Revista A Ordem - edição de julho/2020

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Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 50 Natal/RN | R$ 7,00 Julho de 2020

Escola Diaconal

25 anos formando homens para servir à Igreja


A ORDEM

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A ORDEM

SUMÁRIO

EDITORIAL

UM QUARTO DE SÉCULO CAMINHANDO...

Fundação Paz na Terra Ano LXVIII - Nº 50 Natal/RN | R$ 7,00 Junlo de 2020

Escola Diaconal

25 anos formando homens para servir à Igreja

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CAPA

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ENTREVISTA - UNICEF desenvolve ações durante pandemia da COVID-19

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VIDA PASTORAL - A arte de administrar uma Paróquia

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REPORTAGEM - A esperança que vem da ciência

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VIVER - Orçamento familiar em tempos de COVID-19

EXPEDIENTE

Revista mensal da Fundação Paz na Terra Endereço: Rua Açu, 335 – Tirol CEP: 59.020-110 – Natal/RN Fone: 3201-1689

CONSELHO CURADOR: Pe. Antônio Nunes Vital Bezerra de Oliveira CONSELHO EDITORIAL: Pe. Rodrigo Paiva Luiza Gualberto Josineide Oliveira Jeferson Rocha Cione Cruz André Kinal Milton Dantas Vitória Élida

A história do Diaconato Permanente tem origem com os apóstolos de Jesus (At 6,1-7), por exigência da comunidade cristã. Os gregos se queixaram contra os hebreus, alegando que suas viúvas “estavam sendo negligenciadas na distribuição diária” (At 6,1). Na ocasião, como solução do problema, os apóstolos pediram que a comunidade escolhesse “7 homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6,3) para atender às viúvas, sobre os quais impuseram-lhes as mãos” (At 6,6). Depois de alguns séculos, esse ministério deixou de existir e só foi reintroduzido na Igreja Católica durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, como consta na Constituição Dogmática Lumen Gentium (n. 29). Quem introduziu o Diaconato Permanente Província Eclesiástica de Natal foi Dom Heitor de Araújo Sales, com a ordenação de José Bezerra de Araújo, na Diocese de Caicó, em 19 de março de 1987. Foi também Dom Heitor quem introduziu esse Ministério Ordenado na Arquidiocese de Natal, com a ordenação de Francisco Adilson da Silva e Francisco das Chagas Teixeira de Araújo, em 29 de novembro de 1997. Graças a Dom Heitor e seus sucessores (Dom Matias e Dom Jaime), neste ano, a Escola Diaconal Santo Estêvão completa uma caminhada de 25 anos e é tema da principal matéria desta edição. Será saboroso “degustar” um quarto de século desta caminhada. Então, boa leitura.

EDIÇÃO E REDAÇÃO: Luiza Gualberto (DRT-RN 1752) Cacilda Medeiros (DRT-RN 1248) REVISÃO: Milton Dantas (LP 3.501/RN) FOTO DA CAPA: Edvanilson Lima COLABORADORES: José Bezerra (DRT-RN 1210) Cione Cruz Rede de Comunicadores da Arquidiocese de Natal

DIAGRAMAÇÃO: Akathistos Comunicação (47) 9 9618-3464 COMERCIAL: (84) 3615-2800

ASSINATURAS: Com as coordenações paroquiais da Pastoral da Comunicação ou na redação da revista, no Centro Pastoral Pio X – Av. Floriano Peixoto, 674 – Tirol – Natal/RN (84) 3615-2800 assinante@arquidiocesedenatal.org.br www.arquidiocesedenatal.org.br

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A ORDEM PALAVRA DA IGREJA

NOVO DIRETÓRIO PARA A

Francisco Papa

São urgentes esforços e responsabilidades, necessários para encontrar novos instrumentos de linguagem para comunicar a fé”

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Catequese

Foi publicado, no Vaticano, no dia 25 de junho, o novo Diretório Geral para a Catequese, herdeiro do “Diretório Geral para a Catequese” de 1971 e do “Diretório Geral para a Catequese” de 1997. O novo documento, elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, foi aprovado pelo Papa Francisco. Em mais de 300 páginas, divididas em três partes e 12 capítulos, o texto recorda que “todo batizado é um discípulo missionário” e que “são urgentes esforços e responsabilidades, necessários para encontrar novos instrumentos de linguagem para comunicar a fé”. A primeira parte, dedicada à «Catequese na missão evangelizadora da Igreja», fala da formação dos catequistas; a segunda, intitulada “O processo da Catequese”, frisa a importância da família: parte integrante e ativa da evangelização; e a terceira, dedicada à “catequese nas Igrejas particulares”, ressalta o papel das paróquias, definido como “exemplo de apostolado comunitário”: catequese criativa e ensino da religião”. Outras partes especiais da Catequese, segundo o novo Diretório, são: “ecumenismo, diálogo inter-religioso com o Judaísmo e o Islamismo”. A catequese deve «despertar o desejo de unidade» entre os cristãos, se quiser ser «um instrumento crível de evangelização». Quanto ao Judaísmo, convida-se a manter um diálogo para combater o antissemitismo e promover a paz e a justiça. O novo Diretório Geral para a Catequese reflete ainda sobre a “cultura digital”, hoje “natural”, que mudou a linguagem e as hierarquias dos valores em escala global. Tal cultura é rica de aspectos positivos, apesar do seu “lado sombrio”, que pode causar solidão, manipulação, violência, cyber-bullying, preconceito, ódio. Aqui, os jovens devem ser acompanhados a buscar sua liberdade interior, para se diferenciar do “rebanho social”. Além da cultural digital, o Documento aborda também a ciência e a tecnologia, que devem ser orientadas para melhorar as condições de vida da família humana; trata ainda da bioética, partindo do pressuposto de que “nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível”, partindo do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana, em contraste com a cultura da morte; aconselha a discernir entre intervenções, manipulações terapêuticas e eugenia; sugere a tratar, numa perspectiva de fé, “a sexualidade, como resposta à chamada original de Deus”. Enfim, o novo Documento do Vaticano, faz referência a uma “profunda conversão ecológica”, promovida por uma catequese em defesa da Criação, do bem comum, dos direitos dos mais fracos. FONTE: Portal Vatican News


A VOZ DO PASTOR A ORDEM

Julho: MÊS EM

HOMENAGEM AOS AVÓS Prezados leitores/as Ao iniciar o mês de julho, primeiro mês do segundo semestre deste ano de 2020, um ano tão conturbado, cheio de preocupações e exigindo tantos cuidados com a saúde devido ao contágio do coronavírus, quero exortar a todos a não esquecer de homenagear os nossos idosos, verdadeiros sábios que nos interpelam sobre o sentido da vida, sobre a trajetória da existência e, sobretudo, sobre a necessidade de nunca esquecer: somente no amor é que conseguimos viver com propósitos, com sabedoria e com aquela força que podemos encontrar nos nossos avôs e avós. O nosso olhar contempla, na veneração religiosa e litúrgica, os pais de Nossa Senhora, Sant’Ana e São Joaquim. No dia 26 deste mês, a Igreja faz memória desses santos, tão especiais para Deus e seu plano de salvação, pois foi o casal escolhido por Ele para que concebessem aquela que devia ser escolhida para ser a Mãe do Senhor, Mãe do seu Filho eterno que, por causa do grande amor que nos tem (c. Ef 2,4), foi enviado ao mundo para nos presentear com a adoção filial e, consequentemente, a remissão dos pecados. Sant’Ana e São Joaquim, avós de Jesus, lembram a todos nós, que não podemos nos deixar levar pela ingratidão com aqueles que manifestam tanto amor: os avós. Eles dão para a família a graça da integração, da memória viva que encanta e deve ser agradecida e venerada, como afirma Papa Francisco: “Uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro” (FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia, n. 193). É ainda o Papa, a nos exortar sobre a necessidade de um bom trabalho pastoral junto e com os idosos: “Quando pensamos nos idosos e falamos deles, ainda mais na dimensão pastoral, devemos aprender a mudar um pouco os tempos verbais. Para os idosos não há apenas o passado, como se para eles houvesse apenas uma existência vivida e um arquivo bolorento. Não. O Senhor pode e quer escrever com eles também novas páginas, páginas de santidade, de serviço, de oração...[...] gostaria de vos dizer que os idosos são ainda o presente e o futuro da Igreja. Sim, eles são também o futuro de uma Igreja que, juntamente com os jovens, profetiza e sonha! Por isso é tão importante que os idosos e os jovens falem uns com os outros” (PAPA FRANCISCO. Discurso aos participantes no Congresso Internacional “A riqueza dos anos”. Vaticano, 31 de janeiro de 2020). Nestes tempos de pandemia, onde muitos idosos são atingidos pela Covid-19, ainda mais se faz urgente nosso sentimento de cuidado e atenção. Se os idosos são considerados de risco, principalmente a causa de comorbidades, devem eles receber nossa atenção. Uma atenção que nos leva à proximidade, à prática da escuta generosa e paciente. O nosso Deus nunca deixou de estar próximo dos homens e das mulheres. Jamais abandonou seus filhos na velhice. Pelo contrário, a Palavra de Deus nos ensina: “os netos são a coroa dos anciãos, como os pais são a glória dos filhos” (Pr 17,6). Que os nossos avôs e avós sejam abençoados, protegidos e, sobretudo, amados no reconhecimento e na gratidão. Sant’Ana e São Joaquim, rogai por eles. Amém!

