vitória
Ano VIII
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Nº 07
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Julho de 2013
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
O barato sai caro Financiamento de campanhas políticas.
Diálogos
especial
Ideias e sugestões
Opção preferencial pela paz
Dízimo: a fé me faz compartilhar
A liturgia da vida
Ano VIII – Edição 07 – Julho/2013 Publicação da Arquidiocese de Vitória Editora Maria da Luz Fernandes / 3098-ES Repórter Letícia Bazet / 3032-ES Colaboradores Alessandro Gomes Dauri Batisti Gilliard Zuque Giovanna Valfré Edebrande Cavalieri Revisão de texto Yolanda Therezinha Bruzamolin Publicidade e Propaganda comercial@redeamericaes.com.br Telefone: (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br Projeto Gráfico e Editoração Comunicação Impressa (27) 3319-9062 Ilustradores
¶ Kiko, · Gabriel
Designer Albino Portella Jane Maria Gorza Impressão Gráfica 4 Irmãos (27) 3326-1555
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vitória
diálogos
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PENSAR
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Opção pela paz, oração e juventude
facebook.com/arquivix
Bispos Auxiliares Dom Rubens Sevilha Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
w w w. a v e s . o r g . b r
Arcebispo Metropolitano Dom Luiz Mancilha Vilela
Respeito pelo outro
paróquia
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Reportagem
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Santuário de Santo Antônio em Vitória
As relações avós, pais e filhos
ARQUIVO E MEMÓRIA 21 CEB’s: inspiração e mística
IDEIAS E SUGESTÕES
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saúde
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acontece
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A liturgia da vida
Depressão: o que fazer?
Semana missionária e áreas pastorais
sumário
editorial
micronotícias Turismo no Centro de Vitória
Atualidade
Financiamento de campanha política
A vida do palhaço
oficial
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Projeto
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Caoca, a união que sustenta
O grito é um só
O
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A posição da igreja perante os protestos
ENTREVISTA
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Brasil vive um momento especial de manifestações populares espontâneas e livres. Para alguns falta de foco, para outros liberdade e autonomia. A Revista Vitória, por ser mensal, não se pautou para abordar esta situação, mas não pode deixar de mencionar os fatos neste espaço que abre a edição. Sim, o grito que explode dos corações é unânime. É dito com palavras, gestos e expressões diferentes, mas a essência é a mesma: maior comprometimento e empenho dos governantes administração dos serviços públicos, mais seriedade no trato com o dinheiro público e, principalmente, educação de melhor qualidade. A sociedade quer infraestrutura para a saúde e educação “padrão fifa”, qualidade no serviço público “padrão fifa”. Quer dizer, se foi possível qualidade para a copa porque não para outros serviços? Será que o grito precisa ser igual para ser entendido? Maria da Luz Fernandes Editora
diálogos
ORA QUE MELHORA! “O fiel está mais preocupado em conseguir arrancar de Deus as coisas que necessita, do que “estar” gratuitamente com o Amado da sua alma.
Ambos os vocábulos: orar e rezar, refe-
da presença do Altíssimo não existe oração
rem-se ao ato de falar. Orar deriva da palavra
verdadeira e, sim, monólogos espirituais ou
latina boca (os, oris). Rezar deriva da palavra
falatórios piedosos em comum. Ou seja, o fiel
recitar. Portanto, a boca profere orações tanto
reza falando consigo mesmo e mais interessa-
escritas (salmos) como orações espontâneas.
do em si mesmo do que em Deus. Aqui, o fiel
O que é oração? Não é somente falar com
está mais preocupado em conseguir arrancar
Deus, mas, sobretudo, orar é estar com Deus.
de Deus as coisas que necessita, do que “estar”
Saber-se envolvido pela misteriosa, amorosa e
gratuitamente com o Amado da sua alma. O
real presença de Deus é a essência da oração.
verdadeiro orante quer estar muitas vezes e
As expressões concretas dessa presença são
a sós (e também em grupo na comunidade)
as inúmeras formas de oração: espontâneas,
com o Pai que o ama e que pede o nosso
textos escritos, em grupo na liturgia, sozinhos
amor. Amor com amor se paga!
no silêncio, etc.
Sem a percepção interior da tremen-
Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
CRISTO É A RESPOSTA DE DEUS AOS JOVENS
A juventude é de fundamental importância
voltada para os seus problemas pessoais, e
para o país e, principalmente, para a Igreja.
quando não gostam de uma situação, silen-
Não que ela tenha grandes experiências, mas
ciam. Embora os últimos protestos apontem
a juventude é um grupo que renova, que ques-
uma reação. Ao mesmo tempo, a juventude
tiona, e capta as mudanças com mais facilidade.
tem uma característica muito peculiar que a
E, como destaca o documento de Aparecida,
diferencia dos adultos: quando motivada, ela
estas mudanças estão acontecendo na cultura
responde e assume os valores fraternos que
e, fortemente, em toda sociedade.
estão dentro do coração de todo jovem.
Se olharmos para os anos 60 vamos nos
E como vamos despertá-los?
recordar de uma juventude revolucionária,
Apresentando uma pessoa: Jesus, muitas
querendo mudar tudo, lutando por justiça,
vezes esquecido ou trocado nos últimos tempos,
pelos pobres e oprimidos. Nos anos 80 o pro-
devolvendo o espírito comunitário e o ideal
cesso continuou, com uma juventude formada
cristão aos jovens.
por uma consciência social, pedindo o fim das
exclusões.
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Hoje em dia temos uma juventude mais
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Com Jesus, nunca caminhamos sozinhos. Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
“A juventude tem uma característica muito peculiar que a diferencia dos adultos: quando motivada, ela responde e assume os valores fraternos que estão dentro do coração de todo jovem.
Opção preferencial pela Paz
A
sociedade capixaba tem vivido momentos de aguda violência. Ora são adultos as vítimas, ora os jovens, ora os menores. O medo e a preocupação aumentam quando constatamos que os menores, desde os mais tenros anos de idade, aprendem e praticam a violência de maneira assustadora. A sociedade está revoltada e preocupada, com medo. Não podemos conviver com esta cultura, que deixa os corações feridos e provoca nas vítimas e em pessoas solidárias o desejo de agir da mesma forma. Sabemos que violência gera violência. O Estado parece-nos preocupado, mas passa-nos a imagem de impotência ou ausência diante da realidade. Esta situação, em tempo eleitoral, torna-se uma oportunidade para políticos espertos ex-
plorarem o sentimento de dor e revolta das vítimas e angariar votos. Propostas violentas, com máscara de solução, formam opinião de que a solução da violência dos menores é tratá-los como adultos que praticam crimes. Para isso querem modificação no estatuto da criança e redução da maioridade penal. Uma solução fácil, porém, que maquia a realidade violenta e, provavelmente escreverá o prefácio ou um novo capítulo no livro da violência. Os menores criminosos entrarão na faculdade do crime nos presídios existentes, que não recuperam os adultos condenados, e voltarão para a sociedade, diplomados em criminalidade, sem chances de uma vida digna. Terão mais oportunidades se receberem formação sócioeducativa, ministrada por pessoas competentes, professores-educadores, especialistas em humanidade devidamente remuneradas pelo Estado. Não se trata de conformar-se com a criminalidade, seja de adultos seja de menores. Ambos precisam
ser retirados do convívio social e encaminhados para a escola de reeducação para a vida! O criminoso, menor ou adulto, precisa aprender a ser, antes de tudo, gente, Humano! Porém, a responsabilidade não é só do Estado. A sociedade precisa buscar outro caminho que não gere violência. A violência é resultado de uma política que não coloca o ser humano como centro do universo, mas como meio para atingir fins egoístas, provocando todo tipo de lutas, de ideias e de interesses. Nesta luta perdem os mais fracos, os idosos, os menores. Ganham os mais fortes e mais poderosos, ou mais espertos. Qual seria, então, o caminho para uma sociedade diferente desta que experimentamos? Eu sugiro este caminho: opção preferencial pela paz! Cada ser humano precisa optar pela paz desde o seu coração. Cada família deve fazer sua opção preferencial pela paz, educar para a paz. As escolas públicas, particulares e confessionais devem optar pela paz e educar
para a paz! As empresas devem promover a paz e criar meios educacionais para que os trabalhadores cresçam e estejam convictos do valor da paz, sendo sujeitos da paz! Todos nós queremos a paz. Quantas passeatas já foram feitas para pedir a paz e dizer não à violência? Contudo, não foi feita uma opção preferencial pela paz. Falamos tanto que os políticos precisam ter vontade política. Pois bem, a sociedade toda precisa ter vontade política para mudar esta situação. A mudança é possível! Um mundo diferente é possível! A mudança da sociedade só pode acontecer através de uma decisão pessoal, familiar, comunitária, eclesial, nas escolas públicas, particulares e confessionais, em todas as empresas, nos lugares onde houver grupo humano! A paz é possível! Uma sociedade diferente é possível! Um Estado do Espírito Santo diferente é possível! O Caminho é: opção preferencial pela Paz! Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo Metropolitano
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Atualidade
Pelo fim do poder econômico nas
eleições É
cada vez mais necessária, urgente e inadiável, uma reforma política que não se limite a questões eleitorais, mas aperfeiçoe a democracia representativa, reforce a democracia direta e aponte para uma efetiva democracia participativa. A dificuldade está em conseguir consenso em matéria tão complexa, que atinge os mais variados interesses, especialmente, dos políticos a quem compete fazer a reforma. O financiamento das eleições está entre os pontos mais urgentes da reforma política. Da forma como se dá hoje, além de tornar injusta a disputa, constitui-se numa porta escancarada para a corrupção. E não é difícil entender o por quê.
