, NOVENA, TREZENA A QUARESMA É DE SÃO JOSÉ! No último dia 17/02 iniciamos, com a quarta de cinzas, o tempo litúrgico da Quaresma, tempo forte de conversão que prepara a Igreja para viver a grande alegria da solenidade da Páscoa do Senhor. Vivemos um tempo mais austero na liturgia em previsão da grande festa que se aproxima, mas semelhante ao advento que, no meio de sua sobriedade, encontra festividade com a celebração do dogma da Imaculada Conceição (08/12), a quaresma tem no centro de sua vivência a celebração de São José, esposo da Virgem Maria. Não é a única vez na liturgia que solenidades coincidem com o tempo quaresmal; basta recordar a festa da Cátedra de São Pedro (22/02) e também a solenidade da Anunciação do Senhor (25/03). Digo isso, para não cairmos no erro de pensar que essas festas atrapalham ou atropelam o espírito próprio de austeridade. A solenidade de São José está no coração da quaresma e não podemos ser indiferentes a esta que é a única quaresma do ano de São José. Retomo a reflexão do último mês em que estabelecíamos a relação entre José do Egito e São José no que toca ao dom da interpretação de sonhos, mas não é somente onde há relação. Se lembrarmos bem, José do Egito é quem salva sua família (o povo de Israel) quando o acolhe no seio do império egípcio no grande tempo de fome e seca que havia se alastrado durante sete anos, como previra José, interpretando o sonho do Faraó; voltando o olhar para o Patrono da Igreja, vemos que também ele manteve a esperança do Povo de Deus viva, quando pela aparição do anjo, seguiu diligentemente para o Egito, com a sua família, fugindo da ira de Herodes (Mt 2,1315). A profunda atenção de São José às mensagens de Deus rendeu-lhe essa grandiosa graça de salvar aquele que é o Salvador. Fica muito claro para nós neste tempo quaresmal a nossa ida ao deserto com Jesus nos preparando para a concretização da missão dele na cruz; assim, percebemos a ligação tão estreita de São José conduzindo a Igreja à celebração do mistério pascal com intenso espírito penitencial e a austeridade com que conduziu sua vida, desapegando-se de seus projetos pessoais para em tudo fazer a vontade de Deus. Lucas França Paróquia de São José dos Angicos Angicos-RN
São nomes muito conhecidos dos católicos, principalmente na época da festa dos santos padroeiros. Normalmente, as comunidades celebram o novenário em honra dos padroeiros ou em preparação para as grandes festas litúrgicas, como a Páscoa, Pentecostes e o Natal. Mas, há também aquelas que celebram apenas um tríduo. E outros, principalmente em honra de Santo Antônio e de Santa Luzia, que celebram a trezena. Mas o que significam estes nomes? Segundo o missionário redentorista, Padre João Paulo Santos, a tradição de celebrar a novena “vem justamente após a vida de Jesus na terra, com seus ensinamentos, paixão, morte e ressurreição”. A novena é, antes de tudo, um ato e louvor ao Pai, Filho e Espírito Santo. Deus três vezes santo. O número três nos ajuda a entender muita coisa sobre a origem das novenas. “Nove dias são justamente a soma de três, mais três, mais três. Portanto, dizendo desta completude que aponta para a própria realidade da Trindade Santíssima. A novena nos leva à dimensão simbólica de contemplar a realidade de Deus”, explica o sacerdote. A origem desta prática de devoção faz referência aos nove dias que passaram entre a ascensão do Senhor e Pentecostes. O tríduo (03 dias) e a trezena (13 dias) têm o mesmo significado da novena. A diferença está apenas na quantidade de dias em que são celebrados. FONTE: www.paieterno.com.br
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A ORDEM
PERSONALIDADE
Renan Silva
Irmã Iva Korbe uma mulher apostólica Por Jaime Vieira Rocha
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aúcha, com descendência alemã, Irmã Iva Korbe nasceu em 12 de fevereiro de 1924 e, atualmente, reside no abrigo de idosos Anízia Pessoa, na cidade de São José de Mipibu. No ano de 1943, ela ingressou na Congregação das Irmãs da Divina Providência. Tem formação acadêmica em Letras Clássicas (português, latim e grego). Dedicou parte de sua vida à educação, lecionando português, latim e francês em alguns colégios religiosos no estado de Santa Catarina e, mais tarde, no Colégio São José, em São Paulo do Potengi, e no Instituo Pio XII e na Escola Estadual Professor Francisco Barbosa, ambos em São