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo Metropolitano de Natal

“Sant’Ana e São Joaquim, avós de Jesus, lembram a todos nós, que não podemos nos deixar levar pela ingratidão com aqueles que manifestam tanto amor: os avós.”

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A ORDEM

Durante este período da pandemia do novo coronavírus, diversos organismos da sociedade civil têm feito esforços para contribuir na minimização dos impactos da doença. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), órgão das Nações Unidas, tem sido uma dessas instituições. O UNICEF também tem tido forte atuação no semiárido do Brasil, neste sentido, promovendo algumas ações. Dennis Larsen, coordenador do UNICEF para o semiárido, no Brasil, esteve na China, no mês de fevereiro, para auxiliar no enfretamento ao novo coronavírus na região. De lá, ele trouxe experiência e uma bagagem para atuação no território brasileiro.

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ENTREVISTA A ORDEM

UNICEF DESENVOLVE AÇÕES DURANTE PANDEMIA DA COVID-19 POR LUIZA GUALBERTO

A Ordem: Como o UNICEF tem atuado frente à pandemia da COVID-19? Dennis: Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados diretamente pelo coronavírus, como em todas as emergências e crises humanitárias, são eles os que mais sofrem de maneira indireta. Os isolamentos sociais e o fechamento das escolas estão afetando a educação e saúde mental das crianças e o acesso a serviços básicos de saúde. Durante estes tempos excepcionais, os riscos de maus-tratos, violência doméstica ou sexual, abuso, exploração e exclusão social são maiores do que nunca para meninas e meninos. A pobreza pode aumentar, deixando-os ainda mais expostos. Diante deste contexto, o UNICEF ajustou seu Programa de País, ampliando suas iniciativas, com foco em reduzir o avanço do vírus e mitigar os impactos da epidemia na vida de crianças e adolescentes, em especial aqueles mais vulneráveis. A Ordem: Hoje, qual o público beneficiado por meio das iniciativas do UNICEF no contexto da pandemia? Dennis: A população em geral;​ Crianças e adolescentes brasileiros mais vulneráveis, incluindo meninas e meninos pobres, moradores de periferias e favelas das grandes capitais, moradores de municípios menores e mais pobres na Amazônia e no Semiárido, indígenas, quilombolas e crianças com deficiência; além

Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados diretamente pelo coronavírus, como em todas as emergências e crises humanitárias, são eles os que mais sofrem de maneira indireta”

de meninas e meninos migrantes venezuelanos, principalmente aqueles que vivem em abrigos oficiais e espontâneos em Roraima, no Amazonas e no Pará. A Ordem: Quais iniciativas o UNICEF tem desenvolvido tomando como base esse público? Dennis: A primeira delas foi informar a população em geral, e os grupos mais vulneráveis, sobre como proteger a si mesmos e suas famílias da Covid-19 e enfrentar as fake news. Isso inclui tanto o uso de redes sociais e diferentes comunicações online, quanto estratégias de comunicação comunitária, em especial o uso de rádio para levar informações a quem não tem fácil acesso à internet. Outra frente de trabalho é a mobilização de parceiros do setor privado para o fornecimento de suprimentos como itens de higiene e proteção para quem mais precisa. O UNICEF faz a ponte entre quem precisa de ajuda e quem quer ajudar. Há também um foco grande em políticas públicas. O UNICEF está trabalhando com governos nos níveis federal, estadual e municipal, empresas e sociedade civil para mitigar o impacto da crise e garantir a continuidade dos serviços – saúde, educação, assistência social e proteção contra a violência – adaptados à nova realidade. Além disso, o UNICEF investe em apoiar a saúde mental de adolescentes e engajá-los em ações e, também, em monitorar a situação e o impacto social para produzir evidências em apoio a políticas JULHO DE 2020

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A ORDEM ENTREVISTA

e ações. Por fim, uma frente fundamental é o plano de resposta emergencial ao coronavírus no contexto da crise migratória venezuelana. O UNICEF trabalha com a Operação Acolhida do Governo, outras agências das Nações Unidas e outros parceiros em medidas imediatas de prevenção, saúde, educação, com foco em crianças e adolescentes migrantes, em especial em Roraima, no Pará e no Amazonas. A Ordem: Sabemos que a região Nordeste tem suas particularidades. Como tem atuado o UNICEF, visando essa população? Dennis: No Nordeste, temos duas frentes de atuação, como a Plataforma de Centros Urbanos PCU), que é uma iniciativa do UNICEF, em cooperação com governos e parceiros, para promover os direitos das crianças e dos adolescentes mais afetados pelas desigualdades existentes dentro

FOTOS: ASSECOM UNICEF

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”O UNICEF faz a ponte entre quem precisa de ajuda e quem quer ajudar”

de cada cidade. Em sua terceira edição, a PCU está presente em dez capitais brasileiras, sendo no Nordeste: Fortaleza, Maceió, Recife, Salvador e São Luís, além de Belém, Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória. A cada uma delas, o UNICEF propõe uma atuação articulada com governos e diferentes parceiros em torno de quatro desafios cruciais e inter-relacionados para a vida das crianças e dos adolescentes mais vulneráveis e excluídos nos

centros urbanos. Também contamos com o Selo UNICEF, que é uma iniciativa para estimular e reconhecer avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes em municípios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira. No Nordeste, especificamente na região do Semiárido, cerca de 1.500 municípios estão inscritos nesta edição nos estados de AL, BA, CE, PB, PE, PI, RN e SE (incluindo ainda Minas Gerais). No Rio Grande do Norte, 156 municípios estão envolvidos no programa. Com a pandemia, o conteúdo de formação disponibilizado aos municípios foi adaptado ao cenário atual com a inserção de orientações de suporte aos municípios acerca da prevenção e resposta à pandemia com contribuições de especialistas do UNICEF nas áreas de participação de adolescentes, educação, proteção, políticas sociais e saúde.


ENTREVISTA A ORDEM

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A ORDEM

ARTIGO

Já ligou para uma pessoa idosa hoje?

O

envelhecimento no Brasil passa por períodos de grandes transformações, seja no campo social, econômico, político, como também no campo religioso. Dentre essas mudanças, estão as relacionadas às dificuldades de mobilidade, o aparecimento das doenças, o afastamento ou perda das pessoas queridas, a redução da independência e autonomia de modo geral e a aposentadoria. São situações que nem sempre estamos preparados para vivenciar e que geram, muitas vezes, sofrimento, isolamento e até mesmo depressão entre as pessoas idosas. Todas essas situações têm se intensificado mais ainda durante o período de pandemia que nos assola. Por fazer parte de um grupo com alto risco de contágio e agravamento dos sintomas da Covid-19, as pessoas idosas precisam ser observadas de perto nesse momento em que devem se manter afastadas ainda mais do convívio social. A solidão, que já era um problema para as pessoas idosas, se agrava ainda mais nesse contexto de pandemia. O confinamento tem desencadeado situações de estrese, desequilíbrio emocional e até mesmo de elevação dos casos de pressão. Para as outras faixas etárias esse isolamento tem sido um pouco mais fácil, tendo em vista o acesso e o uso das tecnologias e das redes sociais que promovem diversas formas de interação virtual. Para a Igreja, no entanto, especialmente para a Pastoral da Pessoa Idosa, o isolamento não precisa aumentar o sentimento de solidão e abandono para as pessoas idosas, pois, mesmo que elas permaneçam em seus lares ou em Instituição de Longa Permanência sem receberem visitas de amigos e familiares, não devem ser impedidas da interação social e sua relação com as pessoas queridas não precisa (e nem deve) acabar. Por isso, umas das formas de enfrentar os desafios impostos pelo Coronavírus, é ligar ou fazer chamada de vídeo por dia para uma pessoa idosa. Pode ser para seu avô, avó, mãe, pai, tio, tia, que nesta hora precisa da solidariedade e união. Mesmo longe, um simples telefonema ou uma chamada de vídeo pode acalmar a pessoa idosa, permitindo que ela sinta o seu carinho e afeto. Para quem convive com a pessoa idosa, podemos observar os cuidados de distanciamento e higienização, colaborar com as suas necessidades materiais, valorizar a memória e a importância de cada um deles, escutando-o com carinho. Não podemos esquecer de que as pessoas idosas são muito religiosas. Ajudá-los a assistir as transmissões das Celebrações Eucarísticas e orações diversas nas TVs e nas Redes Sociais são de extrema importância para mantê-los de bem com a vida. Nossas atitudes de vê-los sempre com um olhar bondoso e repleto de caridade como o que teve o bom samaritano. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34) deve ser constante.