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Atualmente, doações para campanhas podem ser feitas por pessoas jurídicas e físicas. As empresas podem doar até 2% de seu faturamento no ano anterior à eleição, e pessoas físicas até 10%. Está aberto o caminho que torna o poder econômico fator determinante das eleições. O princípio isonômico da disputa cede lugar à lei do mais forte, ao que tem mais influência ou mais dinheiro. Levantamento feito pelo Estadão Dados, com base em informações do TSE, revela que nas eleições de 2012, dos dez maiores doadores privados de campanhas, seis eram empreiteiras. Só a Andrade Gutierrez doou R$ 23 milhões às direções de 14 partidos. Qual candidato
se beneficiou com este valor? Que critérios o partido usou para distribuí-lo? A transparência ficou totalmente sacrificada. A segunda maior financiadora, a OAS, construtora das novas Arenas do Grêmio, em Porto Alegre, e das Dunas, em Natal, além do estádio Fonte Nova, em Salvador, doou R$ 21 milhões. E o mais grave, 76% desse valor foram doações ocultas e o restante para candidatos específicos. Pode-se imaginar, portanto, a relação que se estabelece entre o doador e o beneficiário. De novo, cadê a transparência? Estas doações transformam-se, então, num investimento com retorno certo. Segundo matéria do Estadão (15/09/12), a prin-
cipal fonte de receita da Andrade Gutierrez e da OAS está nos contratos com o setor público. A primeira, por exemplo, atua na construção de hidrelétricas, implantação de linhas do programa Luz Para Todos e em reformas de aeroportos. Já a OAS atua principalmente em obras de intervenção urbanística nas favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, um projeto do PAC, implementado pelo governo federal. Em 2011, o jornal O Globo publicou uma matéria mostrando que cada R$ 1,00 doado para campanhas rende outros R$ 8,50 às empresas. Como? Em forma de contratos com o poder público para obras. Os dados são resul-
tado de uma pesquisa feita pelo cientista político da Universidade de Boston, Taylor Boas, que publicou com Neal Richardson e F. Daniel Hidalgo, da Universidade da Califórnia, o estudo “O espólio da vitória: doações de campanha e contratos públicos no Brasil”. A pesquisa analisou as contribuições para a campanha de candidatos de um determinado partido à Câmara dos Deputados em 2006 e seu retorno em contratos de obras públicas. É por essas e muitas outras razões que se quer acabar com o financiamento privado das eleições, especialmente, por empresas. Um passo neste sentido foi dado pela OAB ao questionar, no STF, a constitucionalidade
do modelo vigente (ADI 4650). Segundo a OAB, esta prática fere três princípios: o da Igualdade, o Democrático e o Republicano. Uma reforma política profunda, portanto, começa com a adoção do financiamento público de campanha, que alguns preferem chamar “financiamento democrático”. Nesse caso, os recursos deverão vir da União, sem que signifique criação de novos tributos ou prejuízo aos já escassos recursos do orçamento destinados a políticas públicas de educação e saúde, por exemplo. É perfeitamente viável prever rubricas próprias e dotações orçamentárias, que se constituam num Fundo para as eleições, gerido pelo Tribunal Superior Eleitoral.
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Atualidade
Evolução do financiamento eleitoral de 2002 a 2012 Ano
Doações a candidatos
Doações a comitês/ diretórios*
Total de doações
Custo do voto
2002
R$ 678.277.932
R$ 120.605.881
R$
798.883.813
R$ 1,31
2004
R$ 1.080.614.325
R$ 304.042.016
R$ 1.384.656.341
R$ 6,79
2006
R$ 1.509.781.577
R$ 205.473.869
R$ 1.715.255.446
R$ 2,99
2008
R$ 2.099.614.903
R$ 419.751.172
R$ 2.519.366.075
R$ 11,82
2010
R$ 3.237.741.289
R$ 968.804.006
R$ 4.206.545.295
R$ 6,36
2012
R$ 3.933.140.987
R$ 626.436.283
R$ 4.559.577.270
R$ 20,41
Fonte: http://www.asclaras.org.br/@index.php. Acessado em 17/06/2013
Os maiores doadores Repasse das doações em Reais nÃO OCULTA
CANDIDATO
OCULTA
PARTIDO
COMITÊ
porcentagem de doação oculta (aos partidos e comitês) Construtora Andrade Gutierrez
Construtora OAS Ltda.
Banco Alvorada S/A
R$
R$
R$
23.085.000
21.260.000
100%
75,8%
7.775.000 100%
Construtora Queiroz Galvão S/A 100% Banco BMG S/A
R$
R$
7.225.000
7.102.500 56,4%
Carioca Christiani Nielsen Eng. S/S 97,2% UTC Engenharia S/A 51% JBS S/A
R$
R$
R$
7.062.000
6.683.232
5.000.000 100%
WTorre Eng. e Construção S/A 82,9%
R$
4.250.000
Coimbbra Imp. e Exportação Ltda.
R$
72,6%
3.286.428 Fonte: Infográfico/AE
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É necessário, no entanto, fixar normas que assegurem, dentre outras coisas, a justa distribuição destes valores aos partidos, a rigorosa prestação de contas e a punição a quem descumprir as normas. A pergunta que fica é: como adotar o financiamento público de campanha sem mudar o sistema eleitoral? De fato, o sistema de lista aberta, como é hoje, permitindo um número exagerado de candidatos (em 2012, foram 481.788 candidatos – prefeitos, vice-prefeitos e vereadores – para 68.550 vagas), dificultaria muito o controle do financiamento público, bem como a distribuição igualitária dos recursos. A saída mais apontada é o voto em lista preordenada. O eleitor, então, deixaria de votar numa pessoa específica para votar na lista com vários nomes escolhidos previamente pelos filiados do partido.