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José de Mipibu. No ano de 1977, Irmã Iva chegou a São José de Mipibu. Lá, ajudou ao então pároco, Monsenhor Antônio Barros, a fundar o Abrigo Anísia Pessoa, inaugurado em 1981, com o objetivo de cuidar dos idosos. Em São José de Mipibu, além do trabalho no Abrigo e na educação, Irmã Iva participava da vida paroquial, preparando as pessoas para o Sacramento do Batismo, promovendo formações para os leigos e atuando na liturgia da Igreja. Em 1984, foi transferida para São Paulo do Potengi, onde permaneceu por 16 anos. No ano 2000, retornou a São José de Mipibu, onde reside até hoje. Aos 96 anos de idade, Irmã Iva é conectada aos meios de comunicação, acompanhando as notícias do Brasil, do mundo e, principalmente, da Igreja. Irmã Iva Korbe é uma verdadeira discípula de Jesus, uma mulher apostólica, que vive sua vocação batismal de forma plena. É uma religiosa que vive a mística, de profunda intimidade com Deus. É uma mulher do sacramento da penitência e de vida eucarística. Uma mulher atenta aos sinais dos tempos, sempre antenada aos ensinamentos da Igreja. Uma mulher vocacionalmente realizada, feliz, e que sabe buscar pela santidade. Deus seja louvado por sua vida!
ARTIGO A ORDEM
Primeiros MIL DIAS DE VIDA
Por que falar de vida começando pelos primeiros mil dias? Você deve perceber que nós adultos trazemos constantemente a queixa de que temos muitas doenças como pressão alta, osteoporose, colesterol alto, problemas de rim, obesidade, diabetes, entre outras. É muito importante observar, neste contexto, que essas doenças já têm origem na gestação; por isso se faz muito necessário que cuidemos da vida intensamente durante a gravidez para poder preveni-las. Vamos nos ater à seguinte continha que possibilitará a nossa reflexão com mais profundidade: 270 dias (gestação) + 365 dias (1º ano) + 365 dias (2º ano) = 1000 dias. Pense comigo! Se cuidamos logo cedo daquela mulher que se descobre gestante e insistimos para que ela faça um pré-natal bem feito e esteja o tempo todo sendo bem informada, ela fica ciente e toma atitudes próprias para o crescimento e desenvolvimento de sua criança. Esta mulher, com certeza, pensa numa gestação saudável e quais os cuidados que precisa ter desde o início. Cuidando desde o início, também se fortalecerá para cuidar, durante o parto e nos primeiros anos de vida. Tudo isso para que possamos ter uma sociedade adulta que chegue aos seus de 60, 70, 80, 90, 100 anos ou mais numa profunda vontade de viver e que seja estímulo para os que vêm em novas gerações. Esses primeiros mil dias fazem a diferença para a saúde durante toda a vida. E o que podemos fazer? Cuidado. Zelo. Sabedoria. Desejo de solidariedade. Talvez sejam as palavras mágicas para a prática da unidade que se dá na adição, multiplicação e divisão de conhecimentos: uma linguagem matemática como matemática é a substância dos cuidados nos primeiros mil dias de vida. Quando se fala nesses cuidados, focamos causas de sofrimento desde a barriga da mãe. Mesmo num país que dispõe de grande celeiro produtor de alimentos, dispõe, também, de grande celeiro de desperdício ou acúmulo de exploradores em detrimento de explorados. Ainda reina a fome materna, por exemplo, em famílias que não têm o suficiente para se alimentar. Por outro lado, ainda persiste a falta de consciência em relação ao mundo estético; ou seja, ainda existem mães que não se alimentam para não saírem da estética pedida pela sociedade das aparências; isso traz sofrimento para o bebê que está na barriga desta mãe preocupada com o mundo estético. Lutemos, então, para que o baixo peso não se constitua, neste caso, em entrave para a vida sonhada. A convicção da Pastoral da Criança, organismo da Igreja Católica, é que, quanto mais solidariedade na partilha de conhecimentos (principalmente em hortas caseiras e alimentação saudável) e alimentos que possam ser solidarizados, mais teremos crianças nascendo com o peso ideal e, assim, afugentando o fantasma da desnutrição, bem como a obesidade que se dá pela reserva feita em forma de gordura. Lutemos, também, no sentido de que as Ações Básicas de Saúde, Educação e Nutrição sejam vistas como ações que devem chegar, em sua totalidade, aos mais necessitados para que, de fato, tenhamos um mundo de pessoas conhecedoras de sua própria condição e solidárias com o mundo exterior, vivendo a sua plenitude e repartindo seus dons.