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José Carlos Martins Coordenador estadual da Pastoral da Pessoa Idosa

Mesmo longe, um simples telefonema ou uma chamada de vídeo pode acalmar a pessoa idosa, permitindo que ela sinta o seu carinho e afeto”


GERAL A ORDEM

Padre João Maria

Anjo da Caridade Por José Rodrigues - historiador

A torre no Alto do Juruá Na década de 1950 foi erguido um importante templo de nossa cidade, que no coração do povo ficou conhecida como, “a igreja do padre João Maria”. Dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, a igreja construída no Alto do Juruá, bairro de Areia Preta, é uma homenagem ao padre João Maria, edificada no local da antiga casa onde, em 1905, faleceu o venerado sacerdote. O grande idealizador desse projeto foi monsenhor Eymard L’E Monteiro, de saudosa memória. O sacerdote utilizava seu programa no rádio e organizava eventos para arrecadar donativos dos devotos do “santo de Natal”. A construção seguia com a ajuda de pessoas humildes e com muita simplicidade. Na obra “Esboço biográfico do Pe. João Maria”, publicada em 1979, monsenhor Eymard lembrou o processo de construção da igreja. Em um texto dedicado à memória de edificação do templo, ele narrou a empreitada para erguer a torre de 43 metros de altura, que coincidiu com a da igreja de São Tomé. O sacerdote compara as duas obras, ressaltando o rigor técnico da obra em São Tomé que seguiu projeto do arquiteto Souza Lelis e o amadorismo da sua obra que, por falta de recursos, não possuiu nem sequer uma planta ou projeto de cálculo. Não obstante, segundo monsenhor Eymard, foi um fato notável que os responsáveis pela obra na cidade de São Tomé tenham lhe procurado solicitando detalhes do projeto da torre no Alto Juruá como referência estética e de solidez. A narrativa segue não como uma apologia ao amadorismo, mas como testemunho

de fé. Para monsenhor Eymard, tendo se passado vinte anos dos eventos narrados no livro, a solidez da obra construída sobre o terreno das dunas de Natal, nessas circunstâncias, era uma graça divina por intercessão do “Anjo da Caridade”. De fato, a torre construída de maneira intuitiva permanece ainda hoje sólida, como perpetuação desse testemunho. O texto termina em tom poético, como um relato afetuoso como o de tantos outros devotos e devotas do padre João Maria: De noite, quando o silêncio das trevas envolve de nostalgia o Alto do Juruá e o piscar das estrelas consola a terra sem luz, ouve-se perfeitamente o gemido dolente daquela torre calada, silenciosa e muda, constantemente açoitada pelo vento que vem do lado do mar, como um silvo de dor na noite escura, chorando a ausência de quem tanto amou os pobres. Impassível e segura, enfrenta a forte ventania dos fins de ano; ela é firme como a fé de quem outrora ali morreu, deixando plantado no coração do povo uma enorme saudade que não morre nunca! Às vezes, vou contemplá-la, sozinho, à noite, nas horas mortas de minha solidão, e vejo-a na majestade hirsuta de sua silhueta linda, recortada à luz da lua que se reflete no mar, recortando um passado que se foi. E gosto de ali me deixar ficar, só pensando... pensando.

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A ORDEM CAPA

Escola Diaconal : 2

Na Arquidiocese de Natal, experiência di

POR LUIZA

A Arquidiocese de Natal conta, hoje, com a atuação de 100 diáconos permanentes

A Escola Diaconal Santo Estevão, da Arquidiocese de Natal, completou 25 anos de história. A Escola atua na formação dos diáconos permanentes. Segundo o diretor geral, o diácono Edmar Araújo, uma primeira semente foi plantada ainda nos governos arquidiocesanos de Dom Nivaldo Monte e Dom Alair Vilar, em que um grupo de homens casados, inseridos em realidades paroquiais há muito tempo e ligados a diversos setores da Arquidiocese, sugeriu a

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implantação do diaconato permanente na Arquidiocese, mas foi só no governo do então arcebispo, Dom Heitor Sales, que o projeto se concretizou. “Vindo da Diocese de Caicó e com experiência de convívio com diáconos permanentes. Fazendo parte, à epoca, da Comissão de Ministérios Ordenados do Regional NE2 e sendo um homem de profunda abertura às mudanças ocorridas no Concílio Vaticano II, Dom Heitor chegou decidido a implantar o terceiro grau da ordem

no território arquidiocesano”, conta. Inauguração da Escola Diante desse desejo de Dom Heitor, a implantação do diaconato permanente começou a se tornar uma realidade na Arquidiocese. Dom Heitor apresentou aos padres da época a importância do diaconato e, embora alguns tenham sido resistentes por, em alguns casos, não compreender a função do diácono permanente, na Igreja, ele implantou no dia 07


CAPA A ORDEM CEDIDA

25 anos de caminhada

iaconal veio trazida da Diocese de Caicó

A GUALBERTO

de maio de 1995, a Escola Diaconal Santo Estevão. O primeiro diretor da escola foi o padre Francisco Lucas de Sousa Neto, com a proposta de incentivar os padres a enviar alguns candidatos que se enquadrassem nos critérios mínimos, citados na carta de São Paulo a Timóteo, capítulo 3, versículo 8 ao 13, além do documento pós-conciliar “Sacro Diaconatus Ordinem”, que traz os primeiros artigos e orientações para a restauração do diaconato permanente na Igreja

do ocidente. Com isto, forma-se a primeira turma de homens casados e alguns solteiros, indicados por alguns padres, para serem preparados para uma possível ordenação. No dia 29 de novembro de 1997, a Arquidiocese acolhia os seus primeiros diáconos permanentes: Francisco das Chagas Teixeiras, que vinha de Caicó e havia feito a formação diaconal lá e Francisco Adilson da Silva, que havia sido seminarista e feito sua formação no Seminário de São Pedro.

Neste início, a escola precisava de uma sistematização. Para a organização da estrutura, foram observadas experiências de outras escolas diaconais, pelo Brasil, como as da região sul do país. A partir daí, foi elaborado um primeiro currículo mínimo para a formação. “Na época, a equipe que organizou este piloto, foi formada pelos alunos Luiz Martins de Carvalho, hoje padre Martins, eu e o diácono Fabiano Ribeiro Dantas. Éramos formados na área de educa-