Alguém pode objetar que, nesse caso, acabaria votando em quem não gostaria. Mas, não é o que ocorre hoje com o coeficiente eleitoral? A diferença é que, no atual sistema, o eleitor nunca sabe a quem se destina seu voto além daquele em quem votou. A lista preordenada, pelo menos, mostra claramente todos que se beneficiarão com seu voto. Tudo isso vem sendo exaustivamente debatido pela sociedade civil organizada, que prepara novo projeto de lei de iniciativa popular propondo o financiamento democrático de campanha e a transparência nas votações proporcionais. Uma vez posto na rua tudo ficará mais claro e, com mobilização e pressão popular, os parlamentares não terão como adiar a reforma. Pe. Geraldo Martins Dias, presbítero do clero da Arquidiocese de Mariana-MG, jornalista, assessor político da CNBB
pensar
Você e o outro:
eis a questão!
A
ssuntos sobre inclusão, tolerância à diversidade entre outros, fazem parte de inúmeros discursos dentro dos mais variados âmbitos sociais. Todos os dias somos bombardeados por cenas nas quais pessoas humanas são humilhadas, segregadas, discriminadas, mortas por atos de “intolerância” que muitas vezes são praticados em nome de um ideal ou de uma ideia, e isto, geralmente, ocorre porque “coisificamos” a pessoa humana, ou seja, tratamos o outro apenas como um objeto. Desejamos uma sociedade mais fraterna, mas perguntamos: estamos realmente aptos a operar os mecanismos necessários para alcançarmos a mesma? Primamos pela valorização do outro? Entendemos o outro como revelador de nós mesmos? Diante dos questionamentos acima, podemos afirmar que o relacionamento entre os seres, quando não é encarado como um
evento, deixa de lado a reciprocidade, e a partir de então, o outro se torna apenas uma coisa passível de ser alvo de experiências, validações, conceituações etc. Assim ocorrendo, não existe a preocupação com o nosso modo de agir e tão pouco o sentimento de responsabilidade para com o outro, e se não compreendemos o outro como revelador de nós mesmos, não passamos de pássaros sem asas. Nosso modo de agir interfere no meio em que vivemos. Portanto, cabe a cada um de nós a preocupação com as nossas ações. As atribulações que acometem nosso tempo exigem de nós reflexão e preocupação para com o outro que, assim como nós, possui sonhos, expressa-se de forma singular, possui gostos diferentes, orientações diferentes, opções de vida diferentes, mas acima de tudo merece nosso respeito, assim como desejamos ser respeitados. Pensem nisso!
“Todos os dias somos bombardeados por cenas nas quais pessoas humanas são humilhadas, segregadas, discriminadas, mortas por atos de “intolerância” que muitas vezes são praticados em nome de um ideal ou de uma ideia, e isto, geralmente, ocorre porque “coisificamos” a pessoa humana.
Elaine Mussi Hunzecher Quaglio, professora de Filosofia da rede pública de São Paulo e do Centro Universitário Claretiano
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micronotícias
Superação no mar O fato de estar paraplégica não impediu uma francesa de 50 anos de se aventurar no mundo do surf. Com os membros in-
feriores paralisados há 18 anos, ela, com a ajuda de uma amigo, conseguiu se sentir em movimento outra vez. Para cair no mar ela é amarrada às costas do mergulhador com fita adesiva. A dupla conta com a ajuda de uma moto aquática, que os puxa até as ondas e ajuda com sua velocidade. Para a francesa, a aventura a fez perder completamente a noção de estar paralisada, marcando a experiência mais emocionante de sua vida.
Luta contra a fome O Brasil e outros 19 países cumpriram o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio número um (ODM-1),
definido a nível internacional na luta contra a fome, estabelecido na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2000. A meta era reduzir pela metade, até 2015, a proporção de pessoas com fome entre os períodos de 1990-92 e 2010-12. Angola e o Brasil se destacaram no cumprimento da meta. O primeiro conseguiu diminuir em
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57% a proporção de pessoas com fome desde 1990-92, passando dos 63% da população para 27%. Já o Brasil reduziu em 53% a proporção de pessoas com fome no mesmo período, saindo dos 15% da população para 7%. Em termos absolutos houve também uma diminuição significativa, com 10 milhões de pessoas livres da fome: de 23 para 13 milhões. O objetivo final é a erradicação total da fome, de acordo com o estabelecido pelo Desafio Fome Zero, proposto pelo secretário geral da ONU.
Portal para empregadores
Para facilitar o cumprimento das regras trabalhistas da chamada ‘PEC das Domésticas’, o Governo Federal lançou o portal do empregador doméstico -
Professores em alta Liderando os rankings internacionais de qualidade de ensino, a Finlândia aposta em uma fórmula garantida de sucesso: a valorização do
Mais turistas para o Centro O Parque Gruta da Onça, localizado no Centro de Vitória, vai ganhar quatro novas trilhas: curta, média, longa
e total, adaptando o parque para a visitação de muitas pessoas. A ideia faz parte do projeto ‘Caminhos da Capixaba’, e tem por objetivo contribuir
para a defesa do meio ambiente e ainda atrair mais turistas para o Centro de Vitória. As trilhas irão evidenciar as belezas naturais e os animais presentes no local. O projeto foi assinado entre a mineradora Brasitália e o Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA).
www.esocial.gov.br. Ainda em caráter experimental, o portal serve para que os empregadores se familiarizem com a nova ferramenta, até que a emenda seja completamente regula-
de geração de contracheque, recibo de salário, folha de pagamento, aviso de férias e folha de controle de ponto; controle de horas extras; cálculo dos valores a serem recolhidos (INSS
mentada. O novo portal traz funcionalidades tais como: possibilidade
e férias) e emissão da guia de recolhimento da contribuição previdenciária.
professor e a sua liberdade de trabalho. Os docentes planejam as aulas e escolhem os próprios métodos de ensino. Para conquistar a vaga é preciso ter mestrado e passar por treinamento. Os professores recebem, em média, o equivalente a R$ 8 mil, considerado um salário ‘médio’ para o país. Eles têm autonomia para trabalhar, mas precisam ser bem qualificados para a função. Na Finlândia a educação até o ensino superior é gratuita. Só 2% das escolas são particulares, mas por serem subsidiadas por fundos públicos, os estudantes não pagam mensalidade. Não há escolas em tempo integral, pelo contrário, a jornada é curta, de 4 a 7 horas, e os alunos não têm muita lição de casa.
entrevista
“O caco é o erro de algu você transformar em co vitória - Você tem uma vida
pessoal e uma vida de palhaço? Churupita - Na prática, antes do picadeiro existe uma vida sim. Você é chefe de família que paga conta, tem uma vida normal. Quando entra no picadeiro se transforma, quando você se pinta, se transforma no palhaço. O personagem tem que esquecer da sua vida normal para se transformar naquela “criança” que a criança está esperando. vitória - Há quanto tempo você
faz isso?
Olha, eu sou de uma família circense, apesar de ser uma família pobre e não ter nome na mídia. Eu nasci Churupita -
em Mantenópolis, de um circo de tourada chamado “Apaga a Luz”. vitória - Você mora aqui no
nesse e eu nessa carreta, a outra mora comigo dentro de casa porque é solteira ainda, mas tem a casa dela que é o trailler e fica ali atrás.
Churupita - Eu
vitória - E vocês, de vez em
circo, tem uma residência fixa? tenho três residências. A minha no circo, uma em Vitória e uma em Cariacica. Graças a Deus! As crianças e as famílias do Espírito Santo me deram condições de ter três residências, mas aqui no circo eu passo a maior parte da minha vida.
vitória - A sua família mora
no circo?