Prof. Milton Dantas da Silva Psicopedagogo clínico e institucional Coordenador estadual da Pastoral da Criança
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“Quando se fala nesses cuidados, focamos causas de sofrimento desde a barriga da mãe“
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A ORDEM
VIDA PASTORAL
Paróquia de Brejinho ACOLHE MISSIONÁRIAS CLARETIANAS
Congregação surgiu em Londrina (PR), como resposta às necessidades de mais evangelizadores para a América Latina Fotos: Pascom Nova Cruz
A Arquidiocese de Natal é pioneira na experiência missionária de mulheres religiosas, como as irmãs vigárias, que atuaram fortemente no território arquidiocesano, na década de 60, assumindo a administração da Igreja, diante do pouco número de sacerdotes, na época. Desde o mês de fevereiro, a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, acolheu as irmãs claretianas, da Congregação das Filhas de Santo Antônio Maria Claret, para uma experiência missionária no território paroquial, que envolve as cidades de Brejinho e Passagem. A instalação da congregação na Paróquia aconteceu no dia 06 de fevereiro. Segundo o pároco, o padre Edvaldo Brito, a chegada das irmãs vai dar uma importante contribuição para a vida eclesial da Paróquia. “As irmãs vão colaborar com a missão paroquial, no acompanhamento das pastorais e grupos, na assessoria da formação missionária”, conta. De acordo com a irmã Ana Cintra, representante da congregação no estado de São Paulo, que esteve presente na instalação da 16 MARÇO DE 2021
casa religiosa, a fundação de uma nova comunidade é algo importante, porque expande a atuação da congregação para outras regiões do Brasil. “Nós somos uma congregação missionária e a implantação de uma nova comunidade fortalece a nossa identidade. É aquilo que nós somos. É a nossa identidade mais profunda”, frisa. A casa religiosa das Missionárias Claretianas é a primeira que está sendo instalada no território paroquial. Segundo Graça Araújo, agente de pastoral, isso é motivo de alegria e bênção para a comunidade. “A chegada das irmãs vai fortalecer o trabalho pastoral da nossa Paróquia. Pedimos a Deus que a presença delas aqui, desperte mais vocações para a vida religiosa”, reforça. A missão na Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Brejinho e Passagem, vai ser composta pelas irmãs Iracema Rosa (madre superiora), Luzinete Silva e Josielma Santos. A irmã Iracema destacou a acolhida que recebeu na Paróquia e o quanto essa atitude é importante para uma melhor atuação
VIDA PASTORAL A ORDEM
Missão na Paróquia de Nossa Senhora das Dores é composta pelas irmãs Iracema Rosa, Luzinete Silva e Josielma Santos
da congregação junto aos fiéis. “Para nós, claretianas, é uma alegria fundar mais uma comunidade aqui no Nordeste. Nós ainda não tínhamos comunidade no Rio Grande do Norte. Isso trouxe para nós muita esperança, principalmente pela acolhida que recebemos da comunidade. Quando a gente é bem acolhida, sabe que a comunidade também estará aberta para acolher aquilo que a gente tem para contribuir. Nós sabemos que na missão, a gente contribui e também recebe de volta da comunidade. A gente veio para contribuir com o nosso conhecimento, com a nossa prática e com tudo aquilo que a comunidade já traz na sua vivência”, destaca.