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A ORDEM CAPA

ção, o que ajudaria na organização curricular da escola”, explica o diácono Edmar Araújo. Segundo o diácono Edmar, o funcionamento da escola tomou como base os primeiros documentos da Igreja com orientações específicas para a formação dos diáconos permanentes, que foram o Doc. 25, da Sagrada Congregação para a Educação Católica e Sagrada Congregação para o Clero, intitulado “Normas fundamentais para a formação dos diáconos permanentes e diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes”, de fevereiro de 1998 e “Diretrizes para o diaconato permanente. Formação, vida e ministério do diácono permanente no Brasil”, documento 74 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de agosto de 2003, que foi atualizado em dezembro de 2011 com o documento 96. Formação da primeira turma A primeira turma foi formada e dos alunos, dez homens foram conduzidos à ordenação diaconal. Os primeiros formados exclusivamente pela escola, foram ordenados no dia 17 de dezembro de 1999. Na época, quem dirigia a escola era o padre Alfredo de Oliveira, pároco da Paróquia de Cristo Rei, em Pirangi, que trazia uma experiência de reitor do Seminário de São Pedro. Com a ordenação, a Arquidiocese passou a contar com 12 diáconos permanentes fazendo parte do clero arquidiocesano. “Não podemos deixar de evidenciar e destacar a importância de algumas pessoas que passaram pela Escola Diaconal e que fizeram sua parte no acompanhamento dos aspirantes, na condução do processo de formação e, principalmente, na indicação de nomes a serem ordenados para o diaconato permanente. Entre essas pessoas, Dom Heitor de Araújo Sales, arcebispo que implantou a escola. Em seguida, os diretores que passaram pela escola ao longo de sua história: o padre Francisco Lucas, primeiro diretor; padre Alfredo Costa, que dirigiu a escola em dois períodos; padre Paulo Henrique e o Monsenhor Lucas Batista, que foi o último sacerdote à frente da escola. 14 JULHO DE 2020

CACILDA MEDEIROS

“Nada é mais real e oportuno que a presença de homens ordenados”

(Diác. Edmar Araújo, diretor geral da Escola Diaconal Santo Estevão)

Nova caminhada Em 2015, já no governo arquidiocesano do arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, a escola diaconal passou por uma reformulação, com um novo projeto de atuação, se adequando aos novos tempos e diretrizes da Igreja. Uma das propostas apresentadas foi que a escola não poderia deixar de ter, na sua equipe de direção, diáconos permanentes. Neste período, foi escolhido para dirigir os trabalhos, o diácono Edmar Araújo, que permanece até hoje na função. Além disso, foi estabelecido um período de, no mínimo, seis meses, para que os candidatos, já formados pela escola, pudessem praticar e vivenciar uma realidade de vida ordenada em uma Paróquia. Além disso, ficou estabelecida a idade mínima para o ingresso na escola, de 30 anos, bem como, já ter o sacramento do matrimônio há, no mínimo, três anos e ter idade máxima de 60 anos. Na atual caminhada, a escola já ordenou 15 candidatos, que passaram a compor o clero arquidiocesano, que já conta com 100 diáconos permanentes. Composição atual “Atualmente, a Escola Diaconal Santo Estêvão está sob a minha direção e o Diácono Eduardo Bráulio

Wanderley Netto, na coordenação de formação. Temos uma turma com 15 alunos, integrando o 2º ano do vocacional; uma turma, com 23 alunos, na formação inicial (1º ano); uma turma com 10 alunos que estão na formação mais avançada (2º ano), e 05 acólitos que já fizeram os seus estágios e esperam o dia de sua ordenação”, diz o diácono Edmar. A Escola acolhe aspirantes, sejam eles do interior ou da capital, sempre nos meses de janeiro e fevereiro de cada ano. A formação acontece todos os sábados pela manhã, no Seminário de São Pedro, no período de fevereiro a dezembro de cada ano. O quadro de formadores é composto por padres, diáconos e leigos devidamente qualificados nas áreas específicas as quais são convidados a ministrar. A escola também tem o desejo de expandir a formação para aspirantes no interior, além da implantação da formação EaD. “O diaconato permanente é e sempre será importante para a evangelização e, de modo específico, para os novos tempos, marcados por desafios, de crescimento de mentalidade urbana, além do crescimento territorial e populacional, em que a presença da Igreja é de suma importância. Nada é mais real e oportuno que a presença de homens ordenados”, frisa o diácono Edmar.


ARTIGO A ORDEM

A pandemia é castigo de Deus?

O

fenômeno da pandemia parou o mundo, literalmente. Nunca havia acontecido isso na história da humanidade. Vamos já para o quarto mês dentro de casa, com medo do vírus da morte e contabilizando a cada dia o número dos mortos, no Brasil, nos Estados, nas cidades e nas famílias. Claro que todos nos perguntamos por quê? As respostas populares mais comuns são: “É sinal do fim do mundo”; “Tudo isso é por causa da maldade dos homens”; “São os castigos de Deus”; “Deus mandou isso para que a humanidade se corrija, a perdição está demais”. Você pode acrescentar tantas outras opiniões que também já escutou. De fato, podemos fazer diversas leituras, ou interpretar, de diversos ângulos. Farei aqui uma brevíssima abordagem dos testemunhos dos textos bíblicos diante das catástrofes enfrentadas pelo povo de Deus e as releituras feitas pelo próprio povo. No Pentateuco, prevalece a Lei de Moisés, que chama a atenção do povo para a obediência: a Iahweh. Todas as vezes que as pessoas desobedeciam, sofriam as consequências. Por exemplo: na desobediência de Adão e Eva (Gn 3,119), fizeram uso da liberdade, desobedeceram e sofreram as consequências. No caso do Dilúvio (Gn 6,5-7), “Iahweh viu que a maldade do homem era grande sobre a terra...”. Na torre de Babel (Gn 11,1-9). Quando Deus pune não é para condenar e sim para salvar, pois se trata do seu povo, da sua “vinha”. “Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Dt 6,7). Deus é sempre fiel e o povo sempre infiel. Mas Deus não desiste de seu povo. Na Literatura sapiencial, um destaque para o livro de Jó que questiona a lógica profética dizendo o seguinte: tudo bem que os culpados paguem por seus pecados, mas, o que justifica o sofrimento dos justos e dos inocentes? Introduz a temática da retribuição. Em Jesus Cristo, Deus se revela como misericórdia, como amor, como Pai. Na cruz, aconteceu a grande intervenção salvífica; e com a ressurreição, o início de um novo tempo, de uma nova maneira de ser. Temos a garantia da presença constante de Deus em nosso meio, não como castigador, mas como misericórdia, amor. Com certeza, o que estamos passando não é castigo de Deus. No entanto, tem servido para o homem buscar mais a Deus. E para os que continuam perguntando onde está Deus nesta Pandemia, abra sua mente e veja que ele está em cada vítima, em cada profissional da saúde, nos agentes sanitários, nos cientistas, nos voluntários; tem muita gente sendo amor no meio da pandemia. Para os que esperam a intervenção de Deus através de milagres, o milagre está em nossas mãos. Devemos voltar ao início, à OBEDIÊNCIA: fique em casa, reforce o isolamento social, lave as mãos, use álcool, use máscara e todas as outras orientações das autoridades da saúde. Tem muita gente pegando o vírus por causa da desobediência.

Pe. Robério Camilo da Silva Professor de Bíblia, no Seminário de São Pedro

Em Jesus Cristo, Deus se revela como misericórdia, como amor, como Pai”

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A ORDEM EM AÇÃO

Circunscrições eclesiásticas, títulos e funções Na Igreja Católica, há uma infinidade de termos que são desconhecidos por muitos católicos. Alguns nomes compõem as “circunscrições eclesiásticas” (paróquias, dioceses, prelazias...), outros são títulos e funções na Igreja. Nesta edição da revista A Ordem, Padre Júlio César, pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária, no bairro da Candelária, em Natal, e mestre em Direito Canônico, responde às curiosidades de alguns leitores sobre essas nomenclaturas.

Como é chamado um território eclesial, principalmente na vasta região da Amazônia? (César Leite – Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – Natal) O Concílio Vaticano II, no Decreto Christus Dominus, n. 11, definiu a Diocese como uma porção do povo de Deus, confiada a um Bispo para apascentar com a colaboração do presbitério. Esta definição, de caráter prevalentemente pessoal, é acrescida dos elementos que a compõem e que lhe dão caráter territorial: a união ao pastor na força do Espírito Santo pela Palavra e pelos Sacramentos, em comunhão com o seu presbitério. Às dioceses, o Código de Direito Canônico equipara, se não constar nada em contrário, a prelazia territorial, a abadia territorial, o vicariato apostólico, a prefeitura apostólica e a administração apostólica estavelmente erigida. As prelazias territoriais são, geralmente, constituídas em territórios que, por escassez do clero ou dificuldades econômicas, não conseguem reunir em si plenamente os elementos configurantes da Diocese. É o caso, por exemplo, das prelazias existentes na região pan-amazônica. À frente das prelazias territoriais está sempre um prelado (com caráter episcopal). Em alguns lugares, a prelazia é erigida por dificuldade política na relação Igreja-Estado que não permite a ereção da Diocese. As abadias territoriais são erigidas pela Suprema Autoridade da Igreja para os mosteiros que ficam assim subtraídos à jurisdição do Bispo local. Os abades não são ordenados Bispos. Os Vicariatos Apostólicos são territórios que, mesmo que estejam fora de Roma, são considerados território de missão da Diocese de Roma e seus prelados são chamados Vigários Apostólicos, ou seja, governam em nome do Papa e são bispos titulares. Quando tais territórios não têm estrutura para se tornarem Vicariatos são chamados Prefeituras Apostólicas e os prefeitos, não necessariamente, são bispos. Ambos (Vicariatos e Prefeituras) são submissos à Congregação De Propaganda Fide. A Administração Apostólica é erigida para resolver conflitos políticos entre nações adversárias em territórios disputados entre elas ou para resolver situações difíceis na Igreja em vista da unidade. É o caso da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, criada em 2002, em Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro, que tem como finalidade o uso e a divulgação da forma extraordinária do rito romano como rito próprio da Administração. As perguntas sobre assuntos diversos da Igreja podem ser enviadas para o e-mail pascom@arquidiocesedenatal. org.br ou para o whatsapp do Setor de Comunicação da Arquidiocese, no número (84) 99675-7772, informando sempre que é o “Aprendendo com a Igreja”, da revista A Ordem. 16 JULHO DE 2020