Churupita - Todos. Minha filha
mora naquele ônibus, meu filho
quando, passam nas residências fixas? Churupita - Para pagar conta. A gente só vai nas casas para pagar conta, pegar correspondências, informações. Dona Carola, que foi uma grande empresária do circo dizia: “enquanto o turista paga para ser turista, eu ganho dinheiro fazendo turismo”. Mas o governo cortou isso do cidadão brasileiro, cortou de qualquer empresa, você tem que ter residência própria, CPF, identidade para você ser um cidadão brasileiro. Eu tenho, graças a Deus, uma casinha em Cariacica e outra em Vitória. vitória - Agora que você está
perto das duas casas, a de Cariacica e a de Vitória, mesmo assim você mora no circo? Churupita - Moro. Porque aqui está o movimento, o circo é movimento, você chega no bairro tem que criar fatos para fazer com que a população venha ao circo. As condições para manter
ém para isas gostosas” José Alves dos Santos, o Churupita
um circo, hoje, são muito caras. Ele recebeu uma injeção, mas os governos municipais cobram muito, como se fosse uma empresa. Um exemplo só, você cria uma casa noturna, você paga ao Corpo de Bombeiros uma vez por ano. O circo, se ele mudar duas vezes por mês, ele paga duas vezes por mês, e é a mesma taxa que o empresário que montou a boate paga. Você tira certidão negativa, vale três meses, mas a certidão aqui só vale enquanto estiver aqui. Então está difícil para o circo por causa disso. Vitória -
O que você faz em Cariacica para divulgar que o circo está aqui? Churupita - Saio nove horas da manhã com o carro de som, rodo rua por rua, bairro por bairro. Uma vantagem é que a cada dez pessoas que eu encontro na rua, nove me conhecem. O povo vem no meu circo não por que tem artistas famosos, meu circo é da minha família. Minha família são os artistas do meu circo, não tem ninguém de fora. Então, aprendi a fazer circo como se fosse teatro. Sempre ganhei amizade, carinho, cumprimento as crianças uma
por uma na hora de ir embora, é meu costume por que eu tenho que agradecer a elas, porque amanhã serão elas que estarão pagando para eu viver, criar a minha família. Vitória -
No início, você falou que quando entra ali esquece a sua vida e faz um personagem. Isso é bom? Churupita - É bom para quem está assistindo e para mim que estou saindo do normal para o não normal. A partir do momento que coloquei a maquiagem que não é muito carregada, coloquei a roupa, a coisa é tão forte dentro da imagem do circo e, de qualquer ator que, quando se transforma, esquece de todos os problemas. Infelizmente eu perdi um cunhado em Cariacica no dia da minha apresentação. Eles foram para o velório e eu fui para o trabalho. Você tem que ter sangue frio e sentimento para saber o que aconteceu e deixar para resolver depois, pois o público não tem nada com isso. Vitória - Se você tivesse que es-
colher entre a sua vida pessoal e a do palhaço, qual escolheria? Churupita - Seria mais bonita a
“O personagem tem que esquecer da sua vida normal para se transformar naquela “criança” que a criança está esperando.
do palhaço, claro. Não teria conta pra pagar, não teria problema, não teria nada, não teria sofrimento nenhum, só teria que sorrir. Vitória - Em que você se inspira para fazer as brincadeiras que o palhaço faz? Churupita - Eu sou de uma família tradicional de circo, eu pego muito o “caco”. O que é o caco? O caco para nós é o erro de alguém, para você transformar aquilo em coisas gostosas. Às vezes um cara fez uma coisa engraçada, o político fez uma coisa engraçada, você zoa, ou um camarada que chega aqui me zoando na portaria, ou na bilheteria ou onde eu estiver, depois pego ele lá dentro e “zoo” ele, o povo gosta de zoação, o povo gosta de ser zoado, porque tira o stress. Se você levar um
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entrevista
lá para eu rir de você, você é bobo demais, cara”. vitória - Então chamar o palhaço de bobo é elogio? Churupita - É porque o bobo na realidade é quem está vendo, porque o palhaço está certo. Por isso ele se dá bem em tudo, quem está vendo é que está sendo o bobo da situação, porque ele fala uma coisa que ele entendeu. É você que interpreta de outra forma.
“Eu só digo para eles que para essa natureza existir, existe um pai, como eles têm um pai. Não existe nem uma folha do mato que possa cair se ela não for determinada por Deus.
vitória - Você fica normalmente por aqui antes de começar a sessão ou fica olhando o povo? Churupita - Não, eu estou trabalhando, ou eu sou bilheteiro ou porteiro. Quando vem a terceira reprise é que eu entro. Nós apresentamos comédia, o circo de antigamente, não é o Cirque du Soleil, que é o circo de trapézio, que não tem história nenhuma. Sai um pulando, sai outro pulando. Aqui o palhaço trabalha, o palhaço mostra, bem ou mal, a sua arte. Nós levamos a comédia. Na comédia é quando você zoa o povo, bagunça o povo todinho. vitória - Como que você educou
seus filhos?
Eu vivo na capital, aqui no Espírito Santo, há quase 48 anos, o meu palco de trabalho é Cariacica, Vila Velha, Vitória e Serra. Agora é que estou percorrendo o Espírito Santo durante a semana, porque meus filhos já se formaram todos. Tenho só um neto, ele está estudando em Vitória, mas a mãe dele não trabalha no circo. Então ele fica com a mãe. Eu só ia ao interior na sexta, sábado e Churupita -
texto decorado as pessoas já leram todos os textos. Eu tenho um amigo que falava comigo assim: “Churupita, eu não sei porque eu vou no seu circo. Se você me perguntar tudo o que você faz eu sei, e sei como você faz, mas eu tenho que ir
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domingo. Eu ia pra lá, divulgava e a mãe ficava. Quando chegava na sexta-feira, todo mundo subia. A gente fazia os espetáculos na sexta, sábado e domingo. À noite voltava para os filhos estudarem e assim fui vivendo. vitória - Você me falou várias
vezes da sua família, da educação dos filhos, que estão formados e não têm vícios. E a fé, tem fé na sua família? Churupita - A minha esposa é filha de evangélicos, eu fui criado na Igreja Católica com meus pais e minha madrinha. Fui adotado aqui no Espírito Santo por uma juíza que é Dona Erondina, que é da Arquidiocese de Vitória, e que hoje tem uma casa de recuperação em Goiabeiras, que é minha mãezona. E os meus filhos eu deixei bem aberto para eles da seguinte forma, não sou muito de ir a igreja, porque na bíblia, na Palavra de Deus diz o seguinte: onde você estiver, o que pedir com fé eu estarei lá. E este é o meu lema. Onde eu preciso, boto meu joelho em terra e peço a Deus, Ele sempre tem me amparado. Então é isso que eu passo para eles. Eu só digo para eles que para essa natureza existir, existe um pai, como eles têm um pai. Não existe nem uma folha do mato que possa cair se ela não for determinada por Deus, então é isso que eu passo para eles. Acredito muito em Deus, agradeço as pessoas que vêm ao circo e peço que eles vão com Deus para casa. Quando eu vejo um pai com uma criança já grandinha eu digo para ele cuidar de seu pai e também dou aula de circo para criança carente.
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DÍZIMO: A ÉTICA DA PARTILHA
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dízimo está estreitamente ligado à expressão de Jesus: ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida (cf. Jo 15, 13). Nesse sentido o dízimo tem uma dimensão ética, ou seja, aquela da partilha como fruto de um grande amor. Um exemplo disso é o caso daquela pobre viúva, relatado em Mc 12, que entregou tudo o que tinha para viver. Aliás, Cristo estabeleceu claramente a razão do dízimo e de nossas oferendas a Deus ao afirmar: “onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração” (Mt 6, 21). O dízimo quer, portanto, conscientizar-nos de que tudo é passageiro, pertence a Deus e que nós somos administradores dos bens em todos os níveis. Fonte de bênçãos, o Antigo Testamento apresenta o dízimo como reconhecimento do senhorio de Deus (cf. Lv 27, 30-33), partilha dos bens e preocupação com os pobres (cf. Nm 28, 21; Dt 14, 28-29). A atitude de Jesus, em relação ao dízimo, é de reconhecimento e crítica, pois muitos o usavam para agradar a Deus em detrimento da justiça e da misericórdia (Mt 23, 23; Lc 11, 42).