Missionárias claretianas As Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, também chamadas Missionárias Claretianas, é uma Congregação fundada em Londrina (PR), no dia 19 de março de 1958, por Dom Geraldo Fernandes Bijos, primeiro bispo e arcebispo de Londrina e madre Leônia Milito. A congregação surgiu como resposta às necessidades de mais evangelizadores para a América Latina e de pessoas dispostas a consagrar sua vida a Deus e aos irmãos, especialmente, os mais pobres.
Fundação da comunidade religiosa aconteceu no dia 06 de fevereiro MARÇO DE 2021 17
A ORDEM
REPORTAGEM
Fotos: José Bezerra
Barragem de Oiticica, em construção, no município de Jucurutu (RN)
A ÁGUA É UM BEM COMUM,
universal e vital
Faz-se necessária a difusão de ações que mostram como conviver com o Semiárido, captando e estocando água de chuva, usando tecnologias simples
Por Diác. José Bezerra O Dia Mundial da Água foi criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), através da resolução A/ RES/47/1993, de 21 de fevereiro de 1993. Determinou o 22 de março de cada ano como sendo o Dia Mundial da Água. A data, comemorada a partir de 22 de março de 1993, foi instituída em virtude da importância vital da água para as pessoas e demais organismos vivos. A composição do corpo humano, por exemplo, tem 70% de água. Cerca de 70% da superfície do Planeta Terra é coberta por água. A maior parte, cerca de 97%, é salgada. Apenas 3% é água doce dos rios e, em alguns casos, dos lençóis freáticos (subsolo). “A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. (...) A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante durante muito tempo, mas, agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo”(LS,28). Estas constatação e afirmações do Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si, soam fortemente, e, ao mesmo tempo, como advertência e denúncia quanto aos riscos que a humanidade corre se não cuidar das fontes naturais de recursos hídricos. O trecho da Carta em que o Papa fala sobre a água é uma constante denúncia. “Um problema particularmente sério é o da qualida18 MARÇO DE 2021
REPORTAGEM A ORDEM
de da água para os pobres. (...) São frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por microrganismos e substâncias químicas. A diarreia e a cólera, devidas a serviços de higiene e reservas de água inadequados, constituem um fator significativo de sofrimento e mortalidade infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição produzida por algumas atividades extrativistas, agrícolas e industriais...”, denuncia o Papa (LS,29).
Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para privatizar esse recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado
Privatização da Água Esta é outra denúncia que o Papa faz na mesma Laudato Si. “Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para privatizar esse recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na verdade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicada na sua dignidade universal” (LS,30). O Papa também denuncia o desperdício de água “não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento que possuem grandes reservas. Isso mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade desses comportamentos num contexto de grandes desigualdades” (LS,30). Ele prevê que “uma maior escassez de água provocará aumento do custo dos alimentos e de vá-
rios produtos que dependem do seu uso. Alguns estudiosos assinalaram o risco de sofrer uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas medidas urgentes” (LS 31).
Captar, estocar e reusar água Neste mês em que se celebra o Dia Mundial da Água faz-se necessária a difusão de ações que mostram como conviver com o Semiárido, captando e estocando água de chuva, usando tecnologias simples, acessíveis a qualquer família e de baixo custo, e também o reúso dessas águas. Algumas organizações do Terceiro Setor em atuação no Rio Grande do Norte têm atuado fortemente na prática de implementação dessas tecnologias sociais de captação e estocagem de água para consumo humano, produção de alimentos e dessedentação animal. Uma das organizações é o Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (Seapac). Esta, assim, como muitas outras, fazem parte da Rede Asa e captam recursos de editais de chamadas públicas para a execução de projetos que levam as tecnologias sociais, a custo zero para as famílias da zona rural dos municípios do semiárido potiguar. Essas tecnologias são cisternas, barreiros trincheira e barragens subterrâneas. A cisterna de captação e estocagem de água para consumo humano estoca até 16.000 litros de água. Ela capta a água das chuvas que escoa pelo telhado da residência de família. Cada família que conquista a cisterna participa de capacitação em que aprende a cuidar da cisterna e adotar medidas que evitam a contaminação e o desperdício da água. Certa vez, no município de Sítio Novo-