A ORDEM

O que é uma exarquia? Existem exarquias no Brasil? (Nalvacy Costa – Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Parque das Dunas – Natal) A Igreja Católica é uma grande comunhão de Igrejas autônomas sui iuris. Totalizando 24, apenas uma é ocidental, a de rito latino a que pertencemos, e 23 são orientais. Ambas têm fiéis espalhados pelo mundo inteiro. Em virtude do número de fiéis de ritos orientais residentes em países predominantemente de rito latino, em vista de favorecer-lhes o dom espiritual de modo mais frutuoso a Suprema Autoridade da Igreja, através da Congregação Pro Ecclesia Orientali, estabelece meios de cuidado e pastoreio de tais fiéis. O primeiro deles é o Ordinariado para os fiéis de Rito Oriental sem Ordinário próprio, criado no Brasil em 1951 e exercido atualmente por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte. É uma circunscrição de caráter pessoal e não territorial. No Brasil temos oficialmente ligados ao Ordinariado as seguintes Igrejas de ritos orientais: Igreja Greco-católica romena (Romênia), Igreja Greco-católica russa (Rússia), Igreja Católica copta (Egito), Igreja Católica etíope (Etiópia), Igreja Católica siríaca (Líbano). Em seguida, temos a Exarquia, comparável à Diocese no rito latino, porém dependente de uma Eparquia no seu território original. No Brasil temos o Exarcado Apostólico para os Fiéis de Rito Armênio residentes na América Latina e Caribe, com sede na cidade de São Paulo. A Eparquia é comparável à diocese, porém tem autonomia e o eparca é titular ordinário da mesma. No Brasil temos a Eparquia Nossa Senhora do Líbano em São Paulo dos Maronitas, a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso em São Paulo dos Greco-melquitas e a Arquieparquia (comparável a uma Arquidiocese) de São João Batista em Curitiba dos Ucranianos que tem como sufragânea Eparquia da Imaculada Conceição em Prudentópolis dos Ucranianos. O que é uma eparquia? (Cleane Oliveira – Paróquia de Santa Clara – Pitimbu – Natal) Respondido na pergunta anterior. O que é uma prelazia? (Assis Lima – Paróquia de Nossa Senhora da Piedade – Espírito Santo) Respondido na pergunta primeira. De onde vem a palavra “cônego” e a quem se aplica? (Djanildo Silva – radialista) A palavra cônego deriva do latim canonicus, que significa aquele que vive sob uma regra. O cônego pertence a um cabido de cônegos, instituição muito presente na vida da Igreja durante a idade média com funções litúrgicas na catedral e de conselho para a Administração Diocesana. No código vigente, estas funções administrativas foram destinadas ao Conselho Presbiteral e ao Colégio de Consultores, o que esvaziou significativamente a função do Cabido uma vez que praticamente não há mais este grupo estável para a recitação das horas canônicas nas Catedrais. Há diferença entre bispo e arcebispo? (Cione Cruz – Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório – Mirassol – Natal) O Bispo é, por instituição divina, o sucessor dos Apóstolos e pastoreia a porção do povo de Deus que lhe foi confiado como mestre da doutrina, sacerdote do culto sagrado e ministro do governo. Dividem-se em diocesanos (os que recebem o pastoreio de uma diocese) e titulares (todos os demais). O Arcebispo é o pastor de uma Igreja elevada a Sé Metropolitana pelo Romano Pontífice em virtude da sua influência e importância na região em que está situada. Não tem poder de governo sobre as dioceses sufragâneas, mas é chamado a vigiar para que a fé e a disciplina eclesiástica sejam atentamente conservadas. Quais são os critérios para criar uma paróquia? (Maria de Fátima Silva – Paróquia de Santa Maria Mãe – Conj. Santa Catarina – Natal) Sendo a Paróquia uma comunidade de fiéis cuja competência de ereção (criação) é exclusiva do Bispo diocesano, depois de ouvido o Conselho Presbiteral, os critérios para a sua criação podem variar de diocese para diocese e até mesmo em cada diocese a partir de cada Bispo que assume o seu pastoreio. Atualmente, na Arquidiocese de Natal, os critérios definidos pelo Conselho Presbiteral dizem respeito às condições pastorais e administrativas desenvolvidas pela região que deseja ser Paróquia. Caso estas condições não existam, recomenda-se a criação de uma Área Pastoral (Quase-Paróquia), dando-lhe um padre responsável para preparar a criação da futura Paróquia.

Fontes: Código de Direito Canônico, Documentos do Concílio Vaticano II: Lumen gentium, Dei Verbum, Christus Dominus JULHO DE 2020

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A ORDEM VIDA PASTORAL

A arte de administrar uma paróquia As competências do pároco e do administrador paroquial estão definidas no Código de Direito Canônico POR CACILDA MEDEIROS EDVANILSON LIMA

Posse coletiva dos membros dos conselhos administrativos e econômicos, em fevereiro de 2018 18 JULHO DE 2020


Para chegar a ser ordenado padre, o seminarista estuda vários anos, entre o propedêutico e os cursos de Filosofia e de Teologia e o estágio pastoral. No caso do Seminário de São Pedro, da Arquidiocese de Natal, são dez anos. Uma vez ordenado sacerdote e estando à frente de uma paróquia, ele precisa conciliar as atividades pastorais e as funções administrativas. Durante o curso de Teologia, os seminaristas de Natal estudam uma disciplina que trata da administração paroquial. “Costumo dizer que o futuro padre tem que ser um bom pastor e um bom administrador. Isso porque não há como separar as duas atividades, que, aliás, são interdependentes”, comenta o advogado Vital Bezerra, diretor administrativo da Arquidiocese e professor da disciplina Administração Paroquial, no Seminário de São Pedro. A disciplina é ministrada durante dois semestres, para dar ao futuro padre uma formação voltada especificamente para o aspecto administrativo da vida paroquial, na qual se inserem todos os aspectos que envolvem a atividade-meio, como, por exemplo, o financeiro, o patrimonial, o contábil, a parte de pessoal, além de outros, como noções básicas sobre a responsabilidade civil da paróquia. “Na disciplina sempre se orienta para que, quando os seminaristas forem para o estágio pastoral, procurem aliar, voluntariamente, tanto quanto possível o estágio administrativo, pelo menos observando, analisando e confrontando a realidade administrativa encontrada na paróquia com o referencial ofertado pela disciplina”, diz o professor. “Temos constatado que tem valido a pena o esforço empreendido ao mesmo tempo em que reconhecemos a necessidade de avançar para águas mais profundas”, atesta. Atribuições do pároco ou administrador paroquial As competências do pároco e do administrador paroquial estão definidas no Código de Direito Canô-