“Quando afirmamos que “a fé me faz compartilhar” não estamos afirmando nada além de uma verdade bíblica e teológica: somos imagem e semelhança de Deus, em cuja essência está o amor e a comunhão, das quais o dízimo é uma expressão forte. A orientação bíblica é, portanto, aquela da caridade para com os pobres: estrangeiros, viúvas e órfãos (cf. Dt 26,12). Certamente, nunca faltarão pobres neste país; por isto te dou este mandamento: deves abrir tua mão a teu irmão, ao indigente e pobre em tua terra (Dt 15, 11). No
resgate que faz destas palavras em Jo 12, 8, Jesus recorda a denúncia profética de Amós: compram por dinheiro aos fracos e ao pobre por um par de sandálias (cf. Am 8, 6). Além disso, o Senhor nos convida a reconhecê-lo nos pobres que são seus irmãos. Assim, a dimensão ética centra-se numa atitude que engloba Deus e o próximo. Mesclam-se no dízimo, portanto, o temor a Deus e o amor ao próximo, parte integral de nossa vocação na implementação do Reino de Deus. A partir disso, podemos até dizer que, fechar-se ao dízimo significaria pecar pois denotaria um fechamento egoísta em si mesmo, um colocar a confiança e esperança nas coisas materiais, em prejuízo da confiança na Palavra e nas Promessas de Deus. Quando afirmamos que “a fé me faz compartilhar” não estamos afirmando nada além de uma verdade bíblica e teológica: somos imagem e semelhança de Deus em cuja essência está o amor e a comunhão, das quais o dízimo é uma expressão forte. Deus nos inspire e nos ensine a partilhar. Prof. Dr. Pe. Arthur Francisco Juliatti dos Santos
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Paróquia
Paróquia De Santo Antônio
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os 15 anos, Santo Antônio ingressou no convento da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Algum tempo depois entrou para a Ordem dos Franciscanos e se tornou um extraordinário pregador popular. Graças a sua dedicação aos humildes, Santo Antônio foi eleito pelo povo o protetor dos pobres. Transformouse num dos filhos mais amados da Igreja, um porto seguro ao qual todos podem recorrer. Uma das tradições mais antigas em sua homenagem é, justamente, a distribuição de pães aos necessitados e àqueles que desejam proteção em suas casas. Santo Antônio também é considerado o ‘Santo Casamenteiro’.
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w Santo Antônio - Vitória w A Paróquia tem 10 comunidades w Criada em 1951 pelo 4º Bispo da
Diocese do Espírito Santo, Dom Luiz Scortegagna w Pároco: Padre Roberto Camilato w Vigários Paroquiais: Padre Pietro Cusini e Padre Giovanni Pagani
Oficial
opinião da igreja sobre os protestos por melhorias sociais
A Sociedade grita por mudança e desaprova a violência Damos graças a Deus pela consciência cívica de nosso povo brasileiro que, pacificamente, manifesta a sua esperança. As questões são urgentes e precisam ser levadas a sério pelas autoridades eleitas para servir o povo. Aconselhamos as autoridades constituídas a refletirem e acolherem as demandas da sociedade que grita nas ruas das cidades brasileiras. Ouçam este grito de esperança e apresentem, urgentemente, projetos concretos. Priorizem a educação, criando escolas em tempo integral e para todos; priorizem a saúde, tirando as pessoas dos corredores dos hospitais e garantindo acesso ao médico e ao remédio; priorizem a segurança, valorizando
a polícia com bons salários, boa formação de tal forma que possam defender as pessoas, os bens públicos e contribuir para a paz; priorizem o compromisso com o uso justo e correto do dinheiro público, dando exemplo seja qual for a instância de serviço. A sociedade reconhece a importância e a necessidade da proteção policial e repudia qualquer desvio desta conduta. A sociedade cansou dos desmandos e desvios de alguns que deveriam zelar por ela e por seus recursos. A sociedade reprova nas ruas as atitudes de indivíduos que destroem os bens privados e públicos. Atitudes como estas
desviam o grito de esperança do povo. Violência é sinal de ignorância! Violência não! Mudanças sim! A sociedade quer progresso e paz, quer vida para todos! Parabéns Brasil pelo grito de esperança! Deus abençoe a todos e Nossa Senhora da Penha proteja o nosso povo. Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo Metropolitano
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Reportagem
Equilíbrio entre gerações
Limites e diálogo são palavras de ordem na relação entre pais, avós e netos
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xperiência, mimo, lar aconchegante, comida gostosa. Ao falarmos em avós, essas são algumas palavras que surgem em nossas mentes, mas com a rotina do trabalho e, principalmente, o trabalho fora de casa desenvolvido por mãe e pai, estão mudando as relações avós, pais e filhos. A casa dos avós é lugar para esperar o pai e a mãe chegarem do trabalho. Então, a casa dos avós passou a ser, em muitos casos, a segunda casa. A psicóloga e especialista em terapia familiar, Luciana Vello, afirma que nessa relação é preciso respeitar uma hierarquia. “Os responsáveis pela educação dos filhos são os pais, e não os avós. Estes foram escolhidos para ficar com as crianças por serem de confiança, e irão auxiliar os pais nesse processo”. Luciana acredita que para evitar conflitos, o melhor é não abrir brechas e deixar prevalecer o diálogo. “O
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que pode ou não ser feito pelos filhos precisa ser discutido antes, bem acordado entre ambas as partes, porque muitas vezes os pais dão um comando e os avós dão outro, então os filhos ficam sem saber a quem obedecer”. Patrícia Neves, mãe de dois meninos, cultiva nos filhos o respeito pelos avós e acredita que eles têm muito a acrescentar pela bagagem e experiência que carregam. Mas, segundo ela, o excesso de amor e carinho, algumas vezes, passa dos limites. “As crianças sabem que em casa não podem fazer determinada coisa, e quando chegam na casa dos avós fazem, porque ali os avós protegem. É uma situação complicada, pois não queremos entrar em atrito, e sabemos que a ajuda deles é fundamental. Mas em alguns momentos é preciso dizer que não é bem por aí”, disse. Para Patrícia, as crianças precisam de restrições e limites para entenderem o que podem
ou não fazer, e a conversa – metodologia dos avós – ainda não é assimilada por elas. “Tem horas que é preciso ser rígida, o comportamento ruim precisa de uma contrapartida, tira a televisão, proíbe alguma coisa, mas os avós não conseguem fazer isso e acham que com a conversa a criança vai entender. E hoje não é assim”. A psicóloga pontua que dentro de casa é preciso estabelecer limites e a autoridade dos pais deve ser respeitada. “No dia a dia com as crianças é preciso mostrar que quem tem autoridade são os pais, as ordens partem deles, e os avós auxiliam. É claro que os avós podem fazer também esse papel, mas respeitando os comandos dados pelos pais”. E ainda faz um alerta: “pais que
não impõem limites aos filhos invertem a forma de se relacionar, e os filhos acabam ‘montando nas costas’, ditando os comandos daquela casa, ou seja, passam a desempenhar um papel que não é deles. Muitas vezes, pela culpa da ausência, pais evitam brigar, repreender, e querem ser amigos dos filhos, então os avós acabam assumindo essa responsabilidade. Mas isso, lá na frente, vai gerar um atrito, pois quando o pai for cobrar algo nesse sentido não terá êxito já que os filhos não foram criados dessa forma, não foram acostumados a respeitar sua autoridade, e aí não tem mais como resgatar algo que nunca existiu”. No ambiente escolar, a participação dos avós é plena, assumindo a responsabilidade
“Quando é necessário eu brigo mesmo, pois criança precisa de limites. E cobro muito meu filho sobre a forma que ele conduz a educação do meu neto. Lúcia Puppim
com um papel semelhante ao que deveria ser desempenhado pelos pais. É o que afirma a pedagoga do Colégio Salesiano, Eduarda Guimarães. “As famílias estão mudando. O padrão pai, mãe e
Aos 32 anos, Luciana Facco sabe reconhecer a importância de ter a avó ao lado, literalmente. Por todo esse tempo, ela teve a casa da avó no mesmo terreno da sua, por isso, o cuidado estava garantido. “Estar com ela era a garantia e a tranquilidade de que eu estaria bem cuidada, ali estava protegida, então minha mãe e eu estávamos seguras que com a minha avó era o melhor lugar”. Luciana aprendeu com a avó valores, compartilhou experiências, assimilou o certo e o errado e as tradições familiares. “Muitas coisas que faço hoje vêm do que eu aprendi com ela, e aqui em casa não tinha isso de mimar, ela brigava muito”. Ela garante que hoje, aos 97 anos da avó, é a hora de retribuir e cuidar em todos os momentos. “Todos os dias eu preciso ao menos passar na casa dela, ela também cobra a minha presença ali e em tudo o que acontece em sua vida”, finalizou.