Cisterna de primeira água, construída pelo SEAPAC, em Jucurutu (RN) MARÇO DE 2021 19
A ORDEM REPORTAGEM
Açude Itans, em Caicó, na região do Seridó
-RN, uma senhora afirmou que, antes da cisterna, percorria grande distância para conseguir água para cozinhar os alimentos e matar a sede das crianças. “Hoje, eu tenho água de chuva no terreiro de minha casa, nesta cisterna”, afirmou a senhora, emocionada. Além das cisternas de captação e estocagem de água de chuva para consumo humano, há outras, tipos Cisterna Calçadão e de Enxurrada, que captam a água da chuva em terrenos no entorno da casa, e estocam até 62.000 litros de água. O objetivo é a dessedentação dos animais e a produção de alimentos, principalmente verduras e frutas. “Antes, eu gastava parte do meu pouco dinheiro pra comprar algumas verduras e frutas. E agora eu colho aqui, no meu quintal, e ainda economizo o dinheiro que antes eu gastava”, afirmou uma família da zona rural de Lajes Pintadas-RN. O barreiro trincheira é um buraco, escavado em um terreno em declive, que capta água das chuvas e estoca até 500.000 litros de água, usada na dessedentação animal e na produção de alimentos. O Seapac também desenvolveu e vem implementando sistemas de reúso de águas cinzas, oriundas de lavagem de roupa e utensílios, pias e banho. Essas águas são captadas por um sistema tubular, passam por um filtro, vão para um tanque hermeticamente fechado, onde ocorre o processo de tratamento anaeróbico e, em seguida, seguem para outro tanque. Deste último, é feita a irrigação de fruteiras e capim para os animais, por um sistema de gotejamento. Essa água também, serve para irrigar verduras, como pimentão, quiabo, tomate, beringela, entre outros, desde que os frutos não entrem em contato direto com a água. Na região do Alto Oeste do Rio Grande do Norte, o Seapac executa o projeto “Semeando Esperanças no Alto Oeste Potiguar”, em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O projeto desenvolve sistemas de reúso de águas cinzas para produzir ração para a bovinocultura. São implantadas Unidades Demonstrativas (UDs) de reúso e as famílias utilizam as águas cinzas para irrigar palma forrageira, consorciada com moringa e leucena. Os resultados são excelentes. O Rio Grande do Norte tem grandes reservatórios hídricos, construídos no leito de vários rios, garantindo o estaque de bilhões de metros cúbicos de água doce. O maior é a barragem Armando Ribeiro, município de Itajá, no vale do Piranhas-Açu, capaz de estocar 2,4 bilhões de metros cúbicos; o segundo é a barragem de Santa Cruz do Apodi, com capacidade de acumular 599.712.000m³; o terceiro será a Barragem de Oiticica, no município de Jucurutu, no leito do rio Piranhas-Açu, capaz de estocar 592.000.000m³. Outros reservatórios menores, mas de significativa importância hídrica, são: Açude Itans, em Caicó, capaz de estocar 81.000.000m³; Dourado, em Currais Novos; Gargalheiras, em Acari; Boqueirão, em Parelhas; Sabugi, em São João do Sabugi; Passagem das Traíras, entre Caicó, Jardim do Seridó e São José do Seridó; o 25 de março, em Pau dos Ferros; açude Santana, em Rafael Fernandes, entre outros. A água é fonte de vida. Sem água a vida perece. 20 MARÇO DE 2021
A ORDEM
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A ORDEM
EM AÇÃO
Fotos: João Gilberto
Pastoral do idoso SE ENGAJA
JUNTO À FRENTE PARLAMENTAR PARA INCENTIVAR VACINAÇÃO Campanha “Vacina é vida” foi lançada tem a proposta de mobilizar população idosa a tomar a imunização contra a COVID-19