A paróquia que é bem administrada realiza melhor a sua missão pastoral e viceversa. As duas realidades caminham juntas e inseparáveis”

nico, documento que regula a organização da Igreja Católica. De acordo com o advogado Vital Bezerra, essas competências estão preconizadas no cânon 519. “De forma bonita e com eloquência, o Can. 519 pontifica que o pároco é o pastor próprio da paróquia a ele confiada; exerce o cuidado pastoral da comunidade que lhe foi entregue, sob a autoridade do bispo diocesano, em cujo ministério de Cristo é chamado a participar, a fim de exercer em favor dessa comunidade o múnus de ensinar, santificar e governar, com a cooperação também de outros presbíteros ou diáconos e com a colaboração dos fiéis leigos, de acordo com o direito”, explica. No campo administrativo, a Palavra da Igreja, contida no Cân. 1.284 § 1, do Código de Direito Canônico, orienta e determina que o pároco, assim como qualquer outro administrador, deve agir como um bom pai de família e por essa razão não há outro caminho senão o de vigiar pela conservação do patrimônio; tutelar a propriedade de modo civilmente válido, observar as normas do direito canônico; civil e do fundador ou da autoridade legítima; exigir as rendas, nos devidos tempos, e empregá-las de acordo com as legítimas normas; pagar pontualmente os juros, hipotecas, impostos; empregar o dinheiro que sobrar, de modo útil, de acordo com o fim da pessoa jurídica, com o consentimento do Bispo; manter em dia os livros de contabilidade;

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fazer a prestação de contas; guardar os documentos e instrumentos; fazer o orçamento para o ano seguinte; observar as leis civis no que diz respeito ao trabalho assalariado e à vida social, de acordo com a doutrina social da Igreja; pagar o justo salário aos empregados; não abandonar arbitrariamente o cargo. Na observação de Vital, a paróquia que é bem administrada realiza melhor a sua missão pastoral e vice-versa. As duas realidades caminham juntas e inseparáveis, são os dois braços da paróquia com os quais esta abraça a sua causa, a causa do Reino de Deus. Desafios da gestão eclesial Engana-se quem pensa que um padre é ordenado apenas para celebrar missas e ministrar sacramentos. Engana-se quem pergunta “para que a Igreja quer dinheiro, se Santo não come?”. Muitos fiéis não fazem ideia de que além das missas e dos sacramentos, por trás do trabalho pastoral existe um universo de questões operacionais que são fundamentais para o funcionamento de uma paróquia como, por exemplo, os cuidados com arquivos e documentos e em relação às responsabilidades fiscais e encargos sociais. Na opinião de Vital Bezerra, há alguns desafios consideráveis, porém o do justo e adequado equilíbrio entre a atividade-fim e a atividades meio é um constante desafio para o administrador paroquial. “É preciso ter claro que a gestão paroquial é eminentemente dinâmica, una e indivisível no tempo e tem por fim, fundamentalmente, a obtenção e a aplicação dos bens e recursos destinados a seus fins e missão. Não se deve esquecer de que pela própria natureza da paróquia, quanto à sua administração, há a prevalência dos fatores religiosos e sociais sobre os de natureza econômica”, destaca. Ele também lembra outro desafio que é abrir-se às tecnologias modernas que podem proporcionar grandes avanços na gestão JULHO DE 2020

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A ORDEM VIDA PASTORAL CACILDA MEDEIROS

paroquial, em todos os seus campos. “Isso exige, antes de tudo, uma mudança de mentalidade, que já é um grande desafio, investimento em equipamentos de qualidade, colaboradores competentes e o constante aperfeiçoamento”, reforça. O papel do Conselho Administrativo e Econômico Em âmbito paroquial, trata-se do único conselho obrigatório pelo Código de Direito Canônico. Todas as paróquias da Arquidiocese de Natal contam com este conselho. “É um órgão canônico auxiliar do pároco ou do administrador paroquial na gestão dos bens temporais da Igreja e tem competência para opinar e dar parecer relativos a todos os assuntos de natureza patrimonial, econômica, financeira e administrativa da comunidade paroquial, em algumas situações vinculantes’, conceitua o professor da disciplina Administração Paroquial. “Na paróquia, o Conselho Administrativo e Econômico tem por objetivo atuar na preservação, aumento e correta utilização do patrimônio e recursos econômicos para as finalidades pastorais, o suprimento das necessidades da paróquia, incluindo a manutenção do pároco e o crescimento e aprimoramento da comunidade paroquial”, acrescenta. A Arquidiocese de Natal também conta com um trabalho constante de formação e acompanhamento Vital Bezerra, professor da disciplina Administração Paroquial, no Semidos conselheiros, especialmente nário de São Pedro nos últimos anos. De acordo com o diretor administrativo da Arquidiocese, a vigência de todos os conselhos foi uniformizada; ocorreu a primeira posse coletiva dos conselheiros e foi posto em prática um programa de formação. “A formação teve como objetivo É preciso ter claro que a gestão formar os conselheiros no tocante paroquial é eminentemente ao seu papel e responsabilidade na administração paroquial, com dinâmica, una e indivisível fiéis leigos, legitimamente, nomeno tempo, e tem por fim, ados pelo Arcebispo para esse fundamentalmente, a obtenção fim, destacando-se os diferentes e a aplicação dos bens e campos de atuação do conselho, consoante as normas canônicas recursos destinados a seus fins e administrativas da Arquidiocese e missão” de Natal”, diz Vital Bezerra.

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PERSONALIDADE A ORDEM

A Dom Eugênio e a Campanha da Fraternidade

história da Campanha da Fraternidade teve origem alguns anos antes do início do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando um pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugenio Sales, reunia-se em Natal, cada mês, para rezar e refletir sobre a Igreja e a Pastoral. Daí surgiram várias iniciativas postas em prática, com sucesso. Uma dessas iniciativas foi a Campanha da Fraternidade. Naquela época, início da década de 60, a Arquidiocese de Natal havia recebido alguma ajuda, de modo particular da Igreja da Alemanha. Alguns dirigentes do Serviço de Assistência Rural (SAR) julgaram ser importante criar, entre católicos, uma mentalidade de cooperação local com as obras pastorais e sociais da Igreja, dando, assim, maior credibilidade aos pedidos feitos ao estrangeiro. Dom Heitor de Araújo Sales, então sacerdote potiguar, estudando na Europa e passando as férias na Alemanha, trouxe todo o material da estrutura da “Misereor” e a divulgação de suas campanhas. Na sede do Movimento de Natal, os subsídios vindos da Europa foram traduzidos e adaptados à realidade brasileira. Um grupo estudou o assunto, escolheu o nome que vigora até hoje - Campanha da Fraternidade -, organizou da melhor maneira a Campanha com essa dupla finalidade: evangelizadora e social. Foi no município de Nísia Floresta que surgiu o embrião da Campanha da Fraternidade. Caminhadas a pé, de casa em casa, de rua em rua, de povoado em povoado. Quase paralelamente às marchas, foram criadas as Semanas da Fraternidade. Eram doados ovos, galinhas, hortaliças, frutas e o resultado comercializado numa feira cuja renda tinha como finalidade a compra de colchões, redes, dentre outras coisas, para as famílias pobres espalhadas em treze comunidades ligadas ao município. A primeira Campanha da Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal, em 1962. A segunda, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 dioceses do Nordeste e, em 1964, foi assumida em nível nacional. Fonte: https://domeugeniosales.webnode.com.br

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A ORDEM EM AÇÃO ASSECOM CASA DURVAL PAIVA

A Casa oferece o acolhimento às crianças e seus familiares no momento de investigação e diagnóstico do câncer infantojuvenil

Casa Durval Paiva: 25 anos de luta em favor da vida

Programação vai contar com transmissões dos tradicionais novenários e atividades diversas POR CIONE CRUZ