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“Eu sou vó coruja. Faço tudo pelo meu neto, é um amor que transborda, chega a ser maior do que o que sentimos pelos nossos próprios filhos. Luzia Luisa de Almeida
filho é raro e, os avós com vida ativa, ficam responsáveis pela rotina, disciplina, horários, valores e princípios, e muitos ainda contribuem financeiramente. Os pais, por estarem ocupados e pela
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falta de tempo, acabam mimando mais. Surge, então, um sentimento de culpa que acaba provocando uma inversão de papéis”. Mas, para a pedagoga, a segurança familiar é o fator diferencial na educação das crianças. “Os alunos com base e segurança familiar são ótimos, independente de quem os cria, mas é preciso que a criança tenha clareza de quem é o responsável pelas ordens. Quem for fazê-lo deve assumir a responsabilidade e dar conta do que assume”, afirmou. Eduarda destaca ainda que a delimitação de papéis está cada vez mais perdida e a falta de atenção e carinho recebidos pelos filhos são fatores de conflitos na relação escola x família: “amigo e pai ocupam papéis diferentes, não pode confundir essa relação. Filhos não respeitam pais e avós, e as famílias entregam para a escola filhos autoritários que não têm noção de respeito e autoridade e são descompromissados com os estudos. É cada vez
mais notória a carência desses alunos, independente de quem dê atenção, elas precisam saber que tem alguém que se importa. Limite é fundamental, tem que se inteirar e estar presente na educação”, pontuou. Roberta Bragatto mora em cima da casa de sua sogra, então a proximidade da filha com os avós é inevitável. Para ela, esse não é um fator de atritos entre as famílias. “Sei como é importante a presença deles para ela, o carinho que eles têm a oferecer acrescenta para a formação da criança. É claro que algumas vezes acontecem coisas que não deveriam, eu como mãe adotaria uma postura diferente, mas eu prefiro estabelecer uma relação saudável, relevar pequenos detalhes que não valem a pena o conflito, e assim manter a harmonia dos nossos lares. Eu tive meus avós ao meu lado na infância e sei o quanto isso é importante, então quero que minha filha sinta o mesmo”, contou.
ARQUIVO E MEMÓRIA
ENCONTROS DE CEB´S: INSPIRAÇÃO E MÍSTICA
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s encontros de Ceb´s fazem parte da caminhada da Igreja do Espírito Santo e são marcados por momentos de partilha e troca de experiência pastoral entre padres, bispos, religiosos e o povo de Deus. Os primeiros Encontros Intereclesiais de Ceb´s aconteceram no Espírito Santo nos anos de 1975 e 1976. Na década de 80, com a mesma dinâmica e também com o objetivo de realizar nas dioceses um trabalho pastoral baseado nas pequenas comunidades, começaram a ser realizados aqui os Encontros Estaduais de Ceb´s. Nos primeiros encontros discutia-se o “novo jeito de ser Igreja” e como torná-la mais criativa, ministerial e comprometida com a dimensão política da fé. Outra
preocupação era como ajudar as Comunidades Eclesiais de Base a se integrarem na dinâmica da sociedade. Vários assuntos foram discutidos, entre eles a relação de Ceb´s e movimentos populares, a opção preferencial pelos pobres, a reforma agrária, meios alternativos de comunicação nas dioceses, entre tantos outros ligados à realidade e ao cotidiano das comunidades.
III Encontro de Ceb´s no Espírito Santo realizado em São Mateus de 5 a 7 de julho de 1991. Evangelização: Resgatando a Cultura do Povo Capixaba
5º Encontro de Ceb´s do Espírito Santo realizado em Cariacica de 3 a 6 de julho de 1997 cujo tema foi: CEB´s Vida e Esperança nas Massas. Celebração final no Estádio da Desportiva Ferroviária.
II Encontro de Ceb´s do Espírito Santo realizado em Cachoeiro de Itapemirim de 5 a 7 de setembro de 1986 cujo tema foi Povo de Deus em Busca da Terra Prometida.
O 10° encontro de Ceb´s no Espírito Santo aconteceu no mês de maio de 2013 e teve como tema Justiça e Profecia a Serviço da Vida. Um tema atual que será aprofundado enquanto as dioceses se preparam para o 13º Intereclesial que acontece em Juazeiro do Norte, entre 7 e 11 de janeiro de 2014. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc
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ideias e sugestões
A vida, uma liturgia.
Pois, que outro pode ser o culto de D
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vida - nos afirma Mário Quintana em um dos seus poemas - é o dever que nós trouxemos pra fazer em casa. Do mesmo modo e servindo-nos de sua inspiração, poderíamos dizer que a liturgia é o que se inicia com a bênção final das nossas celebrações. A vida é a grande e mais importante liturgia, aquela que se pode oficiar desde antes do levantar do sol até a chegada das horas que completam o dia. Sim, a vida é - ou precisaria ser - a liturgia a merecer nosso olhar e atenção de modo a ser cada dia mais bonita. A existência assim será, de fato, o sagrado-sacrifício-louvor agradável a Deus. Seja o que for que fizerdes... diria São Paulo.