No dia 25 de fevereiro, quando se completou um ano do registro do primeiro caso da Covid-19 no Brasil, a Frente Parlamentar em Defesa e Valorização dos Direitos da Pessoa Idosa da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, lançou a campanha “Vacina é vida”, com o objetivo de mobilizar digitalmente os potiguares para incentivar a imunização da população idosa, mais propensa ao desenvolvimento grave do coronavírus. “Essa Frente Parlamentar tem encaminhado ações importantes na defesa dos direitos da pessoa idosa. Desde o ano passado, com o surgimento da pandemia, focamos o trabalho na situação dos idosos e nas políticas públicas direcionadas para essa população. Agora, entramos na luta para que 100% dos idosos do RN possam ser vacinados e estejam imunes ao novo coronavírus”, disse o deputado Ubaldo Fernandes (PL), presidente da Frente Parlamentar. Presente ao evento, o presidente do Conselho Municipal dos Idosos, André Arruda, destacou a importância da informação correta 22 MARÇO DE 2021
EM AÇÃO A ORDEM
chegar aos idosos e aos familiares e repudiou as fake news divulgadas contra as vacinas. “A vacinação é uma estratégia eficiente contra doenças. A propagação de Fake news contra a vacina precisa ser combatida. A única forma de prevenção, hoje, é a vacinação e permitir que a população idosa tenha aces-
so a essa vacina é permitir que a vida seja continuada”, chamou a atenção. A coordenadora da Frente Nacional de Fortalecimento às instituições de longa permanência para idosos e vice-presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil, Carla Giacominni, ressaltou a importância da campanha para a população idosa do RN. “Essa é uma iniciativa que precisa ser copiada em todo o Brasil, que infelizmente vive um momento de negacionismo e isso representa perder vidas, principalmente da pessoa idosa. É preciso deixar muito claro que a vacina é a única solução para a continuidade da vida, principalmente da pessoa idosa”, destacou. Para a coordenadora estadual da Pastoral da pessoa idosa, Zeneide Fernandes, é preciso a adoção de políticas públicas voltadas aos idosos do Estado. “Um momento oportuno que vivemos para conversar sobre os direitos da pessoa idosa. A pandemia trouxe à tona a importância dessa população e a necessidade de políticas públicas que permitam o respeito aos direitos e valorização da pessoa idosa”, ressaltou.
Zeneide Fernandes, coordenadora estadual da Pastoral da pessoa idosa, participou do lançamento da campanha “Vacina é vida” MARÇO DE 2021 23
A ORDEM
24 MARÇO DE 2021
VIVER A ORDEM
O cacau
E OS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE Por Cione Cruz
Semente do fruto do cacaueiro e principal ingrediente do chocolate, o cacau traz muitos benefícios para a saúde das pessoas, com grande destaque por ser um dos melhores antioxidantes, combatendo os radicais livres, melhorando o humor e o fluxo sanguíneo, regulando o açúcar no sangue e controlando os níveis de colesterol e pressão arterial. Segundo a bióloga e nutricionista Patricia Pereira, o cacau contém uma substância chamada catequina, que estimula a produção de dopamina e da serotonina, hormônios relacionados à sensação de prazer e bem estar. “É vasodilatador, auxiliando as pessoas que tem asma e doenças cardiovasculares”, afirmou. Outros benefícios são enumerados pela nutricionista, que lembra que, por se tratar de um antioxidante, retarda o envelhecimento, e também melhora a circulação e estimula o sistema nervoso central. É, ainda, rico em magnésio, nutriente importante para combater a irritabilidade, a ansiedade, TPM (Tensão Pré-Menstrual), dor de cabeça e depressão. Para o consumo do chocolate, disse Patrícia Pereira, recomenda-se que o produto tenha, no mínimo, 70% de cacau, mesmo que, com este percentual, ainda contenha açúcar. “O ideal é que se consuma o chocolate com 100% de cacau”. Porém, ressaltou, essa quantidade depende muito de cada pessoa. É muito relativo. Segundo a nutricionista, é aconselhável o consumo de 30g de chocolate por dia. Relacionamos, a seguir, alguns benefícios do cacau, incluindo os já citados e outros: melhora o humor, previne a trombose, ajuda a regular o colesterol, previne a anemia, diminui os riscos de diabetes, previne a demência, regula o intestino, ajuda a diminuir a inflamação, ajuda no controle do peso, reduz a pressão arterial, melhora a imunidade (contém vitaminas E, C, Zinco e Magnésio) e aumenta a resistência da pele contra os raios solares, entre outros.
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A ORDEM
VIVER
26 MARÇO DE 2021