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EM AÇÃO A ORDEM

A Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, sediada em Natal, completa 25 anos no dia 11 de julho próximo, celebrando a vida de mais de 1.600 crianças e adolescentes de 133 municípios do Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Sergipe e do Ceará que já passaram pela instituição. Dados de Março/2020 registram que 221 pacientes são acolhidos atualmente, juntamente com seus familiares. A história da Casa teve início no ano de 1994, quando os diretores Rilder Campos e Daniella Paiva descobriram que o seu filho de um ano tinha um Retinoblastoma – tumor ocular identificado por uma mancha na pupila do olho. Rilder fala um pouco mais sobre essa trajetória. “Nos Estados Unidos conhecemos uma Casa de Apoio mantida pela Rede McDonald, onde durante um ano recebemos todo o suporte para o tratamento. Fernando obteve a cura e nós, tivemos a ideia de montar um grande projeto: criar uma casa em Natal para apoiar crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer, vindas de todo o RN”, lembra. A primeira casa foi doada pelo avô materno Fernando Paiva e, com a ajuda de amigos, a família deu início a uma história de conquistas pela vida. Em 11 de julho de 1995 foi fundada a Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, uma homenagem ao bisavô de Fernando. A Casa tem a missão de acolher à criança e ao adolescente com câncer e doenças hematológicas crônicas e seus familiares, durante e após o tratamento. Tudo isso é feito em busca da cura e, com isso, tenta-se resgatar a cidadania, dignidade e a qualidade de vida do paciente e de sua família. Valores como transparência, resolutividade, ética, responsabilidade, respeito e compromisso permeiam o trabalho, trazendo resultados em nível nacional, tais como: em 2017, a Casa foi eleita “A melhor do Nordeste”, em 2018, “A melhor do Brasil” e em 2019, “Uma das Cem Melhores Ongs do Brasil”, premiações estas concedidas pelo Instituto Doar, a agência O Mundo que Queremos e a Rede Filantropia. Na Casa, são desenvolvidos projetos que visam o bem estar e a reinserção social dos pacientes e os seus familiares. O Projeto Vida é destinado a proporcionar melhores condições físico-sanitárias aos domicílios dos pacientes, por meio de construções e reformas. Em 22 anos de atuação, o projeto já realizou 7.103 visitas, com doação de 7.473 cestas básicas, 5.435 redes, 874 filtros, 1.133 colchões, 6.584 kits utensílios e 7.632 Kits de roupas. Até março 2020, o projeto contabilizava a reforma de 136 casas e a construção de 100 novas habitações. Outro projeto de impacto social diz respeito a Campanha do Diagnóstico Precoce que, mediante mobilizações, leva as informações sobre os principais sinais de alerta do câncer infanto juvenil, capacitando aos profissionais da área de saúde (E.S.F – Equipe de Saúde e Família) e distribuindo panfletos em escolas em todo o Estado. As classes domiciliar/hospitalar realizam intervenções pedagógicas no sentido de minimizar as perdas educacionais, ocasionadas pelo afastamento da escola em

Rilder Campos, presidente da Casa Durval Paiva virtude do tratamento. Além disso existe a Casa dos Ofícios, um espaço de qualificação profissional e geração de renda para os acompanhantes. Além dos projetos, a Casa oferece o acolhimento às crianças e seus familiares no momento de investigação e diagnóstico da doença, como explica Rilder. “Oferecemos hospedagem e alimentação para os pacientes que vem de todo o Rio Grande do Norte, juntamente com seus acompanhantes. Fazemos ainda, a mediação do tratamento médico hospitalar, encaminhamentos e transportes para exames e consultas. Arcamos com a compra dos medicamentos adjuvantes, além da promoção do bem estar, numa perspectiva de saúde integral, com o apoio multiprofissional (psicológico, social, nutricional, fisioterápico, odontológico, farmacêutico, pedagógico e terapêutico ocupacional)”, ressalta. A Casa Durval Paiva é uma entidade sem fins lucrativos, sendo mantida por doações e gestos de solidariedade da comunidade. Este ano, a Casa lança em parceria com a MAPFRE o título de capitalização DOACAP, sendo esta mais uma forma de captar recursos em prol da causa. Mais informações, acesse: http://doacap.mapfre.com. br/casadurvalpaiva/

CASA DURVAL PAIVA Rua Prof. Clementino Câmara, 234 Barro Vermelho https://www.casadurvalpaiva.org.br Telefone (084) 4006-1600 Contas para doação: Banco do Brasil Ag.: 2870-3 Conta: 5918-8 Caixa Econômica: Ag.: 4883 Conta: 10-5 Operação: 003 JULHO DE 2020

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A ORDEM

24 JULHO DE 2020


A ORDEM

A ESPERANÇA

QUE VEM DA CIÊNCIA O desafio da produção de vacina em meio à pandemia POR VITÓRIA ÉLIDA

Ao longo dos últimos meses, o mundo tem enfrentado uma luta contra um inimigo que vem desafiando a Ciência. O novo coronavírus, causador da Covid-19, até então desconhecido, hoje, é motivo de atenção e corrida contra o tempo nos principais laboratórios farmacêuticos espalhados pelo mundo. De acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 123 iniciativas para se formular uma substância eficaz na imunização contra o vírus. Deste número, apenas dez estão em testes clínicos, ou seja, estão sendo administrados em humanos. A vacina, principal esperança contra a Covid-19, é um produto biológico que protege as pessoas de determinados patógenos. Ela é produzida a partir de agentes causadores de doenças, como os vírus e as bactérias, que passaram por processo de atenuação de suas ações infecciosas. Dessa forma, ao ser introduzida no indivíduo, a vacina tem como função estimular uma resposta imunológica do organismo, que passará assim, a produzir anticorpos sem que o indivíduo tenha contraído a doença. As vacinas atuam possibilitando o desenvolvimento da chamada “memória imunológi-

ca”, que consiste na produção de forma antecipada de anticorpos específicos que reconhecerão o agente patológico, caso a pessoa entre em contato com ele. Dessa forma, quando um indivíduo previamente vacinado, por exemplo, contra a gripe do tipo H1N1, entra em contato com o vírus causador da doença, o seu organismo já terá anticorpos para combater de forma eficiente o patógeno. Portanto, é por causa dessa atuação, que as vacinas estão sendo encaradas como a única e eficaz solução de combate à Covid-19. Porém, o processo de produção dessas substâncias requer tempo, devido às diversas fases de testes, para que se comprove a eficiência do fármaco no combate de doenças em humanos. Com relação ao novo coronavírus, a corrida para a produção de uma vacina eficaz teve início ainda nos primeiros meses do ano. Contudo, acredita-se que o processo inteiro para que a vacina fique pronta, leve de 12 a 18 meses. Porém, as diversas indústrias farmacêuticas, que estão envolvidas com as pesquisas, falam em uma estimativa de produção de doses da vacina contra a Covid-19 ainda este ano. Mas a produção em larga escala, ou seja, a que chegará à população, dar-se-á apenas em 2021.

Nunca se ouviu falar em uma pesquisa para produção de vacina eficaz em um período de tempo tão curto. A vacina do sarampo, considerada uma das mais rápidas da história, demorou cerca de 10 anos até sua aprovação. Descobrir o vírus e criar uma vacina em menos de dois anos, como pode acontecer com o coronavírus, vai além de tudo o que a ciência já viu. Mas diante do atual cenário mundial, em que o número de infectados e mortos só aumenta a cada dia, os pesquisadores têm empenhado grandes esforços na tentativa de conclusão das pesquisas em um tempo recorde, visto que a vacina é o método preferencial das autoridades de saúde para o controle eficaz da pandemia. Apesar do avanço nas pesquisas, as empresas precisam passar pela fase 3, onde milhares de indivíduos recebem a dose da vacina que está sendo produzida, e são comparados com os candidatos que apenas receberam um placebo ou uma outra vacina, testando assim, a eficácia e segurança do material produzido. A epidemiologista Cristina Toscano, da Universidade Federal de Goiás, e única representante brasileira no grupo da OMS a acompanhar os estudos sobre o tema, afirma que “Algumas vacinas testadas em humanos estão chegando à fase 3, o JULHO DE 2020

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A ORDEM

REPORTAGEM

que nos deixa otimistas”. No início do mês de junho o governador do Estado de São Paulo, João Dória, anunciou que São Paulo, através do Instituto Butantan, irá produzir em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech, uma vacina contra o novo coronavírus. Parte dessa parceria se deve também a procura pelo país como um dos grandes focos mundiais da doença, se tornando assim, um melhor local para testagens a fim de comprovação da funcionalidade da vacina. Além disso, o nosso país possui um histórico de produção de vacinas, e de pesquisadores renomados na área. A principal pergunta neste momento é: Quando ficará pronta de verdade a vacina contra o coronavírus causador da Covid-19 (Sars-CoV-2 )? Segundo os pesquisadores, a dúvida anterior era se haveria alguma vacina para a doença. Hoje, a principal questão é qual a mais eficiente, entre as que estão em pesquisas. Quanto aos prazos, se fala entre os meses de outubro e novembro para que os primeiros resultados da fase 3 sejam apresentados. Caso eles sejam positivos, será necessário avaliar os dados em detalhes e buscar aprovações e produção em larga escala, o que levaria mais alguns meses. “Se tudo der certo, podemos ter alguma vacina pronta já no primeiro semestre de 2021”, estima a epidemiologista Cristiana Toscano. A falta de conhecimento acerca desse vírus, traz ainda muitas dúvidas às pesquisas, como a resposta imune ao Sars-CoV-2 (vírus), já que algumas pessoas se curam mesmo sem produzir anticorpos eficazes contra o patógeno. Contudo, é importante frisar que não se pode entrar na euforia do desejo da vacina a todo custo, já que vidas também continuarão em risco diante dessa postura. 26 JULHO DE 2020