Mas eis que estamos diante de um desafio, pois tudo parece impedir tal liturgia. A sociedade contemporânea, cada vez mais, se mostra como sociedade da utilidade, da posse, do acúmulo, dos feitos, das obras. Estes modos produtivistas e utilitaristas vão nos moldando de tal maneira que todas as nossas ações também são tomadas sob esta mesma perspectiva. Já não é possível dar-se gratuitamente à vida, não é possível demorar-se em silêncios e contemplação, já não é possível “perder” tempo. Coitados daqueles que já não são úteis à máquina capitalista. Os destituídos de saberes e habilidades talvez possam vender seus órgãos. Aos que se vão adiantados na idade resta a
vergonha e humilhação de não “servir” mais para nada. Até o estar juntos agora também passa pelo crivo da utilidade. O que importa não é mais a descoberta de mundos e belezas nos encontros com as pessoas, o que importa é ter contatos, úteis. Quanto maior a rede de contatos, melhor, e maior a chance de se ter vantagens e lucros. São exíguos, portanto, os espaços em que se pode romper a cadeia utilitarista da vida, do tempo, dos encontros, do cotidiano. As celebrações litúrgicas se colocam entre estes espaços privilegiados para se romper com esta cadeia e experimentar a vida sob outra perspectiva. Faz-se ali - ou deveria se fazer uma outra e bonita experiência a fomentar em nós o desejo
Se eu fosse um padre Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado — muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
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Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — um belo poema sempre leva a Deus! Mário Quintana
eus senão o amor? do “impossível” (o Reino), do “imponderável” (o amor), do “intempestivo” (o sonho). A liturgia, portanto, seria este momento em que daríamos o nosso consentimento para sermos introduzidos numa outra dimensão, aquela em que a nossa existência é regida pela poesia, pelo canto, pela gratuidade. Mas, infelizmente, esse novelo de ideias, essas concepções utilitaristas e produtivistas também se infiltram em nossas mentes, em nossos modos de ver e entender as coisas. Também se vão presentes em nossas comunidades eclesiais, definindo-lhes estilos, prioridades, importâncias. Nunca ouvi tanto as expressões “isto é litúrgico”, “isto não é litúrgico” como nos dias atuais. Tudo vai se tornando tão regrado e medido que a ocasião para se romper com o ritmo utilitarista do cotidiano estressante se perde. Todos os passos da celebração são formatados pela régua do certo e errado. Cerceia-nos a visão plana e esterilizada do que pode e não pode. Há como que uma “patrulha” litúrgica que se espalhou por aí que impede que a vida seja em primeiro lugar. Fica o que é “liturgicamente
No céu é sempre domingo, diz Mário Quintana. Mas, por aqui, é no comum que segue a vida. E na luta-liturgia diária a poesia pode nos ajudar. Dentre tantas coisas deste autor gaúcho que se pode encontrar nas livrarias e bibliotecas deixo como sugestão “A vaca e o hipogrifo”. Este livro é uma coleção muito simpática de pensamentos, pequenas crônicas, textos despretensiosos, enfim, que se pode ler em qualquer hora e em qualquer lugar, e que tornará os momentos rotineiros muito mais agradáveis.
correto”. Meu Deus! Meu Deus! Como fugir desta corrente? Como resistir a esta onda? Antes que investir em mais formação litúrgica, ou junto com ela, ou ganhando prioridade no que é proposto nestas formações e treinamentos, seja a vida sublinhada como liturgia. A compreensão da dimensão cultual da vida importa mais. Ah, é preciso recordar sempre que a liturgia
é REVIVÊNCIA AMOROSA dos gestos de Jesus e da Igreja, e não uma mera, cartilhesca e endurecida repetição ritual. Sim, a vida, uma liturgia. E a isso atestam os escritos paulinos, os Santos Padres, o Concílio Vaticano II. Pois – como diria Agostinho – que outro pode ser o culto de Deus senão o amor? Dauri Batisti
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projeto
A união que
sustenta e engrandece A Caoca é mantida, principalmente, pelo envolvimento e doações da comunidade e pela união de esforços de toda equipe pedagógica
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aculelê, informática, capoeira, artes, taekwendo, percussão são algumas das atividades desempenhadas pelas crianças atendidas no projeto Caoca - Casa de Acolhimento e Orientação a Crianças e Adolescentes -, uma ONG que desenvolve trabalhos de
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música, dança e recreação para o público com idade entre 06 e 17 anos, no contraturno escolar. Localizado em Maria Ortiz, o projeto atende a população que vive em situação de vulnerabilidade social na Grande Goiabeiras, que compreende nove bairros.
A ONG surgiu há 18 anos com o apoio da Congregação Filhas do Coração de Maria, na pessoa da irmã Herondina, e atualmente é mantida com recursos da Associação Brasileira de Educação Familiar e Social (ABEFS), responsável pelo pagamento dos funcionários; do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), que contempla apenas o desenvolvimento de alguns projetos, aprovados pelo Conselho da Criança e do Adolescente (CONCAV); e acima de tudo, de recursos oriundos das doações da comunidade local, dos ‘Amigos da Caoca’, das festas e eventos promovidos pelo projeto, além do apoio de empresas e da Paróquia Ressurreição. A Casa tem capacidade para atender até 200 crianças e adolescentes, e trabalha sempre no limite do total, tamanha a procura pelo acolhimento proporcionado por toda uma equipe multidisciplinar
composta por assistentes sociais, psicóloga, cozinheira e auxiliar de cozinha, voluntários, instrutor físico e educadores sociais. Além das oficinas, a Caoca também assiste às famílias, com atendimento psicológico e encaminhamento para outras instituições de assistência social, quando necessário. Em toda a sua história, não é possível dizer quantas crianças e adolescentes já passaram pelo
projeto, mas há uma certeza: a capacidade de integração, possibilidade de inserção social e constituição familiar, que fazem os que antes foram orientados, retornar à Caoca como voluntários e acrescentar algo valioso à educação de quem precisa. Em parceria com o Centro Salesiano do Menor (CESAM), os adolescentes com a idade adequada, são encaminhados para vagas de menor aprendiz, iniciando a sua inserção no
mercado de trabalho. Para o pleno atendimento das crianças e adolescentes da Caoca, a equipe conta com a participação familiar nas reuniões pedagógicas e a presença frequente sempre que solicitado. Os pais depositam confiança no trabalho desenvolvido com seus filhos, e, por isso, são os principais interessados na continuidade das atividades. A Caoca depende de recursos e doações diversas, por isso, caso tenha interesse em ajudar ou quiser conhecer, o projeto funciona de segunda a sexta-feira, de 8h às 11h e de 13h às 16h30, na rua Professor Mário Bodart, nº 304, Maria Ortiz. O telefone de contato é o (27) 3327-4928.
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saúde
DEPRESSÃO D
epressão é uma doença que pode ter causas endógenas e exógenas. Na primeira há um comprometimento dos neurotransmissores que transmitem impulsos nervosos entre as células ou outras disfunções dentro das células nervosas. Neste caso é necessário uma terapia medicamentosa. A segunda, a depressão exógena, tem sempre uma causa no ambiente ou de fundo psicológico, sendo quando necessário, um período de medicação mais breve e acompanhamento de alguma psicoterapia. Depressão não é tristeza, embora podem estar juntas num
indivíduo. A depressão é um quadro com várias pinceladas e a tristeza é um sentimento. Vamos, então, distinguir para não confundir, como dizia Jaques Maritain. Uma pessoa pode estar com uma tristeza e se autorotular como depressão. A tristeza não é doença, e sim uma condição existencial de todo ser humano, condição causada por dissabores. Alguém que perde um amor ou recebe uma notícia desagradável pode ficar triste e até chorar sem que esteja deprimida. Quando o ego do individuo é rígido ou fraco ele não consegue elaborar direito a angústia inerente à existência
“Como indica a palavra depressão, o indivíduo está numa pressão que o deixa no chão. Sem uma ajuda que o estimule, é difícil se levantar.”