Por que algumas pessoas estão se vacinando menos? Nos últimos anos vem crescendo o número de pessoas que não estão fazendo uso da imunização. Isso se deve a diversos fatores, entre eles: a falta de confiança nas vacinas, o horário de atendimento dos postos, a preocupação com as reações que podem surgir após a aplicação, ou até mesmo a descrença quanto à eficácia do imunizante. Essa atitude, porém, é um problema também de ordem social, visto que as pessoas que se imunizam protegem também aquelas que ainda não tiveram acesso à vacina. Além disso, doenças até então com o número de casos estacionados podem retornar, como aconteceu com o sarampo no ano de 2019, que teve alguns casos espalhados pelo país, e já era considerada uma doença erradicada no Brasil. No mundo, essa onda contra vacina também é muito forte, países como França, Itália e EUA espalham por outros países crenças de que o uso de vacinas não é eficaz. Inclusive através de fake News. Por isso, é recomendado que as organizações de saúde dialoguem ainda mais com a população, em uma linguagem mais simples, sobre a efetividade das vacinas na vida das crianças, e reforços das doses nos adultos. Diante desse cenário é importante que fique claro que infecções como sarampo, poliomielite, gripe, HPV, meningite e pneumonia bacteriana, podem voltar diante das baixas taxas de vacinação. Parte inferior do formulário O momento agora é de cuidado consigo e com o próximo, não podemos ceder aos achismos. A Ciência tem trabalhado forte e incansavelmente. É preciso que façamos também a nossa parte.


SAÚDE A ORDEM

Síndrome do Coração Partido

O

que poderá “partir” o nosso coração? Aquilo que nos faz ficarmos insensíveis ao amor de Deus? “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?” (Rm 8,35) A Síndrome do coração partido é uma patologia destes “últimos tempos”! Acomete muitas pessoas em condições extremas de estresse, decepcionadas, desprezadas, deprimidas, como estivessem se “perdido ao Amor de Deus”. Este período de isolamento social causado pela Pandemia do COVID-19 é um gatilho para muitas destas realidades. É como se esta situação fosse antecipadora e turbinadora de crises emocionais! O quadro clínico da Síndrome do coração partido é bem semelhante ao do infarto agudo do miocárdio, cujos sintomas mais comuns são caracterizados por dor súbita no peito e falta de ar, mas outros sinais também podem ocorrer, como tonturas e vômitos, perda de apetite e dor no estômago, raiva, tristeza profunda ou depressão, dificuldade para dormir, cansaço excessivo, perda de autoestima e sentimentos negativos. As taxas elevadas de mortalidade por Covid-19, a morte de pessoas queridas, separação conjugal, distanciamento entre familiares, mudanças de residência de forma inesperada, dificuldades financeiras e o crescimento e desemprego... Verdadeiramente nos parte o coração! Cada vez menos rara, esta síndrome ocorre com muito mais frequência em mulheres acima dos 40 anos, mas pode surgir em qualquer idade, afetando também homens e pessoas idosas. A causa exata da doença ainda não está bem definida pela medicina; acredita-se que o excesso de adrenalina provocado por uma emoção forte, a provoque. A prevenção é a melhor forma de combate ao problema, sendo a realização de exercícios físicos, o uso das redes sociais, (internet, Instagram, WhatsApp e outros), quando usados de uma forma positiva para reavivar relacionamentos, aproximar e unir pessoas, nos facilitará a vivência de uma vida de maior espiritualidade. Clamemos a Nossa Senhora, a Virgem da Apresentação, para que não permita que o nosso “Coração se parta”, ou que junte os pedaços dos nossos ao d’Ela. Pois, por fim, o Imaculado Coração da Virgem Maria triunfará!

Por Dr. César Carvalho CRM 2871 Cardiocentro, Natal/RN

Cada vez menos rara, esta síndrome ocorre com muito mais frequência em mulheres acima dos 40 anos, mas pode surgir em qualquer idade, afetando também homens e pessoas idosas

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A ORDEM VIVER

ORÇAMENTO FAMILIAR

EM TEMPOS DE COVID-19 ANDRÉ LUIZ SENA DA ROCHA, PROF. DO CURSO DE ENG. DE PRODUÇÃO – UFERSA, CAMPUS ANGICOS (RN)

28 JULHO DE 2020


VIVER A ORDEM LUIZA GUALBERTO

A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) ocasionou uma série de mudanças nas atitudes de todos nós, tanto em relação aos cuidados para com o isolamento social e higiene, quanto para o controle nos gastos familiares. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma pesquisa no último dia 15 de maio, mostrando que o índice de desemprego aumentou em todas as regiões

do Brasil durante o primeiro trimestre de 2020. Inclusive, a alta na taxa dos desempregados foi maior no Nordeste, indo de 13,6% no último trimestre de 2019 para 15,6% nos três primeiros trimestres de 2020. Esse cenário apresentado pelo IGBE reflete uma diminuição do orçamento do brasileiro em virtude desse período tão delicado que todos estamos passando. Para a elaboração de um orçamento familiar, diante deste contexto, é essencial listar, inicialmente, os ganhos de todos que têm renda em casa. Posteriormente, deve listar todos os gastos. Procure reunir comprovantes de pagamento, extratos bancários e Prof. André Rocha de cartão de crédito, contas de água e luz, internet, TV a cabo, boletos, Fazendo isso, evitará “surpresas” no carnês, prestação da casa ou aluguel, final do mês, como por exemplo, mensalidade da escola, academia, quando a fatura do cartão de crédito empréstimos, cheque especial, pres- chega e o valor é acima do que se estação do carro/moto etc. Com todos perava. os documentos reunidos, escreva em Além do corte de gastos, você deve um papel, celular ou planilha do com- procurar negociar as dívidas mais urputador, duas colunas. Somando os gentes (aquelas que vão desestabilivalores de cada coluna, saberemos zar a vida da família). Se o aluguel ou todo o dinheiro que entra na casa (1º financiamento da casa está atrasado, coluna), e todo o dinheiro que sai (2º procure a imobiliária ou o banco para coluna). mostrar seu empenho em resolver. Se Esse é o primeiro passo para or- tem conta de água, luz ou gás atrasaganizar sua vida financeira, visto das, entre em contato com as empreque nesse momento você saberá se sas e negocie um parcelamento para o saldo é positivo (está sobrando di- evitar cortes. Se possível, ofereça nheiro ao final do mês), ou se o saldo para pagar a primeira parcela de imeé negativo (faltando dinheiro). Quan- diato. Faça o mesmo com a mensalido o saldo é positivo, é uma situação dade da escola/faculdade dos filhos. mais confortável, em que você deve Já com os bancos, cheque espeapenas procurar reduzir os gastos cial, rotativo do cartão de crédito e que permitem ser reduzidos. No en- empréstimos, considere trocar esse tanto, quando está faltando dinheiro, tipo de dívida por opções com juros a situação é mais crítica. É sinal que mais baixos, como crédito pessoal ou parte dessas dívidas não estão sendo empréstimo consignado. Além disso, honradas, como por exemplo, o total se você já tem um empréstimo conda fatura do cartão de crédito, uso do signado, se informe sobre a portabilicheque especial, contas de telefone, dade de empréstimo. Para isso, leve água e luz em atraso etc. as informações da sua dívida para ouUma solução para quem se encon- tros bancos, em que irão lhe dar uma tra nessa situação de orçamento fami- proposta de “compra” de empréstiliar mais crítica é, inicialmente, cortar mo a juros menores. Com isso, você gastos não essenciais. Controlar os conseguirá reduzir o valor da parcela gastos e a impulsividade é primor- mensal. dial para obter uma saúde financeira Estamos em um momento bastando seu orçamento. Isso não significa te delicado, mas, essa pandemia vai deixar de fazer coisas que você gos- passar. Com organização, planejata, mas sim, encaixar os programas mento e foco na saúde financeira da no seu orçamento e procurar fazer sua família, é possível começar a plaatividades menos onerosas, mas que nejar um futuro com mais segurança e também sejam prazerosas. Ou seja, conforto. Nunca é tarde, basta tomar a só fazer o que seus ganhos permitem. iniciativa! JULHO DE 2020

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