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humana e, neste caso, pode se deprimir. Ao passo que, se tiver um ego flexível e coerente, poderá elaborar a angústia e apenas sentir a vida pelo viés da tristeza, apenas verá a vida por uma outra lente inerente à existência humana. Diante da tristeza, o melhor remédio é expressá-la de alguma forma, através de uma conversa com um amigo(a), ou mesmo chorando... A tristeza é existencial, mas uma vida triste causa depressão, pois na depressão uma tristeza profunda é evidenciada gerando desânimo, cansaço e até um desejo de suicídio, em alguns casos, para se livrar do sofrimento e não da vida em si. A vida sempre vai oscilar num misto de alegria e tristeza. A depressão pode gerar a morte física, ao contrário do momento de tristeza que uma vez externada, cessa. A pessoa acometida de depressão expressa no corpo sua moléstia. Não se alimenta direito, pode ter pensamentos obsessivos, cansaço físico e mental crônico, rosto desfigurado, olhar vazio, desejo de ficar na cama e no quarto escuro, entre outros. Defendo que, de alguma forma, o deprimido precisa de uma mão para se levantar, porque
realmente sofre. Como indica a palavra depressão, o indivíduo está numa pressão que o deixa no chão. Sem uma ajuda que o estimule, é difícil se levantar. A Terapia Familiar Fenomenológica, tem obtido considerável êxito nos casos da depressão. Observo que os indivíduos acometidos desta doença, ao expressar-se, revelam ao ouvido treinado nesta abordagem uma fala secundária, frequentemente ligada ao dar e receber da relação com a mãe. Na relação mãe filho, é da natureza da mãe dar amor e da natureza da criança tomar o amor da mãe. Quando esta relação é interrompida, pode-se tratar a depressão de forma eficaz com o método da Terapia Familiar Sistêmica Fenomenológica. Será que somente os profissionais da área de saúde são os qualificados para lidar com os deprimidos? Sim. No entanto, nada impede que criemos espaços em nossas comunidades para auxiliar estes nossos irmãos. Observo que os ambientes das comunidades se burocratizaram por demais. Sempre nos reunimos para conversar sobre questões de estruturas, e onde fica o espaço para as coisas do coração? Nas celebrações vejo
corpos enrijecidos pelas normas litúrgicas, sem leveza e com discurso enfadonho que não tocam o coração. Não estou defendendo um sentimentalismo infantil, mas reflexões seminais que afetem a alma do ouvinte. Claro que sou a favor da ordem, mas ordem sem flexibilidade tira a criatividade e a espontaneidade. Vejam o Papa Francisco, como é espontâneo! Ele inicia nas rubricas e vai além delas. Nossas comunidades podem ter estes espaços, afinal, a maioria delas nasceram de pequenos grupos, numa fraterna reunião familiar. Falar de nossas dores e alegrias proporciona maior envolvimento, e como disse Jung: “quem não se envolve, não se desenvolve”. Espaços com pessoas humanas dispostas a ouvir com atenção, sem pretensão de dar respostas prontas, apenas ouvir. Penso que devemos sair das prédicas e passar para o convívio. Assim, nossas comunidades passariam a ser comunidades terapêuticas e proporcionariam suporte às dores dos corações, por meio do ouvir com atenção o outro, sem a necessidade de pontuar nada. Depois de ouvir,
ousar realizar uma oração de amor. Sim! Comunidades Eclesiais Terapêuticas. Porque Terapêutica? Terapia, no sentido originário na palavra, é voltar à ordem do divino. Não seria isto que a religião deveria proporcionar às pessoas? Será que nossas comunidades proporcionam uma volta à ordem do divino? Estranho, deveriam proporcionar, já que é um ambiente religioso. Com as comunidades ou grupos eclesiais com este viés e o suporte da família, pode se fazer uma diferença significativa na vida de quem está pela via dolorosa da depressão. A indústria de medicamentos nunca produziu tantos antidepressivos como nos últimos anos. São drogas “lícitas” equivalente ao consumo das drogas “ilícitas”, como a cocaína e o crack. Um dependente de antidepressivos é tão difícil de tratar como qualquer dependente químico. Pedro Camilo
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acontece
Encontro Nacional do Movimento Familiar Cristão Cerca de 20 membros do MFC, participam do 18º Encontro Nacional do Movimento Familiar Cristão, em Vitória da Conquista, de 6 a 12 de julho. O encontro acontece a cada 3 anos e tem como tema ‘Famílias, abram os olhos para os desafios do século XXI’.
Recriando com a Pastoral do Menor Oficinas e atividades variadas, para crianças e adolescentes, serão as atrações do Recriando com a Pastoral do Menor - Recripam, que acontece no dia 6 de julho, na Faculdade Salesiana, durante toda a manhã. Familiares e educadores também são convidados a participar desse momento de integração e convivência.
Semana Missionária A JMJ, Jornada Mundial da Juventude, evento que reúne jovens do mundo inteiro a cada dois anos e que, neste ano, será no Rio de Janeiro, é iniciada em Vitória com a realização da Se-
das Igrejas locais. Cada paróquia preparou uma programação especial para troca de experiências e vivência da fé. A característica pastoral, o jeito de ser Igreja, a especifici-
mana Missionária. De 18 a 21 de julho, serão acolhidos cerca de 500 peregrinos nas paróquias espalhadas pelos 15 municípios da arquidiocese. Durante essa semana, os jovens terão contato com a identidade religiosa local, participarão de celebrações e momentos de oração e serão envolvidos em atividades culturais e visitas a monumentos históricos. Hospedados em casas de famílias, os peregrinos irão vivenciar o intercâmbio com a nossa realidade sociocultural e de fé, a dinâmica eclesial da arquidiocese e ainda explorar as belezas naturais e patrimoniais
dade de nossas comunidades eclesiais, nosso jeito de tratar os projetos sociais, proporcionarão aos jovens visitantes a oportunidade de crescerem como discípulos e se prepararem para a missão. A Semana Missionária fará o envio dos jovens para o Rio de Janeiro em uma missa que será celebrada na Praça do Papa, no dia 21 de julho às 9h. A missa será presidida pelo Arcebispo, Dom Luiz Mancilha Vilela, que dará a bênção aos jovens da Arquidiocese e aos estrangeiros que escolherem Vitória para fazer sua experiência.
Matrimônio para casos especiais Legitimação de matrimônio para os casos especiais é tema do encontro a acontecer no dia 7 de julho no colégio Agostiniano, de 8h às 12h. Os interessados em participar devem buscar
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os coordenadores de área nas paróquias para fazerem a inscrição. A palestra será ministrada pelos coordenadores do Setor de Casos Especiais, Ângela e Paulo Del Rey, e a organização é da pastoral familiar.
Encontro Nacional dos Folhetos Litúrgicos O Espírito Santo sedia, pela primeira vez, o Encontro Nacional de Folhetos Litúrgicos que acontece de 02 a 04 de julho, em Ponta Formosa. Serão discutidas propostas de melhorias para os
folhetos, buscando o uso de uma linguagem unificada. O assessor da Pastoral Litúrgica, Frei Faustino Paludo, e o assessor de Música Litúrgica, Padre José Carlos Sala, ambos da CNBB, estarão no Estado para o encontro.
Área pastoral de Vitória Peregrinação jovem A juventude da paróquia Nossa Senhora das Graças, em Jucutuquara, iniciou uma peregrinação pela paróquia na Festa de Corpus Christi. Eles carregam uma cruz e uma vela, símbolos do Ano da Fé, e visitam todas as comunidades. A peregrinação termina no dia 17 de novembro com o início da novena a Nossa Senhora das Graças.
Construção A paróquia São Francisco de Assis, em Jardim da Penha, está em obras para construir a Igreja e o Centro de Formação. As obras começaram em 2012 e a previsão de conclusão é abril de 2014. Para abrigar provisoriamente a igreja matriz será inaugurado o auditório em setembro deste ano.
Ordenação diaconal Onze diáconos permanentes serão ordenados na Catedral de Vitória no dia 6 de julho às 18h. A cerimônia será presidida pelo Arcebispo, Dom Luiz Mancilha Vilela.
Área pastoral de Serra Concentração A juventude da área pastoral fará um encontro para encerrar a Semana Missionária, no dia 19 de julho, em local a ser divulgado. Conforme a orientação da Arquidiocese, cada paróquia fará uma programação específica contemplando as sugestões enviadas. O encontro de área tem o objetivo de promover o contato e a confraternização com os jovens de outros países que escolheram a Arquidiocese para a experiência missionária.
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A campanha do dĂzimo 2013 acontece durante todo o mĂŞs de julho. Procure sua comunidade e participe.